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ISBN 85 08 01092 3 A ccncorsencia verbal 6 uma das principais dificuldades do usudrio da lingua portuguesa Como um dos pélos da imaginacdio e vontade do emissor, ela contribui para a atualizagao dinamica do cédigo lingiiistico. De um lado, a Subjetividade do usuario; de outro, as normas linguisticas Neste volume, a Autora discute e apresenta didaticamente os procedimentos..facultados pela ingua @ que, conscientizados, colaboram com o aluno “na clareza e eficiéncia'da sua capacidade de comunicacao”’ Maria Aparecida Baccega, professora da Escola de Comunicacées e Artes da Universidade de Sao Paulo, publicou Redagées de vestibulandos: uma abordagem sociolingiiistica, José Candido de Carvalho e artigos sobre ensino da lingua portuguesa Areas de interesse do volume Comunicagées Linguistica Outras dreas da série Administrago Antropologia Artes Ciéncias Civilizaco Direito Educacdo Estética Filosofia Geografia Historia Literatura Politica Psicologia Sociologia PanoeioS . ' Maria Aparecida, Baccega —CONCORDANCIA ‘uTIMOS LANGAMENT ‘0S Maria Aparecida Baccega Doutora em Letras Professora da Escola de Comunicacdo e Artes y CONCORDANCIA? VERBAL EXEMPLAR DESTINADO » a EXAME PELO PROFESSOR Diregéo Benjamin Abdala Junior 7, sane Vouset Gamposet | Sumario Preparacéo de texto ‘Mario Tadeu Brugé | 1. Para comegar. 5 a \ beet Coordenagio © Concordaneia. 5 ‘ojeto gréfico/miolo " oe Beas ‘Antonio do Ameral Rocha Concordéncia verbal: gramética ou estilistica? __6 Arte-final Como ensinar. iW René Etiene Ardanuy Discurso “objetivo” © concordancia verbal. 13 co oo Concordancia gramatical e concordancia ideolgica 14 sn 5, ean 2. Lembretes sobre sintaxe. 16 Oragao e peridot. Orago com verbo claro. 16 Oragao com verbo oculto__________16 Periodo simples a7 Periodo composto—____ 17 | Sujeito 6: predicadossssssecsusaennennennacnngy i Os predicados. 18 Predicado verbal, 18; Predicado nominal, 18; Predicado verbo-nominal, 18, MPU aeRO eeeeeeeeteCTtenC TSE Sujeito simples, 19; Sujeito composto, 20; Sujeito indeterminado, 20; Orago sem sujeito, 22. i Se — pronome apassivador. 24 | O que é bom saber sobre sujeito. 27 ISBN 85 08 010923 } Ordem dos termos da oragio. 27 A preposicio e 0 sujeito. 28 ‘1989 Pronomes sujeitos: omisséo ou presenca. 29 Todos 0s direitos reservados Editora Atica S.A, — Rua Bardo de Iguape, 110 Uso do pronome pessoal reto ew sia f Tel.: (PABX) 278-9322 — Caixa Postal 8656 Plural de modéstia__. 8 End, Telegréfico “Bomlivro” — S&0 Paulo | : A gente... 4. Comegando a sistematizar________33 Verbos causativos—______33 Pronomes de tratamento. 35 Sujeito composto formado por pronomes pessoais 36 Concordincia com o verbo auxiliar______37 5. Verbo ser. 39 Concordancia com o sujeito ou com 0 predicativo 39 Concordancia com o Si 39 Concordancia com o predicativo________ 40 Concordancia das expressdes é de ver, é para ver, é de reparar- 42 6. O verbo com sujeito simples__—_. 43 Concordancia no singular. 43 Concordincia no plural 44 Concordancia no singular ou no plural 46 7. O verbo com sujeito composto____48 Concordancia no plural 48 Concordancia no singular. 50 Concordancia no singular ou-no plural___ 54 8. Fim da sistematizagao. 56 Pronomes relativos que, quem como sujeitos___56 Haja vista 57 Expresso é que________________58 9. Para concluir. 59 10. Vocabulario critico. 61 a: 41. Bibliogratia comentada____3 1 Para comegar Concordancia ‘A concordancia em geral é um mecanismo sintético que expressa a associagio de elementos da frase. Ela pode ser nominal — concordancia do adjetivo com o substantivo —, ou verbal — concordancia do verbo com ° . Este fendmeno lingiiistico, entre os de cardter sintdtico, € dos mais importantes. termo concordédncia, segundo Roca-Pons, é relati- vamente adequado para esse fendmeno, pois se concordancia significa pérse ou estar de acordo em algum aspecto, as condigées em que ela se realiza deve- riam ser iguals para os termos que “concordam’. No entanto, um deles 6 0 que impde a concordancia, a que tem de submeter-se o termo menos importante. Segundo Said Ali, a concordancia no 6, como parecerd & primeira vista, uma necessidade imperiosamente ditada pela Idgica. Repetir num termo de- 1 Roca-Pons, J. Introduccién a la gramdtica. 4, ed. Barcelona, Teide, 1976. p. 335. we terminante ou informative 0 género, nimero ou pessoa jé marcados no termo determinado de que se fala, 6 antes uma redundancia 2, Por que, ento, a concordancia destaca-se entre as Preocupagées com o ensino da lingua portuguesa? Concordancia verbal: gramatica ou estilistica? Algumas regras gerais sobre concordancia verbal, objeto deste trabalho, podem ser citadas. 1, Sujeito simples com micleo no singular — verbo no singular. ict A garantia de trabalho _ direito inaliendvel do cidadao. cleo Goad A bficiéncid do ensino da lingua baseia-se no conhecimento @ uso adequado das dlferentes normas lingbeticas, 2, Sujeito simples com mticleo no plural — verbo no plural. cleo O: ites concretos do _conhecimento poy) de acordo 3. Sujeito composto de dois ou mais micleos, no singular ou no plural — verbo no plural. 2 Sqm Att, M. Gramdtica histérica da lingua portuguesa, p. 279. V. “Bibliografia comentada”. —_ Toxicologistas, icleo eritos avaliam os riscos de contaminacao da égua potdvel pelos de 15 de lixo. 4. Sujeito composto cujos nticleos se refiram a pes- s6as diferentes — verbo no plural, prevalecendo a pessoa que tiver preferéncia: a primeira prevalece sobre as de- mais, e a segunda, sobre a terceira, 2s sing. 109, Meu parceiro_e " eu ' ganhamos o Giltimo jogo de baralho. resolver adequadamente o problema. sing. iho Gemir! do mfos dads pelo bairro. ae] Eee] A concretude de cada texto, porém, exige procedi- mentos diferenciados. Nem sempre — ou quase nunca — as regras gerais sio suficientes para que 0 emissor expresse. adequadamente suas idéias. Nesse sentido, a concordancia verbal é menos uma questo de gramatica normativa que ‘As graméticas normativas, sobretudo em matéria de sintaxe, nao absorvem as variantes expressivas da lingua, dando a impressio de que todo discurso, manifestagao do cédigo lingiifstico, tem 0 objetivo de “ maneira asséptica. No entanto, ‘as exigéncias da manifestagdo psiquica e do apelo se ‘emaranham inelutavelmente em toda enunciagéo; e na linguagem falada, bem como em muitas ocasi6es da lin- guagem escrita, atenuam e até sufocam o teor informativo 8, E € na construgdo sintética que mais transparece a ex- pressividade. Acs estuda a linguagem do ponto de vista de sua expressividade. Esta, que pode se manifestar na entoacéo da frase, na conotagio dos signos, sera vista por nés do ponto de vista da sintaxe, especificamente da concordancia verbal. Queremos mostrar que a concordan- cia verbal compée o estilo, que 6 a solugio individual trazida as dificuldades encontradas Por todo trabalho de estruturagao; ele € 0 individual como lado negative das estruturas 4. O estilo, que supde escolha, depende da intengio do emissor, a qual se manifesta no discurso. Discurso 6 a lingua no ato, na execucao Individual. E, como cada individuo tem em si um ideal lingiifstico, procura ele extrair do sistema idiomético de que se serve as formas de enunciado que melhor the exprimam o gosto e o pensamen- to. Essa escolha entre os diversos meios de expressao que Ihe oferece o rico repertério de possibilidades, que 6 a lingua, denomina-se Estilo. © Fique claro que nossa preocupagio fundamental seré © texto escrito nAo-literério, revelador do comportamento lingiiistico dos falantes que dominam a norma-padrdo, ou culta. Partimos do principio de que, entre os falantes da lingua, uma minoria é produtora de textos literdrios. A grande maioria, porém, produz textos ndo-literdrios e tem idade para compé-los de acordo com os objetivos de quem escreve. Cabe, portanto, dar a todos os falantes condigdes para a manifestacdo dessa sensibilidade, © piiblico alvo deste livro traz um conhecimento dos mecanismos da lingua, que € aproveitado no nosso tra- balho. Pretendemos apenas levar o estudante produtor de textos a ver seu conhecimento ico de um ponto de ‘vista distinto, qual seja, 0 da utilizagdo desses conhe- cimentos para a expressividade, de tal modo que, conhe- cendo as tendéncias da norma-padrao, aqui enumeradas, ele seja capaz de saber quando seguir os procedimentos normalizados e quando rompé-los no seu texto. B importante a nogio de que cada texto é um texto, e de que cada um deles faculta possibilidades de combi- el do sintagma, que implicarao diferencas jade. E mais ainda: 6 de fundamental impor- tancia que 0 produtor de textos tenha claro que ele é © dono do seu texto, e que, conhecedor das possibilidades lingiisticas, tenha coragem para suplantar os