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[EDITORA E.

GEISEL]

RESUMOS PI – TERCEIRA FASE


RESUMOS FEITOS PELO GE-PI ATLAS
GEPIATLAS
28/04/2010

[RESUMO DO GRUPO DE PI DO ATLAS]


FÓRUM DE DIÁLOGO ÍNDIA-BRASIL-ÁFRICA DO SUL (IBAS) ...................................................................................... 3
BRASIL, AMÉRICA DO SUL E MERCOSUL .................................................................................................................... 8
RELAÇÕES BRASIL-ARGENTINA ................................................................................................................................ 14
RELAÇÕES BRASIL-ARGENTINA - LARISSA ........................................................................................................... 25
RELAÇÕES BRASIL-EUA ............................................................................................................................................. 29
RELAÇÕES BRASIL – AM. CENTRAL E CARIBE ........................................................................................................... 33
RELAÇÕES BRASIL-FRANÇA ...................................................................................................................................... 39
RELAÇÕES BRASIL E REINO UNIDO .......................................................................................................................... 45
POLÍTICA EXTERNA BRASIL-ALEMANHA .................................................................................................................. 51
RELAÇÕES BRASIL – UNIÃO EUROPEIA. ................................................................................................................... 61
RELAÇÕES BRASIL – RÚSSIA ..................................................................................................................................... 65
A ÁFRICA E O BRASIL ................................................................................................................................................ 67
RELAÇÕES BRASIL-ÁSIA ............................................................................................................................................ 69
A QUESTÃO PALESTINA ............................................................................................................................................ 73
COMUNIDADE DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA ............................................................................................ 76
A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA E O COMBATE À FOME E À MISÉRIA ................................................................. 81
MEIO AMBIENTE ...................................................................................................................................................... 88
BRASIL E MEIO AMBIENTE - LARISSA ................................................................................................................... 98
BRASIL E OMC ........................................................................................................................................................ 104
RODADA DOHA DO DESENVOLVIMENTO - LARISSA .......................................................................................... 105
SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL ................................................................................................................ 107
DESARMAMENTO E NÃO-PROLIFERAÇÃO ............................................................................................................. 114
NARCOTRÁFICO ..................................................................................................................................................... 121
BRASIL E A REFORMA DA ONU .............................................................................................................................. 129
BRIC ........................................................................................................................................................................ 133
A UNIÃO DAS NAÇÕES SUL-AMERICANAS E O CONSELHO SUL-AMERICANO DE DEFESA .................................... 135
TERRORISMO.......................................................................................................................................................... 138
PI – TERCEIRA FASE – TOPICOS GERAIS - LARISSA.................................................................................................. 147

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FÓRUM DE DIÁLOGO ÍNDIA-BRASIL-ÁFRICA DO SUL (IBAS)

O QUE É
O IBAS foi formalmente instituído em 6 de junho de 2003 com a Declaração de Brasília. Representa um esforço de coordenação
política no plano internacional. Também é chamado de G-3.

ORIGEM
A idéia de formação remonta a uma proposta do African National Congress (ANC). O objetivo era criar no Sul um grupo que espelhasse
o G-8 para se tornar interlocutor dele, mas o projeto não foi executado no primeiro governo democrático da África do Sul, do
presidente Nelson Mandela. Uma das razões era a cautela do país diante da desconfiança em relação à continuidade da democracia
sul-africana.

FATORES DE APROXIMAÇÃO
Os três países possuem credenciais democráticas, são nações em desenvolvimento e apresentam capacidade de atuação em escala
global. Outros motivos são: peso regional, economias emergentes, atuação similar em foros multilaterais, parques industriais
desenvolvidos, sociedades desiguais e multi-étnicas e o desejo de reformar o Conselho de Segurança da ONU. Esses fatores
compensam a distância geográfica.

IMPORTÂNCIA DO FÓRUM
O IBAS representa uma inovação da forma de inserção dos países em desenvolvimento, sendo conseqüência do novo cenário
internacional. É uma tentativa de adaptação à globalização assimétrica.
Segundo o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, o IBAS foi marcado pelo pragmatismo desde a sua origem. Amorim
diz em 2006: “Mesmo não sendo formado por países do círculo tradicional de doadores internacionais, o IBAS investe na solidariedade
entre países do Sul. O Fundo IBAS de Combate à Fome e à Pobreza quer ser um exemplo de como países de menor desenvolvimento
relativo podem se beneficiar das experiências de outros países em desenvolvimento”.

AMPLIAÇÃO DO IBAS
Países emergentes vêm postulando o ingresso no fórum. O IBAS, no entanto, é um fórum singular. O momento é mais de consolidação
e de aprofundamento do que de expansão. O IBAS tem uma identidade própria que convém preservar. Nada impede que mantenha
diálogo especial e cooperação com outros países ou blocos.

RESULTADOS ECONÔMICOS
Desde 2002, o comércio bilateral Brasil-África do Sul, e Brasil-Índia cresceu 185% para alcançarem somados US$ 5,4 bilhões em 2007.
Nesse ano, a África do Sul é o principal destino das exportações brasileiras no continente africano. A Índia é o quarto maior parceiro do
Brasil na Ásia. A corrente de comércio está em expansão e poderá atingir US$ 15 bilhões.
O Fórum Empresarial, lançado na África do Sul em 2005, é de vital importância. É um palco privilegiado para a internacionalização das
empresas dos três países. No caso brasileiro, a Companhia Vale do Rio Doce participa de empreendimentos em mineração na África do
Sul. A montadora de veículos Marcopolo tem importante investimento em carrocerias de ônibus e estabeleceu um joint venture com
grupo indiano para montar a maior fábrica de coletivos do mundo. A Embraer está no mercado indiano e estuda estabelecer consórcio
com empresas aeronáuticas sul-africanas. A Petrobras mantém entendimentos com a petrolífera estatal indiana para compartilharem
projetos de exploração de petróleo em águas profundas. Por outro lado, as maiores empresas indianas estão ampliando suas
operações no mercado brasileiro e vice-versa. As possibilidades de intercâmbio em áreas tecnológicas sofisticadas são relevantes. No
Brasil, diversas empresas indianas atuam nos setores farmacêutico, químico e petroquímico, de engenharia, de tecnologia da
informação, de petróleo e gás. Mineradora sul-africana efetuou importantes investimentos no Brasil.

HISTÓRICO
_Na assinatura da Declaração de Brasília em junho de 2003, estavam presentes os ministros Dlamini Zuma (África do Sul), Celso
Amorim (Brasil) e Yashwant Sinha (Índia).

_ Menos de um ano depois, trabalhou-se para definir uma agenda de cooperação e plano de ação conjunta em diferentes temas:
multilateralismo, reforma da ONU, paz e segurança, terrorismo, globalização, desenvolvimento sustentável e social.

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_ O primeiro passo concreto de cooperação trilateral foi dado pela assinatura da Agenda de Nova Déli para Cooperação e Plano de
Ação em março de 2004.

_ Em novembro de 2004, começou-se a criar grupos de trabalho temáticos. Em um primeiro momento, foram formados os grupos de
Ciência e Tecnologia, Saúde, Sociedade da informação, Turismo, Transporte e Energia. Atualmente, existem 16.

_ Em 2005, ocorreram reuniões principalmente com o grupo de Ciência e Tecnologia. Em março desse ano, surgiu o GT de Agricultura.
No Comunicado Ministerial da Cidade do Cabo, foram avaliados resultados. Houve também workshops sobre Aids, Malária e
Biotecnologia.

_ Em 2006, iniciou-se a rotina de encontros de chefes de Estado, sendo o primeiro realizado em setembro, dando maior visibilidade ao
G-3.

_ Tendo encerrado seu primeiro ciclo de Cúpulas de Chefes de Estado e de Governo em 2008, nota-se que o IBAS passou a ser o
guarda-chuva de inúmeras iniciativas diplomáticas e em setores específicos da Administração Pública.

PRINCIPAIS METAS
_ Aproximação de posições dos três países em instâncias multilaterais.
_ Cooperação comercial, científica e cultural no âmbito Sul-Sul.
_ Democratização de esferas de tomada de decisão internacional.
_ Promoção da Paz e da Segurança.
_ Desenvolvimento sustentável.
_ Combate à fome e à pobreza.
_ Realização conjunta de projetos setoriais técnicos.
_ Divulgar o fórum é fundamental, uma vez que é pouco conhecido.
_ Encurtar distâncias a partir da oferta de mais linhas aéreas diretas em direção aos três países. A distância é um obstáculo à
cooperação.
_ Desenvolver uma estratégia de desenvolvimento social que reúna as melhores práticas de cada país.

PROPOSTAS
Em linhas gerais, os três países perseguem interesses convergentes como uma ordem mundial multipolar, baseada em uma atenção
maior a países em desenvolvimento, no Direito Internacional e na democracia. Eles defendem também a reforma de instituições, como
o Conselho de Segurança da ONU. Condenam a concessão de subsídios agrícolas por países desenvolvidos.

ANTECEDENTES
_ A partir dos anos 90, Brasil, Índia e África do Sul passaram a buscar maior peso no cenário internacional. Os três países aproximaram-
se por serem semelhantes. São potências intermediárias, com influência decisiva em suas regiões. São democracias consolidadas e
economias em ascensão, enfrentando desafios comuns como desigualdades sociais.
_ A criação do IBAS ocorreu no mesmo ano em que nasceu o G-20 na V Conferência Ministerial da OMC, com o objetivo de abrir
mercados agrícolas dos países desenvolvidos. Por essa razão, o fórum surgiu em um contexto de convergência e aproximação política,
de afirmação dos interesses dos países em desenvolvimento e de uma tentativa de assegurar maior equilíbrio às Relações
Internacionais.

ESTRUTURA DO IBAS
A) Coordenação política
É o mais alto nível. É realizada pelos chefes de Estado e de governo e pelos chanceleres dos países que se reúnem, anualmente, em
cúpulas. Ao final do encontro, emitem declarações conjuntas que refletem posições conjuntas de diversos temas da agenda
internacional. Formalizam também a aprovação de relatórios dos grupos de trabalho e atividades do Fundo IBAS.

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B) Encontros de chanceleres do IBAS
Os chanceleres presidem comissões mistas. São emitidos comunicados conjuntos voltados às atividades do fórum. Eles encontram-se
ainda em paralelo à reunião da Assembléia Geral das Nações Unidas. Em setembro de 2009, divulgaram comunicado em favor da
reforma do CSONU e da conclusão da Rodada Doha.

C) Pontos focais
Na prática, os pontos focais reúnem as autoridades mais importantes, em cada país, na direção executiva do fórum. O ponto focal
brasileiro é o embaixador Roberto Jaguaribe. Os encontros são semestrais. O IBAS não tem sede ou secretariado executivo fixo.

D) Coordenadores nacionais
São os responsáveis pela coordenação das atividades dos grupos de trabalho e pelo gerenciamento administrativo do fórum. No
Itamaraty, foi criada uma unidade administrativa exclusiva: a Divisão do Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul, subordinada ao
Departamento de Mecanismos Regionais.

Grupos de trabalho
Há propostas para formar outros grupos de trabalho, passando para 25 áreas de atuação. Com o objetivo de aumentar a eficiência, o
Brasil propõe agrupar os temas em número menor de estruturas (seis clusters ou comissões). Dessa forma, a chancelaria de cada país
ficaria responsável por acompanhar o andamento de duas comissões. A proposta brasileira está sendo examinada. A seguir, veja os
grupos existentes:

Agricultura
Criado em 2005 no encontro trilateral da Cidade do Cabo, a cooperação quer desenvolver biotecnologias aplicadas à agricultura. Há
um projeto em Guiné Bissau para ajudar o país a reduzir a carência de arroz, diversificar a horticultura, melhorar a criação de animais e
promover o desenvolvimento da agroindústria de média e pequena escala.

Ciência e Tecnologia
Formado na primeira reunião de grupos focais em 2004 em Nova Déli, é um dos grupos mais atuantes. Existem ações em
nanotecnologia. Foi criado um fundo para pesquisa em diversas áreas de interesse comum.

Sociedade da Informação
Formado em 2004, sua atuação gira em torno da governança na Internet (e-governance). Os três países reconhecem que a Copa do
Mundo, em 2010, na África do Sul, será uma excelente oportunidade para cooperação técnica.

Saúde
Formado em 2004, as atividades envolvem a cooperação em relação a vacinas para a AIDS e iniciativas contra a malária. Os
participantes trocam informações e práticas sobre acompanhamento de epidemias, regulamentações sanitárias, medicamentos
tradicionais e propriedade intelectual.

Energia
Criado em 2004, tem como objetivo programas de incentivo ao uso de biodiesel e universalização do acesso à energia.

Transporte
Formado em 2004, o grupo é ativo na área de ligações de rotas aéreas entre os países, treinamento e compartilhamento de
conhecimentos aeroportuários e aeroespaciais, sistemas operacionais e de infraestrutura, construção naval, manutenção do meio
ambiente e sistemas de navegação. Há subáreas como transporte marítimo, aéreo, infraestrutura e criação de empregos.

Cultura
Instituído em 2005, é responsável pela aproximação cultural entre os países. Ficou acordado que cada país irá sediar atividades
culturais regulares (festivais culturais IBSA). Exemplo: Festival de Música e de Dança do IBAS, realizado em Salvador em 2007.
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Em 2010, foi anunciada a
construção de dois satélites
conjuntos por Brasil, índia e África
Defesa
O grupo está estudando potenciais áreas de cooperação. Há o IBSAMAR que envolve exercícios navais dos três países

Educação
A cooperação está voltada à educação aberta e à distância, educação superior, profissional e acesso universal, enfatizando qualidade e
igualdade de gênero.

Comércio
Busca concretizar o comércio Sul-Sul entre os países do fórum.

Administração Pública
Busca de soluções para qualificar o aparato administrativo do Estado.

Assentamentos Humanos
Objetiva compartilhar soluções sobre deslocamento e fixação de pessoas.

Meio-Ambiente
Busca soluções para reduzir o impacto ambiental do desenvolvimento e proteger o ecossistema de cada país.

Administração Tarifária e Aduaneira


Compartilhar informações e experiências em questões de tributos de bens comerciais.

Desenvolvimento Social
Quer o crescimento com distribuição igualitária de renda e melhorar indicadores sociais dos países.

Turismo
Visa estudar e divulgar potenciais turísticos dos países.

FUNDO IBAS
Brasil, Índia e África do Sul mostraram ao PNUD a disposição de associarem-se a projetos de média escala, passíveis de serem
replicados e disseminados em outros países. Nessa perspectiva, o Fundo IBAS de Combate à Fome e à Pobreza foi estruturado em
2004. O PNUD é responsável pela administração.
O fundo é mantido por recursos dos três países, que contribuem anualmente com pelo menos US$ 1 milhão. O primeiro projeto
financiado foi realizado em Guiné-Bissau para desenvolvimento da agricultura e da pecuária. Outro projeto importante foi o
recolhimento de lixo sólido no Haiti. Em 2006, o Prêmio Parceria Sul-Sul para Aliança Sul-Sul foi conferido ao Fundo IBAS pelas Nações
Unidas. Foram aprovados novos projetos em outros países, tais como Palestina (Complexo Esportivo), Burundi, Laos entre outros.

NOVAS PERSPECTIVAS
Há a idéia de constituir, no âmbito do IBAS, uma área de livre comércio entre o Mercosul, a Índia e a SACU (União Aduaneira da África
Austral), o que formaria a maior área de livre comércio do mundo em desenvolvimento. A II Cúpula do IBAS em 2007 avançou nesse
acordo comercial. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterou o compromisso em oferecer tratamento diferenciado aos países
africanos com economias vulneráveis.
A UE tem política semelhante,
com os acordos de Iaoundé,
ACORDOS NO IBAS Lomé e Cotonou
_ 2006 _ Acordo trilateral sobre transporte aéreo criando condições para que se faça a ligação aérea entre Índia, África do Sul e Brasil
para unir os três continentes.

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_ Outros temas = Navegação mercante, agricultura e áreas afins, combustíveis, administração pública e governança, recursos eólicos,
administrações aduaneiras e tributárias, saúde e Medicina.

RESPOSTA A CRÍTICAS
A imprensa dos três países, geralmente, cobra ações concretas do fórum. Segundo diplomatas brasileiros, o IBAS foi pensado como
instrumento de diálogo que está sendo conduzido de forma consistente. O IBAS é um dos mais significativos exemplos do engajamento
do Brasil num exercício de consulta e de coordenação política tão abrangente e contínuo.

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BRASIL, AMÉRICA DO SUL E MERCOSUL

1. Introdução
Os 12 países que integram a América do Sul _ Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru,
Suriname, Uruguai e Venezuela _ totalizaram 387,9 milhões de habitantes em 2008. A população da América do Sul é maior do que a
dos Estados Unidos que tinham 308,8 milhões de americanos no ano passado.
Em termos econômicos, a soma do Produto Interno Bruto (PIB) de todos os países representava cerca de US$ 2 trilhões em
2006, equivalente a 15% do PIB dos norte-americanos nesse ano. No mesmo período, o PIB dos EUA ficou em US$ 13,2 trilhões. Na
América do Sul, os países com maior PIB são, respectivamente, Brasil, Argentina, Venezuela, Colômbia e Chile.

2. O histórico do Brasil na região


A política externa brasileira no século XIX teve como um de seus eixos principais garantir o predomínio do país na
região da Bacia do Rio da Prata. A meta era assegurar a livre-navegação pela bacia platina de modo a proteger interesses comerciais
brasileiros na região. Com esse objetivo, o Brasil anexou a Província Oriental do Rio da Prata (atual Uruguai) em 1821 e batizou com o
nome de Cisplatina. Esta permaneceu como província até a independência uruguaia em 1828. A partir desse momento, o Brasil
preferiu a neutralidade na região até a década de 1850, quando adotou uma política de intervenção procurando se afirmar como
potência regional. Após a Guerra do Paraguai (1864-1870), o Brasil se consolida como potência regional.
Com a Proclamação da República em 1889, o Brasil manteve os pontos centrais da política externa da monarquia na região da
Bacia do Rio da Prata. Nesse período, a linha diplomática, conforme Letícia Pinheiro, era manter o equilíbrio de poder na região e
consolidar as fronteiras do país.
De acordo com Moniz Bandeira (2006), os interesses e atenções brasileiros se concentraram, sobretudo, na região do Prata,
ou seja, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia até a metade do século XX. Uma das razões foi o fato de o abastecimento do Mato
Grosso, Goiás e São Paulo depender quase que, totalmente, da navegação fluvial.
Com as Repúblicas do Pacífico, as relações do Brasil nunca adquiriram peso nem densidade até a metade do século XX. Havia,
no entanto, um interesse primordial do Brasil em resolver fronteiras e navegação fluvial pelo Rio Amazonas. Com o desenvolvimento
industrial, o Brasil começou a buscar mercados para suas manufaturas nesses países a partir dos anos 70. Nesse contexto, o Brasil
resguardava a América do Sul como sua área de influência desde o século XIX. Na visão do Barão do Rio Branco, a região era uma como
um condomínio onde o Brasil exerceria livremente sua influência.
A América do Sul para o Brasil, portanto, resumia-se praticamente aos países da Bacia do Prata, cujas economias se
complementavam, durante muitas décadas do século XX. Ao mesmo tempo, o Brasil também se aproximou do Chile para neutralizar a
Argentina, país com o qual manteve rivalidade entre o final do século XIX e final dos anos 70. Nesse período, pode-se destacar a
assinatura do Tratado da Bacia do Prata em 1969 em Brasília. Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia firmaram o acordo de
cooperação com o objetivo de integrar fisicamente a região.
As tentativas de integração econômica da América Latina remontam os anos 50, quando estudos da CEPAL indicavam a
redução do fluxo de comércio na região e aconselhavam a formação de mercados mais abrangentes. Sob essa ótica, 11 países
celebraram o Tratado de Montevidéu que criou a Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC) em 1960. O objetivo era
criar uma zona de livre comércio em 12 anos para incentivar o desenvolvimento industrial. Faltou, entretanto, empenho dos governos
e a proposta não avançou como o planejado, apesar de haver incremento de comércio. O prazo de transição foi ampliado até 1980.
Nesse ano, os países resolveram criar a Associação Latino-Americana de Integração (ALADI) para corrigir as imperfeições da ALALC. A
ALADI substituiu a ALALC. Não se pretendia mais fixar prazos rigorosos para a integração.
Em 1967, o então presidente Castelo Branco tentou uma união aduaneira com Argentina e Chile e aberta a outros países nos
setores siderúrgico, petroquímico e agrícola, o que não prosperou em razão de fatores políticos e econômicos. Somente, em 1986, a
idéia de união aduaneira ganharia força novamente. Nesse ano, os então presidentes Raul Alfonsín (Argentina) e José Sarney (Brasil)
decidiram unificar os dois países por meio de um mercado comum.
Mais adiante, a meta de unir a América Latina foi incorporada à Constituição Federal de 1988. Conforme o artigo 4º da Carta,
“o Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma
comunidade latino-americana de nações”.
Esse objetivo foi confirmado em 1988 pelo Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento pelo qual os países se
comprometeram em formar um espaço econômico comum no prazo de 10 anos. Os presidentes Fernando Collor e Carlos Menem
decidiram reduzir o prazo para cinco anos. Então, assinou-se o Tratado de Assunção, com a adesão de Uruguai e Paraguai, constituindo
o MERCOSUL em 1991. Esse tratado incorporou os mecanismos, anteriormente, acordados entre Brasil e Argentina. No documento,

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também adotou como estrutura o Conselho do Mercado Comum (CMC), órgão supremo intergovernamental, e o Grupo Mercado
Comum (GMC), órgão executivo e coordenador de 10 subgrupos de trabalho.
Em 1994, o Protocolo de Ouro Preto tratou dos aspectos institucionais do MERCOSUL e modificou, parcialmente, o Tratado de
Assunção. Assim, conferiu personalidade jurídica internacional ao MERCOSUL, o qual permanece como agrupamento de natureza
intergovernamental, com processo decisório fundado na regra do consenso.

3. Objetivos e estrutura do MERCOSUL

No campo político, aspectos cruciais favoreceram a constituição do bloco como mudanças no caráter das relações entre Brasil
e Argentina nos anos 80 e a existência de democracia nos dois países. Até o final dos anos 70, o relacionamento entre Brasil e
Argentina era marcado por disputas hegemônicas e hostilidades latentes. Por outro lado, o final da Guerra Fria e o enfraquecimento
dos países decorrente da crise financeira nos anos 80 impulsionaram a integração para tentar garantir uma inserção internacional mais
favorável.
O projeto do MERCOSUL não era apenas formar uma área de livre comércio, mas constituir um núcleo do futuro mercado
comum, base de um Estado supranacional, como a União Européia, sob o lastro regional da América do Sul. No Tratado de Assunção,
foi instituída a união aduaneira com a completa eliminação de barreiras alfandegárias e não-alfandegárias entre os países membros e
por uma política comercial comum em relação a outros mercados.
Atualmente, o MERCOSUL é uma união aduaneira, que tenta agregar outros países sul-americanos e consolidar um mercado
comum na América do Sul. Nessa linha, a Venezuela celebrou o protocolo de adesão em 2006, que foi aprovado pelo Legislativo
brasileiro (ainda falta aprovação do Congresso paraguaio). Chile, Bolívia, Peru, Colômbia e Equador são membros associados. Já o
México é observador. O bloco se caracteriza pelo chamado “regionalismo aberto”, ou seja, não se apóia na discriminação imposta a
outros mercados.
Em síntese, serão citados os principais órgãos do MERCOSUL e suas funções na seqüência. Detalhes podem ser obtidos nas
páginas 198-215 do manual do candidato de Direito Internacional.

A) Conselho Mercado Comum (CMC) = É o órgão superior do MERCOSUL que firma acordos e tratados em nome do bloco. É
responsável pela tomada de decisões para assegurar os objetivos do Tratado de Assunção, demais acordos e lograr a constituição final
de um mercado comum.

B) Grupo Mercado Comum (GMC) = É órgão executivo do MERCOSUL e está subordinado ao CMC. Resoluções adotadas são
obrigatórias. Pode negociar e firmar tratados desde que receba a delegação do CMC.

C) Comissão de Comércio do MERCOSUL (CCM) = Está em escala inferior ao GMC. É órgão de consulta e assessoramento. Pode
firmar tratados desde que autorizada pelo GMC (que pede ao CMC).

D) Secretaria Administrativa do MERCOSUL = Órgão que serve de arquivo para os instrumentos legais de interesse do bloco.
Tem a lista de árbitros.

E) Comitês técnicos = Destituídos de poder decisório. Consulta e assessoria. Cabe à CCM criá-los.

F) Parlamento do MERCOSUL = Serve para fortalecer vínculos do MERCOSUL com Parlamentos nacionais e estimular a
incorporação dos regramentos do bloco nos países. Tem função consultiva, deliberativa e pode apresentar propostas. Em 2010,
haveria a primeira eleição direta dos integrantes com critérios a serem definidos. Haverá sufrágio direto nos Estados-membros para
cidadãos participarem do processo. Há desentendimentos sobre o número de parlamentares. Paraguai antecipou-se e elegeu quantos
quis.

G) Foro Consultivo Econômico-Social = É um órgão consultivo. Quer ampliar a participação da sociedade na integração.

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H) Tribunal Permanente de Revisão = Em 2002, o Protocolo de Olivos, concluído em Buenos Aires, reorganizou o sistema de
solução de controvérsias do MERCOSUL. Nesse sentido, foi criado o tribunal que julga, em grau de recurso, as decisões de tribunais
arbitrais. Primeiro, há negociações diplomáticas. Se não dá certo, o caso é julgado em primeira instância num tribunal arbitral. Quanto
provocado, o Tribunal de Revisão examina a decisão e modifica-a se julgar necessário após a análise dos fundamentos jurídicos da
decisão. A questão então é julgada de forma definitiva. A decisão será inapelável e obrigatória. O tribunal prepara o terreno para
criação de uma Corte Permanente do MERCOSUL.

I) Fundo para Convergência Estrutural do MERCOSUL = Financia projetos para desenvolver a competitividade e promover
coesão social dos países mais pobres do bloco. Objetivo: superar assimetrias. Uruguai e Paraguai são os principais beneficiados pela
iniciativa.

4. Acordos e negociações do MERCOSUL


Divisão de Negociações Extra-Regionais do MERCOSUL I e II:
MECANISMOS DE DIÁLOGO E PROCESSOS NEGOCIADORES

Em 19 de junho de 1991, os Estados Partes do MERCOSUL e os EUA firmaram o Acordo do Jardim das Rosas (Rose Garden
Agreement), também conhecido como “4+1”, criando um Conselho Consultivo sobre Comércio e Investimento com mandato para
identificar oportunidades nessas áreas.

Em 16 de junho de 1998, MERCOSUL e Canadá firmaram Entendimento de Cooperação sobre Comércio e Investimentos e Plano de
Ação, incluindo criação de um Grupo Consultivo.

Em 1995, MERCOSUL e União Européia assinaram Acordo-Quadro Inter-Regional de Cooperação, que estabeleceu o arcabouço para a
negociação de “Acordo de Associação” entre as duas regiões, com três pilares: diálogo político, cooperação e comércio. A negociação
não pôde ser concluída em 2004 (ver oferta comercial do MERCOSUL, Nota à Imprensa n.º 438, de 25.09.2004, Nota à Imprensa n.º
445, de 29.09.2004 e Nota à Imprensa n.º 487, de 20.10.2004), mas o diálogo entre as partes se manteve. O interesse em intensificar
as relações bi-regionais é assinalado na Declaração de Montevidéu, de 17.12.2007, na Declaração de Lima, de 17.05.2008, e no
Comunicado Conjunto de Praga, de 14.05.2009.

MERCOSUL e AELC (Associação Européia de Livre Comércio) assinaram, em 15 de dezembro de 2000, Declaração sobre Cooperação
em Comércio e Investimento e Plano de Ação.

MERCOSUL e Turquia assinaram Acordo-Quadro para o Estabelecimento de Área de Livre Comércio em junho de 2008. A primeira
rodada negociadora realizou-se em novembro de 2008.

MERCOSUL e Rússia estão finalizando a negociação de Acordo sobre Cooperação Econômica e Desenvolvimento, que complementará
o Diálogo Político que mantêm desde 2006.

MERCOSUL e CER (Acordo Austrália - Nova Zelândia para o Estreitamento das Relações Econômicas) estabeleceram, em 1994,
mecanismo de diálogo sobre temas comerciais, no âmbito do qual se realizam reuniões de alto nível (ver Declaração Conjunta, de
22.11.2004).

MERCOSUL e Japão iniciaram, em 1996, processo de diálogo, por meio de reuniões de alto nível. Em 2006, decidiu-se estabelecer
Grupo de Trabalho sobre Comércio e Investimentos, com mandato para examinar temas de interesse recíproco nessa esfera.

Em 1997, MERCOSUL e China estabeleceram “Encontro de Alto Nível”, um foro de diálogo com temário político e econômico-
comercial.

Em 2007, MERCOSUL e Coréia adotaram Estudo Conjunto sobre os impactos de eventual negociação de acordo de livre comércio. Em
2009, foi assinado o Memorando de Entendimento para o Estabelecimento de Grupo Consultivo Conjunto para a Promoção
de Comércio e Investimentos entre o MERCOSUL e a República da Coréia. O mandato do Grupo Consultivo inclui, entre outros
pontos, o exame da possibilidade de lançar negociações comerciais, sem prejulgar decisão positiva nessa direção.

Em 24 de novembro de 2008, realizou-se em Brasília a I Reunião Ministerial MERCOSUL-ASEAN. Em Declaração à Imprensa, os


Ministros das duas regiões manifestaram intenção de engajar-se em processo de diálogo como plataforma para uma cooperação
econômica mais estreita.

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MERCOSUL e Cingapura firmaram, em setembro de 2007, Memorando de Entendimento sobre Cooperação em Comércio e
Investimentos, estabelecendo Plano de Ação e criando Grupo Consultivo sobre Cooperação em Comércio e Investimentos (ver Nota à
Imprensa n.º 458, de 24.09.2007). Na I Reunião do Grupo Consultivo MERCOSUL-Cingapura, realizada em Brasília, em 25 de novembro
de 2008, as partes reiteraram seu interesse em implementar projetos de cooperação econômica.
Em 18 de dezembro de 2007, foi assinado acordo de livre comércio com Israel, o primeiro do gênero entre o MERCOSUL e um parceiro
extra-regional. Foram, ademais, concluídos acordos de comércio preferencial com a Índia (primeiro acordo com parceiro extra-
regional a entrar em vigor, ocorreu este ano) e a União Aduaneira da África Austral – SACU (África do Sul, Botsuana, Lesoto, Namíbia e
Suazilândia), como primeiro passo para a constituição de áreas de livre comércio. Estão em curso negociações comerciais com
Marrocos, Egito, Conselho de Cooperação do Golfo – CCG (Arábia Saudita, Bareine, Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Omã),
Jordânia e Paquistão, além de esforços para ampliar as negociações com Índia e SACU, na perspectiva de uma futura área de livre
comércio trilateral MERCOSUL – SACU - Índia.
Acordos intra-regionais (no âmbito da Aladi)
1) ACE-35 MERCOSUL-Chile: O ACE-35 é um Acordo de Livre Comércio assinado em 25/06/1996 e em vigor desde 01/10/96. O Acordo
teve por objetivo o estabelecimento, no prazo máximo de 10 anos, de uma zona de livre comércio entre as Partes. Nesse sentido, o
processo de desgravação tarifária encontra-se em estágio avançado: desde janeiro de 2006, a quase totalidade do universo tarifário
atingiu 100% de margem de preferência. A partir de janeiro de 2007, foi iniciado o processo de desgravação dos produtos constantes
dos Anexos 6 (lista de exceções), 7 (lista de exceções sobre produtos do Patrimônio Histórico) e 8 (setor açucareiro). A Comissão
Administradora do ACE-35 aprovou, em 20/06/2008, o “Protocolo sobre o Comércio de Serviços entre MERCOSUL e Chile”. Na Reunião
da Cúpula do MERCOSUL, realizada em Tucumán, Argentina, no dia 1º/07/08, foi adotada Declaração a respeito do tema.

2) ACE-36 MERCOSUL-Bolívia: O ACE-36 MERCOSUL-Bolívia é um Acordo de Livre Comércio assinado em 17/12/1996 e em vigor desde
28/02/1997. À exceção dos produtos constantes dos Anexos 05 e 06 do Acordo, todos os demais contam com 100% de margem de
preferência desde 01/01/2006. O Anexo 05 lista 650 produtos que só serão completamente desgravados em 2011, e o Anexo 06,
outros 29 produtos que só serão plenamente liberalizados em 2014.

3) MERCOSUL- MÉXICO:
- ACE-54 MERCOSUL-México: assinado em 05/07/02, é um Acordo-Quadro que tem por objetivo estabelecer as bases para uma futura
área de livre comércio entre o México e os Estados-Partes do MERCOSUL.

- ACE-55 MERCOSUL-México (setor automotivo): acordo em vigor desde 01/03/03, exclusivo para os produtos do setor automotivo
(veículos e autopeças). Este acordo estabelece a redução recíproca de alíquotas de importação dos produtos do setor, conforme
cronograma que tende ao livre comércio em veículos leves (em vigor desde 2007), veículos pesados (previsto para ser negociado até o
prazo máximo de 2020). As autopeças listadas nos apêndices bilaterais do Acordo já são comercializadas em regime de livre comércio.

4) ACE-58 MERCOSUL-Peru: O ACE-58 é um Acordo de Livre Comércio, assinado em 30/11/05 e em vigor desde 01/01/06. As listas de
concessões agrupam Brasil e Argentina bilateralmente (desgravação total até 2012) e listas especiais para o Paraguai (até 2012) e
Uruguai (até 2011). As concessões do Peru possuem prazos de desgravação mais longos que os concedidos por Brasil e Argentina (até
2014). Para produtos sensíveis, existem tabelas de desgravação intermediárias para os anos de 2014, no caso de Brasil e Argentina, e
até 2019 no caso do Peru.

5) ACE-59 MERCOSUL-Colômbia/Equador/Venezuela: O ACE-59 é um Acordo de Livre Comércio assinado em 18/10/04 e em vigor


desde 02/02/05. O programa de liberalização comercial possui ritmos e prazos de desgravação diferenciados, com concessões maiores
para os países andinos, Paraguai e Uruguai. Os cronogramas de desgravação compreendem: i) cronograma geral (programas de
desgravação de quatro, cinco, seis, oito, dez e doze anos); ii) cronogramas para produtos do patrimônio histórico (programas de
desgravação de um dez anos) e iii) cronogramas para produtos sensíveis, que podem ser ou não do patrimônio histórico (programas de
desgravação de doze, treze e quinze anos).

6) ACE-62 MERCOSUL-Cuba: Acordo firmado em 21/07/06 e em vigor entre Brasil e Cuba desde 28/07/07. O ACE-62 consolidou a
multilateralização das preferências dos quatro acordos bilaterais entre os Estados-Partes do MERCOSUL e Cuba, pela maior preferência
negociada em um daqueles acordos.

- ESPAÇO DE LIVRE COMÉRCIO – ELC (ALADI)

A Resolução nº , de 18/11/04, do Conselho de Ministros, instância máxima da Associação Latino-Americana de Integração (ALADI),
aprovou as bases para a conformação progressiva de um Espaço de Livre Comércio (ELC) entre os países membros da Associação. O
ELC buscará a convergência dos acordos de comércio regional atualmente em vigor e poderá abranger “novos temas”, tais como
serviços, investimentos, propriedade intelectual e compras governamentais.
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O XIV Conselho de Ministros, realizado em 11/03/08, adotou a Resolução nº 62, pela qual foi encomendado ao Comitê de
Representantes da ALADI que “prossiga com os trabalhos para a conformação progressiva do Espaço de Livre Comércio no marco do
aprofundamento da integração regional, tomando como base os trabalhos desenvolvidos no âmbito da Associação e as considerações
expressadas nesta reunião”.
5. Posições do Brasil hoje
No discurso de posse em 2003, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a prioridade do governo seria “a construção de
uma América do Sul politicamente estável, próspera e unida, com base em ideais democráticos e de justiça social”. Nesse sentido, Lula
prometeu cuidar de arranjos institucionais para florescer uma verdadeira identidade do MERCOSUL e da América do Sul. Na mesma
direção, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou ser essencial o aprofundamento da integração dos países sul-
americanos com a formação de um espaço econômico unificado, de livre comércio, e projetos de infra-estrutura.
Em 2006, Amorim repetiria o discurso em entrevista à Revista Isto é dizendo que a integração da América do Sul não era
prioridade deste governo, mas do Itamaraty como um todo. Segundo o ministro, o MERCOSUL pode ser um bloco de países do Caribe
até a Patagônia. Prega também a integração física como forma de competir na economia globalizada e a capacidade de negociar
conjunta dos países. O Brasil acredita, portanto, que o MERCOSUL é a espinha dorsal da integração da América do Sul. Para o
Itamaraty, o MERCOSUL não pode se reduzir a uma zona de livre comércio ou união aduaneira. Assim, as dificuldades conjunturais são
inerentes a qualquer projeto inovador.

6. A realidade de cada país e sua relação com o Brasil*

Argentina
O país tem o segundo maior território da América do Sul. É o maior parceiro comercial do Brasil na região. A Argentina, rica
em minérios, é grande produtora de carne e cereais. Com a falência do modelo cambial adotado em 1991, houve grave crise no final
da década. O ápice chega, em 2002, quando o PIB despenca 10,9% e mais da metade da população passa a viver abaixo da linha de
pobreza. Nos anos 70, apenas 5% dos argentinos se encontravam nessa situação. A partir de 2003, porém, o forte crescimento da
economia permite significativa melhoria da qualidade de vida.

Bolívia
Brasil considera prioritária a relação com a Bolívia em razão da extensa fronteira que mantém com o vizinho. É a “parceira
privilegiada” do Brasil. O país é um dos mais pobres do continente americano, com alta taxa de analfabetismo e baixo Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH).
Não tem saída para o mar. Há uma histórica disputa com o Chile pelo acesso ao mar, pois perdeu parte do território para a
nação vizinha na Guerra do Pacífico no final do século XIX. Guerra do Pacífico: 1879-1883
Na segunda metade do século XX, a Bolívia passa a ocupar lugar central no tráfico mundial de cocaína, reduzido nos últimos
anos por meio do programa de erradicação de plantações ilícitas. Por outro lado, o país abriga a segunda maior reserva de gás natural
conhecida da América do Sul, atrás da Venezuela.

Chile
O país possui o território mais estreito do mundo. O Chile ultrapassou a Argentina, em 2008, tornando-se o país com mais alto
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da América do Sul.
É o maior produtor mundial de cobre. Principais fontes de receita: exportações de cobre, frutas e derivados de pescado.

Colômbia
Os principais produtos de exportação do país são café e petróleo. Além de sofrer com um conflito interno, que envolve
guerrilheiros de esquerda, grupos paramilitares de direita e as Forças Armadas, enfrenta forte presença do narcotráfico. Isso leva o
país a ter um dos maiores contingentes de refugiados internos, ou seja, pessoas obrigadas a deixar suas casas em razão do conflito,
mas que permanecem no interior das fronteiras nacionais.

Equador
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No Litoral do país, desenvolvem-se as seguintes culturas: café, cacau e, em especial, banana. O Equador é um dos principais
exportadores mundiais de bananas. Coberta pela selva amazônica, a região leste possui importantes reservas de petróleo.

Guiana
Único país de colonização britânica na região, o país cultiva principalmente cana-de-açúcar e arroz. A Guiana mantém disputas
fronteiriças com Venezuela e Suriname.

Paraguai
É considerado o “sócio íntimo” e “aliado especial” do Brasil no MERCOSUL. Na extensa área plana do leste, o principal produto
cultivado e exportado é a soja. A região da Savana do Gran Chaco é destinada à pecuária. O Rio Paraguai, que liga o Norte ao Sul, é a
principal via comercial num país sem saída para o mar.
No Paraguai, vivem muitos brasileiros, os “brasiguaios”, que ocupam uma área cada vez maior junto à fronteira com o Brasil,
fonte de tensão com os habitantes locais. Além do contrabando, o país serve de rota para o tráfico internacional de drogas.
Após décadas de ditadura, o regime político é instável e apresenta alto grau de corrupção. As hidrelétricas construídas em
associação com o Brasil (Itaipu) e com a Argentina (Yaciretá) fornecem energia abundante e barata para o Estado brasileiro.

Peru
Terceiro maior país da América do Sul, possui parte da Amazônia a leste da Cordilheira dos Andes onde se encontram as
nascentes do Rio Amazonas. O país exporta ouro, cobre e pesca. Estima-se, no entanto, que o comércio ilegal de coca supere todos os
recursos obtidos com as exportações legais.

Suriname
Antiga colônia da Holanda (Países Baixos), o país é um dos grandes produtores mundiais de bauxita. Desde a suspensão do
auxílio holandês, nos anos 80, a economia enfrenta recessão. O Suriname disputa áreas fronteiriças com a Guiana Francesa. Brasileiros
que trabalham em garimpos brigam com moradores do vizinho.

Uruguai
É caracterizado como “aliado histórico” do Brasil. Situado às margens do Rio da Prata, o Uruguai tem a pecuária como setor
mais tradicional da economia, com destaque para a produção de lã e de carne. A agricultura se baseia no cultivo de cereais. O setor de
serviços, em especial o turismo, está em expansão.

Venezuela
Na visão brasileira, o país tem uma aliança estratégica com a Venezuela. Na região do Lago Maracaibo, o maior da América do
Sul, concentra-se a extração de petróleo, a principal atividade econômica nacional, responsável por mais de 80% das exportações. Com
o governo Hugo Chávez, que se elegeu pela primeira vez em 1998, iniciou-se a reforma agrária e ampliou-se o poder estatal sobre a
extração petrolífera, o que desagrada o empresariado.

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RELAÇÕES BRASIL-ARGENTINA

1. Circunstância (Ortega y Gasset citado por Lafer)

 Esse termo tem sido freqüentemente utilizado pela diplomacia brasileira para se referir à sua política externa em relação aos seus
vizinhos: "Eu sou eu e minha circunstância", a conhecida sentença de Ortega y Gasset.

 Foi salientado primeiramento pelo nosso então Chanceler Celso Lafer, por ocasião do décimo aniversário do Mercosul, “ele é o
nosso destino, e não a nossa opção”. Celso Lafer disse com muita propriedade: “O MERCOSUL é o nosso destino; a Alca é uma opção”.
Explicitou Celso Lafer, parafraseando Ortega y Gasset: “Trata-se da circunstância do nosso eu diplomático. Aprofundál- o é não apenas
fazer da geografia nossa economia, buscando crescentes formas de integração física e comercial, mas também reafirmar as afinidades
derivadas das culturas e das formas compartilhadas de conceber a vida democrática em sociedade”.

 “A consolidação pacífica do espaço nacional liberou o país para fazer do desenvolvimento o tema básico da política externa
brasileira no correr do século XX. Criou igualmente as condições para que o Brasil estivesse à vontade e em casa com o componente
sul-americano de sua identidade internacional, ou seja, como diria Ortega y Gasset, com a sua circunstância. Esta é assim uma força
profunda, de natureza positiva, de sua política externa, que no século XX esteve basicamente voltada, no contexto regional, para o
entendimento entre os países sul-americanos.

 Este entendimento buscou transformar fronteiras-separação em fronteiras-cooperação, o que em tempos mais recentes se traduziu
em fazer não apenas a melhor política mas a melhor economia de uma geografia como, por exemplo, vêm fazendo os europeus, desde
a década de 1950, no seu processo de integração. O paradigma deste processo de transformação do papel das fronteiras na América
do Sul é o Mercosul, resultado de uma efetiva reestruturação de natureza estratégica, do relacionamento Brasil-Argentina e grociano
“pilotis da organização de toda a América do Sul”, na avaliação do presidente Fernando Henrique Cardoso” (LAFER, Celso. Brasil:
dilemas e desafios da política externa )

2. Parceria Estratégica

 A eleição de “parcerias estratégicas”, contanto que com sócios preferenciais, foi resultado da nova formulação e implementação da
política exterior, cuja síntese era o universalismo seletivo, no qual se percebe a necessidade de levar adiante aproximações específicas
(eleitas como opção) que permitem alcançar objetivos comuns com potências regionais semelhantes, tirar proveito de oportunidades
e enfrentar desafios.

 Ao visitar a Argentina, como sua primeira viagem internacional como presidente eleito do Brasil, Lula começa a dar corpo à nova
política externa brasileira. Parceria comercial, Mercosul, vizinhança. A simbologia dessa primeira viagem fornece um marco inicial de
uma opção estratégica.

**Declaração Conjunta Brasil – Argentina (visita de Lula à Argentina nos dias 22 e 23 de abril de 2009)
Nos dias 22 e 23 de abril de 2009, a convite da Presidenta da República Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, o Presidente da
República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, realizou visita de trabalho à Argentina. Na ocasião, ambos os Chefes de Estado
passaram em revista o amplo espectro da relação bilateral e avaliaram o estado de implementação do Mecanismo de Integração e
Coordenação Bilateral Brasil – Argentina.

 Reafirmaram a importância de que a parceria estratégica entre Brasil e Argentina continue produzindo resultados concretos e
tangíveis, assim como benefícios mútuos, nas diversas áreas que compõem as relações bilaterais, a fim de que as altas aspirações de
desenvolvimento e prosperidade de suas respectivas sociedades encontrem nesta parceria sua mais legítima expressão política e
melhor tradução prática, em prol do crescimento e do desenvolvimento de suas populações.

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 Brasil e Argentina, antes de tomarem posições perante órgãos internacionais, procedem com consultas recíprocas para externalizar
posições conjuntas.

3. Integração –Irreversibilidade

 Não se fala mais em optar pela integração, ela já foi realizada no passado. A integração já está feita. As questões a serem
observadas agora é como se evoluirá essa integração de agora em adiante. Frase de Celso Lafer: “O MERCOSUL é o nosso destino; a
Alca é uma opção”.

4. Inclusão do Mercosul – líderes do bloco (núcleo duro)

 O governo Cardoso dirigiu sua ação integracionista dentro da estratégia dos “círculos concêntricos” (a teoria dos círculos
concêntricos foi desenvolvida por Jeremy Bentham para explicar os vários segmentos influenciadores do comportamento humano), a
qual definia como o núcleo duro de sua ação o Mercosul, e a partir dali as prioridades eram América do Sul, ALCA e UE. Na conjuntura
da política exterior brasileira a ALCA passa a ter o último nível de prioridades, segundo as próprias palavras do chanceler Amorim
(2004): “Para o governo brasileiro, as negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC) são o alvo número 1, e com a União
Européia (UE), o número 2. A Alca fica para depois: não que seja menos relevante, não por nosso desejo, mas só porque está mais
atrasada”.

 A política externa brasileira tratou de criar uma nova realidade regional. Através da integração com os países vizinhos, além de
benefícios econômicos mais imediatos, se reforçaria a base regional como forma de incrementar a participação do Brasil e de seus
parceiros platinos no plano mundial. Neste sentido, o Mercosul não constituía um fim em si mesmo, nem o aspecto comercial
constituía o objetivo essencial, apesar do discurso oficial, mas fazia parte de um projeto mais abrangente.

 Quando os EUA anunciaram a criação do NAFTA, o Brasil reagiu lançando em 1993 a iniciativa da ALCSA (Área de Livre Comércio Sul-
Americana) e estabelecendo com os países sul-americanos e africanos a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (ZoPaCAS), numa
estratégia de círculos concêntricos a partir do Mercosul.

 A criação de uma área de integração sul-americana, tendo o Mercosul (na verdade, integração Brasil e Argentina, pois é nesses dois
países que passa a integração de fato) como núcleo duro, ampliava a margem de manobra e a capacidade de resistência frente ao
poder de atração que o NAFTA exerce sobre os países latino-americanos individualmente.

Inflexão – 1979 - 1983

1966 –Ata das Cataratas


 A Ata das Cataratas, assinada em 22 de junho de 1966, no Governo de Castelo Branco, pelos Ministros das Relações Exteriores do
Brasil e Paraguai, apresentou-se como um marco regulatório inicial no que diz respeito ao aproveitamento do potencial hidroelétrico
dos rios que faziam fronteira entre os dois países.

 Partindo de um início impregnado por uma atmosfera conflituosa, no ano de 1966, devido a um litígio de fronteira entre o Brasil e o
Paraguai por uma pequena região nas chamadas Sete Quedas, o entendimento diplomático entre os dois países sinalizou para a
construção de uma hidrelétrica binacional, que, desse modo, tanto iria “submergir” a questão litigiosa, quanto servir como um
propulsor econômico para o desenvolvimento dos dois Estados, tendo-se em vista o imenso potencial hidroelétrico que poderia ser
gerado pelas águas contíguas.

