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Brasil: pais de imigrantes? Para efeito didatico, pode-se dividir a hist6ria da imigragao para o Brasil em trés fases: de 1808 a 1850; de 1850 a 1930 e de 1930 aos dias atuais. 0 primeiro periodo - de 1808 a 1850 Esti relacionado a época colonial, e pode ser considerado a partir da vinda da familia real portuguesa para o Brasil. Por que isso aconteceu? Portugal e Franca viviam um momento de tensdo que envolvia relagées comerciais ¢ dominio territorial. Portugal estava sob a iminéncia de uma invasto francesa, comandada pelo exército de Napoledo. Como a corte portuguesa poderia sair menos prejudicada desse conflito? As saidas poderiam ser muitas, e a escolha da familia real recaiu sobre deixar o territério portugués e se abrigar nas terras coloniais brasileiras. Para isso, era necessério estabelecer algumas medidas. Assim, com a chegada da corte portuguesa em teritério brasileiro ocorreu a abertura dos portos as nagdes amigas a promulgacao da Lei Eusébio de Queirés, que proibia o trafico de escravos nessas plagas. Dessa maneira, com a chegada de D. Joao VI, o Brasil tornou-se a sede do reino. Considerando que nao se sabia por quanto tempo essa situagio iria perdurar, posto que os franceses poderiam ocupar Portugal indefinidamente, D. Jodo VI passou a se preocupar com a numerosa ¢ ostensiva quantidade de negros aqui existentes, pois achava que isso nao ficava bem para a sede da monarquia. Desta forma, incentivou a vinda de imigrantes ao assinar 0 decreto de 25 de novembro de 1808, que permitia ao estrangeiro ser proprietario de terras no Brasil. Os principais fluxos imigratorios desse periodo, segundo o ano de chegada, a origem @ 0 destino, podem ser visualizados no quadro a seguir. Quadro 1 — Principais fluxos imigratérios para o Brasil entre 1808 e 1850 ee tke Pd | 1808_ | Agores | Rio Grande do Sul | 1824 | Alemanha —_| Rio Grande do Sul (fundaram a cidade de Sao Leopoldo) [ise | Prissia_ | Pemambuo___ [1829 | Alemanha __| Santa Catarina (fundaram a col6nia Sao Pedro de Alcdntara) A despeito dos incentivos, 0 volume total dessa imigragao até 1850 foi inexpressivo e substancialmente inferior a vinda de africanos na condigao de escravos. Os fatores que explicam esse pequeno fluxo imigratorio sio: as facilidades de obtengio de mao de obra escrava; a instabilidade politica do periodo regencial; 0 prolongado movimento de reagdo contra a nomeacdo do presidente da provincia gaticha pelo poder central chamado Guerra dos Farrapos (1835 a 1845); 0 temor do imigrante de ser tratado como um escravo. A intensificacdo das pressées inglesas para que fosse extinto o trafico de escravos foi determinante para a assinetura, em 1850, da Lei Eusébio de Queirés, que proibiu tal atividade. A partir dai, os proprietirios de terras, especialmente os fazendeiros do café, passaram a estimular e promover a vinda de imigrantes coma finalidade de substituir a mo de obra escrava. 0 segundo periodo - de 1850 a 1934 Corresponde & fase aurea de imigragio para o Brasil. Nesse intervalo, a aboligao da escravatura, em 1888, fo! o maior incentivo & chegada de imigrantes, tendo em vista que obrigou 0 governo a buscar nova forga de trabalho na Europa é no Japao. 0 término dessa fase foi marcado pela redugdo da chegada de imigrantes decorrente da promulgagao da Constituigao de 1934, que estabeleceu medidas restritivas & vinda de estrangeiros, dentre as quais a definigdo de que, a cada ano, nao poderia ingressar no pais mais de 2% do total de entradas de cada nacionalidade nos ltimos cinquenta anos. Os principais fluxos imigratérios desse periodo foram constituidos por italianos (o mais, expressivo), alemies, espanhis, siri-libaneses, poloneses, ueranianos e japoneses. Dentre os fatores que favoreceram a entrada de imigrantes no pats, destacam-se 0 desenvolvimento da cafeicultura, que exigiu numerosa mao de obra; a proibigo do tréfico de escravos; o custeio das despesas do imigrante durante o primeiro ano de trabalho, pelo fazendeiro; a permissao do fazendeiro para que o imigrante cultivasse produtos de subsisténcia familiar em uma parcela de