Вы находитесь на странице: 1из 10
HOMICIDIO POR NEGLIGENCIA NEGLIGENCIA GROSSEIRA RECURSO PENAL, NEGADO PROVIMENTO 1 - Esto constituidos os elementos tipicos do crime de homicidio por negligéncia grosseira se 0 agente assumir um comportamento comissivo ou omissivo, violando dever objectivo ¢ subjectivo de cuidado e que a essa conduta possa ser imputada a verificagio do resultado morte, sendo o elemento agravante resultado de um comportamento especialmente leviano on desenidado. I] ~ Tal acontece no caso dos autos em que se verificou a morte, por afogamento, de uma crianga, quando praticava canoagem, em virtude de os responstveis da instituigio de ensino que organizara tal actividade mio terem tomado os cuidados minimos exigiveis para evitar fal acontecimento, Acordam, em conferéncia, na 9. Seccio Criminal de Lisboa: I - RELATORIO No processo de instrugio n.’ 71/98.8MALSB do 3° Juizo do Tribunal Judicial de Almada, 8 arguidos, (); (8); (L) ¢ (D), inconformados com o despacho de fs. 496 a 508, que os pronunciou pela pratica de um crime de homicidio por negligéncia grosseira, p.p. pelo arc 187 n° 2 do C.Penal, vém, nos termos dos artigos 399° ¢ 400° a contrario, ambos do Codigo de Processo Penal, dele interpor o presente recurso, concluindo na sua motivagio pela no promincia dos arguidos, com 0 consequente arquivamento dos aulos, o que fazer de acordo com 0 teor das (transcritas ) conclusdes: 1.0 Douto despacho de prontincia ora recorrido deve ser revogado ¢ proceso arquivado porquanto os ora recorrentes nao incorreram na pratica do crime p, ¢ p. pelo art.°137, n. °2do CP, 2.Com efeito, ¢ contariamente ao lavrado no despacho recorrido, os ora recorrentes procederam com o cuidado devido que é cxigido quando se pratica a actividade de canoagem junto a praia de Olho de Boi, no rio Tejo; 3, Para tanto os alunos s6 embarcavam nas canoas apés verificadas as condigées de. navegabilidade no rio; se soubessem nadar, € envergando os adequados coletes de salvagio 698 quais cram colocados sob a supervisio dos professores; 4.Contrariamente ao inscrito no douto despacho de prontincia estes procedimentos eram os que, atendendo as circunstancias € ao local onde decorria a actividade de canoagem, os necessirios suficientes para minimizar os riscos dessa actividade. 5.Niio hé norma legal, nem regra de prudéncia que aconselhasse a colocagio de uma cembarcagio de apoio, quando se desenvolve aquela actividade com duas canoas junto A. praia de Olho de Boi. G.A comunicagio da a legalmente exigivel, nem se justificava naquelas idade de canoagem A Capitania do Porto de Lisboa nio é reunstincias; 7-Por assim ser, 0 douto despacho recortido viola a al. b) do n.°8, do art."3" do Decreto-lei °399/95 de 9 de Dezembro c 0 "9", n.°4°, al. b) do Decreto-ei n."96/97 de 24 de Abril, 8. Ha, também, erro sobre a apreciagdo da matéria de facto, porque contrariamente a0 inscrito no despacho de prontincia, os professores, ora arguidos, verificaram se as condigdes de navegabilidade eram adequadas para a pritica de canoagem; 0.0 Acidente que vitimou a malograda (T) aconteceu por causa de forga maior ¢, por isso, ‘08 arguidos mio poderiam ter contrariado, impedido ou previsto 0 evento, que ¢ absolutamente estranho as suas vontades; : 10,Nao foi por qualquer conduta omissiva por parte dos arguides que aconteceu a morte da infeliz. (1); 1 L.Foi em virtude de estar atracado junto ao cais do Clube Nautico, na praia de Olho de Boi, um batelio, que conjugado com a maré de enchente arrastou a canoa onde seguia a (1) para debaixo da proa do batelio e, apesar desta ter envergado colete de salvagio e, ainda, (er nadado, foi "sugada’ para debaixo dessa embarcagio; T2.Nos seis anos em que aconteceu a actividade de canoagem, complementar A limpeza da praia de Olho de Boi, nunca tinha estado atracado naquele