 Por outro lado, a Argentina, lançou desde o início dos primeiros contatos entre Brasil, Paraguai e a construção de Itaipu um olhar de
desconfiança e reprovação. o estado argentino buscava alternativas que procurassem inviabilizar o mesmo, travando-se verdadeiras

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disputas entre o corpo diplomático argentino e brasileiro em decorrência da hidrelétrica binacional e o aproveitamento do potencial
hidroelétrico das águas internacionais da Bacia Platina.

 Arrastando-se durante o final da década de sessenta e toda a década seguinte, tal situação apenas caminharia para um desfecho
cooperativo no ano de 1979, com a assinatura do Acordo Tripartite, entre os três Estados.

1969 –Tratado da Bacia do Prata

 Reuniões de chanceleres tentando harmonizar os objetivos dos países da bacia do prata. Argentina reclamava a questão da
“Consulta Prévia” e Brasil defendia a posição de “Informação Prévia” e de sua soberania.

1973 –Tratado de Itaipu

 O Tratado de Itaipu concluiu uma disputa geopolítica de 150 anos entre Brasil e Argentina pela influência sobre o país que controla
o curso médio dos rios principais da Bacia Platina. A declaração de independência do Paraguai inscreve-se no processo de
fragmentação do Vice-Reino do Rio da Prata, que evitou a emergência de uma Grande Argentina.

1979 –Acordo Tripartite

 Com a decisão brasileira de construir a Hidrelétrica de Itaipu à revelia dos projetos argentinos para aproveitamento dos recursos
propiciados pelo rio Paraná, é gerada uma crise nas relações que perdura por mais de uma década, durante a qual há hipótese de
confronto armado, sempre balanceada nas correlações de forças a nível regional, as quais, nesta época, eram claramente favoráveis ao
Brasil.

 Como resultado do longo processo de negociações decorrente, é assinado o Acordo Tripartite Itaipu-Corpus, que equaciona o
problema de utilização dos recursos hídricos, harmonizando os projetos hidrelétricos da Argentina e do Brasil, e permite que os países,
então, iniciem uma nova etapa nas suas relações recíprocas, caracterizada pela superação das antigas tensões. Este acordo representa
um ponto de inflexão entre a disputa geopolítica e a política de cooperação.

 A Argentina teve basicamente 3 razões para aceitar o acordo: a) o país vivia um episódio de insurgência interna, o que
desaconselhava a manutenção de um conflito potencial com o Brasil; b) havia uma certa coincidência ideológica entre os regimes
militares de ambos os países; e c) a Argentina possuía problema com o Chile em torno do Canal de Beagle, o que poderia significar um
conflito potencial em que teria que lutar contra dois frontes ao mesmo tempo.

 O Acordo Tripartite Itaipu-Corpus trata basicamente da compatibilização técnica entre os projetos das usinas de Itaipu e de Corpus,
além das conseqüentes normas operacionais interdependentes. Brasil diminuiu o número de turbinas em conformidade com as
reivindicações argentinas, que cedeu às suas barreiras. O pacto foi configurado pela troca de notas, de mesma data e idênticos teores,
entre os Ministros das Relações Exteriores dos três países.

1980 –Acordo de Cooperação para o desenvolvimento e a Aplicação dos Usos Pacíficos da Energia Nuclear

 Esse acordo marca o início de uma nova abordagem de ambos os países frente às restrições que vinham sendo impostas ao acesso
à alta tecnologia, bens e serviços nucleares em todo o mundo indicando a percepção crescente da importância da cooperação bilateral
em áreas estratégicas como a nuclear. Comprometem-se a utilizar Energia Nuclear somente para fins pacíficos, extinguindo as causas
das tensões regionais quanto à segurança.

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1982 –Guerra das Malvinas (postura de aliança demonstrada pelo Brasil)

 A escala do apoio brasileiro à Argentina durante a Guerra das Malvinas( presidente João batista Figueiredo):
- "12 ou 14" caças Xavante
- cessão de aviões BEM 111 "com pilotos" para ajudar no patrulhamento do litoral argentino
- escoavam as exportações argentinas ( questão do embargo)

 Com esse gesto de “aliança”, o Brasil sepultou as desconfianças entre os dois países e consolidou de vez a sua hegemonia regional.
Com isso abriram-se as portas para a criação do Mercosul.

Primeiro passos para a Integração – Democratização

1985 –Declaração de Iguaçu e Declaração Conjunta sobre Política Nuclear

 Lançamento da idéia de integração política e econômica do conesul.

 Do processo de nova abordagem de Brasil e Argentina em relação à alta tecnologia, o período mais intenso de negociações entre os
dois países no setor nuclear ocorreu entre 1985 e 1991 quando foram emitidos vários documentos da maior importância para as
relações entre o Brasil e a Argentina no setor nuclear.

 Os dois primeiros foram a Declaração do Iguaçu e a Declaração Conjunta Sobre Política Nuclear, assinadas, respectivamente, em 29
e 30 de novembro de 1985. Na Declaração do Iguaçu, os presidentes José Sarney e Raúl Alfonsín expressaram sua convicção de que a
ciência e a tecnologia nucleares desempenhavam um papel de fundamental importância no desenvolvimento econômico e social. Na
segunda, os presidentes decidiramm criar um grupo de trabalho conjunto para a promoção do desenvolvimento tecnológico-nuclear
para fins exclusivamente pacíficos.

 Praticamente um ano depois da criação do referido grupo de trabalho, os presidentes dos dois países avaliaram positivamente suas
atividades e emitiram em Brasília, em 10 de dezembro de 1986, a Declaração Conjunta Sobre Política Nuclear por meio da qual foi
decidido intensificar o intercâmbio de informações e consultas entre os dois países no campo da energia nuclear.

 Em 1987, ocorreu a visita do presidente José Sarney às instalações onde a Argentina desenvolvia pesquisas sobre o
enriquecimento de urânio em Pilcaniyeu. Naquela oportunidade, foi emitida a Declaração de Viedma onde foi assinalada a
possibilidade de cooperação técnica por via da integração das indústrias nucleares dos dois países.

 O processo de aproximação teve continuidade em 1988, quando ocorreu a visita do presidente Raúl Alfonsín ao Centro
Experimental de Aramar onde são desenvolvidas várias atividades nucleares brasileiras. Na ocasião, foi assinada pelos presidentes do
Brasil (José Sarney) e da Argentina a Declaração de Iperó na qual foi decidido aperfeiçoar os mecanismos de cooperação política e
técnica existentes. O ponto mais importante da Declaração de Iperó, no entanto, foi a transformação do grupo de trabalho criado
anteriormente no Comitê Permanente sobre Política Nuclear.

1986 –Ata para a Integração Brasileiro-Argentina (Estabelecimento do PICE –Programa de Integração e Cooperação
Econômica)

 Acordos em diversas áreas como comércio e indústria com o fito de integrar Brasil e Argentina. Integração de caráter completo. O
programa tinha por objetivo abrir, de modo seletivo, os mercados nacionais e estimular a complementaridade das economias, a fim de
permitir condições de adaptação dos agentes privados ao novo ambiente econômico e propiciar a modernização tecnológica gerando
uma maior eficiência na aplicação de recursos nas duas economias. Para alcançar esses objetivos foram assinados 24 Protocolos entre
Brasil e Argentina.
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 Para a Argentina, os protocolos subscritos eram parte de um conjunto de políticas de desenvolvimento industrial e de comércio
exterior. Para o Brasil, ainda que o impacto da abertura argentina fosse muito menor, era importante estabelecer alianças estratégicas
em setores como a energia nuclear, aeronáutica, indústria automotriz e alimentação

1988 –Tratado de Integração, Cooperação Econômica e Desenvolvimento (formação de área econômica comum em 10
anos)

 Os dois países estabeleceram um prazo de dez anos (ou seja, prazo para 1998) para a formação de um espaço econômico comum,
mediante a eliminação de barreiras tarifárias e não-tarifárias e a elaboração de políticas conjuntas.

Integração Brasil -Argentina e Mercosul

1990 –Ata de Buenos Aires

 O objetivo do Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento foi reafirmado pelos Presidentes Fernando Collor de Mello e
Carlos Saúl Menem com a assinatura da Ata de Buenos Aires, em 6 de julho de 1990. A metodologia de trabalho para a criação de um
mercado comum, no entanto, foi alterada.

 Em primeiro lugar, a Ata de Buenos Aires diminuiu o prazo estipulado pelo Tratado de 1988, estabelecendo a data de 31 de
dezembro de 1994 para a constituição de um mercado comum entre Brasil e Argentina. Em segundo lugar, em vez de acordos
setoriais, privilegiou-se a redução linear de tarifas aduaneiras e de barreiras não-tarifárias.

 A aceleração da estratégia de integração econômica ocorreu em momento em que Brasil e Argentina passavam por reformas
econômicas baseadas na liberalização comercial do Consenso de Washington.

1991 –Mecanismo Permanente de Consultas –Harmonização de Políticas Exteriores

 A Visava harmonizar as políticas exteriores que estavam voltadas para a liberalização comercial e, portanto, eram bastante
convergentes. (Contexto –Consenso de Washington/Neoliberalismo e na Argentina –Conversibilidade/“Relaciones Carnales”)

1991 –Tratado de Assunção

 O Tratado de Assunção incorporou em quase a sua totalidade as recomendações do Consenso de Washington.

 Prevê a formação do Mercosul - Mercado Comum do Sul a partir de janeiro de 1995.

 Seus objetivos eram a inserção competitiva dos países nos mercados mundiais, a promoção de economias de escala e a ampliação
do comércio e os investimentos. Para isso, se estabeleciam como instrumentos: 1) um programa de liberalização comercial linear,
progressiva e automática, livre circulação de bens, serviços e fatores, 2) a coordenação das políticas macroeconômicas, 3) o
estabelecimento de uma tarefa externa comum, 4) a adoção de acordos setoriais e 5) a regulação de um regime geral de origem,
cláusulas de salvaguarda e solução de controvérsias.

 Paraguai e Uruguai são Incorporados. MERCOSUL ainda não tem personalidade jurídica internacional.

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1991 –Protocolo de Brasília

 Sistema de arbitragem ad hoc, com um árbitro de cada um dos países envolvidos e um 3º neutro. Define meios para que as partes
possam ter como solucionar divergências que possam vir a ocorrer entre os participantes do MERCOSUL.

1991 –Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle (ABACC)

 A ABACC é a única organização binacional de salvaguardas nucleares existente no mundo e a primeira organização binacional criada
pela Argentina e pelo Brasil.

 Como um organismo regional da área de salvaguardas, seu objetivo principal é garantir à Argentina, ao Brasil e à comunidade
internacional que todos os materiais nucleares são utilizados com fins exclusivamente pacíficos.

 A importância do processo político que levou à criação de uma agência binacional de controle de materiais nucleares é inegável no
âmbito das relações Brasil–Argentina.

 O processo histórico de construção da confiança foi iniciado em 1980 quando, no dia 17 de maio daquele ano, foi assinado o Acordo
de Cooperação para o Desenvolvimento e a Aplicação dos Usos Pacíficos da Energia Nuclear por meio do qual se buscou criar
condições para que se tomasse reciprocamente conhecimento dos dois programas nucleares.

 Seguindo o processo de aproximação, mais dois passos importantes antecederam a criação da ABACC: a assinatura do Comunicado
de Buenos Aires e da Declaração de Política Nuclear Comum, respectivamente em 6 de julho e 28 de novembro de 1990, pelos
presidentes Fernando Collor e Carlos Menen.

 No Comunicado de Buenos Aires os presidentes declararam a importância dos programas nucleares do Brasil e da Argentina e a
necessidade de aprofundar a cooperação entre os dois países e, na Declaração de Política Nuclear Comum, firmada em Foz do Iguaçu,
foi dado o passo definitivo que antecedeu a criação da ABACC : a aprovação do Sistema Comum de Contabilidade e Controle de
Materiais Nucleares (SCCC).

 Nessa declaração os dois também decidiram empreender negociações com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para
a celebração de um Acordo Conjunto de Salvaguardas que tivesse como base o SCCC. (Acordo Quadripartite = AIEA+BR+ARG+ABACC)

 Dado esse passo, finalmente, em 18 de junho de 1991, foi assinado em Guadalajara o Acordo entre o Brasil e a Argentina para o Uso
Exclusivamente Pacífico da Energia Nuclear (Acordo Bilateral) no qual, entre outras providências, foi criada a Agência Brasileiro-
Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares – ABACC com o objetivo de aplicar e administrar o Sistema Comum de
Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares.

 Uma vez criada a Agência, seguiu-se a assinatura, em 13 de dezembro de 1991, do Acordo entre o Brasil, a Argentina, a AIEA e a
ABACC que viria a consolidar o sistema de aplicação de salvaguardas atualmente em vigor nos dois países.

1994 –Protocolo de Ouro Preto

 Confere personalidade jurídica internacional e define a estrutura institucional do MERCOSUL, que contará com os seguintes órgãos:
Conselho do Mercado Comum, Grupo Mercado Comum, Comissão de Comércio, Comissão Parlamentar Conjunta, Foro Consultivo
Econômico- Social e Secretaria Administrativa do MERCOSUL.

1997 –Aliança Estratégica Brasil-Argentina **1999 –Desvalorização do Real + 2001/2002 –Crise Argentina

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 Proposta diplomática de elevar ainda mais as relações dos países. Acaba sendo impossibilitada pela desvalorização do real e a crise
argentina decorrente, uma vez que com a desvalorização do real frente ao peso dolarizado há uma queda brusca nas exportações
argentinas para o Brasil. Argentina contesta a atuação do Brasil, dizendo que deveria ter sido informada previamente sobre a
desvalorização do real. Problema econômico, político e institucional na união aduaneira do Mercosul.

 DECLARAÇÃO DO RIO DE JANEIRO ENCONTRO DOS PRESIDENTES DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL E DA REPÚBLICA
ARGENTINA - Na Declaração Presidencial do Rio de Janeiro, de 27-4-1997, foi adotado o conceito de Aliança Estratégica: “juntos,
estamos construindo uma profunda e verdadeira aliança estratégica” (...) “Argentina e Brasil continuarão a estar juntos. Nossa aliança
estratégica já é um elemento central e permanente de nossos respectivos projetos nacionais e constitui o melhor instrumento para o
desenvolvimento de nossos povos”. Na retórica da atual administração argentina, o termo “aliança” – considerado de conotação
defensiva por alguns analistas locais – às vezes é substituído por “associação”.

Integração Brasil -Argentina e Mercosul - Mudança nas bases do processo

2002/2003 –Relançamento da Parceria Estratégica e do MERCOSUL

 Com a assunção do Presidente Kirchner, em 2003, anunciava-se um período extremamente promissor para o relacionamento
bilateral Brasil-Argentina. Em Brasília e em Buenos Aires, dois Governos em início de mandato registravam convergência muito ampla
de prioridades: ambos sublinhavam a conveniência de maior integração regional e ambos viam no relacionamento especial entre Brasil
e Argentina, no âmbito do Mercosul, o cerne desse projeto integrador.

 Muda o paradigma de integração comercial da década de 1990 para uma integração estratégica.

2002 –Protocolo de Olivos

 Surgiu para aperfeiçoar o sistema de solução de controvérsias já existentes no Mercosul. Substitui o protocolo de Brasília. Mantém
o tribunal de arbitragem de ad hoc, porém cria uma instância superior, o Tribunal Permanente de Revisão, que também é tem
competência original para determinadas matérias.

2003 –Consenso de Buenos Aires

 Entendimentos de alto nível com a Argentina em matéria de questões econômicas e sociais da agenda internacional, e oferecido
como possível plataforma para uma ação conjunta com outros países latino-americanos e em desenvolvimento, em lugar do
“Consenso de Washington”. Declaração conjunta: a) incrementar o acordo e a cooperação política para impulsionar o projeto regional;
b) incluir uma agenda social no MERCOSUL, c) implementar a união aduaneira e conformar o mercado comum, d) fortalecer a
coordenação nas negociações internacionais e; e) promover a cooperação para garantir um espaço de segurança comum e de
vigilância dos ilícitos na região

2004 –Ata de Copacabana

 É relançada a aliança estratégica de 1997, com êxito.

2004 –Criação do Parlamento do Mercosul, FOCEM (Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul)

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--> O Parlamento do Mercosul é um órgão representativo dos cidadãos dos Estados Partes do Mercosul. A criação do Parlamento
fundamentou-se no reconhecimento da importância da participação dos Parlamentos dos Estados Partes no aprofundamento do
processo de integração e no fortalecimento da dimensão institucional de cooperação inter-parlamentar. A instalação do Parlamento
do Mercosul contribui para reforçar a dimensão político-institucional e cidadã do processo de integração, ao facilitar o processo de
internalização, nos ordenamentos jurídicos dos Estados Partes, da normativa Mercosul. Os Estados Partes decidiram adotar o critério
de “representação cidadã” para a composição do Parlamento comunitário. Na primeira fase de sua existência (dezembro de 2006 até
dezembro de 2010), o Parlamento funcionará com base na representação paritária, sendo integrado por 18 parlamentares de cada
Estado Parte, designados segundo critérios determinados pelo respectivos Congressos Nacionais.

 Na segunda etapa, que terá início em 2010, os parlamentares serão eleitos com base no critério de “representação cidadã” e com
novo número de parlamentares, segundo um critério de proporcionalidade.

 O Fundo para a Convergência Estrutural do MERCOSUL, criado a partir da decisão MERCOSUL/CMC/DEC. Nº 45/04, é utilizado
para a elaboração de projetos, em especial, no Uruguai e Paraguai, com a finalidade de auxiliar o desenvolvimento dos países menores
e mais frágeis. 70% do financiamento do fundo é feito pelo Brasil.O Objetivo é reduzir as assimetrias dentro do bloco.

2006 –Instituto Social do Mercosul, Aumento das Reuniões de Coordenação entre outros Ministérios, além de Fazenda e
Exteriores

 Existe uma divisão dentro do MRE que trata somente das questões sociais e políticas do MERCOSUL para a integração das
sociedades civis do bloco. A integração econômica já existe, o investimento é no âmbito social. Ocorrem, então, reuniões de
ministérios de demais áreas.

2007 -Mecanismo de Integração e Coordenação Brasil-Argentina (MICBA)

 É um grupo de trabalho com funcionários de vários ministérios dedicados a fazer sair do papel os projetos prioritários definidos
pelos presidentes, em todas as matérias (Antártida, cooperação nuclear,..). Já foram 3 reuniões, e a p´roxima será em novembro, em
Brasília. Reunião semestral de presidentes.

Principais temas dos últimos anos


(todos se encontram na última declaração do MICBA)

 AGRICULTURA E ABASTECIMENTO. A cooperação no campo agrícola girará em torno de Memorando de Entendimento assinado
entre EMBRAPA e INTA em 2005. Desenvolvimento de tecnologias agrícolas em conjunto e harmonização de normas sanitárias e
fitossanitárias.

 CIENCIA E TECNOLOGIA Cooperação nuclear (desde 1980). Comissão Binacional de Energia Nuclear (COBEN) para projetos em
conjunto. Cooperação com a Embraer. Centro Binacional de Nanotecnologia (CBAN). Programa bilateral de Energias Novas e
Renováveis.
 ENERGIA. Construção da hidrelétrica de Garabi, no rio Uruguaie já existe estudos para a construção de outra hidrelétrica.
Finalização da rede de gasodutos. Projeto do “Anel Energético Sul-Americano”. O Anel Energético Sul-Americano é um projeto que
visa a construção de uma rede de gasodutos na América do Sul proposto emoutubro de 2005, no Peru antes do descobrimento dos
depósitos conhecidos por Gás de Camisea. Este é o segundo projeto da União de Nações Sul-Americanas. O projeto inclui os seguintes
países:
Provedores de gás: Peru Bolívia Venezuela Receptores de gás: Argentina Brasil Chile Paraguai Uruguai
 DEFESA E SEGURANÇA. Mecanismo de Consulta e Cooperação Bilateral na área de Defesa e Segurança Internacional. Exercícios
militares conjuntos. Participação recíproca de agente nas reuniões do CSNU. Ex: BR é membro rotativo no CSNU, mas junto com a
comissão brasileira, existe um agente argentino, demonstrando o alto grau de integração.

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 INVESTIMENTOS DIRETOS. Significativo aumento nos investimentos diretos bilaterais. Papel fundamental do BNDES, que investe nos
mais diversos projetos.

 DESENVOLVIMENTO SOCIAL. Os dois países tem desenvolvido ativa cooperação bilateral nesse campo, por intermédio do Instituto
Social Brasil-Argentina (ISBA). Transferência da experiência do Fome Zero para aplicação de programa similar na Argentina.

 EDUCAÇÃO. Intercâmbio entre Instituições de Ensino Superior foi assinado em 2000. Impulso ao ensino de português e espanhol.

 ECONOMIA. Sistema de pagamentos em moedas locais (SML), em vigor desde 2008. Transação com base na cotação relativa entre
peso-real. A Argentina se encontra sem crédito no mercado externo, desde que declaraou a moratória em 2001. O Brasil, portanto, em
2009, procedeu com a Ampliação do Convênio de Crédito Recíproco (CCR), de 120 milhões para 1,5 bilhão de dólares. O mecanismo foi
criado no âmbito da Aladi, como caixa de compensação. As contas são fechadas de 4 em 4 meses.

 TRANSPORTE. Intenção em aumentar o número de pontes entre os dois países. Determinação de bitola ferroviária comum.
Cooperação na construção dos corredores bioceânicos. Duplicação das BR-116 e BR-101, entre outras estradas (IIRSA)

Conceito de América Latina / América do Sul

Barão do Rio Branco –América do Sul (esfera de influência)

 Buscou consolidar as fronteiras do Brasil, com todos os seus vizinhos, e sua política exterior pautou-se por diretrizes similares às do
tempo da monarquia, ao considerar o continente uma espécie de condomínio, em que o Brasil exerceria livremente sua influência
sobre a América do Sul, enquanto as Américas do Norte e Central, bem como o Caribe teriam nos Estados Unidos seu centro de
gravitação. Por esta razão, embora o imperador D. Pedro II não aprovasse, pessoalmente, a iniciativa de Napoleão III, ocupando o
México, seu governo não aceitou o convite norte-americano de intervenção, alegando que não tinha maior interesse na questão. Essa
atitude do governo de D. Pedro II deveu-se ao fato de que o Brasil considerava o México fora de sua esfera de preocupação e nunca
aspirou a ter qualquer interferência nos países daquela região, considerada como pertencente à órbita dos de influência dos Estados
Unidos.

 Apesar de a América do Sul ainda ser prioritária, o Brasil também se volta a a América Central.

CEPAL –América Latina (contexto histórico importante/dificuldade de articular)

 O processo de integração regional ficou sempre um ideal distante, por falta de vontade política e de condições objetivas para
superar a herança histórica marcada por guerras, conflitos e divergências políticas, que levaram os países da região a se isolarem uns
em relação aos outros. No entanto, a criação da CEPAL, em 1949, representou um passo importante no longo caminho da integração,
pois ela sempre procurou estimular a integração latino-americana. Dentro desse espírito de integração da CEPAL, surgiram inúmeras
tentativas de integração ao longo dos anos 60 e 70, algumas de caráter mais abrangente, como Associação Latino- -Americana de Livre
Comércio (ALALC) em 1960, o Sistema Econômico Latino- -Americano (SELA) em 1975 e a Associação Latino-Americana de Integração
(ALADI) em 1980, outras envolvendo grupos menores de países da região, como foi o caso do Mercado Comum Centro-Americano
(MCCA), criado em 1960, o Grupo Andino, em 1969, a Caribean Community (Caricom), em 1973, e, finalmente, o Mercosul, criado em
1991.

 O conceito de “regionalismo aberto” foi elaborado pela CEPAL no decorrer da década de 90 do século passado, para pensar a
inserção da América Latina no processo de globalização da economia mundial. Na década de 50, quando a economia internacional
passava por um grande processo de crescimento e era regulada pelas normas de Bretton Woods, a CEPAL formulou o esquema
“centroperiferia”, para analisar a inserção da América Latina naquele contexto internacional. Nos anos 70, numa situação de crise

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tanto da economia internacional como das regras de Bretton Woods, o mesmo processo de inserção foi analisado a partir da “teoria
da dependência”. Nos anos 80, reavivaram-se a teoria e o processo de integração regional, como forma de promover tanto o
desenvolvimento como a inserção internacional da América Latina.

 Continua, contudo, a dificuldade de articular eficazmente uma área de livre comércio e de integração entre toda a América Latina.

Volta da América do Sul (área natural/ótima de atuação) – consistência territorial, cultural, política e econômica

 Apesar dos esforços com a América Latina, a nossa área ótima de integração é a América do Sul, pois ela tem consistência cultural,
política e econômica e por isso é, para nós, prioritária.

Idéias Recorrentes

 Circunstância - Desenvolvimento só pode ser conjunto ( A redução das assimetrias sociais e institucionais é necessária para que
todos os países, inclusive o BR, se desenvolvam)

 Competitividade pela Integração Produtiva (por essa integração se atinge uma melhor competitividade internacional, no âmbito de
sistemas de distribuição, acesso à energia. Medidas para tonar a América do sul mais competitiva em âmbito internacional)

 Herança Comum (Penísula Ibérica e formação nacional e social)

 Fortalecimento das Posições Internacionais ( unidos, suas posições em fóruns internacionais não serão ignoradas, terão peso
político)

 Redução das Assimetrias (integração socialmente benéfica a todos os membros)

O desenvolvimento da integração da América do Sul

1969 –Tratado da Bacia do Prata


1978 –Tratado de Cooperação Amazônica
-( negociações especiais com todos os países do continente exceto o Chile)

1994 –Área de Livre de Comércio Sul-Americana (ALCSA)


- lançado pelo Celso Amorim, com o intuito de fazer frente ao Nafta e à ALCA. Prioridade pela integração sul-americana.

1998 –Protocolo de Ushuaia – Cláusula Democrática do Mercosul


2000 –Primeira Reunião de Cúpula dos Países da América do Sul –Comunicado de Brasília
- tentativa de relnaçar um cooperação no âmbito da Ámerica do Sul já que a idéia da Alcsa havia sido abandonada. Foi na
forma de idéia.

2000 –Iniciativa para a Integração da Infra-estrutura Regional da América do Sul (IIRSA)

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- Forum de diálogo que possui diversos projetos divididos em 10 eixos geográficos para a integração física do continente sul-
americano, que vão desde a área viária até a energética.

2004 –Acordo de Livre-Comércio Mercosul–CAN


- Relacionado à questão de adesão de membros especiais. Rede de acordos, por meio dos acordos do MERCOSUL com diversos países.

2004 –Comunidade Sul-Americana de Nações (CASA)


- foi lançada com entusiasmo mas logo esmaeceu.

2006 –Venezuela assina protocolo de adesão ao MERCOSUL (falta ser aprovado no senado brasileiro)
[São associados: Chile e Bolívia (1996) – assinaram acordo de livre-comércio, Peru (2003) e Equador e Colômbia (2004)]

2008 –UNASUL

 Em 2007, no Conselho Energético da América do Sul, os presidentes decidem relançar a CASA, mas agora como UNASUL.

Objetivo:

 A União de Nações Sul-americanas tem como objetivo construir, de maneira participativa e consensuada, um espaço de integração
e união no âmbito cultural, social, econômico e político entre seus povos, priorizando o diálogo político, as políticas sociais, a
educação, a energia, a infra-estrutura, o financiamento e o meio ambiente, entre outros, com vistas a eliminar a desigualdade
socioeconômica, alcançar a inclusão social e a participação cidadã, fortalecer a democracia e reduzir as assimetrias no marco do
fortalecimento da soberania e independência dos Estados.

 Não rivaliza com o MERCOSUL, complementa.

 Reúne todos os países da região

 Criação dos Conselhos da UNASUL – integração em todos os âmbitos para políticas comuns:

 Conselhos de Energia (2007 – único que é anterior à UNASUL)/ Defesa e Saúde (2008)/ Infraestrutura e Planejamento, Combate ao
Narcotráfico (Debates da Questão da Colômbio e os acordos de bases militares americanas), Tecnologia e Inovação, Desenvolvimento
Social, Cultura e Educação(2009)

Temas de destaque - UNASUL

 Grupo de Investigação dos Acontecimentos em Pando(Bolívia)


- Atuação de destaque da UNASUL:

 Comissão Eleitoral da Bolívia


- referendo sobre a CF Boliviana.

 Honduras

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– Posição Conjunta que condena o governo “golpista”. Não aceitam a eleição convocada por este governo.

 Projetos de Infraestrutura–Investimentos Brasileiros


- IIRSA foi englobado pela UNASUL. ( 72 obras em andamento )
- a maior parte dos investimentos que são feitos advém do BNDES e BID(2º).

 Redução de Assimetrias / Inclusão Social

RELAÇÕES BRASIL-ARGENTINA - LARISSA

1) 1810-1898 - Instabilidade estrutural, predomínio de rivalidade.


2) 1898-1961 - Instabilidade conjuntural com busca pela cooperação e momentos de rivalidade.
3) 1962-1979 - Instabilidade conjuntural com predomínio de rivalidade.
4) 1980 ... - Estabilidade estrutural pela cooperação e integração.

Atualmente – amizade kantiana


Antigamente – rivalidade lockeana

SÉCULO XIX

. 1810 - Independência Argentina, então, Províncias Unidas.


. 1825/8 - Para a Argentina – guerra contra o Império Brasil
Para o Brasil – guerra da Cisplatina
1. Concepções diferentes, conflito herdado das metrópoles.
2. 1828 – independência da Cisplatina
Maior vencedor: Inglaterra – livre navegação na Bacia do Prata.
. 1852 - Queda de Rosas – representa a vitória dos federalistas que não aceitam
o domínio de Buenos Aires – Projeto de Rosas: refazer o vice-reino
do Prata.
 disputa de poder com o Brasil
 guerra do Brasil contra Uribe e Rosas com apoio de Urquiza e dos Colorados.
 Resultado: ascensão de Urquiza na presidência da Argentina, busca aproximação com o Brasil. 1856 –
Tratado de Amizade, Comércio e Navegação.
. 1861 - Batalha de Pavón – final do governo Urquiza; assume Bartolomeu
Mitre (1862), federalista centrado em Buenos Aires. Início da guerra do Paraguai
 Pós-guerra – há tratados de não-anexação do Paraguai, mas a
Argentina quer anexar. Brasil mantém tropas até 1870, conseguindo neutralizar as ambições argentinas.
. 1868-74 – Governo Sarmiento – modernização da Argentina, belle époque,
Profundo processo de alfabetização.
 Geração de 80 – Presidente Roca – grande representante.

SÉCULO XX

. Presidente Roca – 1880-86 e 1898-1904

 Relações com o Brasil melhoram com a passagem do Império para a República. Período de clara
aproximação.
 Doutrina Drago – proposta pelo chanceler José Maria Drago, em 1902, em reação à repressão contra a
Venezuela por conta de dívidas. Para o Brasil: má influência em região onde prevaleceu devedores.
 Tratado de Montevidéu (1890): Quintino Bocaiúva – divisão de Palmas, embora tivesse sido convocada,
em 1888, arbitragem.

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 1895 – Presidente Cleveland – dá ganho de causa ao Brasil.

 Aliança especial Argentina – Reino Unido – 1890-1914 – Argentina era primeiro destino dos
investimentos ingleses. Apoio tanto dos estancieiros (mercado inglês) quanto dos comerciantes
(investimentos), mas não significa pura ideologia, há -certo pragmatismo (Doutrina Drago).

 Clara preferência Argentina pela Europa e desprezo pelos EUA (até pelo menos, o fim da 2ª Guerra
Mundial). Raízes do desprezo – Questão das Malvinas (1833) – ataque norte-americano às Malvinas.
Território é abandonado e ocupado pelos ingleses.
 1ª Conferência Pan-Americana 1899-1900
- boicote argentino – chanceler Saens Pena: “América para a humanidade, não para os americanos. Não participação
brasileira.

Relações com o Brasil:

 1900 – 1ª visita oficial de um presidente brasileiro à argentina, em retribuição à visita de Roca em 1899.
 1910 – Visita de Saens Peña:”Tudo nos une, nada nos separa.”.
Porém, período de conteciosos:
- guerra das quarentenas – desmoralizavam o Brasil como destino de imigrantes, perdas comerciais.
- rearmamento naval
- guerra tarifária

 1ª Guerra Mundial: Neutralidade argentina – queria vender para todos e evitar esforço de guerra.

 Pacto ABC – alinhavado pelo Barão, mas assinado em 1915. Argentina não ratificou. Aproximação política e
arbitragem de uma comissão em caso de contencioso.
 A partir da década de 30 – aproximação Argentina-Reino Unido perde caráter pragmático. 1932 – Reino Unido
cria a idéia de preferência imperial: vantagens comerciais para países da Commonwealth (criada em 1931).
Argentina está de fora, relação de mão única. A partir de 1940, o Reino Unido está em crise, mas a Argentina
continua buscando relação especial. Argentina não faz a transição para alinhamento com o EUA.

Década de 30 – Agostín Justus

 Visita ao Brasil retribuída por Vargas.


 Mediação Argentina-Brasil na Guerra do Chaco (1933- 5) – chanceler argentino Lamas ganha
prêmio nobel da paz.
 Tratado antibélico e de não-agressão.
 2ª Guerra Mundial – Argentina: neutralidade – simpatia com eixo (porém Congresso moção
para rompimento)
1940-43 – presidência Castilhos. Em 43, uma junta militar derruba governo. Juntas governam até 46 (Perón). Posição em relação aos
EUA
- preocupação por conta das relações com o Brasil
- neutralidade custa caro – EUA veta capital e armamentos para a Argentina.
- reunião Rio em 1942 – Argentina e Chile não votam pelo apoio dos países latino-americanos para países
Aliados.
- Argentina vê o Brasil como representante dos interesses imperialistas dos EUA.
- somente quando a guerra já estava ganha, Argentina percebe seu isolamento e declara guerra ao Eixo
(1945) – participação em São Francisco, membro originário da ONU.

Governo Perón (1946-1951)


 “Justicialismo” social – enfoque no trabalhismo para evitar confronto capital x trabalho.

 Independência econômica e soberania política (terceira posição) – precursor do terceiro-


mundismo e do movimento não-alinhado.
 Não se subordina, mas está na órbita norte-americana. Porém, decisões contrárias: não
assina Bretton Woods, mantém relações com URSS, abstém-se na Resolução “Uniting for
Peace” (1950).

Segundo Mandato (até 1955) – aprofundamento dos laços com EUA. Reaparelhamento militar, acordo com empresas privadas norte-
americanas. Uma das causas para a queda de Perón.

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 1951 – Nova proposta Pacto ABC.Vargas não adere, não queria associar-se à imagem de
Perón.

Golpe contra Perón – Revolução Libertadora – alinhamento automático com EUA

 Caminho para multilateralismo – 1956: Argentina adere ao FMI e ao GATT

Frondizi (1958-1962) – eleito com apoio peronista

 Desenvolvimento econômico – exploração adequada dos recursos naturais, indústria


pesada, infraestrutura.
 Coincidência com o programa de JK
 Volta do pragmatismo – Frondizi pende ora para o EUA ora para Alemanha.
 resiste contra isolamento de Cuba
 apoio à OPA e adesão Aliança para o Progresso.
 Encontro de Uruguaiana – encontro de Frodizi com JK e João Goulart – sistema bilateral
de consultas é inaugurado. Remanejamento de forças militares na fronteira.
 Espírito de Uruguaiana não resiste aos governos militares.

Governos Militares:

 Argentina chega a condenar Cuba e apóia intervenção na República Dominicana.


 1973 – retorno do peronismo
 Economia argentina – crise, inflação, dívida externa, achatamento das classes
médias.
General Lanusse (1971-73) busca diminuir alinhamento com o EUA:
- mantém relações com Leste Europeu
- aproximação com Alemanha
Isabelita Perón (1974-1976) – bases ultradireitistas, abandono da tradição peronista, busca-se novamente alinhamento automático,
estagnação das relações com o Brasil.

Série de presidentes militares – aproximação ideológica com regime brasileiro não se converte em entendimento. Vizinho é visto com
desconfiança. Questão Itaipu- Corpus

A partir de 1979 – estabilidade, cooperação, integração

Diplomacia presidencial no governo Figueiredo e governos subseqüentes:


 1982 – apoio brasileiro na questão das Malvinas
 1985 – Ata de Iguaçu para integração econômica
 1985 – Acordo Nuclear
 1988 – Tratado de Integração,Cooperação e Desenvolvimento – prevê tarifa zero em
10 anos
 1990 – Ata de Buenos Aires – antecipa livre-comércio (até 31/12/1994).
 1991 – Criação da ABACC
 1991 – Tratado de Assunção
 1991 – Acordo Tripartite – Brasil, Argentina, ABACC e AIEA

Menem – base peronista, mas adere ao neoliberalismo. Já em 1979, tinham sido introduzidas as teses da escola de Chicago.
 Chancelaria Guido de Tela – aquiescência pragmática, relações carnais.
Paralelamente: Mercosul.

1999-2001 – De la Rua – Crise é vista como ampliada pela desvalorização do real.


 retaliações, OMC
 2000 – Argentina não comparece à Cúpula de Brasília.
Sucessão de 5 presidentes:

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 2002 - Dualde – aproximação clara com o Brasil. Desinteresse do 1º Mundo
pela crise argentina. Brasil apóia Argentina
 2004 - Kirschner – construção de poder compartilhado com momentos de
afastamentos (CS, 1ª cúpula da CASA). Iniciativas brasileiras são vistas com
desconfiança

Futuro: aprofundamento dos laços, do Mercosul. Argentina contribui com efetivos no Haiti chefiados pelo Brasil.

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RELAÇÕES BRASIL-EUA

Política externa dos EUA:

 De modo geral, três grandes momentos da Política Externa dos EUA:

1. 1776 a 1898: Isolacionismo


Período de formação e consolidação da nação, desenvolvimento interno e expansão, lançamento das bases fundamentais dos
princípios históricos da Política Externa Norte-Americana. Nesse momento, os EUA atuam como país normal no sistema. Quatro
prioridades máximas: garantia da unidade nacional, distanciamento da Europa, exploração do equilíbrio de poder e ênfase na
diplomacia comercial. Objetivo é a expansão da riqueza e dos interesses norte-americanos exclusivamente, sem a criação de
compromissos que pudessem limitar a ação do país. Discurso de George Washington, em 1789, diz que os EUA devem se manter em
uma posição distante e defensiva, evitando alianças permanentes, principalmente com os europeus.

2. 1898 a 1945: Transição


A partir de 1898 até 1945, os EUA passarão por um momento de transição, dividindo-se entre a tradição isolacionista e o crescimento
econômico de grande potência. De 1898 (ano da Guerra Hispano-Americana) até 1921, verifica-se um período mais internacionalista
que culmina com a presidência de Wilson (1912 a 1921). De 1921 até 1941, os EUA recuam para uma posição isolacionista com a não-
adesão à Liga das Nações em decisão do Senado norte-americano.

3. 1945 em diante: Internacionalismo


EUA como grande potência dentro do sistema; Ascensão e disseminação da hegemonia norte-americana.

 Conceitos importantes:
 Destino Manifesto: “Em linhas gerais, o Destino Manifesto considerava que a expansão territorial representava um direito
divino dos EUA de se espalhar por toda a América do Norte, com apoio de Deus para a conquista, pois ela possibilitaria levar a
liberdade e a democracia a locais em que ainda não existiam. Dotada de um sentido de propósito, a expansão territorial era
racionalizada e explicada não por interesses materiais, mas pelo dever que os norte-americanos tinham de espalhar e afirmar seu
espírito e visão, sintetizados no par democracia/república. Aí, a combinação de cruzada e interesse, também característica de toda a
política externa norte-americana, encontrou sua primeira expressão” (PECEQUILO, p. 57-58). Ou seja, o expansionismo norte-
americano é apenas o cumprimento da vontade divina, levada por um povo escolhido para tal propósito (excepcionalismo norte-
americano). Daí se percebe a necessidade dos governos dos EUA em sempre justificarem moralmente suas ações no Exterior (ex.: levar
a democracia, defender a liberdade, acabar com armas de destruição em massa, etc).
 Doutrina Monroe: “América para os Americanos”, mensagem do presidente James Monroe ao Congresso dos EUA em 1823.
Reafirmação da posição dos EUA contra o colonialismo europeu, inspirado no isolacionismo de George Washington. Base para o
relacionamento com a América Latina.
 Corolário Roosevelt à Doutrina Monroe/Política do Big Stick: Reforço da Doutrina Monroe por meio de uma política agressiva
na América Latina no início do século 20, principalmente durante a presidência de Theodore Roosevelt (1901-1909). Entre 1898 e
1934, os EUA lançaram mais de 30 intervenções militares na América Latina, com envio de tropas para diversos países. Os motivos
eram principalmente econômicos, mas também políticos.
 Política de Boa Vizinhança: As intervenções na América Latina tornaram-se cada vez mais contra-producentes e custosas aos
EUA, principalmente no contexto da Crise de 1929. Assim, com a chegada de Franklin Roosevelt (1933-1945) à presidência dos EUA a
política para a América Latina foi revista. Roosevelt procurou consolidar a esfera de influência norte-americana sob outras formas,
promovendo a acomodação política e a reciprocidade no campo econômico, aumentando o intercâmbio comercial e financeiro.
Politicamente, os fundamentos da Política da Boa Vizinhança eram o reconhecimento da soberania dos países latinos e a promoção de
uma política de não-interferência e não-intervenção.
 Doutrina Truman: Reconhecendo a impossibilidade de conciliação entre os modos de vida comunista e capitalista no imediato
pós-guerra, o presidente Harry Truman (1945-1953) definiu os parâmetros da política norte-americana durante praticamente toda a
Guerra Fria. Truman levou os EUA a um engajamento no cenário internacional inédito na história do país, de envolvimento na

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construção e administração da ordem do sistema. Os norte-americanos passaram, pela primeira vez, a agir de forma compatível com
seus recursos, assumindo a responsabilidade e os custos dessa liderança. A Doutrina Truman baseava-se na lógica da contenção da
União Soviética e do comunismo. “Havia uma ligação direta entre as estratégias de construção da ordem e a contenção, fazendo com
que suas prioridades fossem complementares (na verdade, a construção da ordem passou a ser uma das estratégias da contenção). O
discurso de defesa da liberdade e dos povos livres respondia às necessidades do experimento norte-americano e de suas justificativas
ideológicas, assim como a liderança global era uma expressão do unilateralismo, naquele momento uma estratégia internacionalista,
combinada com os arranjos multilaterais. Ao mesmo tempo, a contenção era uma estratégia de poder que permitia aos Estados
Unidos perseguir seus interesses de forma pragmática e sem fronteiras.” (Pecequilo, p. 150).
 Détente: De forma geral, o termo é utilizado com referência ao período de redução das tensões entre EUA e União Soviética
entre o fim dos anos 1960 e o início dos anos 1980, com o auge sendo a presidência de Richard Nixon (1969-1974). Idealizada por
Nixon e por seu secretário de Estado Henry Kissinger, a détente propunha um novo papel para os EUA na ordem mundial, que,
segundo eles, caminhava para a multipolaridade, com o crescimento de novas potências como China, Japão e os países da Europa
Ocidental. A ligação de políticas entre EUA e URSS funcionou como um mecanismo de correlação de forças e iniciativas diplomáticas,
complementando o relacionamento bipolar por uma série de acordos e conjuntos de regras e restrições mútuas que beneficiaram
ambas as superpotências, promovendo um arrefecimento do conflito. Além disso, o governo norte-americano iniciou um processo de
aproximação com a China fundamental para que os EUA ganhassem novo fôlego no equilíbrio do poder internacional, que naquela
altura se percebia pendendo a favor da URSS. A política da détente nunca teve consenso interno nos EUA, sendo considerada por
muitos como uma fuga às tradições norte-americanas. A détente também ficou muito associada à figura negativa de Nixon.

Relações Brasil-EUA: Os cinco “As” de Mônica Hirst


 Aliança (1889 a 1930): Aliança informal ou não-escrita. Aproximação Brasil e EUA em função do mercado do café, uma
vez que os norte-americanos já eram na época os maiores compradores do produto brasileiro. O Barão do Rio Branco é o grande
responsável pela construção dessa percepção dos EUA como principal poder ascendente no sistema internacional. Aumento da
presença comercial dos EUA no Brasil em setores antes dominados pelos ingleses, como transportes, mineração e frigoríficos.
 Alinhamento (1942 até meados dos anos 1970): Brasil quebra neutralidade e rompe com o Eixo em 1942, condicionado
por acordos firmados com os EUA. Após a Segunda Guerra Mundial, governo brasileiro pleiteia posição de “aliado especial” dos norte-
americanos, mas essa expectativa é frustrada, uma vez que a prioridade dos EUA no imediato pós-guerra é impedir o avanço da URSS
sobre a Europa Ocidental. A partir do segundo governo Vargas (1951-1954), a posição brasileira torna-se mais reivindicatória em
relação aos EUA, principalmente com a proposta da Operação Pan-Americana no governo JK. As relações se complicaram com a PEI.
Com o golpe militar, contudo, houve um alinhamento automático (considerado anacrônico por Cervo/Bueno) por parte do governo
Castelo Branco. O Brasil retoma premissas da PEI a partir do governo Costa e Silva.
 Autonomia (1974 a 1989): Política externa brasileira motivada pelo desenvolvimento interno entra em choque em
diversos momentos com o governo dos EUA, principalmente em matéria de Direitos Humanos (uma das bandeiras do governo Carter)
e energia nuclear (Acordos com a Alemanha Federal e não assinatura do TNP). Falta de sintonia ou indiferença no campo político
persiste até fins dos anos 1980, o que faz com que o Brasil busque aproximação com os parceiros sul-americanos.
 Ajustamento (1990 a 2002): Retomada do americanismo no governo Collor. Busca de agenda positiva com os EUA no
governo FHC. Fortalecimento da democracia contribui para a aproximação.
 Afirmação: momento atual, com fortalecimento da posição do Brasil como grande líder da América do Sul e importante
ator no cenário global.

Momentos importantes da relação bilateral:


 1941: Criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), com investimentos norte-americanos a partir do Acordo de
Washington
 1947: Celebração do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR)
 1951: Brasil não envia tropas à Guerra da Coréia, apesar de solicitação do presidente Truman
 1952: Tratado de Assistência Militar Brasil-Estados Unidos: fornecimento ao Brasil de equipamentos e materiais das forças
armadas dos EUA
 1958: Lançamento da Operação Pan-Americana, como tentativa de chamar a atenção dos EUA para os problemas da América
Latina
 1961: Presidente Kenney lança a Aliança para o Progresso, resposta à OPA e à Revolução Cubana (1959)
 1962: Brasil se abstém na votação que exclui Cuba da OEA
 1968: Brasil se recusa a assinar o Tratado de Não-Proliferação (TNP)

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 1970: Extensão do mar territorial brasileiro para 200 milhas, com expulsão a tiros de canhões dos barcos norte-americanos
nessas áreas
 1970-1973: restrições a importações de manufaturados brasileiros (café solúvel, têxteis, calçados, bolsas)
 1977: Ruptura dos Acordos Militares de 1952
 1981: Brasil recusa a criação de uma OTAN para a América do Sul (OTAS)
 1982: EUA apóiam a Inglaterra na Guerra das Malvinas, quebrando a unidade hemisférica
 1985: Lei da Informática gera críticas dos EUA, que acusam o Brasil de prática desleal em função da restrição à entrada de
computadores estrangeiros no mercado brasileiro
 1990: Iniciativa Bush, com proposta de formação de área de livre comércio das Américas
 1991: Brasil não envia tropas à Guerra do Golfo
 1994: I Cúpula das Américas. Formalização da proposta de criação da ALCA
 1994: Brasil formaliza adesão ao Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis (MTCR)
 1998: Brasil adere ao TNP

Comércio EUA-Brasil (dados de 2007):


 Exportações do Brasil para os EUA: US$ 25.065 bilhões
 Exportações dos EUA para o Brasil: US$ 18.722 bilhões
 Saldo comercial a favor do Brasil: US$ 6.342 bilhões
 Total do intercâmbio comercial: US$ 43.787 bilhões
 Principais produtos exportados pelo Brasil para os EUA: aviões, calçados, produtos siderúrgicos, telefones celulares, motores
para automóveis e autopeças.
 Principais produtos exportados pelos EUA para o Brasil: componentes de aeronaves, petróleo e derivados, medicamentos,
produtos petroquímicos, trigo.
 Em maio de 2009, a China ultrapassou os EUA como maior parceiro comercial do Brasil.