suas terras; 0 custeio dos gastos de transporte do imigrante, até 1889, pelo governo imperial; a aboligao da escravatura, em 1888; a unificagao politica da Italia, em consequéncia da qual as inddstrias manufatureiras do sul, diante da concorréncia com as. do norte, entraram em decadéncia, provocando desemprego e instabilidade social E importante registrar que esse periodo de maior imigragtio coincidiu com o fim da escravidio e 0 esforco do governo e de proprietarios de terra para trazer imigrantes, isto 6, forca de trabalho para substituir 0 escravo. Nesse sentido, tratava-se de uma imigragao induzida, resultante de uma propaganda brasileira no exterior que, em muitos casos, foi enganosa por oferecer vantagens ficticias. O contrato de trabalho assinado pelo imigrante em seu pais de origem beneficiava apenas o empregador. Porém, ele o assinava iludido pela propaganda e sem cconhecer o lugar onde iria morar ea realidade que iria enfrentar. Diante das situagSes adversas, foram varios os casos de conflitos, fugas (as familias nao podiam sair antes do término do contrato) ¢ até de emigragao por parte dos que podiam arcar com as despesas da viagem de retorno ou para outro pais da América. Nessa fase, 0s flucos anuais de imigrantes mais representativos foram os que ocorreram de 1888 (quando foi decretada a aboligdo da escravatura) a 1914-1918 (periodo da | Guerra Mundial). Apés 0 contlito, decresceu exponencialmente a imigragao para o Brasil. Nesse contexto, a expansio da indistria paulista para outras regides do pais teve um impacto devastador sobre o segnento industrial téxtl do Nordeste. Ao mesmo tempo, ocorreu o declinio de atividades tradicionais dessa regio, como o agiicar e o algodio, que dependiam do mercado externo. O resultado foi a acentuacao do problema do desemprego na regido, o que motivou 0 deslocamento de migrantes nordestinos para a cidade de Sao Paulo e para as teas cafeeiras. ‘Ao assegurar a forga de trabalho necesséiria para a cafeicultura e a indiistria, esse novo fluxo migratério assumiu maior importincia que a entrada de imigrantes. Além desse cenéro, contribuiu também para a adogao de restrigdes & imigracao o fato de que os imigrantes tinhem um nivel de consciéneia politica mais elevado do que os ex-escravos ou os migrantes nordestinos, visto que na Europa Ocidental ja ocorria a luta por melhores salérios e condigdes ce trabalho, que tem entre suas formas de efetivaco a greve. Esses imigrantes lideraram @ maioria das greves realizadas no inicio do século XX no Centro-Sul, especialmente em Sao Paulo e no Rio de Janeiro. Desse modo, em 1934, quando o sistema de cotas estabeleceu restri¢des a imigracdo para o pals, esta ja era considerada secundaria em relagao aos migrantes nordestinos. 0 terceiro periodo - de 1934 aos dias atuais Caracteriza-se pela queda acentuada do fluxo imigratorio no Brasil. Todavia, nesse intervalo, as décadas de 1950 e de 1970 configuram-se como excegdes. Vamos entender por qué? E importante recordar que, entre 1939 e 1945, houve a II Guerra Mundial, que teve a Europa como o principal cenério de suas batalhas. Apés 0 conflito, esse continente ficou arrasado; foram incontaveis as perdas humanas e materiais. Desta forma, no inicio da década de 1950, um nimero expressivo de imigrantes europeus se deslocou para o Brasil A procura de novas alternativas de vida. Em meados do referido decénio, o pais adentrava na era JK, ou seja, Juscelino Kubitschek assumiu a Presidéncia da Repiiblica e levou adiante 0 seu projeto de industriaizagéo, que atraiu milhares de estrangeiros. A associagao entre fatores externos (acrise europeia) e internos (a intensificagdo da industralizagdo nacional) provocou uma onda imigratéria para o Brasil Na década de 1970, o panorama foi diferente. O pats vivia a ditadura militar, e o crescimento econdmico verificado nesse periodo atraiu investimentos e mao de obra do exterior. Foi a fase conhecida como “milagre brasileiro", quando o setor industrial, de transportes e servigos foram bastante ampliados e o governo fez elevados investimentos em obras infraestruturais. Nessa fase, que superou a de 1950, a