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FACULDADE DE TECNOLOGIA DE SÃO PAULO

ESPECIALIZAÇÃO TECNOLOGIAS AMBIENTAIS – CETA 14

CAMILE GOMES Matrícula 083084-4

FLAVIO LIMA Matrícula 083089-5

MARCO ANTÔNIO Matrícula 083098-4

MICHELLE CAMILO Matrícula 083099-2

DIREITO AMBIENTAL
O princípio da precaução
Principal norteador das políticas ambientais

Pesquisa realizada para disciplina de Direito


Ambiental do curso de especialização em
Tecnologias Ambientais Fatec/SP, sob orientação
do professor Elvino.

São Paulo
2008
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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 3

2. DEFINIÇÃO ............................................................................................................. 4

3. O PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO.............................................................................. 6

4. O PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO x PREVENÇÃO .................................................... 9

5. O PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO E A DECLARAÇÃO DO RIO DE JANEIRO ........ 11

6. O PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO NAS CONVENÇÕES INTERNACIONAIS........... 13

7. O PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO E SUAS CARACTERÍSTICAS............................ 14

7.1 Incerteza do Dano e Nexo Ambiental................................................................. 14

7.2 A Inversão do Ônus da Prova ............................................................................ 15

7.3 Os Custos das Medidas de Prevenção .............................................................. 16

8. BIBLIOGRÁFIA ...................................................................................................... 18
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1. INTRODUÇÃO

A humanidade vive uma realidade de incertezas, sob o ponto de vista ecológico,


haja vista que a degradação do ambiente aumentou significativamente nas últimas
décadas. Não é apenas a poluição atmosférica, chuvas ácidas, morte dos rios, mares e
oceanos que demonstram a ação devastadora do homem. Pelo contrário, a questão
ambiental traz implicações complexas e polêmicas, como a produção e a comercialização
dos produtos geneticamente modificados. No Brasil, a questão ambiental passou a ter
relevância jurídica, pois o direito de viver num ambiente ecologicamente equilibrado foi
instituído à categoria de Direito Humano Fundamental pela Constituição Federal de 1988.

Neste sentido, enfatiza-se um dos princípios fundamentais do Direito Ambiental,


mais especificamente o princípio da precaução, com o intuito de analisar a incorporação
destes no ordenamento jurídico e sua aplicabilidade frente ao desafio de proteger o
ambiente em que vivemos.
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2. DEFINIÇÃO

O direito ambiental, entendido sob o prisma de uma ciência dotada de autonomia


científica, apesar de seu caráter interdisciplinar, obedece, na aplicação de suas normas, a
princípios específicos de proteção ambiental. Neste sentido, os princípios que informam o
direito ambiental têm como escopo fundamental proteger o ambiente e, assim, garantir
melhor qualidade de vida a toda coletividade.

Salienta-se, no que diz respeito à importância dos princípios, a lição de Canotilho,


ao destacar que a utilidade dos mesmos reside: 1) em serem um padrão que permite
aferir a validade das leis, tornando inconstitucionais ou ilegais as disposições legais ou
regulamentadoras ou atos que os contrariem; 2) no seu potencial como auxiliares da
interpretação de outras normas jurídicas; e 3) na sua capacidade de integração de
lacunas (apud MORATO LEITE, 2000, p. 47).

Não há como contestar que os princípios do direito ambiental são indispensáveis


para a formulação de um Estado do ambiente, à medida que orientam o desenvolvimento
e a aplicação de políticas ambientais que servem como instrumento fundamental de
proteção ao ambiente e, conseqüentemente, à vida humana.

É necessário dizer-se que os princípios do direito ambiental, adotados pela


Constituição Federal, tiveram forte influência da doutrina alemã. Neste sentido, Correia
destaca:

Seguindo de perto a doutrina alemã, poderemos dizer que o direito do ambiente é


caracterizado por três princípios fundamentais: o princípio da prevenção (vorsorge
prinzip), o princípio do poluidor-pagador ou princípio da responsabilização (verursacher
prinzip) e o princípio da cooperação ou da participação (koopegrotions prinzip).

Estes três princípios estão condensados, ao lado de outros, no código 3o da Lei de


Bases do Ambiente e estão presentes em várias disposições. (apud MUKAI, 1998, p. 35).