referenciais da norma-padrio, quando, senhor dos seus objetivos, assim 0 desejar. Ao assumir 0 rompimento com os procedimentos mais freqiientes de concordancia verbal determinados pela norma-padrao, 0 emissor levaré em consideracdo os obje- tivos do texto, isto é, os campos onde este deve circular. Seré que devemos romper com os procedimentos da norma-padrao quando enviamos um requerimento ao dire- tor da escola? Ou quando fazemos um abaixo-assinado 10 com reivindicagées, a ser encaminhado ao prefeito da cidade? Ha que se estudar cada caso e ter algum controle sobre como 0 leitor poderé entender o texto. Em outras palavras: nao podemos sair correndo atrés do texto escrito, para explicar ao leitor como queremos que ele seja com- preendido. Essa é a grande dificuldade da modalidade escrita. Nossos discursos, atualizagdes do cédigo lingtifstico, so manifestagdes que se expressam com 0 objetivo de atrair a atencio do leitor para os pontos de vista de que estamos convencidos. Vernos na concordincia verbal um dos polos da manifestacdo da imaginago e da von- tade do emissor, embora nfo possamos aceitar como bons todos os caprichos da fantasia; ha ne- cessidade de uma certa ordem, duma razodvel mas no vamos também, em nome deste prin de reconhecer os direitos do espirito criador e a beleza sugestiva de certas liberdades &. Esta “certa ordem”, esta “razoavel disciplina”, a que alude Rodrigues Lapa, decorrem, sem dtvida, da conscientizagio do falante sobre o papel da linguagem — instrumento de dominagao e de libertagao — e do conhe- cimento pleno de todas as normas, inclusive a padrio. Ou seja, a norma-padrao existe para ser suplantada, mas seu conhecimento é absolutamente necessério. Afinal, ninguém toca Bach ao piano se ndo tiver passado antes pelo estudo das escalas musicais. Veja-se 0 exemplo da concordancia com 0 coletivo. © povo saiu as ruas. © povo sairam as ruas. © Roprioues Lara, M. Estilistica da lingua portuguesa, p. 215. V. “Bibliografia comentada”. : & 4 n A primeira frase, aceita pela gramética como “cor reta”, mostra que 0 emissor vé 0 povo como um todo indivisivel. A segunda, ao contrério, carrega a idéia de que 0 povo é constituido por numerosos individuos; dai a concordancia no plural. Como se falar, ento, em “cor- recdo”? Falemos, isto sim, em adequacdo e salientemos que 0 uso da primeira frase, que manifesta nuances de interpretacdo da realidade, seré decorréncia do conheci- mento, por parte do emissor, das variadas possibilidades de expressio. Nesse sentido € que vemos a concordancia verbal como parte da gramitica e também da estilistica. Como ensinar A gramitica normativa dita as leis da “arte de falar € escrever corretamente”. Ela tem 0 seu lugar na socie- dade, deve ser ensinada nas escolas. O que no se deve 6 normalizar cegamente todas as expressdes lingiiisticas, na tentativa comprovadamente infrutifera de uniformizar todos os falantes, em todas as situagdes. Ou seja, todas as normas lingilisticas, todos os niveis de fala ou registros devem ser conhecidos pelos falantes, que deverdo saber usé-los onde, quando e como convier. Segundo Camara Sinior, mesmo quando convém a corre¢éo de um procedimento lingiistico (porque marca desfavoravelmente o individuo do Ponto de vista de sua posi¢ao social, ou porque prejudica a clareza e a oficiéncia de sua capacidade de comunicacao, ou porque eria um cisma perturbador num uso mais geral adotado), 6 preciso saber a causa profunda desse proced mento, para poder combaté-lo na gramética normativa 7. ‘Ciara JOwior, J. M. Estrutura da lingua portuguesa. 7. ed. Petr6polis, Vozes, 1976. p. 6. 2 Para que haja bom-senso no ensino da concordancia verbal, os trés preceitos enumerados por Camara Jtinior precisam ser sempre considerados. Desse modo, estaremos fugindo da tentativa insana de enquadrar a realidade verbal, que é sempre muito mais ampla, nas quatro pare- des de um quarto sem porta e sem janela — as regras gramaticais. Ao mesmo tempo, estaremos beneficiando 95 alunos, que se sentirio mais seguros na elaboragio de seus textos. O critério gramatical tem importincia: o que nao se pode é transformé-lo na importincia tinica. No ensino da concordancia verbal nao se pode, por- tanto, deixar de evidenciar os procedimentos que a pr6- pria lingua faculta e que colaboram com o aluno na “clareza ¢ eficiéncia de sua capacidade de comunicagio”. Essas posturas estio presentes em outros campos. Para que tenhamos um ponto de vista proprio sobre a realidade que nos cerca, havemos de conhecé-la, Este processo de conhecimento implica a utilizagio de cate- gorias de andlise, a partir de nossa condigéo de reflexao critica. Assim também o ensino da lingua, sobretudo no que diz respeito & concordancia verbal, deve levar o aluno a ter um ponto de vista proprio sobre 0 uso da linguagem. Tal ponto de vista advird também do conhecimento amplo de categorias de anélise, a partir de uma reflexio critica. 6 assim se facultaré ao aluno nao possuir apenas a técnica da linguagem, mas ser capaz de usi-la na sua ampla gama de opcoes. B evidente que hé, em concordancia verbal, usos lingiifsticos to estabelecidos que no chegam a significar coercao, Por exemplo, a concordancia, em pessoa e nime- ro, do verbo com o sujeito simples (nds cantamos, eu amei etc.). Nossa preocupaco estende-se aos outros casos de concordancia verbal. 13 Discurso “objetivo” e concordancia verbal Nao vemos na chamada-linguagem técnica, ou cienti- usada para a exposicéo da ciéncia, a decantada obje- tividade que tanto se propala. Ora, 0 pesquisador é um homem como qualquer outro: pensa numa lingua dada, cujas categorias The foram introjetadas através da educagdo, que é um processo social; possui uma visio de’ mundo socialmente condicionada pela sua realidade histérica concreta — faz parte de uma nagio, de uma classe social. O conhecimento. sofre, ne- cessariamente, um condicionamento de classe e “a acdo do sujeito sobre 0 conhecimento é inevitdvel; eliminar 0 sujeito da relagdo cognitiva é suprimir esta ultima” *. Portanto, o relato cientifico “frio e objetivo” estaré carre- gado da expressividade que caracteriza 0 emissor, pois tal texto nada mais é que o resultado da. vontade do cientista, que exterioriza a sua visio da realidade. discurso “objetivo” supde sempre 0 ponto de vista acerca da objetividade de quem 0 emite, calcado no grupo a que pertence, no momento histérico no qual vive, na “verdade” que elegeu ou que Ihe foi imposta. Por isso, © estudo da sintaxe, no seu aspecto de concordancia verbal, abarca também esse campo. ‘A concordancia verbal deve ser ensinada de maneira a “no deformar ou mutilar a capacidade de uma expres- séo ampla”®, de modo a nfo esconder que nossas repre- sentages da realidade trazem em si o ponto de vista do emissor que, comunicando-as, buscaré, simultaneamente, fazer com que 0 leitor participe delas. Haverd, sim, predominincia de determinados aspec- tos nos discursos: ha discursos predominantemente inte- SScHAFF, A. Histéria e verdade. Sao Paulo, Martins Fontes, 1978. p. 287. ®CAMaRA JGNion, J. M. Contribuigdo @..., p. 71. | 4 eee ee GE lectuais — como o cientifico —, outros predominante- mente afetivos. Todos, porém, carregam uma dose de inegével subjetividade. Afinal, a propria relacdo lingua- gem—pensamento conceptual o demonstra, Essa subjeti- vidade, presente no vocabulrio, manifesta-se também na sintaxe, incluindo-se a concordancia verbal. Concordancia gramatical e concordancia ideolégica As regras gerais de concordancia verbal, de acordo com a norma-padrio, devem ser conhecidas. Afinal, so realizagdes a que o falante aspira, incluidas que esto no ideal lingiifstico da comunidade. Além disso, sdo as aconselhadas pelos graméticos em caso de diivida. No entanto, & preciso que esse conhecimento nao tenha card- ter de sufocamento da expresso. Para tanto, € necessério que se tenha consciéncia de que a Iingua é dinamica ¢ incorpora, embora lentamente na modalidade escrita, os “‘desajustes” da modalidade oral, os quais, com o tempo, sio legitimados pelos gramaticos. izages de concordancia verbal que nao se enquadram nas regras bésicas de gramatica sio chamadas concordancia ideoldgica, ou silepse, ou sinese. Trata-se da concordancia que é feita de acordo com o sentido. As mulheres encabecam o movimento por s As mulheres encabecamos 0 movimento por sal Na primeira frase 0 sujeito simples com néicleo no plural exige o verbo na terceira pessoa do plural: é a concordéncia gramatical. Na segunda, 0 mesmo sujeito tem 0 verbo na primeira pessoa do plural, indicando que © emissor se inclui entre as mulheres. Portanto, a concor- 1s dancia se faz pelo sentido; houve silepse, ou sinese: é a li assim se manifesta sobre 0 uso da concor- Estas regras dao idéia