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Fatores estruturais fatores climaticos. Os processos morfoclimiticos. Influéncias do cli- ma. © equilibrio morfoclimatico. Os grandes eonjuntos morfoelimatieos do globo. ADE FEDERAL DE UBERLAWEA® SRIVERS ID AOE EE NOTECA JO. IMPORTANCIA DO CLIMA NO RELEVO CONTINENTAL 10.1. Introdugao © relevo terrestre ¢ o resultado da inte- racSo de processos endogenos e exogencs. Es- tes ltimos pertencem, especificamente, & atmosfera, 4 hidrosfera ¢ & biosfera Os fenémenes de superficie, em dltima instancia, sio comandados pela dinamica da atmosfera, sendo, portanto, os fatores clima- ticos de basiea importaneia na sua explicaeao. A distribui¢ao dos seres vives no globo se faz segundo condicées de clima, Essa distri- buicao condiciona amblentes ecolégicds espe- cificos nos quais distinguimos uma associacao de palsagns animais e vegetais, tipos de solos € de processos de erosiio, Tais processes esto na dependéncia do meio ecolégico e vio atuar sobre um conjunto litolégico-tectnico-estru- tural, Nao se pode, pols, dissociar uma paisagem morfolégica de uma paisagem biogeogratica, Para cada grande zona de vegetadiio e s0- Jos existem processos morfogenétices especifi- cos num sistema de erosio organizado, que modelam familias de formas, constituindo um grande dominio morfoclimatico. 10.2. Fatores estruturais e fatores climaticos A estrutura tem papel importante no re- Jevo, mas ¢la, soainha, nao éxplica as paisa- gens. Aos fatores estruturais sio somados os fatores climéticos, aos quais se acrescenta, ainda, um terceire conjunto de fenémenos geomerfoldgicas — os processos azonais. Toda forma de relevo resulta do equilibrio entre 0 ataque da rocha por um certo nimero de processos morfoclimaticos e da resisténcia da rocha aos mesmos processos. E possivel distinguir, até certo ponto, topo- grafias nas quais a influéneia preponderante ¢ da estrutura © topografias nas quais a in- fluénela maior é do clima. Essas influéneias, entretanto, ndo se opéem, mas se combinam em proporéses variaveis e 0 resultado sao for- mas mais ou menos estruturais ou esculturais. As relacdes entre fatores estruturais e fa- tores climéticos determinam, de modo diferen- te, o relevo, segundo 2 eseala considerada. Por exemplo, em peguenas dimensdes (6° ordem de grandeza) as influénclas itolégicas predo- minam. Uma vertente de arenitos ou siltitos difere de uma vertente em granitos num mes- mo dominio morfoclimatico. ‘Nas grandes dimensées, é 0 fator teetdnico que comanda: o relevo dos escudos cristalinos é diferente daquele das bacias sedimentares ou das cadelas dobradas, numa mesma zona climatica. Enfretanto, prevalega a influéncia estru- tural ou 2 escultural ou haja equilibrio dos dois fenémenos geomorfoldgicos, a paisagem sempre Teflete interagio de. processos Uma rocha se fragmenta sob aio com- binada de agentes fisico-quimicos e biolégicos, e os detritos migram sob agaa conjunta de Processos diversos: dissolugao, solifluxio, rep— tagée, escoamento difuso, concentrado ou la- minaf, ete. ‘A proporgiio de atuagao desses processos varia em fungdo do clima e da natureza da m1 rocha atacada. Disso decorre uma série de diferencas: 0 relevo dos arenites no se asse— melha a0 relevo granitieo sob um mesmo clima; mas 0 relevo granitico das regides in- tertropieais quentes e midas também difere do relevo granitico, das zonas perialacials ou semi-dridas ‘Uma mesma roeha se comporta como re- sistente ou como tenra, segundo as condigges climiticas. Os granites ‘equigranulares sao Ta~ cilmente desintegrades em graos, sob acdo do Gatemperismo fisico em climas sem{-dridos. Os mesmos granites tesistem bem ao intemperis- mo quimnico ¢ 0 desgaste, comportando-se co- mo rochas resistentes, em climas umidos A andlise morfogenética inclui ainda os processos azonais, isto é, aqueles que nao de- Bendem de condigdes de clima, mas sim de leis fisicas gerais, podendo ocorrer em qualquer Jatitude, por exemplo: aco das vagas ¢ acso edlica © clima tem participacio na_modificagao da intensidade ou da proporgae de agao desses Drocessos, mudando as earacteristicas do ma~ terial enivolvido. Mas o trabalho realizado pelas vagas, por exemplo, depende de condi- ges hidrodindimicas préprias das aguas oced- nieas em movimentos oseilatorios e de trans- Jacdo, ndo sujeitos a influéncias do elima. O mesmo se dé com a aco do vento, cujo traba- Tho depende, em primeira instancia, de leis fi- sieas, proprias do ar em movimento, que en- yolve um conjunto de varigveis dinamicas. No dominio das forgas internas da tee- tonica e da geomorfologia estrutural, os pro- cesses azonais se manifestam mais claramen- te. Por exemplo, a repartigao das cadeias re- centes ou dos esctidos antigos, no globo, e5- capa da influéncia da zonalidade. 10.3. Os processos morfoclimaticos © relevo resulta de uma hierarquia de me- canismos (processes) associades e coordenados hum sistema, Os mecanismos de elaboragao do relevo classificam-se em: processos simples & complexes. ‘Um canjunto de processos simples d4 orl- gem a processes complexos. Estes se encadeiam hum sistema, bem definido, de acordo com as condigdes climaticas Processes simples ou élementares dio orl- gem a formas elementares. Exemplo: 0 turbi- Thonamento das aguas correntes € @. agao abra- siva da carga sélida envolvida, dé origem a “(narmitas” do lelto tochoso dos rios. O desta~ eamento de blacos de uma vertente ¢ queda pela acdo da gravidade origina 0 talus Processos compleros resultam da combi- nagdo dé processas simples, Bxemplo: a escvl- turagio de uma vertente em meio intertropi- cal é resultante de processes simples Mgados 80 intemperisino quimico, conduzindo & de- composigao das rochas. Esses processos sim ples permitern o desenvolvimento de processos mais complexos, intimamente associados a0s 2 primeiros: transporte do material por escoa- mento concentrada, difuso, reptacao, soliflu- xAo ou escorregamentos ‘A acdo conjunta desses processas faz evo- luir a vertente, imprimindo-Ihe uma forma caracteristica. ‘A evolugio das vertentes e a escavacao do talvegue sao fenomenos interdependentes que abrangem processes complexos de movimenta- ¢Ho sob a ago da gravidade, erosio, transporte € deposiedo, os quails se hierarquizam ¢ enca- Geiam num sistema coordenado pelo elima. ‘Trata-se dos Sistemas MorJoclimdticos — conjunto de processes complexes, estreitamen- te relacionados, determinados pelo clima. Cada sistema morfoclimatico corresponde a uma zona climatica do globo ou uma grande Tegido climatica. O sistema morfoclimatice das Tegioes tropieais de savana é diferente do sis- tema morfoclimatico das forestas tropicais quentes © umidas ou das regldes semi-aridas. Gsses sistemas permitem distinguir as gran- des provincias morfoelimatieas do glove, de- finidas por um conjunto de formas, procéssés ¢ depdsttos caractaristicos. 10.3.1. O Conceite “zonal” em geomorfologia Processos zonais so processos que se dis~ tribuem no globo segundo a latitude. Por exemplo, os processos que caracterizam o sis- tema morfoclimatico das florestas quentes € Uimidas se identificam com as latitudes equa- toriais ou com as costas orientais dos conti- nentes em latitudes tropieais. Os processos de erosic ¢ deposicig dessas zonas refletem as caracteristieas do clima, da cobertura vegetal, os tipos de solo, © todos esses elementos ¢stao em equilibrio com as formas do relevo. Nessa faixa climatica distinguimos como processos zonals: a¢o quimiea dominante, Tastejamenta de regclito, escoamento difuso, eapacidade relativa de escavacio do talvegue devido a granulometria da carga transportada ¢ ao tipo de regime fluvial ‘Os vales encaixados, as vertentes convexas revestidas de manto espesso de decomposi¢ao, S80 a Yesultante da atuacdo dos processes 20~ nais. ‘Na zona glacial e periglacial das altas 1a- titudes ou de montanhas, a gelivacdo © @ abrasdo pelo gelo so os processos zonais ca- racteristices. A. erostio em lencol de cheia (stream flood) @ processo zonal nas regices semi-aridas. (© conceito zonal permite analisar a repar- tigdo das ages morfogenéticas no globo. Per- mite classificar sistemas morfoclimaticos ‘Além dos processos zonais e azonais dis- tinguimos os processos polizonais @ extrazo- nals. ‘Processos potizonais sko as que ocorrem em varias zonas, sem ser, contudo, mundiais. Exemplo: a acdo das aguas correntes, Nas regldes arréicas e nas zonas glaciais a agao das 4guas correntes 6 quase inexistente. Processos extrazonais sho aqueles que, sendo caraeteristicos de uma Zona climatica, podem se manifestar noutra zona, de mancira esporddica. Os fenémenos glaciais e perigia- ciais de altitude na zona Equatorial sao con- siderados extrazonais, Tgualmente uma co- bertura vegetal de gramineas “tipo Prarie” em altas montanhas da zona tropical, condiciona processos extrazonais, os quais serlam espe- cificos nas latitudes temperadas. 