Não obstante a importância de todos os princípios do direito ambiental, é preciso


destacar que o princípio da precaução se constitui no principal norteador das políticas
ambientais, à medida que este se reporta à função primordial de evitar os riscos e a
ocorrência dos danos ambientais. Entretanto, a efetivação do referido princípio pressupõe
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a aplicação do princípio do poluidor-pagador, porque há de se considerar que os danos


ambientais verificados devem, necessariamente, ter seus autores identificados, a fim de
responsabilizá-los pelos seus atos.

Assim, faz-se referência ao princípio da precaução e também do poluidor-pagador,


visando demonstrar que os mesmos propiciam a viabilização do desenvolvimento de
políticas ambientais necessárias ao cumprimento da tarefa de proteger o ambiente.

Reitera-se, entretanto, que a eficácia das medidas que objetivam a preservação do


ambiente depende da aplicação dos princípios acima referidos, os quais devem estar,
necessariamente, articulados com os demais princípios que norteiam o direito ambiental.
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3. O PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO

Diante da crise ambiental que relega o desenvolvimento econômico sustentável o


segundo plano e da devastação do ambiente em escala assustadora, prevenir a
degradação do meio ambiente passou a ser preocupação constante de todos aqueles que
buscam melhor qualidade de vida para as presentes e futuras gerações.

Em que pese a recente preocupação no país com a aplicação do princípio da


precaução, pode-se dizer que a Alemanha aborda o referido princípio desde 1970, na
Declaração de Wingspread, juntamente com o princípio da cooperação e do poluidor-
pagador. Assim, o doutrinador alemão Kloespfer afirma que "a política ambiental não se
esgota na defesa contra ameaçadores perigos e na correção de danos existentes. Uma
política ambiental preventiva reclama que as bases naturais sejam protegidas e utilizadas
com cuidado, parciosamente." (apud DERANI, 1997, p. 165).

A Declaração de Wingspread aborda o Princípio da Precaução da seguinte


maneira: "Quando uma atividade representa ameaças de danos ao meio ambiente ou à
saúde humana, medidas de precaução devem ser tomadas, mesmo se algumas relações
de causa e efeito não forem plenamente estabelecidos cientificamente."
(www.fgaia.org.br/texts/t-precau, tradução de Lúcia A. Melin).

No direito positivo brasileiro, o princípio da precaução tem seu fundamento na Lei


de Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938, de 31/08/1981), mais precisamente no
artigo 4, I e IV, da referida lei, que expressa a necessidade de haver um equilíbrio entre o
desenvolvimento econômico e a utilização, de forma racional, dos recursos naturais,
inserindo também a avaliação do impacto ambiental.

Salienta-se, que o referido princípio foi expressamente incorporado em nosso


ordenamento jurídico, no artigo 225, § 1o, V, da Constituição Federal, e também através
da Lei de Crimes Ambientais (lei 9.605/1998, art. 54, § 3o).
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O artigo 225, § 1o, inciso IV da Constituição Federal expressa que:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade
o dever de preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1o – Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

IV – Exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente


causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio do impacto
ambiental.

Convém, a título de esclarecimento do conceito do princípio da precaução, citar Derani:

Precaução é cuidado. O princípio da precaução está ligado aos conceitos de afastamento


de perigo e segurança das gerações futuras, como também de sustentabilidade ambiental
das atividades humanas. Este princípio é a tradução da busca da proteção da existência
humana, seja pela proteção de seu ambiente como pelo asseguramento da integridade da
vida humana. A partir desta premissa, deve-se também considerar não só o risco
eminente de uma determinada atividade, como também os riscos futuros decorrentes de
empreendimentos humanos, os quais nossa compreensão e o atual estágio de
desenvolvimento da ciência jamais conseguem captar em toda densidade [...]. (1997, p.
167).

Dessa forma, o princípio da precaução implica uma ação antecipatória à ocorrência


do dano ambiental, o que garante a plena eficácia das medidas ambientais selecionadas.
Neste sentido, Milaré assevera que "Precaução é substantivo do verbo precaver-se (do
latim prae = antes e cavere = tomar cuidado), e sugere cuidados antecipados, cautela
para que uma atitude ou ação não venha resultar em efeitos indesejáveis”.(apud MIRRA,
2000, p. 62).

Observe-se que a consagração do princípio da precaução no ordenamento jurídico


pátrio representa a adoção de uma nova postura em relação à degradação do ambiente.
Ou seja, a precaução exige que sejam tomadas, por parte do Estado como também por
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parte da sociedade em geral, medidas ambientais que, num primeiro momento, impeçam
o início da ocorrência de atividades potencialmente e/ou lesivas ao ambiente. Mas a
precaução também atua, quando o dano ambiental já está concretizado, desenvolvendo
ações que façam cessar esse dano ou pelo menos minimizar seus efeitos.