da prética da concordancia em tra- gos muito gerals. Néo se aplicam a todos os casos, °, quando aproveitéveis, néo podem ter a pretensio de vale- rem sempre com o rigor préprio das férmulas matemiticas. Teremos de fazer, portanto, 0 estudo dos casos particula- res mais importantes. Notaremos para alguns deles néo uma, mas duas concordancias que se contrariam, e que se Justificam em épocas sucessivas. Primeiro que entremos neste estudo, convém explicar o sentido do termo sinese de que freqientemente nos ut quando se diz que certo termo deve concordar com outro, tem-se em vista a forma gramatical deste termo, de referencia. Duzla, povo, embora exprimam pluralidade © multidao de s onsideram-se, por causa da forma, como nomes no singular. Hé contudo condicées fem que se despreza o critério da forma e, atendendo apenas a idéia representada pela palavra, se faz a concor- dancia com aquilo que se tem em mente. A frase assim constituida @ que, analisada segundo os meios de expres- incongruente, do os graméticos os nomes de ‘ad sensum ou, helenizando a parte explicativa, kata synesin, ou, abreviando, simplesmente synesis (em portugues, sinese). Consiste portanto a sinese fem fazer a concordancia de uma palavra nao diretamente com outra palavra, mas com a idéia que esta sugere *°, © conhecimento das manifestages da concordancia gramatical ou ideolégica — silepse, ou sinese — implica relembrarmos alguns aspectos de sintaxe. 1©Samp ALi, M. Op. cit, p. 280. a7 quando tiverem uma s6 oragio, ¢ compostos, quando tive- | Fem duas ou mais oragées. Lembretes sobre sintaxe Periodo simples Falta de ousadia provoca naufrégio geral. isolamento, os dramas da guerra e da ocupagio provo- caram uma visio mais profunda da existéncia humana. 2 As oragées formam periodos, que serio simples, Periodo composto Hé quanto tempo um g inglés, ou americano, néo | diz que os eleitos tom Oragao e i Apés meses de pessimismo, as = tele Indicios de que a economia bra cesséo de quedas e caminha para um ciclo que poderd afastar, por ora, a ameaca de recessao e 0 avango do Falar de concordancia verbal supée que se retome 7 novi de oragio. A oracio, que se constitui de sujeito | desemprego. Predicado, € um conjunto de palavras com sentido | completo. Tem geralmente como nticleo 0 verbo, claro ; i parece Sujeito e predicado Sujeito € 0 termo da oragdo sobre 0 qual se declara Ora¢ao com verbo claro | alguma coisa, ou seja, “é 0 tema da comunicagéo que Contei anedota aos amigos da cidade. | se faz no predicado” *. Alguém jé viu 0 dltimo capitulo de um livro de suspense | Rrealeade.¢ 0:ahe) re Ceca oo tire ote Ro lugar do preféicio? \ comunica a seu respeito. O predicado teré sempre um verbo, que poderd ou nio ser seu nécleo. Oracao com verbo ocuito No canto da sal No canto da sal um grande vaso. id) um grande vaso, Hoje, as mulheres manifestam-se téo ousadas [quanto os homens}. Hoje, as mulheres manifestam-se tio ousada TChnana JGsion, J. M, Filologia ¢ gramética referente a lingua homens (manifestam-se)]. uate portuguesa, 6. e, iform. ¢ aument. Rio de Tanco, J. Oren, Os predicados Predicado verbal ‘Tem um verbo como micleo e é formado pelos verbos ‘0S indiretos, intransitivos ou transitivos diretos indiretos. icleo Essa psicose de seguranca s6 Strapalhd nossa vida. (VID) | cleo | Os organizadores do encontro Gfereceram_um jantar_a Predicado nominal | Formado por um verbo de ligagio, Tem predi- cativo do sujeito como nicleo. cleo Picasso & inesgotavel. ‘pred. nomi ‘A nossa situagdo esté extremamente pedeeaeT Predicado verbo-nominal Formado por verbos de agiio — t sitivos — mais um predicativo do sujeito ou do objeto. 19 rndcleo verbal ncleo nominal ‘A vitima do seqlestro fol devolvida ‘viva__& sua far (VID e | + predicat. suj.) Essas preliminares interessam para 0 nosso estudo, pois concordancia verbal, amplo senso, nada mais ¢ que a flexdo que o verbo deve sofrer em pessoa e ntimero, de acordo com o sujeito da oragio. EB quem fala em, verbo, acaba falando em predicado. ‘Ainda mais: a classificago do sujeito também im- porta para o estudo da concordincia verbal. : Os sujeitos Sujeito simples Se formado de apenas um niicléo no singular, levard © verbo para o singular. Se, por outro lado, esse néicleo estiver no plural, para o plural ira o verbo. Esta é a regra geral. i \ 20 ng. ica _da violéncia reina em todo 0 pais, Gat Tea sil Poluente. Sujeito composto B 0 que tem dois ou mais nicleos, no singular ou no plural. Regra geral, o verbo ird sempre para o plural. cleo sing. A Taridade geolégica e a ‘bel is mara- ae ial nhenses fundamentaram sua transformagdo em parque eee) Ee Sujeito indeterminado Ocorre numa oragio quando nfo se quer ou néo se pode identificar a palavra sujeito. Leva o verbo: a) para a terceira pessoa do plural, desde que 0 contexto néo informe quem sao “eles”. Esqueceram o humor nesta comédia. Arrombaram os portées @ entraram apressadamente no recinto, ye a cenas terrivels naquela noite. Devagar se vai ao longe. AtengGo para as transformacées. a b) para a terceira pessoa do singular, acompanhado de se — indice de indeterminacao do sujeito —, 0 que corre quando o verbo é intransitivo, transitive indi- reto ou de ligagao. esté consciente, percebem-se claramente as ol Os trabalhadores da terra utam pela reforma_sgréria. E ob), te, ‘As coisas nem sempre eram fécels, quar as ere fho_de_inigrant, colsas nem sempre eram féceis, quando indo o_homem. sui. silos] ‘era filho_de_imigrante. | | Oracao sem sujeito ‘Na oragdo sem sujeito, formada com verbos impes- ‘o mticleo do predicado nao se refere a qualquer explicito ou implicito”*. A oragio deixa de ter © ‘sujeito gramatical; nesse caso, os verbos permanecem obrigatoriamente no singular. Isso ocorre: ) com verbos que indicam fenémenos da natureza, como chover, trovejar, relampejar etc. Nevou, como de costume, na catarinense Séo Joaquim, a 230 quilometros de Fl Fiquei em panico porque relampefou a noite toda. Esses verbos, se aparecerem com sentido cono- tativo, teréo concordancia normal. Choviam rios de légrimas. Nessa oracio, rios de ldgrimas passou a ser su- jeito, determinando a flexdo do verbo. © mesmo ocorre na frase abaixo, Relampejavam faiscas de seus olhos. Faiscas 6 um sujeito simples, com néicleo no plu- ral, que leva o verbo para a terceira pessoa do plural. b) com os verbos fazer, estar, haver e ir, quando indicam tempo cronolégico ou meteorolégico. Ja faz muito tempo que @ fala, faculdade humana indis- Pensavel ao exercicio da politica, veio juntar-se a audi¢ao. Estava um frio medonho em pleno verdo. Hé trés meses que ele nfo vem a escola. 46 vai para doze anos que ele desapareceu. » Pe 224. c) com © verbo haver, quando significa ocorrer, existir. Nao haveria o perigo de alguns desses biégrafos projetarem nos seus biografados as sombras de seus proprios in- conscientes? Na platéia que lotava havia quem tentasse exp! 0 empate. uudit6rio do festival de cinema, , com impecévels raciocinios, E bom atentar pata as modificagdes de estrutura. Inflagao devergo_ocorrer | debates sobre na_década passada. ea ewe] Embora haja muitas correntes_de_pensame oa wth oe io tbe a Un minima em torno de um novo projeto histérico. Embora existam multas correntes de pensamentodiveraentes Ei = ea na sociedade civil, o importante @ buscar uma unidade minima em torno de um novo projeto histérico. 4) O verbo ser, impessoal, indicando tempo meteo- rol6gico ou cronol6gico, obriga a concordancia com 0 predicativo. 