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a ot ae MAVATel ce) an A . Turner O PROCESSO RITUAL ESTRUTURA E ANTIESTRUTURA ISBN 978-85-326-4545-6 eceriménias 4, Rituais 1. Titulo. I, Série. 13-02196 1. Ritos ¢ ceriménias : Retigiio comparada 291.38 Victor W. Turner O processo ritual Estrutura ¢ antiestrutura Tradugao de Nancy Campi de Castro € Ricardo A. Rosenbusch ope ee NS re MLS y EDITORA VOZES Petropolis © 1969 by Victor WT renovada em 1997 por Edith Turner, ‘Tero 1 inglesa publicada pela Es icho ¢ uma tradugho aurorizada da rams : sey 08854. Todos os Transaction Publishers, 35 Berruc Circle, dirci Edirora ida, Rua Frei L 25689-900 Petrépolis, RJ Internet: heep://www.vozes.com.br Brasil Todos os direitos reservados, Nenhuma parte desta obra poderd ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma ¢/ou quaisquer meios (eletrdnico ou mecanica, incluindo forocdpia ¢ gravagio) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissao escrita da editora, Diretor editorial Frei Antonio Moser Editores Aline dos Santos Carneiro: José Maria da Silva Lidio Peretti ISBN 978-85-326-4545-6 (edicao brasileira) ISBN 978-0-202-01 190-5 (edicgo norte-americana) [Biante a a | Este livro foi composto ¢ impeesso pela Editora Vores Leda. Prefiécio a edigéo de bolso da Editora Aldine, 7 Roger 1. Abrahams Profiicia a edigaa brasileira de 1974, 13 Victor W. Turner Prefitcio, Alfred Harris Prélogo, 17 Victor W. Turner 1 Planos de classificagao em um ritual da vida e da morte, 19 2. Os paradoxos da gemelaridade no ritual ndembu, 55 3 Liminaridade ¢ communitas, 97 4 Communitas: modelo € processo, 127 5 Humildade ¢ hierarquia: a liminaridade de elevagdo ¢ de reversio de status, 155 Referéncias, 187 Indice onomdstica ¢ analitico, 191 a a PASS eB IY PR EAS Ea aac a forgada pelas priprias porenci 8 Me A aMmen do ritual que é wm _ meio de colocar da desondem, inerentes 4 const 10 do homen, a estrutura sio colocadas numa correta relagio rela sucessio de simbolos, que t6m as tungdes Kemelares de rr % ic. 3 Liminaridade e communitas Forma ¢ atributos dos ritos de passagem ¢ capitulo retomo um tema que j4 discuti resumidamente cm outra (TURNER, 1967: 93-111); observo algumas de sutas variagies, € passo a siderar-lhe as ulteriores implicagies para « fo da cultura ¢ da sociedade, Este tema ¢, cm primciro lugar, representado pela natureza ¢ carac- teristicas do que Arnold van Gennep (1960) chamou “fase liminar” dos rites de passage. © proprio Van nep definiu os rites de passage como “ritos que acompanh toda nudanga de lugar, estado, posigio social de idade”. Para indicar © contraste entre “estado” ¢ “transigéo”, emprego “estado”, incluindo todas os seus outros termos. £ um conceito mais amplo do que status ou “fun- gio”, ¢ refere-se a qualquer tipo de condigio estavel ou recorrente, cultural- mente reconhecida. Van Gennep mostrou que todos os ritos de passagem ou de “transi¢ao” caracterizam-se por trés fases: separagio, margem (ou Limen, signi- ficando “limiar” em latim) ¢ agregagao. A primeira fase (de separagio) abrange © comportamento simbdlico que significa o afastamento do individue ou de um grupo, quer de um ponte fixe anterior na estrutura social, quer de um conjunto de condigdes culturais (um “estado”), ou ainda de ambos. Durante 9 periodo “limiar” intermédio, as caracteristicas do sujcito ritual (0 “transitan- 'e”) sio ambiguas; passam através de um dominio cultural que tem poucos, ou quase nenhum, dos atribucos do passado ou do estado futuro. Na terceira fase (eagregacio ou reincorporagio) consuma-se a passagem. O sujeito ritual, s¢ja cle individual ou coletivo, permanece num estado relativamente or mais Lima vez, ¢¢m virtude dista tem direitos ¢ obrigagoes perante os ourn’s <8 UP Tamente definido ¢ “estrutural”, esperando-se que se 6oF porte ombud SOM certas normas costumeiras ¢ padrOes éticos, que vineulam 0s d aoe ‘ ae “Uma posicao social, mum sistema de tais posigdes. 97 Liminavidade Os atributos de liminaridade, ou de personae (pessoas) riamente ambiguos, uma vez que esta cond i capam a rede de classificagées que normalmente determinam tados ¢ pasigdes num espago cultural. As entidades Nares nao se nem ld; estio no meio € entre as posigdes atribuidas ¢ ordenadas ane aqui costumes, convengées ¢ cerimonial. Seus atributos ambiguos ¢ ae ar los exprimem-s¢ por uma rica variedade de simbolos, naquelas varias so ster Nadog, ritualizam as transig6es sociais ¢ culturais. Assim, a liminaridade fren ue €comparada 4 morte, ao estar no titero, a invisibilidade, a escuridg WMentemente lidade, 4s regides selvagens e a um eclipse do sol ou da lua. 40, bissery, As entidades liminares, como os ne6fitos nos ritos de iniciagdo ou d dade, podem ser representadas como se nada possuissem. Podem ost . ey gadas de monstros, usar apenas uma tira de pano como vestimenta s at disfar. simplesmente nuas para demonstrar que, como seres liminares ae. parecer sane, propriedade, insignias, roupa mundana indicativa de classe on a yaa posicdo em um sistema de parentesco, em suma, nada que as possa distn ard seus colegas ne6fitos ou em proceso de iniciagio, Seu compo! ae malmente passivo ¢ humilde. Devem, implicitamente, obedecer aos iat oes a oe queixa, punigGes arbitrarias. E como se fossem reduzidas ou on pues pale condigao uniforme, para serem modeladas de novo ¢ dotadas de neéfitos emda re cy a enfrentar sua nova situagio de vida. Os distingGes seculares de clase rnoHiees eee comaradagem eaeualiarionoi ss condicéo da paci © posigto desaparecem ou sto homogeneizadas. A i Paciente ¢ de seu marido no Isoma tinha alguns desses atributos — S eae mules nudez quase completa — num ambiente simbdlico que tango pérfods de sega uma sepultura ¢ um titero. Nas iniciagdes com wrilsis ou wterizadsen ac 4 : ae 08 ritos de circuncisdo de muitas sociedades radio de ai 1m sociedades secretas, hd frequentemente uma rica prolife- 'agao de simbolos liminares. Communitas ° que existe de interessante com relacio aos fendmen meee my ee rates atuais é que eles oferecem um “momento iatearcires comaredegem Assistimos, em tais ritos, 4 profana que revel, " ba nero ¢ fora do tempo”, dentro ¢ fora da -estrutu social Guards nin a ea ara eferneramente, certo reconhecimento ra 7 a Kinguagem) de um vinculo sucial gen, (no simbolo, de existi istir, ¢ contudo simultancamente tem de ser frgmena que deixou ‘cm uma multipli- 08 liminares no que diz uma mistura de submis: 98 q. POsIGOeS seBMentares, has sociedades onde ndo estimada pelos antropologos politicos. E como se houvesse 6 de correlacionamento humane, justapostos ates, © primeiro ¢0 da sociedade tomada como um sistema estruturado, jo ¢ frequentemente hierdrquico de posiges politico-juridico-econd- fos HIPOs de avaliagao, separando os homens de acordo com as ou de “menos”, O segundo, que surge de mancira evidente iedade considerada como um comitatus nao es- mais” minar, € 0 da u rudimentarmente estruturado ¢ relativamente indiferenciado, uma ‘ou mesmo comunhio, de individuos iguais que se submetem cm oridade geral dos ancidos rituais. Prefiro a palavra latina communitas a comunidade para que se possa distinguir esta modalidade de relacio social de “area de vida em comum”. A distingdo entre ae communitas nao € apenas a distingao familiar entre “mundano” ¢ “sa ou a existente, por exemplo, entre politica ¢ religido. Certos cargos fixos dades tribais tém muitos atributos sagrados; na realidade toda posi¢ao cteristicas sagradas. Porém este componente “sagrado” € ios das posigoes durante os rites de passage, gragas 408 quais mudam de posigao. Algo da sacralidade da transitéria humildade causéncia de modelo toma a dianteira ¢ modera 0 orgulho do individuo incumbido de uma posigio ou cargo mais alto. Como Fortes (1962; 86) demonstrou de maneira incente, nao s¢ trata simplesmente de dar um cunho geral de legitimidade as posigdes estruturais de uma sociedade. E antes uma questio de A um lago humano essencial € generico, sem o qual sao poderia tes oe ade ‘ liminaridade implica que © alto nao poderia ser alto sem ge? ma ~ rae quem esta no alto deve experimentar 0 que significa ia fe ia z con um pensamento deste tipo esteve na base da decisio 2 icp a sh er anos atras, de mandar 0 filho, 0 herdeiro presuntve do trono " . 