10.4. Influéneia do clima A acio do clima sobre as rochas se faz de dois modos: diréta e indiretamente, A ago di- reta se faz através da intensidade de elementos do clima, principalmente: temperatura, umi- dade, précipitacao e ventos. A aco indireta se processa através da yegetacho € dos solos 10.4.1. Na acao direta distinguimos a influéncia qualitativa e quantitativa, Ago direta a) Influéncia qualitatioa Alguns mecanismos estio na dep: direta do clima. Eles qualificam o sistema morfoclimatico. S40 processos originais, espe- cifieos e proprios de uma zona climatica. Exemplos: — gelivagio (ago do gelo e degelo), me- canismo exclusive das regioes frias. A tempe- Tatura 0®C tem importancia geomorfolégica muito grande, porque deseneadela processos Zonais ¢ modifica 05 azonais e poligonais. ‘Modifica 0 modelado das costas, exercendo abrasio tipica na plataforma continental. In- fui no regime fluvial das zonas periglacials ¢ temperadas, pela rétengao nival, provocando cheias na primavera. De todos os agentes morfoclimaticos 0 gelo é o que tem influéncia gualitativa maior — umidade e ressecamento. & de origem climatica direta e comandada pelo regime das precipitaedes. Frovoca esforcos mecanicos nas fochas ¢ impermeabilizacio de terrenos argi- Josos, modificando as relacdes infiltracho/es- coamento superficial; tem também efeito qui- mico na génese do verniz dos desertos (cristalizacao de sais a superficie das rochas Por evaporagio rapida) — variagées de temperatura — produzem esforeos mec&nicos na pelicula superfielal das fechas, gerando processos de fragmentagao. b) Influéncia quantitative A varla¢io na quantidade dos elementos @5 clima gera modificacées na qualidade dos Geecessos morfoclimaticos. Exemplos; 0 mo- delado das dunas reflete na intensidade dos ventos. Os ventos eplsédices violentos atuam na esculturacdo, mais do que os constantes € fraeos. Ventos instavels s§o mais favorayeis A deflacao A distribuigio das precipitages ¢ tator de regime dos rios. O escoamento fluvial é diretamente proporcional & intensidade das chuvas. © escoamento liguido e sua aco sobre o leito obedecem As leis hidredin&micas, mas o tiabalho geomorfoldgico da corrente varia em. fungio da qualidade ¢ da distribuicao das pre- cipitagses A ago quimica da agua € funcdo da in- tensidade das temperaturas e preeipitacdes. A ago quimica cresce com o aumento da tem- peratura e da umidade Desde que as influéneias quantitativas dos elementos do clima modifieam a intensidade dos processes ¢ as formas do relevo, a andlise quantitativa dos elementos do clima 6 fator basico para o estudo geomorfoldgico Dentre os dados quantitatives, os que tém maior significado sao os freqiienciais ou se- Giienciais, que dio o ritmo das pulsagdes dos elementos do tempo. Assim, por exemplo, 03 dados de tempera- tura que mais interessam Sio os de: ampli- tudes térmicas, freniiéncia de ocorréncia de maximos e minimos, mimero de alternAnclas de gelo e degelo, ete ‘Quanto aos dades de precipitacées, os que mais interessam sio os de freqiiéncia e inten- sidadé é a distribuicko nos menores espagos de tempo (minutos) . Os dados médios néo mostram a intens! dade das chuvas ¢ a forma do escoamento comandada pela intensidade das precipitacoes. © tipo de erosio depende da intensidade das chuvas em relago a unidade de tempo. As influénelas diretas do clima sobre 0 relevo s40 melhor observadas em dois nios morfoclimaticos: nas regides glaciais & nas desértieas, pela falta de cobertura vegetal € de solos. Nesses dois dominios os processos sio mais simples e estio na dependéncia das variagdes dos elementos do clima, da litolagla eda inclinacdo das vertentes. Noutras regiées do globo os processos sio mais complexos porque ha interacao dos solos e da vegetacao, Incluindo a atividade humana 10.4.2. AcHo indireta do clima A ago Indireta se faz através da vegetacio € dos solos. a) Vegetacdo Fora dos desertos e das zonas frias a in- fuéncia do clima é essencialmente Indireta. A vegetacdo esté na dependéncia do cli- maa ea stia repartieao no globo se faz segundo principio zonal: — altas latitudes: tundras. 113 _— médias latitudes (zona temperada) flo- restas de coniferas, florestas de folhas deci- duas, florestas abértas mediterrineas. — latitudes subtropleais: estepes e de- sertos. — latitudes tropicals: savanas. — latitudes equatorial ou tropical oceani- ca: floresta tropical ¢ equatorial. ‘O clima comanda o tapete vegetal, que por sua vez se interpoe entre os agentes metedricos ea terra. Ha um verdadeiro circuite entre 0 clima e a litosfera, através da vegetagao. A Yegetagao tem dupia agio no solo: acdo bio- quimica ¢ acdo mecanica. A vegetacao modi- fica a agio dos agentes de transporte e 03 processas’ morfogenétices.. Com os processos Inorfogenéticos a rélagdio & de causa. e efeito. ‘A vegetacio modifica 0s processos que, por sua. ‘Yes, influenciam nas condicées ecolégicas, com yepereussic na vegetagio Com relagdo & agdo dos agentes meted- ricos, a vegetacao modifica as condicdes de Queda da chuva. Reduz a velocidade e @ ener- gia cinética das gotas, diminuindo os efeitos da erosdo pluvial. A cobertira vegetal influl nas temperatu- ras do solo, reduzindo a irradiaedo (1/3 é absorvido pela fun¢io clorofiliana e¢ pele transpiragdo) ¢ as oscilagées térmicas do solo. Na floresta equatorial as oscilagdes térmi- eas diérias do solo sio da ordem de 1 a 2°C. Nos desertos de 30 a 40°C. A vegetagio reduz a perda direta de agua do solo, conservando a Umidade. Reduz, também, a acéo do vento, no transporte das particulas e favorece a depo- sigao. — A vegetagio tem papel importante so- bre os agentes de transporte ¢ tipas de escoa— mento Freia 9 escoamento superficial ¢ faeilita a infiltragao; logo, reduz a desnudagdo sobre as encostas. Sobre terrenos de natureza igual ¢ deeli- vidade semelhante, os processos de transporte se modifieam eonforme a vestimenta vegetal Sob cobertura de herbaeeas ¢ gramineas 0 es- coamento difuso tende a erescer. Sob vegeta- gio arbustiva espatsa, eresee a escoamento concentrado em ravinas, resultando no au- mento da desnudagao Gailleux ¢ Tricart referem-se a medidas de escoamento em fungao das precipitagdes e da cobertura vegetal no centro dos Estados Uni- dos, mostrando que uma precipitacdo de 50 mm numa hora, cortesponde a modalidades dife- rentes de escoamento, nas seguintes porcen- tagens em relagao chuva caida; em areas de bosque: 2% — escoamento difuso em areas de prairie: 5% — escoamento difuso em campos de triga: 25% — escoamento difuso em campos de algodao e milho, quase 100% — eseoamento concentrado em ravinas ms — A vegetacio € também fator morjoge- nético. Sec cada tipo de formacdo vegetal esté na dependéncia direta dos agentes metedricos, 6 jmodelado esta na dependéneia das modifica ees impostas pela vegetacao a abuacao do clima, dando origem a processos morfogenéti- cas especifieos para cada zona de vegetagdo. Assim 05 processos morfogenéticos varlam. em funcao da vegetaedo, oriando famillas de formas para cada zona ¢limatica As grandes formagSes vegetais sfo 6 refle- xo da distribuiciio sazonar de temperatura, das chuvas, das amplitudes térmicas, dos extre- mos de umidade e precipitacdo, do compri- mento do periodo seco, da evaporacio, do com— primento dos dias e da quantidade de inso- laeao. b) Solos A agio indireta do clima sobre 0 relevo se faz também através dos solos. © solo reflete um equilibrio frégil entre 0 relevo, o clima e a vegetacke. Por essa raza ele € indice diagnéstico importante das mu- dangas. do relevo e dos sistemas morfoclims- ticos ‘As vertentes evoluem em relagao com © solo que por sua vez decorre daqueles clemen- tos. A andlise dos perfis de solo ao longo das encostas (toposseqiteneia) dq a geomorfologia dados importantes pata o estude do balance Ge desnudacdo ¢ dos processos dominantes na evolugao das vertentes Perfis normals ou truncados, fossilizados por cobertura de detritos ¢ novos solos super- postos, podem evidenciar fases de acumula- 40 alternadas com fases de desnudacao., Por exernplo, no sul do Saara, no Senegal, pode-* acompanhar a evolueio morfogenética nos ha- Tizontes de antigos solos enterradgs ¢ distin- guir fases secas do clima correlativas com 0s Deriodos glaciais do Quaternazic. Os perfis de solo na regifio focalizada exi- jyem um horizonte vermello correspondente 2 uma fase amida, interealado entre duas cama- das arenosas, correspondentes a duas geragbes de dunas, desenvolvidas em fases de clima semi-arido, relativas: a Inferior, @ regressio Risseriana, e a superior, a regressio Wurme- riana. Em todo o territério brasileiro e especi- ficamente no Sudeste do Brasil tambem acorrem perfis compostes dé paleosgolos deca- pitados de seus horizontes superficiais, enter- Tados por coliivios areno-argilosos. Os paleossolos permitem reconstitui¢des paleogeogrificas em quase todas as Zonas cli- maticas do globo 10.5. Equilibrio morfoclimatico ‘A estreita interdependéncia dos _elemen- tos ‘naturals conduz & nogao de equilibrio morfoelimaticn Sob determinado clima desenvolye-se um certo tipo de grande formagao vegetal, por exemplo: floresta,.savana, estepe ou deserto, € a transformacio das rochas nesses ambien- tes ecolégicas d& uma certa categoria de solos zonais. Em cada um desses ambientes funciona um sistema morfogenético, que depende, essen- cialmente, do clima, dos solos e da vegetacao. A nocsio de equilibrio morfoclimatico € funda- mentada nessas relagoes. As nogées biogeograficas e pedoligicas de climax tém importaneia determinante para @ geomiorfologia climatiea. A realizacdo do eli- max biogeografico conduz a condigces relati- vamente estdveis na morfogenese. Bla leva também a elaboragaio de solos zonais que ofe- recem aos agentes geomorfoldgicos um meio préprio, onde 2s eondigdes podem ser suficien- temente duraveis Entretanto a extensio geografica do con- ceito de equilibrio morfoclimatico é mais vasta que a do conceito de climax. Inversamente, 2 realizacdo de um climax nao conduz necessa- Tiamente A realizacio do equilibrio morfocli- amatice. Equilibrios morfoclimaticos podem se esta- delecer em regides onde a influéncia da vida sobre 0 modelado seja negligenciavel como na zona periglacial ¢ na zona desértica, £ preciso um periodo de mais longa dura- ¢ao para permitir ao relevo adaptar-se 2 um eerto meio biogeografico do que para a rea- lizagéo de um climax. Se as oscilagies climé- ticas sao muito curtas, o climax biogeografico pode ser realizado sem que a adaptacao mor- foclimatica tenha ocorrido. : Por exemplo, o climax biogeografico (abs- tragao felta do homem) é plenamente realizado no Brasil de sudeste apds 0 inicio da fase flo- restal do periods tropical amido atual. Entre- tanto muitas formas do Yelevo, ainda, sao sobrevivéncia do clima seco passado, anterior & transgressao flandriana. Nas zonas de eobertura vegetal densa, a. Tealizacéo do climax biogeografico é uma das condigGes para a realizacao da adaptacao mor- foclimatica, mas no € suficiente. Contrarlamente, a destruigéo do climax biogcogrifica pelo homem tem conseqiiéncias imediatas sobre o equilibrio morfoelimatico, Provocando modificagées rapidas nos proces- sos e nas formas do relevo, Essa é a razio por que a eroso antrépica é qualificada de erosao acelerada. A ruptura do equilibrio merfoclimético pode resultar de uma mudanea de clima Je- vando & substituigio de um sistema morfoge- nético zonal por um sutro; ou pela agao do homem destruindo a eobertura vegetal, permi- tindo a intraducao de processos acelerados na evolugio do releve (extrazonais ou azonais) 10.6. Qs grandes conjuntos morfoclimaticos do globo A divisdio morfoclimatica do globo tem sido feita com bases nas classificagces climaticas € paisagens geobotanieas (biécores) . Na realidade, essa divisio é dificil porque ainda faltam estudos sistematicos de muitas regiées do globo, especialmente do mundo in- tertropical. Outra dificuldade € 0 enquadra- mento das zonas de transi¢io dentro de uma categoria de processos zonais Gailleux © Tricart (1958) apresentam um esqueitia provisério baseando-se em dois erité- rios: a) para as divisdes maiores tomam como base as grandes zonas climaticas e biogeogra- ficas, sem, contudo, fazer coincidir exatamen- te seus limites. b) para as subdivisées das grandes zonas se apdiam em diferéncas paledclimaticas, sub- divisdes climéticas e subdivisées biogeogré— fleas. Apresentam quatro grandes dominios com subdivisdes: 1) Zona fria — catacterizada pela i portancia predominante do gelo. Conforme a forma € a natureza do gelo ha subdivisdes: a) dominio glaciar — onde o escoamento superficial se faz, principalmente, na forma sélida. b) dominio periglaciar — onde 0 escoa~ mento liquide € sazonar e o solo congelado (pergelissolo) tem papel importante na mor- fogenese. 