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será capaz de suportar trinta anos de vida de empresa, de

frases feitas e de tarefas repetitivas! Porque é isto que se


espera de vocês, uma vez que a maior parte das profissões
já não requer um nível elevado de qualificação técnica
ou intelectual. São essencialmente uma rotina e exigem
tão pouca iniciativa e espírito criativo que quem quer que
complete os estudos adequados se acha de imediato com
demasiadas qualificações para a maioria dos lugares dis-
poníveis.
Basta portanto ser medíocre. «Integrado numa peque-
na equipa de especialistas, não terá uma acção relacional
determinante nem uma função operacional nas acções de
reestruturação e de desenvolvimento. Não sendo deten-
tor de uma sólida cultura económico-financeira nem de
uma experiência significativa em assuntos de investimen-
to de capitais ou de fusões e aquisições, das quais nunca
terá ouvido falar, não precisa de excelentes motivações
pessoais para desenvolver um relacionamento que perdu-
re», satiriza Laurent Laurent no irónico Six mois au fond
d'un bureau.
Por isso, os fura-vidas e os oportunistas têm a sua
oportunidade no universo policiado das grandes organi-
zações: a empresa é democrática.

Emprego e empregabilidade: saber vender-se e


fazer-se valer
A empresa que repete «O homem é a principal rique-
za da empresa», estará a mentir-nos? É perturbante esta
frase, já Estaline a usava. Querer-se-á com isto dizer que
quanto mais se idealiza o homem mais este é, na realida-
de, rebaixado? Porque a empresa escolhe e deita fora em

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função das suas necessidades. E o conjunto das classes
sociais é afectado pelo desemprego: aos jovens e aos tra-
balhadores não qualificados, que constituíam em tempos
a grande massa dos desempregados, vêm juntar-se hoje
em dia os operários especializados, os contramestres,
os técnicos e os quadros. Os franceses, que esperavam
ver prosseguir a mobilidade social ascendente dos Trin-
ta Anos Gloriosos, acham-se actualmente confrontados
com uma mobilidade descendente generalizada... A única
vantagem, de momento, é que as coisas estão em movi-
mento (ver «Mudança: uma viagem ao fim da carreira»),
ainda que não na direcção certa. Moral da história: na
empresa, mesmo quando nada há a esperar, há sempre
qualquer coisa a temer.
Com efeito, as empresas exigem muito, mas evitam
fazer promessas e nada garantem a longo prazo. Porque
haviam de o fazer? As promessas, como se sabe, apenas
comprometem aqueles que as escutam. Além disso, num
universo em que as oportunidades são supostamente re-
partidas de forma equitativa, quem está desempregado
há-de forçosamente ter feito algo para estar nessa situa-
ção: se não tem trabalho é porque tem menos mérito do
que aqueles que estão empregados. Se o vosso posto de
trabalho é suprimido, é porque não foram capazes de de-
monstrar a sua utilidade, porque não souberam valorizar
as vossas funções, interessar um cliente, etc. De facto, a
culpa é mesmo vossa! São tanto mais culpados quanto o
trabalho é um imperativo categórico num mundo em que
nos procuram fazer crer que é ele a esfera essencial no
âmbito da qual se constrói a identidade individual. «Tra-
balha, trabalha», é esta a ordem que é dada: como ainda

42 BOM DIA, PREGUIÇA


nos sobra uma réstea de bom senso e de livre-arbítrio,
temos o direito de nos interrogarmos «e para quê?».
Para escapar ao desemprego há que proteger a «empre-
gabilidade». O assalariado deve dotar-se desta qualida-
de indispensável e todavia mal definida, numa altura em
que a simples torrada, objecto quotidiano bastante banal,
se apresenta como sendo dotada de «torrabilidade», de
«refrigerabilidade» e, porque não, de «manteigabilidade»,
de maneira a seduzir um consumidor que, bem vistas as
coisas, não pede assim tanto. Seria talvez necessário rever
o modo como é empregue o termo «empregabilidade»...
Este não significa mais do que a capacidade de persua-
dir os outros que se pode e se deve estar empregado!
E por que razão será preciso convencê-los disso? Porque,
a partir do momento em que todos são intermutáveis, o
quadro intermédio esforça-se por se destacar no meio dos
outros. Como? Pela sua personalidade. A regra de ouro
do recrutamento dos quadros resume-se numa única fra-
se: hoje em dia, as pessoas são recrutadas por aquilo que
são e não por aquilo que sabem fazer. As «competências
relacionais» e as «capacidades de comunicação» são deter-
minantes, o que se sabe fazer e as habilitações são aces-
sórios. Não vai tardar muito até se aprender unicamente
a seduzir o responsável pelo recrutamento. Trabalhador
sem qualidades, sê bem-vindo.
Aí está como estão obrigados a serem os agentes co-
merciais de vós próprios. E necessário saber «vender-se»
como se a vossa personalidade fosse um produto ao qual
se pudesse atribuir um valor de mercado.

