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PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA


SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA
SEGUNDA VARA FEDERAL

Processo n. 2005.82.00.005501-0
Ação Penal Pública
Autor: MPF
Ré: JOSEFA MARIA DOS SANTOS

S E N T E N Ç A1

DIREITO PENAL. TENTATIVA DE ESTELIONATO CONTRA O


INSS (CP, art. 171, §3º c/c art. 14, II).
II). Utilização de
documento falsificado. Ausência de prova de que a
acusada, pessoa simples e analfabeta, teria participado
da realização da fraude e de que teria consciência da
falsidade do documento. Ausência de prova que exclua
a condição de agricultora. O preenchimento dos
requisitos para o benefício previdenciário requerido ao
INSS excluiria (a) a incidência em erro por parte do
INSS, (b) o proveito ilícito por parte do agente e (c) o
prejuízo da suposta vítima. Ausência de prova quanto
ao preenchimento dos elementos objetivos do tipo do
estelionato. Improcedência da pretensão punitiva.

RELATÓRIO

Tratam os presentes autos de AÇÃO PENAL PÚBLICA promovida pelo


MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL contra JOSEFA MARIA DOS SANTOS, já
devidamente qualificada, dando-a a peça denunciativa como incursa no art. 171,
§3º, c/c o art. 14, II, ambos do Código Penal brasileiro.

Segundo a denúncia (f. 03-6), JOSEFA MARIA DOS SANTOS


providenciou documento falso (ficha de associado do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Ingá/PB) para comprovação de tempo de trabalho na
atividade rural e a condição de segurado especial perante o INSS para,
posteriormente, obter a concessão de benefício previdenciário de aposentadoria
por idade rural. Ciente de que não preencheria os requisitos para a obtenção do
benefício, a acusada teria utilizado meio fraudulento para a obtenção do
benefício, fazendo incidir em erro o INSS. O crime não teria sido consumado por
circunstâncias alheias à sua vontade.

1
Sentença tipo D, cf. Res. CJF n. 535/2006.
ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU
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O MPF afirma que o documento que aparece a f. 251 (IPL) teria sido
falsificado, conforme consta do Laudo de Exame Documentoscópico (f. 250/4 –
IPL). A falsidade teria consistido na alteração da data de início da atividade rural
e no acréscimo dos nomes de Severino Alves Pessoa e da Fazenda São Jorge.
Além disso, os documentos apresentados pela acusada em ação judicial para a
obtenção do benefício e declarações suas foram contraditórias com relação aos
períodos e lugares trabalhados.

Fora requerido o depoimento de três testemunhas.

Denúncia recebida em 10/10/2008 (f. 08).

Citada (f. 24), a acusada deixou transcorrer o prazo para defesa (f.
27), motivo pelo qual designei-lhe uma defensora dativa (f. 28), que apresentou
defesa (f. 25-7), alegando, em síntese, que a acusada não poderia ter praticado o
fato narrado da denúncia, vez que, além de ser analfabeta, sempre trabalhou na
atividade rural, com exceção de um período em que trabalhara como empregada
doméstica na cidade do Rio de Janeiro. Pediu, assim, a improcedência da
pretensão punitiva.

Inquirição da testemunha OSCAR MENDONÇA DE ARAÚJO (f. 68-9).


Inquirição da testemunha SEVERINO ALVES PESSOA (f. 88). Inquirição da
testemunha MARIA MARTA COELHO VIEIRA DE MELO (f. 105).

Interrogatório da acusada JOSEFA MARIA DOS SANTOS (f. 106).

As partes não requereram diligências (f. 109).

Em alegações finais, o MPF (f. 113-9) sustentou ter ficado


comprovada a imputação delitiva, pedindo a condenação da ré. A defesa (f. 138-
41), de sua parte, sustentou que a acusada, pessoa simples e analfabeta, dirigiu-
se ao Sindicato para a adoção de providências legítimas para a obtenção de seu
benefício, em momento algum tendo agido com má-fé. Salientou ainda a defesa
que não há nos autos prova suficiente para a condenação, pedindo assim a
absolvição da acusada.

Autos conclusos para julgamento.

É O BREVE RELATÓRIO.

DECIDO.

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU


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FUNDAMENTAÇÃO
FUNDAMENTAÇÃO

Não havendo preliminares ou prejudiciais a resolver, passo ao


exame do mérito da causa.

O MPF denunciou a acusada JOSEFA MARIA DOS SANTOS pela


suposta conduta de haver falsificado uma ficha de sindicato rural da cidade de
Ingá/PB para a obtenção de um benefício de aposentadoria como segurada
especial, o que não ocorreu por circunstâncias alheias à vontade da agente. Sua
conduta teria se enquadrado no tipo do art. 171, §3º, c/c o art. 14, II, ambos do
Código Penal.