4Jé 80 sete horas e ninguém chegou. predicative ‘Sao dias _quentes que nos causam um certo malestar, bredieative \ Se — pronome apassivador Jé vimos 0 se funcionando como indice de 1acdo do sujeito com verbos intransitivos, transitivos indiretos ou de ligagdo, 0 que obriga 0 verbo a perma- | necer na terceira pessoa do singular. Essa 6 apenas uma das funcdes do se. Outra fungao muito freqiiente & 0 se como particula apassivadora, ou pronome apassivador, formando a voz passiva sintética, Voz ativa: A universidade produz trabalhos relevantes. A universidade — sujeito que pratica a ago. & chamado sujeito agente, produz — verbo transitivo direto. | trabalhos relevantes — objeto direto. Alvo; recebe a agéo verbal, A presenca do objeto direto possibilita a transfor- macio dessa estrutura em voz. passiva. Isso porque, na voz passi © objeto direto seré sujeito da voz passiva. Aquele que pratica a ago seré o agente da passiva, Voz passiva: Trabalhos relevantes foram produzidos pela universidade, Trabalhos relevantes — sujeito que recebe a ago. £ cha- mado sujeito paciente. foram produzidos — verbo na voz passiva analitica, pela universidede — agente da passiva. Pratica a agéo. , © sujeito € que vai receber a aco. Portanto, 25 Hi dois tipos de voz passiva: a voz passiva analitica, acompanhado de participio passado do verbo conjugado, através do qual se pode explicitar ou nao o agente; a ica, formada com a particula se — pro- nome apassivador, ou particula apassivadora —, na qual © agente estaré sempre indeterminado. Voz passiva: Produziram-se trabalhos relevantes. Produziram-se — verbo na voz passiva sintética. trabalhos relevantes — sujeito que recebe a acdo. x — agente indeterminado. tengo para as modificagdes de estrutura. iram a érea_de lazer do jae balrro. A Grea de lazer do bairro foi construida pelos moradores. ; >) (ss Construiu-se a rea de lazer do bairro. © verbo na voz passiva sintética concorda sempre com 0 sujeito, que é 0 paciente da agio. langados pela_editora. ivros de fiegéo. x Retomando: O se, indice de indeterminacao do sujeito, que apa- rece com verbos intransitivos, transitivos indiretos ou de ligacio, levaré o verbo sempre para a terceira pessoa f a ; rceira pessi Dispde-se dos impostos para financiamento de filtros ria) [ee tna antipoluentes. Passeavase pelas_longas_avenidas. we Tad aa O se, pronome apassivador, levard 0 verbo para a terceira pessoa do singular ou do plural, de acordo com expresso. Distribuiram-se cartazes por todo o balrro. verbo pi |[ea) [oak adh a Industrializou-se a cidade de manei espa) [PA] [kan 3 O que é bom saber sobre sujeito Ordem dos termos da oragao Em portugués, a colocagio dos termos na oragio obedece seguinte ordem: primeiramente 0 sujeito ¢, depois, 0 predicado, Algumas vezes, porém, a norma pede que sujeito venha depois do verbo. Enumeramos alguns casos. 1, Nas oragbes interrogativas. Onde esté minha _caneta? suleito 2. Quando aparecer o imperativo. icito na desinéneia Faca isso, menino. (Sujeito: vocé, im verbal) 3. Quando o verbo estiver na voz passiva sintética, também chamada passiva pronominal. Matou-se 0 homem, exterminou-se a luta naquelas épocas, 4. Nas orag6es que formularem desejos, suposic&es. Guia-me, Deus! (Si : tu, Implicito na desinéncia verbal) 5. Nas oragGes intercaladas, Nunca vi nada parecido, disse o professor, ao receber a sujal noticia, 6. Nas oracées reduzidas, Tudo era feito da melhor forma, para ndo surgi Pi iO surgirem Cia] Acabada a aula, espere-me na cantina, [aa] Proclamando luiz a ilegalidade da greve, a platéia mani- viet festou seu desagrado. 7. Quando 0 sujeito for uma oragdo subordinada. Convém que nos preparemos melhor para a Constituinte. Ree As oragSes sem sujeito e as oragdes com sujeito inde- terminado também se iniciam com verbo. a) Oracéio sem sujeito (verbos impessoais). Havia ternura nos olhos dela, b) Oracao com sujeito indeterminado, Vive-se sem seguranca nesta terra, A preposicao e o sujeito E preciso cuidado, na modalidade escrita, com 0 uso das contragées das preposi¢des de e em com os pronomes retos ele(s), ela(s) de terceira pessoa, J4 perguntel e este livro néo 6 dele. No momento de ele dar a resposta, houve um ruido que me Impediu de ouvtlo. Na segunda frase, nao € possivel a contracdo, uma vez que o pronome ele sujeito do verbo ouvir, e em portugués nao ha sujeito preposicionado. Neste caso, a preposigao se relaciona com o infinitivo e néo com o pronome: momento de dar. Sem divida em desuso, a norma-padrao pede esta construgao: Nao insistimos em ele ficar, mas em nos ajudar. Neste caso, a preposigio se relaciona com o verbo (em ficar) @ nfo com 0 pronome reto sujeito ele. ‘Assim como € preciso cuidado no uso das contra- gdes das preposicdes com os pronomes retos, 0 mesmo se faz necessério nas construgGes que se utilizam das con- tragdes das preposicdes com os artigos. E hora de @ onga beber Sgua. (hora de beber) “Em vista de @ linguagem constituir um canal para a inte- ragéo de grupos ou classes, para o conhecimento ¢ a modificago das classes socials, 6 um instrumento de dominacao, de sujeicdo ou de rebelido, um ‘lugar’ no qual se efetuam as relagdes entre os homens.” (Nestor Garcia Pronomes sujeitos: omiss&o ou presenga Na modalidade escrita da norma-padrio, os prono- mes sujeitos séo normalmente omitidos. A propria desi- néncia verbal faz a indicagdo de pessoa. Relvindicamos novos programas comunitérios de satide ¢ de edugagéo. (Sujelto: nds) 30. Em alguns casos, porém, haverd a presenga do pro- nome sujeito. Isto pode ocorrer ou por necessidade ou por énfase. Vejamos, Em primeiro lugar, quando temos a mesma desinén- cia verbal para a primeira ¢ terceira pessoas e 0 contexto nao possibilita que se desfaca a ambigilidade, 0 pronome sujeito ter que estar presente. Disse que fosse 20 jardim. la disse que eu fosse ao jardim Eu disse que ela fosse ao jardim. Como se vé, a primeira frase € ambigua. Colocados os pronomes nas duas outras frases, seus significados, distintos, se clareiam. © mesmo ocorre nas frases abaixo, Dizia que tinha ido ao escritério. Eu dizia que ela tinka ido 20 escritéri Ela dizia que eu tinha ido a0 escritério. Também usamos 0 pronome sujeito na modalidade escrita da norma-padrao quando queremos realgar 0 su- jeito. ‘Nos vivernos com medo. “Ele atribui & auséncia de um servigo de vigilancia epide- miolégica 0 fato de certos venenos ainda ndo terem sido publicamente responsabilizados pelos danos que causam & satide pablica.” (Randau Marques) Além da simples presenca do pronome, que jé é enfatica, existem outras opcdes para se realgar 0 sujeito: © uso de palavras como mesmo ou prdprio ou a expressio invariével é que. Eu mesmo assentel os tijolos. Ele 6 que nao fala mesmo. 'Nés préprios construimos as casas. Ela mesma adquiriu todo 0 mater at Uso do pronome pessoal reto eu © uso do pronome pessoal reto de primeira pessoa do singular eu sofre resttigdes na nossa lingua. Seu uso excessivo traz, em geral, a idéia de um falante pernéstico, egocéntrico. E bom que 0 usemos criteriosamente. Assim, quando o predicado de uma oracao fizer uma declaragio favordvel ao sujeito, 0 pronome eu apareceré em siltimo lugar na enumeracao. Pedro, Marla ¢ eu obtivemos as primeiras colocagées. Ela e eu fomos cumprimentados pela nossa conduta. Se, ao contrério, a declaraciio contida no predicado manifesta aspecto desfavoravel, desabonador, ou implica responsabilidade, 0 pronome eu inicia a série. Eu, Pedro @ Marla foros os cltimos colocados. Eu e ele recebemos 0 aviso prévio. ‘A inadequagio do uso do pronome ew se manifesta também na redagdo de requerimentos. Neste caso, é pre- ferivel que nos tratemos por terceira pessoa. Ana Dirce do Amaral, aluna do quarto ano desta Faculdade, solicita expedicao de seu Histérico Escolar. © uso do pronome eu, antecedendo o nome do requerente, dé ao texto menos uma idéia de requerimento, de solicitagio, e mais uma idéia de exigéncia. Plural de modéstia © uso do plural de modéstia no lugar de ew vem a0 encontro das observagGes que fizemos anteriormente. No lugar da famosa frase O Estado sou eu, de indiscutivel 32. ee eee eee autoritarismo, mais reveladoras de um espirito de parti- cipagdo serio as construcdes abaixo. Chegamos a este cargo gragas a confianga em nés depo- sitada por todos, Consideramos que os problemas naclonais devem ser discutidos por toda a sociedade civil. Observe que o uso do plural de modéstia permite que os leitores se sintam coparticipantes do enunciado, conquistando-se a simpatia para o que vai ser dito. E preciso lembrar que se o plural de modéstia for usado com o verbo ser, o predicativo permanecerd no singular, Estamos agradecida pelo convite que nos fol enviado. [ie Ficamos comovido com a dignidade com que fomos =e] recebido_em sua A gente Na linguagem coloquial, mesmo na sua modalidade esctita, a expresso @ gente pode ser usada no lugar de eu ou de nds. O verbo estard sempre na terceira pessoa do singular. A gente nao gostou do filme. — Onde vocés estiveram ontem & noite? — A gente fol ao teatro. Ou, como diz Chico Buarque de Holanda: “Tem dias que 2 gente se sente ‘como quem partiu ou morreu." Comeg¢ando a sistematizar Verbos causativos Os verbos causativos possi obliquo apareca como sujeito. lam que o pronome Mandei que os alunos refletissem mais sobre 0 texto lido. Temos ai duas oracdes: Mandei, oracao principal, que os alunos refletissem mais sobre 0 texto lido, oracao subordinada substantiva objetiva direta, em que os alunos & sujeito de refletissem. Essa estrutura pode se manifestar de outra forma. Mandel-os refletir mais sobre o texto lido. Temos, entio, Mandei-os como oragéo principal © os refletir mais sobre 0 texto lido como oracao subor nada substantiva objetiva direta, reduzida de infinitivo. Nesse caso, 0 pronome os esté para o infinitivo refletir, assim como os alunos, na primeira estrutura, esté para refletissem. Funciona, portanto, como sujeito do verbo refletir. Consideramos, como alguns graméticos, que o a pronome os funciona também como objeto direto do ver- bo mandar. Chama-se causative, ou factitivo, “a forma verbal que exprime 0 fato de que o sujeito do verbo causa a realizagio da ago, sem realizé-la com suas prdprias mios” ou, como diz Camara Jinior, “so verbos tran- sitivos que exprimem um processo em que o ser objeto € 0 agente sob influéncia dominante do ser sujeito” ®, Sao auxiliares causativos os verbos deixar, mandar, fazer e sinénimos. O interesse com relagio ao verbo causativo no estudo da concordancia verbal prende-se a0 fato de que, nesse caso, o infinitivo nao é flexionado, ainda que © sujeito esteja no plural. O mesmo ocorre com os verbos sensitivos como ver, ouvir, olhar, sentir, perceber ¢ sinénimos. Deixa as aguas rolar. Deixa-as rolar. Deixai vir a mim as criancinhas. Delxai-as vir a mim, Vi 08 policiais caminhar em diregao & crianca, Vios caminhar em direcéo & crianga. Como se vé, nao € apenas o pronome obliquo que nos interessa, Também o substantivo — objeto do verbo da oracao principal e sujeito da subordinada —, ainda que esteja no plural, leva o infinitivo ao singular. Emocionel-me muito: sent! as gotas escorrer pelos dedos. © cidadao via os érgdos de seguranca desrespeltar cada vez mais seus direitos. 