 Relações bilaterais, segundo o site do MRE:


 “O relacionamento bilateral tem sido marcado pelo estabelecimento de um diálogo estratégico, consolidado pela visita de
Bush a São Paulo em março de 2007 e a viagem de Lula a Camp David, apenas três semanas depois. Durante a visita de Bush a São
Paulo, foi assinado o Memorando de Entendimento sobre Biocombustíveis, que está contribuindo para fortalecer a parceria para a
expansão do etanol, com vistas ao desenvolvimento de tecnologias e à criação de um mercado global para o produto. Na véspera do
encontro entre os Presidentes Lula e Bush em Camp David, o Ministro de Estado Celso Amorim e a Secretária de Estado Condoleezza
Rice assinaram documento para a cooperação triangular com vistas ao fortalecimento legislativo em Guiné Bissau e Memorando de
Entendimento renovando a Cooperação bilateral em Educação. Além dos encontros de alto nível, diversos Grupos de Trabalho estã o
em funcionamento, tais como o Mecanismo de Consultas Políticas, o Diálogo Estruturado Itamaraty-Departamento de Estado sobre
Temas Econômicos, o Comitê Consultivo Agrícola, o Mecanismo de Consultas Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio –
Departamento de Comércio (MDIC-DoC), e o Foro de Altos Executivos Brasil-EUA (CEO Forum).”

 Acordos bilaterais mais recentes:

 Memorando de Entendimento sobre Controle de Narcóticos e Aplicação da Lei (2008)


 Plano de Ação Conjunto para Eliminação da Discriminação Étnico-Racial e a Promoção da Igualdade (2008)
 Memorando de Entendimento sobre Educação (2007)
 Memorando de Entendimento para Avançar a Cooperação em Biocombustíveis (2007)
 Acordo para a Promoção da Segurança da Aviação (2004)
 Memorando de Entendimento para o Estabelecimento de Mecanismo de Consultas sobre Cooperação na Área de Energia
(2003)
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RELAÇÕES BRASIL – AM. CENTRAL E CARIBE

Em 1908, o Brasil estabeleceu relações diplomáticas com os países da AM. Central. O Brasil considerou por muito tempo as Américas
Central e do Norte como áreas de influência dos Estados Unidos. O conceito de América do Sul e não o de América Latina, muito
genérico, e sem consistência com os reais interesses econômicos, políticos e geopolíticos do Brasil, foi o que sempre pautou,
objetivamente, a política exterior do país. Até a metade do século XX seus interesses e atenções concentraram-se, sobretudo, na
região do Prata.
Em 1965, porém, o Brasil rompeu sua tradição de não intervir diretamente em questões na América Central e no Caribe,
atendeu à solicitação de Washington e enviou um contingente militar, na condição de força interamericana de paz, para coadjuvar na
ocupação da República Dominicana, após a invasão ordenada pelo presidente Lyndon Johnson.
As principais iniciativas multilaterais envolvendo o Brasil na região foram a Operação Pan Americana, a ALALC, a ALADI, o Grupo do Rio
e a 1ª Cúpula da América Latina e Caribe. No governo Lula, foram iniciados novos contatos comerciais, técnicos e políticos, os quais
serão apresentados a seguir.

1) A América Central: 6 países de fala espanhola: Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Panamá. 1 país de fala
inglesa: Belize.

2) O caribe: 2 países de fala espanhola: Cuba e Rep. Dominicana. 10 países de fala inglesa: Antígua, Bahamas, Barbados, Dominica,
Granada, Jamaica, Sta. Lúcia, São Cristóvão e Nevis, São Vicente, Trinidad & Tobago. 1 país de fala francesa: Haiti. 2 possessões
americanas: Porto Rico e Ilhas Virgens Americanas. 2 possessões francesas: Guadalupe e Martinica. 1 possessão holandesa: Antilhas
Holandesas. 6 possessões inglesas: Anguilla, Bermudas, Ilhas Cayman, Ilhas Virgens Britânicas, Monserrat, Turck and Caicos.

3) OPA, ALALC, ALADI e o Grupo do Rio

Em 1958, JK lança um programa de desenvolvimento em longo prazo denominado Operação Pan-Americana, em resposta ao
crescente sentimento antiamericano no continente. A idéia era relacionar a repulsa da população aos EUA como sintoma da pobreza
latino-americana, ao invés de classificá-la como conseqüência do avanço comunista no continente, como acreditavam os americanos.
A iniciativa foi apresentada aos EUA, que inicialmente reconheceram os princípios da OPA e propuseram a criação de um mecanismo
financeiro multilateral (futuro BID) e o estudo de um projeto de mercado comum latino americano (a futura ALALC). Meses depois,
entretanto, os americanos demonstraram desconformidade por duas razões: 1) a idéia não era deles; 2) a OPA ficaria sob o controle da
Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), criada em 1948 e, dentre várias iniciativas, promotora de estudos que
comprovaram a teoria da deterioração dos termos de troca nas relações dos países latino-americanos com as nações industrializadas.
Em 1960, como resultado da OPA, Argentina, Brasil, Chile, México, Paraguai, Peru e Uruguai criam a Associação Latino
Americana de Livre Comércio (ALALC), que previa o estabelecimento gradual de uma área de livre comércio até 1973 e de um futuro
mercado comum. Em 1961, JFK lança a Aliança para o Progresso como opção à OPA. Jânio irrita-se com o fato e aproxima-se da
esquerda. Em 1970, Bolívia, Colômbia, Equador e Venezuela entram na ALALC, mas a iniciativa não gerou frutos e foi substituída, em
1980, pela ALADI.
A Associação Latino Americana de Integração (ALADI) foi criada pelo Tratado de Montevidéu de 1980 (TM80). O objetivo era o
estímulo das relações comerciais na região de forma mais flexível e dinâmica em comparação com a ALALC, e por isso possui as
seguintes diferenças: não tem caráter puramente comercial; promove a complementação econômica, o comércio recíproco e a
ampliação dos mercados; reconhece expressamente os diversos níveis de desenvolvimento de seus membros; permite a participação
de países não-membros. Importante salientar que o MERCOSUL foi criado dentro dos marcos jurídicos definidos pela ALADI, os quais
eram reconhecidos pelo GATT, e retira daí sua validade jurídica. Cuba integrou-se à ALADI em 1999. Os outros membros são os
mesmos da extinta ALALC.
No plano político, foi criado em 1986 o Grupo do Rio, ou Mecanismo Permanente de Consulta e Concertação Política da
América Latina e do Caribe. O grupo do Rio formou-se a partir da união do Grupo de Contadora (1983 – México, Colômbia, Venezuela e
Panamá) e do Grupo de Apoio a Contadora (1985 – Argentina, Brasil, Peru e Uruguai). O Grupo do Rio é um mecanismo de consulta
internacional e uma alternativa à OEA, na época dominada pelos EUA. O Grupo propôs-se inicialmente a resolver pacificamente os
conflitos na América Central. Em 1990, Bolívia, Chile, Equador e Paraguai aderiram. Em 2000, Costa Rica, El Salvador, Guatemala,
Honduras e Nicarágua também se tornaram membros. Em 2008, durante a 1ª Cúpula da América Latina e do Caribe, Cuba também
ingressou no Grupo do Rio.

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4) Relações Bilaterais

Cuba:
Em 1961, Jânio recusou-se a apoiar os Estados Unidos no momento em que planejava tomar uma atitude armada contra o regime de
Castro, conforme ficou evidenciado na conferência, em fevereiro de 1961, com Adolf Berle Jr., enviado do governo americano.
Quadros não recuou dos princípios da autodeterminação e da não-intervenção. Quando da invasão da baía dos Porcos, manifestou
“profunda apreensão”, além de pedir “cessação das hostilidades” e “apuração da procedência e da natureza das forças desembarcadas
naquela República”, em telegrama enviado à embaixada do Brasil na ONU.
Em 1962 no Uruguai, o primeiro-ministro Tancredo Neves manteve a postura de respeito ao princípio da não-intervenção quando a
expulsão do país do sistema interamericano foi objeto da VIII Reunião de Ministros das Rel. Ext., adotando posição conciliatória. Para o
Brasil, a defesa da democracia deveria ser feita pelo estabelecimento de um estatuto que regulasse as relações de Cuba com o
continente. O governo brasileiro era contrário à aplicação de sanções pois, segundo o chanceler San Tiago Dantas, poderia estimular as
tendências pró-soviéticas da ilha. A proposta brasileira não teve acolhida e Cuba foi excluída da OEA. O voto do Brasil foi de abstenção,
juntamente com os da Argentina, México, Chile, Equador e Bolívia.
Em maio de 1964, o governo Castello Branco rompeu relações com Cuba, e o Itamaraty explicou a medida por razões ideológicas e
pelo descarregamento de armas cubanas na Venezuela. No mesmo ano ocorreu a X Reunião de Consulta da OEA, presidida pelo Brasil,
na qual o país foi bem-sucedido no intento de isolar ainda mais Cuba, visto que a Organização decretou as seguintes sanções à Cuba:
a) suspensão do comércio; b) suspensão do transporte marítimo; c) não-manutenção de relações diplomáticas e consulares. A
revogação de tais medidas poderia dar-se com dois terços dos votos do Conselho da OEA.
O governo Sarney reatou relações diplomáticas com Cuba em 1986. O presidente Lula visitou Havana em 2003, onde assinou 12
acordos de cooperação, inclusive para a exploração de petróleo pela Petrobras, e rejeitou pressões internacionais para que
intercedesse pela liberdade de presos políticos em Cuba. Em 2008, Lula retornou à ilha e desta vez assinou acordos de auxílio a
empresas brasileiras que quiserem exportar para Cuba, de parceria entre a Petrobras e a empresa petrolífera cubana e de apoio
técnico da Embrapa para adaptar a produção da soja às condições climáticas de Cuba.
Em 2009, o Brasil foi favorável à revogação da resolução de 1962, que expulsou a ilha da OEA. A decisão se deu por consenso, sendo
motivo de impasse apenas os termos que seriam utilizados. Cuba não demonstra interesse em retornar à organização.

República Dominicana:
Em 1961, o Brasil interrompeu relações diplomáticas – mas não consulares – com a Rep. Dominicana em decorrência de decisão da VI
Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores das Repúblicas Americanas, realizada em agosto de 1960. Nem o Google
sabe o motivo da decisão, mas o país estava sob a violenta ditadura de Rafael Trujillo, que seria assassinato, dando início à guerra civil.
A crise da República Dominicana (1965) ofereceu nova oportunidade (após as sanções à Cuba) para o ativismo/servilismo da
diplomacia brasileira. O Brasil de Castello Branco obteve, na X Reunião de Consulta da OEA, o comando das forças interamericanas de
paz e enviou um contingente de 1.100 homens para colaborar com a instalação de um governo provisório. A ação foi basicamente um
apoio à facção contrária aos militantes da esquerda dominicana, a qual possivelmente tomaria o poder no país se os conflitos internos
não sofressem intervenção.

Costa rica:
Possibilidades de exportação de engenharia brasileira, como, por exemplo, serviços para instalação de aeroportos, hidrelétricas e
estradas.

Guatemala:
Em recente encontro de chefes de estado, foi acertada a venda de 6 aviões Super Tucano e equipamentos no valor de US$ 99 milhões.

Haiti:
O Brasil foi convidado (versão oficial), em 2004, para comandar militarmente a MINUSTAH no Haiti, missão integrada por Brasil, EUA,
França, Canadá e países do Caribe. Após a sua constituição, a MINUSTAH ganhou duas coordenações: uma civil, encabeçada pelo
representante especial do Secretário-Geral (o primeiro foi o embaixador chileno Juan Gabriel Valdés); e a do comando militar, cujo
exercício coube ao Brasil. O governo brasileiro enviou 1.100 soldados para o país, com a missão de estabilizá-lo após a deposição do
presidente Jean-Bertrand Aristides, com o velado suporte dos Estados Unidos, segundo tudo indicou. É uma missão de Peace building,
voltada a evitar o retrocesso dos conflitos por meio da concessão de autonomia e fortalecimento das instituições locais.

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Ao justificar a participação brasileira, o chanceler Celso Amorim explicou que o Haiti é um país latino, com as mesmas raízes culturais
do Brasil e não lhe interessava vê-lo tornar-se um narco-Estado. O que o Brasil procurou, no entanto, foi dar uma demonstração de
que se dispunha a exercer um proeminente papel internacional, pelo menos no âmbito do hemisfério, e avigorar sua posição de
candidato a uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU.
A MINUSTAH é uma missão de Peace building, voltada a evitar o retrocesso dos conflitos por meio da concessão de autonomia e
fortalecimento das instituições locais. O governo haitiano apóia a presença das tropas brasileiras. O Brasil não teve nenhuma baixa em
conflito até o presente momento (meados de 2009) e promove formas de aproximação cultural e social com o povo haitiano,
participando de projetos sociais, construção de escolas, estradas, etc. O objetivo é formar uma polícia haitiana, e o próprio governo do
país cobrou recentemente providências para que isso ocorra. Os próprios relatórios da MINUSTAH revelam que a polícia haitiana tem
por hábito a prática de abusos.
O que também preocupa é a insuficiência das doações ao país, que apesar de ser o que recebeu mais dinheiro por habitante no mundo
em doações segue em uma situação calamitosa de desemprego, pobreza e fome. De 2004 a 2008, o Fundo IBAS para Alívio da Fome e
da Pobreza investiu US$1,5 milhão em projetos de tratamento de resíduos sólidos no Haiti. Outra parceria trilateral deu-se em 2007,
com o Canadá, nas áreas de reflorestamento e vacinação. A renovação da missão dá-se anualmente mediante decisão do Conselho de
Segurança da ONU.

Honduras:
Lula foi o primeiro presidente brasileiro a visitar o país. Em 2007, encontrou-se em Tegucigalpa com o presidente hondurenho Manuel
Zelaya. Em 2009, o governo brasileiro condenou o golpe militar a que foi submetido o país, e atualmente trabalha para que os EUA
(vinculados a 70% da economia de Honduras) e a OEA aumentem as pressões pela volta do governo deposto. As eleições em Honduras
estão marcadas para novembro. O Brasil não aceitará o resultado do pleito se ele for conduzido por um regime de exceção e espera
que a OEA também assim proceda.

5) Investimentos e comércio
Em 2005, o governo brasileiro lançou o Pibac, Programa de Incentivo aos Investimentos Brasileiros na América Central e no Caribe. Em,
2006, uma missão empresarial brasileira visitou a região, fechando mais de US$ 80 Mi em negócios e US$1 Bi em futuros projetos de
engenharia, valores que superaram as expectativas brasileiras.
Em 2009, Lula visitou alguns países da América Central e do Caribe. O interesse brasileiro na região está diretamente ligado à
assinatura do Cafta-RD, acordo de livre comércio entre a SICA (bloco de países centro-americanos, ver adiante) e os Estados Unidos. O
objetivo do Brasil é utilizar a estratégia de aproximação com os países do bloco para que produtos brasileiros cheguem aos Estados
Unidos, com destaque para os biocombustíveis. Estudos recentes da FGV indicam a viabilidade para investir em usinas de etanol e de
biodiesel em El Salvador, na República Dominicana, no Haiti e em San Kitts y Nevis, além de em países africanos. Outro objetivo é
incentivar a produção de biocombustíveis por diversos países para que o produto se torne uma commodity. Hugo Chávez seria
contrário à produção dos biocombustíveis na América Central, pois temeria que eles substituíssem o petróleo, reduzindo sua
influência. Porém o presidente venezuelano não se diz contrário à iniciativa e passou a importar etanol.

6) 1ª Cúpula da América Latina e do Caribe


Em dezembro de 2008, na Bahia, ocorreu o primeiro evento da história a reunir os governos da América Latina e do Caribe
sem presença de outras autoridades (americanas ou européias). A cúpula teve forte impacto simbólico, e a declaração final destaca
diversos pontos nos quais a integração deve avançar, dentre eles: cooperação entre os mecanismos regionais e sub-regionais de
integração, combate à crise financeira internacional e elaboração de uma estratégia para integrar financeiramente a região, integração
infra-estrutural, aceleração do desenvolvimento social, estímulo ao desenvolvimento sustentável, promoção das migrações e combate
ao crime organizado, cooperação sul-sul e projeção internacional da América Latina e do Caribe.

7) Aproximação do MERCOSUL com SICA e CARICOM


Aproveitando o aumento do intercâmbio comercial, o Mercosul pode firmar no futuro um Tratado de Livre-Comércio com o Sistema
da Integração Centro-Americana (Sica). Os países do Sica mantêm uma crescente corrente comercial com o Brasil, que passou de US$
594,7 milhões, em 2003, para US$ 1,7 bilhão, em 2007. O bloco é composto por Belize, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras,
Nicarágua, Panamá e República Dominicana.
A possibilidade de um acordo comercial entre Mescosul e Sica foi lançada em 2004, e em setembro de 2008 o Brasil recebeu um
encontro dos dois blocos visando estruturar o processo negociador para a criação de um mecanismo que fortaleça as relações
políticas, econômicas, comerciais e de cooperação entre Sica e Mercosul. Para cada dólar exportado pela América Central para

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membros do Mercosul, 24 são importados. O Sica manifestou-se favorável à pretensão brasileira de ocupar um assento permanente
no Conselho de Segurança da ONU.
A Comunidade do Caribe (Caricom) é composta por 14 países e 6 territórios, entre eles Haiti, GUIANA E SURINAME. O MERCOSUL e a
Caricom decidiram retomar em 2009 os encontros de trabalho para chegar a um acordo entre os blocos. Tal acordo reforçará os laços
comerciais e de investimento entre ambas, tendo sempre em vista as necessidades de reduzir assimetrias entre grandes e pequenas
economias.Na futura reunião serão definidos aspectos técnicos da negociação, em etapa ainda muito inicial do processo.

Relações Brasil - México


1) Balança comercial

1990 - Balança comercial brasileira com o México US$ 318 Mi


Comércio total Brasil e México US$ 693 Mi

2000 - Balança comercial brasileira com o México US$ 968 Mi


Comércio total Brasil e México US$ 2.467 Mi

2008 - Balança comercial brasileira com o México US$ 1.156 Mi


Comércio total Brasil e México US$ 7.406Mi

2) Grupo de estudos
Em 2007, foi criado um grupo de estudos, com representantes do setor público, privado e acadêmico do Brasil e do México, para
discutir as áreas de complementação econômica e avaliar as possibilidades de abertura dos dois mercados.O grupo se reunirá a cada
dois anos – a reunião deste ano será na Cidade do México. Anualmente também serão realizadas reuniões ministeriais, além de
encontros das subcomissões de Assuntos Políticos; de Assuntos Econômicos, Comerciais e Financeiros; de Cooperação Técnico-
Científica; de Cooperação Educativo-Cultural; e de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas.
A integração do México ao Mercosul, no entanto, não está em pauta. O México seguirá participando como observador, como fez até
agora.

3) Presença da Petrobras
A Petrobras iniciou suas atividades no México em 2003, como operadora em contratos de serviços de exploração e produção de gás
natural de dois blocos em terra juntamente com o grupo mexicano Diavaz e o japonês Tecoco.
Há dez anos a produção mexicana situava-se acima dos 2 milhões de barris/dia enquanto o Brasil produzia 800 mil barris diários. No
entanto, este ano a Petrobras terá uma produção muito semelhante à do México, na faixa dos 2,5 milhões de barris/dia
(considerando-se a produção da Petrobras no Brasil e no exterior). Assim, a Petrobras quase triplicou sua produção enquanto no
México houve uma redução da ordem dos 600 mil barris (diários) nos últimos seis anos. No México, o petróleo representa cerca de
40% da receita do Estado, e o país busca parcerias para ampliar a produção.
A Petrobras e a Petróleos Mexicanos (Pemex) negociam um amplo acordo de cooperação nas áreas de biocombustíveis, refino,
petroquímica e gestão. Os entendimentos estão em fase adiantada e vão permitir ampliar a parceria entre as estatais, que têm, desde
2005, um convênio de cooperação tecnológica na área de exploração e produção. A Pemex é a empresa com maior conhecimento de
reservas carbonatadas no mundo e a Petrobras domina a extração em águas profundas.

4) Parceria científica

Durante a recente visita do presidente mexicano Felipe Calderón ao Brasil, foram assinados três termos de cooperação técnica. O
primeiro acordo, de cooperação científica e tecnológica, foi com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes). Os outros acordos foram assinados com o Ministério da Ciência e Tecnologia, para criação de um centro de nanobiotecnologia
no Brasil e no México, e com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), na área de comércio exterior.

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Essa cooperação bilateral tem como objetivo a formação de estudantes de graduação e de pós-graduação, mobilidade acadêmica de
curta duração, pesquisas conjuntas, criação de redes acadêmicas, publicação e divulgação de conhecimentos e inovação tecnológica.
As áreas, preferencialmente, contempladas no acordo são biotecnologia, engenharias, nanotecnologia, energia, medicina, meio
ambiente, materiais, tecnologias industriais de fabricação, matemáticas aplicadas modelagem e tecnologias da informação e
telecomunicações.
Como parte integrante desse acordo, os dois países irão, ainda, assinar convênios específicos para atividades e projetos a serem
desenvolvidos.

Relações Brasil – Canadá

Faz mais ou menos um século que o Canadá mantém laços privilegiados com o Brasil. Foram os canadenses que projetaram as
redes hidroelétricas nas grandes cidades do Sul. A Brascan, primeira companhia canadense a implantar-se no Brasil, já festejou 100
anos. Foram também os canadenses que dotaram os grandes centros urbanos de seus primeiros serviços de transporte coletivo rápido
(os bondes), além de fundar a primeira empresa de telefone de São Paulo. Numerosos missionários colaboraram para aliviar a pobreza
nas regiões menos favorecidas, contribuindo para a aproximação dos países. No plano diplomático, a primeira delegação canadense no
Brasil data de 1941.

Há de se constatar – apesar disso – a existência de um nítido desequilíbrio entre o Brasil e o Canadá. Vários Núcleos de Estudos
Canadenses são ativos no Brasil há mais de quinze anos, contribuindo diretamente a favorecer o conhecimento e a compreensão do
Canadá, tão importante para as relações em longo prazo. O inverso não é verdadeiro, e o Brasil ainda aparece como um país
desconhecido.

Segundo a CNI, ao longo dos anos 90, as relações comerciais bilaterais caracterizaram-se pela pequena e decrescente participação do
mercado canadense nas pautas de exportação e importação brasileiras.
Na década passada, foi tímida, a participação do Canadá nos investimentos diretos ou no processo de privatização. Os investidores
canadenses no programa de desestatização se concentraram primordialmente no setor de telecomunicações.

O mercado consumidor do Canadá é pouco expressivo para os produtos de maior peso na pauta global de exportação brasileira. Para
alguns produtos menos representativos, contudo, é expressiva a importância do mercado canadense. São os casos de laminados de
ferro e aço, algodão, sacos para embalagem e bauxita não calcinada (minério de alumínio). Estes produtos poderiam ser afetados mais
fortemente caso houvesse uma retaliação sobre eles.

Balança comercial

1990 - Balança comercial brasileira com o Canadá US$ 86 Mi


Comércio total Brasil e Canadá US$ 956 Mi

2000 - Balança comercial brasileira com o Canadá - US$ 520 Mi


Comércio total Brasil e Canadá US$ 1.653 Mi

2008 - Balança comercial brasileira com o Canadá - US$ 1.343 Mi


Comércio total Brasil e Canadá US$ 5.076Mi

Importantes empresas brasileiras começaram a investir no país desde 2000 (Gerdau, seguida pela Votorantim e a AmBev). Desde que a
Companhia Vale do Rio Doce adquiriu a produtora de níquel Inço, em 2006, o Canadá deixou de ser apenas o vizinho dos EUA, o
principal parceiro comercial do Brasil, para ser o país onde o Brasil acumula o maior volume de investimentos diretos: cerca de US$ 15
bilhões.

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Em 2007, passou também a ser um parceiro estratégico na batalha do governo brasileiro para acabar com os subsídios agrícolas
distorsivos dos países ricos, ao entrar com um painel na OMC (Organização Mundial do Comércio) contra as robustas injeções do
tesouro americano na produção e exportação de milho. O Canadá se diz favorável à conclusão da Rodada Doha, pois não subsidia sua
produção agrícola, grande parte de sua economia é ligada ao comércio exterior e grande parte de suas exportações (75% em 2007) são
direcionadas ao mercado americano ou competem com produtos de lá (trigo).

A mais importante disputa comercial entre Brasil e Canadá, relativa às divergências entre Embraer e Bombardier, foi travada de 1997
até 2007, quando chegou-se a um acordo sobre os créditos à exportação de aviões civis. O acordo estabeleceu as regras do jogo, em
termos de que tipo de financiamento é aceitável e quais são as bases da oferta para que um cliente, que decidir escolher um ou outro
fornecedor, escolhe com base da tecnologia, entrega e preço e não por jogos de financiamento que podem dar vantagens para um ou
outro. O acordo foi negociado no âmbito da OCDE, da qual o Brasil não é membro, e representou uma importante vitória do Brasil ao
reconhecer as condições diferenciadas de risco entre os países.

Destaca-se também, como consta no referente à relação Brasil – Haiti, a parceria acertada em 2007 entre Brasil e Canadá para ajudar o
Haiti nas áreas de reflorestamento e vacinação.

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RELAÇÕES BRASIL-FRANÇA

Contexto Histórico
Os acontecimentos do Ano da França no Brasil e o Ano do Brasil na França colocam em evidência a relação tão calorosa e tão estreita
estabelecida entre os dois países, segundo o Coordenador das Relações Bilaterais no comissariado do Ano do Brasil na França, o
diplomata Antenor Bogéa. Mas as coisas nem sempre foram assim.
As relações franco-brasileiras passaram por um período de estagnação durante o Pós-Guerra. Segundo o diretor do Instituto
Brasileiro de Relações Internacionais e professor da Universidade de Brasília, Antônio Carlos Lessa, “entre 1945 e 1995 houve uma
‘negligência cordial”. O Brasil e a França caminhavam em sentidos opostos. Durante esses anos, os dois países tinham questões que se
desdobravam dos aspectos econômicos, de interesse de ambos, ligados às dimensões culturais, que mais interessavam à França”.
Outro fator que impedia a reaproximação era a imagem brasileira no exterior, de país corrupto, que não honrava seus compromissos.
A França, que até então inspirava o Brasil em termos culturais e políticos, perdia espaço para os Estados Unidos. Um exemplo dessa
perda de lugar sofrida pela cultura francesa, ao longo do tempo, foi a substituição da obrigatoriedade de conhecimento do francês
pela do inglês, no exame de admissão ao Curso de Aperfeiçoamento de Diplomatas já durante o governo neoliberal de Fernando
Henrique Cardoso. A cultura brasileira estava bastante americanizada.

No mandato de João Goulart, a França foi perdendo o interesse pelo Brasil devido à situação política no país, em regime ditatorial.
“A instabilidade do governo de Goulart também afugentava os investidores estrangeiros”, diz Lessa.
Mas um incidente diplomático que teve grave conseqüência nas relações franco-brasileiras foi a Guerra da Lagosta, que começou em
1961. O governo brasileiro proibiu os lagosteiros franceses de pescarem o crustáceo no litoral da região Nordeste, na parte que ia de
Pernambuco ao Ceará. Para a liberação da pesca, o governo francês se baseava na Convenção de Genebra, de 1958. Mas nem a
França nem o Brasil a assinaram. O Ministério das Relações Exteriores francês – Quai d'Orsay – dizia que os crustáceos não eram tidos
como recursos da plataforma continental. Na imprensa francesa, diante dos protestos dos pescadores de lagostas sobre os seus
supostos direitos de pesca, travou-se um aceso debate sobre o enquadramento da lagosta enquanto item de pesca e outras
considerações sobre sua classificação como bem patrimonial do Brasil. Embora a frase "le Brésil, ce n’est pas un pays serieux" ("O
Brasil não é um país sério"), seja tradicionalmente atribuída ao então presidente da França, general Charles de Gaulle, neste contexto,
na realidade foi pronunciada pelo embaixador brasileiro na França, Carlos Alves de Souza Filho, referindo-se à inabilidade com que o
governo brasileiro conduzia este contencioso. À época, na imprensa francesa, suscitou-se uma polêmica curiosa: se a lagosta andava
ou nadava. Caso nadasse, poder-se-ia considerar que estava em águas internacionais; caso andasse, estaria em território nacional
brasileiro, uma vez que se admitia à época que o fundo do mar pertencia ao Estado Brasileiro.
Com o intuito de solucionar a questão, veio ao Brasil uma delegação francesa composta pela Marinha Mercante e armadores. Já o
Brasil foi representado pelo Conselho de Desenvolvimento da Pesca (Codepe) e pela Superintendência de Desenvolvimento do
Nordeste (Sudene), pelo Ministério das Relações Exteriores e pela Marinha.
A Sudene sugeriu a criação de sociedades franco-brasileiras, mas não se chegou a um acordo. Durante o desenrolar da questão, as
pescas foram sendo cessadas e, conforme afirma Lessa, “o assunto foi perdendo o aspecto emocional e ganhando o prático”. Ele diz
que “a Guerra da Lagosta constituiu o último ato do espetáculo da incompreensão que caracteriza as relações entre brasileiros e
franceses”.
Nos anos seguintes, durante o início da década de 60, Charlles de Gaulle ignorou o Brasil. Tentando reverter a situação, João
Goulart convidou-o para uma visita. Ele só veio ao país em 13 de outubro de 1964, no governo de Humberto Castelo Branco. Era a
primeira vez que um chefe de Estado francês visitava o Brasil. “A visita de Gaulle tinha o objetivo de mostrar aos países visitados que
o seu destino não estava irremediavelmente ligado aos Estados Unidos”, comenta Lessa. Havia um desejo da França de se
reaproximar das nações em desenvolvimento.

Após a ditadura brasileira, o país passava por momentos de agitação política, como o impeachment de Fernando Collor em 1992. Isso
significava que o Brasil ainda era um investimento perigoso. Entretanto, a percepção da França foi mudando quando cresceu a
importância dos blocos econômicos, como o Mercado Comum Europeu. Na América do Sul, o Mercosul auxiliava na criação de uma
boa imagem para o Brasil.
O Mercado Comum do Sul interessa à França, por isso, há um receio dos franceses com relação à Associação de Livre Comércio das
Américas (Alca). Seria preciso mostrar aos países sul-americanos que a Europa, sob liderança francesa, é uma alternativa.
Como o governo de Fernando Henrique Cardoso almejava estreitar os laços franco-brasileiros, a cultura teve um papel essencial.
Um evento que antevia o Ano do Brasil na França foi a Exposição França 2000, cujo objetivo era mostrar aos demais países o que tinha
a França contemporânea.

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Nessa mesma época, a França atentava para o fato de que sua maior fronteira era com o Brasil, por conta dos 600 quilômetros que
separam o Amapá da Guiana Francesa. Jacques Chirac, presidente da França, prometia fazer dessa fronteira a porta de entrada do
Mercosul para União Européia.
Relações Recentes entre Brasil e França

 Nos últimos dez anos, o investimento francês no Brasil cresceu. A França é hoje o quarto maior investidor brasileiro.
 No ano passado, o fluxo comercial entre o Brasil e a França alcançou US$ 8,8 bilhões, 26% a mais do que em 2007. Os
investimentos franceses no Brasil alcançaram US$ 2,2 bilhões em 2008.
 Já no plano diplomático, a França apóia a reforma do Conselho de Segurança da ONU. Em nota divulgada pelo MRE, o Brasil e
a França reafirmam a intenção de abrir as instâncias de governança mundial aos principais países emergentes. Nesse sentido, a França
reitera seu apoio à candidatura do Brasil a um assento de membro permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas e a sua
incorporação a um G8 ampliado.
 Consulado – No Recife, a França está representada pelo Consulado da França, que não exerce mais atividades consulares,
como casamento, retirada de passaportes e quaisquer atos civis. A responsável pelo serviço de cooperação e ação cultural do
consulado francês do Recife, Marie Laure Geoffray, informa que “o consulado tem um poder político,o que significa ter contatos
regulares com as autoridades da região e discutir assuntos políticos e culturais. Além de mandar todo tipo de informação sobre a
região ao Ministério em Paris”.
 A rápida relevância que o Grupo dos 20 (G-20) tem se tornado peça fundamental para a diplomacia econômica do Brasil, já
que em sua última reunião em abril deste ano os líderes políticos aceitaram a necessidade de mudança na distribuição e na
redistribuição das cotas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. Essa mudança é considerada essencial para que
o processo de decisão destes dois organismos multilaterais reflita a nova realidade econômica internacional. Questiona-se se o
governo francês irá apoiar o pleito do Brasil em conjunto com os BRIC (sigla das inicias de Brasil, Rússia, Índia e China) e ir contra
governos membros da União Européia (UE).
 Rodada de Doha: A postura francesa nesta área é oposta à brasileira. O programa de subsídio agrícola da União Européia tem
sido um dos focos de ataque da diplomacia brasileira, sendo que o Estado com maior parcela dentro deste programa é justamente a
França, que reiteradas vezes se colocou contrária à diminuição dos subsídios.

 Ano da França no Brasil: Os Presidentes constataram, com satisfação, o fortalecimento das relações entre o Brasil e a França,
que se tem refletido na freqüência dos contatos e das visitas bilaterais em diferentes níveis e na ampliação da Parceria Estratégica a
novas áreas desde a assinatura do Plano de Ação. Saudaram o grande êxito do Ano da França no Brasil, que se estenderá até o dia 15
de novembro próximo, cujo amplo programa de atividades realizadas em todo o território brasileiro tem contribuído para reforçar os
laços históricos de amizade entre as sociedades brasileira e francesa, bem como permitido promover a imagem da França de hoje,
marcada por sua diversidade e criatividade.

Compra de aparato militar francês


O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Presidente Sarkozy decidiram fazer do Brasil e da França parceiros estratégicos também no
domínio aeronáutico, onde ambos os países possuem vantagens importantes e complementares.
Neste contexto, o Presidente francês comunicou ao Presidente brasileiro a intenção da França de adquirir uma dezena de unidades da
futura aeronave de transporte militar KC-390, e manifestou a disposição dos industriais franceses de contribuir para o
desenvolvimento do programa desta aeronave.
Por seu lado, levando em conta a amplitude das transferências de tecnologia propostas e das garantias oferecidas pela parte francesa,
o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a decisão da parte brasileira de entrar em negociações com o GIE Rafale para a
aquisição de 36 aviões de combate.
Em vários pronunciamentos e entrevistas, tanto do lado brasileiro quanto do francês, a expressão relacionamento estratégico entre
Brasil e França foi muito utilizada, inclusive pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A mensagem que se procurou dar foi de
que as relações entre os dois países não estão ligadas somente à área militar, mas em muitas outras, principalmente a econômica. Dias
antes da recente visita do presidente Nicolas Sarkozy ao Brasil pelo dia da nossa independência, o conselheiro diplomático do governo
francês, Jean-David Lévite, ressaltou o interesse de expandir as relações em outras áreas além da militar.
Após o desfile e negociações em Brasília, a ministra da economia francesa, Christine Lagarde, foi a São Paulo para aprofundar os
contatos econômicos. Neste mesmo dia, em palestra proferida na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), disse que seu país
apoiava todas as reivindicações brasileiras nos fóruns multilaterais.
BALANÇO DA IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DE AÇÃO

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1. Diálogo político e governança internacional:
Antes mesmo da reunião do G-20 em Londres, em 1º de abril último, os dois Presidentes trabalharam em uma iniciativa comum de
reforma da governança global. Tal iniciativa foi expressa no projeto da “Aliança para a Mudança”, apresentado em 07 de julho de
2009 sob a forma de artigo conjunto publicado nas imprensas brasileira, francesa e internacional, alguns dias antes da Cúpula de
L’Aquila. Os dois Presidentes aproveitarão os próximos encontros entre líderes mundiais para promover essa iniciativa junto a seus
pares.
Os resultados obtidos nas Cúpulas de Londres e de L’Aquila já demonstraram que a dinâmica franco-brasileira é pertinente e
necessária. Os dois Presidentes aprofundarão sua concertação com vistas à Cúpula do G-20 em Pittsburgh para assegurar a
implementação efetiva dos compromissos assumidos em Londres, em particular sobre a reforma das instituições financeiras
internacionais, assim como a adoção de regras comuns e universais com o objetivo de reverter os desequilíbrios financeiros atuais,
impedir que esses desequilíbrios se reproduzam no futuro e favorecer um crescimento forte e sustentável.
Os dois Presidentes reiteraram seu apoio à ampliação do G-8, incorporando os grandes países emergentes. Compartilham a visão de
que o G-20 constitui o foro adequado para responder aos desafios da crise econômica e financeira, e que o G-8 ampliado tem vocação
para tratar de questões políticas e outros temas globais. Manifestaram-se favoráveis a uma reforma conjunta da governança das
instituições financeiras internacionais que fortaleça, de modo especial, a participação dos países em desenvolvimento em seus
processos decisórios.
Os dois Presidentes saudaram os resultados do diálogo bilateral mantido em 29 de junho passado, em Paris, no contexto da parceria
para a reforma da governança internacional, ocasião em que foram escolhidos, como temas prioritários de concertação bilateral, a
segurança alimentar e a inovação no âmbito da energia e da mudança do clima. No que diz respeito à segurança alimentar,
concordaram em que o diálogo poderá contribuir para a reforma da FAO.
Manifestaram apoio ao processo de negociação sobre a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Reiteraram,
igualmente, seu apoio ao sistema multilateral de comércio e coincidiram quanto à necessidade de retomar as negociações da Rodada
de Doha, com vistas à sua rápida conclusão, com base nos progressos já alcançados, inclusive em matéria de modalidades, de forma a
fortalecer os fluxos de comércio, estimular a retomada do crescimento mundial e lutar contra as tentações protecionistas.
2. Cooperação econômica e comercial:
Os Chefes de Estado comprometeram-se a elevar as relações econômicas entre o Brasil e a França com vistas a dinamizar os fluxos
bilaterais de comércio e de investimentos, bem como a intensificar o diálogo sobre os temas da agenda econômica e comercial
internacional.
Nesse espírito, congratularam-se pelo estabelecimento do Grupo de Trabalho Econômico e Comercial de Alto Nível, que teve sua
primeira reunião em São Paulo, no dia 08 de setembro de 2009.
3. Cooperação na área espacial:
No contexto dos diferentes acordos firmados em dezembro passado, os dois Presidentes saudaram os trabalhos desenvolvidos por
ambas as agências espaciais, os quais vêm avançando de forma consistente, com perspectivas de resultados promissores em matéria
de observação do ciclo da água, satélite geoestacionário e plataforma multimissão.
4. Cooperação na área da energia nuclear:
O Brasil e a França apóiam o uso pacífico da energia nuclear, em consonância com as normas internacionais reconhecidas pelos dois
países em matéria de segurança, não-proliferação e conservação do meio ambiente para as gerações futuras.
O Brasil e a França confirmam o compromisso, assumido pelos dois Chefes de Estado em 23 de dezembro de 2008, de desenvolver a
cooperação bilateral no campo nuclear. O Grupo de Trabalho sobre Energia Nuclear, que se reuniu em 3 de julho de 2009, no Rio de
Janeiro, constatou progressos nas diversas áreas de cooperação constantes do Plano de Ação. Os Presidentes dos dois países
encorajam a busca de cooperação em matéria de formação de quadros, bem como no que se refere à gestão de dejetos radioativos e
reatores de pesquisa.

Os dois países encorajam parcerias industriais e buscarão garantir ambiente político e jurídico favorável à conclusão de negociações
industriais e comerciais de forma mutuamente benéfica. Nesse espírito, ambos os países encorajam, em particular, respeitadas as
respectivas legislações, as negociações entre a AREVA e a Eletronuclear sobre a retomada das obras de Angra III, o desenvolvimento da
cooperação sobre tecnologias de prospecção de urânio, assim como o diálogo entre empresas brasileiras e francesas do setor, entre as
quais Eletrobrás, Eletronuclear, INB, AREVA, EDF e GDF Suez.
Os dois Presidentes ressaltaram, igualmente, as perspectivas de cooperação para o desenvolvimento de novas centrais nucleares no
Brasil, em conformidade com os planos de ampliação do parque energético nacional.
5. Cooperação para o desenvolvimento sustentável:
Convencidos de que os Estados têm a responsabilidade de promover o crescimento responsável e limpo, os dois Presidentes
constataram que o processo iniciado no mês de dezembro passado no Rio de Janeiro permitiu avançar rapidamente em todas as áreas
definidas na ocasião:
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Mudança do clima: O Grupo de Trabalho bilateral sobre mudança do clima realizará sua primeira reunião no dia 8 de setembro de
2009 com vistas a aproximar ainda mais as posições dos dois países e fortalecer as respectivas capacidades de facilitar a conclusão de
um acordo ambicioso por ocasião da próxima Cúpula de Copenhague. A França apóia plenamente a proposta do Brasil de organizar,
em 2012, uma nova Cúpula sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, 20 anos após a primeira, também realizada no Rio
de Janeiro.
Biodiversidade: A primeira reunião do Comitê Misto de Coordenação para a Implementação do Protocolo de Cooperação para o
Desenvolvimento Sustentável do Bioma Amazônico, realizada em Brasília, em 17 e 18 de agosto de 2009, permitiu dar concretude aos
compromissos assumidos pelos dois países. No que respeita ao desenvolvimento sustentável do bioma amazônico, o Comitê Misto
estabeleceu 4 prioridades:

- ordenamento territorial, regularização fundiária e zoneamento ecológico e econômico;


- avaliação do estado dos recursos naturais do bioma amazônico, tanto do lado brasileiro - - quanto do lado francês, mediante a
utilização de dados e técnicas de observação espacial, assim como levantamentos de terreno;
- valorização energética dos produtos florestais e dos subprodutos da transformação da madeira;
- gestão para a conservação e o uso sustentável da biodiversidade florestal.

Na área da cooperação científica, o Conselho Binacional do Centro Franco-Brasileiro da Biodiversidade Amazônica reuniu-se em
Brasília, nos dias 2 e 3 de setembro de 2009, e decidiu lançar convite à apresentação de projetos de pesquisa sobre os diversos temas
propostos pelo Comitê Científico do Centro. As universidades e organismos de pesquisa brasileiros e franceses fortalecerão a
cooperação recíproca, sobretudo na região fronteiriça.

Transportes sustentáveis: O lançamento das obras do Metrô Leve (VLT) de Brasília, pelo Presidente da República Francesa e pelo
Governador do Distrito Federal – projeto que será conduzido por consórcio liderado pela empresa Alstom com financiamento parcial
da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) –, é outra realização concreta da cooperação bilateral em prol do desenvolvimento
sustentável.A França expressa, igualmente, seu interesse no avanço do projeto de trem de alta velocidade entre o Rio de Janeiro, São
Paulo e Campinas.
6. Cooperação nas áreas educativa, lingüística e técnica:
Os dois Presidentes, convencidos do caráter prioritário do desenvolvimento do capital humano, congratularam-se pelos avanços
registrados na implementação dos compromissos assumidos na área de formação profissional, em particular:
- a constituição de uma rede de estabelecimentos de excelência (Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia brasileiros e
escolas técnicas francesas) voltada, em uma primeira fase, aos setores aeronáutico, automotivo, eletrônico, de hotelaria-alimentação,
sanitário e social, a fim de estabelecer intercâmbio de boas práticas e ações inovadoras;

Os dois Presidentes se felicitam pelo fato de que, a poucas semanas do 20º aniversário da parceria entre a Escola Nacional de
Administração da França (ENA) e a Escola Nacional de Administração Pública do Brasil (ENAP), a Escola Nacional da Magistratura da
França (ENM) e a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Brasil (ENFAM) tenham decidido trabalhar
conjuntamente.
7. Cooperação na área da defesa:
Concretização, desde o fim de 2008, do diálogo estratégico regular entre os Ministérios da Defesa e das Relações Exteriores de ambos
os países nas áreas de segurança e de defesa, que propicia intercâmbio aprofundado sobre todas as questões globais e regionais de
interesse para os dois países nessas áreas.
A finalização dos contratos comerciais e de financiamento relativos, de um lado, ao desenvolvimento e à produção compartilhados de
helicópteros de transporte do tipo EC-725 e, de outro lado, à cooperação em matéria de submarinos, objeto de acordos-quadro
bilaterais e contratos-quadro industriais no mês de dezembro último, no Rio de Janeiro, constitui passo decisivo para a implementação
efetiva de uma cooperação tecnológica inédita, inovadora e durável: pela primeira vez, engenheiros e técnicos brasileiros e franceses
trabalharão juntos no desenvolvimento e na produção de equipamentos de defesa.
O Brasil e a França também concordaram em intensificar o intercâmbio bilateral com vistas a analisar a viabilidade de uma futura
cooperação na área de monitoramento das fronteiras terrestres e marítimas do Brasil.
Os Chefes de Estado tomaram conhecimento da carta de intenções entre as empresas Agrale S.A. e Renault Trucks Défense, mediante
a qual os dois grupos se comprometem a analisar a viabilidade de associação industrial para produção e comercialização de veículos
terrestres de transporte militar, iniciativa que demonstra sinergia entre os setores industriais de ambos os países na área de defesa.
O Presidente Sarkozy reiterou a disposição da França em aprofundar a parceria tecnológica e operacional na área dos aviões de
combate, e garantiu que tal cooperação implicaria ampla transferência de tecnologia e de capacidades industriais.

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O Presidente Lula manifestou interesse em explorar conjuntamente com a França possibilidades de cooperação industrial no campo
aeronáutico.
8. Outros temas de cooperação:
Temas migratórios:
Cooperação transfronteiriça: Os dois Presidentes expressaram satisfação pelo início efetivo dos trabalhos de construção da ponte
sobre o Rio Oiapoque, com vistas a sua inauguração no final de 2010.
A V Reunião da Comissão Mista de Cooperação Transfronteiriça Brasil-França, realizada nos dias 13 e 14 de agosto de 2009, em
Macapá, permitiu expandir ainda mais o campo da cooperação bilateral, ao estabelecer ambicioso programa de trabalho que abre
perspectivas promissoras para o desenvolvimento sustentável da Guiana Francesa e do Estado do Amapá, com vistas, entre outros
objetivos, à melhoria das comunicações e do comércio, contemplando inclusive a possibilidade de estabelecimento de ligação aérea
regional.
Os dois Presidentes coincidiram quanto à importância do uso, pelo Estado do Amapá, da capacidade não-utilizada do terminal de
fibras óticas de Saint-Georges de L´Oyapock, o que facilitaria a instalação de postos de controle de fronteira em ambos os países e a
inclusão digital dos habitantes daquele Estado.
Segurança pública: assinatura de Protocolo Adicional que cria o centro de cooperação policial na fronteira entre a Região da Guiana
Francesa e o Estado do Amapá, completando, desse modo, o Acordo de Cooperação e Parceria na Área de Segurança Pública
celebrado em Brasília, em 12 de março de 1997. Nesse contexto insere-se a recente instalação de agentes policiais brasileiros em
Caiena e em Saint-Georges de L´Oyapock.
9. Cooperação conjunta em terceiros países:
Os Presidentes expressaram sua satisfação com o projeto de criação de banco de leite materno no Haiti, em que a Agência Brasileira
de Cooperação (ABC) e a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) trabalharão conjuntamente.

Congratularam-se igualmente pelo fato de que o Protocolo de Intenções entre o Governo do Brasil e o Governo da Franca relativo à
Coordenação em Matéria de Tecnologias Avançadas e sua Utilização, firmado em Paris em 15 de julho de 2005, já se tenha refletido na
assinatura, em 2009, de acordos concretos com o Cameroun, para desenvolver cooperação no setor de piscicultura e aqüicultura, e
com Moçambique, na área de agricultura de conservação com vistas à preservação do solo, sob a perspectiva do desenvolvimento
sustentável.

Com respeito aos mecanismos inovadores para o financiamento do desenvolvimento, os Presidentes ressaltaram o sucesso da
UNITAID (Central Internacional para a Compra de Medicamentos contra a AIDS, a Malária e a Tuberculose), criada em setembro de
2006, que tem permitido o financiamento do tratamento de três em cada quatro crianças infectadas pelo vírus HIV, em particular na
África, assim como outros projetos no setor de saúde.

NOVOS CAMINHOS PARA O FUTURO

Na área política, os Presidentes manterão diálogo e concertação aprofundados para promover juntos a reforma da governança global.

Na área dos direitos humanos, o Brasil e a França trabalharão conjuntamente com vistas à reforma do Conselho de Direitos
Humanos, em 2011, a fim de reforçar a capacidade do Conselho de lidar com violações de maior gravidade.

Na área da defesa, a parceria bilateral continuará fundada sobre uma visão política compartilhada e uma cooperação tecnológica
aprofundada. Nesse espírito, o Brasil e a França continuarão a estudar diversos eixos promissores de desenvolvimento conjunto nos
domínios naval, aeronáutico e terrestre.

Na área espacial, os Presidentes consideram que os progressos alcançados no campo dos satélites de observação prenunciam possível
cooperação em outros segmentos das atividades espaciais, tais como o desenvolvimento de sistemas de comunicação militar ou a
cooperação em matéria de lançadores. Sublinharam que os projetos de cooperação espacial que vierem a ser identificados deverão
incluir transferência de tecnologia e utilização das capacidades industriais existentes.

No campo econômico, será intensificado o intercâmbio sobre políticas adotadas com vistas a superar os efeitos da crise financeira.