Consta do inquérito policial LAUDO DE EXAME DOCUMENTOSCÓPICO


(ALTERAÇÃO DOCUMENTAL), tendo-se apurado em tal exame que a ficha de
associado da acusada, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ingá/PB, teria
sido objeto de rasura (a troca do datilotipo “2” pelo datilotipo “6” onde consta o
ano de início da atividade rural como sendo 1996) e de acréscimo (precisamente
as expressões “O SR SEVERINO ALVES PESSOA” e “FAZ. SÃO JORGE”).

Quanto à prova testemunhal, observei o seguinte:

A testemunha OSCAR MENDONÇA DE ARAÚJO afirmou ter


conhecimento de que a acusada havia trabalhado como agricultora (em suas
palavras, a acusada “botou roçado”) em terras de propriedade do depoente por
dois anos, entre 1990 e 1992. Sua propriedade rural tem o nome de Sítio
Redenção. Registrou ainda que a acusada pediu ao depoente o documento
referente à terra e, como ela havia realmente trabalhado ali, seu pedido foi
atendido. Por fim, disse que não teve conhecimento de quaisquer fraudes da
acusada para obtenção de benefício previdenciário.

A testemunha SEVERINO ALVES PESSOA afirmou que é proprietária


da Fazenda São Jorge, também conhecida como Camaleões, e que a acusada ali
trabalhou há dezessete pelo período de dois anos apenas, não cinco, nem dez
anos. Disse não conhecer Oscar Mendonça de Araújo, nem ter ouvido falar no
Sítio Redenção.

A testemunha MARIA MARTA COELHO VIEIRA DE MELO afirmou ser


perita da policia federal, tendo elaborado e assinado o laudo documentoscópico
que instrui os autos do inquérito policial federal anexo ao presente feito. Afirmou
que a perícia incidiu sobre uma ficha do Sindicato de Trabalhadores Rurais de

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Ingá/PB, tendo constatado que referido documento apresentava rasura, com


raspagem de datilotipo e sobreposição da escrita. Além disso, a julgar pela falta
de alinhamento da escrita, teria havido acréscimo de informações em momento
anterior, precisamente com relação à Fazenda São Jorge. Por fim, disse a
testemunha que constataram, pelos processos técnicos de exame, que a
modificação teria sido do número 2 (dois) para o número 6 (seis) quanto ao ano
de início da atividade rural (1996).

Finalmente, em seu interrogatório, a acusada JOSEFA MARIA DOS


SANTOS negou a acusação. Disse que quando quis se aposentar, dirigiu-se ao
Sindicato para adotar as providências e o Sindicato passou a exigir vários
documentos, pedindo que a interrogada lhes trouxesse “vários papéis”, sendo
que a secretária, filha do ex-presidente do Sindicato (“Seu Biuzinho”), foi a
pessoa que organizou todos os documentos. Afirmou que não sabe ler nem
escrever, nunca tendo estudado, aprendendo apenas a rabiscar o próprio nome.
Salientou que sempre trabalhou no roçado. Embora não tenha se recordado de
quanto tempo fazia que era sindicalizada, afirmou que já fazia nove anos que
começara a pagar as contribuições para o Sindicato, todos os meses, no valor
inicial de dois ou três reais, tendo sido posteriormente aumentado para cinco
reais. Esclareceu que recebe uma pensão por morte de um companheiro que
teve quando viveu na cidade do Rio de Janeiro, que trabalhava como porteiro de
um prédio.

Aos esclarecimentos solicitados pelo MPF, afirmou que pegou os


papéis no Sindicato e foi pedir as assinaturas aos proprietários com os
documentos já preenchidos no Sindicato. Os proprietários que procurou para
assinar as declarações foram Oscar Mendonça (Juarez Távora/PB) e Severino
Inácio Pessoa (Ingá/PB), tendo levado os documentos já preenchidos, os quais
foram assinados. Após isso, devolveu os documentos ao sindicato para dar
entrada no pedido de aposentadoria, sendo que apenas um outro dia voltou ao
Sindicato para pegar o conjunto de documentos que levou ao INSS. Não viu
rasura no documento porque não sabe ler, nunca tendo estudado. Trabalhou
cinco anos nas propriedades de cada uma das pessoas acima apontadas, entre
1991 e 2001. Aos esclarecimentos solicitados pela defesa, afirmou que não pediu
à filha do ex-presidente do sindicato que colocasse qualquer data em seu
documento de filiação, tendo simplesmente ido ao Sindicato para pegar seus
documentos.