1A te escola no meio da floresta na Austrilia, Por determinado tempo, 9 pudesse aprender a “Jevar uma vida dura”. conjunto a autc estrumuré grado”, nas SOCICS social tem algurnias cara adquirido pelos bencficiari A dlialética do ciclo de desenvolvimento 7 ivi ys, a vida social . ‘9s individuos 04 para. 05 BFUPOS: Det iso con ng ne nn um tipo de processo dialético 2 tort ogencidade ¢ diferenciagao, igua pe e baixo, de commusmitas © estrutul * sng mais baixa para outra mais alta é Be desigualdade. ‘ re eas de status, Bm tal proceso, 0S OPOStOS PO atray m fim! vés de w eps a0 oo 40 mruamenteindepensi' Ain- eas i as, re dizer ane ocke de tribal é compost de multiplas pessoas, grupos mais, como qualq! cada uma das quais fem ec categorias, tend FY determinado f A liminaridade de um rito de investidura rite de passage dos ndembus de Zimbj, se refere 4 mais alta posigio soci; aque o para desenvolver SCUS simbg A posigaio de chefe mais velho ou supremo entre os dem, edades africanas, ¢ paradoxal, pois cle Fepresenta o-legal estruturada ¢ a comunidad também, simbolic Um exemplo sumsrio de um citado com bo, a do chefe mais ve conhecimentos sobre rituais ¢ 08 explicam. 4 ‘bus, como em muitas outras soctecac i ao mesmo tempo 0 dpice da hierarquia polit total, enquanto unidade nao estruturada. E ente, 0 Prdpria territorio tribal ¢ todos os seus recursos. A fecundidade ¢ a condigao de pig sofrer seca, fome, doenca e pragas de insetos estdo ligadas 40 SCU cargo ¢ a seu estado moral, Entre os ndembus os poderes rituais do chefe mais anti: go eram limitados, combinando-se com cles pelos poderes possuidos pelo chee mais velho de tribo do povo autdéctone mbwela, que s6 foi submetido depois de longa luta com os conquistadores lundas, conduzida pelo primeiro Kanongesha, chefe chamado Kafwana, dos humbos, um ramo dos ndembus, foi investido de um importante direito, Era 0 direito de conferir, impregnando-o periodica- mente de substancias medicinais, 0 simbolo supremo da posigio de chefia entre 4s tribos de origem lunda, o bracelete Jukani, feito com Os Grgios genitais e ten- décs humanos embebidos no sangue sacrifical de escravos ¢ escravas, em cada in- vestidura. O titulo ritual do Kafwana era Chivwikankanu, “aquele que se veste ou se cobre com o Iukanu”, Possuia também o titulo de Mama yakanongesta, “mit de Kanongesha”, porque simbolicamente dava nascimento a cada novo ocupante daquele cargo. Dizia-se que o Kafwana ensinava a cada novo Kanongesha os remédios da feitigaria, que faziam ser temido por seus rivais ¢ subordinados, talvez um indicio de fraca centralizagio politica. __ Olakans, primitivamente conferido pelo chefe de todos os lundas, @ Mwan- fiyanvwa, que governava em Katanga, muitas milhas ao norte, era ritualmen tole © oeulto por ke durante os interregnos. ° ales Mem me Lapras da condigao de Kanongesha vinha ET as z fonte ritual. © em ners quem emanaya o poder politico, ¢ do ane iit cuceacena a le em beneficio da terra ¢ do povo estava nas 1 ae simbolizava a Unidadk cee hefia. A origem no Mwaney hist6rica do poo ndembu e sua diferenciagio polite 100 > “proprictirio” 8 didtias feitas a cle ce, a satide vigor + € do pove — isavam a fertil animais € recursos vepetais, Mas 0 dkaau tinha um aspecto negat para amaldi dos €M resumo, tiV0, ode poder ser usado Nocava a terra com ele Pessoa ou 0 grupo amaldicoado © sua caga desaparecia, No fickanu uniam no conceito coletive da terra ¢ da Se © Kanongesha varse que a Na relagio entre os lundas ¢ os mbwelas, ¢ entre o Kanoi és z ngesha © 0 Kafwan: Gao comuM na Africa entre o pove : encontramos uma di of D politica ow militar- mente forte ¢ 0 Povo autdctone subjugado, entretanto, ritualmente potente. fo- wan Lewis (1963) definiu esses inferiores estrururais como tendo “p poder ou os poderes do fraco” (p. 111). Um exemplo bastante conhecido na literatura encon- mse no relato de Meyer Fortes sobre os tallensis do norte de Gana, onde a che- gada dos namoos trouxc a chefia ¢ um culto ancestral alramente. ‘desenvolvido para os autdctones tales, que, por sua vez, julga-se terem importantes poderes rituais reativos 4 terra ¢ as cavernas. No grande festival Golib, realizado anualmente, a uniio dos poderes de chefia ¢ de sacerdécio ¢ simbolizada pelo casamento mistico entre o chefe de Tongo, lider dos namoos, ¢ 6 sumo sacerdote da terra, 0 Golib- daana, dos tales, retratados, respectivamente, como “marido” ¢ “mulher”. Entre os ndembus, Kafwana ¢ também considerado, como vimos, simbolicamente fe- minino em rela¢ao ao Kanongesha. Poderia multiplicar os exemplos deste tipo de dicotomia, retirados apenas de fontes africanas, ¢ seu ambito abrange 0 mundo inteiro. O ponto que gostaria de acentuar aqui € a existéncia de certa homologia entre a “fraqueza” ¢ a “passividade” da liminaridade nas transigdes diacrénicas entre uma Posi¢ao social ¢ outra, ¢ a rioridade “estrucural” ou sincrénica de certas pessoas, grupos ¢ Categorias sociais nos sistemas politicos, legais € econdmi- “as. As condigdes “liminares” ¢ “inferiores” estio frequentemente associadas aos Poderes rituais ¢ 4 comunidade inteira, considerada como indiferenciada Voltemos aos ritos de investidura do Kanongesha dos ndembus. O compo- neate liminar de tais ritos comega com a construgio de um pequeno abrigo de folhas, distante mais ou menos um quilémetro ¢ meio da aldcia principal. Esta ‘abana €conhecida por kafie ou kafivi, termo ndembu derivado de kus-fira, “mor- ne Porque € ai que o chefe eleito morre para o seu estado de — ak imagens da morte proliferam na liminaridade dos ndembus. oe ee ee € sagrado onde os novigos sio circuncisades ¢ conhect vestido “Pena Afi, termo também derivado de tucfin © ee ou sua Com um pano esfarrapado na cintura ¢ uma espasa TRS, q 1or her escrava esp mais idosa (mwadyi) ou UTA mull ' ym o bracelete real Inkanu (cm conform! idade Kafwana a entrar do ot cados mancira, sia convec por do sol. Diga-se de ee qu mywadyi ou linker on 14.00 mulher se sentam agacl invalidos. L4, 0 homem € i de vergonha (nsonyi) oF ic : rados com 4gua trarida do Karukang trais. da diaspora Junda meridional habitaram durante a iniciada na capital Mwantiyanvway antes de s¢ separarem para cc para si. A madeira para 0 fogo nio deve ser cortada com macha ser encontrada caida no-solo. Isto significa que ¢ produto da terrs Uma vez mais vemos a. conexao do carater ancestral de pertencer recato, enquanto sao lavados 05 paderes ctbnicos. Em seguida comega 0 rito de Kumukindyila, que quer dizer literalmente “fj, lavas mAs ou insultantes contra cle”. Podemos denominar este ri lar pal “) Insulto ao Chefe Eleito”. Comega quando o Kafwana faz um corte n inferior do brago esquerde lo chefe — no qual o bracelete lukeante serd cole: no dia seguinte ~, espreme um remédio na inciséo ¢ aperta uma es parte superior do brago. O chefe ¢ sua mulher sa0, entao, forgados rudemente 3 se sentarem fa esteira. A mulher nao deve estar gravida, poi seguem sio considerados destruidores da fecundidade. Além do mi rano deve ter-se abstido de relagées sexuais por varios dias antes dos ritos. O Kafwana comega a fazer uma homilia, transcrita a scg) Silencio! Tu és um tole egotsta e desprezi Nao amas tcus companhciros, sé te zangas ¢ ra € tudo 0 que tens! No entanto, chamam deves ser o sucessor na chefia. Poe de lado a mesqui a célera, renuncia as rclagées adtilteras, renuncia a elas imediatameste! Nos te outorgamos a chefia. Deves comer junto com t companltei ros, deves viver bem com cles, Nao prepares remédios de fim de poderes destruir teus companheiros nas cabanas deles ~ 80 © proibido! Desejamos que tu ¢ 56 tu sejas nosso chefe. Que tus nuit Prepare alimento para as pessoas que vém aqui, a aldeia p sejas egoista, nao conserves a chefia somente para ti! Deves ie com 0 povo, deves abster-te de praticar feitigaria, se porve”’ realizaste! Nio deveris matar gente! Nao deves deixar de set gene Para com 0 povo! Mas Kai f “| de eae Chifwanakenu [“filho que se parece com? pail listo é porque ra nda Para obter a chefia porque teu predecessor more conheter 0 powo,& Chit, Mas hoje tu nasceste como um novo chefe- eS fwvanakenu, Se eras mesquinho, ¢ costumavas comer de ter mau génio! les! Baixeza c ladroei te aqui ¢ te dizemos que 2, poe de lado $02 chefe! Deves BaMentos parciais cm ne. Fe 9 teus préspr Depd de toda esta arcnga, qualquer pessiva que pasado, estd autorizada a ingul ee © a cxpressar plenamente desejar. O chefe eleites, duran rem modo 1 sultuoso. Muit informantes me disseram que “um chefe é com Omg um scravo (adung’a) na noite antes de subir a6 trone”, ica pruibide de dey parte come ordalio, em parte porque se acredita que se cle cochilar terd rm a hos com as sombras dos chefes mortos, “quem diré que nav tem razau em suc : der a cles, pois cle nao os matou2” O Kafwana, seus assistentes, ¢ outros ie importantes, como os chefes da aldeia maleratam o chefe ¢ sua mulher ~ que é igualmente ultada — ¢ Ihes ordenam que apanhem lenha ¢ realizem outras tarefas servis. O chefe nao pode ofender-se com isto ou reter a lembranga do que he fizeram ¢ usd-la no futuro contra os que praticaram tais agies, Os atributos das entidades liminares A fase de reagregagao, neste caso, compreende a investidura publica do Ka- nongesha com toda a pompa ¢ cerimédnia. Apesar deste ato ter 0 mdximo inte- fesse para o estudo da chefia dos ndembus ¢ para uma importante rendéncia da antropologia social britanica da atualidade, nao nos ocuparemos aqui do assunto. Nossa atengao prende-se agora 4 questao da liminaridade ¢ dos poderes rituais dos fracos. Estes aparecem sob dois aspectos. Primeiramente, 0 Kafwwana ¢ as outras Péssoas comuns do povo ndembu revelam-se privilegiados 20 exercer autoridade Sobre @ imagem da suprema figura da tribo. Na liminaridade o subordinado tora: 0 predominante. Em segundo lugar, a suprema autoridade politica é retratada ‘omo um escravo”, lembrando 0 aspecto da coroagao do papa na cristandade oci- dental em que ele é chamado servus servorum Det. Sem duvide, uma parte pene Xm aguilo que Monica Wilson (1957: 46-87) chamoo "uma fansio profit shefe precisa exercer o autocontrole nos ritos para ser capaz de autodominio ‘ers, diante das tentagdes do poder. Mas 0 papel de chefe humilhado ¢ a = xemplo extremo de um tema repetido das situagdes lininares. Bac tena "Eo despojamento dos atributos pré-liminares ¢ possiminste 103 principals ingredientes dos rites: ra, com Vejamos ther vestent-x6 Ut He im di mesma ma mesmo nome: mad; jon rites agora examinades, mas tambéi hmetcrese a ima autoridade que comunidad & a depositéria da gama comp! tirades, sentiments ¢ rclag Nas sociedades il sabcdoria. A sabedoria tr num aglomerade de palavras € de set ser do nedfito. E por isto que, nos rites Chisenan, dos por Audrey Richards (1956), as mulheres mai “eresce ¢ se toro mulher"; cresceu em virtude verbais que recebeu mediante of preveitos ¢ os simbolos, especialmente pela velagdo, que the ¢ feita, dos. sacra tribais em forma de imagens de barro. O nedfitu na liminaridade deve ser uma tabula rasa, uma lousa em brance, hha qual se inscreve © conhecimento ¢ a sabedoria do grupo, nas aspectos per tinentes 40 novo status. Os ordilios ¢ humilhaghes, com frequéncia de carater grusseiramente fisiokigicn, a que as nedfitos sio submetidos, representam «™ Parte a destruicio de uma condicio anterior ¢, em parte, a rémpcra da esséncia eles, a fim de prepari-los para enfrentar as novas responsabilidades ¢ refred-> «de antemio, para ndu abusarem de seus novos privilégios. E. preciso mostrar thes S Lies ne barro ou pé, simples matéria, cuja forma thes ¢ impress? Ouato tema lina, exemplificade nos ritos de investidura dos ndembus¢? Peachicah “Seal um ena cifrada no ial ndembu. De farv, 0 ee Usualnente uma marca cerimonial de retorno 4 5° 104 Im trace de certes tipus de com- a jade da dade das relagies sextiaie cna ausdncia de a para se procurar apreender 0 aridade, sertamente se lembrard de que cle repre- or seu cgofemo, me i = tas ages. A estrutura ¢ ow altos cargos provides rados com meios para o bem-estar piiblice, € ndecimento pessoal. © chefe nio deve “conservar a chefia $6 para si”. Deve 9 COMO powo, CO riso (ku-stha) € para os ndem- bus uma qualidade “branca”, participando da definigio da “brancura” ou das “coisas brancas”. A brancura representa a teia inconsttil de conexdo, que deverd idcalmente incluir ao mesmo tempo os vivos ¢ 0s mortos, £ a relagio cena entre as pessoas apenas enquanto seres humanos, ¢ seus frutus sdo a sade, o vigur, € «as outros bens. © riso “branco”, por exemplo, que é visivelmente manifestado pelo brilho dos dentes, representa camaradagem ¢ companhia agradivel, E 0 reverse: do orgulho (winyi), da inveja, da cobiga, ¢ dos rancores secretos que dio em resultado comportamentos de feitigaria (wulaji), roubo (swkombi), adulee- fio (tushindana), baixeza (chifwa) homicidio (wubanji). Mesmo quando um homem tenha se tornado chefe, continua sendo ainda membro da comunidade inttira das pessoas (ame), ¢ demonstra isso “rindo junto com elas”, respeitando- thes 0s dircitos, “saudando amavelmente a codos”, ¢ partilhando do aimento Som elas. A fungdo purificadora exercida pela liminaridade néo estd confinada ‘ss€ tipo de iniciagdo, mas forma um componente de muitos outros Upes, cm viras culturas, Um exemplo bastante canhecido é 0 da vigiia medieval, feita Pelo cavaleiro durante a noite que precede a sua investidura, quando promete mpenhar-se em scrvir a0s fracos ¢ aflitos ¢ a medicar em sua propria indignida- de. Acredita-se que o poder subsequente que possi deriva parialmenre desta Profunda imersiio na humildade. ae A pedagogia da liminaridade, portanto, representa a condenayao &° ©28 Pécs de separacia do vinculo comum da communisas. A primeira cspésie 105 nte de acordo com 0S direitos conferidos ao individug siste em agir some ‘estrutura social. A segunda consiste em i 05 ing Pel exercicio do ae ei ‘duo 2 custa de seus companhciros. Atribui-se un Pi a bondade humana em muitos tipos de liminanaa” nsigdo