2 Zona florestal das latitudes médias — profundamente transformada pelo homem ¢ onde as influéncias paleoclimaticas (fases gla— ciais) tém profundo significado. As subdivisoes ‘io feltas com base no periodo de duracao do gelo e nas influéneias palecelimaticas: a) dominio maritimo de invernos suaves — caracteriza-se pela pequena influénela do gelo atual e sobrevivéncia das formas glaciais do Quaternario. b) dominio continental de invernos ru- des — com atuacio preponderante do gelo atual e quaternario ¢) dominio mediterraneo com verdes se- cos — onde as Influéneias periglaciais do Qua- ternario sio bem menores. 3) Zona drida e subdrida das baixas € médias latitudes, caracterizada por cobertura vegetal pouico densa de estepes ou de desertos e escoamento intermitente de aguas locais Duas subdivisdes s&o feita: a) em funedo das temperaturas de in- Yerno, que comandam certos processes impor- tantes como gelivacao ¢ retengao nival. Dai a distingdo entre egies secas de invernos frios = © Tegides secas € quentes, 115 ¥) em fungo do grau de secura, o que leva a distinguir estepés de desertos, 4) Zona florestal intertropical cujas tem. peraturas médias so elevadas ¢ a umidade € Ebundante para permitir escoamento fluvial ‘As subdivisoes S80 feitas em funcao da repar- tigao sazonal das precipitactes, do seu total anual ¢ da densidade da cobertura vegetal: ‘a) dominio das savanas — de cobertura vegetal menos densa, pluviosidade menor ¢ concentrada num periodo de 4 a 6 meses 'b) dominio das florestas — cuja eober- tura vegetal exuberante reflete condigdes de maior umidade e periodo de pluviosidade mais longo. Essa. classificagho é passivel de criticas, pois influéneias paleoclimaticas existem no mundo todo eo papel do homem @ uni- versal ‘Dentre os grandes conjuntos morfoclima- ticas do globo elegemos trés zonas que mais de perto Interessam para o conhecimento dos as- Bectos geomorfologicos do Brasil; regioes seeas das latitudes subtropieais: regioes florestais da zona intertropical e savanas da zona tropi- cal A andlise dos processos e das formas de relevo nessas trés zonas morfoclimaticas dé pases para o conhecimento das provincias mor- foclimatieas brasileiras, do ponto de vista es- pacial (regides climaticas) e no seu aspecto temporal _— conhecimento da evolucdo das paisagens. 10.7, As zonas secas das latitudes médias ¢ subtropicais Essa faixa climatica se dispée entre a zona florestal das latitudes médias ¢ as savanas da zona tropical. [2D Resides Sridos © cemi-cridos Fie. 116 — Localizacio das reglies secas do giobo For definigao, em um clima seco, a evapo- rag&o patencial do solo e vegetacéo excede 2 precipitagao média anual. As temperaturas S20 tonsideradas na determinacio da evaporacko potencial. ‘Os climas secos abrangem varios gradi de intensidade desde o subimido, ao semi- frido ¢ érido ou desértico. Os climas semi-ari- dos distinguem-se dos tmidos pela relacdo precipitacdo/evaporacio menor do que 1. ‘A zona limitrofe entre os varios tipos de regiées secas ¢ entre as regides secas e as umi- dag ¢ arbitrariamente estabelecida porque © passagem é gradual. (5 valores absolutos de precipitagio jamais podem ser considerados porque, a medida que B temperatura média aumenta, a quantidade de precipitacao mecessria para exceder a eva— poracio também cresce. Entretanto precipita Ges inferlores a,250 mm anuais, geralmente, condicionam regides secas sob quaisquer tem- peraturas. Cerca de 26% das terras do globo sio re- gides secas (fig. 71) Nas latitudes tropicais ¢ subtropicais, en— tre 15° © 30° norte e sul duas faixas de terras desérticas coincidem com as células antici- clonais de alta pressdo do globo. Esses desertos Gircundados por climas transicionais semi- fridos s40, pols, determinados pela cireulagao atmosférica geral. Nas latitudes médias também se encon- tram desertos ¢ regides semi-aridas cujas con- digdes ecolagicas sao geradas pela continen- talidade e outros fatores de ordem geografica Sao desertos cujas temperaturas medias de inverno sao iguais ou inferiores a zero, Rece- bem precipitacées fracas em forma de neve Segundo o grau de secura se distribuem os tipos de vegetacko. A seaiiéncia de tipos de, vegetacdo na zona seca é: maquis ou estepe de arbustos; estepe e deserto. Regides éridas so, etimologicamente. re- gides secas; aquelas onde nao se produz es- eoamento. Sao muito raras. Sao regioes de arelas, seixos ou rochas nuas coerentes, onde escoamento é muito raro. Exemplos: planal- ‘yg do Saara Central ¢ deserto lbico Estepes € estepe de arbustos — apresen. tam arbustes esparsos com afastamento indi vidual de 5 a 6m, que freiam, em parte, os processos mecinicos. O escoamento tempora— Tio é violento, Correspondem a vastas exten- soes nas bordas norte e sul do Saara, na Afri- ea oriental, no Kalaari, na Asia Menor e Cen- tral, na Australia, nas planicies dos Estados Unidos, na Prairie Canadense, no Planalto Me- _xieano e no Pampa Argentino Floresta aberta mediterranea (maquis ou garrigue) — vegetacao arbustiva xerofitica, es- parsa, mata espinhosa. Qs solos sio Tasos pedregosos; 0 escoamento ¢ brutal e esporadi- co ¢ as precipitacoes io irregulares. gem distinguir tipos especiais. trataremos das repiées seeas (semi-dridas) aquelas carac~ terizadas pela irregularidade das precipitagdes ‘As variagSes de wa ano para outro vio de uma. a dez ¢ ce vezes, As tempestades sio violen- tase rapidas 'A fraqueza dos totais anuais é compensa- da pela conceBtragio. O escoamento superfi- cial imediato tem uma atividade morfogenéti— ea muito grande. Quanto menor a cobertura vegetal e mals delgados os solos, maior a abla— cdo (desgaste) . Da variagio na quantidade e na distri- puigdo das precipitagses, dependem os tipos de vegetacho. As precipitacées médias variam de 300 a 400 mm nas zonas secas mais quentes da margem tropical a 100 ¢ 150 mm, na esta— edo fria, na zona Mediterranea. A cobertura Vegetal varia de continua de herbaceas e gra- mineas & esparsa de arbustos espinhosos. A agua escassa e mal distribuida deve abastecer a vegetacdo. Os terrenos de granu- jometria mais grossa facilitam a infiltragio ‘A Agua subtraida & evaporacao constitul uma toalha capilar, Se os sedimentos séo finos a figua permanece & superficie ¢ evapora de- pressa, A toalha eapilar pode manter uma vege— tacho xerofitica permanente de longo sistema radicular. © aparelho superficial ¢ reduzido para diminuir as perdas, As vezes nao ha fo- jhas, mas s@ ramos e espinhos. A pressio Os mética se eleva, as folhas caem ou enrolam. Os solos sito delgados, pouco desenvalvidos, ou ausentes. Fregiientemente sio intermedia— Tos entre colivio ¢ aluviao. Sao formacces impregnadas de sal. O ferro.e 0 manganés, pouco méveis, sio os elementos do verniz ne- Ero. Os solos das regiées secas pela deficién— cia de agua no desenvolvem horizontes de imediata identificagao, nitidos. Sao vertisso- Jos, arldissolos ou entissolos. Devido ser a precipitacdo menor do que a evaporacio, a disponibilidade de umidade no solo é minima e localizada. Essa agua facil- mente sobe através do solo, por capilaridade, ¢, pela evaporagho, precipitamse sais dissol— vidos. Formam-se, assim, as crostas de cali- che (carbonato de céicio) ou gips 10.7.1. Os processos morfogenéticos © escoamento nfo é hicrarquizado, HA transig&o entre escoamento de vertente e de talvegue. Em vertentes de fraco declive 0 €s~ eoamento laminar ou difuso predomina®. Nos declives fortes as talvegues estreltos sio bem individualizados (ravinas e oucds) 10,7-1.1, Processos de intemperismo Os processos de intemperismo quimico que atuam nos climas umidos também ocorrem nas zonas seeas, mas a Velocidade de intemperis— mo ai é muito baixa. As chuvas esporadicas € 0 orvalho noturno fornecem a umidade para a hidrélise e para a hidratacao. © intemperismo mecanico € importante. Nao existe rastejamento de sole. Deslize de rochas e detritos sho comuns, por isso no ocorrem formas convexas. O perfil tipico das eneostas nas zonas secas é constituido de penhascos (escarpas) e talus que se clevam Beima de uma vertente céncava de lavagem ‘Arocha nua e a estrutura séo os aspectos do- minantés na paisagem ‘Apés as chuvas rapidas e pesadas 0 es: ecamento laminar gera lavas torrenciais vis- cosas, responsavels pelo preenchimento das irregularidades. Outros processos atuam na desnudagiio ¢ no recuo das vertentes. 10.7.1.2. Erosae regressiva (back weathering) ¥ realizada através de processos de intem- perismo fisico-quimico, e provoca o fatura~ mento da roeha na face rochosa das escarpas e especialmente na base (setor mals umido) - © material desagrégado é evacuado por pro= Gessos de transporte e as vertentes ingremes recuam, paralelamente 10.7.1.3. Erosio lateral (stream-flood) ‘Levada a efeito por torrentes ou correntes coneentradas, tipo oued. ‘A carga do leito, grosseira, constitu o pa- yimento detritico que impede o cavamento no sentido vertical, A corrente erode ¢ alarga as margens, depositands e removendo o material, estabelecendo um equilibrio sempre provisérlo. 