O que primeiro me chamou a atenção com relação à alegada


falsificação da ficha de associado da acusada foi a troca dos datilotipos, tal como
consta do laudo e como afirmado pela testemunha que atuou na realização do
exame pericial. Como marco inicial da prestação do trabalho rural constaria o

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ano de 1992 e a acusada – segundo sustenta o MPF – teria “falsificado” o


documento para dele fazer constar o ano de 1996, reduzindo de nove para cinco
anos seu tempo de trabalho rural. Ainda assim, essa “falsificação” teria sido
praticada para fins de obtenção de um benefício previdenciário, de modo a
conferir à ré um tempo de trabalho rural que ela não teria.

Ora, parece-me não fazer o menor sentido em se falsificar um


documento para reduzir o tempo de trabalho rural e utilizar esse mesmo
documento para a obtenção de um benefício previdenciário de aposentadoria
como segurada especial. Se era intenção utilizar o documento para facilitar-lhe a
prova do preenchimento dos requisitos, lógico seria que se aumentasse o tempo
de serviço, não que se o reduzisse.

Também não me parece crível que tenha exatamente a acusada –


pessoa cuja simplicidade e condição de analfabeta fora facilmente constatada
pelo contato pessoal em audiência (vide interrogatório gravado em meio
audiovisual), aspecto corroborado por todos os elementos de prova que contaram
com a participação direta da acusada, seja no curso do processo, seja antes, na
apuração inquisitorial – tenha sido a responsável pela idealização e execução da
fraude descrita pelo órgão do Ministério Público.

A acusada afirmou que, quando completou a idade para se


aposentar, dirigiu-se ao Sindicato de Trabalhadores Rurais para procurar seus
direitos. Disse ainda que o Sindicato lhe determinou procurar a papelada
necessária, bem como colher as assinaturas nas declarações de atividade rural.
Trata-se de um procedimento bastante comum em se tratando de segurados
especiais, com bem revela a atuação judicial à frente dos juizados especiais
federais no Estado da Paraíba. Finalmente, disse a acusada que entregou os
papéis por si colhidos ao Sindicato e, um ou mais dias depois, lá voltou para
pegá-los já organizados, prontos para serem protocolizados com um
requerimento de aposentadoria.

Contudo, o documento alegadamente falsificado não é daqueles que


são colhidos, completados, preenchidos ou elaborados pela acusada.

Seu preenchimento, em verdade, é feito pelo Sindicato, através de


funcionários seus. Sem embargo disso, o MPF acusa justamente aquela que,
dizendo-se agricultora e revelando-se analfabeta, utilizou o documento perante o
INSS e, posteriormente, perante o próprio poder judiciário para, segundo afirmou,
procurar seus direitos.

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A acusada afirma que sempre trabalhou na agricultura, com exceção


de um período em que trabalhou como empregada doméstica no Rio de Janeiro.
Corrobora sua afirmação ao dizer que recebe uma pensão por morte de um
salário mínimo de um companheiro com quem morou no Rio de Janeiro. Os
depoimentos das duas primeiras testemunhas ouvidas a requerimento do MPF,
OSCAR MENDONÇA e SEVERINO PESSOA, corroboraram a afirmação da acusada
de que teria efetivamente trabalhado na agricultura.

A fraude utilizada para enganar o INSS teria que incidir, portanto,


sobre o tempo da prestação do serviço, de modo a aumentá-lo para preencher o
período de carência exigido pela Lei n. 8213/91. Ocorre que, como vimos acima,
a “falsidade” consistiu em uma rasura e um acréscimo: a rasura reduziu o tempo
de trabalho agrícola e o acréscimo simplesmente registrou o local de prestação
do trabalho agrícola.

Diante de tudo isso, penso que não haja realmente prova nos autos
suficientes para fundamentar uma sentença condenatória, pois não vejo como
acreditar que justamente a acusada tenha praticado a fraude descrita pelo MPF,
tenha idealizado a prática criminosa ou tenha dela participado de forma
consciente.

Fico a me perguntar se, malgrado suas declarações no sentido de


que não sabia ler ou escrever, de que fora ao Sindicato procurar seus direitos, de
que o Sindicato lhe determinara juntar os documentos e de que o próprio
Sindicato teria preparado esses documentos, por que não acreditar que teria sido
exatamente do Sindicato (por meio de algum de seus servidores) a autoria da
fraude que ora se imputa à acusada? Considerando o acervo probatório existente
nos autos, penso que isso sim seria crível, não o contrário.

A autoria do crime, portanto, não encontra provas suficientes para


embasar um julgamento de procedência do pedido com a condenação da ré.

Mas não é só. A própria alegação de estar comprovada a


materialidade do crime não está livre de reparo.

