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Universidade Estadual de Campinas – 7 a 13 de maio de 2007

Dois vanguardistas vêem a vanguarda Foto: Fernando Donasci/Folha Imagem Foto: Antonio Scarpinetti

ÁLVARO KASSAB
EUSTÁQUIO GOMES

D
écio Pignatari e Ferreira Gullar, dois dos
mais importantes escritores brasileiros,
são interlocutores privilegiados quando
o tema é a vanguarda. Pignatari
fundou, ao lado dos irmãos Augusto e
Haroldo de Campos, integrantes do Grupo
Noigrandes, as bases da poesia concreta,
cujo lançamento deu-se em dezembro de
1956, na Exposição Nacional de Arte
Concreta, realizada no Museu de Arte
Moderna de São Paulo. Tradutor, ensaísta,
teórico da semiótica e dono de uma obra
original – grande parte dela reunida no livro
Poesia Pois É Poesia, recém-lançado pela
Editora da Unicamp/Ateliê Editorial –,
Pignatari está atuando na Universidade no
âmbito do Programa Artista-Residente.
Ferreira Gullar, que num primeiro momento
chegou a participar do grupo concretista,
acabaria se afastando por discordâncias
teóricas do núcleo paulista. A ruptura deu-se
em 1957, por meio de artigo publicado no
Jornal do Brasil. O autor de A Luta Corporal
(1954) escreveria mais tarde, em março de
1959, o Manifesto Neoconcreto. Amilcar de
Castro, Lygia Clark, Reinaldo Jardim e Lygia
Pape, entre outros, assinaram o manifesto.
Nas décadas seguintes, Gullar produz uma
obra que reúne poesia, ensaio, crítica e
prosa. Destacam-se, nesse conjunto, livros
como Vanguarda e subdesenvolvimento
(1969), Poema sujo (1976) e Na vertigem do
dia (1980).
Na matéria que segue, Gullar e Pignatari
discutem os rumos da vanguarda nas artes
em geral. Os escritores analisam o papel
das novas tecnologias, do mercado e da
mídia no surgimento – ou na falta – de novas
manifestações estéticas, e falam sobre um
possível esgotamento das linguagens
artísticas.
Ferreira Gullar: “É preciso encontrar o Décio Pignatari: “A qualidade em múltiplos
que há de comum no campo das idéias” focos de irradiação virá logo mais”