diregao dos fluxos também partiu de paises proximos como o Chile, a Argentina eo Uruguai, que atravessavam dificuldades econdmicas e politicas decorrentes de regimes militares ditatoriais. Apesar de constituirem um diferencial no 4mbito desta fase, ressalta-se que os fluxos itmigrat6rios das mencionadas décadas nao obtiveram o volume apresentado no periodo anterior. No elenco de fatores que se mostraram desfavoraveis & vinda de imigrantes para 0 Brasil, destacamr-se: as revolugdes de 1930 e 1932 e a instabilidade politica e econdmica delas decorrentes; a reiteragio da Lei de Cotas de Imigracao pela Constituigdo de 1937; a deflagragio da Il Guerra Mundial; a concessio de facilidades para a imigragao no interior da prépria Europa em tempos de reconstrugio econdmica e territorial; o golpe de Estado de 1964 no Brasil, que levou ao regime da ditadura militar; e o grande endividamento externo do Brasil, principalmente a partir da década de 1970, que gerou desemprego, elevada inflagdo, redugao do ritmo da atividade econdmica etc. Quadro 2 — Imigragao para o Brasil (1808-2005) od Pray 108-8 so 11-196 EC ‘PRoponcho pas [NACIONALIDADES NA IMIGRAGKO + Pua etttas, 0 prtupuses 50 sto consicats im ates ‘por 22 om anceps et ‘+ Eeovs (loess « use) siteitanest, juts, herds, Ftowssesnotewmenen, nghaws common” bonnes san mem Figura 1 —Proporgio das nacionaldadesenvovias na imigrag para o Brasil (1808-2005) Nota: para fins estatisticas, os portugueses somente so considerados imigrantes apés a Independéncia do Brasil, em 1822. Eslavos (poloneses e russos), sitfo- libaneses, udeus, holandeses, franceses, norte-americano: bolivianos, nigerianos etc. estao inclusos na categoria de outros. ‘grupos de imigrante freas de fxagio I me fe Porugueses | natanas ‘oExpumois 1 saponeses ennai envor sis (2 Lnonesas Figura 2~ Principals grup do imigantese reas de fxago no Brasil (1808-2005) Migragées internas no Brasil Vocé estudou até aqui as migragées no contexto da entrada e saida de pessoas do territério brasileiro. Viu como o Brasil deixa de ser um pais de imigrantes e passa a ser uma nagdo deemigrantes. Muito bem, veja agora como esse proceso migratério ocorre no interior desse pals, Pata isso, vamos abordar as migragdes inter-regionais. As migracGes inter-regionais no Brasil ocorrem desde o periodo colonial e estiveram associadas aos ciclos econdmicos da cana-de-agiicar (séculos XVI e XVII), da mineracao (século XVIII), do café (fim do século XIX e inicio do século XX) e da borracha (1870 a 1910). No decorrer desses séculos, a valorizacao do produto no mercado mundial requisitava 0 aumento da produgao e, consequentemente, da mao de obra, atraindo para a regido produtora pessoas residentes em outras regides do pais. Porém, as migragdes inter-regionais desse perfodo eram relativamente fracas. Somente a partir da segunda metade do século XX é que esse proceso foi intensificado. Para facilitar a compreensdo das caracteristicas que marcaram essa fase de acentuagao dos deslocamentos populacionais internos no Brasil, consideremos cinco periodos, tendo como ponto de partida a década de 1940. A justificativa para essa demarcagao est no fato de que até a referida década, o Brasil era um pais cujo povoamento era predominantementelitoraneo, tendo em vista que a organizagao do espago era influenciada pela produgao econdmica que estava voltada para o exterior. De 1940 a 1950: a marcha para o Centro-oeste e ocupacao do norte do Parana Entre 1940 e 1950, a mobilidade espacial no territério brasileiro foi assinalada pelo inicio da marcha para o Centro-Oaste e a ocupagao do norte do Parand. Nos anos de 1940, quando teve inicio a marcha para o Centra-Oeste, as principais, regides fornecedoras de migrantes foram o Sudeste (95.505 pessoas) e o Nordeste (103.047 migrantes), que responderam por 44,6% e 48% da emigracao total para essa regio. A maioria dos migrantes do Sudeste, oriunda de Minas Gerais, Espirito Santo e Sao Paulo, buscava terras para o desenvolvimento da agricultura. Nesse periodo, o Governo Federal criou dois nuicleos de colonizagao: a Colénia Agricola Nacional de Goids (municipio de Ceres) e