No campo da exploração e produção de hidrocarburetos, o Brasil e a França envidarão esforços para desenvolver a cooperação

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bilateral em torno de projetos conjuntos.

Na área do direito do mar, os dois países intensificarão seu intercâmbio para formalizar a cooperação bilateral e facilitar a aquisição
mútua de dados sobre o limite exterior da plataforma continental dos dois Estados na fronteira marítima entre o Brasil e a Guiana
Francesa.

No campo científico e acadêmico, será dada prioridade à promoção de tecnologias de alto nível. A formação profissional será objeto
de particular atenção.

No campo da cooperação administrativa, os dois Presidentes decidiram encorajar a cooperação em matéria de ordenamento
territorial, urbanismo e política urbana entre as administrações estaduais e municipais, do Brasil, e territoriais, da Franca.

Na área das tecnologias da informação, decidiram avançar na discussão de modalidades de cooperação para o desenvolvimento de
supercomputadores e de computadores de alto desempenho, a fim de ampliar a capacidade brasileira nestes setores de ponta,
inclusive mediante investimentos diretos e fortalecimento da infra-estrutura industrial no Brasil.

Na área do desenvolvimento sustentável, será dado prosseguimento ao trabalho inédito, já iniciado na esteira do Plano de Ação
assinado em dezembro de 2008, que visa a definir modelos de desenvolvimento que sejam ao mesmo tempo rentáveis e econômicos,
sobretudo na área florestal. Os resultados concretos obtidos nesse contexto deverão embasar as posições adotadas nas negociações
multilaterais sobre clima e biodiversidade.

Por fim, no campo da solidariedade, determinaram que, em matéria de cooperação em terceiros países, três novos projetos-piloto
sejam identificados com parceiros africanos, prioritariamente nas áreas de saúde, energias renováveis, agricultura, e seguran ça
alimentar.

O Grupo de Trabalho conduzido pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil e pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros e
Europeus da França reunir-se-á em bases anuais para acompanhar a implementação do Plano de Ação.

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Relações Brasil e Reino Unido

1. Introdução

O Brasil independente herdou as estreitas relações entre a Grã-Bretanha e o Brasil Colônia. Durante as guerras napoleônicas,
os ingleses foram os principais aliados de Portugal. Desde 1801, o ministro de Relações Exteriores inglês deu garantias de apoio se o
plano de transferência da Corte para o Brasil fosse levado adiante.

2. Histórico das relações (datas relevantes)

1808 = A Corte portuguesa chega à Bahia, escoltada pela Marinha Britânica, em janeiro. Em março, chega ao Rio.

1808 = Como parte da convenção secreta assinada em 1807, que definiu a proteção inglesa na transferência, D. João VI abre
os portos para comércio direto com as nações amigas. Essa decisão marca o fim de 300 anos de monopólio do comércio colonial e a
eliminação de Lisboa como entreposto para importações e exportações brasileiras. Nesse ano, o comércio entre Brasil e Grã-Bretanha
quadruplicou. Segundo o ministro de Relações Exteriores inglês, George Canning, o Rio transformou-se em um “empório para
manufaturas inglesas destinadas ao consumo de toda América do Sul”.

1810 = Tratado de Navegação e Comércio e Tratado de Aliança e Amizade, assinados entre os dois países. Com esses acordos,
comerciantes ingleses foram formalmente autorizados a residir no Brasil e se engajar no comércio de atacado e varejo. O governo
britânico também recebeu o direito de nomear juízes especiais para julgar casos envolvendo ingleses no Brasil. Garantiu uma taxa de
importação máxima de 15% sobre bens ingleses (24% para os demais). O tráfico de escravos foi restrito aos territórios portugueses.

1823 = Lorde Cochrane, acompanhado de oficiais ingleses, inicia a formação de um pequeno esquadrão naval brasileiro para
bloqueio da Bahia, que permanecera sob controle português. Sob o comando de Cochrane, o Império garante a retirada dos
portugueses da Bahia. O mesmo ocorre em São Luís e em Belém.

1824= Negociações para o reconhecimento da independência brasileira são iniciadas por Brasil e Portugal com a
intermediação de Inglaterra e de Áustria. Em 1825, será assinado tratado pelo qual o Brasil compensa Portugal pelas perdas com a
guerra de independência. O Brasil independente faz seu primeiro empréstimo em Londres para arcar com a despesa.

1826= Grã-Bretanha reconhece formalmente a independência brasileira. Tratado anti-escravagista é assinado. Conforme o
acordo, todo tráfico brasileiro de escravos torna-se ilegal em três anos a partir da ratificação (março de 1830).

1827= Tratado comercial anglo-brasileiro incluía a continuação da taxa máxima de importação de 15% sobre bens ingleses e o
direito de nomear juízes especiais para julgar mercadores ingleses no Brasil.

1839= Decreto de Lorde Palmerston que dava poderes à marinha britânica para interceptar mercadores de escravos, com
bandeira portuguesa, e enviá-los às cortes do vice-almirantado para condenação.

1844= Tarifa Alves Branco. O objetivo era mais fiscal do que protecionista. Os bens importados ingleses têm as taxas
aumentadas de 15% para entre 30% e 50%. O tratado de 1827 é revogado por insistência do Brasil.

1845= O Brasil decide encerrar o compromisso do tratado anti-tráfico de escravos de 1817, segundo o qual a marinha
britânica exercia o direito de busca e comissões mistas anglo-brasileiras condenavam os navios brasileiros capturados. Em resposta,
Inglaterra faz o decreto Aberdeen. Vários incidentes ocorreram na costa brasileira em 1850, porque houve uma interpretação do

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decreto de que os ingleses poderiam ingressar em águas territoriais e portos brasileiros em busca de escravos. Em 1869, o decreto
Aberdeen é revogado.

1850= O Brasil era o terceiro maior mercado britânico, depois dos Estados Unidos e da Alemanha. Comerciantes ingleses
dominavam o comércio de exportação no Brasil. A maioria das empresas de importação também pertencia aos britânicos.

1855 = A Casa Rothschilds é escolhida como único agente financeiro do Brasil. Em 1862-63, são fundados bancos comerciais
britânicos no país.

1862-63= Questão Christie. O ministro britânico no Brasil ordena a apreensão de navios brasileiros no porto do Rio, o que
culminou com um bloqueio naval britânico por seis dias. A confusão começou com o naufrágio do navio britânico Prince of Wales no
Rio Grande do Sul, que teve sua carga pilhada. O ministro Christie exige o pagamento de indenização e a punição de autoridades
responsáveis. No mesmo período, oficiais britânicos são presos por desacato e distúrbios, sendo soltos no Rio. Christie exige que o
chefe de polícia seja repreendido e cobra novamente a indenização do navio. Há manifestações populares contra Christie. Com o
bloqueio, o Brasil paga a indenização sob protesto. Como a Inglaterra não pede desculpas pela sua agressão de guerra, o Brasil rompe
as relações diplomáticas com a Grã-Bretanha. As relações são reatadas em 1865.

1864-1870= Apesar da neutralidade inglesa (oficial) na Guerra do Paraguai, a Inglaterra vende ao Brasil barcos a vapor,
artilharia, munições e material necessário para a construção de navios de guerra. Em 1865, o Brasil consegue empréstimo para
comprar navios e armas.

1895-96= Portugal é mediador entre Brasil e Grã-Bretanha depois desta ocupar a Ilha de Trindade no Atlântico. Em 1896, os
ingleses reconhecem a soberania brasileira sobre a ilha.

1899 = Argentina supera o Brasil como principal mercado sul-americano para produtos britânicos, posição detida pelo Brasil
desde 1808.

1901= Grã-Bretanha e Brasil assinam tratado sobre as fronteiras da Guiana Inglesa. Tratados subseqüentes são firmados em
1926, 1930 e 1940.

1925-26= Relações tensas entre Brasil e Grã-Bretanha em razão do desejo brasileiro de obter uma vaga permanente no
Conselho Permanente da Liga das Nações. Em 1927, os EUA superam a Inglaterra como principal parceiro comercial do Brasil.

1968= A rainha Elizabeth II e o príncipe Philip visitam o Brasil. Foi a primeira de caráter oficial de um membro da realeza
britânica.

1976= Geisel visita a Grã-Bretanha. Em 1978, há acordo de salvaguardas na exportação de urânio enriquecido entre o Brasil e
o consórcio britânico-holandês-germânico Urenco.

1982= O Brasil ficou oficialmente neutro na Guerra das Malvinas entre argentinos e ingleses. Apoiou o direito da Argentina à
soberania das ilhas, mas condenou o uso da força. Extra-oficialmente, ajudou os argentinos.

1985= A Real Força Aérea britânica compra aviões de treinamento brasileiros (Tucano) da Embraer.

1988= Acordo sobre drogas e narcóticos entre Brasil e Grã-Bretanha.

1991= O príncipe e a princesa de Gales visitam o Brasil.

46
1994= Assinatura de um acordo sobre proteção recíproca de investimentos.

1994-95= O Brasil compra da Grã-Bretanha quatro fragatas e três varre-minas.

1995= Assinado tratado de extradição entre Brasil e Grã-Bretanha. O Brasil compra nove helicópteros ingleses. Mais cinco são
modernizados.

2001= O primeiro-ministro, Tony Blair, realiza a primeira visita de cunho bilateral de um chefe de governo britânico ao Brasil.
O plano de ação conjunta dos dois países é revisto e ampliado.

2003= Em visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Grã-Bretanha declara apoiar a entrada do Brasil no Conselho de
Segurança da ONU.

3. Relações econômicas na atualidade


Em termos econômicos, a corrente de comércio cresceu bastante entre Brasil e Reino Unido nos últimos 20 anos. Em 1988,
representava US$ 48,4 bilhões. Em 2008, chegou a US$ 378,1 bilhões. Apesar de existirem exceções em alguns anos na década de 90, o
saldo costuma ser positivo para o Brasil.
Entre janeiro e dezembro de 2008, as exportações brasileiras para o Reino Unido totalizaram US$ 3,8 bilhões. Entre os principais
produtos exportados pelo Brasil, constam minérios de ferro, ouro em barra, outros grãos de soja, conservas de alimentos e aviões,
calçados e óleos brutos de petróleo. Por outro lado, as importações brasileiras somaram US$ 2,5 bilhões no mesmo período. Entre os
principais produtos importados, destacam-se fungicidas, urânio enriquecido, querosenes de aviação, automóveis e óleos brutos de
materiais betuminosos.

4. Relações estratégicas na atualidade


A cooperação em projetos na África, em Ciência e Tecnologia e em Saúde, é uma das principais iniciativas. No final do ano
passado, assinaram memorando de cooperação para os Jogos Olímpicos e Copa, que ocorrerão no Brasil. Na visita do primeiro-
ministro do Reino Unido ao Brasil,em 26 de março de 2009, os dois países reiteraram sua visão comum de um mundo sem fome e sem
pobreza entre outros assuntos. A seguir, os principais temas do encontro:

Crise Mundial
_ O Presidente e o Primeiro-Ministro concordaram em que os países devem trabalhar de forma conjunta para estabilizar as
economias; restaurar as condições para o crescimento, a normalidade dos mercados de crédito e dos fluxos financeiros; impedir o
avanço do protecionismo; e preparar o caminho para uma recuperação econômica sustentável e de baixa emissão de carbono.
_ Reiteraram seu compromisso com uma rápida e abrangente conclusão da Rodada de Doha.
_ Concordaram que se deve estabelecer reformas fundamentais para fortalecer a regulamentação do setor financeiro a fim de
evitar futuras crises. Coincidiram em que todas as instituições financeiras, mercados e instrumentos devem estar sujeitos à
regulamentação e supervisão apropriadas, o que requer forte cooperação internacional.
_ Decidiram apoiar países emergentes e em desenvolvimento para enfrentar e superar a repentina inversão de fluxos
internacionais de capital.

Fortalecimento do sistema internacional


_ Acordaram unir esforços para acelerar a reforma das estruturas de governança de modo a aumentar sua transparência e
representatividade.

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_Economias emergentes e em desenvolvimento devem ter maior voz e representação. Com esse objetivo, o próximo realinhamento
das cotas do FMI deve estar concluído no máximo em janeiro de 2011 e a segunda fase da reforma de voz e representação do Banco
Mundial deve ser completada durante as Reuniões de Primavera de 2010.
_ Os dois Chefes de Governo concordaram igualmente que os próximos dirigentes do FMI e do Banco Mundial devem ser indicados por
meio de processo de seleção aberto e baseado no mérito, sem considerar nacionalidades ou preferências geográficas.
_ O Primeiro-Ministro reiterou o firme apoio do Reino Unido ao Brasil como Membro Permanente do Conselho de Segurança
das Nações Unidas, ao seu papel no G20 e à institucionalização da cooperação entre o G8 e demais membros do G5.

Desigualdade social
_ Destacaram a necessidade de uma ação global imediata para a implementação das Metas de Desenvolvimento do Milênio.
_Conclamaram a ONU a lançar um “Alerta de Vulnerabilidade” a fim de monitorar o impacto da crise sobre os mais pobres e apoiar
Fundo de Resposta Social Rápida do Banco Mundial. Concordaram que ambos os mecanismos deveriam se beneficiar da experiência
mundialmente reconhecida do Brasil em proteção social.
_ O Brasil e o Reino Unido concordaram em fortalecer sistemas abrangentes de proteção social na África e a promoção de
segurança alimentar global. Os dois Chefes de Governo enfatizaram a importância dos Mecanismos Financeiros Inovadores para o
desenvolvimento, tendo os dois países recentemente anunciado que contribuiriam para o Mecanismo Internacional de Financiamento
sobre Imunizações (“IFFIm”), que tem o objetivo de salvar 10 milhões de vidas até 2015 por meio de vacinação, e também de apoiar a
Força Tarefa de Alto Nível em Financiamento Internacional Inovador para Sistemas de Saúde.
_ Os dois Mandatários manifestaram a intenção de realizar parcerias trilaterais em apoio à cooperação Sul-Sul, em benefício
dos países em desenvolvimento. O Brasil e o Reino Unido estão dispostos a explorar novos mecanismos e a desenvolver iniciativas
específicas para intensificar a implementação das Metas de Desenvolvimento do Milênio. Trabalhando juntos, os dois Países poderão
ampliar a utilização das experiências e inovações brasileiras.
_ Os Mandatários concordaram em trabalhar juntos para acelerar o progresso global em saúde materna, a menos avançada
Meta de Desenvolvimento do Milênio. Ambos trabalharão com seus parceiros internacionais para mobilizar ajuda política e financeira
com o objetivo de fortalecer sistemas de saúde e ajudar a salvar vidas de milhões de mães, de recém-nascidos e de crianças.
_ O presidente e o Primeiro Ministro acordaram em conceder seu apoio conjunto à Campanha Educação para Todos da Copa
do Mundo da FIFA de 2010, no contexto das Metas do Desenvolvimento do Milênio.

África
_ O Presidente e o Primeiro Ministro reiteraram a prioridade que conferem aos esforços para apoiar o desenvolvimento africano por
meio de canais bilaterais e multilaterais. Concordaram em cooperar em áreas-chave, incluindo: inovação agrícola (o Escritório da
EMBRAPA em Gana estabelecerá contatos com parceiros africanos); capacitação de pessoal; setor eleitoral; apoio ao desenvolvimento
de biocombustíveis sustentáveis na região, combate à pobreza (utilizando a especialização do Ministério brasileiro do
desenvolvimento Social e o Combate à Fome em programas de transferência social condicionada); cooperação na Guiné-Bissau.

Mudança do Clima e Desenvolvimento Sustentável


_ O Presidente e o Primeiro-Ministro concordaram em trabalhar juntos para combater os perigos da mudança do clima e
proteger e usar de forma sustentável os recursos naturais.
_ O Primeiro-Ministro saudou o firme comprometimento demonstrado pelo Brasil com as negociações no âmbito do
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) e a publicação, em dezembro de 2008, do Plano Nacional de
Mudança do Clima. O Presidente cumprimentou o Reino Unido pela Lei de Mudança do Clima. Ambos os países demonstraram firme
compromisso de tratar da mudança do clima.
_ O Presidente e o Primeiro-Ministro comprometeram-se pessoalmente em assegurar um arcabouço robusto para tratar da
mudança do clima em Copenhague. Todos os países são chamados a agir, de uma maneira que reconheça as diferentes circunstâncias
nacionais e respeite o princípio da UNFCCC de “responsabilidades comuns, porém, diferenciadas e respectivas capacidades”.
_ O Presidente e o Primeiro-Ministro sublinharam a necessidade de serem criados urgentemente novos mecanismos de
financiamento que permitam aos países em desenvolvimento se adaptarem às mudanças do clima e empreenderem ações de
mitigação, inclusive por meio da rápida mobilização e disseminação de tecnologias limpas. Os dois Mandatários saudaram a
operacionalização, em Poznan, do Fundo de Adaptação.
_ O Presidente e o Primeiro-Ministro enfatizaram que a transição para uma economia com baixa emissão de carbono oferece
reais e excelentes oportunidades de negócios. Os dois Chefes de Governo concordaram que o Diálogo bilateral de Alto Nível sobre
Desenvolvimento Sustentável tem sido valioso no sentido de promover a colaboração e aprofundar os entendimentos entre os dois
países e saudaram o acordo de estender por mais 3 (três) anos o Diálogo bilateral.

Energia
_ Os Mandatários concordaram em trabalhar conjuntamente, por meio do Memorandum de Entendimento em Energia, com

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vistas a aperfeiçoar o mercado de petróleo, melhorar a eficiência energética e continuar a promover o uso de tecnologias de energia
renovável e de baixa emissão de carbono. Os dois Mandatários manifestaram satisfação em anunciar um projeto de cooperação em
Eficiência Energética.
_ O Primeiro-Ministro reconheceu a vasta experiência do Brasil na produção e no uso de biocombustíveis. Poderão contribuir
para a implementação das Metas de Desenvolvimento do Milênio nos países em desenvolvimento.
_ Os Mandatários anunciaram que a rede Brasil-Reino Unido de cientistas estabelecerá um programa de pesquisa conjunto
(custeado pela EMBRAPA e pelo “International Sustainable Development Fund” do Reino Unido) para apoiar e acelerar o
desenvolvimento de biocombustíveis de segunda geração. Ambos concordaram em que o Brasil e o Reino Unido deverão cooperar em
pesquisas para tratar das lacunas em relação aos efeitos diretos e indiretos da produção dos biocombustíveis e que continuarão a
trabalhar juntos na Parceria Global para a Bioenergia (“Global Bioenergy Partnership-GBEP”) para desenvolver proposta de critérios e
indicadores de sustentabilidade da bio-energia, incluindo biocombustíveis.

Segurança alimentar
_ Concordaram que o impacto da crise financeira no mundo, tanto nos países desenvolvidos como nos países em
desenvolvimento, não deve enfraquecer o compromisso da luta global contra a fome. Concordaram, igualmente, com a necessidade de
uma ação global concertada, no curto e no longo prazo, para erradicar a fome do mundo e lidar com a deterioração dos termos de
troca das commodities agrícolas e com o impacto negativo de práticas distorcidas de comércio, que ameaçam milhões de pessoas
entre as mais pobres do mundo.
_ O Presidente e o Primeiro-Ministro ressaltaram o papel fundamental que o Brasil pode desempenhar enquanto grande
produtor agrícola dotado de terra, água e tecnologia para expandir sua produção de modo sustentável. De igual modo, sublinharam o
papel do Reino Unido enquanto um dos maiores consumidores e produtores de gêneros alimentícios. Comprometeram-se a trabalhar
essas questões de modo conjunto, bilateralmente e no contexto das discussões do G8+5.

Florestas Tropicais
_ O Reino Unido ofereceu apoio ao BNDES para operacionalizar de forma efetiva o Fundo Amazônia.
_ Os dois Mandatários saudaram a disponibilização de US$ 500 milhões para o Programa de Investimento Florestal de apoio
às atividades de demonstração e notaram a oportunidade para o Fundo Amazônia. Ambos reconheceram a necessidade de
financiamento antecipado, e concordaram em trabalhar estreitamente com esse objetivo.

Economia e Comércio
_ Ambos os Mandatários reconheceram a importância da articulação entre estabilidade econômica e justiça social, e entre
desenvolvimento continuado e investimentos dos setores público e privado.
_ Os dois Chefes de Governo concordaram que o Brasil e o Reino Unido continuarão a trabalhar juntos para assegurar que o
mercado de negócios no Brasil continue a promover o comércio e o investimento, particularmente nos setores de alto valor agregado
incluindo energia, infra-estrutura e saúde.
_ Concordaram que esse trabalho deve propiciar progressos com vistas a um efetivo Acordo para Evitar a Dupla Tributação. Nesse
contexto, os Mandatários observaram que acordos bilaterais nas áreas de troca de informações sobre tributação e de tributação de
membros da tripulação de aeronaves estão para serem concluídos em breve.

Defesa
_ Concordaram que contatos desse gênero devem ser desenvolvidos nas áreas de estratégia, política de defesa e operações
conjuntas.

Operações de manutenção da paz e de construção da paz


_ O Presidente e o Primeiro-Ministro salientaram o crescente reconhecimento de que as operações de paz das Nações Unidas
incluam reconstrução, estabilização e desenvolvimento. Ambos os Mandatários reconheceram o papel central que forças de paz
regionais podem desempenhar, em particular as da União Africana, e concordaram em trabalhar em conjunto para desenvolver
especialização para empregá-las de modo efetivo.

Desarmamento e Não-Proliferação
_ O Presidente e o Primeiro-Ministro sublinharam seu compromisso com o desarmamento, a não-proliferação de armas
nucleares e o êxito da Conferência de Revisão do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares de 2010.

Parceria em Cooperação Bilateral


_ Concordaram em continuar o intercâmbio de idéias e de pessoal entre os Ministérios da Fazenda e outros órgãos.

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_ O Presidente e o Primeiro Ministro notaram os crescentes laços no campo esportivo entre os dois países, particularmente
aqueles associados com o uso do esporte para promover a inclusão social.
_ O Brasil e o Reino Unido concordaram em continuar a trabalhar estreitamente seus vínculos desportivos à luz do fato de Londres ser
anfitriã dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos em 2012, da Copa do Mundo da FIFA no Brasil em 2014, do Rio de Janeiro como sede para
os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos em 2016, e da candidatura inglesa para a Copa do Mundo de 2018.
_ O Brasil e o Reino Unido têm trabalhado juntos na Educação por mais de uma década e diversos programas conjuntos foram
desenvolvidos. Os Mandatários se comprometeram a assegurar que esta cooperação estreita continue através da implementação do
existente Memorando de Entendimento sobre a Educação.
_ Aguardam com expectativa o lançamento, em 2011, do satélite brasileiro Amazônia-1 que conterá uma câmera britânica
para monitoramento de desmatamento e colaboração mais profunda em ciências agrícolas, com a abertura de um laboratório de
pesquisas brasileiro no Reino Unido. Enfatizaram a importância de continuar a promover colaboração científica.
_ Manifestaram o desejo de reforçar a cooperação em cuidados médicos primários, administração hospitalar, desigualdades
no campo da saúde, questões de saúde global e de inovação, pesquisa e desenvolvimento.
_ Concordaram em apoiar firmemente a continuidade da colaboração entre as agências de prevenção e repressão às drogas
de Brasil e Reino Unido.
_ Ambos os Mandatários comprometeram-se a garantir que o fluxo, nas duas direções, de estudantes, visitantes e executivos
seja incentivado e que os procedimentos de imigração sejam transparentes e não-discriminatórios; e a trabalhar em conjunto para
eliminar práticas ilegais, inclusive o tráfico de pessoas. Saudaram, igualmente, os recentes esforços coordenados dos dois países que
permitiram a continuação da dispensa mútua de visto para turistas e executivos do Brasil e do Reino Unido.
4. Trechos de Discursos

Reino Unido
(...) Nossos países têm laços e responsabilidades especiais em relação à África. Precisamos desenvolver mecanismos de
cooperação trilateral que permitam que todo o potencial de nossas experiências seja utilizado em benefício dos países africanos, em
particular os mais pobres. Juntamos esforços, igualmente, no combate ao terrorismo, ao narcotráfico e aos crimes transnacionais.

Discurso do Presidente Lula por ocasião do Banquete de Estado oferecido pela Rainha Elizabeth II. Londres, 7 de março de 2006.

(...) Tanto o etanol quanto o biodiesel representam alternativas seguras do ponto de vista energético e ambiental e viáveis
economicamente. Devemos trabalhar juntos para promover a utilização dos biocombustíveis em escala global. Podemos ajudar países
da África, por exemplo, a utilizar essa tecnologia para superar sua dependência energética e, ao mesmo tempo, gerar empregos e
renda.

Palavras do Presidente Lula por ocasião da cerimônia de encerramento do Seminário Empresarial Brasil - Reino Unido. Londres, 8 de
março de 2006.

(...) Reafirmamos [os Presidentes do Grupo do Rio] nosso respaldo aos legítimos direitos da República Argentina na disputa de
soberania relativa à questão das Ilhas Malvinas. Da mesma forma, recordamos o interesse regional em que a prolongada disputa de
soberania entre a República Argentina e o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte sobre os referidos territórios alcance uma
pronta solução, de conformidade com as resoluções e declarações das Nações Unidas e da OEA.

Comunicado Conjunto dos Presidentes do Grupo do Rio sobre as Ilhas Malvinas. Rio de Janeiro, 5 de novembro de 2004.

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Política Externa Brasil-Alemanha

 O primeiro alemão a chegar no Brasil foi o astrônomo e cosmógrafo Meister Johann, exercendo a função de náutico de Pedro
Álvares Cabral.

 Mais tarde, em 1557, Hans Staden, que esteve no Brasil duas vezes, publicou o primeiro livro em língua alemã sobre o Brasil.

 Em 1817, Karl Wilhelm Von Theremin, diplomata, comerciante e pintor alemão, esteve no país para verificar como funcionava a
atividade comercial no Rio de Janeiro. Liderou o grupo que fundou a sociedade germânica.

 No ano de 1820, os primeiros imigrantes germânicos aportaram no Brasil, instalando-se em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro e,
posteriormente, no Rio Grande do Sul, na então fundada colônia de São Leopoldo - conhecida como a Primeira Onda Migratória
Alemã para o Brasil.

 O pesquisador alemão Friedrich von Martius foi um dos mais importantes pesquisadores do Brasil e, em especial, da Amazônia.
Esteve no Brasil entre 1817 e 1820. (Atualmente, existe um prêmio chamado “Von Martius” dado a empresas por projetos de
desenvolvimento sustentável.)

 Johan Moritz Rugendas, pintor alemão, viajou por todo o Brasil durante 1822-1825, dedicando-se a registrar costumes locais, arte
botânica e tipos humanos.

 Após a morte da primeira esposa, Maria Leopoldina, D. Pedro I mandou buscar sua segunda esposa da Europa e causou, por meio
de procuração, com Amélia de Leuchtenberg.

 Ainda no início do séc. XIX, o Império Alemão já intensificava relações com a então jovem república do Brasil, instalando no país
companhias de eletricidade, bancos, companhias de produtos químicos e mineradoras. O Brasil, por sua vez, incrementava seu
comércio de café, borracha e tabaco com comerciantes alemães.

 Em 1834 é estabelecido o Zollverein, formando uma união monetária entre estados alemães. A Zollverein foi encerrada em 1871
por ocasião da unificação alemã.

 Em 1847, com a nova orientação da política de tratados, o Brasil tentar negociar com a Prússia um novo acordo comercial. A
proposta brasileira, contudo, não foi aceita vez que os estados do Zollverein possuíam relações comerciais e industriais diversas entre
si, o que impedia a adoção de um sistema de direitos diferenciais em relação ao Brasil.

 Em 1867 a Siemens instala entre a residência do imperador, no Rio de Janeiro, e a cidade de Rio Grande, RS, a primeira grande
linha telegráfica do Brasil.

 Em 1873, o volume das exportações da Alemanha para o Brasil já a tornava a primeira grande rival da Grã-Bretanha no país. No final
do século, os Estados Unidos e a Alemanha começaram a ameaçar o predomínio britânico no comércio exterior do Brasil, passando a
fornecer produtos mais baratos e mais adaptados aos desejos do consumidores

 Em 1880, a Alemanha demonstrava seu interesse no Império mantendo mais cônsules do que a Inglaterra. Em 1888, o corpo
diplomático brasileiro na Alemanha estava representado por Enviados Extraordinários e Ministros Plenipotenciários, enquanto a
presença do corpo diplomático alemão no Rio de Janeiro poderia ser considerada relativamente similar em status. O corpo consular,

51
em contrapartida, era bastante numeroso, vez que a efetivação dos fluxos de intercâmbio comercial e o aproveitamento das
oportunidades econômicas tinham, nessa época, uma relação direta com a presença física de representantes consulares.

 Em 1896, dois consultores técnicos da Bayer desembarcaram no Rio de Janeiro com a missão de levantar as possibilidades
comerciais. Neste mesmo ano, fundam a primeira representante da marca no Brasil: a Walty Lindt & Cia.

 Em 1905, a Siemens inicia suas operações no Brasil.

 Em 1911, a Basf iniciou suas atividades através de um escritório comercial no Rio de Janeiro.

 Em meados da década de 1910, não somente pobres imigrantes alemães vinham para o Brasil, mas também engenheiros,
comerciantes e artesãos.

 A complementaridade dos interesses econômicos passou a caracterizar as relações bilaterais entre os dois países durante todo o
século XX, com apenas duas interrupções causadas pelas guerras mundiais.

 Era idéia do Mal. Hermes da Fonseca de trazer uma Missão Militar Alemã que acabou não se concretizando por inteiro, mas três
turmas de oficiais brasileiros foram enviadas àquele país, nos anos de 1906, 1908 e 1910, as quais puderam sentir o impacto da
organização militar da Alemanha, onde o exército era profissionalizado.

 O Brasil tentou se manter neutro durante a 1ª GM de forma a não afetar seu mercado de exportação, especialmente no tocante ao
mercado do café. Contudo, no breve período anterior à declaração de guerra do Brasil (1917), verifica-se o momento de maior
interferência militar nas relações entre Alemanha e Brasil. Logo após a declaração brasileira do corte das relações diplomáticas, a
diplomacia alemã ainda esperava que o Brasil retornasse à condição de neutralidade.

 A marinha alemã, porém, executou ataques desordenados a todos os navios que transportavam matéria-prima para os EUA. Neste
contexto, até navios chilenos e argentinos foram atingidos, fato que gerou a emissão pela Alemanha de documentos solicitando
cuidado redobrado para que esses atos não se repetissem, já que estes eram os únicos países ainda neutros no continente americano.
As ações dos submarinos alemães eram de agressividade para com todos os navios dos países que cortaram relações diplomáticas.

 O governo brasileiro, no intuito de proporcionar mais seguranças às embarcações nacionais, juntamente com os EUA, equipou os
seus navios mercantes com pelo menos um canhão. Este ato irritou a marinha alemã que emitiu ordens permitindo que fossem
atacados navios sul-americanos armados que realizavam comércio com os EUA, com exceção dos argentinos e chilenos. Com isso,
novos navios brasileiros foram atacados e afundados. A força aérea Brasileira divulgou que submarinos eixistas foram atacados e um
tinha sido, inclusive, afundado. Apesar de Alemanha jamais ter confirmado qualquer informação relativa a esta declaração, o Brasil
passou a dar sinais de ações de guerra.

 A declaração formal de guerra somente se deu após navios de passageiros começarem a ser torpedeados na costa brasileira.

 Houveram algumas ameaças de hostilidade em razão do tratamento dado por parte do Brasil aos alemães aqui residentes neste
período, e foi temida a contrapartida da Alemanha para com os brasileiros em terras alemãs, contudo não chegaram a, de fato, atentar
contra brasileiros.

 Após a 1ª GM, as forças aliadas vencedoras se reuniram na Conferência de Paz de 1919, em Versalhes, para tratar das estratégias
que garantissem a paz no continente europeu, que acabou por se revelar uma reunião para estipular quanto a Alemanha deveria pagar
pelas perdas decorrentes da Grande Guerra, relegando a um plano secundário a garantia da paz. O tratado causou sérios danos
econômicos à Alemanha e abriu o caminho para a Segunda Guerra.

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 No mesmo período em que a Alemanha era obrigada a pagar uma quantia enorme em reparações de guerra, o país iria passar pelo
terror da hiperinflação. A grave situação econômica pela qual a Alemanha passava em junho de 1923 levou o governo a uma reforma
monetária, independentemente do andamento das negociações das reparações de guerra.

 Foi, então, introduzido o rentenmark. A nova moeda teria como garantia a hipoteca dos bens imobiliários alemães, de forma que o
rentenmark pudesse ser trocado por uma cédula hipotecária de igual valor a qualquer momento. A emissão seria efetuada pelo
Rentenbank, que seria, em teoria, um banco de emissão independente do Reichsbank, cabendo, porém, a este último o gerenciamento
pela distribuição da moeda, assim como a realização de empréstimos em rentenmark. Como num passe de mágica, a hiperinflação
terminou. O sucesso não esperado da reforma foi considerado milagroso: "o milagre do rentenmark".

 O Reichsmark substituiu o Rentenmark em 1924. Com o novo padrão monetário, o governo conseguiu controlar a inflação e
estabilizar a moeda.

 Entre 1925 e 1929, houve gradual recuperação da economia e da estabilidade institucional. A estratégia do governo alemão à época
foi buscar flexibilizar os termos das reparações com os Aliados. Porém, o crash da bolsa de Nova York iria marcar o fim da estabilidade
até então alcançada e da estratégia de mudança gradual da Alemanha.

 Entre 1929 e 1939 se deu a segunda leva migratória de alemães para o Brasil, não mais com o caráter de trabalhador rural e sim
um perfil mais urbano e técnico como engenheiros e artesãos.

 As relações entre Brasil e Alemanha estavam em franco aprofundamento até 1937, apresentando um constante declínio desta data
em diante, até o total rompimento em agosto de 1942, quando o Brasil declarou guerra contra os países do Eixo.

 Historicamente, o Ministério das Relações Exteriores da Alemanha se caracterizou por ser constituído, essencialmente, por pessoas
vinculadas à nobreza, pois até a 1ª guerra mundial a forma de governo era imperial. Com criação da República Democrática de Weimar
(1918-1933), a nobreza permaneceu ocupando certos cargos, dentre eles, o comando do Minstério das Relações Exteriores da
Alemanha - o Auswärtiges Amt. Na década de 1930, 28% dos diplomatas alemães eram nobres.
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 Antes de Hitler se tornar chanceler, o aparato da política exterior estava ligado diretamente ao presidente da Alemanha,
Hindenburg. Até 1933, o Auswärtiges Amt caracterizava-se por apresentar uma política conservadora, resultado de uma ação
democrático-parlamentarista e do Tratado de Versalhes. Esta política anti-republicana tinha por característica ser contra o nacional-
socialismo. Em agosto de 1934, data da morte de Hindenburg, Hitler acumulou as funções de presidente e de chanceler, passando a se
auto-intitular de Führer da Alemanha e requerendo a lealdade de todos os habitantes e das forças armadas. Neste contexto, a política
externa da Alemanha nazista foi definida pelo próprio Hitler em seus discursos e escritos, onde determinou como objetivo central a
conquista do espaço vital, a germanização e o anit-bolchevismo.

 A máxima da política alemã, durante os primeiros anos do III Reich, era evitar conflitos enquanto a nação não fosse forte. Em
fevereiro de 1937, Hitler afirmou que a Alemanha havia se transformado em uma grande potência, possibilitando assim mudar a
atitude frente aos outros países.

 Em relação à America Latina se concentraram dois grandes objetivos: primeiro, em não prejudicar a posição econômica da
Alemanha na América Latina; segundo, em conseguir manter a neutralidade da região em caso de guerra, devido às relações
comerciais de então.

 A Alemanha ocupava em 1833 cerca de 10% do comércio exterior brasileiro e passa a ocupar em 1928 cerca de 22%. O algodão
passa a ser um dos principais produtos das exportações brasileiras à Alemanha sobretudo a partir de 1934, quando os Estados Unidos
suspendem as vendas desse produto ao III Reich.

 Com a chegada de Hitler no poder, a Alemanha demonstrou interesse maior pelo mercado brasileiro e a partir de 1934, com a
implantação do Novo Plano Schacht de controle das importações, esse relacionamento significou para o Brasil a assinatura, em 1936,
de um acordo comercial com base no comércio compensado, de caráter bilateral e protecionista, através dos quais ficava garantida a
exportação de algodão, café, laranja, couro, tabaco e carne enlatada em grandes quantidades, em troca de produtos manufaturados
alemães.

 Essa política especial adotada pela Alemanha era destinada a limitar ao mínimo seus gastos em divisas conversíveis, através dos
marcos de compensação. As conseqüências de participar em acordos de compensação com a Alemanha foram muito debatidas pelo
Conselho Federal de Comércio Exterior da época.

 Ainda em 1936, os dois países elevam suas respectivas representações a nível de embaixada e, pelo Brasil, o organizador dessas
relações passa a ser José Joaquim de Lima e Silva Moniz de Aragão – primeiro embaixador brasileiro em Berlim.

 No período anterior a 1939, houve certa permanência das estruturas políticas e diplomáticas entre os dois países e não houve
presença de força armada. Até fins de 1937, houve até certa proximidade política entre os governos de Getúliio Vargas e de Adolf
Hitler, embora divergissem quanto a sua concepção de “nacionalidade”.

 A partir de 1938, com as novas leis nacionalizadoras do governo brasileiro, ocorreu o choque de posturas, pois os habitantes do
Brasil deveriam demonstrar traços identitários e de patriotismo, como o uso da língua portuguesa e a desvalorização de símbolos
culturais de outros países. Houve a proibição de organizações políticas estrangeiras e a prestação de serviço militar passou a ser
obrigatória no Brasil.

 A Alemanha, por sua vez, defendia que os cidadãos alemães no Brasil deveriam poder praticar o Deutschtum (“germanidade”), o
que incluía o direito à participação e a demonstrações partidárias da NSDAP. Apesar de algumas tensões quanto a esta postura do
Brasil, isso não constituiu um entrave decisivo nas relações diplomáticas entre os países. A Alemanha possuía grandes interesses
comerciais no país, já que carecia de matérias-primas diversificadas e produtos agrícolas, e também necessitava do mercado
consumidor brasileiro para seus inúmeros produtos industrializados em consonância proporcionalmente complementar aos anseios
comerciais do Brasil na época. Quanto às relações comerciais entre os dois países, estas estiveram em franco crescimento até a
estratégia de bloqueio naval da Inglaterra, que tornou praticamente nula as transações em meados de 1940.

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 A proximidade entre os dois países também se dava através das relações militares. Na década de 30, o referencial de poder no
sistema interacional era a capacidade militar de cada país. Para atingir este objetivo, a Alemanha promoveu duas ações distintas: o
desenvolvimento e a produção de armas, e a retomada do serviço militar orbigatório (1935). Este fato possibilitou às forças armadas
brasileiras assinar contratos, em 1938 e 1939, para a aquisição de armas junto a um conjunto de empresas alemãs, lideradas pela
Krupp.

 Vargas pretendia manter a política externa em duas frentes, deixando abertas as negociações com EUA e Alemanha. No entanto, os
rumos da guerra demonstraram que as armas encomendadas na Alemanha não teriam como chegar aos portos brasileiros e que os
EUA teriam de repensar a possibilidade de atender à demanda brasileira, caso desejassem ter este país como aliado. Os elos que
uniam a Alemanha e o Brasil estavam se diluindo, pois as relações comerciais e militares foram barradas pelo bloqueio continental
inglês. Só sobravam as relações políticas, que eram baseadas em elos muito frágeis. Mais frágeis ainda ficaram quando a
“condescencia pragmática” brasileira em favor dos EUA tornou-se visível através dos novos acordos comerciais: a criação da siderurgia
e a compra de armamentos pelo Brasil dos EUA. Com a ruptura diplomática em 1942, Portugal passou a representar o Brasil na
Alemanha e a Espanha representou a Alemanha no Brasil.

 Vargas decreta confisco de bens de imigrantes alemães e italianos, em 1942.

 A nomeação de Osvaldo Aranha como Ministro das Relações exteriores também concorreu com o afastamento das relações vez que
foi fator de decisivo no processo de engajamento do Brasil na 2ª GM ao lado dos Aliados.

 Convocada por Washington em seguida ao ataque japonês a Pearl Harbor, em dezembro de 1941, III Reunião de Consulta dos
Ministros das Relações Exteriores das Repúblicas Americanas realizou-se no palácio Tiradentes, no Rio de Janeiro, de 15 a 28 de
janeiro de 1942. O principal objetivo da reunião era a aprovação unânime de uma resolução de rompimento imediato de relações
diplomáticas e comerciais dos países americanos com o Eixo. Ao final, por força da recusa argentina e chilena em firmar tal posição, foi
aprovada uma resolução que apenas recomendava o rompimento de relações.

 Em 1942, o Governo Brasileiro atende a resolução nº 15 da Segunda Reunião de Consulta dos Chanceleres das Repúblicas
Americanas e rompe relações diplomáticas com os países do Eixo. Alguns meses mais tarde, declara a guerra à Alemanha e à Itália.

 Em 1949, são criadas a RFA, do lado ocidental e a RDA, do lado oriental da Alemanha.

 As bases para a política exterior da RFA foram ficadas em 1955, na Doutrina de Hallstein que pregava que o reconhecimento da
Alemanha Oriental consistia em ato não amigável à RFA e implicava o rompimento de relações. A doutrina defendia o princípio de que
o Governo da República Federal da Alemanha era o único representante legítimo do povo alemão, o que levou ao isolamento, nos
anos 50 e 60, da República Democrática Alemã no âmbito internacional. O Estado da Alemanha Oriental era reconhecido somente
pelos países do Bloco Comunista.

[  A partir dos avanços alcançados pela política da Ostpolitik de Willy Brandt, a qual pregava a aproximação da RFA à Alemanha
Oriental e ao restante do leste europeu, a Doutrina Hallstein foi abandonada pelo Governo de Bonn. Com a revogação da Doutrina
Hallstein da República Federal da Alemanha em 1972 e o reconhecimento da República Democrática Alemã pelos países latino-
americanos no início dos anos 70, as relações diplomáticas, comerciais, culturais e científicas foram consolidadas também entre Brasil
e RDA. ]

 A partir dos anos 50, a Alemanha Federal inicia um processo de expansão econômica que resulta na ampliação de suas relações
comerciais com todo o mundo ocidental, dando seqüência à reconstrução do país. Ao adquirir mais autonomia e capacidade de
investir em mercados externos, a Alemanha coloca o Brasil entre os mercados preferenciais para o estabelecimento de suas
indústrias.

 Na presidência do CNPq, o almirante Álvaro Alberto propunha um maior controle sobre as exportações de areia monazítica para os
EUA, exigindo uma compensação específica, ou seja, uma transferência de tecnologia nuclear ao Brasil em troca das exportações. Tal
proposta não trouxe resultados devido a um conflito entre os grupos pró-americanos e os nacionalistas, do qual fazia parte o

55
almirante. Em 1953, Álvaro Alberto acerta secretamente com a Alemanha a construção de três ultracentrífugas, avaliadas em US$
80.00, utilizando tecnologia desenvolvida pelos nazistas, que seriam enviadas ao Brasil para o desenvolvimento da tecnologia de
enriquecimento de urânio. Antes de serem remetidas ao Brasil, devido aovazamento de informações, as ultracentrífugas são
apreendidas pelos Estados Unidos.

 Em outubro de 1953, é organizada a Comissão Mista Brasil-Alemanha de Desenvolvimento Econômico. Nesta época, a RFA já é o
segundo país exportador para o Brasil, atrás apenas dos EUA.

 A primeira grande indústria alemã a se estabelecer no Brasil seria a Companhia Siderúrgica Mannesmann, em 1954.

 Em 1957, é Constituída a Euratom e a Comunidade Econômica Européia, abrangendo Alemanha, Bélgica, frança, Itália, Luxemburgo
e Países Baixos.

 A presença alemã no Brasil foi simbolizada pela imagem do presidente Juscelino Kubitschek na Usina Sofunge na construção de
motores de caminha a diesel em 1955 (que viria, mais tarde, a ser parte da Mercedes-benz do Brasil), e na inauguração da fábrica da
Volkswagen na Via Anchieta em 1959, dirigindo um fusca.

 A perspectiva que a Alemanha tinha do Brasil no início dos anos 60 ia além da favorável parceria comercial e industrial entre os dois
países. Vale salientar que a verdadeira e ampla aproximação entre os dois países começou a se fortalecer a partir de 1964, quando o
Brasil opta por um novo modelo de desenvolvimento econômico resguardado pelo governo militar, que passara a ocupar o poder no
país. A partir dessa data, podem ser reconhecidas novas dimensões nas relações bilaterais.

 Em 1969 ocorreu um acordo de cooperação bilateral, Acordo de Cooperação nos Setores da Pesquisa Científica e do
Desenvolvimento Tecnológico, e 12 cientistas nucleares alemães começaram a ministrar cursos de pós-graduação nos Institutos de
Pesquisas Nucleares das Universidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte

 Em 1970 continuam as atividades de guerrilhas urbanas e é levado a cabo o seqüestro do embaixador da Alemanha Ocidental,
Ehrenfried Von Holleben, que é trocado dias depois por 40 presos políticos, que seguem banidos para Argélia.

 Em 1971, concretizou-se a compra de um reator de água pressurizada (PWR) fabricado pela Westinghouse. O contrato de compra
representava uma simples aquisição de equipamento, sem nenhuma transferência de tecnologia. (operação d evenda pelo sistema
turn-key)

 Em 1973, RFA e RDA se tornam membros das Nações Unidas.

 Em 27 de junho de 1975, no mandato de Ernesto Geisel, sob muito sigilo foi assinado o acordo nuclear entre Brasil e Alemanha.
Para executar as atividades do acordo foi criada a empresa estatal Nuclebrás. Do lado alemão o cumprimento das atividades ficou a
cargo da Kraftwerk Unio (KWU), empresa privada controlada pela Siemens. Para legalizar o acordo, o governo brasileiro deveria assinar
um termo de compromisso com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), no qual seria proibida a utilização da energia
nuclear para fins bélicos. Tal acordo foi concluído em 1976, o que não impedia que outros materiais fora do acordo pudessem ser
utilizados para a fabricação de armas nucleares. A nova relação com a Alemanha fez com que o acordo nuclear com os Estados Unidos,
através da Westinghouse, fosse quebrado.

 Depois de tentar, por vários caminhos, congelar o acordo nuclear Brasil- Alemanha, os Estados Unidos optaram por esperar que o
acordo se diluísse naturalmente, devido às dificuldades técnicas já surgidas na fase inicial do acordo que, em 1983, foi paralisado pelo
presidente João Figueiredo, quando foram suspensas as obras das usinas de Iguape I e II, no litoral de São Paulo, e adiado o início da
operação das usinas de Angra II e III, devido às dificuldades econômicas do país.

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 A primeira usina nuclear brasileira opera com um reator do tipo PWR (reator a água leve pressurizada), desenvolvido pela empresa
norte-americana Westinghouse. A construção de Angra 1 foi iniciada em 1972. Em 2000, entrou em operação a Usina de Angra 2, fruto
do acordo nuclear Brasil-Alemanha. A usina opera com um reator alemão Siemens/KWU, com potência de 1.350 MW e poderia
atender sozinha o consumo de uma cidade com 2 milhões de habitantes.

 Em 1978, o Brasil acertas as condições para o fornecimento à Nuclebrás, pelo consórcio Urenco (formado pela RFA, Reino Unido e
Países Baixo), de urânio enriquecido que irá abastecer as usinas nucleares de Angra dos Reis. Ainda no mesmo ano, o presidente Geisel
visita a RFA, acompanhado por missão empresarial, na primeira visita de um Chefe de Estado brasileiro à Alemanha. Geisel Visita
Baden-Württemberg, Berlim, Düsseldorf e Bonn, onde são assinados os ajustes relativos aos ao Acordo Nuclear de 1975, acordos de
cooperação e uma declaração conjunta.

 Em 1979 o chanceler da RFA, Helmut Schmidt, realiza visita ao Brasil.