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Para Tom Peter s' , guru grandiloquente da nova eco-
nomia, triunfar significa transformarmo-nos numa socie-
dade comercial — a marca Nós. A finalidade é fazer saber
que se é capaz de fazer saber e há-de haver sempre tempo
para se ver se se sabe fazer! Um pequeno esforço mais e
acabamos por assemelharmo-nos ao protagonista do fil-
me Jerry Maguire, no qual vemos Tom Cruise a trabalhar
até de madrugada na redacção de manifestos e de panfle-
tos sobre a necessidade de adoptar a novidade, de estar
presente na Internet sob pena de desactualização, de ter
de refazer uma dada campanha publicitária num estilo
mais em voga.
A imagem conta mais do que o produto, a sedução
mais do que a produção. O pequeno quadro, contratado
em função da sua flexibilidade e da sua capacidade de
adaptação, vai servir para ajudar a vender. A vender o
quê? Em primeiro lugar, bens standardizados pela pro-
dução em massa, os quais, a maioria das vezes, são pro-
duzidos no terceiro mundo; qualquer operária chinesa é
capaz de os fabricar e quanto menos valor acrescentado
o artigo comportar, mais persuasão será necessária para
convencer o consumidor das suas vantagens! Também há
os produtos que são um pouco mais difíceis de confeccio-
nar e para os quais se inventou o marketing, um código
de ética de feira que serve para se saber aquilo de que não
se necessita e como, apesar disso, se vai ser capaz de o
vender. Finalmente, e acima de tudo, há os serviços que,
para muitos, estão longe de ser indispensáveis: por isso,
o vendedor tem todo o interesse em fazer o seu trabalho

8. Autor da obra Liberation management (Fawcett Columbine, 1994):


mais um oxímoro! Desnecessário será dizer que não se aconselha a leitura.

44 BOM DIA, PREGUIÇA


como deve ser, caso contrário o comprador aperceber-se-
-ia de que está a comprar ar...
O contacto individualizado com os clientes e o servi-
ço personalizado não procuram, afinal, mais do que re-
por autenticidade, valor real, numa produção capitalista
que os eliminou por completo. É aquele «pequeno deta-
lhe adicional», aquele «suplemento de emoção» que falta
num universo tornado uniforme. A empresa finge assim
uma autenticidade, que antes tudo fez para desqualificar
mediante o cilindro compressor da produção em massa,
e convence os quadros que emprega a construírem estes
si mulacros.
E é para isso que nós servimos. E verdade, é para servir
de mais-valia à empresa que nos concederam os diplomas
— e só muito acessoriamente porque somos inteligentes, o
que pode por vezes suceder por mero acaso!

A derrota da palavra
Cada vez há menos conflitos laborais: diminui o núme-
ro de dias de greve. Nos locais de trabalho, nas fábricas,
nos serviços open space, nos arranha-céus de La Defense
reina a ordem e não somente graças ao ministro do Inte-
rior Nicolas Sarkozy. Mas, realmente, como revoltarmo-
-nos contra um discurso tão polido que não se lhe pode
pegar, contra a «modernidade», contra a «autonomia»,
contra a «transparência» ou contra a «convivialidade»?
O que fazer perante poderes e instituições que repetem
constantemente que existem para «registar a evolução»,
para responderem da melhor forma à «procura social» e
às «necessidades dos indivíduos»?
Em teoria, todos têm o direito de se exprimir. O gabi-

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