4 Dusors, J. et al. Op. cit. p. 103. 2Chwand Jonion, J. M. Filolocia ¢ gramdtica..., p. 102. 35 Pronomes de tratamento Pronomes de tratamento so palavras ou expressdes que denotam hierarquia social. Vocé, usado para pessoas com quem temos intimidade; 0 senhor, a senhora, para pessoas a quem nos dirigimos com respeito; Vossa Senho- ria, usado para pessoas de ceriménia, entre outros. Todos os pronomes de tratamento levam o verbo para a terceira pessoa — do singular ou do plural —, fazendo-se a concordincia com a categoria atribuida & pessoa a quem nos dirigimos: Senhoria, Exceléncia, Alteza etc, Por esse motivo, todos os pronomes pessoais ou possessivos também permanecem na terceira pessoa — o(s), a (s), the(s), seu(s), sua(s). Usamos Vossa(s) Senhoria(s) (V. 8.*/V. S.#*) para funciondrios graduados e oficiais até coronel. Vossa(s) Exceléncia(s) (V. Ex.*/V. Exs#) 6 0 tratamento adequado para o presidente da Repéblica, mi- nistros, governadores, senadores, deputados, altas patentes militares, altas autoridades em geral. Para reis ¢ imperadores reservamos Vossa(s) Majes- tade(s) (V. M./VV. MM.) ¢ para principes ¢ duques, Vossa(s) Alteza(s), (V. A./VV. AA.) Papa é Vossa Santidade (V. S.), 08 cardeais sio Vossa(s) Eminéncia(s) (V. Em.t/V. Em.*), os bispos e arcebispos sio Vossa(s) Exceléncia(s) Reverendissi- ma(s) (V. Ex. Rev.™/V. Ex." Rev."*), abades ¢ supe- tiores de convento sio Vossa(s) Paternidade(s) (V. P./ /VV. PP.) ¢ os sacerdotes em geral sio Vossa(s) Reve- rendissima(s) (V. Rev."*/V. Rev"), ‘Aos reitores de universidades reserva-se Vossa(s) Magnificéncia(s) (V. Mag.*/V. Mag"). fo composto formado por pronomes Pessoais Quando © sujeito composto for formado por pro- nomes pessoais, temos que considerar a prevaléncia de uma pessoa sobre a outra, Essa prevaléncia é que deter- minaré a pessoa para a qual ira o verbo da oracao. Assim, se houver primeira, segunda e terceira pessoas, 0 verbo iré para a primeira do plural; se houver segunda € terceira pessoas, o verbo iré para a segunda do plural, embora 0 desuso de vés esteja Ievando o verbo para a terceira do plural; havendo apenas terceiras pessoas, 0 verbo ir para a terceira do plural. sa Ne ele_fizemos uma aposta maluca. partistes sem dospedida, ee] Tu partiram sem despedida. ia ea ae] tsersceale aun vi ne ssc Eu, 0 locutor e o entrevistador 10s derrotados. Gane] (ET sae a) GRE] Quando os componentes do sujeito composto cujos niicleos forem pronomes pessoais vierem ligados por nem ou por ou, o verbo ira para o plural para a pessoa que tiver prevaléncia sobre as demais, Ou_ela_ou_eu_faremos 0 trabalho. Egg] a] Nem_eu_nem_tu sonabetnas sevice Tea) Rasa] Ou_tu_ou 880 08 culpados. Eeseg] Besa aay Ou_tu_ou sois os culpados. [Estee] | BE sind] ero] Concordancia com o verbo auxiliar 1. Na locugdo verbal, 0 verbo auxiliar concorda com © sujeito. Os alunos ndo podem chegar atrasados. As prescrigdes médicas devem ser _seguidas com rigor. Ea) 2. Os verbos poder e dever, seguidos de inf comportam duas interpretagdes. A primeira, consideran- do-os verbos auxiliares, indica que a flexo se far de acordo com 0 sujeito. 08 _culpados. fer A segunda interpretagdo considera castigar os culpa- dos como sujeito do verbo poder. Como se trata de sujeito oracional, 0 verbo permanece na terceira pessoa do gular. Portanto, as duas estruturas exemplificadas abaixo so adequadas. Devem-se_respeitar os_mais_velhos. [se sina| 3. Quando o verbo principal da locucdo verbal for impessoal, o auxiliar também nao seré flexionado. Pode haver dividas sobre esta matéria. verbal 4. Quando 0 verbo parecer vier junto a um infini- tivo, podemos consideré-lo locugdo verbal e, desse modo, a sua flexdo se daré de acordo com o sujeito. As lutas verbais, as guerras facials e as manchetes sen— sacionalistas parecem chamar a atengéo dos telespecta- B dores. As maos pintadas por Portinari parecem transmitir uma forga teimosa e constante, apesar de tu ‘Também aceita outra forma. As lutas verbais, as guerras faciais e as manchetes sen- sacionalistas [parece] chamarem a atengio dos teles- pectadores. ‘As mios pintadas por Portinari [parece] transmitirem uma forga teimosa e constante, apesar de tudo. Nos dois exemplos acima, parece é uma oracio principal, permanecendo o verbo na terceira pessoa do singular por ter como sujeito uma oragio subordinada substantiva reduzida de infinitivo. Verbo ser Concordancia com o sujeito ou com o predicativo Quando 0 verbo ser aparecer entre dois nomes de mimeros diferentes, a concordéncia poder dar-se no sin- gular ou no plural, sendo preferivel o plural. Sua atitude eee baie vestide te rotalhos ‘A mulher sempre tem no minimo duas jornadas de trabalho: ad uas wanes: uma coisa sé“suas ocupagées profissionais e outra zz Lae a if suas odipagbes como donedecasa. Concordancia com o sujeito 1. © sujeito formado por expressio numérica consi- derada como um todo indivisivel leva o verbo ao singular. Quarenta anos 6 uma bela idade. Cingienta quilos é © peso minimo para sua altura. 2, Se o miicleo do sujeito for nome de pessoa ou pronome pessoal, a concordancia se faré com o sujeito, ainda que 0 predicativo seja de mimero diferente. Na adolescéncia, José {67 os tormentos da mae, Na matu- ridade, Jo8é @ os irméos sdo a alegria dos pais. iés eram a mais viva manifestagéo do entuslasmo da platéia. 3. Nas oragdes interrogativas, iniciadas pelos pro- nomes que, quem, o que, a concordincia se fard com 0 sujeito posposto ao verbo. — Que sdo escolas literérias? A classe no sabe dizer que séo escblas literérias. ae ———_—, Ninguém me respondeu quem erain aqueles rapazes, Quem 60 respchsével por este jornal? Concordanci Sera preferivel a concordancia com o predicativo nas seguintes realizagées: com o predicativo 1. Se os pronomes demonstrativos isto, isso, aquilo, © (= aquilo) ou o pronome indefinido tudo, sujeitos, compuserem a ora¢éo com um predicativo no plural. Tudo era esperangas nas pracas do Brasil, em 1984, © [que mais me agradava] eréim suas gemtilezas, ——— Isto sd0 pergufitas que se facam? 2. Quando o sujeito for formado por palavra que tenha sentido coletivo ou partitivo. © resto erém novidades sem importancia. © mats foram discutsdes indtels. ‘A maior parte erém pobres. ‘A maioria eréim intelSttuals acomodados & sua “neutrali- dade". 3, Nas oracdes, impessoais, quando 0 verbo ser indi- car tempo no sentido meteorol6gico ou cronolégico. Eram tardes quentes de veréo. séo cinco © meia. Ja éfam teze horas. Hoje so 25.de agosto. Se a palavra dia for o predicativo, a regra seré a mesma; s6 que, sendo predicativo no singular, 0 verbo ficaré também no singular. Hoje dia 25 de agosto. Quando no predicativo aparecer a expresso perto de, 0 verbo poderé ficar no singular. Era perto de duas horas. oor. Erdim perto de duas horas, 4, Quando o predicativo for um pronome pessoal. Na hora de exercitar a democracia, ele bradou: o chefe sdu éu. Os responsdveis pela vitéria somos nds. 5. Quando, embora o sujeito seja nome de pessoa ou pronome pessoal no singular, 0 predicativo no plural nomear partes do corpo da pessoa referida no sujeito. (© menino eram dez dedos répidos que deslizavam sobre 0 plano. (© homem sé0 duas mos que constroem a histéria. 6. Quando 0 predicative for o pronome demons- trativo 0. [Atragdes é7a] que néo faltava na felra. [0s discursos dos candidatos éra 8] que todos esperavam na festa, 7. Quando © verbo ser mais 0 seu predicativo for- marem as expresses é muito, é pouco, é mais de, é menos de, é tanto, especificando prego, peso, quantidade e me- dida. Duas horas ”potico tempo para fazer esta prova. Cinco quilos é"midito peso para esta crianga carregar. Cingdenta quilometros &mtis que a distancia prevista. Duzentos mil cruzeiros & multo dinheiro por essa roupa. 