cais uma embarcagzo daquelas caractetisticas, sendo absolutamente imprevisivel que a conjugagio da corrente de ‘enchente como o formato do batelio desse origem a succio da infeliz. (1s 13 Apés a queda na agua dos trés menores que seguiam na canoa foram adoptados todos 5 procedimentos de socorro que 0 caso impunha ¢ s6 por motivo de fora maior é que nao se conseguiu salvar a (1); T.Pace ao que antecede por erro de dircito e dos pressupostos de facto, 0 douto despacho de promincia deve ser revogado por violacio do art. 317°, n'2 do CP. © M. P,, respondendo ao recurso, acompanhou a motivagio apresentada pelos recorrentes, pugnando nas suas conclusdes pela revogago do despacho recorrido. (a nio pronineia dos arguidos ). — Mls. 547 a 560 Neste Tribunal a Ex.ma Procuradora ® geral ‘Adjunta, contrariamente, emitiu parecer no sentido da improcedéncia do recurso. Cumprido o art’ 417 n° 2 do G.P.P., 0s recorrentes em resposta ~ fls. 583 a 593 ~ pugnaram pela revogacio do despacho recorrido, Foram colhidos os vistos leguis. 1 FUNDAMENTAGAO. Sendo o Ambito do recurso delimitado pelas conclusdes do recorrente — art’so 403 ¢ 412 do CPP ¢, por todos, Ao. STY de 24.03.1999, CJ VII — 1° 247 ) a vinica questao a decidir 6 da suliciéneia ¢ / ov insuficiéncia da prova indiciaria para sujeigio (ou nao ) dos recorridos a julgamento. {A Sra. Juiz de Instrugio fundamentou da seguinte forma a sua decisio de prontincia ( a0 que agora interessa ): © assistente, no requerimento de abertura da instrugio, pede a promineia dos arguidos, em primeira mio, pela pritica de um erime de exposigio ou abandono, p. € p. pelo art 138", n- 1, al. b) en 3, al b) do CP. ‘Vejamos, Este tipo legal de crime s6 se preenche com dolo, em alguma das suas modalidades, conforme art, 14° do C.P.. Este dolo tem evidentemente que abranger a criagio de perigo para a vida da vitima, bem como a auséncia de capacidade para se defender por parte da vitima. Ora, no caso dos autos, € manifesto que de toda a prova produzida em inquérito ¢ em instrucao resulta, sem margcm para quaisquer dividas, que nenhum dos arguidos agiu com. dolo. Na verdade, da prova produzida resulta que os arguidos nao chegaram sequer a representar a realizagio do facto, confiaram que tudo correria bem, como jé tinha acontecido noutras situagdes idénticas, nao tendo sido, em momento algum, equacionada a possibilidade da ocorréncia da morte de alguma das criangas que participaram na actividade, “Todavia, j& quanto ao crime de homicidio por negligéncia afigura-se-nos que a conclusio doverd ser diversa. Nos termos do art. 137°, n? 1 do C.P. * Quem matar outra pessoa por negligencia é punido com pena de prisio até 3 anos ou com pena de multa’. On? 2 do mesmo art, prescreve que " Em caso de negligéncia grosseira, 0 agente cera punido com pena de prisio alé 5 anos", © art. 15° do C.P. estipula o seguinte * Age com negligéncia quem, por nao proceder com © cuidado a que segundo as circunstincias esti obrigado ¢ de que € capaz: 2) representar como possivel a realizagio de um facto que preenche um tipo de crime mas actuar sem se conformar com essa realizagao, ou b) nao chegar sequer a representar a possibilidade de realizagio do facto’. Este preceito dlistinguc as duas formas de negligéncia admitidas pela lei penal - negligéncia consciente « inconsciente No que se refere & primeira forma, por extremamente proxima da figura do dolo eventual, ‘© agente admite, prevé como possivel a realizagio do resultado tipico, mas confia, podendo © devendo nao confiar, em que o mesmo se no realiza, niio se conforma, porém, com a realizagio desse resultado (elemento distintivo do dolo eventual). Na negliggneia inconsciente, nao ha sequer representagio por parte do agente da possibilidade de realizagio do facto, sendo certo que nestes casos, como refere Maia