Na ação penal n. 2007.82.00.6496-1 (MPF v. JUBERLÂNDIA FARIAS


DA SILVA), dizia o MPF que a acusada teria praticado estelionato contra o INSS
por haver empregado fraude na obtenção indevida de um benefício de salário-
maternidade. Por entender que fora demonstrada nos autos do processo criminal
a condição de agricultora da ré, julguei improcedente a pretensão punitiva em
decisão assim ementada:

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DIREITO PENAL. ESTELIONATO CONTRA O INSS (CP, art. 171,


§3º). Utilização de documentos falsos. Não configuração.
Demonstrada na instrução a condição de agricultora da
acusada, o documento que registre essa condição, por
registrar a verdade, não pode ser considerado como
ideologicamente falso. A comprovação do preenchimento dos
requisitos para o benefício previdenciário requerido (salário
maternidade) exclui (a) a incidência em erro por parte do
INSS, (b) o proveito ilícito por parte do agente e (c) o prejuízo
da suposta vítima. Provada a inexistência do fato criminoso.
Julgamento de improcedência da pretensão punitiva.
Absolvição.

Para descrever a linha de raciocínio utilizada no embasamento das


conclusões dessa decisão, transcrevo abaixo uma passagem da respectiva
fundamentação, que entendo adequada ao caso em julgamento:

Já no que concerne ao outro documento supostamente


falso – a ficha de aluno – penso que siga na mesma linha.
Partindo-se do pressuposto de que a acusada é trabalhadora
da agricultura e que utilizou o documento para comprovar
essa condição perante o INSS a fim de obter um benefício a si
devido justamente em função da condição de agricultora (os
outros requisitos não foram questionados), pergunto:

a) Onde estaria o “erro” em que teria incidido o INSS e


que configuraria o estelionato, uma vez que a autora era
realmente agricultora, como dizia o documento?

b) Se o benefício de salário maternidade era realmente


devido à autora, onde estaria o proveito ilícito auferido pelo
agente, e que configuraria o estelionato?

c) Finalmente, se era o INSS quem deveria


legitimamente pagar dito benefício à acusada, onde estaria o
prejuízo, também configurador do delito de estelionato?

Essas questões me conduzem à conclusão de que crime


algum houve nesse caso, tendo sido efetivamente
demonstrada a partir da instrução processual penal a
ausência do próprio fato criminoso alegado na denúncia.
Tendo ficado provada a condição de agricultora da acusada,

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nem se pode afirmar que ela “enganou” o INSS, nem que


auferiu proveito “indevido” e muito menos que causou
“prejuízo” aos cofres públicos.

Em suma, não estão presentes as elementares do fato


típico definido no art. 171, §3º, do Código Penal brasileiro, o
que enseja, nos termos do art. 386, I, do Código de Processo
Penal, o julgamento de improcedência do pedido com a
absolvição da acusada.

O crime de estelionato depende não apenas da realização de uma


fraude, considerada essa como a prática de uma falsidade. O estelionato
depende da conduta de se fazer a vítima incidir em erro, sofrendo um prejuízo
em razão desse erro que corresponda a um proveito indevido por parte do autor.

No caso dos autos, penso não ter ficado devidamente provado que a
alegada fraude – e não estou dizendo acreditar que tenha sido praticada pela
acusada – teria feito o INSS incidir em erro, pois não acredito que tenha sido
completamente afastada a condição de agricultora da acusada. Se concedido o
benefício, penso também que poderia não ter havido proveito indevido por parte
da acusada, exatamente porque, uma vez comprovada sua condição de
agricultora (e sendo verdadeira essa condição), teria sido justa a concessão.

Em suma, não estariam preenchidos os elementos do crime do


estelionato, e não se poderia pretender a punição da acusada pelo crime de
falso, mesmo que se admitisse como sendo sua a autoria. Simples: uma vez que
o suposto falso teria sido praticado exclusivamente para a obtenção do benefício,
exaurindo seu potencial socialmente lesivo nesse pretenso estelionato, ficaria por
ele absorvido, aplicando-se aqui o princípio da consunção, e precisamente o
enunciado n. 17 da Súmula de Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.

Por todos esses fundamentos, entendendo não haver prova plena da


autoria e da materialidade que embasem uma sentença condenatória, é de se
julgar improcedente a pretensão punitiva estatal.

DISPOSITIVO

Diante do exposto, com fundamento no art. 386, VII, do Código de


Processo Penal, julgo IMPROCEDENTE a pretensão punitiva para absolver a
acusada JOSEFA MARIA DOS SANTOS.

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU


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Custas “ex lege”.

Transitada em julgado a presente sentença, certifique-se, preencha-


se e remeta-se o boletim individual da acusada ao IBGE, dê-se baixa da
distribuição e arquivem-se os autos.

Sentença publicada em mãos do diretor de secretaria da vara.


Registre-se no sistema informatizado. Intimem-se a acusada e seu defensor.
Cientifique-se o MPF.

João Pessoa, 10 de maio de 2010.

Juiz federal ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU


Substituto da segunda vara federal (SJPB)

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU


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