8. Quando 0 sujeito for formado pelas expresses um € outro, nem um, nem outro. Um e outro sé escritores da América Lat _— Nom um, nem outro sé0 culpades pelo fracasso. Concordancia das expressées 6 de ver, 6 para ver, é de reparar Essas expressées formadas pelo verbo ser, antepostas a substantive no plural, permanecem no singular. Sao frases simplificadas a partir de £ coisa de ver, E coisa Para ver, E coisa de reparar. E de ver os vestidos com que ela desfilava nas aulas. £ de reparar os olhares que ela lanca ao Fabiano. No entanto, se essas expresses estiverem pospostas @ substantivo no plural, a concordancia sera feita nor- malmente. Os vestidos [com que desfilava nas aulas] eram de ver. Os olhares [que ela langa ao Fabiano] séo de reparar. O verbo com sujeito simples Concordancia no singular Esta 6 a regra geral: sujeito simples com niicleo no singular leva o verbo para o singular. Vamos enumerar alguns outros casos, selecionados entre 0s que podem causar dévidas, em que a concordincia verbal sera feita, de preferéncia, com 0 verbo no singular, : 1. Quando o sujeito for um pronome interrogativo (qual) ow pronome indefinido (algun, nenhum) no sin- gular, seguido das expresses de nds, de vds, dentre nds, dentre vés. Algum de nés foi 0 culpado. Qual de nés ird & Lua? Qual dentre vos me acusard? Nenhum de nés terd a coragem necesséria, 2. Quando o sujeito designar um homem ou uma mulher por alguma caracteristica relevante, seja de seus atos, seja de seu aspecto. Aquele pés-de-vento fugiu sem que o vissemos. Aquela méos-finas revelava-se na agressividade da fala. 44 sum, 2 ,SE RO suieito aparecerem as expresses mais de , menos de um, o verbo concordaré com o substantivo — claro ou oculto — que compuser a expressio, Mais de um px ial correu na hora do acidente. risticas senhor As péginas do ciramente.estragade menos de uma podia ser aproveitada. rogedes 4. Nome de obra ou de I ji ‘ lugar que seja substantiv no plural, mas cujo uso se da sem artigo. : Cravinhos é uma cidade limpa. Contos mineiros € uma publicagao da Editora Atica. 5. Quando o sujeito for um substantivo coletivo, O povo reivindica liberdades. © cardume fora criado, desenvolvido , desen © culdadi - resse puramente decorativo. i ae Concordancia no plural __ Regra geral, a concordancia no plural ocorre se o niicleo do sujeito simples estiver no plural. Os casos abaixo relacionados apontam, outras vezes, para a cordancia com o sentido do sujeito, " 1, Quando © sujeito denotar quantidade aproxima- da, utilizando-se para isso das expressées cerca de, mais de, menos de, passante de etc. : “Cerca de vinte cidadios, presos ‘1 ldos, presos pelos érgios de segu: Tanga na época da posse do general Gei foram localizedos." (Brasil: nunca mais) Menos de dez pessoas votaram em nome de trezentas. Mais de duzentos titulos sobre a histéri Hatters histéria recente do pats ‘nunca mais Mais de uma familia, em pleno século XX, tem caracte- 45 2. Quando a expresso mais de wm se associar a verbos com idéia de reciprocidade. Mais de um orador se criticaram. i Mais de um popular se abracaram, entusiasticamente. 3. Na oracdo que tiver como sujeito um pronome errogativo no plural (quais, quantos) ou um pronome indefinido no plural (alguns, muitos, varios, poucos), se- guido das expresses de nds, de vés, dentre nds, dentre | 6s, 0 verbo iré para a terceira pessoa do plural ou con- cordaré com 0 pronome pessoal da expressio. Quais de vés nao reconheceram uma expressao de ternura nos olhos de uma crianga abandonada? Naquela noite, alguns de nés cometemos injusticas, sem que percebéssemos. Muitos de nés sabiam da violéncia que marcava a nacdo na década anterior. { 4, Quando o artigo no plural compuser nome de obra ou lugar formado de substantivo também no plural. As pupilas do senhor reitor sao de leitura amena. Os Estados Unidos fardo valer 0 novo acordo de paz? 5. Quando ao néicleo do sujeito se juntarem dois ‘ou mais substantivos que possam dar idéia de desdobra~ mento do substantivo. ‘A chama do fogao e do forno apagaram-ce repentinamente. ‘A casa de meus pais e de meus avés continuam intactas. i 6. Quando 0 sujeito, formado pelo substantivo i mimero, ou assemelhados, vier seguido de expresso cujo nécleo seja um substantivo no plural. : Grande nimero de metalirgicos participaram da assembléia, i Pequena quantidade de peixes sobrevivem naquele rio. Concordancia no singular ou no plural A tendéncia de uso na norma-padrio nao possibilita enquadrar no singular ou no plural alguns casos, sendo a distribuigdo de freqtiéncia, dessas formas, mais ou me- nos assemelhada. E verdade que a decisio do uso de uma ou outra forma vai depender do sentido que se quer dar & mensagem. Enumeramos alguns casos, 1. Quando o sujeito se compuser de expressdo parti- tiva (parte de, uma porgdo de, o grosso de, metade de, 4 maioria de, grande parte de, a maior parte de), seguida de substantivo ou pronome no plural. A maioria das empresas poluidoras esté concentrada em ‘Sao Paulo. A maioria das empresas poluldoras estéo concentradas em S&o Paulo. Parte das reivindicagdes fo! atendida. Parte das reivindicagdes foram atendidas. Como estao os seus livros? Grande parte dos meus desa- arecou na década passada, Como estdo os seus livros? Grande parte dos meus desa- pareceram na década passada, 2. Se © sujeito, formado por pronome indefinido, vier acompanhado de complemento no plural. Nenhum dos dois foi a fonte dos fatos: contentaram-se ‘com as verses. Nenhum dos dois foram a fonte dos fatos: contentaram-se com as versées. 3. Quando no sujeito aparecer um coletivo cuja significago no seja especifica, acompanhada de subs- tantivo no plural que serve para determinar seu signifi- cado: bando de (andorinhas, salteadores, ciganos, crian- a7 gas etc.); junta de (médicos, bois etc.); grupo de (jovens, estudantes, bandidos etc.). Esse tipo de coletivo € muito usado, substituindo, muitas vezes, o especifico, que é desconhecido pelo falante. Um bando de andorinhas voltou a aparecer na regido. Um bando de andorinhas voltaram a aparecer na regiéo. © grupo de estudantes vaiava o discurso. © grupo de estudantes valavam o discurso. 4. Quando o niicleo do sujeito se referir a porcen- tagem, seguido de substantivo no singular, a concordancia serd feita, indiferentemente, no singular ou no plural. Como todos sabem, 13% do orgamento da Uniéo deve destinar-se & Educacéo. i. Como todos sabem, 13% do orgamento da Unido devem destinar-se & Educagao. No entanto, se o substantivo estiver no plural, para © plural iré 0 verbo. Segundo dentincias, 80% dos moradores deste municipio 840 analfabetos, embora fossem eleitores hé muito tempo. O verbo com sujeito composto Concordancia no plural Nada mais “normal”: se temos um sujeito formado Por virios niicleos, o verbo ira mesmo para o plural. Esta é a regra geral. : Os casos que enumeramos abaixo foram escolhidos Por trazerem, em geral, divida aos que elaboram textos, em virtude de se contraporem a casos semelhantes em que se pede o verbo no singular. 1. Quando os componentes do sujeito forem ligados Por com, que equivale 4 conjuncéo e. Isto é nenhum dos componentes do sujeito se sobressai com relacdo aos demais; todos realizam 7 igualmente 0 que o predi enuncia, dae © proprietério rural com seu preposto manifestaram-se contra a reforma agrétia, Airton Senna com seu carro ocupam as manchetes dos jornais. 2. Se os componentes do sujeito vierem ligados por PL ; ou ou por nem ¢ a declaragao contida no predicado puder ser atribuida a todos os micleos. Em certas ocasies, um grito ou um suspiro fundo séo suficientes ‘para causar espanto geral. Nem seu gesto de pretensa solidariedade com os colegas, nem sua fala mansa Jevaram a classe a respeité-lo. 3. Quando infinitivos que expressam idéias opostas aparecerem como niicleos do sujeito. Punir @ premiar caracterizam condutas usadas para treina- mento de animais. Comprar e vender so agées permanentes do comércio. 