Jornal da Unicamp – Técnica e van- da se opôs à técnica. Uma das razões da na, nela, essa loucura de destruir todas décadas depois, usar uma série de vir-
guarda invariavelmente andam juntas. crise da arte contemporânea, a partir do as linguagens e virar você o centro de tualidades que estavam na minha obra, e
Ao menos, isso foi válido para as van- cubismo, é exatamente a contradição en- tudo. A última obra que fez isso foi que não podiam ser expressas no livro.
guardas da primeira metade do sécu- tre a natureza artesanal da pintura – e da Finnegans Wake, de [James] Joyce. Feliz- Entretanto, não vai dar certo se o cara
lo XX. Por que isso não acontece ago- escultura e da gravura – e a produção in- mente, a literatura não seguiu esse rumo. quiser simplesmente pintar com o com-
ra, que a técnica e os modos de produ- dustrial que havia tomado conta da soci- Do contrário, não teríamos as obras de putador. Se é para usar o novo meio, tem
ção estão em franca mudança? edade. Este conflito está na raiz da crise. Jorge Luis Borges, William Faulkner, João que criar uma coisa nova.
Décio Pignatari – As imbricações entre Algumas das tendências artísticas da Guimarães Rosa, García Márquez etc. Te- Por outro lado, não acredito que o com-
técnica e vanguarda artística não são vanguarda tentaram usar as tecnologias ríamos um texto quase ilegível como o é o putador seja responsável pela aglu-
unidirecionais, em esquema de causa-e- mas, em geral, sem proveito. As únicas livro do Joyce. Lógico que se trata de uma tinação das pessoas em torno de um mo-
efeito. Às vezes, o horizonte abdutivo-cri- artes tecnológicas que deram certo são o obra construída, de uma coisa séria, não vimento, embora o equipamento até
ativo se abre com as teorias científicas. cinema e a fotografia. A fotografia é a base é uma brincadeira. Lê-lo significa prati- permita – e facilite – a sua aproximação.
Assim, os impressionistas descobriram do cinema, que por sua vez a superou ao camente decifrar um texto quase in- Vejo isso como conseqüência da situação
que a sombra tinha cor graças às fotos em criar toda uma nova maneira de formu- decifrável. Imagine se a literatura tivesse cultural do momento. Agora, para surgir
preto e branco (cinzas variados de acordo lar a realidade. O cinema criou uma lin- virado isso... Felizmente, não virou. um movimento que unifique as pessoas, é
com os comprimentos de onda do espec- guagem artística. Assim como a literatura, o cinema, a uma coisa que depende de uma quanti-
tro) e começaram a produzir choques cro- Hoje, o que se vê, sobretudo nas artes música e o teatro tiveram suas buscas de dade de fatores indeterminada.
máticos por influência de Chevreul e sua plásticas, com algumas exceções, é o aban- vanguarda, realizaram conquistas na lin- Não saberia dizer, por exemplo, porque
teoria do contraste simultâneo das cores. dono de todas as técnicas. O artista virou guagem estética, incorporaram essas con- de repente surgiu o movimento de arte
E foram abandonando o ponto de fuga por a obra de arte... As performances nos quistas e retornaram ao leito que permite concreta. Historicamente, é óbvio, a gen-
obra da perspectiva axionométrica das mostram isso. Não tem mais nada a ver ao artista se comunicar com o público. te até localiza as referências externas.
gravuras japonesas. com as artes plásticas. Eu não nego que JU – As novas tecnologias e o espaço Mário Pedrosa, Geraldo de Barros etc to-
Picasso estava introduzindo o tempo no você pode se expressar se vestindo de gar- virtual vão suscitar experimentações maram conhecimento de novas idéias,
espaço (cubismo) por influência da arte ne- çom, como fez Chris Burden, aquele artis- ou tendem a pulverizar as novas lin- que acabaram gerando o movimento. Es-
gra, no mesmo período em que Eistein for- ta americano que, ao inaugurar sua expo- guagens? tou falando da pintura, não da poesia, que
mulava a primeira lei da relatividade. sição, não tinha quadro nenhum na pare- Décio Pignatari – A hibridização dos é uma coisa que veio depois. A pintura e a
Mallarmé produziu o poema espacial Um de. É engraçado, mas o que ele quer dizer? meios é a tendência normal, nessas cir- escultura passaram a seguir esse rumo.
lance de dados, em 1897, por influxo de Wagner, Que tanto faz pintar ou servir café? Que a cunstâncias. Outra parte de uma possí- Porém, os fatores circunstanciais nin-
da tipografia e da diagramação de jornal. arte não vale nada? vel resposta já está formulada acima. guém sabe ao certo como surgiram. Hou-
Alfredo Volpi, o maior pintor brasileiro, Acho tudo isso uma atitude negativa, Ferreira Gullar – O computador oferece ve a Segunda Guerra e, conseqüentemen-
usava uma técnica quase milenar, a têmpo- niilista, de gente que não quer fazer arte às pessoas novos instrumentos que podem te, a interrupção do intercâmbio cultu-
ra a ovo sobre tela, em pleno surto da tele- ou não tem talento suficiente para supe- ser utilizados criativamente. Não ponho ral; quando tudo voltou ao normal, havia
visão e do computador. Para uma cibe- rar o problema da arte contemporânea. em dúvida isso, pelo contrário. Algumas um otimismo muito grande, a necessida-
rmassa, uma cibermídia, eis a lógica da es- O cara deveria ir para o teatro, não para coisas até já são feitas nesse sentido. de de retomar esse diálogo, foi criada a
pantosa expansão dos mercados glo- a galeria de arte... Eu continuo a me en- Vou citar uma coisa minha porque é Bienal de São Paulo etc. Tudo isso contri-
balizados. Estamos em plena era da quan- cantar com pintura feita agora. Artistas aquela que eu conheço: os poemas concre- buiu para surgir o concretismo. Agora,
tidade de informação. A qualidade em múl- como Siron Franco, Antonio Henrique tos e neoconcretos que fiz nas décadas de fazer um movimento pela simples vonta-
tiplos focos de irradiação virá logo mais. Amaral e João Câmara, entre muitos ou- 1950 e 60, e que foram publicados à época, de, é difícil. É preciso encontrar o que há
Ferreira Gullar – É discutível afirmar tros, continuam pintando e criando coi- tinham muito potencial de movimento. de comum no campo das idéias.
que técnica e vanguarda andaram sem- sas muito bonitas e novas. Era inviável imprimir ao poema, no pa-
pre juntas. Muitas das vezes, a vanguar- A literatura é diferente. Não predomi- pel, esse movimento. A internet permitiu, Continua na página 6

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