relaciona-se estreitam es, iri em varias a wee punitivos de scres e poténcias divinas = . Parganas quando 0 chefe elcito ndembu sai da re 1S, tn = bchefes - que desempenha um papel sacerdotal nos ritos de investidurg on wi uma cerca ritual em redor da nova morada do ches € reza da seguinte ns neira, dirigindo-se as sombras dos antigos chefes, diante do povo que se read niles we ose pi O Kanongesha nasceu para a chefia hoje, Ey, argila branca (mpemba), com a qual o chefe, os sactérios dos ances cos oficiantes serio ungidos significa para vds todos os antigos Kanon geshas, reunidos aqui. [Neste ponto 0s antigos chefes s30 mencionady pelo nome] Portano, codes wis que morrestes, olhai para vosso amg, ue vos sucedeu [no banco da chefia), para que ele possa ser fore Fe deve continuar a orar a vés. Deve tomar conta das criangas, cuidar de todo.o povo, homens ¢ mulheres, para que sejam fortes e para que ee priprio seja vigoroso. Eis aqui a argila branca. Eu vos entronie,¢ chefe. Que o povo lance sons de louvor. Surgiu a chefia. Os poderes que modelam os ne6fitos na liminaridade para a entrada em uma nova “condigio”, nos ritos em todas as partes do mundo, sao considerados pode- yes sobre-humanos, embora sejam invocadas ¢ canalizados pelos representantes da comunidade. A liminaridade confrontada com o sistema de posig6es sociais Expressemos, agora, 3 maneira de Lévi-Strauss, a diferenga entre 4s proprie dades da liminaridade ¢ as do sistema de posigGes saciais, em termos de uma série de oposigées ou discriminagées bindrias. Estas podem ser ordenadas do mode seguinte: ‘Transigio/estado- Totalidade/parcialidade Homogeneidade/heterogeneidade G ; Igualdade/desigualdade prickles de nomenclatura inca riedade/propris Ausénicia eeeupiong een Nusdez ou uniformidade de vestudrieyvariedade de vestudrio 106 “5 S€Xuais/; i V/Alta importincia das distingées dado com a aparé d 4 aparénca pessoal nges de riguesa ncia total/obediéncia apenas a classe suy dade/secularidade = Suspensio dos dircitos ¢ obrigacées de : Parentesco/a 6 direitos de parentesco Vobrigagdes c Referéncia continua 40s poderes mistias/referéncia inermitente sos poderes Simplicidade/complexidade Aceitagio de dores ¢ sofrimentos/evitacio de dores ¢ sofrimentos Heteronomia/graus de autonomia Fsta lista poderia ser consideravelmente aumentada se amplidssemos a exten- so das situagées liminares consideradas. Ainda, os simbolos em que essas pro- priedades se manifestam ¢ Corporificam sao varios € miltiplos, ¢ frequentemente se relacionam com os proccssos fisiolégicos de morte ¢ de nascimento, de anabo- lismo e de catabolismo. O leitor tera notado, de imediato, que muitas dessas pro- peiedades constituem aquilo que julgamos serem caracteristicas da vida ccligiosa na tradigao crista. Indubitavelmente, também os mugulmanos, os budistas, os hindus ¢ os judeus enumerariam muitas delas entre as suas caracteristicas religio- sas, O que parece ter acontecido é que, com o incremento da especializaga0 da sociedade ¢ da cultura, com a progressiva.complexidade na divisio social do traba- tho, aquilo que era na sociedade tribal principalmente um conjunto de qualidades tansitérias “entre” estados definidos da cultura e da sociedade, transformou-se lizado. Mas tragos da qualidade de pasiage da vida religio- 52 permanecem em varias formulagdes, tais como: “O cristio é um ¢stranho no mundo, um peregrino, um viajante, scm nerbum lugar para descansar a eabega”, A tansi¢ao tomou-se, neste caso, numa condigio permanente. Em parte alguma sta institucionalizagio da liminaridade foi mais claramente marcada ¢ definida do que nos estados monéstico ¢ mendicante, nas grandes religiOes sonnel Por exemplo, a regra cristi ocidental de Sie Bento “prové a subssténcia de homens que desejam viver em comunidade ¢ devorar-se inteiramente a0 oe te Deus pela antadiiplina, a oragio ¢ 0 tabi. Dever formar esene tT fits, sob os euidados € 0 controle nbsouta de um pai (0 aba a a Mente, sic obrigados & pobreaa pessoal, abstenpaio do easamen © 107 ores, bem como pelos V : riamente sindnimo de ‘vida em comm’, ‘a vida monds| on Jar]; um grau moderado de austeridade € imposto pelo ¢ secu 5 ee i um, pela abstinéncia de carne ¢ vestrigdo na conversa” ( 0 jejum, : 5] — arifos meus). Acentuci os tragos q) vc ‘ a0 para Os ritos pu 4 Com condigio do chefe eleito durante a transigao para Os ritos priblicos de fon ; i Zz. posse, quando inicia seu reinado. Os ritos de circuncisao dos ndembus (Ons : o apresentam novos paralelos entre 08 nedfitos ¢ os monges beneditinos ~ \ Goftiman (Andums, 1962) estuda aquilo que chama “caracteristica oe : totais”, Entre essas inclui os mosteiros, devorando grande atensio “aoy Procesey de despojamento € de nivelamento que [...} direramente atravessam as viriag dis. tingdes sociais com que os recrutas chegam”, Em seguida, cita um conselhy de Sio Bento ao abade: “Que ele nio faga distingao de pessoas no mosteire, Que uma nio seja mais amada que outra, a menos que se distinga em boas obras ¢ em obediéncia, Que o individuo de origem nobre nio seja elevado acima do que era antes um escravo, excero se intervier alguma outra causa justa” (p. 119), Neste ponto, os paralelos com o Mukanda sio surpreendentes. Os Novigos sio “despojadas” das roupas seculares quando passam através de um portio sim. bélico; so “nivelados” pelo fato de abandonarem seus antigos nomes, dando-se a todos a designacdo comum de mwadyt, ou “novigo”, ¢ tratados da mesma ma- neira. Um dos cantos entoados pelos circuncisores dirigindo-se as mies dos novi- gos na noite antes da circuncisao contém a seguinte frase: “Mesmo que seu filho seja o filho de um chefe, amanhi cle serd igual a um escravo”, exatamente como um chefe eleito € tratado como escravo antes da sua investidura, Além do mais, na cabana de reclusio o instrutor mais idoso é escolhido em parte por ser pai de varios meninos submetidos aos ritos, porque se torna um pai para o grupo inteiro, uma espécie de “abade”, embora seu titulo Mfionwa tubwiku signifique literalmente “marido dos novigos”, para acentuar © papel passivo destes ultimos. O perigo mistico ¢ os poderes dos fracos __ Pore-se perguntar por que em quase toda parte sc atribucm as situagées ¢ P sie liminares propriedades mégico-religiosas, ou por que tio frequentemente Shier Perigosas, de mau agouro, ou contaminadoras para peso: conens limi Seimentos € relagdes que néo foram ritualmente incorporados 20 uid inca rie Minha Opinio, em resumo, é que, na perspectiva daqueles aos a communitas pias da “estrurura”, todas as manifestagoes continvadis ‘eveTm aparecer como am ser ro deadas por prescrigdes, proibica Perigosas ¢ andrquicas, € precisam 7 (1966), agquito que faa ngoes € condigdes, E, como afirmou Mary pe Pode, com clareza, ser classificado segundo os eritér (08 yoda parte Repito« gio is crengs pel iburos permat palavrass os atr' I gearus OW gio t invasores. Em outras soc des ~ a ndembu ¢ a lamba, de Zimbi por podemos indicar ‘es de ci radores eS, conseguiram acesso a paderes infortinio comum gerais da humanidade, o erapeucicos rel cidade ¢ 0 clims i tema politico secular, como linhagens, aldeias, subchefias ¢ chefias, Poderfamos também mencionar o papel de nagdes estruturalmente pequenas ¢ pol insignificantes dentro de sistemas de nagées como sustenticulos de valores reli- giosos ¢ morais, tais como Os hebreus no antigo Oriente Proximo, os irlandeses na primitiva cristandade medieval ¢ os suigos na Europa moderna Muitos escritores chamaram a atengio para o papel do bobo da corte. Max Gluckman (1965), por exemplo, escreve: “O babo da corte operava como arbitro privilegiado dos costumes, dada a permissao que tinha de zombar de reis ¢ cor- tesios, ou do senhor do solar”, Os bobos da corte cram “comumente homens da classe baixa — algumas vezes no Continente Europeu cram sacerdotes = que cla- ramente saiam do seu estado habitual [...]