7 Escoamento em lengol (sheet flood) B uma limina de igua delgada carregada de detrites que, pela viscosidade. tem compe- téncia para carregar elementos maiores ¢ exer- cer agho abrasiva, O transporte € curto, a eompeténcia do fluxo para. tramsportar a car- ga, a todo momento, se modifica. Ha momentos de erosiio e de deposigao. Nas cheias a erosio € aeslerada. Esse tipo de crosio areolar pro~ duz 0 abaixamento da superticie do pedimen- to, paralelo & superficie ¢ regularizacio, ou em plano inclinado. Tal processo explica heterometria do material coluvial, a ausén- cia de arredondamento e da estratifieacdo. No final da evolu¢do apenas os sedimentos finos sio transportados na superficie quase plana 10.7.1-4. 10.7.1.5. Eseoamento difuso (rill-wash) Bflcaz no transporte dos finos e na abla- ¢ao Interal. Aparece no inicio ¢ no final das cheias. S40 canals anastomosados, regos ins- tivels, onde as aguas turbilhonam e oscilam impedidas por pequenos obstaculos. Transper- tam, a curta distancia, os sedimentos finos, depositam rapidamente, deixando os grossos no lugar. Exerce aco de limpeza. Esses processos explicam as formas de relevo e os depésites da zona semi-arid2. 10.7.2. Morfologia das regides secas No modelado das regides secas distingul- mos formas caracteristicas ‘fig. 72) 10.7.2.1. Canais fluviais Sao intermediarios entre escoamento areo~ lar e Ifnear, possuem secgdes transversais re- tangulares, com margens quase verticals leitos aluviais planos. Tais canals sio 0s ar- royos na América Latina, e sudoeste dos Es- tados Unidos; onadis no Saara francés ‘As margens si0 indeterminadas ¢ 0 leito 6 pavimentado de detritos Se esses canais descem de vertentes abrup- tas (montanhas), na base perdem a veloci- dade e depositam leques aluviais de detritos de perfis concavos, tipicos de encostas de la- Yagem, Sho a5 formas ideais de dispersdo da vazio e da carga sedimentar das correntes. 10.7.2.2. Planicies aluviais Sio edificadas em baeias intermontanas que formam niveis de base locals, geralmente Ge origem tectnica, na periferia de 2onas montanhosas, Nessas baclas acumulam-se ¢s- Dessuras de centenas de metros de aluviées. O home espanhol é bolson. A superficie da ba- cla consiste de leques aluviais coalescentes € conhecida eomo bajada. Na parte mais 118, paixa da bajada pode se originar um lago apés chuva pesada (ago de playa). Com a eva- poragao formam-se erostas de lama seca ou salinas (fig. 72). ‘A playa & wm nivel de base local em ele- vacie. A medida que 0 dolson € atulhado os Teques aluviais se espessam ¢ Tecuar pene trando nos yales dos arroyos, que descem da montanha (fig. 73). ‘As condigdes da drenagem endorréica sia, pois, totalmente diversas da drenagem exorrél- fa. @ nivel de base loeal em vex de abaixar ¢ fender para 0 equilibrio sofre elevagdo 10.7.2.3. Pedimento © termo pedimento adotade na literatura americana por Me Gee pela. primeira vez, em 1897, € puramente deseritivo © no envolye © significado genético. Designa frontao — ter- mo arquitetural. Nao tem relacdo com o latim pes (pedestal), portanto nao faz pensar emt piedmont, etimologicamente falando. A utili- Zagao do'termo, por isso, no implica em na- tureza rochosa, nem em processos de escultu- ragio Outros termos foram usados para designar ag mesmas formas: mesa, coroplain, vertente de piedmont de assoalho rochoso, patamar ro- choso (rock bench), pedimento de piedmont, cone rochaso (rock fan), planicie rochosa, pe- diplano, peripedimento, ete Os autores franceses distinguirain até pouco tempo pedimento de glacis: os primelros Gesenvolvidos em rochas duras, por decomp: sicdo granular; os glacis serlam “pedimentas” em rochas tenzas. Archambault (1967) distingue glacis de erosdo em rochas duras (freqiientemente cha- mados pedimentos) e glacis de erosio em ro- chas tenras e, ainda, glacis de acumulacao. Birot e Dresch (1966) falam em: pedimen- tos propriamente ditos (superficles de erosio entalhadas em rochas duras, freqientemente cristalinas) ¢ glacis de substrate de rochas tenras, que podem apresentar trés aspectos feneti¢amente diferentes tais sejam: a) gla- Eis de erosdio, nu ou com cobertura que possa Ser mobilizada rapidamente; b) glacis coberto, antigo glacis de erosdo recoberto por wma ¢a- mada alivio-coluvial, regularmente espessa, 2 pento de nao ser totalmente removida; c) flacis de acumulagao pura, quando o rélevo fossilizado por aluvides é desigual. Nesse caso o glacis se diferencia do terraco, simplesmen- te porque ele ndo € ligado a leito fluvial bem determinado ¢ por apreséntar inelinacdo mais forte Os mesmos autores distinguem, ainda, glacis de cones coalescentes, Esses iltimos sa melhor individualizados pela forte inclinagao fe débil estratificagao do material (aluvides) . Como vemos © assunto é complexo a paz~ tir da conceituacdo e€ terminologia, nao che- gando, contudo, as opinides a se conflitarem ha esséncia. ‘Tais divergéncias pequenas nos autorizam a utilizar qualquer dos termos — glacis ou pedimento, com base apenas nas for- amas ¢ nos processos atuantes, deixando de la- do, até certo ponto, a questao da estrutura ¢ natureza rochosa Usando uma definigéo eclética podemos dizer que os pedimentos de erosao sao vastas Dlanos suavemente inelinades, cortando ro- chas de natureza diferente ou homogéneas, © declive cresce para montante em forma de concavidade ou em brusea ruptura (Knick). passando em seguida a uma vertente vertical (cornija) ou de forte inclinagdo convexa. So- bre o plano inelinado pode existir ou nado uma eobertura detritica eolivio-aluvial muito del- gada (alguns centimetros a 1 metro), em transite. Logo a superficie rochosa seria’ uma superficie de transporte. Fcto 41 Espessando-se a cobertura a partir de montante icoltivioy ou de jusante (aluvides Gepositadas nas depressdes fechadas, que vio recobrindo o pedimento, & medida que levan~ tao nivel de base), tem-se um pedimento ou glaeis de acumulaedo (pedimento detritico) Se 0 pedimento for desembaragado da ¢o- bertura aliivie-coluvial por modificacaio do ni vel de base, por tectom mo ou mudanca Gu- matica, tem-se um pedimento exumado Sempre, porém, ha duas formas contras- tantes que se justapéem: wm plano suavemente inclinado cujo declive varia em funeao dos processos atuantes e da litologia e uma verten- 2 ingreme correspondente & zona, montanh>- sa, eSearpa de relevo monoelinal ou relevo re- sidual (inselberg). © contacto entre ambas pode ser feito por Angulo bem marcago ou, snavemente, por vertente coneava. O angulo de contacto também € funcao da litologia, dos processes erosives eda posicho em relacio & rede de drenagem. Foto 42 a) @ pedimento (detritico, ‘A cobertura dos pedimentos acompanha, em geral, paralelamente, a superficie top grafiea rochosa, inferior. ‘As vezes os depositos preenchem irregularidades no assoalho, cor- Tespondentes a ravinas com direcdes contra- tas a inclinagao geral da superficie do pedi- mento. A porcio detritica, que geraimente pro- longa 6 pedimento para jusante como superfi- cle de agradacdo, comumente é chamada de pedimento detritico (suballuvtal bench.) Os glacis arenosos sao formas puras de acumula- ‘elo, geralmente posteriores aos glacis de ero- S80. A areia que 0s recobre resulta da desa- gregagao dos frontées esearpas mantidas por Zrenito, mobilizada pelo escoamenta difuso, Jengol d’agua ¢ vento, Sao paisagens comuns no Hoggar e no Colorado. Tais glaeis geral- mente sdo convergentes ¢ a cobertura ores de jusante para montante a partir das playas Gevantamento do nivel de base) e vai coa- lescer com os cones de dejecao (material vin- do de montante). A cobertura é por isso altivio- eoluvial A elaboracao de um glacis coberto sugere uma sucessao de um petiodo Interpluvial para um pluvial em zona seca, com aumento da tor- renclalidade e da capacidade de transporte insebera Fig, 12 — Formas de releve caracteristicas das resides Em geral a cobertura detritiea dos glacis nao apresenta estratificacao. Tem uma estru- tura caética na qual fragmentos angulosos ¢ quebrades sao embaladas numa massa de se- dimentos finos. As vezes, em depressdes do terreno, surgem depésitos estratificades, em linhas grosseiramente paralelas @ superficie topografiea. As depressoes preenchidas suge- rem uma fase de regularizagio das superficies por lavas torrenciais (mud flow). Tais estra- tifleagdes sao raras, 0 que leva a supor que o aplainamento dos glacis é mais importante do que uma simples régtlarizagdo da superfiele ondulada. Foto 43. Bugarella, analisando no sul do Brasil de- positas correlativos de pedimentacdo, obserrow que eles apresentam varias seqiiencias, sepa- Tadas por superfieies de erosio (transieao para fases mais umidas com dissecado), Verificou segiénclas de depésites clasticos de granula- gio fina e grosseira nao consolidadas. Os ar- gllo-silticos © arenosos eram mal selecionados Incluindo granulos ¢ seixos. Em locais restritos observa @ presenea de estratificagao, as vezes, cruzada. Segundo a interpretagao do autor, na deposigdg de tais seqaéncias estiveram presen- tes processos de deslocamento de fluido com corridas de lama (mud flow) alternando com corridas de areia (sand jlow). Os aspectos tex- turais ¢ mineralagicos dos sedimentos sugerem condicées elimaticas tropicals e semi-aridas rigorosas. b) Cohivios e Aluvides — Relacdo: pedi- mento,— terraco 7 Qs pedimentos terminam em terraces que acompanham a rede de drenagem regional, por uma inclinagao inferior, as vezes herlzontal. As relacdes pedimentos — terracos, quan- do nao destruidos por erosio, permitem re. constituir os estagios bem distintos, nos flan- eos dos vales, correspondentes a uma mesma fase climatica de pediplanacao. Ha casos di- ferentes nesse tipo de contato, porém nota-se a distingdo entre os colivios areno-argilosos com seixcs angulosos e os depositos aluviais, melhor rolados, dos terraczs (fig. 74). a dife- 119 Pd (pedimente) rene de pt (pieyo} zone onde @ A medids que as per alvio’s + fines clvido s¢ ossentou em escorpas recuom o porte inferior do Pu ¢ progressivomante sot tavagem (oluvida em transite) olson Fig. 23 — EvolusSe de pedimento por recuo de encosta © elevagio do nivel de base (Bloom) renga entre eles esta nfo sé na textura e es- trutura como também na composigao petro- eréfica Na média Depresso Periférica no Estado de Sao Paulo identificamos trés niveis de terragos pedimentados no wale do rio Piraci- caba e afluentes, apresentando, pelo menos 0 mais élevado, um belo exemplo de contacto glacis-terraco (colivios ¢ aluvides). Trata-se de dois processos distintos de deposicao da mesma fase de pedimentacao: o material are- no-seixoso da cobertura do pedimento revela