Frisando a importância da presença do princípio da precaução nas políticas


ambientais, Kloepfer assevera que: "A política ambiental não se esgota na defesa contra
ameaçadores perigos e na correção de dados existentes. Uma política ambiental
preventiva reclama que as bases naturais sejam protegidas e utilizadas com cuidado,
parciosamente." (apud DERANI, 1997, p. 165).

Verifica-se que a precaução abarca também uma melhor alocação dos recursos
naturais, com a adoção de instrumentos eficazes no controle da utilização dos mesmos,
dada a escassez de alguns bens naturais. Isso reforça a idéia de que "[...] a política
ambiental não se limita à eliminação de danos ocorridos, mas sim, tem sustentáculo na
proteção contra o risco, mesmo que simples." (MACIEL,
www.faroljuridico.com.br/art.ambiental).

Acrescenta-se a esse panorama que a maior dificuldade na implantação do


princípio da precaução é a resistência de alguns Estados em aplicar a legislação
ambiental, devido ao fato de que as normas relativas ao ambiente implicariam estagnação
da economia, o que, na verdade, não se concretiza, porque o que se propõe é a utilização
de novas tecnologias que contribuam para a manutenção do equilíbrio ecológico sem
prejuízo ao desenvolvimento.

Por tudo isso, afirma-se que o princípio da precaução é à base das leis e das
práticas relacionadas à preservação do ambiente. É preciso, antes de tudo, se antecipar e
prevenir a provável e/ou efetiva ocorrência de uma atividade lesiva, pois há de se
considerar que nem todos os danos ambientais podem ser reparados pela ação humana.

Desse modo, a atuação do princípio da precaução não se constitui apenas num


recurso contra a degradação do ambiente. Pelo contrário, sua significação compreende
também a garantia da preservação da espécie humana e, conseqüentemente, uma
melhor qualidade de vida para a coletividade.
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4. O PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO x PREVENÇÃO

Na maioria dos documentos anteriores à declaração do Rio de Janeiro,


preponderava o termo prevenção em vez de precaução. E apesar dos referidos termos
apresentarem significados semelhantes, é preciso fazer uma distinção entre ambos para
que se possa entender de forma correta o princípio da precaução.

É oportuno detalhar que a Constituição Brasileira não faz uma distinção


propriamente dita entre a expressão prevenção e precaução, e as utiliza quase como
sinônimas. O que se tem, no Brasil, são diferenciações entre os referidos termos por parte
de doutrinadores, como Machado e Morato Leite.

Dessa forma, segundo Machado,

No princípio da prevenção, previne-se porque se sabe quais as conseqüências de


se iniciar determinado ato, prosseguir com ele ou suprimi-lo. O nexo causal é
cientificamente comprovado, é certo, decorre muitas vezes até da lógica.

No princípio da precaução, previne-se porque não se pode saber quais as


conseqüências que determinado ato, ou empreendimento, ou aplicação científica
causarão ao meio ambiente no espaço e/ou no tempo, quais os reflexos ou
conseqüências. Há incerteza científica não dirimida (www.ecoambiental.com.br/
principal/principios).

Nesta acepção, o princípio da precaução reforça a idéia de que os danos


ambientais, uma vez concretizados, não podem, via de regra, ser reparados ou, mais
precisamente, não voltam ao seu estado anterior. Ao se destruir uma floresta, por
exemplo, mesmo que o homem faça o reflorestamento, a nova floresta não apresentará
as mesmas características da primitiva.

Além disso, o princípio da precaução está diretamente ligado à atuação preventiva.


Ambos objetivam proporcionar meios para impedir que ocorra a degradação do ambiente,
ou seja, são medidas que, essencialmente, buscam evitar a existência do risco.
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Entretanto, o princípio da precaução é prioritariamente utilizado quando o risco de


degradação do ambiente é considerado irreparável ou o impacto negativo ao ambiente é
tamanho que exige a aplicação imediata das medidas necessárias à preservação.

Já a atuação preventiva é o ponto central do direito ambiental, e se traduz numa


frase do senso comum: "Mais vale prevenir do que remediar." (MORATO LEITE, 2000, p.
52). Ou seja, a degradação do meio ambiente deve ser evitada antes de sua
concretização e não apenas combater e/ou minimizar os efeitos dessa degradação.