. Em um sistema onde era dificil para outros censurar o chefe de uma unidade politica, podfamos ter aqui um trocista institucionalizado, atuando no ponto mais alto da unidade [...] um galhofeiro capaz de expressar os sentimentos da moralidade ofendida”. Menciona ainda que os bobos da corte ligados a muitos monarcas africans eram “frequentemente: andes ¢ outros individuos estranhos”. Semelhantes a esses pela fungao eram os tamborileiros da barcaga real dos barotses, na qual 0 rei ¢ sua corte sc deslocavam dea capital na planicie aluvial do Rio Zambezi para uma das margens durante a cheias anuais. Eles tinham o privilégio de atirar na dgua qualquer dos gran- des nobres “que tivesse ofendido a eles ¢ a seu sentido de justiga oats = anterior” (p, 102-104). Estas figuras, representando os pobres ¢ os del eee simbolizam os valores morais da communitas contrapondo-s¢ 20 poder coc! dos dirigentes politicos supremos. A literarura popular € rica em figuras si %", “terceiro fillio”, “pequemas alfaiates” € “simplorios". qe mbilicas, como os “mendigos s2n- arrancam as pre- 109 =e As C CATZOS clevados © reduzenenos ao, —shcanicl renedies dos derenrores ade catege tals CONTUES humanidade ¢ dos mot rinse venis © MUAtel a ~ do-as “cheties™ profane membres de yrtpes étmicos © apeis tos MRICS s cgro tngitiv Fim, cm Huckleberry Finn, de Mark ¢ Sonya, a prostituta que redime 0 imagin . theten Raskolnikov, em Crime ¢ castyae de Dostoiews' “Todos esses tipos misticos so estrut obstante representem O que Henri Bergson ch opondo-se A“ idade fechada”, send mativo de grupos limitados, trururados, particularistas, Bergson como um grupo fechada preserva sua identidade contra os membros de grupos abertos, protege-se contm as ameagas a0 seu modo de vida, ¢ renova o desc] de manter as normas de que depende © comportamento rot sua vida social, Nas sociedades fechadas ou estruturadas, ¢ a pe: “inferior”, ou 0 “estranho” que frequentemente chega a simbolizar © que David Hume chamou “o sentimento com relagéo A humanidade”™, o qual por sua verse liga ao modelo que denominamos communitas, Os movimentos milenaristas Entre as mais extraordindrias manifestagGes da comnsnitas cncontram-se 06 movimentos religiosos, chamados milenaristas, que surgem no meio das massas que Norman Cohn (1961) denominou “massas desarraigadas ¢ desesperadas, Cidade ¢ no campo [...J vivendo 4 margem da sociedade” (p. 31-32) (isto & 42 sociedade estruturada), out onde sociedades anteriormente tribais si0 pastas soD e ari estranho ¢ absoluto de sociedades complexas ¢ industriais, Os at pur det movimentos desem ser bastante conhecidos dos letores. Somer mencionei pls snes das propriedades da liminaridade nos rituais tribais 4° os milenariseas: Niue: esses correspandem bem de perto aos dos movimer: de (muitos oti eainent igualdade, anonimia, auséncia de propel ‘qualquer propriedade que Imcnte ordenam aos seus membros a deseo do estado perfeito de lations ean ne mais proeimen 0 sei 2 30 fis ao iM Propriedade estdo ligados a distings que descjam, ee em uso de yestudnie lal. A conthunitas, da sociedade potencial « ralmente, 0 fmpeto logo se exau que sob varios aspectos sie “hom riuais em sociedades estdveis ¢ rotinciras, quando os mais importantes grupos iedades esto passando de um estado cultural para OUEFO, pela qual em tantos desses moviment que possucm é tomado de empréstimo dos mitos ¢ de passage, quer nas culturas em que se originam, quer nas culturas com as quais estao em contato dramati Os hippies, a communitas ¢ os poderes dos fracos Na moderna sociedade ocidental os valores da communitas cstio surpreci- dentemente presences na literatura ¢ ne comportamento de fendmeno que veio ser conhecido como a “geragio bear”, a que se sucederam 0s hippies, o8 quais, Por sua vez, tém uma jovem diviséo conhecida como o teeny-loppers. S40 os Membros “audaciosos” das categorias de adolescentes ¢ jovens adultos ~ que nao ‘em as vantagens dos rites de (passage nacionais — que “opraram” fugit da ordem *oxial ligada ao status ¢ adquiriram os estigmas dos mais humildes, vestindo-se cb ne eBtbndos”, ambulantes em seus habitos, “populares eset zi 28 ret ternos em qualquer ocupagao casual de que s¢ incumbam. Te ins 'AGGes. pessoais do que as obrigages socials, ¢ considera as aa Tumento polimérfico da communitas imediata, 0 invés de tomé-la po ti habitual de rermos p pelo uso us congeneres, € P 3 . ‘ nada € tudo” expressa bem 0 cardter nio Jabal primitivamente 4] ‘cado A communitas. A acentiagio dada 9 E tenes aq imediatismo ¢ 4 “existéncia” poe em releve um dos sent) i. tp ii 06 naw communitas contrasta COM # estrutura. A communitas pertence ag Mo. ‘aco atual; a estrutura est enraizada no passado ¢ se estende para 6 furury bel aa ager. es, Embora nosso interesse se centralize \guagem, a lei ¢ os costumes. Fm! sociedades pré industriais tradicionais, tornase claro que as di 2 communitas ¢ 4 estrutura devem encontrar ¢ com todos os estadi cultura ¢ da sociedade. ara definit Aids éum, um é nada, letivas, S € Niveis da ‘Acstrutura ¢ a communitas nas sociedades bascadas no parentesco J Os talensis Ha algumas ourras manifestagdes desta distingdo encontradas nas socicdades mais simples. Serio consideradas por mim nao como passages entre estadas, mas antes como estados bindrios opostos, que, sob certos aspectos, expressam a distingdo entre a sociedade considerada como estrurura de partes opostas hie- rérquica ou segmentariamente ¢ como totalidade homogénca. Em muitas socie- dades ¢ feita a distingdo terminolégica entre parentes do lado materno ¢ os do lado patcrno, sendo os iiltimos vistos como pessoas de espécie completamente diferente, F 0 que acontece especialmente com relagio ao irmao do pai ¢ ao de mic. Onde existe descendéncia unilinear, a propriedade ¢ a posigzio social passim ou de pai para filho ou do irmao- da mae para o filbo da irma. Em certas socied: des, ambas as linhas de descendéncia so usadas para fins de heranga. Mas mesmo neste caso os ripos de propriedade ¢ posigéa social que passam em cada [in st muito diferentes, Consideremos de vuma sociedade na qual existe descendéncia somente na linha paterna, O cxemplo € tirade mais uma vez do pove fal Gana, div qual temos grande quantidade dh Hmagoes, Nossa problema cone peel iach om ago bindria em um nivel estrutural dO un te apremime de peer : frioridade estrutural”, pademos encontrar alge . Brac quc, por sua vez, demenstrase est teow claramentte icine HE Wz nef inhagem a cHi. ‘Transportande apenas um atribute espiritual. pode enfiaquecer a solidariedade juridica e pe patrilinear (p. 32 — os grifos sto meus), Temos aqui a Oposigao patrilinear/matrilincar, que tem fungdes de de Jsubjaccate. O lago patrilinear relaciona-se com a propricdade, © cargo, a a, a exclusividade, podende ainda dizer-se s. E o vinculo “estrutural” por exceléne ante, O Iago uterino atrilateralidade representa, na dimensio do parentesco, a nogio de communites. Um exemplo, tomado