transporte sobre a vertente por processos de eseoamento difuso ¢ em lengol, enquanto que 3 seixos rélados assentados sobre a superficie rochosa e recobertos, em parte, pelos colivios, correspondem a deposicao em calhas aluviais (stream flood). Este nivel esta cerea de 50 metros acima das virgeas, 10.7.2.4. “Inselbergs” 0s inselbergs sho relevos residuais dos pro- cessos de pediplanacao. Apresentam vertente: abruptas e siihueta de domo ou de castelo. As vertentes abruptas e nuas se desgastam rapi- damente por processos de intemperismo fisico- quimico (mais fisico do que quimico); nos granitcs e gnaisses por desagregacdo granular e esfoliacéo, noutras rochas por fragmentacao. Geralmente 0s indelbergs em rochas maci- gas eomo as eranitéides correspondem a niicleos menos diaclasados, por isso mais resis- tentes ao intemperismo. Em regiées sedimen- tares os relevos residuais que nao tomam o nome de inselberg, correspondei terrenos mais resistentes ou poredes silicificadas de Tochas areniticas. Foto 42 © inselberg ¢ uma forma escultural mas que reflete influéncias da estrutura e da lito- logia. Nos domos granitico-gndissicos © seu contorne corresponde 4 planos estruturais. © Knick tem sido atribuido a varias cau- sas: — aumento da forga erosiva na base (Pas- sarge); 120 — intemperisino quimico e maior ablagio superficial na base (Jessen) ; — determinado pela estrutura rochosa, dl- ferenca de resisténcia das rochas (Dresch e iL. King): — relaciona-se mais com os processos do que com 0 tipo de rocha (Baulig e Dumanows- i) ’ Conforme afirma L. King 03 maiores aplal- namentos do globo situam-se fora das regices submetidas & erasio dita “normal’. Nao sio 0s processos morfoclimiitics das reglées imi- das 0s capazes de elaborar os grandes planos de erosd0. Muito pelo contrario, sob cobertura vegetal, intenso intempérismo quimico, decom- posicdo répida das rochas e cobertura de solo, a evolugdo das vertentes se faz em equilibrio com 0 cavamento dos talvegues e a topografia rebaixa-se, mantendo-se as formas Iniclais, apenas suavizando um pouco as convexidades. O televo € sempre colinoso Dependendo da estrutura, da atividade tecténice € oscilacio do nivel do mar, ha se- tores de maior ¢ menor entalhe e inelinagdes mais ou menos fortes de vertentes 10.7.2.5. Os pedimentos fora das regiées semi-dridas ‘As superficies planas encontradas nas z9- nas equatoriais, tropicais quentes e imidas ¢ temperadas oteAnicas, sugerem, antes de mais nada, que aguelas areas sofreram ascilagdes climaticas e que processos de morfogénese me- ‘Anica dominante teriam sido os responsiveis pelos aplainamentos- Observando a fisiologia da paisagem mor- fologica da globo yerifica-se que nas regioes semi-iridas, na zona mediterranea ¢ nas tropi- eais com longa estagéo seca, os pedimentos estao em vias de elaboracao, isto é, sio formas. vivas, funcionais. Esto sendo esculpidas por processes de morfogénese mecinica. Qs pedimentos situados fora dessas areas sio formas reliquias, fossilizadas, paleoformas. Elas nada mais sio do que o reflexo de con- dicdes climaticas passadas mais secas, talvez, do que o clima atual. Os pedimentos funclo- naig nessas areas s4o formas localizadas e re- sultam de rompimente do equilibrio morfoge- nético, provavelmente por atividade antropiea. Ab’Saber ¢ Bigarella foram os primeiros a ehamar a atengio para formas pedimentadas no Brasil, fora da reglio nordestina Gob o sistema morfoclimatico vigente no Brasil atlantico e meridional, ou seja, clima tropical quente e timido com estagio seca eurta, o intemperismo quimico 6 o proceso mais eficaz no ataque das rochas e na, elabo- racho de espessos mantos de decomposi¢g0. A cobertura vegetal densa e os solos protegem a rocha contra os processos de desgaste ¢ favo- Teeem a componente vertical no balango mor- fogenétice das encostas, A drenagem é hierarquizada e apesar da intensidade da decomposicao reduzindo os de- tritos a finds particulas, a evolucao das ver- tentes se mantém em equilibrio com o entalhe vertical dos rios. A movimentacéo lenta das particulas por ereep e escoamento difuso, do alto para. a base das encostas, explica a convexidade das ver- tentes, que Se Teduzem, mantendo a mesma forma. As familias de formas mais comuns, decorrentes de tais processos sG0: as meia- Jaranjas ou relevo de mares de morros nos planaltos eristalinos e colinas com perfis con- ‘Yvexos nas regides sedimentares. Na Serra do Mar e da Mantiqueira obser- ‘vam-se ombreiras de vertentes de topografia guase plana ¢ suavemente inclinada em dire- do ao eixo de drenagem regional. Freqiiente- mente sdo patamares, podendo-se distinguir de dois a trés niveis com aspecto topogrifico semelhantes, embutidos uns nos outros, em forma de degraus. A articulagao de um nivel a coe superior se faz por 4ngulo bem mar- ado. _ Bigarella e eolaboradores estudaram tais nivels ¢ seus depésitos correlativos, aplicando métodos geornorfolégicos e fazendo andlise tex- tural_dos sedimentos para distinguir o grau de sclegdo ¢ inferir a respeito das condigdes am- Dientais de deposicao Identificaram varias fases de pediplana- eo correspondentes a periodos mais frios e Secos (fases de glaciaco nas altas latitudes) e varias fases de entalhe e desenvolvimento do Fegolito nos periodos interglaciais. ‘Ania Ab’Saber aponta as mesmas fases € semelhante évOlugao de pedimentos na bacia de Sao Paulo e de Taubate e nés proprios ela borames um quadro evolutivo da paisagem da média depressio perifériea em Sao Paulo, com base em estudos dos nivels de pedimentacao e depésitos correlatives (Penteado, 1968 ¢ 1969; Christofoletti e Penteado, 1969) ‘Na, Depressi Periférica Paulista, ao lado da paisagem de colinas baixas suavemente convexas, eorrespondentes a niveis erosivos mais recentes, encontram-se longos espigdes ¢ corrida de lomo com detritos anguiosos seixos rolodos moleriol detrtico ngo rolado a, superficie ao cotivios = material pedimento estratifirmio Fig. 14 = Tipot de relacio entre pedimento © terrace Givisores de Agua tabuliformes, de superficie quase retilines com suave inclinagio em dire- go a0 elxo da drenagem. Tais espigoes arti- culam-se as escarpas de cuestas e pareddes de forte convexidade dos sills de diabasio por Angulos bem marcados. Foto 41 Todos eles apresentam capeamento areno- so com lentes basais de casealhos e argilas ou fragments de eangs. A meioria deles apre- sentam espordes laterals desdebrados em de- graus curtos mas de formas retilineas seme- thantes, apenas com mais. forte inclinacéo. Bssés degraus inferiores geralmente esto ¢s- eulpides “em sedimentos atgilosos de Grupo Tubario e Passa Dols ¢ nfo apresentam a ¢o- bertura arenosa, mas terminam nas bordas, em niveis de seixes rolados (terracos aluvials pedimentados) Na Média Depressio Periférica abaixo da superficie mais geral capeada de sedimentos arenosos — superficie de Rio Claro (600- 620 m), ha dois desses patamares embutides. No front da serra dé Itaqueri e de SAo Fedro os espordes obseniientes (pedimentos rochosos obseaiientes esculpidos no areni- to Botucatu) articulam-se as paredes ver- ticais_de basalto e arenito silicificado. Tais espordes apreseritam, no ponto de contacto. uma inclinacio de 30° a 40° em vertente eon- cava. e se continuam com 15°, 100, 50 até 3° de inelinaego para jusante, constituindo os niveis aplainados, geralmente capeados de canga, it mais elevades nesse setor da Depressio Peri- ferica (em torno de 700 m — superficie neo- génica). Foto 41. ‘Tais planaltos mais elevados terminam em degrau sobre o aplainamento Inferior mais generalizado — a superficie de Rlo Claro, com desnivel da ordem de 50 m Tanto a superficie mals elevada como a inferior como os degraus menores mais pré- ximos dos vales apresentam earacteristicas comuns: — superficie plana muito regular; — suave inclinacio em direcio & calha de drenagem} — articulagio em angule forte com es— earpas mais altas; — cobertura detritica, mal consolidada ou agregada com eimento ferruginoso; — no contacto da cobertura com a su- perficie rochosa ha cascalheiras de elementos angulosos indicando transporte curto em meio denso sobre as vertentes (depésitos coluvials) ; — eascalheiras de seixos rolados de quart- no € quartzito nas bordas das vertentes acom- panhando os vales (depdsitos aluviais) . Esses fatos, mais a andlise morfogenética e ltolgica dos seixos nos levaram a inter- pretar tais formas como remanescentes de Pedimentos esoulpidos nas fases secas que atuaram no Brasil tropical e de sudeste a partir do final do Tereiario. Os argumentes mais fortes 2 favor dessa interpretagao foram: —a planitude da topografia conservada em meio a formas colinosas arredondadas pelos processos atuals. ‘A cobertura arenosa parece ter sido um fator de preservacao da superficie, de vez que 0s arenites mal consolidados, extremamente permeaveis, reduzem sensivelmente o ¢scoa- mento superficial € a ablacao do relevo, que assim vem-se mantenda enquanto as vertent entalhadas em terrenos argilosos vao toman- do formas eonvexas, 4 medida que o entalhe prossegue, mascarando os vestigios das fases de pedimentacao. — A regularidade da superficie erosiva que eortou por igual, em plano inclinado, camadas sedimentares diferentes (Botucatu, E. Nova e ‘Tubario) ; — a ocorréneia de depésitos grosseiras so- bre a superficie rochosa, enterrados por are- nosos mais finos situados bem distante (0 a 20 e mais km das escarpas atuais) e cerca de 50 — 60 m acima dos assoalhos dos vales atuais, euja mobili 86 poderia ter ocor- rido por um tipo de transporte de grande com- petencia ‘Nossos rios, atualmente, transportam ape- nas fragdes finas, se, sobre as vertentes de in- clinagéo normal, so se taovimentam areias ¢ argilas, sob ago do creep e do escoamento difuso. — A ocorréncia de depésites grosseiros: blocos @ grandes seixos embalados em matriz fina, cortados pelo mesmo nivel topografico 192 dos baixos espordes, afastades das cuestas cer ca de 5 Km e situados 15 — 20 m acima dos talvegues atuais (pedimentos detriticos post- superficie de Rio Claro) Nio se trata de tilus de desmnoronamento, porguanto a distancia das escarpas € de cerca de 5 km e a estrutura do material é cadtica. No talus ha acomodacdo basal e frontal dos elementos maiores, por gravidade Nessa ordem de idéias podemos coneluir que o modelado atual da Depressio Perifériea exibe