No panorama do direito estrangeiro, a União Européia faz a seguinte distinção da


expressão prevenção/precaução: prevenir significaria "evitar ou reduzir tanto o volume de
resíduos quanto do risco" ("avaid or reduce both volume of waste and associateal
hazard"), enquanto que precaucionar seria uma obrigação de interveniência quando há
suspeitas para o meio ambiente ("obligation to intervene once there is supcionus to the
enviromment"), devendo neste último caso ocorrer intervenção estatal em relação ao risco
(SCHIMIDT, www.mp.rs.gov.br).

Desenhadas as distinções doutrinárias entre o termo prevenção e precaução, é


importante mencionar que ambos têm um objetivo comum que é o de preservar o
ambiente, exigindo para tanto, a atuação do Estado da organização de uma política de
proteção do ambiente.
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5. O PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO E A DECLARAÇÃO DO RIO DE JANEIRO

A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento,


realizada no Rio de Janeiro (1992) discutiu as medidas necessárias para que houvesse
uma redução da degradação do ambiente, além de estabelecer políticas ambientais que
conduzissem à efetiva concretização do desenvolvimento econômico sustentável.

Deste modo, o princípio da precaução encontra-se inserido nos Princípios 15 e 17


da Declaração do Rio de Janeiro, que expressam o seguinte:

Princípio 15: de modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve


ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando
houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, ausência de absoluta certeza científica
não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente
viáveis para prevenir a degradação ambiental.

Princípio 17: a avaliação do impacto ambiental, como instrumento internacional,


deve ser empreendida para as atividades planejadas que possam vir a ter impacto
negativo considerável sobre o meio ambiente, e que dependam de uma decisão de
autoridade nacional competente.

Salienta-se que os princípios acima mencionados se fundamentam numa política


ambiental preventiva, que busca a utilização racional dos recursos naturais e a
identificação dos riscos e perigos eminentes, a fim de que seja evitada a destruição do
ambiente. Para tanto, incumbe aos Estados nacionais, observar o princípio da precaução,
que deve orientar as políticas ambientais adotadas, entretanto, torna flexível sua
aplicação à capacidade de implementação de cada Estado.

É oportuno detalhar que a Declaração do Rio de Janeiro estabelece também a


necessidade da avaliação do impacto ambiental, determinando que ao ser identificado
ameaça de danos sérios ou irreversíveis, prescindindo, portanto, do critério da absoluta
certeza científica, medidas ambientais eficazes devem ser tomadas a fim de preservar o
ambiente.
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Pontua-se que há discussão na doutrina quanto à imperatividade jurídica do


princípio da precaução emanado da Declaração do Rio de Janeiro. Assim, apesar das
declarações internacionais não apresentarem o caráter de obrigatoriedade para os países
participantes, não sendo, portanto, vinculantes na ordem jurídica interna, é inegável que
as declarações de princípios influenciam de forma significativa às ações desenvolvidas
pelos Estados, do que se conclui que estes adotam, no direito interno, os princípios
declarados (MIRRA, 2000, p. 64-65).

Deste teor, resulta que a partir da Declaração do Rio de Janeiro (1992), foi
deflagrada a necessidade de preservar o ambiente, consolidando assim, a tomada da
consciência ecológica. Neste sentido, o princípio da precaução, aprovado plenamente
pelos países participantes da conferência mencionada, passou a incorporar o
ordenamento jurídico brasileiro, e a orientar as políticas ambientais desenvolvidas.
Ressalta-se que as Convenções Internacionais também se reportam ao princípio da
precaução como diretriz das ações que envolvam o ambiente.
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6. O PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO NAS CONVENÇÕES INTERNACIONAIS

No que concerne ao Brasil, constata-se que a legislação ambiental recebeu


influências de várias convenções e/ou tratados internacionais. Assim, a Convenção da
Diversidade Biológica e a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do
Clima, que foram devidamente assinadas, ratificadas e promulgadas pelo Brasil,
abrigaram o princípio da precaução. Ambas as convenções estabelecem que o princípio
da precaução deve objetivar a redução dos danos ambientais, prescindindo que seja
demonstrada a certeza científica à efetividade do dano, para que sejam tomadas medidas
cabíveis com vistas à solução ou pelo menos minimização do problema.