dos talensis, do cariter “espinitual” ¢ “comunitinio” da matrilateralidade encontra-se nos ritos de consagragao do chamade bakaloga, ou do sacrério do adivinho. Por defi jo, este sactdrio, quem o diz é Fortes (1949), éSfeminino”: Isto &, 08 ancestrais relacionados com cle derivam, por definigio, de uma linhagem matrilincar do adivinho, ¢ a figura dominante entre eles uma mac”. O bakalaga [...] € a auténtica rivejoso das ancestrais. Perseguc 0 pravelmente, até que v homem afi- nal se submeta co “aceite, isto é, encarregue-se de montar um sacririo akologo em sua propria casa, a fim de com regularidade. fide homens, ¢ ni ape- excepcionais, € tevado pelo sistema iptimentos de culpa Para os esplritos | mat Poser aferecer-Ihes sact nas agucles que softeras infortiinios religiogo dos talensis a projetar seus mais (ntimon se -¢ de inseguranga amplamente sobre a imagem da mic, eorporificada no complex bakalaga. eral, também, um homem idu 9 sujet ; ce diatamenre, a8 exigéncias dos ancestrais brkologo. Comtemporiea, foe. Fesiste, as vezew duranre anos, até ser, por fim frnrgade a Way eaacciar oO bakolage. Nove de cada gi quarenta anos tém Jeno para ser adi possui sacrdrio, mas sfio meus), inte o relato de Fortes, por achar que demo; ramente nao s6 a oposigao ¢ a tensio entre os vinculos de parentesco m, linear, mas também a tensio. produzida no psiquismo dos ing : ro ue alcangam a idade madura, entre o modo estrutural © 0 ¢6 as a aasidear a sociedade talensi. Devemos lembrar-nos de que o dog, patrilinearidade, que Homans ¢ Schneider chamariam de linha de deseey, Transerevi mais longame' Mstra cl, Atrilineg, Uni ma da x : o ndéncig “rigorasa” através da qual si0 transmitidos os direitos sobre a propriedade ea posigio social, € dominante ¢ d4 colorido aos valores dos talensis em MUitos niveis da sociedad ¢ da cultura, Do ponto de vista ¢ da perspectiva das pessoa, ocupantes de pasigGes de autoridade na estructura patril hear Os vinculas sogi estabelecidos através das mulheres, simbolizando a comunidade tale mais ampla onde secciona os ¢streitos lagos grupais de descendéncia ¢ localidade, parecem ne. cessariamente ter um aspecto destruidor. i por isso que, segundo minha opiniio, os talensis tém a “imagem da mae” bakologo, que “persegue” o homem maduro ¢ “intervém” na vida dele, até que a “aceite”. Porque, 4 medida que os homens se desenvolvem ¢ passam a influenciar uns aos outros em circulos mais ¢ mais amplos de relagGes sociais, tornam-se cada vez. mais conscientes de que sua patri- linhagem ¢ meramente parte da totalidade dos talensis. Para eles, de mancira r- gorosamente literal, a comunidade maior intervém, destruindo a autossuficiéncia ¢ arelativa autonomia da linhagem setorial ¢ dos assuntos do cla. Os sentimentos globais, anualmente accntuados nos grandes festivais de integragio, como o do », onde, conferme mencionei, realiza-se uma espécie de casamento mistico entre representantes dos invasores namoos ¢ dos rales autdctones, tornam-se cada ‘ver mais significativos para os “homens acima dos quarenta anos” que participam das festas como chefes de familia ¢ de sublinhagens, ¢ nado mais como menores, sob a autoridade paterna, As normas ¢ os valores “provenientes de fora” romper © exclusivismo da lealdade & linhagem, _E perfeitamente adequado que a communitas seja aqui simbolizada pelos a idee ee pelas imagens da mae, jd que nesta fe coanere he Re penetram de fora fos patrissegmentos da li at ds ial % 1 OS: parentes matrilaterais, na maioria, habicam , i le um homem. E com fvel também que tais espinte’ Sejam considerados “vingativos" ¢ “inyei ee - que idoras ds fetes, on malrissegentey = © ae : se as “mies” (as n cu 4 a nhagem. Resumindo,diremes ee a era uinkioge ied! tos a chegada da velhice ¢ a rakes a em dererminadas crises da vida: a adoles i. » Variando em significago de cultura para CU ari M4 gio de posigdes estruru ct M casos ¢ at ‘ extremo ; a oop “| : 8 COMO a aceitaci aeio para xama entre 08 820ras, da india Central (ELWIN, pose tse 29 i guitado a transformagio » ), isto pode dar emacs Mi > que € essencialmente cstrutural -m uma condi eens de “estrangeil profera, assume uma condigao sem status, exter the dado direito de criticar todas as Pessoas ligadas & ¢strutura segundo uma ord moral que envolve a todos, € também de servir de intermedidrio entre seo cs segmentos OU componentes do sistema estruturado, “ Nas sociedades em que © parentesco constitui o que Fortes chama u aipioirredu vel" de Oorganizagao social ¢ onde a patrilinearidade é a base da estru- ura social, a ligagdo de um individuo 808 Outros membros da sociedade através da mie c, consequentemente, por extensio ¢ abstragio, através das “mulheres? eda “feminilidade”, tende a simbolizar a comunidade mais ampla scu sistema ico, que abrange e invade o sistema politico-legal, Pode-se mostrar a existéncia de fascinantes correlacées em varias sociedades entre esta conversio a perspectiva da communitas ¢ a afirmagao da individualidade por Oposicio ao desempenho de uma posigao social. Por exemplo, Fortes (1949) demonstrou-nos as fungdes individualizantes do vinculo entre o filho da irma ¢ o irmio da mae entre os ta- lenis, Isto, diz cle, “é uma importante brecha na cerca genealégica que circunda a linhagem agnaticia; ¢ uma das aberturas mais importantes para as relagGes sociais deum individuo com os membros de outros clés que nao o seu” (p. 31). Pela ma- trilateralidade o individuo, em seu cardter integral, fica emancipado dos ‘encargos 4 posigao segmentar, determinados pela patrilinhagem, entrando na vida mais ampla de uma comunidade que se estende, além dos talensis, propriamente ditos, alangando grupos tribais de cultura rel Vejamos agora um exemplo cencreto do mado pelo qual a consagragio de 4m sacrario bakolggo torna visivel ¢ explicita a comunidade talensi mais ampla, através dos lagos matrilaterais. Todos os rituais tém esse carter exemplar, mo- klar. Em certo sentido, pode-se dizer que “‘criam” a sociedade mais ow menos da mesma maneira pela qual Oscar Wilde considerou a vida ~ “uma imitagao da ee No caso citado (FORTES, 1949), um homem. chamado Naabdiya Face ime Scus ancestrais bakologo 0 pai de sua mae, a mae do pai de sua mie, € Jie da mae do pai de sua mac. Foram os membros do cli destes tltimos que bene eae © sacrario para 0 seu neto por chaise Nase Stoo eg ae Neabdiva Pe ee : ee ie vinte quilémetros dlstante do nn mare Iinhagem so ee a sal z devia sacrificar uma ? Seu proprio povoade. Em cada localidade cle fase liminar ow extra: ’ Sagrada. O xama, ou a estrutura soci secular, que im “prin- Hs ro é, uma ave domesticada ¢ uma a-d'angola ~ is! rah 4 ao sacrario do ane * da linhagem, OW : ncestral dominante, ou mals frequ ma ancestral mat ‘bakolggo, quase sempre s i , Gade 7 sacritio para a pessoa aflita. O chef da linhagem =r bi wes orazidas pelo paciente no sacririo de sua linhagem, explica ae as ane a natureza da ocasido que trouxe © filho de sua irma ou neto iad any ances! iplicas. Pede-lhes que abengocm Oo estabel lento de um ~ candidaro a tornar-se um adivinh bem-sucedide oa boas em geal Be > POLE, ue € 6 mai, inka ¢ ume gall TO dom, eda - ao “bogat read, ‘A linhagem do a ide.'a sedimentos que ficaram no fur oe de um sactario bagar, ¢ HUM Pequenino poy aque 0 candidato deve levar para casa € acrescen SCU NOVO Sacritio, “Dee modo”, diz Fortes, ¢ “continuidade direta do novo sacrario bakologo com