muito mais os resultados da atuacio de processes de morfogénese mec&nica, os quais ainda ndo foram apagados pelos processos de intemperismo quimico dominante ¢ entalhe, sob o clima atual. A natureza ltolégica dos depasitos de co- bertura das superficies de pedimentacao ex- plica, em parte, a conservagdo das formas. fide se supor que as fases secas foram de mais longa duraeso do que as fases de entalhe, especialmente a correspondente & claboragao da superficie de Rio Claro No momento, mais importante do que pro- curar interpretar e discutit o problema da evo- Tugio da paisagem e da génese dos pedimentas das regides tropleais é intensificar as pesquisas no sentido de distinguir, por métodos de and- lise, as varlacdes texturals e de facies dos de- positos detriticos correlativos de tais super- ficles. ‘A andlise pelo Carbono-14, andlise poliniea e métodos arqueolégicos conttibuindo para as datagSes absolutas, auxiliariain na interpreta- edo morfogenética 10.8. O modelado das regides intertropieais: florestas e savanas A cobertura florestal das latitudes baixas se estende do Equador até a altura dos tropi- cos, mais ou menos nos dois hemisférios, po- rém disponde-se, localizadamente, a0 longo das costas expostas &s massas maritimas tropicals Estende-se mais no Hemisfério sul (mari- timo} do que no Hemisfério norte. De acordo com o grau de umidade e dis- tribuicao das chuvas, hé uma transig&o da floresta densa para a aberta (Savana). ‘A zona florestal das latitudes baixas se une, em dois pentos, com a zona florestal das latitudes médias: nas Antilhas e na Insulindia. Nessas areas é difieil precisar o limite das duas zonas morfoclimaticas Na Africa @ delimitacéo é facil. © Saara é a regifo intermediaria. Na savana africana a pluviosidade media anual é superior 2 800 mm. Na floresta pluvial (Congo). € superior a 1.500 mm, com estagaio seca muito curta ou ausente. Na floresta Ama~ zonica a pluviosidade gira em torno de 2,000 mm Quando a precipitacio é superior a 1,500 mm, mas a estacio seca € relativamente mareada (4 a § meses) as florestas so do tipo latifoliada tropieal: florestas da Indochina, da planicie Indo-Gangética e da Serra do Mar no Brasil As florestas equatoriais eorrespondem 20 cinturéo dos déidruns e da FIT, centros de ‘agio dos climas das baixas latitudes. 10.8.1. Florestas equatoriais ¢ tropicais Ne conjunto, florestas equateriais ¢ tropi- eais tém caractéristicas comuns: temperatu- ras médias elevadas, fracas amplitudes térmi- cas, bastante umidade, auséncla de gelo. A. auséneia do gelo é importante porque a fragmentacio torna-se reduzida. As escalas rochosas recuam lentamente ¢ o talus ¢ re- vestido de mantos argilosos e pode ser reco- herto de vegetacdo, Q forte calor, a umidade ¢ as pequenas amplitudes. térmicas favorecem 0s processos quimicos de ataque das rochas. A decomposi- go freqiientemente é mais rapida do que o transporte de detritos sobre as vertentes Apesar da exuberancia da vegetacio e da velocidade de acumulagao de detritoes a acumulagao do htimus é freada pela atividade dos microrganismos, Os solos sig profundes e bem drenados. A lixiviacdio intensa das bases e da silica deixa como produte de alteracao um manto argiloso residual, de alumina e hidroxidos de ferro, que constitui os solos lateritizados (argilas la- writicas) latessolos ou oxissolos. A aco do intemperisme quimico resulta na carga s6lida muito fina dos rios, predomi- nando argilas ¢ areias quartzosas finas. A au- séneia de seixos e elementos abrasivos dimi- nui 0 poder de escavacao dos leitos fluviais. Os perfis longitudinais dos ros aprésentam-se em degraus (rapidos e cachoelras) . 10.8.1.1. © meio ecolbgico © calor e a forte umidade explicam o elo vegetative constante. Nao ha repouso sa- zonar. A folhacdo ¢ sempre verde ¢ ha jus- taposicao de flores e frutos. A impressio é de imobilidade. Na realidade ha renovacdo per- pétua A auséncia de estagées, 0 elevado teor de umidade e a fraca amplitude térmica tornam a evapotranspiragio real muito elevada, equi- valente 4 potencial © lencol freatico é permanente e espesso. Oseila por causa da permeabilidade dos solos. e em virtude das pequenas variagses de pre- elpitacdes. Nao influi ma vegetacao, mas no debito dos rlos, A recrudescénela das chuvas causa chelas imediatas devido ao estado de sa- turagio dos solos. As condigées de umidade e temperatura favorecem 6 ‘desenvolvimento de grande nt- mero de espécies vegetals. A fisionomla da ve- getagio, entretanto, é semelhante, Hé adapta- es’ para perda do excesso de agua e competicio para aleancar a luz. A floresta apresenta varios andares (sintsias): 1° esta gio — arvores altas (30 a 50 m); 2° estaglo — intermediirio, de folhas menos espessas ¢ poucos ramos; 3° estégio — arbustivo, Sio espécies adaptadas 4 sombra e a umidade, Falta tapete de gramineas e herbacens por deficiéneia da luz, 10.8.1.2. Processes 10.8.1.2.1, Decomposiedo quimica A decompesicao quimica muito intensa faz com que a alteracdo das rochas seja mais répida do que o transporte dos detritos, © primeiro fato que chama a atencao € a abundancla de elementos finos de diametro inferior a 2 microns. A quantidade de argllas nos solos florestais das regides quentes e imi- das representa 50 a 60% do peso total do solo, enquante que nas regiées temperadas esse teor é de 6 a 10% Os solos espessos atingem 20, 30 a 50 me- tras, as vezes apresentando recobrimento co- Iuvial em movimento. Nas rechas granitico-gnéissieas dominam argilas cauliniticas. Os solos sio espessos ¢ permedvels devido & presenca do ferro aglo- merando as argllas e A alta porcentagem de areias quarteosas (30 a 35%) 10.8.1.2.2, Os processos de transporte sobre Gs vertentes 2 — em soluedo — qualquer que seja o interesse do estudo das aguas percolantes ele nao pode servir de base para a avaliagao da perda de substancia média das vertentes, por solugdo, por falta de poder caleular, exata- mente, a superficie sobre a qual 2. ehuva eaiu e de onde provém essas aguas. A perda de substancia pode ser medida, mais exatamente, a partir do teor em ions dé origem mineral nos pequenos rios ‘Medidas de Rougerie, na Costa do Marfim, dio para regides graniticas de 150 a 200 mg por litro ma seguinte proporedo (Quadro 1). Quadro I — Proporciio de ions dissolvidos em Tos de regides graniticas na Costa do Marjtm (Rougerie) Siliea ..... coos 5 8 20mg Caleio mE Potassi : 4 mg Sédio A id mg Magnésio z 25 mg Ferro se eee oad mg © maior contingente é representado pelas bases, que sio os elementos mais soluvels nas regides quentes ¢ tmidas, Rougerie e outros autores franceses fize- rata comparagses da compésigio quimica das Aguas tropicais e temperadas, para regides de rochas granitico-gndissicas em relevos seme- Ihantes. © resultado ¢ abtide no quadro n° IT. 123, Quadro 11 — Comparacte da composicde guimica das dguas trapicats ¢ temperadas segundo Rougerte Cea Maldon Mate sac ee Matti Sore taiay oral po ite: 150 me a me 0 oe sie 1s : = 2 x a 3 Nngseo 2 he e ite : é & Sia it u i re 3 ta be © quadro mostra que nas regides tropicals fanidas hA mais silica dissolvida por litre de agua escoada, No total « quantidade das subs- mneias dissolvidas nessas regides ¢ duas ou tres veges mais importante do que na zona temperada, As bases formam o contingente qnais importante, na mator parte dos eases. ‘A composicso quimica nao ¢ muito dife- rente, Nas Tegioes quentes ha pouco mais subs~ fancias dissolvidas. A eifra muito baixa da Gulana se explica Dela natureza baixa do re— Jevo (pediplano, terciario), pela lavagem dos soles por longo ‘periodo de tempo ¢ pela dre- nagem muito potente © teor de substancias dissolvidas dos rlos nos forpece a quantidade de matéria exporta- Ga para o Mar, mas esse teor pode ser inferior as perdas das vertentes "Ao Jongo dos rigs h4 niveis de base locais (lagoas ¢ Pantanos) onde parte da silica to- mada das vertentes pode se précipitar dando argilas de neoforma b) Saltacdo pluvial ¢ escoumento difuso A agdo das gotas de chuva sobre 0 solo, apesar do anteparo da vegetacéo, faz as par- Hiculas mais finas se locomoverem © escoamento difuso é um agente impor- tante de transporte, sob floresta, pela falta da cobertura de gramineas. Fle é um instru- mento importante de erosae lateral e remocae de detritos finos Rougerie mediu » agio do escoamento diz fuso da Costa do Marfim, num periodo de £ anos, @ obteve os seguintés resultados: perda de terreno vertentes 0° a 4° — 2mm /ano z 42 a 10° — 3mm/ano 2 19° a. 50° — 3,5mm/ano © escoamento difuso transporta, no ma- ximo, ateias muito finas, de calibre muito in- ferior ao transportado nas regides semi-aridas Hi, pols, grande diferenca na competéncia deste agente de transporte nos dois dominios morfoclimaticos ‘As chuvas fortes sio as mais eficazes para dar origem 2 esse transporte, geralmente chu— fas de inicio de estacao. Quédas de ehuvas inferiores @ 10mm/hora nao geram, pratt 1a camente, o escoamento difuso. mesmo em ter- Tenos graniticos ¢ xistoses. No final da estacdo das chuvas, quando os solos esto saturades 0 escoamento difuso se produz sob qualquer precipitacio ‘© escoamento difuso é dos pracessos mais efieazes na esculturacio da convexidade das vertentes e) Rastejamento (especialmente de ori- gem biologica) Movimenta detritos finos, alguns cm por ano, em vertentes de declives entre 0° € 15° a 20° d) Soliflurdo Ocorre geralmente em terrenos coluviais que possuem camadas argilosas em vertentes Ye fraco declive (5% a 15°). Ocorre tambem hhos solos muito enchareados que possuem ums. camada lubrificante basal. A solifluxae faz migrar mais rapidamente (dm/ano) uma pe- licula mais espessa de detritas. ‘Todos esses séio processes lentos de evolu- cao das vertentes. Os processos de desnudacac mais violentos sO atuam em situagao de dese quilibrie, No meio tropical quente e Umido as yer~ tentes evoluem lentamente, sem perder a for ma convexa. A velocidade de alteraclo das roohas geralmente é igual ou maior do que @ de desnudacao. 