 No final de 1979, depois de quase 3 anos de pesquisa, Willy Brandt, ex-chanceler alemão e então chefe da Comissão Independente
para Questões de Desenvolvimento Internacional do Banco Mundial, vivulga o Relatório Norte-Sul ou, como também é chamado,
Relatório Willy Brandt.
 Em 1981, Figueiredo visita a Alemanha.
 Em 1989, a crise político-econômica dos regimes comunistas no Leste Europeu resulta na queda do muro de Berlim, simbolizando o
final da guerra fria e, em 1990, ocorre a Reunificação da Alemanha.
 Em 1991, o chanceler Helmut Kohl, em visita ao Brasil, anuncia a concessão de crédito de 250 milhões de marcos para a proteção
da Amazônia.
 Em 1995, dando início a amplo ciclo de diplomacia empresarial do presidente FHC realiza visitas a diversos países, dentre eles, a
Alemanha. Em 1996, o chanceler Helmut Kohl visita o Brasil.
 Em 1997, o Brasil, juntamente com a Alemanha, África do Sul e Cingapura apresenta, em Nova York, uma Iniciativa Conjunta Sobre
Meio Ambiente, durante a sessão especial da assembléia geral da ONU sobre o tema.
Temas atuais:
 Em 2004, aliado à Alemanha, Japão e Índia, o Brasil ajudou a criar o chamado G4, que defendia uma reforma para tornar o órgão
representativo da realidade atual, e não a do mundo do pós-guerra.
 A Alemanha é o maior parceiro comercial do Brasil dentro da União Européia
 A Alemanha é o quarto maior investidor no Brasil
 Cerca de 1.200 empresas alemãs operam no Brasil (principais áreas: automação industrial, automobilística, computação, eletro-
eletrônica, equipamentos médicos, metalurgia, produtos farmacêuticos, química, siderurgia)
 Alemanha possui programa de Biocombustíveis (a partir de cereais) e uma Agência especifica para tratar de energias renováveis.
Inclusive, em maio de 2008, por troca de notas, assumiram o compromisso de respeitar o acordo dos usos pacíficos de energia nuclear
de 1975 e demais acordos sobre cooperação no setor de eneria com foco em energias renováveis e eficiência energética.
 O governo alemão é um dos maiores doadores de recursos ao Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil
(PPG7), que alavanca projetos como a construção da BR-163
 Alemanha e Brasil foram contrários à intervenção militar norte-americana no Iraque
 Em 2008 ocorreu o Encontro Econômico Brasil–Alemanha em Colônia, na Alemanha, que tratou do tema “Mobilidade, Segurança
Energética e Proteção Climática - Desafios para Negócios e Políticas”

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BRASIL – UNIÃO EUROPEIA
FORMAÇÃO DA UNIÃO EUROPEIA
Contexto Europeu: década de 1950
A Guerra Fria faz pesar a ameaça de um conflito entre as partes Leste e Oeste do continente. Cinco anos após o término da Segunda
Guerra Mundial, os antigos adversários estão longe da reconciliação.
As relações cotinuam tensas entre Alemanha e França e, com o intuito de criar uma relação mais forte entre este países e reunir em
seu entorno países de orientação liberal da Europa, o político francês Jean Monnet propôe ao Ministro dos Negócios Estrangeiros
francês Robert Schuman e ao Chanceler alemão Konrad Adenauer criar um interesse comuns entre os países: a gestão do carvão e do
aço (Plano Schuman), sob o controle de uma autoridade independente.
A proposta é acolhida em 09 de maio de 1950 por França, Alemanha, Itália, Países Baixos, Bélgica e Luxemburgo.
Depois, aderiam: Dinamarca, Irlanda e Reino Unido (1973); Grécia (1981), em Portugal e Espanha (1986); Áustria, Finlândia e Suécia
(1995); República Checa, Chipre, Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Hungria, Letônia, Lituânia, Malta e Polônia (2004), e Bulgária e
Romênia (2007).

Em maio de 1951, cria-se a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA).

No ano de 1954, devido ao sucesso conseguido pela criação da CECA, os componentes decidiram criar uma organização que zelaria
pela defesa e proteção da Europa (Comunidade Europeia de Defesa; CED). Entretanto, esta fracassou. A partir de então, os Estados
adotaram medidas mais progressivas para aproximar os países europeus.

Em 25 de Março de 1957, o Tratado de Roma institui a Comunidade Econômica Europeia (CEE), organização internacional criada com a
finalidade de estabelecer um mercado comum europeu.
Junto com o Tratado de Roma é assinado o tratado que institui a Comunidade Europeia da Energia Atômica (Euratom)
O Brasil reage com apreensão à criação da CEE, pois teme perder mercados em função das tarifas preferenciais aplicada para os
membros do bloco e as facilidades de importação de matérias-primas concedidas para às colônias da África e ex-colônias da Ásia;
O tratado estabelecia um mercado e impostos alfandegários externos comuns, uma política conjunta para a agricultura, políticas
comuns para o movimento de mão de obra e para os transportes, e fundava instituições comuns para o desenvolvimento econômico.
Expansão da Comunidade Europeia

1963: Os Estados fundadores da Comunidade Europeia assinam com as suas antigas africanas uma convenção que garante a elas
certas vantagens comerciais e ajudas financeiras. A Convenção de Lomé, que se seguiu à Convenção de Iaundé, aplica-se a setenta
países da África, das Caraíbas e do Pacífico, tornando a União Europeia a maior fonte de ajuda pública ao desenvolvimento. A
cooperação estendeu-se igualmente, sob outras formas, à maior parte dos países da Ásia e da América Latina.
1971: a CEE estabelece o Sistema Geral de Preferências. As preferências são diferenciadas em função da sensibilidade dos produtos:
(i) para os produtos não-sensíveis, concessão de tarifa zero; e
(ii) para os produtos sensíveis, em geral, redução de 3,5 pontos percentuais da tarifa ad valorem ou redução de 30% da tarifa
específica, e para produtos têxteis redução de 20% da tarifa normalmente aplicável.

A Dinamarca, a Irlanda e o Reino Unido aderem à comunidade em 1 de Janeiro de 1973.


A estas adesões seguiu-se um alargamento ao Sul do continente, durante os anos oitenta, com a Grécia, a Espanha e Portugal a
afirmarem-se como nações democráticas.
Junho de 1979: primeiras eleições directas do Parlamento Europeu por sufrágio universal
17 de Fevereiro de 1986: assinatura do Ato Único Europeu. O objetivo do Tratado de Roma de criar um mercado comum havia sido
parcialmente realizado, mas os autores do tratado haviam subestimado todo um conjunto de outros obstáculos às liberdades

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comerciais que eram agora uma realidade. Por esse motivo, o Ato Único cria assim políticas estruturais em benefício das regiões com
atrasos de desenvolvimento. Promove igualmente a cooperação em matéria de investigação e de desenvolvimento
A terceira onda de adesões, em 1995, traduz a vontade dos países da Europa escandinava e central de se juntarem à União, que busca
consolidar o seu mercado interno e se afirma como o único pólo de estabilidade no continente, após o desagregamento do bloco
soviético.
Progressivamente, a Comunidade apoia-se no seu potencial econômico para desenvolver a sua influência política. O Tratado da União
Europeia, de 1992, estabeçece a Política Externa e de Segurança Comum (PESC).

Em 28 de Novembro de 1995, os quinze países da União Europeia e doze países do sul do Mediterrâneo estabelecem uma parceria que
deverá conduzir à criação de uma zona de comércio livre, combinada com acordos de cooperação nos domínios social, cultural e
humano.

A consolidação da União Europeia


A UE foi formalizada em 07 de fevereiro de 1992 pelos 12 primeiros países da antiga CEE (Tratado de Maastricht).
A CEE foi a mais famosa das três Comunidades Europeias, e depois do Tratado de Maastricht (1992) mudou o nome para Comunidade
Europeia (CE), tornando-se parte do primeiro dos Três Pilares da UE.
O Tratado de Maastricht, criou metas de livre movimento de produtos, pessoas, serviços e capital. Visava a estabilidade política do
continente.
Ao entrar em vigor em 1 de Novembro de 1993, o Tratado da União Europeia confere uma nova dimensão à construção europeia,
passando de um teor fundamentalmente econômico para se integrar em três pilares: Comunitário, Política Externa e Segurança, e
Mercado Interno.
Em 1 de janeiro de 1999, a União Econômica e Monetária reúne todos os países que cumpriram determinados critérios econômicos
destinados a garantir a boa gestão financeira e a establidade de uma futura moeda única: o Euro.

UNIÃO EUROPEIA HOJE


A UE originou-se da Comunidade Econômica Europeia, é uma união supranacional econômica e política de 27 estados-membros.
Enquanto instituição, não dispõe de personalidade jurídica mas sim competências próprias.
A União Européia encontra-se aberta a todos os países europeus que a ela pretendem aderir e que respeitem os compromissos
assumidos nos Tratados da fundação. Existem duas condições que determinam a aceitação de uma candidatura à adesão: a localização
no continente europeu e a prática de todos os procedimentos democráticos que caracterizam o Estado de direito.
O Parlamento Europeu desempenha um papel fundamental no equilíbrio institucional da Comunidade: representa os povos da Europa
e caracteriza a natureza democrática do projeto europeu.
A dialéctica que funciona entre o Conselho da União Europeia, o Parlamento Europeu, a Comissão Europeia e o Tribunal de Justiça da
União Europeia representa uma aquisição fundamental da construção europeia, sendo a chave do seu êxito.
A estrutura do tratado da União é composta por 3 pilares:
1º pilar (comunitário): Trata de assuntos relacionados com a agricultura, ambiente, saúde, educação, energia, investigação e
desenvolvimento. A legislação neste pilar é adotada conjuntamente pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho.
2º pilar: Trata de assuntos de política externa e segurança comum.
3º pilar: Trata de assuntos de cooperação policial e judiciária em matéria penal. No 2º e 3º pilares compete ao Conselho deliberar por
unanimidade em matérias de maior relevância.
Atualmente, a Croácia, Turquia e Macedônia são candidatos à adesão à UE. As negociações com estes países iniciaram-se oficialmente
em Outubro de 2005 mas ainda não há uma data de adesão definida - o processo pode estender-se por vários anos, sobretudo no que
se refere à Turquia, contra a qual há forte oposição da França e da Áustria.
Graças ao papel que desempenha nas trocas comerciais mundiais e ao seu peso econômico, a União é já um parceiro respeitado nas
grandes instâncias internacionais, tais como a Organização Mundial de Comércio ou a ONU.

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Estrutura
O governo da União Europeia tem sido sempre colocado entre o modelo de conferência inter-governamental, em que os estados
mantenham todos os seus privilégios, e um modelo supranacional, em que uma parte da soberania dos Estados é delegada para a
União. Desde a sua criação, dotado de poderes de controle executivo, o Parlamento Europeu dispõe igualmente de poder legislativo,
sob forma de um direito de ser consultado sobre os principais textos comunitários. O parlamento partilha, além disso, com o Conselho
da União Europeia, o poder orçamental.
Como são designados os deputados europeus? Até 1979, os membros do Parlamento Europeu eram membros dos parlamentos
nacionais, que os nomeavam para os representar em Estrasburgo. A partir de 1979, passaram a ser eleitos por sufrágio universal direto
em cada um dos países da União, por mandatos de cinco anos. Os cidadãos escolhem, assim, os deputados que terão assento, não em
delegações nacionais, mas em grupos parlamentares transnacionais, representativos das grandes correntes de pensamento político
existentes no continente.
Ao todo, são cinco instituições:
Parlamento Europeu - é a assembleia parlamentar, eleita por sufrágio universal direto pelos cidadãos da União Europeia. Em julho de
2009, o polonês Jerzy Buzek, 69, foi eleito presidente da casa. O ex-premiê e ex-ativista pró-democracia é o primeiro parlamentar do
Leste Europeu a assumir a chefia do Parlamento, o que foi considerado um gesto simbólico para os países do antigo bloco comunista
recentemente integrados à UE.
Conselho da União Europeia - anteriormente denominado Conselho de Ministros, é o principal órgão legislativo e de tomada de
decisão na UE. Representa os Governos dos Estados-membros.
Comissão Europeia - instituição politicamente independente que representa e defende os interesses da União como um todo, a
proposta de legislação, políticas e programas de ação, e é responsável pela execução das decisões do Parlamento e da SES. É o órgão
com poder executivo e de iniciativa.
Tribunal de Justiça da União Europeia - garante a conformidade com a legislação da União, uma vez que os Estados-membros estão
sujeitos judicialmente a ele.
Tribunal de Contas Europeu - controla a legalidade e a regularidade da gestão do orçamento da UE.
Além disso, a UE tem seis órgãos principais: o Banco Central Europeu, o Comitê Económico e Social, o Comitê das Regiões, o Banco
Europeu de Investimento, o Provedor de Justiça Europeu e a Europol.
Política externa e de segurança
A defesa e a segurança são tradicionalmente questões de soberania nacional. A política da União Europeia neste domínio foi
estabelecido como o segundo dos três pilares do Tratado de Maastricht (1992). A Política Externa e de Segurança Comum (PESC) foi
alargada pelo Tratado de Amsterdão (1997), sendo coordenada pelo alto representante para a Política Externa e de Segurança
Comum, cargo atualmente ocupado por Javier Solana.
Economia
A economia da União Europeia é baseada num sistema capitalista liberal sendo ligeiramente maior do que a economia dos Estados
Unidos da América. O principal objetivo econômico da União Europeia é promover uma economia livre, concorrencial e sem barreiras
comerciais tanto ao nível das mercadorias, dos capitais, como dos seus cidadãos e dos seus trabalhadores.
Dados
Capital: Bruxelas (Bélgica), Estrasburgo (França) e Luxemburgo (Luxemburgo);
Línguas oficiais: (23)
Forma de governo: união supranacional;
Área: 4.324.782 km2;
População: 494.000.000;
PIB: US$ 14.953.000.000,00;
PIB per capita: US$ 28.213,00;
Comércio externo: a União Européia responde por aproximadamente 20% das importações e exportações mundiais;
Moeda: euro + 14 outras moedas de curso local;
Países candidatos: Croácia, Macedônia e Turquia;

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RELAÇÕES BRASIL – UNIÃO EUROPEIA.

Antecedentes históricos
A relação entre Brasil e os estados que conformam a União Européia (UE) tem raízes que se remontam ao século XVI, época em que
Portugal, um dos atuais membros da UE, iniciou a colonização da costa do país sul-americano. Houve também diversas imigrações de
povos da Itália, Espanha, Japão, Alemanha e em menor escala da Polônia, Líbano e Rússia ao Brasil.
O Brasil continuou como uma colônia portuguesa durante mais de três séculos, até que a principio do século XIX a invasão de Portugal
por parte do exército francês de Napoleão I obrigou a monarquia portuguesa a emigrar fora do Brasil com proteção inglesa, da qual a
partir de Pedro II se estabeleceria o estado brasileiro independente de Portugal, até a declaração da república em 1889, com fim da
monarquia no pais.
Histórico
As relações entre Brasil e a União Europeia fazem referência aos intercâmbios econômicos, assim como aos contatos políticos entre
Brasil e as instituições comunitárias da União Européia (UE).
Início dos anos 70, ocorre a criação da GRULA (Grupo Latino-Americano de Bruxelas) que, de certa forma, esvaziava as possibilidades
de um diálogo direto entre Brasil e CE.
Na década de 80, as relações comerciais com o bloco continuavam escassas.
1982: acordo de Cooperação assinado entre CE e Brasil estabelecia criação de comissão mista para operacionalizar mecanismos de
cooperação empresarial e científica. Porém, este não teve muito impacto, seguindo-se pelo endurecimento do protecionismo.
Até então, CE considerava Brasil e América Latina de importância secundária, mas havia interesse em aprofundar as relações
1987: Conselho de Ministros concorda em realizar encontros informais com países do Grupo do Rio. O grupo foi um importante canal
de interação entre Brasil e países europeus. O Grupo do Rio é um mecanismo de consulta internacional constituído por Estados
democráticos latino-americanos e caribenhos. Foi criado em 18 de dezembro de 1986, por meio da Declaração do Rio de Janeiro,
assinada por Argentina, Brasil, Colômbia, México, Panamá, Peru, Uruguai e Venezuela.
O Tratado de Assunção, em 1991, despertou a atenção da CE. O novo bloco era o principal parceiro comercial da CE na América Latina,
assim como o principal receptor de investimentos diretos.
Com a administração de Luiz Inácio Lula da Silva, que se iniciou em janeiro de 2003, as relações entre as duas partes têm tomado um
renovado impulso graças principalmente a nova orientação que o governo brasileiro há dado à sua política exterior motivada pela
nova ordem mundial surgida depois dos atentados de 11 de setembro a a Invasão do Iraque de 2003.
Quando George W. Bush ordenou o ataque contra o Iraque, Brasil junto com a Rússia, China e as denominadas relações franco-alemãs
conformaram o principal bloco de oposição.
O Brasil pretende participar como "ator global", liderando uma política no campo de direitos humanos e a defesa do desenvolvimento
social (principalmente contra o protecionismo financeiro e contra a fome mundial).
O país é visto pela Alemanha como um sócio para o desenvolvimento de uma política multilateral e para impulsionar uma reforma das
Nações Unidas (ONU), tema sobre o qual junto a Índia e Japão integram o chamado G-4, grupo de coordenação e apoio.
Estes quatro países desejam ter um assento no Conselho de Segurança e esperam um quinto sócio que deverá ser designado pelos
países africanos.
Na estrutura da ONU, o Brasil e a UE lideram uma iniciativa de vários países contra a fome a a pobreza indo até modalidades de
financiamento como novas taxas a transações financeiras e a venda de armas.
Em 2007, a União convidou o Brasil a aderir a um pequeno grupo de parceiros estratégicos para alavancar comércio, energia renovável
e luta contra a pobreza.
Em julho de 2007, em Portugal se formalizou uma "associação estratégica" entre as duas partes na qual a que União Europeia confere
um status preferencial ao país sul-americano
Em um sinal da determinação de Portugal para tirar partido desse potencial, a empresa petrolífera Galp Energia assinou um acordo
com a Petrobras para produzir 600.000 toneladas de óleos vegetais no Brasil.
O Brasil é um líder mundial na produção de biocombustíveis, e a UE tem a intenção de que os biocombustíveis representem pelo
menos 10 por cento dos combustíveis até 2020.
Atualmente, o Governo brasileiro mantém 26 Embaixadas Residentes, 10 Consulados-Gerais e 4 Missões Especiais no continente
europeu.
Ações de combate a fome e a pobreza:

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5ª Cúpula América Latina e Caribe – União Européia: os latino-americanos propõem discutir as migrações, pobreza, desigualdade e
inclusão. Por sugestão européia, também serão tratadas questões ligadas a desenvolvimento sustentável, meio ambiente, mudança do
clima e energia.
Comércio:
O Brasil critica os subsídios agrícolas europeus;
A União Européia não aceita discutir a questão agrícola fora do âmbito da OMC;
O Brasil resiste em abrir seu mercado de manufaturados;
O Brasil privilegia mais suas relações comerciais bilaterais com a OMC e UE do que com a ALCA;
No momento, estão congeladas as conversações comerciais entre o Mercosul e Alca e Mercosul e União Européia;
A União Européia vê com temor a possibilidade de implementação da ALCA;
O Brasil pensa em utilizar a União Européia para fazer contrapeso aos EUA;
18/09/1973: assinado o tratado comercial entre o Brasil e CEE
17/12/1973: CCE assina aprova acordo comercial com o Brasil pelo qual ficam reduzidas as tarifas de importação de café solúvel e
manteiga de cacau
23/01/1980: acordo Brasil-CEE sobre produtos têxteis
As negociações entre a União Europeia e o Mercosul, que buscam um acordo comercial, se encontram praticamente estagnadas em
relação às políticas de subvenções e de protecionismo, no campo dos produtos agrícolas.
Sem embargo, a União Europeia é o principal sócio comercial do Brasil e do Mercosul em geral.
Há duas tendências, uma que dá preferência a um acordo geral na Organização Mundial do Comércio (OMC), e outra que prefere um
acordo na estrutura do Grupo dos 20 (G20). O governo do Brasil considera preferencialmente a sua relação com a OMC e a União
Europeia, em frente à ALCA. A União Europeia está mais avançada, porque implica somente dois blocos, e não 34 países. Um acordo
com a União Europeia daria ao Mercosul poder negociador na ALCA.
Comércio exterior
Comércio exterior do Brasil em 2007 (em %)
Exportação Importação
União Européia 26,84 25,9
Estados Unidos 25,3 18,9
Argentina 14,4 10,4
China 10,7 12,6
Terminou em impasse a consulta entre o Brasil e a União Européia (UE) sobre novo sistema de cotas de exportação de carne de frango
do Brasil para o mercado da EU. UE pediu a suspensão da entrada em vigor do novo modelo de distribuição de cotas de exportação do
frango ao bloco, aprovado pela Camex.
A delegação brasileira reagiu reafirmando que o novo sistema vai vigorar a partir de 1º de outubro, como previsto e como pedem os
exportadores membros da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef). Os europeus têm dúvidas sobre a
compatibilidade jurídica da medida brasileira com o acordo firmado com o Brasil, sobre administração da cota para o frango.
A UE atribuiu cota de 170 mil toneladas (com tarifa menor) de frango salgado para o Brasil em meados de 2007, depois da vitória do
país contra o bloco na OMC em 2005.
20/11/08 a UE resolve modificar os subsídios:
Corte de 14% nos subsídios dos agricultores que recebem até 300.000 euros;
Corte de 10% nos subsídios dos agricultores que recebem entre 100.000 e 200.000 euros;
Fim das cotas de leite;
Fim da obrigatoriedade de manter o mínimo de 10% e área cultivada.

Meio Ambiente
Brasil e União Européia manifestam interesse nas energias alternativas;

62
Brasil e União Européia manifestam interesse em preservar a Amazônia;
Brasil e União Européia manifestam preocupação com o aquecimento global;
Energias renováveis: a promoção das energias renováveis tem papel muito importante, tanto em termos de reduzir a dependência
externa de abastecimento energético da UE, como nas ações a serem tomadas em relação ao combate das alterações climáticas.
Foi criado o compromisso de alcançar uma quota mínima de 10% de biocombustíveis no consumo total de gasolina e de gasóleo nos
transportes em 2020.
Segurança

China, França e Rússia apóiam a reforma do conselho de segurança da ONU para a inclusão de Alemanha, Brasil, Índia e Japão;
Na Europa, o Brasil participou das seguintes Missões de Paz da ONU:
Chipre, 1995. UNFICYP - procurar uma solução negociada para os conflitos do país;
Croácia, 1995/96. UNCRO - tentativas de implementar um cessar-fogo;
1996/02 - UNMOP - missão de observação em Prevlaka, península croata;
1996/98 - UNTAES - supervisionar a reintegração das regiões da Eslavônia Oriental, Barânia e Sírmia Ocidental ao território da
Croácia
Grécia, 1948/49. UNSCOB - missão de observação;
Iugoslávia, 1992/95 - UNPROFOR criar as condições para a consecução de um plano de paz;
1995/99, UNPREDEP - substituir o UNPROFOR, formar a República da Macedônia
e vigiar a fronteira com a Albânia;
Finanças:
O Brasil resiste em abrir o seu mercado de serviços e bancos
28/09/2008: ao assumir a presidência rotativa do G-8, a Itália diz que defenderá a inclusão de África do Sul, Brasil, China, Índia,
Indonésia e México.
Outros assuntos:
Brasil e União Européia divergem sobre a política de imigração
julho/2007: por iniciativa da UE, ocorre a 1ª Cúpula Brasil – UE em Lisboa, que discute parcerias nas áreas como ciência e tecnologia,
direitos humanos e energia
22/03/2007: depois de privilegiar a China, a UE se volta para o Brasil e define temas em comum: biocombustíveis, educação e
desenvolvimento regional
Atos em Vigor Assinados com a Comunidade Econômica Europeia
Fonte: MRE

Data de Entrada em
ulo
celebração vigor
Data

rdo, por troca de Notas, Relativo aos Transportes Marítimos. 18/09/1980 01/10/1982 23/05/1983

tocolo Adicional ao Acordo entre o Brasil e a CEE Relativo ao Comércio de


dutos Têxteis Decorrente da Adesão da Grécia às Comunidades Européias. 01/12/1982 01/12/1982 24/10/1989

rdo sobre o Estabelecimento e os Privilégios e Imunidades da Delegação da


4/4/1984 19/11/1984 2/2/1989
missão das Comunidades Européias no Brasil.

rdo sobre Comércio de Produtos Têxteis. 8/10/1985 19/11/1986 23/10/1986

rdo-Quadro de Cooperação. 29/6/1992 01/11/1995 28/11/1995

63
rdo Relativo a Compensações Devidas em Função de Alterações no Regime
31/01/1994 31/01/1994
munitário sobre Oleaginosas.

morando de Entendimento na Área Fitossanitária. 15/3/1994 15/3/1994

rdo-Quadro de Cooperação Financeira. 19/12/1994 21/6/1995 28/8/1995

ste Complementar ao Acordo-Quadro de Cooperação para Apoio à


23/10/1998 23/10/1998
estruturação do Setor de Energia Elétrica do Brasil - EBRRA 2000.

morando de Entendimento Concernentes às Orientações Plurianuais para a


19/11/2002 19/11/2002
cução da Coopeação Técnica Comunitária.

ste Complementar ao Acordo-Quadro de Cooperação para Implementar o


jeto "Redes de Centros Tecnológicos e Apoio às Pequenas e Médias
13/01/2004 13/01/2004
presas Brasileiras -. Convenção de Financiamentos" ( Anexos I, II, e III nº
AB7-311/2000/0005).

rdo de Cooperação Científica e Tecnológica 19/01/2004 15/12/2006 10/5/2007

ste Complementar de Cooperação Relativo ao Projeto "Inclusão Social


03/02/2006 03/02/2006
ana"

logo Regular de Política Energética 05/07/2007 05/07/2007

morando de Entendimento sobre Cooperação 05/07/2007 05/07/2007

meira Emenda ao Ajuste Complementar de Cooperação Relativo ao Projeto


nejo Florestal, Apoio à Produção Sustentável e Fortalecimento da Sociedade 18/09/2008 18/09/2008
l na Amazônia Brasileira

ste Complementar de Cooperação Relativo ao Projeto "Apoio aos Diálogos


19/09/2008 19/09/2008
oriais UE-Brasil"

64
Relações Brasil – Rússia

Ainda no período colonial, os impérios Russo e Português celebram acordo de Amizade, Comércio e Navegação em 1787,
prorrogado em 1798. Com a vinda da Família Real para o Brasil, é elaborado em 1811 um ato adicional ao acordo, permitindo o
comércio direto da Rússia com o Brasil e garantindo a primeira a mesma vantagem tarifária (15%) concedida à Inglaterra. Terminadas
as guerras napoleônicas, a Rússia volta-se para a Europa, e por apoiar a Espanha nas questões territoriais do Prata, o acordo deixou de
vigorar em 1816.
O aumento das relações comerciais a partir do acordo complementar de 1811 levou a nomeação, em 1813, de Georg Von
Langsdorf para Cônsul Geral no Brasil. Langsdorf já havia estado em terras brasileiras em 1803, quando a primeira expedição de
circunavegação russa aportou em Nossa Senhora do Desterro (Sta. Catarina). Ao aposentar-se da carreira consular em 1826, Langsdorf
promoveu uma grande expedição científica em território brasileiro, que ainda contou com nomes como A. Taunay, Saint – Hilaire e
Von Spinx.
A declaração de independência do Brasil foi vista por São Petersburgo como um “desentendimento de família” da Casa dos
Bragança, mas em 02/01/1828 a Rússia é o 26º ou 27º (divergência nas fontes) Estado a reconhecer o Brasil independente. Em
03/10/1828 os dois países estabelecem relações diplomáticas, sendo designado Franz Borel como Embaixador russo. Borel havia sido
responsável pela elaboração do acordo complementar de 1811. Mesmo com a mudança do eixo de interesses da Rússia após as
guerras napoleônicas, Franz Borel continuou a perseguir um aumento das relações comerciais entre os dois países. Borel falece em
1832, e está sepultado no Rio de Janeiro.
As relações comerciais ainda sofrem outro revés em 1844, com o aumento do protecionismo brasileiro. Em 1876 o Imperador
D. Pedro II visita a Rússia, recebendo título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de São Vladimir de Kiev.
Em 1883 ocorre a Exposição de São Petersburgo, feira de promoção de produtos estrangeiros. A fim de promover os
interesses cafeeiros do Brasil e de buscar uma aproximação política, José Maria Paranhos Jr, futuro Barão do Rio Branco, é convidado
para ser o Delegado do Brasil no evento. O sucesso da participação brasileira na Exposição renderam a Paranhos a condecoração com
o Diploma de São Estanislau, concedido pelo governo russo em 1884.
A proclamação da república não foi bem recebida por São Petersburgo, dado o conservadorismo monárquico russo. Os dois
países só voltam a estreitar relações em 1892, após o falecimento de D. Pedro II.
Em 1902, durante a 2º Convenção de Paz de Haia, a Rússia é o único país europeu a apoiar a posição brasileira de igualdade
entre os Estados. Agradecido, Rio Branco solicita que Rui Barbosa apóie a posição russa quanto ao estacionamento em águas neutras
de navios de países em guerra. Esse ato de Rio Branco rendeu-lhe, em 1910, a condecoração russa da Ordem da Águia Branca. Em
13/08/1910 é assinado o Acordo Russo – Brasileiro de Arbitramento em Questões de Solução Pacífica de Confrontos Militares,
ratificada por ambos os países no ano seguinte.
1917 marca a primeira ruptura de relações diplomáticas entre os dois Estados. O Brasil não reconhece o governo
revolucionário Bolchevique. As relações só são restabelecidas em 02/04/1945 por forte pressão dos EUA, visto que a URSS só aceitava
negociar o mundo pós-guerra se o bloco ocidental reconhecesse o regime socialista. As relações só duram até 20/10/1947, quando o
governo brasileiro, buscando demonstrar seu alinhamento automático aos EUA, rompe o contato com o bloco soviético. Tal ato
surpreendeu até mesmo Washington, visto que os EUA mantinham relações diplomáticas com a União Soviética.
As relações são finalmente restabelecidas em 23/11/1961, no espírito da PEI de buscar novas parcerias comerciais e afirmar a
independência da política nacional no cenário bipolar. San Tiago Dantas foi cuidadoso em afirmar perante a Câmara dos Deputados
que o ato não representava nenhum alinhamento ideológico. Ainda sim, a desconfiança dos grupos conservadores com retomada das
relações diplomáticas com a URSS aumentou a instabilidade política interna do Brasil.
Em 1963 é celebrado acordo de comércio e pagamento entre Brasil e URSS, prevendo aplicação recíproca de cláusula de nação mais
favorecida, e é criada uma comissão mista para o comércio. O Golpe de 1964 não afetou as relações, possivelmente em razão das
contradições da PE até 67 e o momento de détente no cenário internacional.
As crises da década de 70 criaram novas oportunidades para o comércio Brasil – União Soviética. A necessidade de manter o processo
de desenvolvimento levou o Brasil a buscar na URSS maquinários agrícolas e industriais, além de equipamentos para o setor
energético. Em 1971 Brasil adquire turbinas para centrais hidrelétricas (Capivara e Sobradinho) da URSS. Politicamente, os dois países
alinhavam-se nessa época em suas posições quanto à descolonização, apartheid, e crítica ao congelamento do poder mundial. Em
1979 uma comitiva soviética participa da cerimônia de posse de Figueiredo, e no mesmo ano é celebrado acordo de cooperação entre
a Federação de Comércio Exterior do Brasil e a Câmara de Comércio e Indústria da URSS.
O recrudescimento da guerra fria nos anos 80 não interferiu significativamente nas relações dos dois Estados. Em 1981, durante visita
de Delfim Neto à União Soviética, a antiga comissão mista de 63 é reestruturada e convertida em Comissão Intergovernamental
Soviético-Brasileira para Cooperação Econômico-Comercial e Técnico-Científica, sendo realizada a primeira reunião dessa comissão no

65
ano seguinte em Brasília. Desenvolve-se no período a cooperação triangular na África. Em 1988 Sarney é o 1º Presidente brasileiro a
visitar a URSS. Em 1990, é a vez de Collor.
A partir de 1991, há um distanciamento comercial entre os países. Do lado russo, o fim da URSS obrigava-os a concentrarem-se na
reestruturação nacional, enquanto que no Brasil o projeto de liberalização conduzia uma aproximação com as potências capitalistas. O
quadro altera-se em 1997, quando é assinada, durante visita do Min. RE da Rússia ao Brasil, declaração conjunta para criação da
Comissão de Alto Nível russo-brasileira para cooperação, além de acordos de cooperação nas áreas de educação, cultura e técnico-
científica em pesquisa espacial. Os acordos entram em vigor em 1999, e em 2000 ocorre a primeira reunião da Comissão de Alto Nível
(CAN) em Moscou. Ainda em 1999 a Rússia declara apoio ao Brasil na pretensão de um assento permanente no CSONU, enquanto que
o Brasil apóia o ingresso da Rússia na OMC.
O início do século XXI tem sinalizado um estreitamento crescente nas relações Brasil – Rússia. Em 2002, durante visita do ministro da
Defesa do Brasil à Rússia, foi assinado Memorando de Entendimento na Área da Defesa. No mesmo ano é ratificado o Acordo sobre
Cooperação na Pesquisa e nos usos do espaço exterior para fins pacíficos. Esse acordo permitiu em 29/03/2006 que o Ten.-Coronel da
Aeronáutica Marcos Pontes viajasse ao espaço no Ônibus Espacial russo SOYUZ e ficasse na área russa da Estação Espacial
Internacional. Em 2004, após o acidente com o VLS-1 (out/2003), é assinado ME, prevendo o desenvolvimento do VLS-1 com
incorporação de tecnologia do modelo ORION russo e aperfeiçoamento da infra-estrutura do Centro de Lançamento de Alcântara,
estudando-se inclusive o uso da base para lançamentos comerciais.
Em 18/10/2005, durante visita do Presidente Lula à Moscou, é assinada Declaração Conjunta Brasil-Rússia de Parceria Estratégica.
Empresas brasileiras também têm marcado participação direta nas relações com a Rússia. Em 2006 a Marcopolo formou join-venture
com as russas Ruspromauto e Tecnoart para construção de plantas para fabricação de peças e veículos na Rússia. Em 2007 a Sadia,
mediante join-venture com a Miratorg Holdings, abriu sua 1ª fábrica fora do Brasil, na cidade russa de Kaliningrado. Em 23/02/2007,
Gazprom e Petrobrás assinaram ME no Rio de Janeiro.
Na pauta comercial, Brasil exporta para Rússia carnes e derivados (bovina, suína e aves), açúcar, café, óleo de soja e fumo; e importa
matérias primas para fertilizantes, produtos metalúrgicos, borracha e produtos químicos. O volume do comércio bilateral em 2007 foi
de US$ 5,5 bilhões.
Os principais desafios da PE brasileira em relação à Rússia são promover a ampliação da pauta comercial (concentrada em poucos
produtos primários) e superar algumas restrições russas quanto à transferência de tecnologias, em especial na área de defesa. Nesse
quesito, lembrar o fracasso do programa FX2, através do qual o Brasil tentou adquirir caças russos SU-35 Flanker de 4ª geração,
insistindo pela transferência de tecnologia e a possibilidade de construção dos caças no Brasil.

EM TEMPO: Correio do Povo, 13 de julho de 2009:


Os ministros Gilmar Mendes e Cezar Peluso, presidente e vice-presidente do STF, viajaram sábado (11/07) para a Rússia, onde
assinarão protocolo de intenções no âmbito do fórum BRIC e conhecerão a suprema corte daquele país. Mendes vai assinar com o
presidente do Supremo Tribunal da Federação Russa documento de cooperação entre as cortes dos dois países.

66
A África e o Brasil

As relações entre Brasil e África tem raízes no período colonial, tendo se estabelecido, a partir desse período, fortes laços culturais,
que se expressam até hoje. Mesmo assim, a aproximação do Brasil com os países africanos só se inicia com a Política Externa
Independente (PEI), e se desenvolve ao longo dos 60s e 70s. Nesse período, surge a política africana do Brasil, com o objetivo de
expandir a influência do país fora da América Latina, utilizando a proximidade cultural como ferramenta. A principal questão dessa
política seria o apoio ou não aos processos de descolonização. Inicialmente, nos governos de Jânio e de Jango, esboçou-se algum apoio
à descolonização – tendo sido assinados, inclusive, acordos de cooperação cultural – mas esse movimento foi logo abortado com o
golpe militar. O Brasil posicionou-se, então, ao lado dos países colonizadores, principalmente devido à proximidade com Portugal,
inclusive na ONU. O Brasil aproximou-se, também, do regime racista da África do Sul.
É no governo de Geisel, com o chamado “pragmatismo responsável”, que a postura do Brasil com relação à África se modifica. O país
foi o primeiro a reconhecer o governo do MPLA em Angola (marxista), e passou a condenar os regimes racistas da África do Sul e da
Rodésia (atual Zimbábue). Já nesse momento algumas empresas brasileiras, como a Braspetro (subsidiária da Petrobrás), a Vale e a
Odebrecht, começaram a investir no continente africano. Figueiredo foi o primeiro presidente a visitar a África, tendo passado por
Nigéria, Senegal, Guiné-Bissau, Cabo Verde e Argélia.
O governo de Sarney manteve a aproximação com a África, tendo o presidente visitado Angola, Moçambique e Cabo Verde. Em 1986,
foi criada a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (ZPACS), por resolução da ONU de iniciativa do Brasil, com voto contra dos EUA
e sem apoio da Europa. A ZPACS, que reúne Brasil, Argentina e Uruguai, além de 21 países africanos, tem reuniões ministeriais a cada
dois anos, e promove a cooperação em diversas áreas, não apenas de segurança. Sarney manteve, ainda, posição forte contra o regime
sul-africano, inclusive proibindo o comércio de diversos produtos (principalmente militares) com o país.
Nos anos 1990, a África perdeu importância para a política externa brasileira, tanto pelo foco dado à América Latina quanto pela
instabilidade pela qual passaram vários países africanos. Nesse período, a política brasileira para a África foi seletiva, focando em
alguns parceiros – África do Sul, Angola e Nigéria, na aproximação do MERCOSUL com a SADC, bem como na criação da CPLP. A CPLP
foi criada em 1996, e substitui o projeto de criação do Instituto Internacional de Língua Portuguesa (do governo Sarney), sendo uma
instituição que, baseada na proximidade da língua, promove a cooperação entre os países lusófonos em diversas áreas.
O Brasil teve um envolvimento maior com a África, nos anos 1990, na área de segurança, tendo participado em diversas missões da
ONU no continente. Cabe destacar a participação na ONUMOZ (Moçambique), e nas UNAVEM I, II e III (Angola), além de participações
menores em Uganda, Ruanda, Libéria e África do Sul. Durante o governo FHC, o Brasil aproximou-se bastante da África do Sul, que
tornou-se um parceiro importante, tendo sido iniciadas negociações para um acordo entre MERCOSUL e África do Sul, que deu origem
às negociações – ainda em curso – entre MERCOSUL e SACU (um acordo quadro foi assinado em 2000).
O governo Lula retoma um grande interesse do Brasil pela África, abandonando a seletividade dos anos 1990 e tentando abarcar todos
os países do continente, o que fica evidente pelas várias viagens do presidente a diversos países africanos (foi todo o ano desde que
assumiu!) e pela abertura de novas embaixadas. Logo no início do governo Lula, o Brasil tomou a iniciativa de renegociar e perdoar as
dívidas de alguns países africanos, como foi o caso da Nigéria (renegociou). Destaca-se, também, a realização do Fórum Brasil-África,
logo em 2003. Através do fundo do IBAS (criado em 2003), o Brasil apóia projetos de combate à fome e à pobreza em alguns países
africanos.
As iniciativas de cooperação também aumentaram bastante desde 2003. Com o Senegal, o Brasil comprometeu-se a ampliar um
protocolo na área de saúde assinado em 2002 para o combate à AIDS, além de ter incentivado a produção de biocombustíveis no
mesmo país. Com Camarões, em 2005, o Brasil assinou diversos protocolos em áreas como educação e saúde, além de ter
aprofundado as relações através de um Comissão Mista, que se reuniu no mesmo ano. Em Gana, houve fortalecimento da cooperação
principalmente na área de agricultura, com a inauguração de um escritório da Embrapa no país em 2008 (que articula cooperação
técnica – principalmente em biocombustíveis – em vários países africanos) e com cooperação trilateral com o Japão; além disso, em
2005 foram assinados um Acordo de Serviços aéreos e um MdE para o estabelecimento de consultas políticas. Na Nigéria, a
cooperação envolve, além da agricultura, a transferência de tecnologia na área de medicamentos contra a AIDS, além de uma
Comissão Mista. Em Guiné-Bissau, o Brasil tem iniciativas importantes na área de educação e também na reestruturação das forças
armadas; através do IBAS, o Brasil apoiou também um projeto de desenvolvimento agrícola de Guiné-Bissau.
A educação é uma área importante da cooperação entre Brasil e África, merecendo destaque as iniciativas do PEC e de parceria de
universidades brasileiras com universidades africanas. Na área de saúde, o Brasil tem atuado em parceria com diversos países,
principalmente no combate a doenças tropicais e à AIDS. A Fiocruz mantém um escritório em Maputo (Moçambique) para
fornecimento de vacinas.
O comércio entre Brasil e África tem crescido muito (+ou- 25% em 2008), concomitantemente com a aproximação diplomática, sendo
que a participação do continente nas exportações do Brasil passou de 2,4% em 2000 para 5,1% em 2008. Os principais parceiros
comerciais do Brasil (em termos de corrente de comércio em 2008) são Nigéria (11º), Angola (23º) e África do Sul (35º). A principal
importação brasileira da África é o petróleo, principalmente da Nigéria e de Angola, além do gás natural da Argélia. As exportações do
Brasil são mais diversificadas, tendo como principais produtos açúcar, carnes e produtos manufaturados (principalmente material de

67
transporte). Devido à importação de petróleo, o Brasil mantém um déficit comercial considerável com a África desde a metade dos
anos 1990.
Outro aspecto importante do envolvimento do Brasil com a África é a participação das empresas brasileiras com investimentos no
mercado africano, sempre apoiada por incentivos e financiamento do governo. Além da Petrobrás – que atua em 7 países do
continente – e da Vale, que atuam em vários países africanos, o setor de construção merece ser ressaltado, com a entrada de
empresas como a Camargo Correa e a Odebrecht, que atuam tanto na construção civil como na construção de infra-estrutura dos
países africanos, entre os quais se destaca Angola. Na via oposta, a empresa angolana Somoil é a primeira petrolífera do país a se
internacionalizar, com a prospecção no Espírito Santo.
Por último, vale lembrar a participação de Lula como convidado de honra da última reunião da União Africana na Líbia, que
mostra o prestígio do Brasil como parceiro dos africanos.

68
Relações Brasil-Ásia

Os laços coloniais com Portugal uniram, por séculos, Brasil e os países asiáticos. Entretanto, a relação entre os dois atores só passou a
ser significativa no final do século XX. No final do século XIX o Brasil assinou acordos de navegação, amizade e comércio com China e
Japão, e no inicio do século XX, mais precisamente em 1908, o Brasil passou a receber hordas de imigrantes japoneses. Durante as
décadas de 50 e 60, podemos falar em interação multilateral para a discussão de temas conjunturais, e não em relações bilaterais
especificamente, e é só na década de 70 que podemos voltar a falar de uma política externa brasileira voltada para a Ásia,
especialmente na perspectiva de Cooperação Sul-Sul.
As relações entre Brasil e Ásia se intensificaram a partir dos anos 90, com a redefinição das orientações gerais da política externa
brasileira no fim da Guerra Fria, já que o continente emergiu com o final do conflito. Essas relações se desenvolveram em dois eixos: o
político-estratégico, e o econômico-comercial, e ocorreu também a diversificação de atores, já que até a década de 70 as relações se
restringiam ao Japão. O principal objetivo da política externa com essa aproximação era a busca por novos mercados, especialmente
para suas matérias-primas, e a garantia de acesso a insumos industriais e a projetos de cooperação em ciência e tecnologia. Nesse
momento, para o Brasil, a Ásia era um parceiro-modelo em termos de desenvolvimento, e a intensificação do relacionamento atendia
politicamente os objetivos da política externa brasileira.
Durante o governo FHC a Ásia voltou a figurar como uma das prioridades da PEB, o que foi bastante aprofundado no governo Lula, que
já no seu discurso de posse citou a necessidade de aprofundar as relações com China, Índia e Japão. As relações inauguradas a partir
de 2003 diferem dos períodos anteriores pela multiplicação de seus eixos de interação, aprofundamento comercial, e convergência de
diálogo no Sistema Internacional. Além disso, a política do governo Lula valoriza também regiões pouco lembradas tradicionalmente
pelo Brasil, como a Ásia Central, onde recentemente houve a realização de visita oficial. Entretanto, por mais que seja possível
observar avanços no relacionamento bilateral, as relações ainda são pouco profundas, e não há real prioridade por nenhum dos atores
na manutenção das relações bilaterais. Isso quer dizer que tanto o Brasil quanto os países asiáticos tem outras prioridades em termos
de política externa, devido a questões estratégicas e, mesmo, geográficas.
Entre as principais iniciativas em conjunto entre Brasil e Ásia, além das que serão citadas na análise individual por país, podemos
mencionar o FOCALAL (Fórum de Cooperação América Latina Ásia do Leste), criado em 1999; o G3, ou IBAS, criado em 2003; o BRIC,
criado em 2009; além da realização de reuniões ministeriais entre representantes da ASEAN e do Mercosul

Relações Brasil-China

A política externa da China, até o final dos anos 50, início dos 60, teve o alinhamento com a URSS como automático. Depois
disso, com o rompimento de relações com os soviéticos em 63, o país teve um período de isolamento relativo, principalmente durante
a Revolução Cultural (66-76). Durante esse período, porém, o principal foco da política externa chinesa era a busca pelo
reconhecimento de sua soberania, e, consequentemente, não de Taiwan (o princípio de “uma só China”). As relações com os EUA
começam a se restabelecer em 1971 com Nixon (só se restabelecem oficialmente em 1978), mesmo ano em que o país consegue ser
reconhecido como detentor do assento na ONU, com a retirada de Taiwan. Atualmente, a política externa da China faz de tudo para
que o país não seja visto como pretendente a potência hegemônica, mas sim como potência econômica que visa à cooperação para o
desenvolvimento de todos, sempre mantendo os princípios de respeito à soberania e não-intervenção como os pilares de sua política
externa.