o bop da linhagem matrilateral fica tangivelmente simbolizada” (p. 326). ‘Assim, dois sacrérios separados por mais de trinta qu lembrar que a propria Talelindia “quase nao tem trinta siv” - ¢ diversos outros sacrdrios intermediarios si0 direta ¢ “tangivelmente” ligados pelos ritos. O fato de ser quase impossivel o contato fisico continuo enue as linhagens em questao nio ¢ ideologicamente importante no caso, porque os sacririos bakologe sio simbolos € expressées da comunidade tale. “Nove ente dez” dos homens maduros tém uma quantidade de ancestrais bakologo cada um. ‘Todos esses homens esto ritualmente interligados através deles a uma plum: lidade de povoados; inversamente, cada dogay de linhagem tem ligado a si um certo nimero de sacririos bakologo mediante conexdes sororais ou de irmas. Tas encadeamentos, nos seus conjuntos ¢ secgdes transversas, si0 mais do que vie- culos meramente pessoais ou espirituais; representam os lagos da communis apoado-ss as divisées da estrurura. Sio, além de tudo, vinculos criades a part ities ae parentesco, « lado juridicamente mais fraco ou infenot ci peadees ne Gon, ‘manifestar a intima conexio existente entre commune 2 On nsierer Fa tensa openics etd wmuads por A eanente entre commumizas ¢ estrurura que, pai mic/fithe da emi em aspectos sagradun ¢ “afetives” da relagae ee amernen ssrudiown dan sociedades patrilineares, Nessas soviedades. a fre edad pe, a © demponutraram, « irmo da mies 4 presacral de amizade o, sabre a wibrinho, pode ter, conruden, um estreit wn srusity frequertemense pi he. peade dar-the refiigios contra a rispide® ae Padetes miaticon de abcrigex-lo ¢ amaldigos ?-” ite Pele de Ieopardo™ une, ‘mao da mic na socieda- ens do cli, estruturalmente opostas, es- ‘os das irmas com a linha dos sacerdotes, nediadora entre clas” (p. 293 - os grifos ntero Bosommuny anteriormente mencionado. Este moro ¢ frequentemente o do pri ne, No dia dos ritos “o rei é lambuzado com a tinta exo vermelha” (p. 136). Deste modo, a brancura do utero ¢ do Rio Bosommun: ado, a agua de determinado: do sangue, Mas, entre os ashantis, onde a matrilinhagem dor dominante, o vinculo de descend: quasc intcirame c © Deus do Céu ¢ com os ide, a saiide, 0 vigor ¢ todos os valores da vida compartithados por todos. Mais uma vez, encontramos os seres estruturalmente inferiores considerados moral ¢ ritualmente superiores, ¢ a fraqueza mundana, como poder sagrado. Aliminaridade, a baixa condigio social, ¢ a communitas Chegou o momento de fazermos o citidadoso exame de uma hipdrese que Procura explicar os atributos de fendmenos aparentemente diversos, tais como os oedfitos na fase liminar do ritual, os auréctones subjugados, as nagdes pequenas, os bufes da corte, os mendigos santos, os bons samaritanos, 0s movimentos qui lsticos, os “vagabundos darma”, a matrilateralidade nos sistemas patrilineares, 2 Patrlateralidade nos sistemas matrilineares c as ordens monésticas. Trata-se, sem dlivida, de um feixe de fendmenos sociais que nao combinam bem! No entanto, Todos tém a seguinte caracteristica comum: sfo pessoas ot! principios que a 121 «og da estrurra social, (2) esta0 4 margem, dela situam nos intCOT™* yas, Isto leva-nos de volta a problema gy 4% 13 ewe os degen Pree autora de definisao é A Die tionary ont, da extutura sO KOLB, 1964) na qual A.W. Eister examing ane Sciences (GOUL Jes dessa concepsio. Spencer € « s0cidlogoy TS da principais fom ‘gocial como “a combinagio Du Menos dising eonsiceram 3 je um tipo) de instiruides espe as € mutuaman qual pode haver mais € de Fister] € as organizagées institucionais ge peng, pendentes [2 scents originadas no curso natural dos ACOntEcI men a de seres humanos com determinadas NECESSidades to, 4 medida que 0 OT oe os outros (em varios tipos ou madas de itera & ane Sede ‘o meio ambiente” (p. 668-669 ). A concepsio de Rare B95, mais analitica, exprime-sc da =e maneira; “Nos Tips de sg, ciedades comumente estudadas pelos ancrops ee estrurura social pode i, cluir relagdes criticas ou fundamentais prov ee modo semelhante de un sistema de classes bascado nas relagdes com 0 solo. Outros aspectos da estruny, social surgem mediante a participagio em outros tipos de grupos persistents « clis, castas, grupos etirios ou sociedades secre. ‘Outras relagdes basicas. devem. se também a posigao no sistema de parentesco” (p, 32), A maioria das definigdes contém a nogio de uma combinagie de Posigées ou de situagdes sociais. Muitas implicam a instituci izagao € 4 persistencta de grupos e de elagdes, A mecinica clissica, a morfologia ¢ a fisiologia dos anim € das plantas, ¢, mais recentemente, com Lévi-Strauss, a linguistica estrurural, fo ram cxploradas pelos cientistas sociais 8 procura de conceitos, modelos ¢ forms homologas. Todos tém, em comum, a nogao de uma combinagio superorginia de partes ou de posigdes, a qual persiste, com modificagGes mais ou menos gr- dativas, através do tempo. O conceito de “conflito” passou a relacionar-se com © conceito de “estrutura social”, desde que a diferenciagao das partes se tom Oposicao catre as partes, ¢ a situagao insuficiente se torna objeto de |utas eare Pessoas € grupos que pretendem alguma coisa. A outra dimensio de “sociedade” pela qual me interessei ¢ menos ficil de definir. G.A. Hillery (1955) cxaminou noventa ¢ quatro definigées do wim “comunidade” ¢ chegou 4 conclusio de que, “alm do conceito de que as pss’ «sto ineluidas na comunidade, no hd completo acordo quanto 3 narureaa comunidade” (p. 119). O campo pareceria, pois, estar ainda aberto a novas (6 tivas! Procure fugir a nogio de que a communitas tem uma localizagao ver pecifica, geralmente de caréter timitado, que permeia muitas definiées: ta Surge onde nao existe estrutura social. Talvez o melhot vet ju Mur oe este dificil conceita seja o de Martin Buber cain i age Yerla ser considerado mais um talentoso informante na “2 social! Buber (1961) usa o termo “comunidade” para de 122 rentamento dinamico inidade cxiste onde a com Pectos da estrunira social ou Psicologia da Gestalt a figura ¢ 0 S OU COMO certos elementos raros nunca © pureza, Mas apenas enquanto compo- mo modo a communitas unicamente pode er apreendida por alguma de suas relagdes com a estrutura. Se o componente constituido pela communitas & impreciso, dificil de fixar, isto no quer dizer que ssa em importincia. Aqui a historia da roda do carro de Lao"Ré pode vi a propasito. Os raios da roda e 0 cubs (isto €, 0 bloco central da roda que segura o¢ixo ¢ 08 raios) a0 qual est4o presos no teriam utilidade se nio fosse 0 buraco, aabertura, 0 vazio do centro. A communitas, com seu cariter nio estruturado, representando o “Angul 9 Correlacionamento humano, aquilo que Buber cha- mou das Zavischenmenschliche, pode bem ser representada pelo “vazio do centro”, que entretanto é indispensdvel ao funcionamento da estruqura da roda. Nio é por acaso nem por falta de precisio cientifica que, juntamente com ow- tros que estudaram © conceito de communitas, sinto-me forgado a recorrer A me- tifora ¢ a analogia. Porque a commmenitas tem uma qualidade exi acotalidade do homem, em sua rela¢o com outros homen "2, por seu lado, tem qualidade cognoscitiva conforme observou Lévi-Strauss; a cstrutura consiste essencialmente num conjunto de classificagées, num modelo Para pensar a respeito da cultura ¢ da natureza, ¢ para ordenar a vida piiblica de alguém. A communitas tem também um aspecto de porencialidade; esta