Gonealves, Cédigo Penal Anotado, 1995, p234, ° (..) a lei para evitar a realizacio dos resultados tipicos antijuridicos, proibe a pritica das condutas idéneas para os produzirem, querendo que cles sejam representados pelo agente, ou permite tais condutas, mas rodeadas dos necessérios cuidados, para que os resultados se nao produzam. Quando estes atidados so acatados, 0 risco esbate-se; na omissio dos mesmos cuidados se radica 0 fundamento da punigao de negligéncia inconsciente’. Em ambas as modalidades se exige a capacidade do agente para proceder com os cuidados que, segundo as circunstancias, cstariam indiciados, Figueiredo Dias, Pressupostos de Punigao Jomadas de Direito Criminal, p. 71, refere a este propésito que " Ha hoje uma grande unanimidade de pontos de vista (..) em que nio esté aqui em causa o indiscernivel poder de agir de outra maneira na situagio, e portanto uma tentativa de resposta A questio do conereto livre-arbitrio; mas também em que nao scré licito ficarse por uma resposta meramente objectiva, que fosse buscar para padrao a capacidade normal ou do homem meédio. Esta aqui verdadeiramente ‘em causa um critério subjectivo ¢ concreto, ow individualizante, que deve partir do que seria razoavelmente de esperar de um homem com as qualidades do agente. Se for de esperar dele que respondesse as exigéncias do cuidado objectivamente imposto ¢ devido mas 56 nessas condigées - € que, em concreto, se deverd afirmar o contetido da culpa proprio da negligéncia ¢ fundamentar, assim a respectiva punigio’, Para efeitos do disposto no n° 2 do art. 137° do C.P. deve entender-se por negligéncia sgrosscira, a negligéncia qualificada, em que a culpa é agravada pelo elevado grau de imprevisio ou de falta dos cuidados mais clementares a ter na situagio. Como jf referimos a negligéncia a omissio de um dever de cuidado, adequado a evitar a realizagao de um tipo legal de crime, que se traduz num dever de previsio daquela realizagio, © que 0 agente, segundo as circunstancias do caso e as suas capacidades pessoais podia ter cumprido. ‘Toda a negligéncia supée um dever de representagio que sc estende ao resultado, © fandamento da punigao da negligéncia reside no facto de agente nao ter querido, em face do conhecimento de que certos resultados sko punsveis, prepararse para - sempre que uma condula que projecta seja adequada para os produzir - representar esses resultados ou para os representar justamente, assim Eduardo Correia, Direito Criminal, 1993, vol. .1, p. 433, ‘A violagio de normas de cuidado assume particular relevo em dominios altamente cspecializados que importam riscos para a vida de outras pessoas. Nestes dominios o agente nio deve actuar antes de se ter informado ou esclarecido sobre tais riscos, sempre que se nao encontre em posigio de os avaliar correctamente. Se nfo conseguir alcangar a informagio ou o esclarecimento necessirios deve omitir a conduta; se 0 nao faz ¢ a morte de outrem surge em consequéncia, a violago de um tal dever pode integrar 0 tipo de ilicito do homicidio negligente. Na frase paradigmatica de Roxin § 24 34, * quem nio sabe uma certa coisa deve informar-se, quem nao pode alguma coisa deve abandonéla ( ‘A sta problematica — dos dominios especializados da vida — se liga estrcitamente a ‘questio chamada da negligéncia na assungio ou na aceitagao. Tratase, em geral, da assungao de tarefas ou da aceitagio de responsabilidades para as quais 0 agente nio esti preparado, nomeadamente porque the faltam as condig6es pessoais, os conhecimentos ou mesmo 0 treino necessirio a0 desempenho cuidadoso de uma actividade perigosan, Jorge de Figueiredo Dias, Comentirio Conimbricense do Cédigo Penal, Parte Especial, Tomo 1, p. 108. Ora, no caso “sub judice” outra conclusio nao se pode retirar senio a de que 0s arguidos cometeram o crime de homicidio