10.8.1.2.3 ‘A ado das correntes @ relativamente poueo efieas, nas regiées tropicals umidas em Telacao a outros climas Um rio tem competéncia para transpor- tar tanto mais Sedimentos e erodir tanto, mais, Guants malores forem as variacoes de debit P'io momento de mudanga dos débitos. (quan- Yoo volume aumenta bruscamente) que © material do lelto se movimenta ‘Os rios nas regiées quentes e tmidas nao possuem poder de transporte e erosio propor Pional ao seu debito, pelo fato de terem debi- figrthativamente regularizados € transporta- Hem uma carga em suspensdo muito fina, cor Tespondente a 6) ou 90% da carga total ‘Além disso, tios de regives pouco aciden= tadas como o Amazonas transportam carga em suspensao relativamente fraca A erosdo fiuviat A. carga do leito das rios equatoriais 6, es- sencialmente, representada por areias. © irago mais notavel na morfologia das regioes tropicais unildas ¢ 0 leito dos rios. Rios grandes, a pouices quilometros do nivel de ba- Se, apreseniam tapidos. Mesmo em regides de altitudes mediocres (150 2 200 m) e uma eos- ta relativamente estavel hd bastante tempo, como na Costa do Marfim, existem quedas agua proximas do litoral! Nas regides quentes e umldas o perfil lon- gitudinal se decompée em degraus com se- tores horizontais e verticals, enquanto que nos climas temperados as rupturas de declive de origem ciclica tm um perfil concave (fig. 75) Por que essag diferencas? Um fato capital ¢ 4 auséncia on a raridade de seixos nos rios tropieais, necessarios no cavamento das mar- mitas. As vertentes fornecem apenas material fi- no. Os filoes de quartze que s¢ desagregam debltam detritos que, rapidamente, diminuem de tamanho no seu percurso em direcdo & base da encosta. O proprio. quartzo e especiaimente @ quartzite sofrem ataque quimico e se apre- sentam alterados. Os seixos que chegam 4 corrente fluvial ‘ou que sio arrancados nas zonas de quedas se desgastam rapidamente, em pequenos per- cursos, para jusante As diferencas entre o perfil longitudinal da zona temperada ¢ tropical se explicam pelo tipo de carga e de regime fluvial. Nas regides temperadas a erosio regressi- va reduz a altura da queda. Para que aluvies grossas possam ser evacuadas ¢ necessirio um declive forte. Cria-se, assim, um perfil inclina- do exatamente necessirio para o transporte dos seixos. Nos climas tropicals amidos, as vertentes € 0 leite fornecem poucos seixos, O desnivel das quedas reeua lentamente, mas a declivida- de se mantém, porque para evacuagio de areias e argilas nao é necessarlo perfil ineli- nado continuo. Nas regises temperadas 0 re- gime dos rics é imponderado com débitos. irregulares. Nas regioes quentes e tmidas o débita é regularizado Outro fate que chama a atengao ¢ que os rapldos dos tios estao em contradicio com relevos modestos. O ataque quimico sob 0 leito € menor do que sob o manto dé solos ¢ a co- bertura vegetal dos relevos vizinhos, A decom— posi¢ao proflinda das vertentes se opée 20 Rito Focheso poueo atacado, 10.8.1.3. As formas do relevo As formas mais comuns esculpidas em terrenos granitico-gndissicos sao as meia- laranjas (relevo mamelenar}. Fotos 44 © 26. As vertentes so convexas e os declives se situam entre 15° e 250 au 309. O solo geralmen- te é espesso. A decompasicio muito intensa reduz og detritos & fracia fina. Esse material fino é evacuade por Tastejamento e escoamento di- fuse e vem atulhar os vales Fig, 25 — Perfis Tongitudinal te6rico — 2 — regives ‘temperadas — B — regtées tropicals Gmiidas As vertentes sio convexas do topo & base ¢ os vales sao planos devido & chegada de de— tritos ser supetior & capacidade de transporte dos ris, porque os declives do perfil longitu- dinal sio muito fracos. © perfil longitudinal apresenta degraus e secgdes planas nor deficiéncla de erosio me- cdnica e por causa do preenchimento rapido das reentrancias por areias que a corrente nijo pode transportar Essas seccdes planas alargadas, situadas a montante de soleiras rochosas siio os alvéolos (fig, 76) © comprimento da vertente é elemento essencial para determinar a convexidade e a concavidade do nerfil Quando a vertente é muito curta ¢ ingre- me og bloeos paratn na base € dio perfil con- ¢avo. Se as vertentes sto longas, as locos v0- se reduzindo no pereurso e no ehegam 20 rio. Q eavamento do vale 6 menor do que a evolu- so das vertentes. A camada de detritos finos se dispse ao longo de todo © perfil da encosta. A medida que o material é removido para a base, o intemperismo quimico reduz verti- calmente a massa tochosa. A vertente perde altura, a declividade ai- minui, as cristas se arrendondam. A vertente reduz, Mas a conivexidade se mantém porque 68 processes lentos sho constantes. Vertentes de 50° @ 600 (phes-de-acticar) reeuam répida e paralelamente por pracessos fisieo-quimicos que provocam a desagregacao granular e esfoliagao da massa rochosa. A for- fe inclinacio nio permite o desenvolvimento de solos. A vertente recua e a verticalidade se mantém. A impoténeia da erosio linear nas regiges quentes ¢ timidas da o perfil em degraus nos rios, Por ser a evolucdo das vertentes ea pe- dogéneses mais répida do que a erosio linear, os Televos $i0 modestos com vertentes conve- xas de perfil regularizado em contraste com vales encalxados de perfil longitudinal nao re- gularizado. 10.8.2. Dominio das regides tropicais com estacdo seca definida (savanas) Entre floresta densa e a estepe de arbustos espinhosos se dispde o mosaico das florestas de arvores de folhas caducas ¢ persistentes alternando-se com savanas, 125 onast) As savanas, que ocupam a maior parte dessa superficie, s4o, em parte artificiais, em parte naturais. AS Savanas naturals ccupam Grandes extensoes em funedo de condigdes édifieas e topograficas. Em dreas montanhosas cercadas de planicies, as primeiras sio ocupa- ‘das por florestas. As planicies inundadas por ‘peaslao das chuvas devido 4 ma drenagem ¢ dessecadas na estacdo seca sio mais favord- yels ao desenvolvimento de herbaceas. ‘Altos planaltos recobertos de sedimentos arenosos, remobilizados de antiges solos, con- formando superficies seis, também apresen- tam eobertura de savanas. Os solos arenosos de tais superficies sio pobres ¢ desminerali- rados pelos varios ciclos de lixiviagao ¢ intem- perlsmo. Crises climaticas ¢ atividade antrapiea po- dem modificar a cobertura florestal e substi- tui-la por savanas Nas regides tropieais do globo, devido & utilizagdo creseente das terras, a tendéncla € para o crescimento das areas ocupadas pot savanas, em detriménto de zonas florestais ‘A caracteristica mais constante do domi- nfo tropical com estacdo seca é a existéncia de couracas ferruginosas, revestindo imensas pla nicies e planaltos de eros. A sua origem tem levantado problemas de ordem geomorfeldgica ¢ pedolgica. A savana é menos umida do que as florestas ¢ submetida a um regime pluvio- métrieo sazonar mals contrastado. ‘A caracteristica climdtiea basica ¢ a al- terndneia de periades chuvosos ¢ de seca acentuada. A pluviosidade anual gira entre 1.000 ¢ 1.500 mm e se concentra, em 4 ou 6 meses de primavera ¢ verao ou Verdo © outono. As.tem- eraturas médias anuais sio elevadas, girando em torno de 20°C. 10.8.2.1, Por ourta que seja a estagio seca, as pre- clpitagies mensais sho semelhantes as duas te- Ecologia tropical eovecoe giées equatorlais, com quantidades que variam de 150 a 400 mm. Os solos rasos das ronas planas. enchar- cam na estagio das chuvas devido 4 eobertura de elementos fins ¢ © escoamento superficial pode tomar forma de lencol ou de canais in- deeisos. A savana, na época das chuvas, ¢ ume regiao antibia, cheia de lagoas rasas ¢ canais anastomosados, até que 2 agua se infiltre ou evapore Da agua caida, apenas uma parte chega aos rios, pols a evaporacdo é muito elevada, Na estagio seca o solo resseca € 0 lencol fretico se aprofunda. Dessa varlacio brutal de Agua no solo dependem o tipo de vegetagao eo regime dos rigs. A vegetacdo deve se adaptar a essas con- digdes, Os dois tipos mais comuns séo: a flo- resta de folhas deciduas e a savana com gran- des arvores esparsas e formacées herbaceas, A primeira aparece quando a estagao seca é curta (3 2 5 meses) e o total anual das preci- pitagées & da ordem de 1.500 mm. A segunda Corresponde a um clima mais seco, com preei- pitagaes mais reduzidas, estagao’ seca” mais Tonga Quando os solos sio espessos © permea- yels, o lengol freatico se aprofunda muito: quando sao rasos, submetidos a evaporacae in- tensa, tornam-se secos. Nessas cireunstancias € impossivel a sobrevivencia de vegetais de Taizes superficiais. A savana se caracteriza, pols, por gramineas como as da prairie da zo- na temperada, com rizomas que emitern folhas ha estagao umida. Na seca as folhas desapare- cem. Restam apenas alguns tufos esparsos de arbustos xerofiticcs e a solo fica nu nos Inter- valos das grandes arvores, Estas sao espagadas porque o sistema radicular ¢ muito amblo e se aprofunda bastante. Os troneos S&o £rss0s, as caseas duras; ha poucos galhos ¢ ramos, as folhas sao cerosas ¢ resistentes. Sao adaptagses xerofiticas para reduzir a perda de agua. Fig. 16 — Topogratia caracteristica de tertenss eraniticns em regites tropicals timidas 126 © limite entre savanas ¢ florestas imidas nao é bem definide e pode ser modificado a todo momento pelas queimadas © regime de agua do solo, condicionado pela litologia, nessas zonas limitrofes, pode determinar 0 aparecimenta de savanas ou flo- Testas. Solos permeaveis arenosos favorecem © desenvolvimento das savanas, solos argilosos de granites ou diabdslos podem condicionar a expansio das florestas. 10.8.2.2 A quantidade de agua infiltrada é menor do que na zona florestal. A infiltragao é in- terrompida na estagéo seca, porem na época das chuvas a acio quimica € intensa, especial mente nos terrenos aplainados. A lixiviaeio das bases é quase completa e parte da silica entra em solucdo e € removida. As argilas re- sultantes sio, mais comumente, caulinitas. Os elementos menos soltveis precipitam-se de maneira irreversivel quando o len¢ol. freatico abaixa bruscamente. Pedogénese Ocorrem todes os tipos de acumulagao do ferro ¢ alumina. Ha carapacas de Iixiviag3o obliqua, formadas pela deposi¢ao do ferro, mo- bilizado pelo lencol fredtico ou aguas subsu- perficiais e depositado nos coliivios de de- tritos da base das vertentes. Nos planaltos a lixivingso vertical € grande ia estagao chuvo- sa. A argila 6 levada para baixo, constituindo uma camada impermedvel que mantém o len- gol Treitico préximo & superficie € sujeite as Variagoes climaticas. 