frequen- femente no modo subjuntivo. As relagées entre os seres totais sio geradoras de simbolos de metiforas, de comparagdes. A arte ¢ a religiio sio produros delas, mais do que estruturas legais ¢ politicas. Bergson viu nas palavras € nos cscritos dos profetas ¢ das grandes artistas a criagao de uma “moral aberta”, expressio cla Prépria do que chamou élan vital ow “forga vital” evolutiva, Os profetas © as ar sts tendem a ser pessoas liminares ott margi “fronteirigos” que se exiongare. ‘om Veemente sinceridade por libertarse dos cliché ligados 3s incumbéncias a Posigéo social ¢ 4 tepresentagio de papéis, ¢ entrar em relagoes vitals oo os = "eshomens, de fato ou na imaginagao. Em suas produgées podemos vislum! n estes. Assim como na 123 s da estrururay arg! bond c a, ‘ : nase toda parte 4 communitas & © quas a porque ta fF experi velamento” ¢ de “deg DO} atenyao, frequente: possiv elmet uradas ¢ podlerio sem prec dentes. Os process para os quais Goffman chamou nos de sentimento os que esti? sujeitos a cle vas, pore ‘energias insain , é apenas prodi de impulsos biologt ; culturais. Sio antes produtos de faculdades peculiarmente fy r ade, a voligio € a memoria, dese sociedade, do mesmo mt do como, entre os talen que sofrem as experiéncias que os induzem a receber A nogio de haver um vinculo genérico entre os homens, € © correlate seni mento de “bondade humana”, nao si0 epifenémenos de certa espécie de instings gregario, mas produtos de “homens inteiramente dedicados em sua rotalidade” ‘A liminaridade, a marginalidade ¢ a inferioridade estrutural sio condigdcs em que frequenremente se geram os mitos, simbolos rituais, sistemas filoséficos ¢ obras de arte, Estas formas culturais proporcionam aos homens um ca ode padrdes ou de modelos que constituem, em determinado nivel, reclassificagéts periddicas da realidade e do relacionamento do homem com a sociedade, a natv- reza¢ a cultura. Todavia, sio mais que classificagées, visto incitarem os homens 4 ago, tanto quanto ao pensamento. Cada uma dessas produgdcs tem cardter multivoco, possui varias significagdes, sendo capaz de mover os homens simulta neamente em muitos niveis psicobioldgicos. Existe, aqui, uma dialética, pois a imediatidade da comtmznitas abvre caminho para a mediagio da estrutura, enquanto nos rites de passage os homens sto liber. tados da estrutura ¢ entram na commaunitas apenas para retornar & estrurura, er talizados pela experiencia da conmunitas. Certo & que nenhuma sociedade po funcionar adequadamente sem esta dialética. O exagero da estrutura pode levart cen eke et ss Pode rapidamente ome Hs pela Pollaces ou religiosce 600" S #0 a outros modas de enrigete O pe despatieno, 0 excesso de prim nibs ae ime, lento estrutural. Pois, tal como os nedfitos, 1 st tos milenaristas, aqueles ~ oe monges beneditinos, os membros < neo ou mais tarde, uma ainda be fee eee eats mae religioso, de um Nder i 7 absoluta, seja sob a forma de um mancs a nspirado pela divindade ou de um ditador. A comm 124 m prov tes exer fers. conexdo existente entre estry Isto 50 € possivel pos dven carga opricdade ¢ a estrutura retornam ¢ 0 movi- por exernplo, nos tiltimos ¢ sonoros parigrafos de Ancient Society diz seguil “Um modo de vida baseado meramente na propriedade nao ¢ o destino final da humanidade, se 0 progresso tem de ser a lei do futuro come fei a do passado {Ja dissolugao da sociedade promete vir a ser o término de um modo de vida do qual a propriedade € 0 fim ¢ © objetivo; porque essa existéncia m Os elementos de sua propria destruigao. A democracia no governo, a fraternidade na sociedade, a igualdade de direitos ¢ privilégios ¢ a educagao universal pressagiam o préximo plano mais clevado da sociedade, para o qual tendem continuamente aexperiéncia, a inteligéncia ¢ 0 conh enta” (p. 552) Que significa este “plano mais elevado”? Neste ponto Morgan aparente- mente sucumbe ao erro cometido por pensadores como Rousseau ¢ Marx: a confusio entre communitas, que ¢ uma dimensio de todas as sociedades passadas ¢ presentes ¢ a socicdade arcaica ou primitiva. “Serd o renascimento”, continua ck, “numa forma superior, da liberdade, igualdade ¢ fraternidade das antigas gentes”. No entanto, como a maioria dos antropélogos confirmaria agora, as ias ¢ as diferengas de “situagao” ¢ de prestigio nas sacie- a escotha normas consuetudin: thdes pré-letradas sé permitem pequeno alcance para a liberdade ¢ individuais. O individualista ¢ frequentemente considcrado um feiticeiro. $6 Permitem pequena extensio para a verdadcira igualdade entre homens ¢ mulhe- ‘Ss, por exemplo, entre velhos ¢ mogos, entre chefes ¢ suberdinados, enquanto iffaternidade muitas vezes sucumbe a uma aguda distingao de situagoes sociats in ienios mais velhos ¢ mais mogos. O fato de pertencercm a segmentos le sociedades tais como a dos talensis, niieres € tives nao permite nem SMO a fraternidade tribal. A condigdo de membro de um grupo submete 0 individuo & estrunura ¢ aos conffitos inseparaveis da diferenciagio estratural, Conn, Mesmo nas sociedades mais simples existe # distingao entre estrurure 125 | egy contrando cx; pressao sim de, ndo uso de rermos que © m salen Mas, juntos, consticuem a “e semelhantes. { A 4s relagdes do homem com seus t ~ tas: mo € pr Communitas: modelo e proceso M odalidades da communitas Este capitulo resulta muito naturalmente de um semindrio realizado na Uni- yersidade de Cornell com um grupo interdisciplinar de estudantes ¢ do corpo docente, sobre varias pontos daquilo que se pode chamar aspectos metaestruru- rais das relagOes socials. Fui educado na tradi¢ao social-cstruturalista ortodoxa da antropologia britanica, a qual ~ para expressar um raciocinio complexe com crua simplicidade - considera uma “sociedade” como um sistema de posigdes sociais. Talsistema pode ter uma estrutura segmentiria ou hierdrquica, ou ambas. O que desejo acentuar aqui é que as unidades da estrutura social sio relagdes existentes entre “posigdes”, fungGes ¢ cargos. (Naturalmente nao estou empreganda, neste aso, 0 termo “estrutura” no sentido preconizado por Lévi-Strauss.) A utilizagio de modelos sociocstruturais tem sido extremamente titi! para trazer clareza a muitas dreas obscuras da cultura ¢ da sociedade, mas, conforme acontece com ‘outras principais maneiras de compreender, 0 ponto de vista estrutural tem-se tansformado, com 0 correr do tempo, num grilhao ¢ num fetiche. As experién- cas de campo ¢ as leituras gerais sobre artes ¢ humanidades levaram-me 2 con- viegio de que 0 “social” nao se identifica com 0 “socioestrutural”. Existem outras: ™odalidades de relagdes sociais. Além do estrutural encontra-se no apenas o conccito de Hobbes de “guerra todos contra todos”, mas também a comnuunitas, modo de relacionamento if reconhecido como tal pelo nosso seminirio. Esscncialmente, 2 communitas on em uma relacio entre individuos concretos, histéricos, idiossincrésicos. Ws individuos no estéo sezmentados em angio € posigoes sociais, porém dcfrontam-se uns com os outros mais propriamente & maneira do “Eu ¢ Ti 1 de Martin Buber. Juntamente com este confronto direo, imediato ¢ rotal de identi- dades Numanas, existe a tendéncia a ocorrer um modelo de sociedade como uma ccujas fronteiras coincidem idealmente sob este aspecto, € acentuadamente cetunitas homogénca ¢ nio estrururada, a8 da espécie humana. A communitas, \ 127 126

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