negligente, na sua forma grosseira, porquanto agiram com manifesia falta dos cuidados essenciais a que estavam adstritos, tendo essa violagio deicrminado a morte de outrem, sendo certo que deveriam ter previsto tal resultado, porcquanto este Ihes era exigivel. Na verdade: = nao foi feila qualquer recomendagio, nem emitidas instrugdes concretas aos professores sobre a actividade “a Operagao Praia Adoptiva/6aLimpeza da Praia do Olho de Boi’; ® ¢ m concreto, a Direcgo do Extenato nao veiculou quaisquer instrugdes no sentido de os professores se assegurarem junto das entidades competentes se as condigdes de navegabilidade eram adequadas pritica da canoagem, nem foram abordados procedimentos a adoptar em caso de acidente; - nem a Direcgio do Externato nem os professores responsiveis comunicaram a descrita actividade de canoagem A Capitania do Porto de Lisboa e nfo providenciaram pela colocagio de uma embarcagio de apoio; - os quatro arguidos eram responséveis pela seguranga de (odos os alunos que participaram na actividade; - a actividade de canoagem é uma actividade perigosa por natureza, que obriga & adopgio de medidas de seguranga, e que naquelas condigdes coneretas, com alunos muito jovens ¢ inexperientes, impunha, nomeadamente, a verificagio prévia das condiges de navegabilidade e a cxisténcia de uma embarcagio de apoio; = pese embora fosse da responsabilidade dos arguidos (L), (D) ¢ (6) zelar, no local, pela seguranga dos cinquenta alunos que integravam a referida actividade, os arguidos (L) ¢ (D), cientes de que nio reuniam condigdes para, em caso de necessidade, socorrerem os alunos, assumiram, no entanto, a vigilancia ¢ arguido (8) ausentow-se do local, cerca das 15 horas, quando ainda decorria a actividade, deixando a vigilancia dos cinquenta alunos cnearregue, apenas, aos scus dois colegas (L) e (D), ciente das incapacidades dos mesmos, Resta realirmar que, como jA se disse anteriormente, os arguidos agiram com negligéncia inconsciente, pois embora pudessem ¢ devessem ter previsto o resultado danoso, nem sequer © representaram. Nestes termos, sem necessidade de outras consideragdes, decide-se proferir despacho de prontincia, contra os arguidos. Que mais ¢ possivel dizer, para além do que jé consta do despacho de prontincia. O actual Cod. Proc. Penal, no n.* 2 do art 281° considera “suficientes os indicios sempre que deles resultar a poss je razoavel de ao arguido vir a ser aplicada, por forga deles, cm julgamento, uma pena ou medida de seguranga’. ‘A delinigao do que deve entender-se por ‘suficientes indicios" contida neste preceito, bem como no art, 308." n.'I do CPP, é idéntica 4 que, no ambito do Cd. Proc. Penal de 1929 havia sido colhida pela Jurisprudéncia e pela Doutrina, que ‘por indicios suficientes entendem-se vestigios, suspeitas, presungées, sinais, indicagées, suficientes e bastantes, para convencer de que hi crime e é 0 arguido responsivel por ele. Porém, para a promincia, no € preciso uma certeza da existéncia da infracgdo, mas os actos indiciados devem ser suficientes ¢ bastantes, por forma que, logicamente relacionados e conjugados, formem um todo persuasive de culpabilidade do arguido, impondo um jufzo de probabilidade do que Ihe 6 imputado' cfr, Ac. do S.TJ. de 01 /03/61, BMJ 105, 439; Ac. da Relagio de Coimbra de 26/06/63, "LR.” 30, 777; Ac. da Relagio de Lisboa de 28/02/64, id., 1°, 1175 Ac. da Relagio do Porto, de 24/03/76, CJ, 1976, Tomo 1, pag. 131 ¢ Ac. da Relagio de Coimbra de 31/03/98, CJ,, 1993, Tome II, pag. 65. ‘Tendo presentes estas formulagdes jurisprudenciais ¢ doutrinais, vejamos entio 0 caso dos autos. ‘Antes de mais conviré referir que constituem elementos do crime de homicidio com negligéncia grosseira p.p. pelo n° 2 do art’ 137 do C.Penal que: - o agente assuma um comportamento comissivo ou omissivo; que