a de Dourados (na época no Mato Grosso, hoje Mato Grosso do Sul). Os migrantes do Nordeste, advindos principalmente dos estados do Nordeste Oriental, Maranhao, Piaui e do interior da Bahia, foram atraidos pelas descobertas de diamantes e cristal de rocha na area da Bacia Hidrografica do ‘Araguaia, e também pelos babacuais do vale do Rio Tocantins (na época, localizado ao norte do Estado de Goids). Nesse mesmo periodo, 0 norte do Parand assumiti a condigao de area de atragao populacional em decorréncia da venda de lotes de terras por uma companhia inglesa; nesse caso, os niicleos de colonizagao eram de inicativa privada, As terras fértets da regio atrairam um considerdvelfluxo de paulistas. Da corrente migrat6ria para o norte do Parana surgiram ou cresceram municipios importantes como Londrina, Maringé, Paranaval, Araponga, entre outros. ee e0uADOR an anmeo ote Figura 3 ~ Migrag6es intemas no Brasil (1940-1950) De 1950 a 1960: fluxo migratorio para o Sudeste Entre 1950 e 1960, expressivas fluxos migratérios foram direcionados para o Sudeste, especialmente para o municipio de Sao Paulo e seu entorno ‘As correntes migratérias da década de 1950 caracterizaram-se pela convergéncia para 0 Sudeste, notadamente Sao Paulo e Rio de Janeiro, tendo em vista que a regido se encontrava em pleno processo de industrializagao, atraindo também imigrantes estrangeiros. Nesse decénio, o Nordeste foi a regio que registrou o maior nimero de migrantes para © Sudeste. No entanto, também houve mobilidade de nordestinas na prépria regiao, como é 0 caso dos fluxos direcionados para o Maranhao, em fungao da exploragao do babecu e da cultura do arroz, e para outros estados, tais como Mato Grosso e Rondénia, atraidos pelo garimpo, e Parand, devido a cafeicultura. Um outro fluxo considerdvel de nordestinos destinou-se ao Estado de Goiés, tendo como principal motivagao a construgao de Brastlia, para onde foram em busca de trabalho na construcdo civil. ‘Ainda nessa década, houve migragao de gatichos para o Parana, em busca de terras para a agricultura. Aimigragao para 0 Centro-Oeste foi responsdvel por um expressivo aoréscimo em sua populacdo, de forma que, entre 1950 e 1960, esta foi a regio que obteve o maior crescimento populacional no Brasil 477 Diregao das migragoes | < 560 Km ~ 20° Figura 4 — MigragGes internas no Brasil (1950-1960) Fonte: pad iia apd ADAS; DAS 704, p90) De 1960 a 1970: continua a marcha para o Centro-Oeste e a expansdo para a Amazonia Entre 1960 ¢ 1970, as migragGes internas deram continuidade & marcha para o Centro- Oeste e & expansao em diregao a Amazénia. Esse perfodo foi assinalado pelo Golpe de 1964, que possibilitou a chegada dos militares a0 poder. Gom base na ideologia da seguranga nacional, o governo implementou uma politica de ntegracao da Amaz6nia, que fo viaiizada, inicialmente, através da implantagao de projetos agropecuérios na regido, mediante incentivos fiscais. Essa decisdo foi fundamental para deslanchar o processo migratério em direcao & Amazénia, onde jé havia alguns investimentos agtopecuarios implantados na década anterior pela iniciativa privada. Todavia, essa fase da ‘cupacdo da Amazénia foi marcada pelo predominio do grande capital, pela instalagao de propriedade de extensdes gigantescas, pea falsificagao de titulos de terras e por uma atuagao do Estado que beneficiou os grandes projetos agropecuarios em detrimento dos interesses de indigenas, posseiros e pequenos proprietrios. Neste decénio, novamente o Nordeste aparece como drea de repulsdo populacional, tendo emvista que sua estrutura social altamente conservadora nao ensejava mudangas estruturais ¢ sua economia era incapaz de absorver a mao de obra disponivel na regido, que se constituia como um foco de tensbes sociais. 