As relações entre o Brasil e a República Popular da China se estabeleceram em 1974, durante o Governo Geisel, mas o Brasil já
comercializava produtos com a China antes do estabelecimento de relações diplomáticas, especialmente açúcar. Entretanto, a
aproximação comercial estabelecida ocorreu só nos anos 80, sendo que atualmente a China é o segundo principal parceiro comercial
do Brasil e a corrente comercial atualmente gira em torno de 35 bilhões de dólares (2008). Durante a aproximação, nos anos 70, outras
questões, além do cunho terceiro-mundista da PEB estavam em jogo: a recusa de assinar o TNP de ambos os países; o fato de tanto
Brasil quanto China repelirem maiores discussões sobre a temática dos DH; e ambos os países discordavam da “Carta de Roma”, ou
seja, da idéia de que países pobres degradavam mais o ambiente.
Além de incremento na questão comercial, o principal foco da política externa brasileira para a China é a questão político-estratégica,
e para isso, importantes iniciativas forma tomadas. Em 1988 foi assinado o acordo para a cooperação em desenvolvimento de
tecnologia de sensoriamento remoto (projeto CBERS), que prevê a construção e lançamento conjuntos de satélites, umas das parcerias
mais bem-sucedidas do Brasil em termos de cooperação científico-tecnológica, renovada duas vezes, em 1995 e em 2004, sendo que o
projeto está construindo sua terceira geração de satélites.
Em 1993 foi estabelecida a “parceria-estratégica” entre Brasil e China e um novo período de relacionamento bilateral foi inaugurado. A
aproximação com a China inaugura um novo período na política externa que passou a ser pautada pela valorização das relações Sul-
Sul, e que busca uma estratégia de inserção diferenciada no Sistema Internacional. A partir do final dessa década inicia-se um processo
de incremento nas trocas comerciais entre os dois países, sendo que o Brasil atingiu superávits expressivos até 2007, devido à
69
exportação de matérias-primas, necessário para sustentar o crescimento econômico comercial chinês. Nos anos de 2007 e 2008 o
comércio entre Brasil e China teve crescimento muito grande, mas com déficits para o Brasil.
Entretanto, apesar da sua importância, a China só passa a ter seu lugar de destaque na política externa brasileira a partir do governo
Lula. Desde 2003, o presidente já realizou nove viagens oficiais à China, e as relações se intensificaram bastante, especialmente em
três pontos: política comercial, questões estratégicas e principalmente cooperação em ciência e tecnologia. Nesse aspecto, além do
CBERS, Brasil e China hoje cooperam na construção de aviões, já que a EMBRAER fez uma joint-venture no país, em 2004, durante
visita oficial, Lula assinou acordos importantes de cooperação entre a Petrobrás e a Sinopec, além de outros para a exploração mineral
da Vale em território chinês, em parceria com empresas locais. Outras empresas, como Odebrecht, atuam em território chinês.
Durante visita recente realizada por Lula à China, para comemorar os 35 anos do estabelecimento de relações bilaterais, os
presidentes avaliaram positivamente a evolução das relações bilaterais. A criação da Parceria Estratégica, em 1993, a troca de visitas
presidenciais, em 2004, a realização da Primeira Sessão da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação
(COSBAN), em 2006, a implementação do Diálogo Estratégico, em 2007, e os três encontros bilaterais entre os mandatários dos dois
países, em 2008, demonstram o estreitamento do diálogo e do relacionamento bilaterais. Neste ano, já ocorreram importantes
encontros de alto nível, por ocasião da Cúpula do G-20, em Londres, e com a viagem do Vice-Presidente Xi Jinping, da República
Popular da China, ao Brasil. Novos acordos foram assinados na ocasião dessa visita, entre eles o que autoriza a utilização do iuan nas
transações entre os dois países.
Por fim, na ocasião da visita oficial, o presidente Lula ainda falou sobre a inauguração de um escritório da APEX em Beijing, abertura de
um consulado brasileiro em Cantão, os acordos firmados entre o Banco Nacional de Desenvolvimento da China e o BNDES, e por fim
do Plano de Ação Conjunta com vistas a orientar nossas ações nos próximos cinco anos. Será amplo programa de cooperação,
construído com base em amplas consultas entre os governos e os diversos setores da sociedade civil dos dois países. É bom mencionar
também a ação em organizações multilaterais, como nos BRIC, recém-criado, na OMC e na ONU. Esse por sinal é um dos principais
pontos de tensão entre as relações bilaterais, já que o Brasil reconheceu a China como “economia de mercado” na OMC, e por mais
que tenha obtido apoio chinês em relação às suas pretensões no CSNU, por causa do Japão a posição chinesa não é muito firme.
Um aspecto importante da relação bilateral, que merece ser ressaltada, é o reconhecimento do Brasil de Taiwan como parte da China,
ou do que é chamado de “One China Policy”. Também, outro ponto da relação bilateral, é a questão da proteção ao meio-ambiente. O
discurso dos dois países é bastante expressivo, mas em termos de ações, podemos citar principalmente o acordo para conservação
ambiental e a realização de um workshop para a conservação de recursos hídricos.
A China é o maior destino das exportações e a 2ª origem das importações do Brasil em 2009 (até maio), e foi a 2º maior origem de
importações e o 3º maior destino de exportações em 2008.
# Principais produtos exportados pelo Brasil: calçados, couros, peles, celulose, papel, material gráfico, madeira, mobiliário, minério de
ferro, óleos vegetais, peças e acessórios, produtos siderúrgicos e soja.
# Principais produtos importados pelo Brasil: calçados, equipamentos eletrônicos, máquinas, petróleo, produto agropecuários,
produtos farmacêuticos, produtos químicos, produtos siderúrgicos e têxteis;

Relações Brasil-Japão
As relações entre Brasil e Japão são marcadas pela migração. Primeiramente, a dos japoneses, que chegaram no Brasil em 1908 para
trabalhar nas lavouras de café; e após com a migração dos seus descendentes de volta ao Japão, principalmente nas décadas de 80 e
90. Fora isso, por muitos anos, o Japão foi o principal parceiro brasileiro na Ásia, e o Brasil, um dos principais parceiros japoneses, além
dos países asiáticos e dos EUA.
Por muitos anos o Japão foi, na verdade, o único parceiro asiático do Brasil, tendo importante participação no comércio internacional
brasileiro e nos investimentos. Durante os anos 80, com as crises brasileira e japonesa, as relações perderam dinamismo e o Japão
parou de investir no país, tendo ficado completamente alienado do processo de privatização das empresas nacionais. Entretanto, no
final da mesma década, o Japão volta a olhar para o Brasil, devido a alguns motivos específicos: em primeiro lugar, a estabilização
econômica brasileira; e em segundo lugar, o medo de perder espaço para outros competidores, especialmente a China e os EUA, caso
a ALCA fosse formalizada. Sendo assim, observamos um retorno das empresas japonesas ao Brasil, especialmente automobilísticas.
O Brasil é o principal receptor de empréstimos do Japão (que fazem parte do Ajuda Oficial ao Desenvolvimento), cobrando juros muito
baixos, de apenas 2% ao ano. Sendo assim, o capital japonês já financiou importantes projetos no Brasil como o PRODECER, a
construção da linha 4 do metrô de São Paulo, programas de prevenção de enchentes no Rio Tietê, programa de despoluição da Baía de
Guanabara, entre outros. Importante notar que as principais áreas de atuação dos empréstimos japoneses são em projetos
relacionados com o meio-ambiente e educação. Outro aspecto importante do relacionamento entre Brasil e Japão é a questão dos
decasséguis. Atualmente, vivem no Japão, 250.000 brasileiros descendentes de japoneses, que mandam em torno de 2 bilhões de
dólares por ano em remessas para suas famílias no Brasil.
Apesar de continuar importante, nos últimos anos a relação entre Brasil e Japão deixou de ser prioritária na Ásia, sendo que, o
mais importante da agenda bilateral dos dois países é a questão da reforma da ONU. Juntos com Alemanha e Índia, Brasil e Japão
demandam um assento permanente no CSNU.

70
Atualmente as relações comercias atuais do Japão com o Brasil são tímidas porque nos anos 80 a instabilidade brasileira gerou grande
afastou os japoneses que então passou a privilegiar o Leste e o Sudeste asiático. Logo depois o Japão entrou em recessão, dificultando
a exportação de capitais. Atualmente, em razão das frustrações vividas nos 80 os japoneses exigem maiores garantias para investir no
Brasil;
# O Japão foi o 6º maior destino de exportações e a 5ª principal origem de importações do Brasil em 2008.
# O Japão importa: alumínio, aviões, café, frango, minério de ferro, soja, suco de laranja, café. O Brasil quer vender também aviões de
porte médio, biocombustíveis e etanol;
# O Japão exporta automóveis, automotivos, máquinas e equipamentos, produtos químicos e semicondutores; e quer vender
eletrodomésticos;

Relações Brasil-Índia

A política externa indiana, desde o período de Nehru, é marcada pela independência em relação às grandes potências. Ao longo dos
governos de Indira e Rajiv Gandhi, o conflito com a China em 1962 e a tensão com o Paquistão o poder militar do país foi reforçado,
assim como as áreas de ciência e tecnologia. No governo de Rao (91-96), o país passa por um processo de abertura econômica e opta
por uma política externa de maior inserção internacional e aproximação com os EUA. Após as explosões nucleares de 98, a política
externa passou a basear-se no reconhecimento de que sua inserção estava baseada no poder econômico e militar. No contexto da
Guerra ao Terrorismo, a Índia se aproximou dos EUA, principalmente com a colaboração nessa área, e essa aproximação se tornou
ainda mais firme com o acordo de cooperação nuclear de 2007, que ainda não foi aprovado pelo congresso indiano.
As relações diplomáticas entre a Índia e o Brasil foram estabelecidas em 1948, logo após a independência do país asiático. Essas
relações, porém, só se intensificaram a partir dos anos 1990. Antes disso, o que aproximou os dois países foi o papel importante que
desempenharam na Rodada Uruguai do GATT, como líderes dos países em desenvolvimento e com posições convergentes na grande
maioria dos temas. Essa convergência de posições foi importante para o aumento do interesse indiano no Brasil. Em 1985, foi assinado
um acordo de cooperação científica e tecnológica, foi desenvolvido ao longo dos anos 1990.
O interesse da Índia pelo Brasil se intensifica a partir do processo de abertura da economia indiana, iniciado em 1991, com a intenção
do país de diversificar seus parceiros comerciais. Já em 1992, o Ministro das R.E. indiano comparece à posse de Collor, e o Primeiro-
Ministro do país se encontra com Collor durante a Rio 92. O interesse indiano se aprofunda e, em 1993, o Ministro de RE indiano visita
novamente o país e assina um acordo de cooperação na área ferroviária, como anexo ao acordo de 1985.
Em 1996, FHC foi convidado de honra para as comemorações da data nacional indiana, o que é símbolo do estreitamento das relações.
Nessa visita, é estabelecida uma agenda para a cooperação na área técnica-científica, além de uma declaração da intenção de ambos
de integrar um CSNU expandido. Um acordo para cooperação na área de energia nuclear para fins pacíficos também foi assinado em
1
1996. A área de tecnologia seguiu importante, e em 1998 a cooperação foi reforçada na área de saúde e medicina. A partir de 1996,
ainda, se observa um grande esforço do governo indiano no sentido de fomentar o comércio com o Brasil, com diversas ações de
promoção comercial e incentivo constante aos empresários indianos interessados no Brasil. Apesar dos poucos avanços obtidos na
OMC nesse período, a organização continuou sendo ponto de convergência das posições de Brasil e Índia.
A continuidade do processo de abertura comercial da Índia em 2000, com o fim de quotas de importação para milhares de produtos,
permitiu um reforço do intercâmbio comercial com o Brasil. De fato, é a partir de 2001 que o comércio bilateral conhece uma elevação
significativa. Em 2001, o Brasil incluiu a Índia no “Programa de países prioritários” para o comércio, intensificando a promoção
comercial com vistas à exportação para o mercado indiano de um grupo de 12 produtos, desde alimentos até máquinas. Mas os
resultados desse esforço foram limitados, sendo que o país só conseguiu obter superávits comerciais com a Índia entre 2002 e 2004.
Em 2002, durante visita do MDIC à Índia, foi criado o Conselho Comercial Brasil-Índia, com o objetivo de estreitar os laços comerciais
entre os países, mas que se reuniu apenas uma vez.
A partir de 2000, ainda, se estreita a parceria na área científica, com o intuito de incentivar a importação de fármacos da Índia para o
Brasil, aumentando, assim, a concorrência no mercado brasileiro e diminuindo os preços dos medicamentos no momento da abertura
do mercado do país aos genéricos. Nesse contexto, diversas medidas de facilitação do comércio desses produtos foram tomadas pelo
Brasil. É nesse período, também, que se inicia a cooperação na área de desenvolvimento social, com a ida de missões parlamentares
do Brasil à Índia para observar a implementação de políticas como a do micro crédito. Em 2002, os dois países assinam diversos MdEs:
para cooperação na área espacial; na área do etanol (mistura de etanol em combustíveis para veículos); e outro que estabelece uma
Comissão Mista de Cooperação Política, Econômica, Científica, Tecnológica e Cultural.
Em 2003, várias iniciativas multilaterais unem Brasil e Índia: é criado o IBAS, o G20 da OMC – liderado por Índia e Brasil – e o G4 (Brasil,
Índia, Alemanha, Japão). A primeira reunião do IBAS tratou de temas sociais, negociações econômicas internacionais, coordenação em
organismos internacionais e o papel da ONU na conjuntura internacional, tendo resultado na Declaração de Brasília. Em 2004, é criado

1
Esse acordo foi rompido pelo Brasil em 1998, após os testes nucleares indianos.

71
o Fundo IBAS para o combate à fome e à pobreza, sob administração do PNUD, tendo implantado projetos no Haiti e em Guiné-Bissau.
Em 2005, ainda no âmbito do IBAS, foi assinado o MdE trilateral em aviação civil. Em 2006, foi realizada a primeira Cúpula do IBAS, que
resultou na assinatura de 5 MdEs, em áreas como biocombustíveis e agricultura.
Também em 2003 foi realizada a 1ª reunião da comissão mista Brasil-Índia, além de terem sido iniciadas as negociações para a
conclusão de um acordo de livre comércio entre o MERCOSUL e a Índia. Em 2004 foi realizada a primeira reunião da Agenda Comum
Brasil-Índia para o Meio Ambiente, criada em 1996 para estreitar a cooperação dos países em fóruns internacionais que tratam de
meio ambiente.
Lula visitou a Índia em 2004. Em 2006, os países assinam um Acordo de Cooperação em Assuntos Relativos à Defesa. No mesmo ano,
foram feitos outros MdEs nas áreas de: educação; assentamentos humanos; e para o estabelecimento de “semanas de cultura” de um
país no outro. Em 2008, são assinados novos MdEs, em: combate à fome; esporte e juventude; infra-estrutura; defesa civil e
assistência humanitária; agricultura; e no setor de petróleo e gás. Atualmente, a cooperação de Brasil e Índia passa a ocorrer também
no âmbito do BRIC, recentemente institucionalizado.
# O Brasil é apenas o 25º importador e o 28º exportador da Índia;
# A Índia é o 40º destino das exportações e a 11ª origem de importações;
# Principais produtos importados pelo Brasil: algodão, máquinas e equipamentos, medicamentos, petróleo, petroquímicos, produtos
farmacêuticos, produtos siderúrgicos e têxteis;
# Principais produtos exportados pelo Brasil: açúcar, aviões, máquinas e equipamentos, minérios, petróleo, papel e celulose, produtos
químicos, soja;

72
A QUESTÃO PALESTINA

Antecedentes:

Os judeus ocuparam a Palestina por volta de 2000 a.e.a. (antes da era atual). Em 63 a.e.a., a região foi conquistada pelos
romanos, que expulsaram os judeus em 135 e.a. (era atual), dando início à diáspora. Após 476 e.a., com a queda do Império Romano, a
região é conquistada pelos persas, em 634 pelos árabes e em 1516 pelo Império Turco-Otomano.
Em 1894, na França, o Capitão de artilharia Alfred Dreyfus é injustamente condenado por traição, dando início ao famigerado
Caso Dreyfus. Ocorre que Dreyfus era de família judia. A questão só se encerra em 1906, com a total absolvição e reincorporação de
Dreyfus. O jornalista húngaro e também judeu Theodor Herzl é designado para cobrir o julgamento. A polêmica criada leva Herzl a
constatar o anti-semitismo latente na Europa, e em 1896 publica “O Estado Judeu” e funda a Organização Mundial Sionista, ambas
pregando a criação de um Estado judeu na palestina. Em 1897 Herzl preside o primeiro Congresso Sionista (Basiléia Suiça).
Em 1901 é criado um Fundo Nacional Judaico, com o objetivo de adquirir terras na Palestina. Como conseqüência, os
primeiros colonos judeus do leste europeu instalam-se na região. Em 1909 é fundado na Palestina o primeiro Kibutz, fazenda coletiva
organizada por princípios socialistas.
Em 02/11/1917, o ministro britânico, Lorde Arthur James Balfour declara a intenção de criar um “lar judeu na região” caso a
Inglaterra vença a I Guerra. (lembrete, o Império Turco-Otomano lutou do lado alemão na expectativa de conter as ingerências
britânicas no oriente médio, em especial no Egito – canal de Suez). Com o fim da I GG e o esfacelamento do Império Otomano, a Liga
das Nações coloca a Palestina sob administração britânica, o que aumenta as expectativas dos judeus na Europa de que a Declaração
de Balfour se concretizará. Com isso, cerca de 200 mil judeus instalaram-se na região até às vésperas da II GG.
Até 1928, a Palestina era constituída pelos atuais territórios de Israel, Cisjordânia, Jordânia e Gaza. Em 1928 separa-se a atual
Jordânia, então chamada reino da Transjordânia.

Início dos Embates:

Em 29/11/1947, na II Assembléia Geral da ONU, presidida por Oswaldo Aranha, é aprovado o plano de criação de 2 Estados
(judeu e palestino) e de internacionalização de Jerusalém (Resolução 181 ONU). Oswaldo Aranha teria contido por três dias a votação
da Resolução para poder angariar votos suficientes para contrapor a oposição dos Estados árabes. A principal contestação árabe era
que a população palestina, numericamente maior, ficaria com um território menor que a população judia.
Em 14/05/1948 é proclamado o Estado de Israel. Embora reconhecido por diversos países, entre eles o Brasil, os Estados
árabes do Egito, Iraque, Líbano, Síria e Transjordânia não reconhecem Israel e iniciam uma invasão em 3 frentes. Em 1949 Israel não só
consegue repelir os invasores como ainda conquista parte da Faixa de Gaza. A Transjordânia toma a Cisjordânia e torna-se a Jordânia.
Jerusalém, que ficou na linha de fronteira, acaba dividida em Ocidental (Israel) e Oriental (Jordânia). Os cerca de 750 mil palestinos que
foram expulsos dos territórios ocupados são proibidos de retornar, dando origem aos campos de refugiados da região.
Em 16/07/1956 Nasser nacionaliza o Canal de Suez e impossibilita a passagem de navios israelenses. Apoiado militarmente
por Inglaterra e França, Israel toma a Península do Sinai. Por pressão dos EUA e da URSS o conflito é encerrado, Israel é convencido a
devolver o território do Sinai; e a I Força de Emergência da ONU, com participação do Brasil (Batalhão de Suez), é enviada para
fiscalizar o cessar-fogo (15/11/1956), permanecendo no Egito até 1967.
Em 1964 é formada a Organização para a Libertação da Palestina (OLP).
A retirada das forças da ONU de Suez em 1967 possibilita a Israel realizar um ataque fulminante ao Egito, Jordânia e Síria em junho do
mesmo ano. A aviação israelense arrasa as aeronaves inimigas ainda em solo, permitindo o avanço rápido das forças terrestres. Ao
final da Guerra dos Seis Dias, Israel havia tomado a Península do Sinai (Egito, de novo!), a Cisjordânia (Jordânia) - inclusive Jerusalém
Oriental - e as Colinas de Golã (Síria), região com importantes recursos hídricos. Brasil mantém-se neutro no conflito.
Em 1969 Yasser Arafat torna-se líder da OLP. O caráter progressista da OLP a coloca em conflito com governos árabes. Em 1970, o rei
Hussein da Jordânia massacra milhares de palestinos que tentaram derrubá-lo, no episódio conhecido como Setembro Negro.
Em 06/10/1973, Egito e Síria lançam nova ofensiva contra Israel, na chamada Guerra do Yom Kipur. Os árabes foram equipados pela
URSS, garantindo-lhes a vantagem inicial. O auxílio norte-americano à Israel sofreu complicações, o que possibilitou as primeira
vitórias árabes. O prestígio internacional dos EUA estava desgastado pela Guerra do Vietnã, ao ponto de seus aliados europeus
negarem-lhe autorização para usar suas bases aéreas na Europa para abastecer Israel. Somente Portugal, ainda sob o regime ditatorial

73
de Salazar, permitiu o uso, estabelecendo-se uma ponte aérea de suprimentos via Açores. Por fim, é assinada a paz e Israel mantém os
territórios ocupados.
Em 10/11/1975 é aprovada Resolução na AGONU que condena o sionismo como uma forma de racismo (voto favorável brasileiro). Em
15/11 é aprovada outra Resolução, também com apoio brasileiro, a favor da autodeterminação do povo palestino.
Em 1979, o Egito, sob o governo de Anaur Sadat, e por influência do presidente norte-americano Jimmy Carter, assina tratado de paz
com Israel (Tratados de Camp David), o qual prevê a devolução da Península do Sinai, o que ocorre em 1982.
Em 1982 Israel invade o Líbano para apoiar o presidente cristão Bachir Gemayel contra os opositores da OLP. Israel permite que
milícias líbias cristãs invadam campos de refugiados palestinos, resultando nos massacres de Sabra e Chatila. A repercussão desse
massacre foi tamanha que dentro de Israel formou-se uma passeata com centenas de milhares de pessoas, o movimento Paz Agora,
que conseguiu pressionar pela saída das tropas israelenses do Líbano.
Em dezembro de 1987, palestinos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia levantam-se contra a ocupação israelense – Intifada.
Em 15/11/1988 Yasser Arafat proclama a independência do Estado Palestino, em Argel. A comunidade internacional, contudo, não
reconhece o Estado. O Brasil, embora reconheça a independência da Palestina, também não reconhece o Estado Palestino.
Em 30/10/1991 é inaugurada, em Madri, a Conferência de Paz para o Oriente Médio. É revogada a convenção da ONU que condenava
o sionismo como forma de racismo. Brasil vota a favor dessa nova resolução.
Em 1993, são assinados os Acordos de Oslo, que prevêem o mútuo reconhecimento entre Israel e OLP, a criação da Autoridade
Nacional Palestina (ANP) e uma declaração de princípios. Em 1994 é celebrado acordo de paz entre Israel e Jordânia.
Em 2005, Israel desocupa a Faixa de Gaza. A autonomia política da região permite o surgimento do Hammas. Em 2007 ocorrem
eleições na Faixa de Gaza, opondo-se candidato do Hammas e do Fassat (sucessor da plataforma da ANP). O Fassat ganha as eleições,
mas essas são contestadas pelo Hammas, o que desencadeia uma guerra civil. O Hammas, por fim, vence. Ocorre que o Hammas não
reconhece o Estado de Israel, o que leva Israel a fechar as fronteiras com a Faixa de Gaza. Em novembro de 2007 ocorre a Conferência
de Anápolis nos EUA, onde se define o tripé Israel – EUA – Palestina para a realização das negociações de paz. Brasil participa da
conferência.
Em 2008, Brasil doa US$ 10 milhões para a reconstrução da Palestina, e o IBAS doa mais US$ 3 milhões. Em 2009, Brasil doa 8
toneladas de alimentos e 6 toneladas de medicamentos para Gaza.
Em janeiro de 2009 o Chanceler Celso Amorim viajou durante quatro dias pelo Oriente Médio, onde teve encontros com autoridades
de cinco países - Síria, Israel, Palestina (Cisjordânia), Jordânia e Egito. Ele também conversou com o secretário Geral da ONU Ban Ki-
Moon. A viagem do chanceler brasileiro teve por objetivo colocar a participação do Brasil à disposição das negociações de paz na
região. No mesmo mês, a embaixadora brasileira na ONU condenou a violência de ambas as partes nos conflitos em Gaza

Posições do Brasil:

A Síria é um país de extrema importância na região e, por manter contatos com o Hammas e o Hezbolha, é uma
parceira fundamental para as negociações de paz.

A participação de países neutros nas negociações de paz pode resultar em um salutar arejamento das negociações.
(Posição do Amorim!)

Questões adicionais:

O Muro de Israel:
Começou a ser construído em 2002, no governo de Ariel Sharon, separando Israel da Cisjordânia (passa pela chamada
Linha Verde). Engloba parte dos territórios ocupados, incluindo toda Jerusalém. Em 2004, a CIJ declarou a ilegalidade da construção,
por englobar territórios palestinos e por isolar aproximadamente 450.000 pessoas. Israel, entretanto, prossegue a construção.
Inicialmente prevista em 350Km, a extensão do muro pode chegar esse ano a até 721Km.

Partidos Políticos de Israel:


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Agudat Israel: Partido ultra-ortodoxo, busca fortalecer a religião judaica em Israel.
Ale Yarok: Algo parecido com o PV brasileiro (defendem legalização da maconha). Nunca ultrapassaram a cláusula de barreira.
Balad: Partido representante da minoria árabe de Israel. Defendem a desocupação dos territórios e a criação do Estado Palestino.
Partido Comunista de Israel: Formado em 1948 pelos remanescentes do PC da Palestina.
Gil: Partido dos aposentados de Israel.
Hadash: Partido de união entre árabes e judeus. Orientação socialista. Defendem a desocupação e o Estado palestino.
Kadima: Partido de extrema direita. Fundado por Ariel Sharon em 21 de novembro de 2005, após deixar o Likud.
Likud: Partido de coalizão, algo parecido com o PMDB. Congrega uma direita liberal, sionista, nacionalista e conservadora.
Meretz: Partido de esquerda.
Moldet: Partido de direita, propugna a transferência dos palestinos das regiões ocupadas para os países árabes da região.
Partido Trabalhista de Israel: De orientação social-democrata, representa o centro-esquerda sionista.
Shas: Partido de religiosos ortodoxos e de direita. É o 3º maior partido na Knesset (parlamento).
Shinui: Partido do “centrão”.
União Nacional: Extrema direita.
Yisrael Beitenu: Partido de direita, propõe a transferência dos palestinos que vivem em Israel para a Cisjordânia e a melhoria das
condições sociais para atrair a imigração judaica para Israel.

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COMUNIDADE DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA

 O primeiro passo no processo de criação da CPLP foi dado em São Luís do Maranhão, com a 1ª reunião de chefes de Estado e de
Governo dos países de língua portuguesa, em 1989, a convite do presidente brasileiro José Sarney. Compareceram: Angola, Brasil,
Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe,

 Na reunião, por iniciativa brasileira, decidiu-se criar o Instituto Internacional da Língua Portuguesa para se ocupar da promoção e
difusão do idioma comum da Comunidade.
*Instituto só se tornaria realidade mais de 10 anos depois, na VI Reunião Ordinária do Conselho de Ministros da CPLP (São
Tomé, 1999), que levou à aprovação dos estatutos do IILP e à escolha de Cabo Verde para a instalação da sua sede, em 2002.

 O ILLP (sede na Cidade da Praia, Cabo Verde) é identificado como o primeiro instrumento institucional da CPLP. Seus objetivos são:
a planificação e execução de programas de promoção; de defesa; de enriquecimento e difusão da Língua Portuguesa como veículo de
cultura; de educação; de informação e acesso ao conhecimento científico, tecnológico; e de utilização em fóruns internacionais.

 O processo ganhou impulso decisivo na década de 90, com Itamar Franco e José Aparecido Oliveira, Embaixador do Brasil em
Lisboa, que estabeleceram a constituição da CPLP como uma prioridade.

 Em 1994, os 7 ministros dos Negócios Estrangeiros e das Relações Exteriores, reunidos pela 2a vez, em Brasília, decidiram
recomendar aos seus Governos a realização de uma Cúpula de Chefes de Estado e de Governo com vista à adoção do ato constitutivo
da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. O resultado desse trabalho encontra-se consolidado em dois documentos:
Declaração Constitutiva
Estatutos da Comunidade

 Os 7 Ministros voltaram a se reunir em 1995, em Lisboa, tendo reafirmado a importância para os seus países da constituição da
CPLP e reiterado os compromissos assumidos na reunião de Brasília.

 Criada oficialmente em 17 de julho de 1996, a CPLP congregou os 7 países do globo de língua oficial portuguesa até então: Angola,
Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe.
*O Timor Leste era observador convidado.

 São 3 os seus objetivos gerais, que estão definidos nos Estatutos da Comunidade:
1) Concerto político-diplomática entre os seus membros;
2) Cooperação econômica, social, cultural, jurídica e técnico-científica; e
3) Promoção e difusão da Língua Portuguesa.

 CPLP é regida pelos seguintes princípios:

 Igualdade soberana dos Estados membros;


 Não-ingerência nos assuntos internos de cada estado;
 Respeito pela sua identidade nacional;
 Reciprocidade de tratamento;
 Primado da paz, da democracia, do estado de direito, dos direitos humanos e da justiça social;
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 Respeito pela sua integridade territorial;
 Promoção do desenvolvimento;
 Promoção da cooperação mutuamente vantajosa.

 O Timor Leste passou a ser o 8º Estado-membro após sua independência, em 20 de maio de 2002.

 Órgãos Decisórios da CPLP


No ato da criação da CPLP foram estabelecidos os seguintes órgãos:

A Conferência de Chefes de Estado e do Governo;


O Conselho de Ministros;
O Comitê de Concertação Permanente;
O Secretariado Executivo.

Quando da revisão dos Estatutos, na IV Cúpula de Chefes de Estado (Brasília, 2002), foram acrescentados:
As Reuniões Ministeriais Setoriais;
A Reunião dos Pontos Focais de Cooperação.

O X Conselho de Ministros, realizado em Luanda em 2005, integrou ainda:


O Instituto Internacional de Língua Portuguesa.

Desde 2007, foi ainda estabelecida:


A Assembléia Parlamentar.

 Durante a X Reunião do Conselho de Ministros, realizada em Luanda em 2005, os Estados-membros aprovaram uma Resolução que
criou os chamados Grupos CPLP, que têm como objetivos coordenar posições relativamente a interesses comuns; assegurar a
representação da CPLP em conferências, seminários e reuniões internacionais; efetuar diligências conjuntas, quando aplicável;
intercambiar informações sobre a realidade política e governamental do país onde se encontrem; apoiar a realização de eventos
organizados no âmbito da CPLP e divulgar as atividades e realizações da própria Comunidade.

* Existem, no momento, cerca de 40 Grupos CPLP. Suas atividades têm sido variadas. Por exemplo: concertar apoios na ONU
em favor dos países membros, acompanhar programas da UNESCO para a proteção do patrimônio cultural dos países lusófonos,
sensibilizar as agências da FAO com relação a programas alimentares nos PALOPs(Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa),
apoiar junto à União Européia a implementação de ajuda ao desenvolvimento aos países membros africanos e Timor Leste, e etc.

 Os Grupos CPLP são formados pelos embaixadores e representantes permanentes dos países-membros em todas aquelas capitais e
sedes de organismos internacionais nas quais pelo menos 3 forem residentes. Visam à coordenação dos postos diplomáticos dos
países-membros para a atuação conjunta em prol dos objetivos da organização.

*Estão formalmente constituídos os Grupos CPLP de


Adis Abeba, Budapeste FAO (Roma), Jacarta,
Argel, Cairo, Genebra, Londres,
Berlim, Dacar, Haia, Luanda,
Bruxelas, Delegação p/ UE (Bruxelas), Harare, Madrid,
Buenos Aires, Dili, Havana, Maputo,
77
Moscou, Rabat, São Tomé, Viena, entre outros.
Nairóbi, República Democrática do Congo Tel-aviv,
(RDC),
Otava, Tóquio,
Roma,
Praia, Varsóvia

 Desde a fundação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) há também o intuito de alargar as colaborações
extra-comunitárias. Para tanto, foi criado o Estatuto de Observador na 2ª Cúpula de Chefes de Estado e do Governo, na Cidade da
Praia em 1998. A criação do estatuto de Observador Associado abriu uma janela de oportunidade para o eventual ingresso de
Estados ou regiões lusófonos que pertencem a Estados terceiros, mediante acordo com os Estados-membros.

 Em 2005, no Conselho de Ministros da CPLP reunido em Luanda, foram estabelecidas as categorias de Observador Associado e
de Observador Consultivo.

 No XI Conselho de Ministros, reunido em Bissau, em 2006, recebeu a atribuição do Estatuto de Observador Associado, a
República da Guiné- Equatorial e a República da Ilha Maurícia. O Senegal recebeu esse mesmo Estatuto durante a Conferência de
Chefes de Estado e de Governo que se realizou em 2008, em Lisboa.

 Foi atribuído o Estatuto de Observador Consultivo a diversas entidades da sociedade civil. Lista Completa:
Academia Brasileira de Letras Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP
Assistência Médica Internacional - AMI Universidade Federal da Bahia – UFBA
Associação dos Comités Olímpicos de Língua Portuguesa Universidade Federal do Rio de Janeiro – UNIRIO
Associação das Universidades de Língua Portuguesa Associação dos Ex-Deputados da Assembleia da República
Círculo de Reflexão Lusófona Portuguesa
Comunidade Sindical dos Países de Língua Portuguesa
Centro de Conciliação e Mediação de Conflitos - Concórdia
Conselho Empresarial da CPLP - [ Estatutos ]
Fórum da Juventude da CPLP Confederação da Publicidade dos Países de Língua Portuguesa
Fundação Bial
Fundação Amílcar Cabral
Fundação Calouste Gulbenkian
Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento Fundação Novo Futuro
Fundação Luso-Brasileira para o Desenvolvimento do Mundo de
Língua Portuguesa
Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade
Fundação para a Divulgação das Tecnologias de Informação
Médicos do Mundo
Saúde em Português
União das Misericórdias de Portugal
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
Associação das Universidades de Língua Portuguesa – AULP
Comunidade Médica de Língua Portuguesa
Comissão InterPaíses/Países de Língua Oficial Portuguesa-
CIP/PLP Fundação Rotarianos São Paulo
Fundação Agostinho Neto
Fundação Champalimaud
Fundação Eduardo dos Santos – FESA
Fundação Mário Soares
Fundação Oriente
Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ
Fundação Portugal-África
Fundação Roberto Marinho
Instituto Internacional de Macau
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro - IHGB
Instituto de Higiene e Medicina Tropical
Organização Paramédicos de Catástrofe Internacional
Sociedade de Geografia de Lisboa
Real Gabinete Português de Leitura
União dos Advogados de Língua Portuguesa - UALP

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 Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa: já está em vigor em alguns dos Estados-membros da CPLP. Aguarda-se a
sua ratificação pelos demais países. Está em vigor na ordem jurídica internacional e no Brasil, Cabo Verde, Portugal e São
Tomé e Príncipe, por força da ratificação pelos Estados do Acordo Ortográfico e do Segundo Protocolo Modificativo.

 Os Estados signatários são Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. O
Acordo encontra-se aberto à adesão de Timor-Leste que em 1990 ainda não tinha reconquistado a independência.

 Houveram 2 protocolos modificativos do ato assinado em 1990. A assinatura do 2º Protocolo estabeleceu que, o
Acordo Ortográfico entrava em vigor com a ratificação por três dos Estados signatários (naturalmente, para os Estados
que procedessem à ratificação). O Primeiro Protocolo Modificativo, não apresenta hoje qualquer conteúdo prático.

Análises:
 A reunião deste grupo de Estados – situados em 4 Continentes e englobando 230 milhões de pessoas – consolidou
uma realidade já existente, resultante da tradicional cooperação Portugal-Brasil e dos novos laços de fraternidade e
cooperação que, a partir de meados da década de 1970, se foram criando entre estes dois países e as novas nações de
língua oficial portuguesa.

 O fundamento é a Língua Portuguesa, vínculo histórico e patrimônio comum dos 8 países – que constituem um espaço
geograficamente descontínuo, mas identificado pelo idioma comum.

 A Cidadania e a Circulação avançam na CPLP. Apesar de ser uma das áreas com avanços substanciais na Comunidades,
as dificuldades em conceder direitos políticos, econômicos e sociais são enormes por razões de consonância com os
atuais ordenamentos jurídicos de cada membro, especialmente, pelo fato de cada um dos Estados-membros também
estar integrado em outras organizações regionais e sub-regionais que impõe regras mais estritas.

 Nos esforços da CPLP são utilizados não apenas recursos cedidos pelos governos dos países membros, mas também,
de forma crescente, os meios disponibilizados através de parcerias com outros organismos internacionais, organizações
não-governamentais, empresas e entidades privadas, interessadas no apoio ao desenvolvimento social e econômico dos
países de língua portuguesa

 A CPLP realizou missões de observação eleitoral:


 ao referendo sobre a autodeterminação do Timor Leste, bem como suas eleições para a Assembléia Constituinte
e eleições presidenciais em 2002;
 eleições autárquicas, presidenciais e legislativas em Moçambique (Novembro de 2003 e Dezembro de 2004);
 eleições legislativas e presidenciais na Guiné-Bissau (Março de 2004 e Julho de 2005);
 eleições legislativas e presidenciais em S. Tomé e Príncipe (Março - Abril e Julho de 2006);
 1ª e 2ª volta das eleições parlamentares em Timor-leste (Junho de 2007) e eleições presidências em Timor-Leste
(Abril de 2007 e Maio de 2007).

 A nomeação de Embaixadores da Boa Vontade da CPLP foi uma iniciativa aprovada na Conferência de Ministros de
2004, que ainda se encontra em fase de implementação. Serão escolhidos pelos órgãos dirigentes da comunidade entre
personalidades que se notabilizaram nos domínios da cultura, desporto, artes, ciência e política e se disponibilizem a
contribuir para a defesa e promoção dos objetivos e princípios da CPLP.

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 A CPLP conta ainda com um Conselho Empresarial que, embora seja oficialmente reconhecido e estimulado pela
organização, é uma entidade privada. Seu objetivo principal é promover e incrementar o comércio e o investimento entre
os oito Estados-membros e os países das regiões econômicas em que cada um dos membros se insere.

Atos Internacionais Multilaterais Assinados pelo Brasil no Âmbito da CPLP

Data de Entrada em Promulgação


Título
celebração vigor Decreto no Data

Declaração Constitutiva e Estatutos da Comunidade de 17/07/1996 17/04/2000 5002 03/03/2004


Países de Língua Portuguesa

Acordo sobre Supressão de Vistos em Passaportes 17/07/2000 (*)


Diplomáticos, Especiais e de Serviço, entre os Governos
dos Países Membros da Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa

Acordo sobre a Concessão de Vistos de Múltiplas 30/7/2002 1/10/2003 929 15/9/2005


Entradas para Determinadas Categorias de Pessoas

Acordo sobre Estabelecimento de requisitos Comuns 30/7/2002 1/10/2003 1017 30/7/2002


Máximos para a Instrução de Processos de Visto de
Curta Duração.

Acordo sobre Estabelecimento de Balcões Específicos 30/7/2002 14/2/2003


nos Postos de Entrada e Saída para o Atendimento de
Cidadãos da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa.

Acordo sobre Concessão de Visto Temporário para 30/07/2002 7/5/2004


Tratamento Médico a Cidadãos da CPLP

Acordo sobre Isenção de Taxas e Emolumentos Devidos 30/07/2002 10/11/2005


à Emissão e Renovação de Autorizações de Residência
para os Cidadãos do CPLP

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa 16/12/1990 01/01/2007 6583 29/09/2008

Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua 17/07/1998 01/01/2007 6584 29/09/2008


Portuguesa

Acordo do Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo 25/07/2004 01/01/2007 6585 29/09/2008


Ortográfico da Língua Portuguesa

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A política externa brasileira e o combate à fome e à miséria

BREVE HISTÓRICO DAS INICIATIVAS BRASILEIRAS NO PÓS-GUERRA FRIA

Na América Latina e no Brasil, a crise dos anos 80, considerada a década perdida para o desenvolvimento da região, foi
seguida por uma expressiva reestruturação da economia brasileira, a qual atingiu diversos setores e caracterizou-se pela
modernização tecnológica e gerencial, decidida abertura comercial, aumento da competição e remodelamento do
aparelho do Estado, com programas de privatização e extinção de inúmeras empresas estatais. Tudo isso afetou variados
segmentos sociais, os quais, até então, encontravam-se vinculados ao antigo modelo de organização industrial amparado
pelo poder do Estado intervencionista.

No plano social, o governo Collor de Mello teve uma atuação extremamente discreta. Sua atenção recaiu sobre outros
temas. Três foram os pilares de sua política externa: a atualização da agenda internacional do país, a redução do perfil
“terceiro-mundista” da política externa brasileira e uma aproximação com os Estados Unidos. Internamente, o que
alcançava proeminência era o discurso da redemocratização e da institucionalidade democrática. A discussão acerca da
erradicação da pobreza foi colocada na ordem do dia por ONGs, com destaque para a “Ação da Cidadania contra a Fome”
(1993), liderada pelo sociólogo Herbert de Souza.

O que começou a alterar esse quadro foi a determinação das Nações Unidas em promover, em 1995, a Cúpula Mundial
de Desenvolvimento Social, ou cúpula de Copenhague. Dessa maneira, aos poucos começou a prevalecer o entendimento
de que era necessário superar a idéia de que se podia pensar em desenvolvimento econômico de forma isolada do plano
social. A própria natureza da idéia de desenvolvimento estava sob revisão.

De qualquer forma, os impactos da “Ação da Cidadania contra a Fome” e da própria Cúpula de Copenhague ainda foram
muito tímidos no Brasil. A estabilização econômica era a prioridade. O Plano Real, lançado ainda na gestão de Itamar
Franco, continuou sendo a pedra angular do novo governo.

O governo FHC não desconhecia as mazelas sociais do país. Mas, na sua perspectiva, o governo estava “fazendo a sua
parte”, pois havia o entendimento de que os recursos públicos aplicados na área social seriam compatíveis com as
necessidades sociais de adequados à realidade econômica nacional. Era necessário, portanto, antes do incremento dos
recursos públicos para as políticas sociais, fazer valer uma maior racionalidade e um melhor aproveitamento do que se
tinha disponível para a agenda social do Brasil.

As autoridades governamentais consideravam, por exemplo, que a Reforma da Previdência Social possibilitaria melhorias
substanciais na alocação de recursos para a Assistência Social, uma vez que eliminaria desperdícios. Entretanto, não
houve melhorias no sistema, e as crises na previdência, educação e saúde se agravaram. Além dessa reestruturação, o
governo FHC lançou o programa conhecido como “Comunidade Solidária”, com o objetivo de coordenar os programas
governamentais existentes. A reforma agrária, ao menos no discurso, tornou-se uma das áreas mais prioritárias.

Com o entendimento de que a retomada do crescimento econômico em bases sustentáveis era condição essencial para
promover o desenvolvimento social, o governo FHC continuou perseguindo as metas de estabilização financeira e
econômica por meio do Plano Real e da contínua abertura do Brasil ao sistema mundial.

No plano internacional, o governo FHC não chegou a imprimir um ritmo mais intenso na relação entre relações exteriores
e questões sociais. Embora o chanceler Luiz Felipe Lampreia tenha afirmado em discurso que uma prioridade básica da

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diplomacia brasileira era servir ao objetivo do desenvolvimento econômico e social, as ações práticas recaíam muito mais
na idéia de desenvolvimento econômico.

Isso não quer dizer, naturalmente, que não tenha havido participação da política externa brasileira em temas sociais
durante o governo FHC. Exemplo disso foi a participação do país na citada Cúpula de Copenhague. Contudo, a política
externa seguiu, no período, as prioridades internas, que como já se viu não contemplavam o imediato combate aos
problemas sociais.

Quando Lula assumiu a presidência, a expectativa era de que o quadro se alteraria, o que de fato ocorreu. No plano
interno, o governo lançou diversos programas sociais. No início do governo, o que teve maior alcance e inclusive deu
visibilidade ao presidente no exterior foi o Programa Fome Zero, o qual além de angariar doações de alimentos continha
uma série de iniciativas nos planos da educação, erradicação do trabalho infantil, geração de emprego, dentre outras.
Também foram criadas Secretarias Especiais para a promoção para a promoção de igualdade racial, políticas para as
mulheres e assistência social.

Lula mantinha, na fase preliminar ao governo, uma postura de sim enfático à postura crítica do Foro Social Mundial e de
um sonoro não ao neoliberalismo do Foro Econômico Mundial. Depois de eleito, buscando um diálogo realista com os
dois mundos, ele realizou a proeza de falar (em janeiro de 2003, no início de seu governo) aos participantes de Porto
Alegre e dirigir-se, logo em seguida, aos “capitalistas” de Davos, mantendo substancialmente o mesmo discurso nos dois
foros. Ele também foi convidado a reunir-se (em junho de 2003, em Evian) com os líderes do G-8, a convite do presidente
francês Jacques Chirac e levou a mesma mensagem que repetiria três meses mais tarde na ONU: a necessidade de
combater a fome e a pobreza mundial, mediante um fundo a ser alimentado se possível com a taxação de capitais
voláteis ou sobre o comércio de armas.

Lula estabelece novas diretrizes internacionais e sua política externa assume a promoção do desenvolvimento social
como componente da agenda internacional do país. Indo além, a ação diplomática é concebida como instrumento de
apoio ao projeto de desenvolvimento social e econômico do Brasil.

Em discurso durante a Conferência de Imprensa sobre o Fundo Mundial de Combate à Pobreza, realizado em Genebra em
janeiro de 2004, Lula defendeu a criação de mecanismos internacionais que permitissem ganhos para os países menos
desenvolvidos, sobretudo por meio do multilateralismo político e econômico, que se constituía em elemento
indispensável para relativizar as disparidades internacionais sem que se necessitasse exclusivamente da boa vontade dos
Estados mais ricos.

Em setembro de 2004, na abertura da 59ª Assembléia Geral das Nações Unidas, o presidente abordou um ponto sensível
à política econômica das grandes potências, ao afirmar que “a retomada do desenvolvimento justo e sustentável requer
uma mudança importante nos fluxos de financiamento dos organismos multilaterais”. Criticou, ademais, o fato de que
esses organismos haviam sido criados para encontrar soluções, mas acabaram se transformando em parte do problema
das nações mais pobres do planeta. Ainda exemplificou a postura brasileira de engajamento com o fundo de
solidariedade IBAS, que deveria ajudar os países mais pobres em programas sociais específicos.

INICIATIVAS BRASILEIRAS NO PERÍODO LULA

Ação Contra a Fome e a Pobreza

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Por iniciativa brasileira, representantes de mais de 50 países reuniram-se em Nova York, em 20 de setembro de 2004,
para discutir ações internacionais mais aprofundadas para combater a fome, superar a pobreza e aumentar os recursos
disponíveis para financiamento ao desenvolvimento.

Na Declaração resultante do encontro, foi reiterado o chamado para que os países desenvolvidos esforcem-se para
atingir o nível de 0.7% do PIB até 2015, uma meta que alguns deles já adotaram ou alcançaram. Também foi ressaltada a
necessidade de novos tipos de recursos. A maior estabilidade e previsibilidade nos fluxos trariam maiores benefícios em
termos de sua eficiência e impacto no combate à pobreza.

Os líderes também declararam apoio à redução de taxas sobre remessas, que representam importantes fluxos de divisas
para os países pobres. 65% de todos os fluxos são a eles destinados. Um projeto de resolução seria preparado e levado à
consideração da Assembléia Geral das Nações Unidas.

Na ocasião, também foi demonstrado interesse no projeto de uma contribuição solidária sobre passagens aéreas para o
desenvolvimento sustentável global, tal como sugerido por Brasil, Chile, França e Alemanha. O objetivo desse projeto,
hoje já em funcionamento, é combater a fome e a pobreza e financiar o desenvolvimento global sustentável, incluindo a
luta contra a AIDS/HIV e outras doenças. A contribuição deu origem à Central Internacional para a Compra de
Medicamentos, que fornece medicamentos contra AIDS, malária e tuberculose para países pobres.

Mecanismo IBAS de Alívio à Fome e à Pobreza

Na abertura dos debates da 58ª AGNU, o Brasil, em parceria com a Índia e a África do Sul, criou o chamado Mecanismo
IBAS de Alívio à Fome e à Pobreza, no âmbito do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. A iniciativa IBAS
foi planejada como forma de reproduzir e disseminar projetos sociais de sucesso nas áreas de saúde, educação,
saneamento e segurança alimentar, dentre outras. A execução dos projetos será conduzida pelo Sistema das Nações
Unidas, de acordo com suas áreas de competência.
Cada um dos três países do IBAS comprometeu-se a destinar US$ 1 milhão anuais ao Fundo. Três projetos financiados
pelo Fundo foram finalizados até a presente data:
a) A fase I da iniciativa denominada “Desenvolvimento da Agricultura e da Pecuária na Guiné-Bissau”, sob orçamento de
US$ 498.750,00. Estima-se que 4,5 mil pessoas, das quais mais de 2,6 mil mulheres, beneficiaram-se direta ou
indiretamente da assistência técnica prestada.

b) A fase I do projeto “Coleta de Resíduos sólidos: uma ferramenta para reduzir violência e conflitos em Carrefour-
Feuilles”, realizado naquela comunidade de Porto Príncipe, no Haiti, com orçamento de US$ 550.000,00.

c) Projeto de Reabilitação do Posto Sanitário de Covoada, comunidade carente de recursos e de difícil acesso na ilha de
São Nicolau, em Cabo Verde. Seu custo final foi de US$ 37.236,00.

Dívidas perdoadas

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Até 2007, o Brasil perdoou US$ 1,25 bilhão em dívidas de países pobres como forma de ajudá-los a alcançar os Objetivos
de Desenvolvimento do Milênio (ODM), segundo um relatório feito pelo governo brasileiro e por agências da ONU.

O alívio na dívida de países com o Brasil beneficiou principalmente nações africanas. Até 31 de dezembro de 2006, foram
concedidos descontos de US$ 931,8 milhões a países do continente — US$ 815,2 milhões aos altamente endividados.
Com a Nigéria, por exemplo, o abatimento chegou a 67% da dívida, que estava pendente desde 1984 e somava US$ 162
milhões.

Cooperação com a África

Os projetos brasileiros de cooperação incluem áreas bastante diversas. Eles abrangem implantação de centros de
formação profissional, doação de vacinas e medicamentos e apoio a programas de prevenção e tratamento de doenças
sexualmente transmissíveis, assistência em agricultura familiar e em pesquisa agrícola, auxílio na elaboração de políticas
públicas e de governança eletrônica, manejo florestal e combate a incêndios florestais. Foi aberto em Gana um escritório
da Embrapa, para reforçar a cooperação com o conjunto dos países africanos. Mais informações no resumo sobre
relações Brasil – África.

POSIÇÕES ASSUMDAS PELO BRASIL NO PERÍODO LULA

Trechos de discursos do presidente com argumentos utilizados pelo Brasil em foros multilaterais

Rodada Doha

“Precisamos encarar esse problema de frente. É intolerável que 1 bilhão de dólares seja gasto a cada dia em subsídios à
exportação e em medidas de apoio doméstico à produção agrícola. Não é humano e racional que uma vaca tenha um
subsídio superior à renda individual de centenas de milhões de homens e mulheres. Segundo o Banco Mundial, uma
efetiva liberalização do comércio agrícola poderia gerar cerca de US$ 200 bilhões de dólares de renda global adicional, o
suficiente para retirar mais de 500 milhões de pessoas da situação de pobreza.”