4. Quando © sujeito que vier depois do verbo for formado por nomes de pessoas. Com a seca, partiram José e Maria, Nos fins dos anos 50, participaram da defesa da Escola Fernando de Azevedo e Anisio Teixeira, entre 5. No uso das expresses correlativas ndo sé . mas também, ndo sé... como também, tanto... quanto etc. que aparecerem ligando os componentes do sujeito. Evidencia-se a expresso correlativa pela auséncia de virgula. Nao s6 catélicos como também protestantes participaram da pesquisa que resultou no livro Brasil: nunca mais. Tanto 0 homem quanto a mulher devem lutar pela melho- ria das condigdes de vida 6. Se os componentes do sujeito inclufrem a expres- s4o um e outro, ainda que aparega como pronome ad- vo. 50. Um @ outro partiram as pressas. Uma e outra rusga levaram o casal & separacéo. Concordancia no singular Essa manifestacdo de aparente contradigiio — sujeito composto, verbo no singular — respalda-se, em geral, na concordincia com o sentido expresso. Selecionamos alguns casos, incluindo os que, com sentido diferente, apareceram em “Concordancia no plural”, 1. Quando no sujeito aparecer a preposigio com unindo os componentes, dentre os quais se queira realcar © primeiro, a concordancia serd feita com este. Muitos graméticos, neste caso, preferem considerar como adjunto adverbial de companhia a expresso iniciada por com, © que implica 0 uso da virgula, Assim considerando, teremos apenas um micleo e o sujeito sera simples. Por- tanto, a concordancia deverd ser feita com o niicleo — singular ou plural. Os presidentes das repiblicas de varios paises latino- americanos, com suas comitivas, chegaram para acom- panhar a ceriménia de posse de seu colega. © presidente da Reptblica, com sua comitiva, chegou para inaugurar a obra. 2. Quando o iiltimo componente do sujeito enume- ado com 0 uso da particula nem for um substantivo cujo significado abrange um ou varios dos componentes enu- merados. Esse substantivo estard precedido de pronome adjetivo indefinido (algum, outro, nenhum, todo, qualquer etc.) Nem Drummond, nem Cabre escreveu a poesia méxima: truindo. em outro poeta maior ela esté sempre se cons- Nem Jodo, nem Ana, nem qualquer aluno conseguiu resol- ver este exercicio. 3. Quando © sujeito, cujos componentes estiverem separados pela particula nem, terminar por um pronome indefinido (alguém, ninguém, outrem). Nem eu, nem vocé, nem ninguém poderé entender este episédio. Nem vocé nem alguém que passasse por al do acidente teria tido condigées de evité-lo. no momento 4, Quando os componentes do sujeito vierem ligados por ou ou por nem e carregarem idéia de alternancia ou de exclusio de um ou de varios deles, fazendo com que um prevaleca sobre os demais. Isto é, 0 emissor quer que © predicado se refira a um s6 dos micleos, excluindo-se 0s outros. “A classe dominante ou 0 especialista a seu servigo pro- duz arte para 0 povo com o objetivo de ‘transmitir’ a0 proletariado e as camadas médias a ideologia burguesa © proporcionar lucros aos donos dos meios de difuséo.” (Nestor Garcia Canclini) Nem a revelagéo, nem a deniincia dos fatos pode carac- terizar 0 propalado revanchismo. O ou poderd trazer também idéia de equivaléncia. Um homem, ou uma mulher, enquanto cidadéo, 6 um depositério dos direitos. Uma crianga, ou um velho, enquanto ser humano, tem direito a uma vida digna. 5. Quando os varios niicleos do sujeito forem cons- tituidos por substantivos no singular ligando os compo- nentes por nem, tendo-se por objetivo mostrar que a acéo do predicado se repete para cada componente do sujeito. Nem o horror, nem a tristeza daquela cena me afestava de meus propésitos. Nem a briga por creches, nem a reivindicagao de melhores salérios se exclui da luta por melhores condigées de vida. 6. Quando o niicleo do sujeito for as expressbes um ou outro, nem um, nem outro, quet aparega como pro- nome substantive ou pronome adjetivo. © politico, 0 sacerdote, 0 homem, nem um, nem outro pode oferecer a liberdade & mulher. Isso deve ser con- quistado por ela. Um ou outro deveria dar conta do objeto desaparecido. Nem um, nem outro rapaz tinha a intengéo de ofender. 7. Quando os componentes do sujeito forem ligados por conjunco comparativa (como, assim como, bem como, tanto quanto). Neste caso, separa-se a expressio comparativa por virgulas. © cometa de Halley, tanto quanto o Sol, ndo constitui ameaga a Terra. A razéo, assim como 0 sentimento, indica a necessidade de uma nova ordem social. ’ / 8. Quando os componentes do sujeito se resumirem em um pronome indefinido (tudo, nada, ninguém, alguém, cada um, cada qual), ainda que este inicie a enumeragdo dos nticleos. A discriminagdo & mulher, 0 exterminio do indio © sua cultura, 0 preconceito racial velado ou néo, tudo isso entra na pauta da luta pela libertagéo dos homens. Tudo, escravidéo, exploracdo, espoliacdo, prostituigio € Incompativel com a dignidade humana. 9. Quando tivermos oragées desenvolvidas ou reduzidas. mais, quer sejam 33 Encaminhar os pobres para escolas profissionalizantes, remeter cada aluno para escolas de acordo com a renda de sua familia s6 faz perpetuar a diviséo de classes socials. E necessério que néo sejamos ingénuos diante do pasado, que saibamos usélo adequadamente na construgéo do futuro. 10. Quando os niicleos do sujeito estiverem no infi- nitivo, desde que nao traduzam idéias opostas. Chegar e ficar era 0, maior desejo dos exilados. Pensar @ agit manifesta a condigéo humana, 11, Quando 0s componentes do sujeito manifestarem uma enumeragéo gradativa, o verbo ficaré no singular, dando a idéia de que a atencdo do leitor deverd concen- trar-se no ultimo termo. Susto, medo e panico nos envolveu naquela noite. Um ruido, um som, uma voz era motivo de medo na escuridao. 12. Quando no sujeito for usada uma série de subs- tantivos que tenham a funcio de delimitar 0 sentido do primeiro deles, fazendo ressaltar 0 que o emissor consi- derou como sema principal. ‘A tixa e 0 ruldo ensurdecia os presentes. © segundo termo (ruido) esclarece o sentido que se destacou como principal no campo semiintico do pri- meiro (rixa). Ou seja, reforga o sema que se quis des- tacar. A légrima e a tristeza compunha a cena. Neste caso, do campo semintico de Idgrima desta- cou-se o sema tristeza. 13. Quando os miicleos do sujeito, embora sejam palavras diferentes, designarem uma s6 pessoa ou coisa, isto é quando essas palavras puderem ser entendidas como partes de um mesmo conjunto: forem varios semas de um mesmo campo seméntico, expressarem uma idéia Gnica, um todo uno, ou seja, operarem conjuntamente para pro- duzit um efeito. ‘Ameaca e chantagem 6 0 que fazem sempre. “Bahia, terra da felicidade, onde a espontaneidade e a entrega de sua gente & uma caracteristica e 0 desejo de festejar 6 @ sua fissure." (Almir das Areias) 14, Quando os componentes do sujeito, embora liga- dos pela conjungio e, designarem um ser iinico, um todo indivisivel. Neste caso, prefere-se que haja omissio do artigo no segundo termo. A cultura e experiéncia do homem do campo néo tem merecido destaque. O caminho e exemplo de José de Alencar foi retomado pelo Modernismo. Concordancia no singular ou no plural Trata-se de opcdo apenas aparente, pois a escolha de uma ou outra concordancia é determinada pelo texto. Ou seja, 0 sentido deste delimita as possibilidades de expresso que a lingua oferece. 1. Quando os componentes do sujeito vierem depois do verbo. Se o primeiro componente estiver no singular, © verbo iré ou para o singular, concordando com o mais préximo, ou para o plural, ocorrendo a concordancia com a adigdo de todos os componentes. Eternizou-se a voz e a interpretagéo de Elis Regina. Eternizaram-se a voz e a interpretagéo de Elis Regina. | \ 55 Redigiu-se 0 manifesto com a exposicéo dos fatos e 0 oficio para encaminhé-lo ao diretor. Redigiram-se 0 manifesto com a exposigéo dos fatos ¢ 0 oficio para encaminhélo ao diretor. Se o primeiro termo estiver no plural, 0 verbo s6 poderd ir para o plural. FicarSo registrados na histéria os lances, os dribles e as jogadas das pernas tortas do anjo Garrincha. Na linguagem, lutam permanentemente os elementos tra- dicionais © 0$ elementos inovadores. 2. Quando 0s componentes do sujeito forem ligados por’ ou, indicando retificagdo, a concordancia seré feta com o mais proximo. O autor ou os autores néo puderam ser consagrados por ‘se tratar de obra apécrifa. Os autores ou 0 autor nfo péde ser consagrado por se tratar de obra apécrifa. | Pronomes relativos que, quem como sujeitos 1. O verbo da oracdo subordinada adjetiva em que est4 0 pronome relativo que tem sua flexdo determinada pelo antecedente deste, que esté na otacao principal. Eu, [ate adie! a minha partida] para ver a pega, acabei 1néo podendo ir a0 teatro Na década de 70, as pessofs [que se manifestaram contra a violagdo dos direitos humenos}, sofreram sangSes. 