05 fluxos migratérios dos anos de 1960 a 1970 denotaram uma configuragao que envolve as diferentes regides do pais, sendo notavel a continuagao da saida de pessoas do Nordeste para o Sudeste, em fungo da industralizagéo, para os estados do Parand e Nato Grosso, onde buscavam terras para o cultivo agricola, e Goiés, para se dedicar & coleta de coco do babagu ¢ &agricultura de subsisténcia. Houve, ainda, um aumento da migragao do Nordeste para a Arraz6nia e a saida de migrantes do Rio Grande do Sul, Parana, Sao Paulo e Minas Gerais com destino a Mato Grosso. Sobre 0s migrantes nordestinos, ressaltam-se dois aspectos: primeiro, aqueles que aportaram em Goids ¢ no Para eram constituldos por trabalhadores rurais e por pequenos prcprietérios sem capital; e segundo, o fluxo direcionado para Manaus foi estimulado pela criagao da Superintendéncia da Zona Franca de Manaus, em 1976, que atraiu um grande contingente de pessoas. Com relagao & migragao de gatichos, catarinenses, paranaenses e paulstas para Mato Grosso, justfica-sea existencia do fluxo devido a grande concentragdo da prepriedade da terra na Regido Sul e no Estado de Sao Paulo, ‘A densidade dos fluxos populacionais em direcao ao Centro-Oeste, entre 1960-1970, resultou em uma dinamica de crescimento demogréfico bastante elevada, registrando o maior acréscimo populacional da regido. » ge woKm : 50 Figura 5 — Migragdes internas no Brasil (1960-1970) De 1970 a 1990: € 0 fluxo para a Amazonia continua Entre 1970 e 1990, a Amaz6nia foi o foco dos deslocamentos populacionais internos no Brasil. Na década de 1970, as migragdes em dirego a Amazénia foram induzidas pelo Governo Federal. Nesse decénio foi aprovado o Projeto de Integragao Nacional (PIN), no qual figuravam ‘como obras estruturantes a construgao das rodovias Transamaz6nica e Cuiabé-Santarém, além de um projeto de colonizagao ao longo dessas estradas, onde deveriam ser fixados os migrantes. ATransamazénica deveria faclitar a migragao dos nordestinos, desviando-os da rota para 0 Sudeste, que jé enfrentava problemas de areas metropolitanas superpovoadas e tensdes sociais. Além disso, era uma estratégia para “povoar” a AmazOnia com a mao de obra que seria requisitada pelos projetos do grande capital. ‘A Cuiaba-Santarém facilitaria a penetragdo dos fluxos de migrantes do Sul e Sudeste em diregao ao Mato Grosso e Para e também ao Nordeste, tendo em vista o cruzamento desta rodovia com a Transamaz6nica, no sul do Para. Essas estradas foram construidas e, embora tenham contribufdo para a integragao do territrio nacional, também provocaram impacto ambiental e social negativos, especialmente para os indigenas. Todavia, em termos de migracao, uma caracteristica desse periodo foi o empenho do propriedade da terra. Conforme Becker (1990, p. 48), a alternativa encontrada foi a da mobilidade do trabalhador apoiada na urbanizacao. Assim, as cidades e vilas assumiram a condigao de local de estoque da mao de obra requisitada para as frentes de trabalho que foram implementadas na regido. Por se tratar de uma regigo encoberta por uma floresta equatorial, @ mais densa e intrincada das coberturas vegetais do mundo, havia muitas frentes de trabalho, como aderrubada de matas, o estabelecimento de garimpos, a construgao de hidrelétricas rodovias, entre outros. Deriva dessa dindmica territorial a elevagdo significativa da populagio regional, especialmente das cidades, entre os anos de 1970 e 1990. No ambito da Amazénia, os estados de Rondénia e Roraima foram os que obtiveram maior crescimento em ndmero reativo no intervalo 1970-1991. 0 motivo primordial para Rondénia ter se tornado a principal area de atragao populacional no periodo focalizado foi a implantaco do Programa Polonorceste, que definiu © estabelecimento de projetos de colonizagdo em que o trabalhador rural se tornava preprietério da terra, ¢ oasfaltamento da Rodovia Cuiabé-Porto Velho (BR-364), também conhecita como Marechal Rondon, que integrou o estado & Amazonia ¢ ao Centro-Sul. Entretanto, a “ocupagéo” foi devastadora em termos ambientais: ocorreramn desmatamentos e queimadas indiscriminadas para que a floresta ceda lugar & agricultura e& pastagem, além da extrago de madeira de forma irresponsavel para fins de comercializacao. No caso de Roraima, o crescimento populacional vertiginoso esteve atrelado a descoberta de ouro e diamante nas terras dos lanomnami, que impulsionou a garimpagem. Mas, com a demareagao das terras lanomami, ern 1991, a migragdo para essa drea diminuiu acentuadamente, Ceres) ‘OCEANO Pacinico oceANo amLANnico reso? : (477 Dirac predominante Figura 6 ~ Migragées internas no Brasil (1970-1990) Fonte td Ohare pu DAS ADA, 200». 