Ressalta-se que outras Convenções, como a Convenção de Paris para a Proteção


do Meio Marinho do Atlântico Nordeste (1992), bem como a Segunda Conferência
Internacional do Mar Morto, inseriram o princípio da precaução em seus textos. Da
mesma forma, o Programa Comunitário de Ação em matéria de ambiente abordou o
princípio da precaução, o que demonstra que este se constitui num dos pontos
norteadores da política ambiental de prevenção dos riscos de degradação do ambiente.

Ademais, o princípio da precaução foi inserido no direito francês, em 1995, que o


definiu como o princípio:

[...] segundo o qual a ausência de certezas, levando-se em conta os conhecimentos


científicos e técnicos do momento, não deve retardar a adoção de medidas efetivas e em
exata proporção que visem prevenir um risco de prejuízos graves e irreversíveis ao meio
ambiente a um custo economicamente aceitável (GODARD, www.ambfrance.org.br).

A legislação ambiental interna do Brasil, como também de outros países, tem sua
política fundamentada no princípio da precaução. Mas outros princípios, como o da
responsabilidade ambiental, também foram inseridos nos textos dos tratados e/ou
convenções, o que nos leva a reiterar que esses têm influência direta no ordenamento
jurídico interno do Brasil.
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7. O PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO E SUAS CARACTERÍSTICAS

7.1 Incerteza do Dano e Nexo Ambiental

A partir da consagração do princípio da precaução, desenvolveu-se uma nova


concepção em relação à obrigatoriedade da comprovação científica do dano ambiental.
Desse modo, quando uma atividade representa ameaça de dano ao ambiente,
independentemente da certeza científica, as medidas ambientais devem ser aplicadas a
fim de evitar a degradação do meio.

Neste ponto, convém lembrar que, até a década de 80, as medidas utilizadas para
evitar os danos ambientais tinham como fundamento obrigatório para sua efetivação à
análise científica, ou seja, a Ciência assegurava a idoneidade dos resultados
(MACHADO, 2001).

Assim, é pacífico entre os doutrinadores e demais estudiosos da questão ambiental


que, quando houver incerteza científica do dano ou também risco de sua irreversibilidade,
o dano deve ser prevenido e, indiscutivelmente, se houver certeza científica do mesmo.

No que tange à incerteza científica do dano ambiental, Machado assevera que a


precaução age no presente para não se ter que chorar e lastimar no futuro. A precaução
não deve estar presente para impedir o prejuízo ambiental, mesmo incerto, que possa
resultar das ações ou omissões humanas, como deve atuar para prevenção oportuna
desse prejuízo. Evita-se o dano ambiental, portanto, através da prevenção no tempo certo
(2001, p. 57).

De fato, a aplicação de medidas ambientais diante da incerteza científica de um


dano ao ambiente, prevenindo-se um risco incerto, representa um avanço significativo no
que se refere à efetivação do princípio da precaução, que está necessariamente
associado à proteção ambiental. Reconhece-se, dessa forma, a substituição do critério da
certeza pelo critério da probabilidade, ou seja, a ausência da certeza científica absoluta
no que se refere à ocorrência de um dano ambiental não pode ser vista como um
empecilho para a aplicação das medidas ambientais. Assim, o princípio da precaução
impõe que, mesmo diante da incerteza científica, medidas devem ser adotadas para
evitar a degradação ambiental (MIRRA, 2000, p. 67-68).
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O jurista Jean-Marc Lavieille reafirma o entendimento de que se deve agir antes


que a ciência nos diga, com certeza absoluta, se determinada atividade é nociva ou não
ao ambiente ao expressar que: "O princípio da precaução consiste em dizer que não
somente somos responsáveis sobre o que nós sabemos, sobre o que nós deveríamos ter
sabido, mas também sobre o de que nós deveríamos duvidar." (apud MACHADO, 2001,
p. 58).

7.2 A Inversão do Ônus da Prova

Na esfera ambiental, diferentemente do que se verifica nas outras áreas do direito,


vigora a responsabilidade civil objetiva. Este foi inserido pelo artigo 14 da Lei de Política
Nacional do Meio Ambiente (Lei 9391/81) e recepcionada pelo artigo 225, § 3o da
Constituição Federal, que expressa: "O poluidor é obrigado, independentemente da
existência da culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a
terceiros afetados por esta atividade”.

Ressalta-se que o Ministério Público do Meio Ambiente do RS, através da Carta de


Canela, reiterou a proposição de que o princípio da precaução acarreta a inversão do
ônus da prova, que se ampara nas disposições constitucionais do Código de Defesa do
Consumidor, exigindo verossimilhança das alegações iniciais ou comprovação de
hipossuficiência do titular do direito tutelado (www.mp.rs.gov.br).