2. Se o antecedente for constitufdo pela expressio um dos, seguida ou nao de substantivo no plural, pre- fere-se que 0 verbo da oracdo subordinada adjetiva fique no plural O sindico go-pr6dio foi um Bos [que mals falorem] Ce menos agifam.] Se eccean ea Este 6 um dos hontens [que construiram a historia da jertago da humanidade]. eerie ‘A mulher colombiana foi uma das [que mais testemunhou a acdo da Igreja na organizagéo das mulheres]. ST 3. Quando © sujeito da oragdo subordinada adjetiva for 0 pronome relativo quem, prefere-se que o verbo fique na terceira pessoa do singular, seja qual for o seu antecedente. Fomos nds [quém esceveu este documento] ——_—— Fomos néS [quem escrévemos este documento]. Na reunigo, sou ef Tquth vai levanter os problem: Haja vista 1. A expresso haja vista ficara sempre no singular quando puder ser substituida por por exemplo. $6 com o fim da censura a impronsa pudemos ter’conhe- ‘cimento dos fatos graves ocorridos nas Ultimas décadas, Haja vista as dentncias sobre violagies dos direitos hu- manos estampadas nos_jornais. 2. © verbo da expresso poderé variar; neste caso, ado sera tenham em vista, vejam. © emprego dos tempos verbais ¢ muitas vezes uma relagdo livre; hajam vista o do presente como futuro, 0 presente histérico, 0 pretérito imperfelto em lugar do perfeito.” (Camara Jinior) 3. Se, no entanto, a expressdo vier seguida da pre- posicao a, 0 verbo haver nao poderd ser flexionado. Aqui ela equivale a atente-se para, Hala vista aos autores angolanos: suas produgdes lite- rérlas resgatam a dignidade da cultura africana. 4, Reservamos este item para ressaltar que a palavra vista nfo sofre variacao. A consciéncia de que 0 homem constréi sua prépria histé- ria desponta com freqiéncia: haje vista as lutas de liber- tagdo de varios paises. cia de que o homem constréi sua prépria desponta com frequéncia: hajam vista as lutes de libertagao de vérios paises. ‘A consciénela de que o homem constréi sua propria historia desponta com freqléncia: haja vista as lutas de libertagao de varios paises. | Expresséo é que A expressio é que, que serve como realce, é invariavel quando subseqiiente a0 sujeito. ! Nés € que sofremos as conseqiéncias da poluigéo. 2. Essa expresso poderd variar, no entanto, quando anteceder 0 sujeito, Foram eles que me disseram que nada mais se podia fazer. Somos nés que sofremos as conseqiiéncias da: poluicao. 9 Para concluir A concordancia verbal encontra na escrita as me- Ihores condigdes para fazer valer sua tradic¢ao, pois que, tal como se pratica, sob as vistas da gramética, 6 um dos caracteres dominante que, ‘como camada linglifstica superior, a impée aos individuos que nela queiram penetrar, tendo de submeter-se a0 seu estilo de vida. E a lingua esorita representou papel rel vante na fixacdo desses caracteres, ndo sé espelhando uma estilizacéo dos meios expressivos de toda a gente, como difundindo essa estilizaco pela escola, que se incumbiu de transformé-la em dogma t ‘A nossa proposta vai no sentido de que, primeiramen- te, todos os brasileiros tenham acesso a escola e que todas as escolas tenham um nivel de ensino que desenvolva a criticidade. Dentro desse quadro, consideramos funda- mental que a escola ensine nao s6 as tendéncias da norma- -padrao, mas que, a partir destas, necessariamente conhe- cidas, ela se preocupe também em mostrar a riqueza de 1GaLvio, Jesus Belo. “Bibliografia comentada” i 6. possibilidades expressivas presentes na concordancia ver- bal. Visualizemos isso no exemplo classico a seguir, idade paterna e materna deve basear-se no respeito hos. ‘A autoridade paterna e materna devem basear-se no respeito aos filhos. E necessério que os alutios saibam que A autoridade Paterna e materna, da primeira frase, é sujeito simples com niicleo no singular, pedindo verbo no singular (deve basear-se). Mas & necessério também que fique claro aos alunos que seré outra a expressividade da segunda frase: 6 como se 0 sujeito se desdobrasse (A autoridade paterna € a autoridade materna), levando 0 verbo para o plural (devem basear-se) e expressando melhor que cada um — pai e mae — possui sua autoridade. © conhecimento das regras ditadas pela gramética para a concordancia verbal é direito de todos — néo 86, mas também. Para o ensino critico, € necessério que se incentive 0 aluno nao s6 a conhecé-las, mas também a suplanté-las, tomando como tinico Ii clareza e efi- ciéncia de sua capacidade de-comunicacao”. Isso sé acon- tecerd se o falante tiver realmente possibilidade de escolha entre varios meios de expresso. A cfetivago desse proceso de ensino da lingua supe respeito A expressio do aluno e exige conheci- mento, por parte do professor, do que aquele quis ¢x- pressar. $6 0 didlogo professor—aluno, tendo por base © texto produzido, se constituir’ em procedimento efi- ciente. Portanto, antes de assinalar como “errada” uma concordancia verbal, melhor ser4 discutir sua pertinéncia com 0 autor do texto. Mas para que possamos chegar a esses procedimentos, € necesséria uma nova praxis educacional. E.. 10 Vocabulario critico distingdo entre a estilistica e a gramética est assim em que a primeira considera a linguagem afetiva, ao passo que a segunda analisa a linguagem intelectual” (Camara Jénior). Gramética: amplo senso, & 0 estudo da linguagem, nas suas modalidades oral ¢ escrita. — descritiva: estuda a fonologia, a morfologia e a sintaxe, descrevendo os fonemas e suas combinag&es, os morfemas ¢ sua estruturagio nos vocdbulos ¢ as regras pelas quais se combinam as unidades signi- ficativas nas frases. historica: 0 estudo do “desenvolvimento de um idioma desde a remota fase dos primeiros documentos escritos até os nossos dias (Said Ali). — normativa: a mais tradicional; estabelece as re- gras que norteiam a disciplina gramatical de uma lin- gua, isto é, 0 conjunto de prescricBes que regem o uso falado e escrito da lingua. B ensinada na escola € a divulgacdo de suas regras constitui a atividade dos graméticos. Na modalidade escrita, seu foro pri- vilegiado baseia-se na escrita dos chamados grandes escritores de determinada época. Norma: conjunto das atividades linglifsticas que consti- tuem uso comum numa determinada comunidade. Existe uma grande variedade de normas lingiisticas que se distinguem por fatores como classe social e regido geo- gréfica. Em geral elas séo manifestagdes de “como se diz” ¢ implicam 0 conceito de adequagdo e nao de erro. — -padrao, ou culta: conjunto de habitos lingiiisti- cos que fazem parte do acervo da classe dominante do pais. Prende-se ao “como se deve dizer”, o que leva ao conceito de erro. Constitui um dos instru- mentos de dominacao. 11 Bibliografia comentada Concordéncia verbal, considerada como parte da gramética e da estilistica, passa a ter bibliografia ampla, ou seja, as bibliografias destas compéem a base necesséria para seu estudo, Assim, selecionamos alguns titulos que podem servir como impulso inicial. Amana JOntor, J. M, Contribui¢do a estilistica portu- guesa. 3. ed. rev. Rio de Janeiro, Ao Livro Técnico; Brasilia, INL, 1977. Como toda a obra do autor, livro de leitura indispen- sdvel. Para o estudo da concordancia sugerimos, prin: cipalmente, o capitulo I — “O conceito da estilisti- ca” —, que, a partir do estudo da linguagem, traca um perfil do estilo ¢ da estilistica, chegando ao método estilistico. Também o capitulo II — “Estilistica sinté- tica” —, que aborda especificamente as relagdes da sintaxe com o estilo, discutindo a questéo da gramética, do ensino da lingua e aplicando 0 critério estilistico em discussio sobre a flexdo do infinitivo e a colocagéo pronominal, Ressaltamos, para o objetivo do nosso trabalho, o item “Légica sintética ¢ estilo” CELSO CUNHA. Gramdtica do portugués contempordneo. 5. ed. rev, Belo Horizonte, Bernardo Alvares, 1975. Consideramos ser esta uma das melhores graméticas disponiveis, ndo apenas pela sistematizago dos fatos da lingua, mas, principalmente, pela incorporagao das expresses em uso no cotidiano, 0 que a faz perder © ranco que muitas vezes assusta os que se dispéem ao estudo da gramética. Os aspectos de concordancia, além de tratados no respectivo t6pico, distribuem-se a0 Iongo da obra em notas oportunas. Gatvio,- Jesus Belo. Lingua e expressdo artis respectivamente “A concordancia”, “A concordancia ideolégica” e “A concordincia afetiva”, Ropricues Lapa, M. Estilistica da lingua portuguesa, 8. ed. rev. e acresc. Coimbra, Coimbra Ed., 1975. A concordancia é estudada no capitulo 12. O autor expe seu ponto de vista, com abundancia de exemplos, procurando explicar cada significado diferenciado que as diversas concordancias facultam. Saw ALI, M. Gramatica histérica da lingua portuguesa. 7. ed. melh. e aument. Rio de Janeiro, Académica; Sao Paulo, Melhoramentos, 1971. Outro autor cuja obra precisa ser conhecida pelos que interessam em estudar a lingua. Na obra selecionada, licamos os itens “Linguagem afetiva”, “Concordai cia em geral” e “Casos particulares de concordanci Trata-se de um pormenorizado estudo de concordancia, do ponto de vista da sintaxe do portugués histérico, com abundancia de exemplos. Impress acabamesto por 'W. Roth & Cla Lida ®@

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