34) Década de 1990 - refletindo sobre arecente dinamica dos fluxos migratorios As tendencies migratérias delineadas nos anos de 1980 tiveram continuidade na década de 1990, Essas tendéncias correspondem a redugao da migragao interna rumo ao Sudeste 2, patticularmente, as metrépoles; declinio do crescimento demogratico do municipio e Sao Paulo, que figurava anteriormente como principal polo de atrago populacional; manutengo de fluxos migratérios em diregao a AmazOnia ¢ aumento da populacao dos municipios de médio e pequeno porte. No que se refere & diminuig&o de migrantes em diregdo ao Sudeste e A queda do crescimento populacional em Sao Paulo, é importante considerar a crise econdmica dos anos de 1980, que ecoa na década de 1990, e a desconcentraco da economia ~ especialmente da indiistria — nesse perfodo. No primeiro caso, verifica-se que 0 cendrio de crises afetou 0 mercado de trabalho, ampliando os niveis de desemprego. Dessa forma, 0 deslocamento para 0 Sudeste jé nao se traduz em garantia de emprego e renda e, assim, as migragdes para a regido foram sendo reduzidas, Alias, as migragdes internas, de um modo geral, tendem a um decréscimo em fungao das dificuldades de emprego em todas as regides. No segundo caso, observa-se que a transferéncia de industrias para outras regides ou para o interior de Sao Paulo ou, ainda, a instalagao de novas indlistrias em areas localizadas fora do centro econdmico do pais, representado pela triade Sao Paulo~ Rio de Janeiro-Belo Horizonte, provocou o declinio os fluxos migratérios rumo ao Sudeste e, ern especial, ao municfpio de Sao Paulo. Actescente-se que os problemas urbanos vivenciados em Sio Paulo, no que se refere & habitacdo, transporte ¢ violéncia, contribuem para essa redugio. Em relagdo & permanéncia da Amazénia como um foco de atragio populacional, a explicagao esta relacionada as atividades econdmicas que ali se desenvolvem, Nessa regiao se efetiva a expansio da fronteira agropecudria ¢ o garimpo desponta como um segmento alvissareiro; em ambas as atividades, os impactos ambientais negativos, com destaque para o desmatamento, so nefastos para o ecossistema da floresta, No que concerne ao crescimento demogratico dos municipios de médio e pequeno porte, registra-se que esca dindmica esta vinculada a urna gama diferenciada de fatores que nem sempre aparecem conjugedos. Dentre eles, cita-se a instalago de indiistras, a (re)funcionalizagao das cidades em fungao do turismo, a exploragao de recursos minerais, a expansao do tercidrio, que se efetiva através do estabelecimento de instituigdes de Ensino Superior, centros médicos € hospitalares, casas comerciais, tecnopolos ete. Ressalta-se que entre os atrativos das cidades de médio e pequeno porte estio o custo de vida e o nivel de estresse, que so considerados relativamente baixos se comparados ao que se evidencia nas grandes cidades. Um outro aspecto importante na dinamica dos fluxos migratorios da década de 1990 diz respeito a0 Nordeste que, historicamente, foi regio a contabilizar 0 maior niimero de migrantes. Neste decénio, a saida de nordestinos foi expressivamente reduzida, sendo evidenciado também um movimento de retorno do migrante a mencionada regido. A configurago desse quadro esta vinculada a dois fatores: primeiro, a crise econdmica, que diminuiu as oportunidades de trabalho no Sudeste, principal foco das migragGes nordestinas, o que implica no refluxo da saida de pessoas e também no retorno; segundo, a expanstio da economia urbana, especialmente nas médias e grandes cidades da regido, que ampliou o mercado de trabalho, permitindo que uma parcela da mao de obra disponivel possa ser absorvida. Migragao rural-urbana ‘As migragdes ruralurbanas, também chamadas de éxodo rural, assumiram proporgaes Consideraveis no Brasil a partir de 1970, quando fol intensificado o processo de modemizacao om base na industrializagio e urbanizagio da sociedade. Os dados censitirios refletem a dinamica