A jurisprudência também se manifesta de forma favorável em relação à inversão do


ônus da prova, solidificando a teoria objetiva da responsabilidade civil.

Para o reconhecimento da responsabilidade civil da indústria poluente, é


irrelevante a circunstância de estar ela funcionando com a autorização das autoridades
municipais, ou fato de nunca ter sofrido autuações dos órgãos públicos encarregados do
controle do ambiente. Mesmo sem levar em conta a notória deficiência dos serviços
públicos, neste particular, forçoso é concluir que demonstrada a relação causa e efeito
entre a exagerada missão de poluentes e os danos experimentados pelo autor, emerge
clara e inafastável a responsabilidade civil da ré. (apud SEGUIN, 2000, p. 159).
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Assim sendo, o princípio da precaução impõe ao sujeito que desenvolve uma


atividade potencialmente lesiva ao ambiente o ônus de provar que a atividade não oferece
riscos à degradação do meio, o que implica dizer que a inversão do ônus da prova, na
questão ambiental, abarca, além da certeza científica, o risco incerto do dano ambiental.

7.3 Os Custos das Medidas de Prevenção

Embora se possa afirmar que todos os países têm responsabilidade ambiental, e


que as agressões ao ambiente devem ser evitadas, é concebível que os custos das
medidas de prevenção devam ser analisadas em relação ao país em que serão
implementadas. O que significa dizer que há de ser considerada a relação custo e eficácia
das medidas ambientais adotadas em função do princípio da precaução e também da
realidade econômica, social e tecnológica do local em que se verifica a probabilidade da
ocorrência do dano ambiental.

Os custos das medidas ambientais a serem implementados como forma de


prevenir a ocorrência do dano ambiental sejam compatíveis com a capacidade econômica
de cada país. Isso não afasta a responsabilidade e o compromisso que os Estados têm
de adotar as políticas ambientais necessárias à preservação do ambiente e,
conseqüentemente, da espécie humana.

É oportuno destacar que, diante desse novo cenário ambiental, exige-se a adoção
de um modelo econômico compatível com o desenvolvimento sustentável. O meio
empresarial também deve assumir o compromisso de preservar o ambiente e diminuir,
sensivelmente, a emissão de gases poluentes.

Em contrapartida ao surgimento da consciência ecológica por parte das empresas,


é necessário considerar que a implementação do Sistema de Gestão Ambiental nas
empresas gera um custo que deve ser absorvido pelas mesmas, o que, em alguns casos,
é tido como um empecilho à adoção de políticas ambientais que contribuam para a
melhora na qualidade de vida da população.
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Assim, apesar de os custos das ações preventivas e também das "tecnologias


mais limpas" terem, muitas vezes, um custo elevado, não há como postergar a
implementação das medidas ambientais diante da certeza ou probabilidade da
concretização do dano ambiental, porque as lesões ao ambiente são, na sua grande
maioria, irreparáveis e trazem conseqüências que interferem na qualidade de vida da
população. A decisão de agir antecipadamente ao dano ambiental é premissa
fundamental para garantir a eficácia da aplicação do princípio da precaução, o que reforça
o entendimento de que tanto os Estados como as empresas não podem se eximir da
responsabilidade de preservar o ambiente.
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8. BIBLIOGRÁFIA

ALMEIDA, Luiz Cláudio Carvalho de. Responsabilidade Civil por Danos Ambientais.
Disponível em <http://www.fdc.br/artigos.htm>. Acessado em: 15 de outubro de 2001.

AYALA, Patrick Araújo, in: LEITE, Rubens Moraes (Org.). Inovações em Direito
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_____. Lei 6938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio
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Publicada no Diário Oficial da União em 02/09/1981.

CARTA de Canela. Elaborada no 2o Congresso Brasileiro do Ministério Público de Meio


Ambiente e do 1o Encontro Regional do Instituto "O Direito por um Planeta Verde".
Disponível em <http://www.mp.rs.gov.br.htm>. Acessado em 8 de fevereiro de 2002.

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Ambiental. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2000.

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Lúcia A. Melin. Disponível em <http://www.fgaia.org.br/texts/t-precau.htm>. Acessado em
12 de agosto de 2001.

SCHIMIDT, Larissa. Os Princípios Ambientais e sua Aplicabilidade pelo Direito Brasileiro.


Disponível em <http://www.mp.rs.gov.br.htm>. Acessado em 10 de abril de 2002.

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