esse comportamento viole o dever ( objective ¢ subjectivo ) de cuidado; a verificagio do resultado morte de uma pessoa ¢ a imputagio desse resultado & conduta do agente. Para além disso, em vista a0 disposto no n’ 2 do mesmo preceito, haver’ que conferir se 0 grau de violagio do dito dever de cuidado justifica a qualificagéio da negligéncia como grosseira, sabido que esta resulta de * uma especial intensificagéo da negligéncia nio 56 ao nivel da culpa mas também do ilicito ", ou seja, de * um comportamento particularmente perigoso ¢ um resultado de verificagao altamente provavel luz da condula adoptada ", que * revele uma atitude particularmente censuravel de leviandade ou descuido perante 0 ‘comando juridico-penal " Acresce salientar que a relagio de causalidade entre 0 comportamento € evento, quer se parta da leoria da equivaléncia das condigées, quer do critério da condigio conforme leis naturais, se basta com a afiagio de que a aceio é uma das condigées do resultado, nao sendo necessirio que ele scja a primeira ou a dltima condigio da sua verificagio. © Tribunal a quo julgou suficientemente indiciada a seguinte materialidade ( transcrita na parte relevante ): 1. © Externato Frei Luis de Sousa é um estabelecimento de ensino particular, que funciona ao abrigo do alvaré n,’ 1530., emitido em 19/12/1957, pelo Patriarcado de Lisboa, tendo, em 6/7/1976, sido transferida a propriedade para a Diocese de Setibal. 2 © arguido (I) foi proposto pela Diocese de Setibal para Director Pedagigico, tendo sido aceite ¢ aulorizado, em 19/12/1996, a exercer as suas fungdes, sendo, desde entio, o responsivel do Externato perante o Ministério da Educagio. 3°Nessa qualidade (de Director Pedagégico) preside ao Conselho Pedagégico, a quem cabe determinar as actividades pedagégicas: curriculares e de complemento curricular, °Em reunigo ocorrida em 14/1/1998 a Direcgiio ¢ 0 Conselho Pedagégico aprovaram 0 Plano Anual de Actividades para 1997/1998 que inclufa, além do mais, a organizagio de uma actividade lectiva de complemento curricular denominada “da Operagio Praia Adopliva/6a Limpeza da Praia do Otho de Boi’, integrada na "Quinzena da Juventude de ‘Almada’, nio tendo sido feita qualquer recomendagao nem emitidas instrugées concretas, aos professores sobre tal actividade. 5® Os arguidos (L), (S) € (D) sao professores e exerciam, & data, a sua actividade por conta do Extemalo Frei Luis de Sousa. 6°Eram membros do Clube de Complemento Curricular de Ambiente ¢ responsiveis pela relerida actividade, cabendo-lhes o acompanhamento da mesma, 7° No dia 18 de Margo de 1998 os arguidos (L), (D) ¢ (S), na qualidade de coordenadores, acompanharam um grupo de 50 alunos na referida actividade de limpeza da Praia do Olho de Boi. 8°Chegam a praia por volta das 9.00 horas ¢ iniciaram a limpeza, sob orientacao destes professores, a quem cabia a responsabilidade pelo desenvolvimento da accio € pela vigilancia dos alunos, zelando pela seguranga dos mesmos, 9° Os alunos mais velhos do Clube da Natureza do Externato efectuavam uns passeios de canoa com os alunos mais jovens, o que cra habitual desde ha seis anos, como forma de premiar o scu labor ¢ de [hes incutir 0 gosto pela modalidade, 10°Pclas 155m do dia 18 de Margo de 1998, na canoa fotografada a fs. 16 ¢ examinada alls. 53, embarcaram o (N), a (F) € a (1), de, apenas, dez anos de idade . 11°A canoa em causa € uma embarcagio de construcao artcsanal, fabricada pelo Externato, com base em molde emprestado pelo CNOCA ¢ cujo modelo é utilizado pelos clubes de canoagem e agrupamentos de escuteiros do Distrito de Setibal. 128 ES construfda em fibra de vidro, casco liso, fundo chato, de boca aberta € cor branca, dispe de duas caixas de ar, possuindo a estrutura interior de espaco ¢ cadeiras em plistico fixas para sentar ts utilizadores. 