4 subida capilar e evaporacéo da agua do sole, na estaggo seca, determina a deposicao do ferro na parte superior do horizonte B. Constituem-se, dessa forma, os horizontes con- erecionarios, de ferro, sujeitos a desidratarem— se para se transformar em carapaeas lateriti- cas. O “encouragamento ferruginoso” ocorre com 4 destruigao da cobertura vegetal, cleva- gao da temperatura do solo e desnudagdo do horizonte A. 10.8.2.3. Os provessos de crosiio As modalidades do escoamento superficial sio determinadas pela distribuigao das preci« pitagdes, pela natureza dos solos e da cober- tura vegetal, As primeiras tempestades en- contram 6 solo seco ¢ endurécido, © resultado € a eroso pluvial possante e escoamento su- perficial imediato. Os pracessos de escoamento, erosao ¢ transporte mais comuns sobre as vertentes sao: — torrentes em lencol — (sheet flood) —eseoamento difuso (rill wash) — crosio pelas gotas da chuva e 4guas pluviais escoadas (rain wash) —correntes canalizadas (stream jiood) proceso intermediario entre escoamento li- near e areolar. ‘Todos esses processos sio eomuns tanto & zona semi-étida como &s savanas, devido & escassez da cobertura vegetal continua, Na savana todos eles sdo muito eficazes no inicio da estacao chuvosa, antes do aparecimento do tapete de gramineas. O escoamento em lencol é o mais eficiente na remocao dos detritos fi- nos ¢ na elaboragao dos pedimentos. O escoa- mento difuso também € process importante na savana, Esses processos de erosdo @ trans- porte favorecem também o coluvionamento As @guas se carregam da carga fina, trans portam a curta distancia, sobre declives e de- positam nas zonas deprimidas e planas Esses procéssos explicam as regides planas das savanas. 10.8.2.4. As formas do relevo A desagregacdo granular sob variagdes de temperatura afeta as vertentes ingremes. A erosdo pluvial exeree agao de limpeza no ma- terlal desagregado ¢ submete a rocha a con- trastes de umidificacdo ¢ ressccamento Tais processos atuando sobre as encostas, € a eroséo lateral e regressiva dos eanais tor— renciais na base dos relevos, promovem o re- cua paraielo das vertentes. As formas derivadias sho relevos residuais em domos ou macicas arredondados de decli- ves bastante ingremes, os inselbergs. Essas vertentes entram em contacto com superficies planas por Angulos basais bem marcados (Knicks), Os processos de escoarento em len- gol € Gifuso, € erosio lateral de canais diva— gantes aplainam as irregularidades do relevo 808 pés dos macigos montanhosos e das ele- ‘vagdes, desenvolvendo os pedimentos As primeiras chuvas tém agdo eresiva grande, porque encontram o solo seco e sem vegetagao, © encharcamento superficial im- permeabiliza 0 solo e promove o escoamento imediato. G len¢ol freatico proximo da super- ficie também favorece o escoamento super- ficial. Todos esses processos dao origem a plani- cies de erosio — superfieies suavemente in- clinadas em direcdo ao nivel de base regional (am rio principal), Essas planicies sio os pe- diplanos. © conerecionamento do horizonte B dos solos (carapagas lateritieas) contribui para 2 eyolugio daqueles processos e dos aplaina- mentos. © éscoamento linear pode ser perene ou nao, dependendo de maior ou menor duracio da estacio seca e dos tipas de terreno e de relevos. A carga do leito € sempre grande, apesar de ser mais fina do que nas regises sémi- ‘iridas. Os vales evoluem para formas rasas e largas. Predomina eroséo areolar. As soleiras rochesas ou bancos de laterita constituem rupturas 10s perfis longitudinais dos rios, os 227 quais se apresentam quebrados em degraus. A Grosdo regressiva dos saltos é lenta pela falta de abrasives grossos e porque a carga limite € quase atingida ‘As formas do relevo ¢ os progessos de ero- s&o sao multe semelhantes sob savanas € nas estepes (regises semi-dridas). Os. pediplanos e inselbergs parecem se descnvolver melhor nas zonas semi-dridas pela poténcia erosiva do escoathento arcolar e pelo predominio da erosio mecanica, Nas savanas os processos ci- fados encontram todas 2s condigses ceolégicas necessitias 20 seu funeionamento, vor isso én selbergs e pediplanos desenyolvem-se também Sob savanas. Segundo a maioria dos autores interessados na geomorfologia tropical, os in- selbergs © pediplanos evoluem em regiGes semi- Zridas e se conservam sob eondigées tropi- ais, devido & semelhanea dos processos mor- fogenéticos. Como a faixa tropical ¢ subtropical do globo sofreu oscilacées climatieas com varia~ ees de condicdes de estepes para savanas ¢ Vice-versa, a morfologia expressa a interacio de proceséos de condicdes ecoldgicas alterna- das, mas semelhantes. 10.9. Os dominios morfoclimaticos brasileiros No Brasil como na Africa a vegetaeso constitui a melhor expressio dos dados climé- tieos: Existem tipos de combinagdes de fatos geomorfolégicos, climaticas, pedolégicos que permite definir 4reas homogéneas do ponte de vista das formas do relevo e dos processos que operam em superficie. Na realidade, a reparticio das grandes zonas morfoclimaticas brasileiras nko segue uma. disposi¢ao em faixas orientadas segundo a latitude, conforme expressa o terme de “zo- na”. As dreas morfoclimaticas apresentam for- mas irregulares, com interpretacbes nas Sreas limitrofes. Trata-se de um arranjo com- Plexo de fenémenos naturais as quais se deve acrescentat os processos antropicos que ‘se associam e se inter-relacionam, permitindo a identificagio de provincias ou dominios mor- foldgicos. Esses dominios sao ora de tipo zonal ora de tipo azonal e mio dependem apenas dos processos zonais ¢ funcionais na épeca presente, mas também do resultado da atuagao de sistemas morfoclimiticos diferentes, rela- tivos a flutuagdes climiticas acorridas no Quaternario Ab'Saber (1970) grandes dominios: caracteriza os seguintes 1 — Dominio des chapadves tropicals, com auas estagées, recobertos de cerrados e pene- trados por florestas galerias. 128 2.— Dominio das regiées serranas, tropi- eais timidas, ou de “mares de morros” exten- sivamente florestados. 3 — Dominio das depressées intermonta- nas semi-aridas, pontilhadas de insetbergs, do- tadas de drenagem intermitente, e recobertas por caatingas extensivas. 4 — Dominio de planaltos subtropicais re- abertes por araucariss ¢ pradarias de alti- e 5 — Dominio das coxilhas subtropicais uruguaio-sul-riograndenses, recobertas por pradarias mistas 6 — Dominio das terras baixas equatoriais, cobertas de florestas da Amaz6nia brasileira. Esses dominios sio bem caracterizados nas Areas core. Na. periferia de cada area, nas fai: xas de transigSo, os dominios se interpenetram, criandé mosaleos complexos resultantes de duas ou mesmo trés areas de contato — 0 dominio dos chapadses tropicais, bem definido no Brasil central, earacteriza-se por extensos aplainamentos correspondentes a duas ou mais fases de pediplanacao, com re- Jevos residuais Gnselberg). Os planaltos s40 mantidos por coneregées ferruginosas “can- gas” provavelmente tercidrias. Essas carapagas fs vezes expostas & superficie, outras vezes situadas abaixo de coliivios e solos, sugerem que 2 dtea tem estado sob condicdes de sava- ha com ligeiras oscilacées para mais ou me- nos seco, do final do Terciério até a época atual. Os processos de intemperismo fisico- quimieo se alternam, mas as vertentes sic submetidas aos processes agressivos de des- nudagdo em ravinas ou em lengol de ‘gua, de- vido & natureza dos solos com horizonte B conerecionirio e a0 tipo de vegetacio. — 0 dominio da floresta higréfila cor respondente ao do mar de morros do Brasil atlantico de leste e sudeste. A morfogénese & caracterizada pela preponderancia de pro- cessos quimicos, lentos movimentos de massa © escoamento difuso. As alteragdes possantes dio origem a mantos espessos de argilas la teriticas amarelas e vermelhas. A drenagem perene e¢ hierarquizada e a rhamelonizacio do Televo caracterizam bem o dominio — Nas regiées semi-dridas do sertdo nor- destino 0 solo raso © pedregoso ¢ a vegetagao aberta favorecem a acao da lavagem superfi- cial pelo escoamento em lencol que elabora ex— tensos pedimentos dominados por inselbergs. A drenagem é intermitente os planaltes arenitico-basditicos do Brasil meridional, revestidos de araucirias sao © dominio de extensos interfhivios tabulifor- mes de vertentes suayemente convexas. A de- composi¢do quimics, é intensa, decorréncia das condigées climatieas, e as vertentes so sub- metidas a processos lentos de evolugio. — Nas pradarias sul-rio-grandenses 0 pe- riedo seco nao favorece o intemperisme qi mico ativo das rochas. Os processos. de mo’ mentagio de massa Tapidos respondem pela eoluviaedo das encostas: © relevo se caracteriza por ondulagdes muito suaves, contornando areas baixas reco- hertas de aluvides finas onde aflora o lencol de gua. origem dos banhados. — As terras baizas de fiorestas da Ama- z6nia caracterizam-se por planicies de inun- dagdo labirinticas, tabuleiros extensos de ver- tentes semimamelonizadas e morros baixos convexos nas areas ctistalinas; terracos de cascalho e laterita;drenagem densa ¢ perene; solos profundos, laterizados ou podzolizados, Processos Jentos de evolucio das vertentes, orém menos lentos do que a escavagio dos vales Na Amazonia a drea core morfoclimdtica coincide, em grande parte, com areas sedimen- tares pouco elevadas e sujeltas 4 eomparti- mentagéo pouco pronunciada Esses dominios morfoclimaticos, com al- gumas excegoes, englobam zonas de escudo cristalino e de bacias sedimentares. No con- junto, processes ¢ formas semelhantes coin- cidem com cada grande dominio, independen- do das influéncias estruturais. No detalhe, a estrutura e 2 litologia permitem diferenciagao de subdominios ¢ menores unidades dentro de cada grande dominio morfoclimatico no Brasil. BIBLIOGRAFIA AB'SABER, A. N. — “O dominio morfoclimatico amazénico” — Geomorfologia 1 — USP — IG — Sao Paulo — 1966, 1G — Sao Paulo, 1968, = “O dominio dos mares de morros” — Geomorfologia 2 — USP — ————. — “Provineias geolégicas ¢ dominios miorfoclimaticos ne Brasil” — Geomorjologia 20 — USP — IG — Sao Paulo, 1970. ARCHAMBAULT, M. — “Essai sur génese des glacis d’érosion dans le sud-est de Ja France’ ‘Mémoires et Documents. Année 1966. Nouvelle Série — Vol. 2 — pp, 99-141 CNRS — Paris, 1967. AZEVEDO, A. — “Regides climato-boténicas do Brasil — Boletim Paulista de Geografie, n° 6 — Outubro de 1950 — pp. 32-49. Sio Paulo, 1950. ¢ BIGARELLA, J. J, MOUSINHO, M. R., SILVA, J. 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