Outras propostas para recolhimento de fundos para o combate à fome

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“Outra iniciativa é a conversão do serviço da dívida, ou parte dela, em investimentos na Educação proposta por Brasil,
Espanha e Argentina, que se encontra em fase de elaboração e viabilidade técnica. Menos consensuais, mas em
discussão, estão propostas (brasileiras) sobre a taxação de paraísos fiscais ou de venda de armas.”

A crise alimentar e a agricultura brasileira

“A verdade é que a inflação do preço dos alimentos não tem uma única explicação. Resulta de uma combinação de
fatores: a alta do petróleo, que afeta os custos dos fertilizantes e dos fretes; as mudanças cambiais e a especulação nos
mercados financeiros; as quedas nos estoques mundiais; o aumento do consumo de alimentos em países em
desenvolvimento, como China, Índia, Brasil e tantos outros; e, sobretudo, a manutenção das absurdas políticas
protecionistas na agricultura dos países ricos.

O Brasil tem 340 milhões de hectares de terras agrícolas: 200 milhões são de pastagens e 63 milhões de lavouras, dos
quais apenas 7 milhões de hectares de cana. Metade é usada na produção de açúcar. A outra metade, em torno de 3,6
milhões de hectares, é destinada à produção de etanol. Ou seja, toda a cana do Brasil está em 2% da sua área agrícola, e
todo o seu etanol é produzido em apenas 1% dessa mesma área. Alguns críticos dizem que a produção de etanol está
levando a cana a invadir áreas de lavouras. Essas críticas não têm qualquer fundamento.

Além disso, ainda há no Brasil 77 milhões de hectares de terras agrícolas fora da Amazônia, bem entendido -, que ainda
não estão sendo utilizados. Isso equivale a pouco menos que os territórios da França e da Alemanha, juntos. E ainda
temos 40 milhões de hectares de pastagens subutilizadas e degradadas, que podem ser recuperadas e destinadas à
produção de alimentos e cana. Em suma, o etanol de cana no Brasil não agride a Amazônia, não tira terra da produção de
alimentos, nem diminui a oferta de comida na mesa dos brasileiros e dos povos do mundo.”

Mudança nos fluxos de financiamento

“Creio que é o momento de dizer com toda a clareza que a retomada do desenvolvimento justo e sustentável requer uma
mudança importante nos fluxos de financiamento dos organismos multilaterais. O FMI deve credenciar-se para fornecer
o aval e a liquidez necessários a investimentos produtivos, especialmente em infra-estrutura, saneamento e habitação,
que permitirão, inclusive, recuperar a capacidade de pagamento das nações mais pobres.”

Fontes:
Pio Penna Filho. Estratégias de desenvolvimento social e combate à pobreza no Brasil. Em Relações Internacionais do
Brasil: Temas e Agendas, V.2.

Paulo Roberto de Almeida. Uma política externa engajada: a diplomacia do governo Lula.
http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/1260PExtLula.pdf

MRE. Ação contra a fome e a pobreza.


http://www.mre.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=397&Itemid=419

Instituto de Estudos Socioeconômicos

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http://www.inesc.org.br/noticias/noticias-gerais/2007/setembro-2007/brasil-perdoa-us-1-bi-em-divida-externa/

Discurso de Lula na ONU. Nova Iorque, 21 de setembro de 2004.


Discurso de Lula na Abertura do Colóquio Brasil Ator Global. Paris, 13 de julho de 2005
Discurso de Lula na Abertura da Cúpula África-América do Sul. Abuja, Nigéria, 30 de novembro de 2006
Discurso de Lula na Reunião de Alto Nível da FAO sobre Segurança Alimentar, Mudanças Climáticas e Bioenergia. Roma,
Itália. 03 de junho de 2008

Pobreza no Brasil – dados do Ipea


Quatro milhões de brasileiros deixaram a linha de pobreza entre o ano de 2002 e 2009. Em março de 2002, a taxa era de
42,5%, e neste ano a taxa passou para 31,1%
O Ipea constatou que a crise não afetou a pobreza comparando a média nos períodos de outubro de 2007 a junho de
2008 e de outubro de 2008 a junho de 2009. Na primeira data, a taxa de pobreza era de 31,9%. Já no período mais
recente, o índice recuou para 31%, mesmo tendo sido esta a fase mais aguda da crise financeira internacional, quando
houve forte corte nos níveis de emprego no Brasil. Neste período, o estudo mostra que 503 mil pessoas deixaram a
pobreza.
Desigualdade no Brasil
De acordo com o estudo, o índice Gini no Brasil era de 0,5 em 1960, e agora é de 0,56. Nesse índice, o 0 significa
igualdade absoluta, e o 1 implica disparidade máxima.
“Um país com um Gini acima de 0,4 é um país com desigualdade brutal”, disse Pochmann por telefone à Reuters.
A queda da desigualdade é observada como tendência concreta a partir de 1993, possivelmente associada aos efeitos
imediatos do Plano de Estabilização Monetária (Plano Real). Evidente o controle inflacionário amplia de forma imediata o
poder de compra dos salários que ampliam sob o conceito de salário real. A estabilidade monetária conquistada depois
de 40 anos vivendo o país com processos inflacionários crônicos amplia a possibilidade de investimento, produzindo
crescimento dos empregos, e vis a vis da riqueza agregada. Outra variável explicativa que também contribui para esta
situação é a articulação sob formato mais amplo das políticas sociais, em especial, os programas de transferência de
renda, iniciados no governo Fernando Henrique, continuados e ampliados no governo Lula.

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Os tributos representam 22,7 por cento da renda para os 10 por cento mais ricos, enquanto os 10 por cento mais pobres
gastam 32,8 por cento de sua renda com impostos.

Living standards have improved in the world


Living standards have risen dramatically over the last decades. The proportion of the developing world's population living
in extreme economic poverty — defined as living on less than $1.25 per day (at 2005 prices, adjusted to account for the
most recent differences in purchasing power across countries) — has fallen from 52 percent in 1981 to 26 percent in
2005.
Poverty in East Asia—the world’s poorest region in 1981—has fallen from nearly 80 percent of the population living on
less than $1.25 a day in 1981 to 18 percent in 2005 (about 340 million), largely owing to dramatic progress in poverty
reduction in China.
In Sub-Saharan Africa, the $1.25 a day poverty rate has shown no sustained decline over the whole period since 1981,
starting and ending at around 50 percent. However, there have been signs of recent progress; the poverty rate fell from
58% in 1996 to 50% in 2005.

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MEIO AMBIENTE

O Brasil nas Três Conferências Ambientais das Nações Unidas

A Conferência de Estocolmo (Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, 1972) foi a
primeira grande reunião organizada pelas Nações Unidas a concentrar-se sobre questões de meio ambiente. Sua
convocação foi conseqüência da crescente atenção internacional para a preservação da natureza, e do
descontentamento de diversos setores da sociedade quanto às repercussões da poluição sobre a qualidade de vida das
populações.
A preparação e a realização da Conferência de Estocolmo deram-se em momento histórico marcado pelo forte
questionamento tanto do modelo ocidental de desenvolvimento quanto do modelo socialista. As preocupações
ambientais na década de sessenta obtinham eco somente em alguns setores da sociedade civil dos países mais ricos do
Ocidente. Entretanto, a força do movimento ecológico, nos anos 60, vem, sobretudo, do fato de as conseqüências
negativas da industrialização, como poluição, tráfego e barulho, terem passado a afetar a maior faixa da população dos
países ricos.
Na visão de diversos países em desenvolvimento, no final dos anos 60, a agenda ambiental – desenvolvida tão
recentemente nas sociedades mais ricas – estava sendo transposta para o plano internacional de maneira precipitada. A
convocação da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, pela Resolução 2398 da XXIII Sessão da
Assembléia Geral, entretanto, tornava inevitável que os países em desenvolvimento passassem a estudar estratégias e
posições que orientassem a inserção do tema nas discussões internacionais de maneira a favorecer os seus principais
pleitos. Em poucos anos, principalmente nos EUA, a legislação ambiental evoluiu de forma extraordinária, tomando
muitos setores econômicos de forma desprevenida.
Desde o primeiro momento, amplas faixas do setor produtivo – indústria, agricultura e energia – opuseram-se ao
fortalecimento das legislações ambientais, tanto nos países desenvolvidos, quanto naqueles em desenvolvimento. Nesse
contexto, a Conferência de Estocolmo constituiu etapa histórica para a evolução do tratamento das questões ligadas ao
meio ambiente no plano internacional e também no plano interno de grande número de países. O tema, no entanto, ao
ganhar crescente legitimidade internacional, passou a ser discutido cada vez menos do ponto de vista científico, e cada
vez mais no contexto político e econômico.
A Conferência de Estocolmo contribuiu significativamente para que o meio ambiente conquistasse a atenção da
comunidade internacional.

O BRASIL NA CONFERÊNCIA DE ESTOCOLMO

No momento da realização da Conferência de Estocolmo, o Brasil vivia seu “milagre econômico”. O período
correspondia, igualmente, ao de maior repressão política na história do País. No início dos anos 70, países com regimes
autoritários e com altas taxas de crescimento econômico viam com receio o movimento a favor do meio ambiente, cujas
repercussões para suas economias eram uma incógnita e cujos efeitos políticos sobre suas sociedades não podiam ser
positivos, uma vez que o ambientalismo era associado aos movimentos de esquerda.
A Delegação Brasileira sabia com que imagem o Brasil chegava a Estocolmo: não era a do “milagre econômico”,
da bossa nova e do tri-campeonato de futebol. Era a de um país que estava, havia oito anos, sob um regime militar que
dava ênfase absoluta a seu crescimento econômico, que não pretendia controlar o crescimento demográfico, que tinha
péssimos recordes nas áreas de direitos humanos e de preservação da natureza, que tinha fortes tendências nacionalistas
e ambições de domínio da tecnologia nuclear.
A principal ameaça para o Brasil em Estocolmo, no entanto, não viria da Europa ou dos EUA, e, sim, da Argentina,
cuja posição com relação ao aproveitamento do potencial hidrelétrico do Rio Paraná ameaçava os planos de construção
da usina que seria, naquele momento, a maior hidrelétrica do mundo: Itaipu.

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Durante a reunião preparatório “Reunião de Founex” (1971), o representante brasileiro teve papel fundamental
ao conseguir incluir as teses brasileiras no Relatório final. No documento de trabalho que apresentou na Reunião, ele
estrutura uma verdadeira teoria sobre a inter-relação entre desenvolvimento econômico e meio ambiente, sem negá-la,
mas alertando que se a perspectiva de um investimento ambiental não fosse diretamente ligado a um aumento da
produção ou produtividade, o investimento em meio ambiente não se justificaria neste estágio específico de
desenvolvimento econômico. No auge do regime militar, o Brasil, portanto, defendeu uma agenda que, nos anos
subseqüentes, provaria ser adequada a um país democrático.
A posição brasileira de não aceitar o tratamento multilateral dos temas ambientais de forma isolada e de
associá-lo ao do desenvolvimento econômico representava uma alternativa construtiva e comprovou-se uma opção
política acertada, uma vez que, até hoje, permanecem sob esta ótica as negociações ambientais.

O BRASIL NA CONFERÊNCIA DO RIO

O Brasil, ao assumir a organização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
no Rio de Janeiro, tomou uma decisão que teve importantes repercussões nas políticas interna e externa do País. As
conhecidas conseqüências da má distribuição de renda, no entanto, agravaram-se, sobretudo nas cidades. Na área
ambiental, as circunstâncias brasileiras favoreceram o crescimento do interesse da opinião pública pelo tema, mas
também alimentaram a frustração com a qual o País assistia à destruição desnecessária de alguns recursos naturais –
simbolizada pelas queimadas na Amazônia – e ao desprezo pelo bem-estar das populações.
Uma série de acontecimentos fez de 1988 o ano em que o Brasil se tornou o foco principal do debate ambiental
internacional: “a segunda onda do meio ambiente”, como se refere o Embaixador Luiz Filipe de Macedo Soares,
desencadeada, em grande parte, pela ampla divulgação do Relatório Brundtland, trazia uma agenda que refletia as
preocupações ambientais de uma nova geração nos países desenvolvidos. Não era mais a poluição – que havia sido
satisfatoriamente contornada nos países mais ricos – que dominava a opinião pública: entre as novas preocupações,
estavam a mudança do clima e a perda de biodiversidade. O aumento das queimadas na Amazônia, segundo novos dados
– independentemente de serem ou não confiáveis, recebeu particular destaque na mídia internacional, assim como suas
conseqüências para o clima e a biodiversidade.
O Governo do Presidente José Sarney, apesar de concentrado nos inúmeros problemas internos, teve de tomar
medidas que transmitissem a importância à questão ambiental. O Presidente lançou, em outubro de 1988, no mesmo
mês em que foi adotada a nova Constituição, o Programa Nossa Natureza, que envolvia sete Ministérios. No dia 6 de
dezembro de 1988, o Brasil apresenta sua candidatura para sediar a planejada Conferência de 1992 sobre questões
ambientais. Poucos meses depois, foi decidida a criação IBAMA.
A deterioração da imagem do País no exterior vinha sendo acompanhada com preocupação pelo Itamaraty e,
principalmente, por suas repartições na Europa e nos EUA, onde o Brasil se tornara o grande alvo de grupos
ambientalistas e da imprensa. Foi do Itamaraty que partiu a idéia de sediar a Conferência de 1992 no Brasil. Alguns
diplomatas viram que, naquele momento de crise, a questão do meio ambiente poderia representar uma oportunidade.
Os Embaixadores Flecha de Lima e Nogueira Batista estavam longe de querer assumir, com a decisão de sediar a
Conferência, uma posição de alinhamento às prioridades dos países desenvolvidos: as mudanças na posição brasileira
davam-se muito mais pelas circunstâncias internas, em função da redemocratização e da nova Constituição. O Brasil
podia assumir diante de sua sociedade civil os problemas ligados ao meio ambiente e a dificuldade de combatê-los, mas o
País continuaria a defender que seu desenvolvimento econômico era o melhor caminho e que a soberania sobre seus
recursos naturais era indiscutível.
Ao assumir a Presidência da República, em março de 1990, Fernando Collor anunciou que o meio ambiente seria
uma das suas prioridades. Por ocasião do anúncio oficial de que a Conferência se realizaria no Rio, em agosto de 1990, o
Presidente se autoproclamou líder mundial da causa ambiental.
Durante o período preparatório da Conferência, o Brasil adotou atitude de liderança muito diferente da que
assumira em Estocolmo: a Conferência do Rio havia sido convocada com espírito que resguardava os principais princípios
pelos quais o Brasil havia lutado em Estocolmo. O Brasil teve ativa participação durante o processo preparatório – e
durante a própria Conferência – nas negociações dos cinco documentos que seriam assinados no Rio, nos quais tinha
profundos interesses envolvidos por sua circunstância excepcional de País que reúne, por si só, quase toda a agenda

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ambiental: poluição, florestas, pesca, população, pobreza, biodiversidade, desertificação e seca, recursos do solo,
recursos hídricos, resíduos tóxicos, emissões.
Na Convenção sobre Diversidade Biológica, o Brasil teve de evitar, antes de tudo, o avanço do conceito de que os
recursos biológicos representariam “patrimônio comum da humanidade”. O Brasil conseguiu que se reconhecesse, ao
contrário, a soberania sobre recursos naturais: isto ocorria pela primeira vez em uma Convenção, um passo importante,
pois passava ao direito positivo um Princípio da Declaração de Estocolmo.
O discurso brasileiro, como se viu, foi alterado em função das mudanças internas do País: o Brasil passou a
admitir que o que ocorria dentro de seu território podia ser de interesse dos outros países, mas continuava a ser de sua
inteira responsabilidade.

O BRASIL NA CÚPULA DE JOANESBURGO

Nos dez anos que separam a Conferência do Rio da Cúpula de Joanesburgo, a posição internacional do Brasil no
tocante ao meio ambiente mudou de forma significativa. Por um lado, o foco das maiores críticas do ambientalismo
contemporâneo concentrou-se na globalização, da qual países em desenvolvimento como o Brasil são vistos como
vítimas. Por outro, é reconhecido internacionalmente que o Brasil é um dos países em desenvolvimento que maiores
progressos conseguiu realizar na área ambiental nos últimos anos.
A maior demonstração disso foi a cuidadosa elaboração da Agenda 21 brasileira, apresentada em Joanesburgo,
resultado de cinco anos de trabalho.
Em um das reuniões preparatórias, o Brasil decidiu propor o lançamento de uma iniciativa latino-americana e
caribenha. A proposta foi levada à VII Reunião do Comitê Intersessional do Fórum de Ministros do Meio Ambiente da
América Latina e do Caribe, que se realizou em São Paulo, em maio de 2002. Por decisão unânime das delegações
presentes, foi aprovada a Iniciativa Latino-Americana e Caribenha para o Desenvolvimento Sustentável (ILAC), que
incorporava a Proposta Brasileira de Energia, que continha uma meta para que a região adotasse uma matriz energética
com pelo menos 10% de energias renováveis até 2010.
Em junho de 2002, aconteceu o Seminário Internacional Rio+10, que contou com mais de 1.200 participantes, e
que culminou com a cerimônia simbólica de transferência de sede da Conferência do Rio de Janeiro para Joanesburgo.
O Brasil, desde o início do período preparatório, “adotou firme posição protagonista”. Para esse papel contribuiu
a nomeação, em janeiro de 2001, do Professor Celso Lafer para o Ministério das Relações Exteriores, cargo que já
ocupara no Governo Collor, justamente no período da Conferência do Rio. O envolvimento pessoal do Chanceler nas
negociações no âmbito da OMC109 fortaleceu a sua percepção de que se deviam fortalecer os vínculos entre os
importantes processos negociadores de comércio, financiamento e desenvolvimento sustentável. Ao pronunciar discurso
na Segunda Sessão do Comitê Preparatório, o Chanceler acentuou a importância do processo que se iniciara com as
Reuniões de Doha e Monterrey.
A questão das energias renováveis dividiu tanto os países desenvolvidos quanto o Grupo dos 77 e China. União
Européia e América Latina e Caribe, sob a liderança da Delegação brasileira empreenderam uma verdadeira campanha
para que fosse incorporada ao Plano de Implementação uma meta de fontes renováveis de energia no total da matriz
energética mundial. Esse esforço não conseguiu vencer os obstáculos dos principais países produtores de petróleo e dos
Estados Unidos, mas deixou esses países suficientemente desgastados para que aceitassem a inclusão no texto final de
diversos parágrafos sobre as mudanças necessárias na área de energia, que incluíam desde a menção à eliminação de
subsídios a energias prejudiciais ao meio ambiente, até a recomendação de “com sentido de urgência, aumentar
substancialmente a participação global das fontes de energia renovável”. Esse talvez seja um dos avanços mais
significativos com relação ao Rio, onde os países produtores de petróleo haviam conseguido bloquear as referências a
maiores incentivos às energias renováveis.
Merece registro o apoio da Venezuela a uma meta de renováveis. Outro importante resultado para o Brasil foi o
lançamento da negociação de um instrumento internacional sobre a repartição de benefícios derivados da utilização de
recursos genéticos, no contexto da Convenção sobre Diversidade Biológica. Nas seções sobre globalização e meios de
implementação, o Brasil também atuou como porta-voz do G77 e China.
Na seção de meios de implementação, foi contida a atitude dos países desenvolvidos, principalmente da União
Européia, de procurar introduzir elementos que relativizavam os ganhos de Doha e Monterrey para os países em

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desenvolvimento. O impasse só foi superado graças a um texto alternativo elaborado pela África do Sul e pelo Brasil, que
serviu de base para o difícil consenso.
O Presidente mencionou a meta de 10% da Proposta Brasileira de Energia e a criação do Parque Nacional do
Tumucumaque, “a maior área de proteção de floresta tropical do mundo”. O Brasil, com estes dois exemplos, mostrava
seu empenho em “deter o processo de aquecimento global” e em evitar que se assistisse “passivamente à destruição dos
complexos ecossistemas de que depende a Terra”.
A Delegação do Brasil foi reconhecida, de maneira geral, como uma das mais atuantes na Cúpula de
Joanesburgo: havia coordenado o Grupo dos 77 e China em diversas negociações, e liderado a tentativa de fixação de
uma meta para energias renováveis na matriz energética mundial.

Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas


sobre Mudança do Clima

COP 13
A 13ª. Conferência das Partes das Nações Unidas em Mudança Global do Clima (UNFCCC - COP 13), ocorreu no
período de 3 a 14 de dezembro de 2007 em Bali, na Indonésia, contou com mais de 10.000 participantes, vindos de mais
de 180 países. Entre os principais resultados esperados da conferência estavam a definição de novos limites para
emissões de gases do efeito estufa (GEE) nos países desenvolvidos e formas de se incluir incentivos positivos para
redução do desmatamento nos países em desenvolvimento.
A Conferência foi marcada por negociações intensas e o constante receio de um final sem resultados concretos.
Outro causador do impasse foram os EUA, que bloquearam grande parte das negociações e ao final, somente acabaram
cedendo em pontos essenciais sem os quais não seria possível seguir adiante, à base de muita pressão por parte das
ONGs e de outros países. O texto que estava sendo bloqueado pelos EUA buscava estabelecer cortes futuros de até 40%
nas emissões globais de GEE – segundo recomendações da comunidade científica. Os EUA exigiram que fossem excluídos
os números citados que serviriam de guia para o acordo conhecido como o “mapa do caminho” de Bali, que determinará
o rumo das ações da Convenção no período pós-protocolo de Kyoto e cuja negociação se iniciou em Bali e será concluída
em Copenhagen, em 2009.
Desde a abertura da agenda sobre RED (Redução de Emissões por Desmatamento nos Países em
Desenvolvimento) na UNFCCC, durante a COP 11 em Montreal no ano 2005, o Governo Brasileiro teve papel
determinante sobre o rumo das negociações. Segundo emissor mundial de carbono por desmatamento, atrás somente
da Indonésia, foi somente com o apoio do Brasil que a agenda sobre RED pode tomar o nível de importância
que ocupa hoje.
Ainda que apóie a inclusão de “incentivos positivos” para a redução de emissões por
desmatamento (RED), o Brasil sempre foi contrário ao vinculo destes incentivos com mecanismos de mercado, ou seja, o
fornecimento de incentivos positivos não poderia estar
relacionado a transferência de “créditos” pelas reduções nas emissões do desmatamento. O Brasil defende sozinho esta
posição. Todos os demais países em desenvolvimento são favoráveis a mecanismos de mercado, com a justificativa de
que somente desta forma seria possível captar os recursos necessários para conter o desmatamento tropical.

COP 14

A 14ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-14) e a 4ª
Reunião das Partes do Protocolo de Quioto (MOP-4) realizaram-se na cidade polonesa de Poznan, entre os dias 01 e 13
de dezembro de 2008. Dados divulgados pela Secretaria da CQNUMC mostram que as emissões dos países
industrializados signatários do Protocolo de Quioto estão em ascensão desde 2000, embora estejam 17% abaixo do nível
de 1990, por conta tão-somente do desaquecimento econômico

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dos países do Leste Europeu após a queda do muro de Berlim.
Hoje se sabe que as metas estabelecidas em Quioto, em média 5% dos níveis de emissões de 1990, são muito
inferiores ao esforço global enunciado pelo IPCC como necessário à estabilização do clima: de 25% a 40% em relação a
1990, no ano de 2020, e entre 80%-95%, em 2050. Diante da necessidade de impor metas mais ambiciosas de redução de
emissões aos países Anexo I e engajar os países em desenvolvimento, principalmente os grandes emissores como China,
Índia e Brasil, em esforços mais efetivos contra o aquecimento global, lançou-se na COP-13, o Plano de Ação de Bali
visando à conclusão de novo acordo global na COP-15, ao final de 2009. O acordo deverá compreender os quatro
elementos fundamentais da mitigação, adaptação, financiamento e transferência de tecnologia.
A COP-14 de Poznan significou avanço nas discussões do Plano de Ação de Bali. Os representantes dos países
partes da Convenção do Clima deixaram a Polônia com um programa de trabalho claro para 2009, saindo do período de
proposições e idéias para entrar em negociações intensas sobre as propostas colocadas à mesa, compiladas no “assembly
document” (FCCC/AWGLCA/2008/16/Rev.1).
O documento elaborado pelo Presidente do Grupo de trabalho sobre Ações Cooperativas a Longo Prazo (AWG-
LCA), Ministro do Itamaraty Luiz Alberto Figueiredo Machado, reúne as propostas dos países sobre os cinco elementos
previstos no Plano de Ação de Bali: i) visão compartilhada sobre ações cooperativas a longo prazo; ii) mitigação; iii)
adaptação; iv) transferência de tecnologia; e v) financiamento.
A grande questão reside na base de comparação que será usada para mensurar a redução de emissões por
desmatamento. O Brasil, por exemplo, vem defendendo desde a COP-12, que o país deve ser recompensado após a
demonstração da efetiva redução em relação à média de emissões dos anos anteriores.
COP 15
Lula reúne ministros para tratar de proposta que será levada à conferência de mudanças climáticas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reúne hoje (13/10/2009) alguns de seus ministros para discutir a posição
brasileira que será levada à Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas, marcada
para dezembro, em Copenhague (Dinamarca). O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, defenderá o plano ambicioso
de redução obrigatória de 80% do desmatamento e de 40% das emissões de dióxido de carbono em relação a 1990, até
2020. A regra valeria para todos os países, independentemente do grau de desenvolvimento. “Se fizermos o nosso dever
de casa, teremos uma posição forte.
No último dia 9, representantes de aproximadamente 190 países encerraram encontro, na Tailândia, sem
grandes avanços na consolidação de um acordo para complementar o Protocolo de Quioto, que começa a vencer em
2012. Um dos principais entraves é uma nova meta de emissão de carbono para os países desenvolvidos. O protocolo é
um acordo que estipula metas de redução das emissões dos gases causadores do efeito estufa.
Para os cientistas, as nações industrializadas precisam, nos próximos dez anos, reduzir as suas emissões entre
25% e 40% em relação aos níveis de 1990 com o objetivo de evitar uma elevação de 2 graus Celsius (ºC) na temperatura
do planeta. No entanto, o percentual mais cogitado não ultrapassa os 23%. Mesmo diante da falta de acordo na
Tailândia, Minc acredita que o cenário será outro em Copenhague, pois os países estariam guardando “cartas no bolso do
colete” para as futuras negociações.
Ontem (12), em seu programa de rádio semanal, Café com o Presidente, o presidente Lula voltou a defender a
medição de quanto cada país emite de carbono e que os países sejam responsabilizados.

Desenvolvimento Sustentável
Desenvolvimento sustentável é um conceito sistémico que se traduz num modelo de desenvolvimento global que
incorpora os aspectos de desenvolvimento ambiental no modelo de desenvolvimento sócio-económico. Foi usado pela
primeira vez em 1987, no Relatório Brundtland, um relatório elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, criado em 1983 pela Assembleia das Nações Unidas.

Biodiversidade

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O Brasil atribui importância fundamental à questão da diversidade biológica. País possui a maior cobertura florestal
tropical do mundo e a mais rica biodiversidade do planeta.
 Só a Amazônia abriga cerca de um terço das florestas tropicais do mundo
 Abriga a maior bacia de água doce do planeta;
 63,7% da região amazônica encontra-se em território brasileiro

Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) - aberta para assinatura dos Estados durante a Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, em 1992, tem como objetivos a conservação da
diversidade biológica, o uso sustentável de seus componentes e a repartição justa e eqüitativa dos benefícios resultantes
da utilização dos recursos genéticos.
Além disso, a Convenção reconhece a soberania dos Estados sobre seus recursos genéticos, bem como o direito de cada
Estado determinar, por lei nacional, o regime de acesso aos recurso de sua biodiversidade.
 O Brasil foi o primeiro país a assinar a Convenção, durante a Rio-92, e ratificou-a em 1994.

O Brasil tem sido um dos países mais atuantes nas negociações nos órgãos estabelecidos pela Convenção, em razão da
importância estratégica dos recursos da diversidade biológica para o desenvolvimento econômico e social do país.
 O principal desses órgãos é a Conferência das Partes (COP), que reúne os Estados-Parte da CDB a cada dois anos.
 O Brasil sediou e presidiu a Oitava Conferência das Partes (COP-8), em Curitiba, em março de 2006.

Durante a Sexta Conferência das Partes na Convenção sobre Diversidade Biológica, celebrada na Haia, em 2002,
acordou-se a meta de reduzir significativamente o ritmo de perda da biodiversidade até 2010.
 Essa meta foi ratificada durante a Cúpula das Nações Unidas de Joanesburgo (2002), que também enfatizou a
importância de concluir a negociação do regime internacional de acesso e repartição de benefícios antes de 2010.
 Brasil atribui grande importância a tal objetivo.
 Para o Brasil, o tema da repartição de benefícios derivados da utilização de recursos genéticos e de
conhecimentos tradicionais associados é central no contexto da CDB.
 Durante a COP-8, as Partes decidiram adotar, em 2010, um acordo internacional com normas obrigatórias sobre
a repartição de benefícios para coibir a biopirataria e garantir que os benefícios monetários e não-monetários oriundos
da utilização dos recursos da biodiversidade sejam repartidos com os países de origem desses recursos.
 Espera-se que esse regime, uma vez concluído, possa levar à efetiva implementação do terceiro objetivo da
Convenção e auxiliar no combate à biopirataria e na proteção dos conhecimentos tradicionais dos povos indígenas e
comunidades locais.
 No âmbito da CDB, são discutidos, ainda, temas de grande relevância para o Brasil, como a preservação da
biodiversidade de ecossistemas específicos (por exemplo, florestas e áreas marinhas e costeiras), a biodiversidade
agrícola, a transferência de tecnologia e a cooperação tecnológica.

Biocombustíveis

A crescente demanda por energia nas economias emergentes vem exercendo grande pressão na capacidade mundial
instalada de extração de petróleo. O Brasil tem muito a contribuir para essa discussão, pois é detentor de importante
conhecimento acumulado na área de biocombustíveis, em particular no uso de etanol de cana-de-açúcar como
combustível automotivo.

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 A matriz energética brasileira é uma das mais limpas do mundo
 Mais de 45% de toda a energia consumida no país provém de fontes renováveis, ao passo que a média de
participação dessas fontes na matriz energética dos países desenvolvidos é de cerca de 10%.
 Isso se traduz em nítida vantagem para a posição do país no contexto atual, em que as preocupações com a
segurança energética e com o meio ambiente têm levado diversos países a buscar alternativas aos combustíveis fósseis e
a tentar implementar iniciativas para reduzir suas emissões de gases geradores de efeito estufa (GEE).

Biossegurança

As questões que envolvem a biossegurança e, em particular, os organismos geneticamente modificados (OGMs) têm sido
alvo de intenso debate na sociedade. Com vistas a estabelecer um regime internacional sobre a biossegurança, foi criado
um Protocolo sobre Biossegurança à Convenção sobre Diversidade Biológica (Protocolo de Cartagena).

Protocolo de Cartagena:
 Adotado em 29 de janeiro de 2000 - entrou em vigor em 11 de setembro de 2003.
 O Protocolo visa contribuir para assegurar um nível adequado de proteção no campo da transferência, da
manipulação e do uso seguros dos organismos vivos modificados resultantes da biotecnologia moderna que possam ter
efeitos adversos na conservação e no uso sustentável da diversidade biológica, levando em conta os riscos para a saúde
humana, e enfocando especificamente os movimentos transfronteiriços.
 O Brasil tem papel singular no contexto do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança, uma vez que é, ao
mesmo tempo, país megadiverso, usuário de OGMs e o maior exportador agrícola a aderir ao Protocolo.
 O País busca, assim, promover perspectiva ampla que equilibre desenvolvimento científico, proteção à
biodiversidade e à saúde humana e interesses de países importadores e exportadores, levando em conta as necessidades
dos países em desenvolvimento.
Durante a Terceira Reunião das Partes no Protocolo (MOP-3), realizada em Curitiba em março de 2006, foi adotada
decisão sobre regras detalhadas de identificação de carregamentos de OGMs destinados à alimentação humana ou
animal, ou para processamento.
 Estão em curso discussões sobre o estabelecimento de um regime sobre responsabilidade e compensação por
danos resultantes de movimentos transfronteiriços de OGMs no âmbito do Protocolo.
 Link para o Protocolo de Cartagena: http://www.cbd.int/biosafety

Florestas

Desde a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, celebrada no Rio de Janeiro em 1992
(Rio-92), o debate internacional sobre florestas tem alcançado papel de crescente importância na agenda internacional.
O tratamento abrangente das questões relacionadas ao manejo sustentável dos recursos florestais é requisito importante
nas negociações internacionais, consagrado nos Princípios sobre Florestas, na Agenda 21, e no Fórum das Nações
Unidas sobre Florestas (UNFF), criado pela Resolução 2000/35, do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas
(ECOSOC), cujo mandato foi prorrogado até 2015 pela Resolução 2006/49 do ECOSOC.
 O Brasil vem participando ativamente das discussões sobre florestas no plano multilateral, nas quais defende um
tratamento equilibrado do tema, focalizando a atenção devida a todos os sistemas florestais (tropicais, boreais e
temperados) e no tratamento abrangente (econômico, comercial, social, cultural e ambiental) das questões relacionadas
ao manejo sustentável dos recursos florestais.
 O debate sobre florestas envolve, portanto, assuntos de extrema relevância, como a conservação e uso
sustentável da biodiversidade, a proteção dos recursos hídricos, a promoção do desenvolvimento sustentável e a
repartição justa e eqüitativa dos benefícios resultantes da utilização de recursos genéticos e de conhecimentos
tradicionais.

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O Fórum das Nações Unidas sobre Florestas - UNFF é o foro multilateral de cunho universal inteiramente dedicado à
concertação de posições e interesses sobre o assunto.
 O Foro integra o novo arranjo internacional sobre florestas e foi criado com vistas a dar continuidade aos
processos do Painel Intergovernamental sobre Florestas (IPF), de 1995 a 1997, e do Fórum Intergovernamental sobre
Florestas (IFF), de 1997 a 2000.
 O objetivo do UNFF é a promoção do manejo, a conservação e o desenvolvimento sustentável de todos os tipos
de florestas, bem como fortalecer o compromisso político na área.
 A 7ª Sessão da UNFF realizou-se em abril de 2007 e aprovou “Programa Plurianual de Trabalho”, bem como
“Instrumento Juridicamente Não Vinculante Sobre o Manejo Sustentável de Todos os Tipos de Florestas”, os quais
nortearão as atividades do Foro até 2015.

O arranjo internacional conta, ainda, com a Collaborative Partnership on Forests (CPF), criada em 2001, que
congrega importantes instituições internacionais como a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação
(FAO), o Banco Mundial, o Centro Internacional de Pesquisa Florestal (CIFOR), a Organização Internacional de Madeiras
Tropicais (OIMT), a União Internacional de Instituições de Pesquisa Florestal (IUFRO), o Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD), o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o Centro Mundial
Agroflorestal (ICRAF), União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), além dos
Secretariados da Convenção de Diversidade Biológica (CDB), do Foro das Nações Unidas sobre Florestas (UNFF), e da
Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). O CPF tem como meta apoiar o trabalho do UNFF e de
seus países membros na promoção da cooperação internacional sobre o tema.
Outro foro relevante nessa área é o Comitê de Florestas da FAO (COFO). Com orientação mais técnica, o Comitê
de Florestas, bem como suas Comissões Regionais, mantêm relação com o UNFF, de modo a constituir uma via de mão-
dupla entre diretrizes políticas e deliberações técnicas, contribuindo para a implementação de ações concretas nos
planos nacional, regional e internacional.

 O Brasil ocupa posição de destaque no que se refere ao tema das florestas.


 Com 478 milhões de hectares de floresta em seu território (12% de toda a cobertura florestal mundial) e
abrigando de 15 a 20% de toda biodiversidade e 16% de toda água doce superficial do planeta, o País é ator protagônico
em todos os foros internacionais sobre o assunto.
 É do interesse do País que as discussões sejam sempre pautadas pelo princípio da soberania de cada Estado
sobre os seus recursos naturais (consagrado e reconhecido internacionalmente pelo Princípio 2 da Declaração do Rio
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento).
 O Brasil tem defendido que o incremento da cooperação internacional em matéria de meio ambiente constitui o
único caminho para atingir os objetivos acordados no plano global de promoção do desenvolvimento sustentável. O
incremento da assistência financeira e técnica e da transferência de tecnologia por parte dos países industrializados
constitui elemento essencial nesse contexto, com base no princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas
dos Estados, pela preservação do meio ambiente, à luz de sua contribuição histórica pela degradação do planeta
(Princípio 7 da Declaração do Rio).

Espécies Ameaçadas

Conforme estimativas, o mundo perde 27.000 espécies ao ano – ou 74 ao dia. Há estudos mais alarmistas que chegam a
calcular em 150.000 o número de espécies que desaparecem anualmente. Diante desse quadro, foram celebrados
diversos tratados sobre conservação e uso sustentável da vida selvagem e da biodiversidade.

Dentre as convenções que fornecem o arcabouço legal para o tratamento diferenciado das espécies consideradas
ameaçadas de extinção, podem-se citar a:

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 Convenção para a Proteção da Flora, da Fauna e das Belezas Cênicas Naturais dos Países da América;
 Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo de Extinção
(CITES);
 Convenção sobre Diversidade Biológica – CDB.

A Convenção para a Proteção da Flora, da Fauna e das Belezas Cênicas Naturais dos Países da América, em vigor para o
Brasil desde 26 de novembro de 1965 (Dec. nº 58.054/66), estabelece, em seu artigo VII, que os países adotarão medidas
apropriadas “para evitar a extinção que ameace a uma espécie determinada”. O artigo IX define que cada um dos países
tomará as medidas necessárias para a superintendência e regulamentação das importações, exportações e trânsito de
espécies protegidas da flora e da fauna.

A Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (CITES),
na qual o Brasil é Parte desde 1975 (Dec. nº 76.623/75), tem por objetivo controlar e fiscalizar o comércio internacional
de espécies da fauna e flora silvestres ameaçadas, suas partes e derivados, com base num sistema de licença e
certificados.
 Contando atualmente com 173 Estados Partes, a CITES tem sua atuação restrita às transações que envolvam o
comércio internacional. Não leva em consideração, portanto, outros fatores de ameaça, como o comércio ilegal dentro
dos limites de cada país.
 As espécies que sofrem o controle da CITES são definidas por meio de acordo entre as Partes e listadas nos
anexos I, II e III da Convenção, de acordo com o grau de ameaça a que estão submetidas.
 O Apêndice I inclui as espécies ameaçadas de extinção, para as quais o comércio é apenas permitido em
circunstâncias excepcionais.
 O Apêndice II inclui espécies não necessariamente ameaçadas de extinção, para as quais o comércio deve ser
controlado a fim de evitar práticas incompatíveis com a sua sobrevivência.
 O Apêndice III inclui espécies que são protegidas em pelo menos um país que tenha solicitado a outras partes
assistência no controle do comércio.
 No total, a proteção da CITES se estende a cerca de 34.000 espécies de plantas e animais.

Dentre outras Convenções relevantes, cabe destacar a Convenção Interamericana para a Proteção e
Conservação das Tartarugas Marinhas, ratificada pelo Brasil em 2001. O objetivo oficial da Convenção é "promover a
proteção, a conservação e a recuperação das populações de tartarugas marinhas e dos habitats dos quais dependem,
com base nos melhores dados científicos disponíveis e considerando-se as características ambientais, socioeconômicas e
culturais das Partes." O Brasil é signatário, também, do Acordo para Conservação de Albatrozes e Petréis (ACAP),
instrumento firmado no âmbito da Convenção sobre a Conservação de Espécies Migratórias de Animais Silvestres (CMS
ou Convenção de Bonn).
Ambos instrumentos estão sendo analisados internamente, com vistas a sua ratificação. O País, ponto de
ocorrência de diversas espécies contempladas no Acordo, participou ativamente do seu processo negociador.

Tráfico de Animais Silvestres

Segundo algumas estimativas, o comércio ilegal de vida silvestre movimenta de dez a vinte bilhões de dólares ao ano, o
que a torna a terceira atividade ilícita mais rentável do planeta, atrás apenas do tráfico de armas e de drogas.
Existem, basicamente, quatro tipos de tráfico ilegal de fauna. São eles o tráfico:
1. de animais para colecionadores e zoológicos privados;
2. de animais para fins de pesquisa e produção de medicamentos (biopirataria);
3. de animais para uso doméstico; iv) de produtos da fauna, muito utilizados para fabricar adornos e artesanatos.

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Segundo dados do primeiro Relatório Nacional sobre Tráficos de Animais Silvestres, produzido pela Renctas (Rede
Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres) em parceria com o Ministério do Meio Ambiente:
 5% a 15% do total mundial do tráfico de animais silvestres correspondem a espécies brasileiras.
 No Brasil, o tráfico é responsável, anualmente, pela retirada de cerca de 38 milhões de espécimes de seus
ambientes naturais. Destes, apenas cerca de quatro milhões chegam aos consumidores finais, o restante sendo perdido
durante as fases de captura e transporte.
 É estimado que para cada produto animal comercializado são mortos pelo menos três espécimes. Para o
comércio de animais vivos esse índice é ainda maior: de dez animais traficados apenas um sobrevive.

Além de impactos sobre as espécies, a retirada de animais silvestres de seus habitats naturais pode acarretar
implicações negativas para a saúde pública. A prática pode aumentar a incidência de determinados tipos de doenças em
populações humanas, uma vez que a falta de controle sanitário potencializa sua transmissão.
Em janeiro de 2006, foi lançada a I Campanha Internacional contra o Tráfico de Animais Silvestres, em parceria
com o Ministério do Meio Ambiente e a Renctas. A campanha visa a mobilizar a comunidade internacional no combate a
tal atividade ilícita, que acarreta danos à biodiversidade, particularmente dos países em desenvolvimento.

Recursos Hídricos

O Brasil detém 12% das reservas de água doce do planeta, perfazendo 53% dos recursos hídricos da América
do Sul, posição que o coloca em situação de destaque no contexto internacional. Para o País, a água é recurso natural
estratégico, cuja gestão integrada recai no âmbito da soberania nacional e constitui responsabilidade do Estado perante
seus cidadãos.
A gestão dos recursos hídricos deve estar orientada pela Agenda 21 e referir-se aos princípios contidos na
Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em particular o princípio 2, que consagra o direito
soberano dos Estados de explorar seus recursos naturais segundo suas próprias políticas nacionais.
O Brasil vem buscando promover iniciativas com o objetivo de fortalecer a cooperação em manejo de recursos
hídricos, a fim de garantir pleno acesso à água às populações da região. No seio da Organização do Tratado de
Cooperação Amazônica (OTCA), os recursos hídricos representam área fecunda para a cooperação, por conta do enorme
potencial hídrico compartilhado pelos países da bacia amazônica.
No plano bilateral, por meio de diversos acordos, o Brasil e seus vizinhos colaboram com vistas à gestão
integrada dos recursos hídricos fronteiriços e transfronteiriços.
O principal evento internacional em matéria de recursos hídricos é o Foro Mundial da Água, que se realiza a
cada três anos. O evento na Cidade do México congrega representantes de Governo, organizações internacionais e ONGs
interessadas nesse campo.
No que respeita à proteção e manejo sustentável de áreas úmidas, o Brasil é parte, desde 1993, da Convenção
Ramsar, em vigor desde 1975, a qual, embora originariamente voltada à preservação dos habitats das espécies
migratórias de aves aquáticas, ganhou, ao longo do tempo, novas prioridades relacionadas ao uso sustentável da
biodiversidade e à gestão dos recursos hídricos. O País possui oito áreas inscritas na Lista Ramsar de Sítios de Áreas
Úmidas de Importância Internacional, cuja gestão é coordenada pelo MMA. São eles:
 Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá (AM);
 Reentrâncias Maranhenses;
 Parque Nacional do Araguaia;
 Parque Nacional do Pantanal Matogrossense;
 Parque Nacional da Lagoa do Peixe (RS);
 Parque Nacional Marinha de Parcel Luiz (MA);
 Área de Proteção Ambiental da Baixada Maranhense e;

97
 Reserva Particular do Patrimônio Natural do SESC Pantanal (MT).

No âmbito da Convenção Ramsar, o Brasil faz parte, ainda, da Iniciativa de Poconé, voltada para a proteção do sistema
Paraguai-Paraná, envolvendo representantes governamentais e não-governamentais da Argentina, Bolívia, Brasil,
Paraguai e Uruguai.
 No contexto dessa Iniciativa, foi produzida a “Ata de Poconé”, que estabelece diretrizes para uma agenda de
cooperação na gestão do sistema de áreas úmidas Paraguai-Paraná.

Desertificação

A desertificação e a degradação da terra representam sérios problemas globais. Atualmente, esses fenômenos afetam
33% da superfície terrestre e atingem cerca de 2,6 bilhões de pessoas. A área global atingida pela seca aumentou mais
de 50% ao longo do século XX.
 Na América Latina, mais de 516 milhões de hectares sofrem os efeitos da desertificação.
 Como resultado desse processo, perdem-se 24 bilhões de toneladas por ano da camada arável do solo, o que
afeta negativamente a produção agrícola e o desenvolvimento sustentável.
 A Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD), aprovada em 1994 e ratificada pelo
Brasil em 1997, conta hoje com 191 Partes e constitui o maior esforço empreendido pela comunidade internacional na
área do combate à desertificação.
 Seu objetivo é combater a desertificação e mitigar os efeitos da seca em países cujos territórios compreendam
zonas áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas, por meio de estratégias integradas de longo prazo baseadas no aumento da
produtividade da terra e na reabilitação, conservação e gestão sustentada dos recursos em terra e hídricos.
 A UNCCD estabelece que os Estados Partes desenvolvidos deverão mobilizar recursos financeiros e facilitar, por
meio da cooperação internacional, a transferência de tecnologia para os países em desenvolvimento afetados.
 A Convenção reconhece que a África, como região mais gravemente afetada pela degradação do solo, deve ser a
principal beneficiária da cooperação internacional dirigida ao combate à desertificação.
 O Brasil e os demais países da América Latina empenharam-se, desde a fase preparatória da Convenção, em
caracterizar a desertificação como problema global, sem deixar de reconhecer a situação especialmente grave do
continente africano.
 Por iniciativa dos países latino-americanos, e em particular do Brasil, foram estabelecidos Anexos de
implementação regional da Convenção, que contemplam ações de combate à desertificação específicas para regiões do
planeta afetadas pela degradação do solo (como exemplo, cite-se o Anexo III, relativo à América Latina e ao Caribe).

BRASIL E MEIO AMBIENTE - LARISSA

A Ordem Ambiental Internacional

- Um dos objetivos do interesse nacional é manter a soberania. Na ordem ambiental internacional, a soberania está
salvaguardada na maior parte dos documentos.
- A teoria da interdependência é sempre lembrada entre analistas, sua justificativa é o caráter transnacional dos
problemas ambientais. Porém, apesar do reconhecimento desse fator, os países não estão dispostos a cooperar, mas sim
a aproveitar novas oportunidades.
- Fato mais relevante: surgimento de novos atores (CNUMAD foi a primeira reunião da ONU que permitiu a participação
da sociedade civil organizada). ONGs fiscalizam as ações dos países e aumentam o interesse do grande público.

Dos primeiros tratados à Conferência de Estocolmo

98
- Primeiras tentativas de se estabelecer tratados internacionais que regulassem a ação humana sobre o meio ambiente
remontam a 1900 → regular a caça na África; elaboração de um calendário para a prática da caça. Convenção para a
Preservação da Fauna e da Flora em seu Estado Natural (1902). Os resultados das primeiras convenções não foram
satisfatórios.
- Tratado Antártico: Chile e Argentina reclamavam o território, mas no ambiente de GF, de nada valeu o argumento do
princípio da precedência de ocupação. A primeira reunião foi a Conferência de Paris de 1955. EUA e URSS implantaram
bases, a GF ganhou uma roupagem científica.
1959 – Tratado Antártico – estabeleceu o intercâmbio científico entre as bases científicas, garantindo a “diplomacia
Antártica” (novos países foram incorporados as tratado). A capacidade de produzir conhecimento a partir de bases
científicas passou a ser a medida para integrar-se aos países que tiveram o direito de ocupá-la. O último prazo para iniciar
a exploração acabou em 1991.

Emergência da Temática Ambiental na ONU

- O embrião das discussões ambientais da ONU surgiu na FAO – tratou da conservação dos recursos naturais. A grande
preocupação era a perda de solo, causada pela aceleração de processos erosivos decorrentes da retirada da cobertura
vegetal.

UNESCO

- Até 1970, foi o principal organismo da ONU a abordar a questão ambiental.

 Conservacionismo: uso racional dos elementos dos ambientes naturais da Terra, apropriação humana cautelosa,
respeito à capacidade de reprodução e reposição das fontes dos recursos.
 Preservacionistas: intocabilidade dos sistemas naturais. Terrorismo ecológico (anos 90) – destruição de
plantações de oguns, destruição de ícones da sociedade de consumo, formação de comunidades alternativas
impulsionadas pelo movimento da contracultura. Terroristas verdes.
- As ações da UNESCO embasam-se no conservacionismo.