demogratica derivada desse processo, que repercutiu na distribuigdo espacial da populagao brasileira (Quadro 3). Quadro 3 - Populagdo urbana e rural do Brasil (1970-2000) ety Popuiagao Rural Lain ola Tr Pee re ale aria oy Em 1960, a populagéo rural ainda era predominante no pais ¢ alcangou um pequeno acréscime na referida década, que se evidenciou nos resultados do Genso Demografico de 1970, Porém, a parti dai passou a apresentar uma tendéncia 20 dectinio, tanto em termos de Populagdo absoluta quanto relaiva, conforme atestam os dados do Quadro 3. Inclusive foi o Censo de 1970 que demonstrou a inversao no perfil demogrético brasileiro, que passou de hegemonizamente rural a predominantemente urbano. Os censos posteriores ralificaram a tendéncia de erescimento da populagdo urbana, indicando a intensificago do éxodo ruralno pats. ‘A-compreensio desse fendmeno esta atrelada, dentre outros fatores, a0 proceso de moderizagdo implementado no Brasil, que provocou mudangas nos espagos rural e urbano. Essa modernizaco,viabiizada pela expansdo do setor industrial, tinhaa cidade como lécus de sua realizacio, ¢ tornou-a extremamente atrativa por dinamizar a sua economia, ampliar 0 mercado de trabalho e requisitar uma infraestrutura de servgos (escolas, cenros de sai, abastecimento agua, eltiticagao, pavimentago de ruas, espagos de lazer, programas de habitagio popular, telefonia er.) que se traduziram em melhoria das condigSes de vida da populagdo Por cutro lado, as mudangas nao se restringiam ao espago urbano, afetando também 0 meio ruralatravés da modemizaco e mecanizacéo da agricultura. Contrério ao que aconteceu em relagio & cidade, que se configurou uma érea de atragao populacional, no meio rural a perspectiva era de repulséo, tendo em vista que essa modernizagdo, que elevou a produtividade do trabalho via introdugao de maquinas e técnicas modernas de cultivo, dispensou um significtivo contingente da mio de obra empregada no campo, Foi basicamente esse segmento da populagéo que vivenciou 0 éxodo rural. Todivia, ¢ essencial ressaltar que, no Brasil, esses migrantes foram parcialmente incorporados ao mercado de trabalho urbano, por vezes restando-hes 0 subemprego @ a economia informal. Da mesma forma, uma parcela considerivel dessa populagio enfrenta problemas como o desemprego, em grande parte decorrente do baixo nivel de escolaridade:; & ‘a moradia precéria, em geral arelada ao proceso de periferizagdo e/ou favelizagio da cidade, ‘Além dos fatores de mudanga anteriormente analsados, também é possivelidentficar que ‘a migragéo rura-urbana no Brasil foi motivada por fatores de estagnacéo que esto assocados um crescimento populacional em ritmo superior ao da oferta de trabalho. Desse modo, passou a existir um contingente de trabalhadores que nao é absorvido no local, porque a terra agricola disponivel nao assegura o trabalho e a renda necessérios & sua sobrevivencia ¢, assim, so forgados a migrar. Entre as causas dessa situagdo est o problema da estrutura fundiaria prevalecente no pais, marcada pela concentragdo de terras nas mos delatifundiarios, principalmente no Nordeste. Ressalta-se que, no Centro-Sul,asituagdo assume um outro peril, visto que a pequena extensio da terra néo é suficiente para atender as necessidades de todos 1s flhos do propritério, o que os estimula & Referéncias ARAUJO, T. B. Ensaios sobre o desenvolvimento brasileiro, Rio de Janeiro: Revan, 2000. BECKER, B.;EGLER, C. Brasil: uma nova poténcia regional na economia-mundo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1992, CANO, W. Raizes da concentracao industrial em So Paulo. Campinas: FECAMP, 1998, MARTINS, J. de S. A imigragao e a crise do Brasil agratio, Sao Paulo: Pioneira, 1973. MARTINS, J. de S. 0 cativeiro da terra. Sao Paulo: Ciéncias humanas, 1981 OLIVEIRA, A. U. de, Integrar para nao entregar: politicas piblicas ¢ Amazédnia In: ADAS, ADAS, S. Panorama geografico do Brasil: contradicdes, impasses e desafios socioespaciais. ‘Sao Paulo: Moderna, 2004 ROSS, J. Geogratia do Brasil, Sao Paulo: EDUSP, 1995, SANTOS, M; SILVEIRA, M. 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