13° A (1), aluna do 5° ano, Turma A, do Externato, envergava o colete examinado a fs. 53, propriedade do Externato, que havia sido adquirido a empresa credenciada, estando homologado na Noruega, de onde fora importado. L°Tratese de um colete da marca norueguesa “Regatta’ de cor amarela, cujo material interior & compacto e Mlexivel, sendo revestido a nylon, Pelas dimensdes evidenciadas, trata- se de um colete para crianga, tendo uma tinica forma de ser envergado (no reversivel) nto dispondo de protecgio para manter a cabega do utilizador fora de Agua em caso de inanimagio, 15°Existia uma forte corrente que embatia com forga no casco do batelao "Sant" Agostino” que ali estava atracado. 16°Na altura a maré estava no periodo de enchente ¢ as correntes aproximavam-se dos dois n6s, ou scja, 3,5 km/hora, pelo que a canoa comecou a ser arrastada pela corrente para junto do referido batelao. 17°Os és ocupantes remavam procurando abandonar o referido local mas_nio conseguiam em virtude da corrente de enchente que os arrastava em direcgio & plataforma, nao logrando controlar a canoa, pelo que acabaram por embater na proa, bastante inelinada, do batelio. 18° Os wes ocupantes cairam, entio, 4 Agua, mantendo-se 4 superficie, continuando a ser arvastados pela corrente para debaixo do batelio, pelo que, procuraram nadar para terra, mas devido 4 forte corrente nio conseguiram, 19. Os anguidos (L) ¢ (D), que eram os tinicos professores presentes na altura ~ 0 arguido (8) havia abandonado o local cerca das 15 horas falaram com os menores, aconselharam- thes calma ¢ a arguida (D) deslocou-se ao Clube Nautico solicitando que diligenciassem pelo envio de socorro para salvar os menores. 20. Os arguidos (L) e (D) nao se langaram a agua - 0 arguido (L) havia sido operado ao coragio ha pouco tempo ¢ a arguida (MB) nao sabia nadar, 21°Surgiu no local, poucos minutos depois, um pescador, (AB), que com a sua ceanbarcagio, foi em auxilio dos trés sinistrados, tendo conseguido recolher 0 (N), mas nio Togrou aproximar-se das duas meninas, 22°Acto continuo alirou-se ao rio (SL) que conseguiu salvar a (F). 3° A. (1) foi arrastada pela corrente de enchente para debaixo da proa do mencionado batelao, vindo a falecer devido a asfixia por submersio, conforme consta do relatério de fls, 118, que aqui se da por integralmente reproduzido. Qt°Nao [oi feita qualquer recomendacio, nem emitidas instrugdes concretas aos professores sobre a actividade “4a Operagio Praia Adoptiva/6a Limpeza da Praia do Olho de Bost. 25°Em concreto, a Direccio do Externato nao veiculou quaisquer instrugdes no sentido de os professores se assegurarem junto das entidades competentes se as condigdes de navegabilidade eram adequadas A pratica da canoagem, nem foram abordados procedimentos a adoptar em caso de acidente. 26° Nem a Direccio do Externato nem os professores responstveis comunicaram a descrita actividade de canoagem a Capitania do Porto de Lisboa ¢ nao providenciaram pela colocagao de uma embarcagio de apoio. 27°Os quatro arguidos cram responsiveis pela seguranga de todos os alunos que participaram na actividade, 28°Nao procederam todos eles com o cuidado a que nas circunstincias da referida actividade estavam obrigados ¢ de que cram capazes. 29°Na verdade, sabiam que a actividade de canoagem € uma actividade perigosa por nalureza, que obriga A adopgio de medidas de seguranga, € que naquelas condigdes coneretas, com alunos muito jovens ¢ inexperientes, impunha, nomeadamente, a vetificagio prévin das condigées de navegabilidade e a existéncia de uma embarcagio de apoio. 30°Por outzo lado, pese embora fosse da responsabilidad dos arguidos (L), (D) e (S) zelar, no local, pela seguranga dos cinquenta alunos que integravam a referida actividade: - 08 anguidos (L) ¢ (D), cientes de que nao reuniam condigdes para, em caso de necessidade, socorrerem 0s alunos, assumira no entanto, a vigilanci = © arguido (S) ausentouse do local, cerca das 15 horas, quando ainda decorria a actividade, cleixando a vigilincia dos cinquenta alunos encarregue, apenas, aos seus dois colcgas (1) c (D), ciente das incapacidades dos mesmos. B1*Agiram com desrespeito pelas mais elementares regras da prudéncia e, embora devessem ter previsto que © seu comportamento omissivo poderia por em perigo a vida dos alunos, nem —sequer —representaram 0 resultado da sua _conduta, 32°Os arguidos com as suas condutas omissivas criaram um risco relevante que determinou amorte da (7). Aquela posigio e com aqueles fundamentos adere este Tribunal ad quem pelo que aqui os subscreve ~ artigo 425.°n.'5 ex vi artigo 400° n.' 1 ambos do C.P,Penal. Em consequéncia, face aos indicios probatérios recolhidos quer em sede de inquérito quer ‘em sede de instrugao resulta dos autos a possibilidade razo4vel de aos arguidos poder vir a ser aplicada uma pena, razio pela qual bem decidiu a Mma. Juiz ao pronunciar os arguidos nos termos supra referidos. De resto, a garantia do duplo grau de jurisdigao em sede de matéria de facto nunca poder cenvolver, pela propria natureza das coisas, a reapreciagao sistemética ¢ global de toda a prova, visindo apenas a deteccio e correcgio de pontuais, concretos & seguramente excepcionais erros de julgamento, incidindo sobre pontos determinados da matéria de facto. Na formagio da conviegio do juiz nao intervém apenas factores racionalmente demonstraveis, referindo-se a relevancia que tém para a formacio da convicgao do julgador aclementos intraduriveis e subtis», que vio agitando o espirito de quem julga (no mestno, sentido Castro Mendes, Direito Processual Civil, 1980, vol. 111, pag. 211. O que é necessirio ¢ imprescindivel € que, no seu livre exercicio de convicgio, o tribunal indique «os fundamentos suficientes para que, através das regras da ciéncia, da lgica ¢ da cexperiéncia, se possa controlar a razoabilidade daquela convicgao sobre o julgamento do Facton, E convém referir que tendo a MaJuiz. formado a sua convicgio com provas nic proibidas por Ici prevalece a conviegio que da prova teve, Por outro lado, a dissidéncia que os arguidos/recorrentes manifestam relativamente a0 julgado centra-se na discordancia quanto & materialidade julgada indiciada. Mas ressalvadlo o devido respeito pelo esforco argumentativo, nao é assim, bastando lerem- se os depoimentos prestados pelas testemunhas inquiridas, bem como toda a prova documental earreada, scm se olvidar o depoimento da testemunha identificada a fls. 478, que expressamente refere " na altura em que a canoa se virou os professores nao estavam nia praia, mas dentro do Clube Naval , 6 de a saindo quando ouviram gritos Hide reconhecer-se que por parte dos recorrentes estes ndo s6 nao se assoguraram junto das entidades competentes se as condigdes de navegabilidade eram ou nao adequadas & pritica da canoagem, como também nfo cuidaram da plena seguranga dos alunos. (note-se que 08 arguidos, (L) ~ por sofrer do coragio ~ ¢ (D) - nao saber nadar ~ nunca poderiam, gatantir plenamente a seguranga ¢ cuidados devidos aos alunos. Assim, com 0 comportamento adoptado naquelas circunstancias, evidenciaram flagrante desconsideragio, ligeireza ¢ violagio das regras basicas pelas quais deveriam paular o cxercicio da actividade que se propuseram incrementar; apoiar; coordenar e segurar. DECISAO: Pelo exposto, nega-se provimento ao recurso, confirmando-se a decisto recorida. Improcedente recurso interposto pelos arguidos, incumbethes o pagamento das respectivas custas, sendo individual a taxa de justica, que se fixa em 7 UCs, e solidarios os encargos. - art's, 513 € 514 do C.P.P, ¢ 82¢ 87 do C.CJ. Lisboa 28 de Abril 2005.

Вам также может понравиться