 Conferência da ONU para a conservação e utilização dos recursos (1949) – Conjunto com a FAO e OMS. Criação
de um ambiente de discussão acadêmica diante da pressão sobre os recursos.
 Conferência da Biosfera (1968) – Conjunto de OIs. Discutiu-se o impacto das ações humanas na biosfera.
Acreditava-se que o conhecimento científico resolveria os problemas. Surge o capitalismo verde → propor
soluções técnicas decorrentes da produção industrial em larga escala, abrindo, na verdade, novas oportunidades
para a reprodução do capital. O objetivo central do programa “O homem e a biosfera” era promover mais
conhecimento sobre a biosfera, mas a grande marca foram as chamadas “Reservas da Biosfera”, áreas de
preservação ambiental distribuídas pelos países para pesquisa. As reuniões envolveram poucos países e não
conseguiram dar à população mundial visibilidade sobre a questão ambiental. Os temas, apesar de afetarem
diretamente a vida humana, não indicavam riscos na escala que os estudos ambientais vão tornar públicas nos
anos 80 e 90.

A Conferência de Estocolmo

- Marca o ambientalismo internacional e inaugura um novo ciclo nos estudos das relações internacionais. Foi denominada
de Conferência sobre Meio Ambiente Humano. Apesar da mobilização alcançada pela Comissão Preparatória, outros
eventos exerceram influência:
 Mesa Redonda de Especialistas de Founex: metas diferentes para países centrais e periféricos. Foram lançadas
as bases do conceito de desenvolvimento sustentável.
 Clube de Roma
- Alem da poluição atmosférica, discutiu-se acerca da poluição da água, do solo e do crescimento demográfico. Apenas
dois chefes de estado compareceram.
- População X Recursos Naturais?
 Baseados em uma releitura da Malthus, alguns autores propunham o controle do crescimento populacional. O
Clube de Roma foi o maior propagador dessas idéias, produziu um relatório que influenciou sobremaneira as
decisões ambientais. Diversos países, como o Brasil adotaram políticas demográficas.
- Crescimento X Desenvolvimento

99
 Duas teses capitanearam as discussões: 1) crescimento zero: barrar o crescimento econômico de base industrial
e 2) desenvolvimentista: reivindica o desenvolvimento trazido pelas indústrias.
 Parte das ONGs aderiram à tese do crescimento zero, influenciadas pelas idéias do Clube de Roma, os países
periféricos insurgiram-se contra esse argumento. A posição desenvolvimentista saiu vitoriosa.
- Países do Leste Europeu, bastante poluidores, não participaram, pois não foi dado direito de voz à ala oriental
- O grande enfrentamento-China –autonomia dos países na adoção de restrições ambientais
- Predominou o realismo político, a soberania dos países foi salvaguardada, de maneira tímida assistiu-se a participação
das ONGs. A mais importante deliberação foi a indicação da necessidade de se criar o PNUMA.

Programa das Nações unidas para o Meio Ambiente

- Estabelecido em 1972, passou a atuar em 1973. A criação não foi fácil, os países periféricos acreditavam que serviria
para frear o desenvolvimento. PNUMA nasceu esvaziado e foi ganhando força.
- Primeira discussão: sede. Fixada em Nairobi, longe das manifestações das ONGs, das atenções e recursos. Instalações
após 11 anos.

Conferência de Nairobi – 1982

- Avaliar a atuação do programa: avaliou o que fora implementado a partir do Plano de Ação e constatou que pouco se
tornara realidade. Reforçou-se a máxima de que a pobreza é a maior fonte de degradação ambiental. Mais uma vez, foi
poupado de críticas o estilo de vida opulento da sociedade de consumo. A discussão ainda estava voltada para a poluição
e suas conseqüências
- Apesar das duras críticas, o PNUMA cresceu e envolve muitas áreas, após a criação do PNUMA, os outros organismos
deixaram das questões ambientais em segundo plano.

De Estocolmo à Rio 92

- Incremento na ordem ambiental internacional, aumento do conhecimento científico (em especial sobre a camada de
ozônio), ação mais contundente das ONGS, organização de eventos importantes.
 Convença sobre Comércio Internacional de Espécies de Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção: espécies
vistas como reserva de valor, dados os avanços em campos como a engenharia genética e a biotecnologia, no
entanto, o principal argumento era o valor comercial das espécies, em especial, as exóticas, a CITES representa
uma tentativa de controle sobre as espécies em extinção.
 Convenção sobre Poluição Transfronteiriça de Longo alcance: CPT, em vigor em 1883. Estabelecer medidas de
redução da poluição do ar. Recusa dos EUA, RU e Polônia esvaziou de propósito o conteúdo.
 Convenção de Viena e Protocolo de Montreal: controle de substancias que destroem a camada de ozônio.
Convenção de Viena: decisões brandas, incerteza cientifica, cooperação técnica, decisão de realizar novas
rodadas.
 1985: divulgação do desaparecimento da camada de ozônio na Antártida, câncer de pele do presidente Reagan:
clamor da opinião pública.
 1987: Protocolo de Montreal: metas quantitativas e prazos para eliminação de substâncias. Distinção entre
países centrais e periféricos possibilidade de uma parte transferir ou receber as substâncias em questão.
Passados mais de 10 anos, verifica-se uma efetiva diminuição das emissões, mesmo nos países periféricos.

A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento


-1989 - Brasil apresentou-se como candidato à sede (devastação da Amazônia e assassinato de Chico Mendes
sensibilizaram os delegados, a escolha do Brasil representaria uma forma de pressão velada).
- Rearranjo das relações internacionais sobre a temática ambiental, mobilização de lideranças políticas, participação das
ONGs.
- Desenvolvimento Sustentável: as ações humanas dirigidas para a produção de coisas necessárias à reprodução da vida
devem evitar a destruição do planeta, permitir às gerações vindouras condições de habitabilidade.
- Durante a década de 70, tomou corpo uma discussão que procurava aproximar a produção econômica e a conservação
ambiental. Os presságios de uma nova concepção ao esboçados em Founex (71), gerando o conceito de
ecodesenvolvimento. A formulação teve continuidade com a Declaração de Coyococ (México) e a UNCTAD (1974). A
consolidação do conceito na comunidade internacional veio mais tarde, a partir do trabalho da Comissão Mundial para o
Meio ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), criada de 1983. Essa assembléia foi presidida pro Gro Harlem Bruntland. O
documento mais importante produzido foi o relatório “Nosso Futuro Comum”, no qual se encontra a definição mais

100
empregada de DS: aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações
futuras atenderem as suas próprias necessidades.
- Segurança Ambiental Global: necessidade de manter as condições de reprodução da vida humana.
- Decisões da CNUMAD:
5) Convenção sobre a Diversidade Biológica: Preocupações com e a exposição da espécie humana a
microorganismos ainda desconhecidos, possibilidade de livrar-nos da dependência de recursos não-renováveis,
alimentos mais protéicos, novos remédios, restrição a poucos grupos transacionais. EUA não firmam a CB,
recusava-se a pagar pelos seres vivos. Tese americana era de patentear os seres vivos.
6) Declaração sobre Florestas: enfrentamento entre EUA e a Malásia. Malásia firmava posição na direção da não
preservação, justificando que os países periféricos não poderiam alterar seu modelo econômico. Os EUA,
preocupados em manter as fontes para desenvolver pesquisas em biotecnologia, insistem em medidas mais
rígidas. Os EUA forma derrotados em sua política externa. Clinton assinou, mas ainda não foi ratificada.
7) Convenção de Mudanças Climáticas: Polarização entre os EUA e a Malásia (apoio dos países das ilhas do Pacifico
em torno de Tuvalu). Japão oscilou, mas acabou convencido pelos EUA de que as mudanças climáticas não
representavam tanto perigo. Os EUA tinham também os países exportadores de petróleo.
8) Agenda XXI: repasse de recursos. Ausência de recursos esvaziou a Agenda XXI.
9) Declaração do Povo da Terra, Declaração do Rio e Carta da Terra: tratados de ONGs

Brasil:

- Conferência de Estocolmo: criação da Secretaria Especial de Meio Ambiente, em 1973. Criação de parques nacionais de
conservação. Ate o final da década de 70, houve ainda grande desenvolvimento de legislação ambiental. Brasil continuou
a participar ativamente dos fóruns internacionais, defendendo o conceito de soberania absoluta. Em 1978, firmou o
Tratado de cooperação Amazônica, que pretende promover o desenvolvimento da região sem causar danos ao meio
ambiente.

Mudanças Climáticas

1992: CNUMAD: dois documentos vinculantes: Convenção sobre Mudanças Climáticas e convenção sobre Biodiversidade.
A partir de então, tem-se conferências-quadros anuais. São, contudo, acordos vazios. EUA recusam-se a aceitar qualquer
compromisso mais efetivo, não há metas ou prazos. Para complementá-los cria-se o Protocolo de Quioto.

1997: Protocolo de Quioto:


 Aprofundamento da Convenção de 1992.
 Há compromissos específicos: redução das emissões de gases estufa em 5,2% com base nos níveis de 1990,
entre 2008 e 2012.
 Compromisso apenas para os países do chamado Anexo 1.
 Entrada em vigor em 2005. Para tanto, foi necessária a ratificação de um número de países que somassem 55 %
do total de emissões mundiais.
 Ausências mais notadas: EUA (responsável por 25% das emissões). No entanto, há crescente isolamento do
Executivo norte-americano tanto externa quanto internamente. Alguns estados já têm metas próprias.

2004: X Conferência das Partes da Convenção sobre Mudanças Climáticas - Buenos Aires:
 União européia pressiona países periféricos a aceitarem algum tipo de compromisso
 Necessidade de universalizar os compromissos ambientais
 Nova clivagem norte-sul
 Necessidade de ampliação do Protocolo de Quioto – compromissos novos para os anos subseqüentes

2006: XII Conferência das Partes – Nairobi


 Propõe-se a criação de algum mecanismo de ajuda para os países periféricos para se adaptarem às novas
exigências ambientais. Propõe-se, inclusive, a criação de um fundo.
 Retoma-se a idéia de novos compromissos e de ampliação de Quioto.
 EU sai na frente. Comissão Européia propõe redução de 20 % até 2020.

Brasil:
3. Posição soberanista para posição cooperativa

101
4. Renovação das credenciais:
4.1. Candidatura do Rio para sediar a CNUMAD
4.2. Posição pró-ativa: Brasil é o primeiro país a assinar a Convenção sobre Mudanças Climáticas.
4.3. Posição pragmática: em 1989, por exemplo, o país convoca os países do Tratado de Cooperação
Amazônico, descartando a idéia de “Debts for Nature Swaps” (proposta do PNUMA).
 X Conferência das Partes: Brasil se recusa a aceitar metas ou prazos no âmbito do Protocolo de Quioto: “Não
vamos pagar a conta ambiental”. Brasil faz uma leitura histórica do problema e pede a ajuda dos países centrais
para combater o problema do aquecimento global. Não aceita eu se dê um tratamento igual aos países
periféricos, uma vez que pretende se afastar da China.
 Iniciativas em Mecanismo de Desenvolvimento Limpo: Brasil é o segundo país que mais faz uso. O MDL é uma
derivação de Quioto: países fora do Anexo 1 podem desenvolver projetos de desenvolvimento sustentável de
forma a disporem de créditos de carbono negociáveis no mercado internacional.

Política Externa e Meio Ambiente


Lílian Duarte

Em função da dimensão de seu território, da sua biodiversidade, por contar em seu território com grande porção
da Amazônia, o Brasil se apresenta hoje como u dos mais relevantes atores no cenário ambiental internacional.
No período entre 1972 e 1992, o Brasil era visto como vilão ambiental. A oportunidade para a superação desse
difícil momento na política externa brasileira ocorreu com a realização da CNUMAD. O discurso nacionalista brasileiro foi
cedendo lugar aos apelos à cooperação, ao diálogo, à formação de parcerias.
Partida: Estocolmo, 1972.
A emergência do ambientalismo em escala global foi contemporânea a estudos apocalípticos sobre o planeta.
“Limites ao Crescimento” e “Relatório do Clube de Roma” concluíam que a exploração de recursos e a industrialização em
ritmo acelerado esgotariam as fontes de riquezas naturais. Sendo assim, dever-se-ia reduzir a industrialização e o
crescimento econômico. Ou seja, o grande sacrifício quanto à contenção no uso de recursos caberia aos países
periféricos. Soma-se a esses relatórios o movimento da contracultura.
A convergência desses movimentos acabaria resultando na Conferência das Nações Unidas sobre Meio ambiente
Humano. O Brasil recebeu positivamente a oportunidade de expressar seu ponto de vista. Uma vez que o regime vigente
equacionava desenvolvimento com segurança e procurava projetar o país entre os grandes, quaisquer sugestões de
restrições ao crescimento não teriam vindo em pior momento. Brasil via as propostas de controle do uso de recursos
como uma tentativa de “congelamento do poder mundial” e defendia o conceito de soberania absoluta.
Os países socialistas boicotaram a CNUMAH. A delegação brasileira teve papel combativo, defendeu que a
degradação ambiental derivava da pobreza, que podia ser corrigida por meio do crescimento econômico, e que a
principal responsabilidade para com a proteção do meio ambiente seria dos países desenvolvidos. Brasil esteve na
liderança dos discursos sobre desenvolvimento.
Uma das conseqüências da Conferência para o Brasil foi a criação da Secretaria Especial de Meio Ambiente em
1973, a fim de coordenar políticas ambientais nacionais. Até o final da década de 1970, houve ainda grande
desenvolvimento de legislação ambiental. Em 1978, o Brasil firmou com países vizinhos o Tratado de Cooperação
Amazônica, para promover o desenvolvimento da região sem causar danos ambientais e para incentivar pesquisas
científicas.
O Caminho para o Rio:
O percurso até a CNUMAD foi marcado por grandes alarmes: choques do petróleo, buracos na camada de
ozônio, primeiras pesquisas sobre efeito estufa, são divulgadas as péssimas condições ambientais no Leste Europeu, solos
estéreis na África, queimadas na Amazônia.
O endurecimento nas negociações com os países desenvolvidos colocavam o Brasil em situação delicada. Os
refletores internacionais focalizavam o Brasil como o pior vilão ambiental. A resposta brasileira, rápida e contundente,
pautou-se, como de hábito, pela ênfase na necessidade de desenvolvimento.
Bem-vindos ao Rio:
Brasil ofereceu-se para sediar o encontro, esperava capacitar-se como articulador, negociador e ator
internacional habilitado para organizar grandes eventos, além de tornar-se um mediador em questões internacionais
polêmicas. Poderia trazer o reconhecimento dos avanços conseguidos na proteção ao meio ambiente e a dissolução de
concepções errôneas, além de prestígio no caso de êxito da conferência.
Ponto de Chegada: Joanesburgo, 2002:

102
A América Latina apresentou uma posição comum, capitaneada pelo Brasil. Desejava definir metas claras para
viabilizar o que já havia sido acordado. Uma das preocupações do Brasil era a excessiva ênfase no tema da pobreza, que
poderia desviar o foco dos problemas ambientais reais e da promoção do desenvolvimento sustentável.
A delegação brasileira pretendia que 10 % da matriz energética mundial fosse gerada por fontes renováveis até
2010. Outra proposta brasileira foi o comércio de créditos de carbono (bastante criticada por algumas ONGs).

103
Brasil e OMC

No pós-segunda Guerra Mundial, no intuito de regular as relações econômicas internacionais, tentou-se criar uma
organização internacional. Foi proposta a criação de uma Organização Internacional do Comércio, a OIC. Entretanto, o
principal país do sistema internacional, os Estados Unidos nem sequer submeteu a Convenção de Havana de 1948, que
previa a criação da OIC, ao Congresso norte-americano. Tendo isso em vista, criou-se o GATT, que deveria ser algo
transitório, mas durou até 1994.
Entre 1947 e 1994, ocorreram oito rodadas de negociação no âmbito do GATT, das quais as cinco primeiras - Genebra,
1947; Annecy, 1949; Torquay, 1950-51; Genebra, 1955-56; Dillon, 1960-61 - versaram, tão somente, sobre a redução de
tetos tarifários objetivando o alcance do livre comércio. As rodadas seguintes trataram ainda de tarifas, contudo,
incluíram temas novos em suas agendas. A sexta rodada de negociação, Kennedy (1964-67), tratou de medidas
antidumping, e a sétima rodada, Tóquio (1973-79), regulamentou sobre barreiras não-tarifárias (como exigências
sanitárias e fitossanitárias) e cláusula de habilitação (que reconhecia o direito de países em desenvolvimento ao uso do
Sistema Geral de Preferências).
A oitava rodada de negociação, a Uruguai (1986-94), foi a mais longa, considerando, além dos pontos
acima mencionados, aspectos de propriedade intelectual, agricultura, serviços, medidas de investimento e, o mais
importante, um novo regime para o comércio internacional. Em Marrakesh, 1994, foi assinada a carta constitucional da
Organização Mundial do Comércio - OMC. A OMC é um avanço institucional inegável quando comparado à estrutura
jurídica do regime de 1947. A OMC tem sido uma das grandes prioridades da política externa brasileira. Provavelmente, é
a organização econômica internacional que tem recebido mais atenção. A transformação de GATT para OMC foi
importante para o fortalecimento do sistema multilateral, principalmente porque aprimorou o órgão de solução de
controvérsias.
Após o início de seus trabalhos, em 1º de janeiro de 1995, a OMC realizou quatro Conferências Ministeriais: Cingapura
(1996), Genebra (1998), Seattle (1999), Doha (2001). Nessas conferências, reúnem-se chefes de Estado e ministros de
todos os Estados-membros para a negociação comercial. Instalou-se assim a Rodada Doha, com a sua agenda para o
desenvolvimento, a chamada Rodada do Desenvolvimento.
Há cinco razões básicas para a importância que o Brasil tem dado à OMC: a importância do sistema multilateral, o órgão
de solução de controvérsias, a possibilidade de discussão ampla do tema agrícola, o comércio diversificado do Brasil, e a
Rodada Doha em si mesma. Quando nós comparamos com os outros organismos econômicos, como o FMI ou o Banco
Mundial – nesses organismos há votação ponderada, o que já distorce totalmente o quadro, percebe-se a importância
dessa OI. Na OMC, as decisões têm de ser tomadas por consenso. Em teoria, qualquer país pode impedir ou dificultar
uma ação da OMC. O próprio sistema do Conselho de Segurança da ONU possui muitas distorções.
O órgão de solução de controvérsias foi uma das maiores evoluções. O Brasil tem sido um dos países que mais utiliza a
OSC, desde o seu início. O Brasil, desde a sua criação em 1995 com o Tratado de Marrakech, tomou parte como
demandante, demandado ou terceira em 85 dos 365 contenciosos na OMC até novembro de 2007. Obteve importantes
vitórias, como por exemplo, contra os Estados Unidos, em contenciosos como o do suco de laranja, produtos
siderúrgicos, algodão, entre outros. A OMC, com sua sede em Genebra, representa uma organização com caráter
prioritário para a política externa brasileira, tanto que os dois últimos embaixadores desse postos foram Celso Lafer e
Celso Amorim, ambos tornaram-se Ministros de Estado, após. O Órgão de Solução de Controvérsias representa a
possibilidade de um país como o Brasil, potência média, de retaliar ou até mesmo impor sanções a países como os EUA,
os da União Européia e o Japão, ou seja, o grupo dos países desenvolvidos.
Quanto à possibilidade de discussão do tema agrícola de forma ampla, os subsídios são um bom exemplo para ilustrar o
processo. Os Estados Unidos, por exemplo, não iriam se desarmar unilateralmente, porque os subsídios da União
Européia continuariam a existir. Então, eles não poderiam ou pelo menos alegariam – de forma lógica – que eles não
poderiam se desarmar unilateralmente. Assim, a eliminação dos subsídios à exportação, ou a redução dos subsídios, só é
possível no contexto multilateral. Não é questão de você preferir ou não preferir. Essa é a única forma viável para
conseguir um acordo mais amplo.
Outro ponto importante é a diversificação do comércio brasileiro. O Brasil, diferentemente do México e Canadá, por
exemplo, que têm os seus comércios concentrados num único país, os Estados Unidos, o Brasil o seu
comércio exterior por todos os cantos do mundo. Assim, firmar acordos comerciais bilaterais ou bi-regionais é muito mais
complicado de harmonizar todos ao interesse nacional brasileiro, além de ser muito mais trabalhoso e custoso. Assim, um

104
acordo no âmbito da OMC que tem 153 Estados membros é importante para comércio diversificado do Brasil, visto que
uniformiza as regras como um todo.
E por fim o tema da Rodada Doha em si. A rodada envolve diversos temas (investimentos, propriedade intelectual,
serviços, etc.), assim como uma série de termos técnicos, mas o ponto nevrálgico que está em jogo é a questão a
agrícola. Após o início de seus trabalhos, em 1º de janeiro de 1995, a OMC realizou quatro Conferências Ministeriais:
Cingapura (1996), Genebra (1998), Seattle (1999), Doha (2001), há um imporntane ponto de inflexã, que é a criação do G-
20. O G-20 é um grupo de países em desenvolvimento criado em 20 de agosto de 2003, na fase final da preparação para a
V Conferência Ministerial da OMC, realizada em Cancun, entre 10 e 14 de setembro de 2003. O Grupo concentra sua
atuação em agricultura, o tema central da Agenda de Desenvolvimento de Doha. O G-20 tem uma vasta e equilibrada
representação geográfica, sendo atualmente integrado por 23 Membros: 5 da África (África do Sul, Egito, Nigéria,
Tanzânia e Zimbábue), 6 da Ásia (China, Filipinas, Índia, Indonésia, Paquistão e Tailândia) e 12 da América Latina
(Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Cuba, Equador, Guatemala, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela). O importante
é que esse grupo mudou a dinâmica das negociações, participando e propondo de forma mais ativa. Em 2008, no
encontro de Genebra, a Rodada Doha não foi concluída, embora o Brasil estivesse disposto a concluir o acordo em pauta.
Divergências principalmente por parte da Índia e da China, em questões de medidas de salvaguardas especiais, foram o
ponto importante que paralisou a rodada. Depois, estourou a crise financeira, e parte das negociações foram suspensas.
O Brasil tem defendido ainda mais a conclusão da Rodada Doha para o mundo sair mais rapidamente da crise e evitar
protecionismos.

Rodada Doha do Desenvolvimento - LARISSA

Origem:
A Rodada Doha é a primeira rodada de negociações no âmbito da Organização Mundial do comércio. Lançada
em 2001, por ocasião da Conferência Ministerial de Doha, a mesma deveria ter sido lançada em 1999, no contexto da
Ministerial de Seattle. Cumpre ressaltar que a Rodada Doha foi lançada em um contexto complexo: a imagem da OMC
ainda estava combalida por causa do malogro de Seatle (particularmente os países em desenvolvimento e organizações
não-governamentais estavam reticentes em relação ao lançamento de uma nova rodada por julgarem que a organização
não vinha dando a devida atenção ao tema do desenvolvimento; paralelamente, em reação aos ataques de 11 de
setembro, ganhava novo fôlego a crença no multilateralismo.

Mandato:
O mandato de Doha, consubstanciado na Declaração de Doha de 14 de novembro de 2001, abrange uma série
de temas. Na seção preambular do referido documento, sublinha-se o papel do comércio internacional como promotor
do desenvolvimento econômico e instrumento capaz de aliviar a pobreza. Reconhecendo que a maioria dos membros da
OMC são países em desenvolvimento, o mandato prevê que os interesses e necessidades de tais bases devem ser o cerne
do Programa de Trabalho de Doha. Nota-se que a questão do desenvolvimento está presente de forma recorrente no
texto de Doha, condição sine qua non dos países em desenvolvimento para que a Rodada fosse adotada. Em caráter mais
específicos, elencam-se, a seguir, os principais temas da Rodada:

1. Agricultura: o texto reconhece os esforços empreendidos desde 2000 sob o Artigo 20 do Acordo de Agricultura da
Rodada do Uruguai e decide pela implementação de um sistema de comércio justo por meio da criação de regras capazes
de prevenir restrições e distorções no mercado agrícola. Para tanto, estabelece-se o chamado tripé agrícola, o qual
engloba:

4.4. Melhora substancial em acesso a mercados;


4.5. Redução, com vistas à eliminação, de todas as formas de subsídios à exportação;
4.6. Redução substancial nas medidas de apoio interno (subsídios à produção).

105
2. NAMA (Non-Agricultural Market Access): esse item inclui a redução ou mesmo eliminação de tarifas, incluindo a
2 3
redução ou eliminação de picos tarifários , altas tarifas, escalada tarifária , bem como barreiras não-tarifárias. A
cobertura das modalidades de NAMA deve ser abrangente, sem exclusões a priori.

Conferência Ministerial de Cancún (10 a 14 de setembro de 2008):


A Ministerial de Cancún foi primordial para de definição de novo padrão de atuação por parte dos países em
desenvolvimento. Às vésperas da reunião já se anunciava o fracasso da mesma, dada a ausência de um documento base
que pudesse servir de ponto de partida para as negociações. Nesse contexto, a fim de não permitir a reedição dos
Acordos de Blair House, ou seja, um nova acomodação de interesses entre União Européia e Estados Unidos, criou-se, em
20 de agosto de 2003, o G-20, grupo de países em desenvolvimento interessados em garantir, nas negociações agrícolas,
o nível de ambição previsto na Declaração de Doha. Para tanto, adotou-se posição comum, refletida como documento
oficial da OMC. Pela primeira vez, os países em desenvolvimento assumiam clara postura propositiva no debate acerca do
comércio de bens agrícolas.
Composto por países de três continentes e representando 60% da população rural, 21% da produção agrícola, o
G-20 é ator de destaque em todos os segmentos da negociação agrícola. Seus líderes, Brasil e Índia, são chamados a
participar de todos as discussões e, nesse ponto, há que se destacar a participação de ambos no chamado G-4 (Estados
Unidos, União Européia, Índia e Brasil), grupo dos principais interlocutores da Rodada.

2
Quando se tem um tarifa média alta e uma mediana baixa, fica evidente a existência de uma distribuição
assimétrica de tarifas, o que pode indicar a existência de picos tarifários que puxam a média para cima. Estes são
normalmente utilizados para proteger produtos sensíveis, por meio da imposição de tarifas elevadíssimas aplicadas de
forma cirúrgica. Nesse caso, algumas tarifas elevadíssimas incidentes sobre produtos sensíveis são compensadas por uma
grande quantidade de tarifas baixas. Já se os valores da média e da mediana forem próximos, evidencia-se que a abertura
deu-se se forma uniforme, sem a existência de picos tarifários.

3
Imposição de tarifas mais elevadas para produtos processados (como chocolate) do que para
matérias primas (como cacau). Por desencorajar a mudança de um modelo de produção primário para
um voltado para a obtenção de valor agregado, a escalada tarifária pode servir como desestímulo à
industrialização dos países em desenvolvimento

106
SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL

Banco de Compensações Internacionais (Bank for International Settlements – BIS)


Planejado pelo Plano Young (1929), e criado por Bélgica, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e EUA, em 1930,
com o objetivo de administrar (“settle”) os pagamentos das reparações de guerra da Alemanha acertadas em Versailles,
além de servir como fórum de cooperação entre bancos centrais. Como o problema das reparações foi resolvido, ficou
com a função principal de cooperação entre BCs. Os presidentes dos BCs se reuniam em Basel todo o mês até 1939,
4
quando o BIS se declarou “neutro” na guerra, e continuou funcionando.
Pelas suspeitas de sua atividade durante a guerra, em Bretton Woods (BW) pediu-se a extinção do BIS. Isso foi rejeitado
5
pelos países que o criaram, e o Banco administrou a União Européia de Pagamentos , bem como ajudou na coordenação
dos BCs europeus, permitindo o funcionamento do padrão US$-ouro. Foi também no BIS que se iniciou a Sistema
Monetário Europeu (1979), sendo que o Instituto Monetário Europeu (futuro BC Europeu) funcionou em Basiléia até
1994, quando se mudou para Frankfurt.
6
Atualmente, o BIS tem 55 membros , e tem por objetivo assistir a estabilidade financeira global de duas formas:

7
Provendo fundos de assistência emergencial para BCs;
 Apoiando a coordenação entre os especialistas de BCs na elaboração de regras e padrões de supervisão
8
bancária. Nesse sentido, após a quebra de bancos na Alemanha e EUA em 1974, países do chamado G-10 do BIS criaram
o Comitê da Basiléia para Supervisão Bancária (Comitê da Basiléia ou BCBS, em inglês), por meio do qual se fizeram os
Acordos de Basiléia. Além do BCBS, foram criados o Committee on the Global Financial System (CGFS, de 1971), o
Committee on Payment and Settlement Systems (CPSS, de 1990) e o Markets Committee (de 1964).

Comitê da Basiléia e Acordos da Basiléia I e II


9
O Comitê da Basiléia tem, atualmente, 27 membros . Mas foram os países do G-10, no âmbito desse Comitê que criaram
o chamado Acordo da Basiléia I (oficialmente International convergence of capital measurement and capital Standards),

4
O pagamento de reparações pela Alemanha continuou durante a guerra, sendo que depois se descobriu que eles
pagavam com ouro roubado nos bancos dos Países Baixos. Segundo o site do Banco, o dinheiro foi devolvido em 1948.
5
A European Payments Union (EPU) foi criada pela OECE (precursora da OCDE), e existiu entre 1950 e 1958, para gerir o
comércio de compensação entre os países europeus (as trocas eram feitas e os pagamentos eram acertados pelos saldos
de cada país mensalmente). Quando a possibilidade de conversibilidade das moedas europeias foi recuperada, em 1958,
a EPU deixou de existir.
6
Os membros são (em inglês): Algeria, Argentina, Australia, Austria, Belgium, Bosnia and Herzegovina, Brazil, Bulgaria,
Canada, Chile, China, Croatia, the Czech Republic, Denmark, Estonia, Finland, France, Germany, Greece, Hong Kong SAR,
Hungary, Iceland, India, Indonesia, Ireland, Israel, Italy, Japan, Korea, Latvia, Lithuania, Macedonia (FYR), Malaysia,
Mexico, the Netherlands, New Zealand, Norway, the Philippines, Poland, Portugal, Romania, Russia, Saudi Arabia,
Singapore, Slovakia, Slovenia, South Africa, Spain, Sweden, Switzerland, Thailand, Turkey, the United Kingdom and the
United States, plus the European Central Bank. Todos com o voto nas reuniões gerais ponderado pela participação no
capital.
7
O BIS já havia provido fundos de emergência para a Alemanha e Áustria em 1930/31, além de para França e Reino Unido
nos anos 1960, para o México em 1982 e para o Brasil em 1998 (esses 2 últimos no âmbito de acordos feitos pelo FMI).
8
Belgium, Canada, France, Germany, Italy, Japan, the Netherlands, Sweden, the United Kingdom, and the United States.
9
Argentina, Australia, Belgium, Brazil, Canada, China, France, Germany, Hong Kong SAR, India, Indonesia, Italy, Japan,
Korea, Luxembourg, Mexico, the Netherlands, Russia, Saudi Arabia, Singapore, South Africa, Spain, Sweden, Switzerland,
Turkey, the United Kingdom and the United States

107
de julho de 1988, que previa a uniformização de requisitos mínimos de capital no setor bancário de acordo com a
classificação de risco de cada país até 1992. Basiléia I estabeleceu que os bancos deveriam ter um capital mínimo de 8%
do total de ativos, ponderado pelo risco desses ativos. Esse acordo foi assinado por mais de 100 países (inclusive Brasil,
que se adequou em 1994). Um dos principais pontos problemáticos do Basiléia I era a atribuição do risco, pois os países
da OCDE tinham seus ativos classificados como de risco 0. O que ocorreu foi que membros da OCDE, como México e
Coréia do Sul tiveram crédito abundante na década de 1990, o que foi uma das causas das crises financeiras desses
países. Esses problemas deixaram claro que as regras deveriam ser revistas, e o BCBS apresentou uma proposta para sua
reformulação.
O Basiléia II foi feito entre 1999 e 2004, quando sua versão final foi lançada, e foi adotado também por mais de 100
países (Brasil incluso). O acordo está organizado em três pilares:
1. Requerimentos de capital mínimo: o requisito mínimo de 8% foi mantido, mas a principal mudança foi o critério
de avaliação do risco, que deixou de ser a participação na OCDE para tornar-se a avaliação das agências de rating (uma
10
das principais causas da atual crise!) ;
2. Métodos de supervisão: a supervisão bancária deve ser feita de maneira contínua (podendo mudar o
requerimento de capital a qualquer momento, dependendo da necessidade);
3. Disciplina de mercado: procura incentivar a transparência e a informação do mercado pela publicação de certos
dados pelas instituições bancárias.
Outro dos problemas de Basiléia II, e que foi uma das principais causas da atual crise é que, assim como o Basiléia I, ele só
abrange os bancos comerciais. Os bancos de investimento, os hedge funds e outros chamados “investidores
institucionais”, que lidavam com derivativos, ficaram à margem da regulação em boa parte dos países (principalmente
nos desenvolvidos), e foram os principais agentes de especulação.

Fórum de Estabilidade Financeira (FEF)


O FEF foi criado em 1999, no âmbito do G-7, para aumentar a coordenação das políticas econômicas dos países mais
industrializados e, assim, promover a estabilidade financeira. O FEF reunia ministros e presidentes de BCs dos países do
G-7 e de instituições financeiras internacionais, e tinha um secretariado com sede no BIS. Em Abril de 2009, de acordo
com as decisões do G-20 financeiro em Londres, o FEF foi transformado em Financial Stability Board (Conselho de
Estabilidade Financeira?), que tem o mesmo mandato, mas inclui todos países do G-20.

Banco Mundial
BIRD não é igual a Banco Mundial. O BIRD é apenas uma das instituições do chamado Grupo Banco Mundial. Na
realidade, comumente se entende por Banco Mundial a “dupla” BIRD e AID (Agência Internacional de
11
Desenvolvimento) . Além desses dois, o Grupo Banco Mundial é composto por: International Financial Corporation (IFC),
Multilateral Investment Guarantee Agency (MIGA) e International Center for Settlement of Investment Disputes (ICSID).
Na conferência de Bretton Woods foi esboçado o estatuto do Banco Internacional para Reconstrução e
12
Desenvolvimento (BIRD), que foi formalmente criado em 1945 e entrou em funcionamento em 1946. A missão inicial
do BIRD era financiar a reconstrução dos países atingidos pela 2ªGM. Com a recuperação dos países devastados pela
guerra, o BIRD voltou-se para os países em desenvolvimento. Atualmente, seu principal objetivo é o combate à pobreza
nos países em desenvolvimento (países de renda média), por meio de financiamento e de estudos. O BIRD não tem fins
lucrativos (tem fins de desenvolvimento), e conta com 186 membros. Seus empréstimos são, geralmente, acompanhados
por serviços não-financeiros (consultorias, estudos e condições-guias de políticas).

10
O Brasil, adotou Basiléia II, mas recusou-se a usar as classificações de agências de rating como critério
(www.febraban.org.br/Arquivo/Destaques/Basil%E9ia%20-%20Comunicado%20BC%2012746.pdf).
11
O termo Banco Mundial “pegou” devido a um artigo na The Economist de 22 de julho de 1944, que tratava da
conferência de BW. Na primeira reunião dos Boards of governors do FMI e do BIRD, em 1946, manchetes de diversos
jornais já usavam o termo, que virou a alcunha oficial para BIRD e AID em 1975.
12
O Brasil assinou os Article of Agreement do BIRD em janeiro de 1946.

108
Apenas países com renda per capita a partir de média-baixa estão aptos a receber financiamento da Agência
Internacional de Desenvolvimento (AID). A AID foi criada especialmente para oferecer crédito aos países de renda mais
baixa, incapazes de pagar juros (como é cobrado pelo BIRD, mesmo que baixo), e começou a operar em 1960. O crédito
da AID não tem juros, tem uma carência de 10 anos e prazos de pagamento entre 35 e 40 anos, ou seja, o dinheiro é
dado. A AID tem, atualmente, 169 membros.
O Grupo Banco Mundial também financia empresas privadas, por meio da Corporação Financeira Internacional (CFI). A
CFI é o braço do Grupo que empresta diretamente a empresas privadas de países em desenvolvimento, sem aceitar
garantias de governos. Além do financiamento, a CFI também oferece assessoria às empresas. A CFI foi criada em 1956, e
conta, atualmente, com 182 membros.
A Agência Multilateral de Garantia de Investimentos (AMGI) foi criada em 1988, com o intuito de incentivar o
investimento estrangeiro direto (IED) nos países em desenvolvimento. A AMGI não financia projetos, apenas oferece
garantia contra riscos não-comerciais, principalmente problemas institucionais (expropriações, guerras, etc.). A Agência
tem, atualmente, 175 membros.
O último dos cinco membros do Grupo também está ligado aos investimentos estrangeiros. O Centro Internacional para
Arbitragem de Disputas sobre Investimentos (CIADI) foi criado em 1966, pela Convenção sobre resolução de disputas
sobre investimentos entre Estados e nacionais de outros Estados. É uma instituição autônoma, mas intimamente ligada
ao Grupo BM, atualmente com 144 membros. O Centro tem por objetivo facilitar a conciliação e a arbitragem de litígios
envolvendo investidores e Estados estrangeiros.
O comando do Grupo Banco Mundial é exercido pelos Board of Governors (BG). O BIRD, a AID e a CFI dividem um mesmo
BG (formado, geralmente, pelos Ministros da Fazenda dos membros), a AMGI tem um BG específico (com a mesma
composição), e o CIADI é governado por um Conselho Administrativo (que geralmente é formado pelos mesmos
membros dos BGs). Esses Boards dão as diretrizes gerais das políticas do Grupo, definidas nas reuniões anuais, que são do
Grupo e do FMI ao mesmo tempo.
Mas o órgão que define as ações mais práticas dos membros do Grupo são os Conselhos de Diretores Executivos (DEs) (o
CIADI não tem um Conselho destes). É nesse conselho que os votos de cada país membro são proporcionais à sua fatia de
capital na instituição. O mesmo Conselho atua para o BIRD, a AID e a CFI, e a AMGI tem outro conselho. Todos eles são
formados por 24 membros, sendo que os países com menos capital se juntam em constituencies para eleger
representantes; os países com mais capital tem um representante sozinhos. O maior acionista é os EUA (com mais de
16% dos votos), seguido por Japão (uns 7%) e outros países europeus. No BIRD, o Brasil tem cerca de 2% dos votos. A
mudança das ponderações de votos é uma das principais reivindicações dos países em desenvolvimento nas negociações
do G-20 pós-crise.

Fundo Monetário Internacional


Assim como o BIRD, o FMI foi esboçado em BW e criado oficialmente no final de 1945, com o objetivo de garantir o
funcionamento do padrão US$-ouro por meio da supervisão das taxas de câmbio e da garantia de empréstimos para
ajuste dos balanços de pagamentos dos países membros. A partir do final do sistema US$-ouro, os países membros do
FMI ficaram livres para escolher seus sistemas de câmbio, mas o FMI manteve seu papel de “emprestador de última
instância” para países com dificuldades no BP.
Durante as crises da década de 1980, o FMI auxiliou na coordenação das respostas às crises, impondo direções de política
econômica (altamente restritiva) aos países que necessitavam de crédito. É nesse momento, principalmente, que o FMI
passa a ser mau visto nos países em desenvolvimento.
Em 1969, numa tentativa de auxiliar o funcionamento do sistema US$-ouro, foram criados os Direitos Especiais de Saque
(DES, ou SDR, em inglês). Esse mecanismo foi criado como uma unidade alternativa de valor, pois o tanto o US$ quanto o
ouro estavam escassos nesse momento, o que dificultava as ações dos países que precisavam comprar ou vender suas
moedas para poder manter a taxa de câmbio fixa. Os DES não foram muito usados, principalmente porque o padrão US$-
ouro acabou apenas quatro anos depois de sua criação. Até 1973, um DES equivalia a um US$, depois, ele passou a ser
cotado por uma cesta de moedas, que atualmente tem o US$, o Euro, o Yene e a Libra. O peso de cada moeda no DES

109
deve ser revisto a cada 5 anos, e a próxima revisão deve ocorrer em 2010, quando pode-se esperar mudanças
13
significativas, devido às demandas de maior participação dos países emergentes.
Assim como no Banco Mundial, no FMI o órgão decisório mais elevado é o Board of Governors, composto pelos Ministros
de Finanças dos países membros, que se reúne uma vez por ano em reunião conjunta com a do BM. Além disso, o FMI
também tem o seu Conselho de Diretores Executivos, que funciona basicamente da mesma forma daquele do Banco
Mundial. Os percentuais de votos também são muito próximos do BM, com EUA tendo mais de 16%, Japão próximo de
6%, países europeus logo em seguida e Brasil com cerca de 2%.

Bancos regionais de desenvolvimento


Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)
O BID foi o principal/único resultado concreto da Operação Pan-Americana, lançada por JK. O Banco foi criado em 1959,
no âmbito da OEA. Assim como o Banco Mundial, o BID também constitui o Grupo do BID, que tem, além do próprio, a
Corporação Interamericana de Investimentos (CII, concentrado no financiamento de pequenas e médias empresas) e o
Fundo Multilateral de Investimentos (Fumin, focado nas micro-empresas, com investimentos e cooperação técnica).
O BID tem uma estrutura de organização praticamente igual à do BIRD e do FMI (BG e CDE), sendo que o CDE também
tem votos ponderados. Os EUA tem 30% do poder de voto, o Brasil cerca de 10%, mais ou menos o mesmo que a
Argentina. Vários países europeus (quase todos), Japão e Coréia do Sul também são acionistas do BID, com poder de voto
em conjunto bem significativo (uns 15%). O BID pode emprestar dinheiro a todas as instâncias de governo, além de ONGs
e empresas privadas, tudo isso para países da América Latina e do Caribe.
Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (BERD)
O BERD começou a ser gestado logo após a queda do muro de Berlim, por iniciativa francesa. Criado em 1990 e operante
desde 1991, o Banco tem por objetivo auxiliar no desenvolvimento das economias de transição (ex-socialistas), atuando
em 30 países do centro da Europa à Ásia Central (basicamente todos os ex-soviéticos). Entre os países fundadores, além
dos europeus e dos EUA, há alguns mais distantes, como Egito, Marrocos, México, Coréia do Sul, Nova Zelândia e
Austrália. A estrutura organizacional do BERD é similar à dos outros (BIRD, BID...).
Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD)
O BAD foi gestado no início dos anos 1960 a partir de conferências organizadas pela Comissão Econômica para a Ásia da
ONU (a CEPAL da Ásia), e foi criada efetivamente em 1966, com sede nas Filipinas. O BAD tem a estrutura clássica, com
poder de voto diferenciado, sendo que 65% dos votos estão em mãos de membros da região, principalmente Japão
(13%), China (5%) e Índia (5%), e o resto com membros de fora da região, principalmente europeus e EUA (que tem o
mesmo poder de voto do Japão). O foco maior do Banco é o combate à pobreza e a redução de desigualdades nos países
asiáticos.
Banco Africano de Desenvolvimento (BAfD)
O BAfD também é composto por mais de uma instituição: o Banco Africano de Desenvolvimeto (‘instituição-mãe”, criada
em 1963), o Fundo de Desenvolvimento Africano (criado em 1972), e o Fundo Fiduciário da Nigéria (criado em 1975). As
operações do BAfD começaram em 1966. A estrutura do Banco é similar às outras, sendo que 50% do poder de voto está
com os 53 membros africanos, e os outros 50% com os 24 membros não-africanos. Entre os últimos, os mais poderosos
são EUA, Japão e europeus. O Brasil é membro do BAfD!!! Temos cerca de 0,4% de votos! A Argentina também (eles tem
0,006%!!). A China entrou recentemente prometendo um aporte significativo (por enquanto tem só 0,8% de voto). O
objetivo do Banco é diminuir a pobreza dos países do continente.

G-20 Financeiro
O G-20 foi criado em 1999, como resposta às crises que atingiram os países em desenvolvimento durante aquela década
e às crescentes demandas desse países por maior participação nas esferas de decisão sobre assuntos econômicos e

13
Grosso modo, o que ocorre é que os países compram DES do FMI, ou seja, trocam DES por moedas “reais”, ou seja, o
DES funciona como uma espécie de título de dívida (são pagos juros aos países que os detém), oficialmente, o FMI os
chama de moeda de reserva. Com o dinheiro “real” que o FMI recebe em troca dos DES é que são feitos os empréstimos.

110
financeiros, até então discutidos somente na esfera do G-7 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália
e Canadá). O Grupo reúne os Ministros de Finanças e Presidentes dos BCs das 19 maiores economias do mundo mais a
14
Comunidade Européia . O Grupo reflete as mudanças na economia mundial do final do século XX, e reúne países que
representam cerca de 85% da economia e 2/3 da população mundial.
Ainda na década de 1990, foram feitas outras duas tentativas de discussão desses assuntos em grupos mais amplos – o G-
22 (quase os mesmos do G-20) e o G-33 (um pouco mais ampliado). Esses grupos fizeram alguns relatórios ad hoc, mas
esse caráter temporário foi muito criticado pelos emergentes, que reivindicavam algo mais permanente, a partir do que
se formou o G-20. O principal apoiador da idéia no centro do G-7 era o Ministro de Finanças do Canadá, Paul Martin, que
achava que os países emergentes poderiam contribuir para uma solução mais efetiva para os problemas da economia
mundial.
Os objetivos do G-20, segundo o primeiro comunicado do Grupo, são: “to provide a new mechanism for informal dialogue
in the framework of the Bretton Woods institutional system, to broaden the discussions on key economic and financial
policy issues among systemically significant economies and promote co-operation to achieve stable and sustainable world
economic growth that benefits all.” O Grupo é presidido por um país a cada ano, mas esse país é “auxiliado” na
administração pelo país que presidiu no ano anterior e pelo que presidirá no ano seguinte (esses três países são a
chamada Troika), para dar mais continuidade às ações. O Brasil foi presidente em 2008, atualmente é o Reino Unido. O
Grupo é informal, ou seja, não tem uma Carta constituinte, nem votações de decisões vinculantes, sendo as decisões
tomadas por consenso.
As atividades do G-20, porém, foram bastante inexpressivas durante quase dez anos. O Grupo passou a ser o centro de
coordenação do sistema financeiro internacional a partir da crise atual, principalmente depois que, em 2008, Bush
convocou uma reunião do G-20 em nível presidencial para discutir saídas para a crise (em Washington, 15 de novembro
de 2008). A partir de então, quatro principais ações foram definidas pelos países participantes para reformar o sistema
financeiro internacional:
1. estabelecimento de medidas para a reativação da economia mundial;
2. reforma do sistema financeiro internacional através do incremento de sua regulação;
3. controle de fluxos financeiros, especialmente para países em desenvolvimento;
4. definição de princípios para reformar instituições internacionais, como o Fundo Monetário Internacional, o
Banco Mundial e o Fórum de Estabilidade Financeira.
Para se ter uma idéia do aumento da importância do Grupo basta ver que entre 1999 e 2007 ele se reuniu 9 vezes (uma
por ano), e desde 2008 até agora já foram 5 vezes (São Paulo, Washington, Londres), em diferentes níveis (presidencial e
ministerial), sendo que haverá outra nessa semana.
Reuniões e ações após o início da crise
Comunicado de São Paulo (novembro de 2008) – ministerial: basicamente fazem uma avaliação das causas da crise, como
sendo falta de regulação e supervisão de algumas esferas do mercado financeiro, e reconhecem o G-20 como um fórum
fundamental na coordenação das respostas à crise. Rejeitam o protecionismo como resposta à crise, e já falam da
necessidade de reformas e maior representatividade nas instituições de BW e no Fórum de Estabilidade Financeira, além
de reconhecer a necessidade de maior supervisão do mercado financeiro.
Declaração de Washington – Washington Action Plan (novembro de 2008) – presidencial: Além das avaliações da crise, foi
feito um plano de ação dividido em cinco tópicos principais de ações imediatas: Reforço da transparência e
accountability; Melhora da regulação; Promoção da integridade em mercados financeiros; Reforço da cooperação
internacional; Reforma das instituições financeiras internacionais.
Comunicado de Londres (março de 2009) – ministerial: novas medidas de resposta à crise visando à retomada do
crescimento mundial e ao reforço do sistema financeiro, com prioridade no restabelecimento do crédito internacional e
na melhora da supervisão.

14
Os membros são: Argentina, Australia, Brazil, Canada, China, France, Germany, India, Indonesia, Italy, Japan, Mexico,
Russia, Saudi Arabia, South Africa, South Korea, Turkey, United Kingdom, United States. A União Européia é representada
pelo Presidente do BCE e pelo Presidente do Conselho. Além desses, participam também os presidentes do FMI e do
Banco Mundial, extra-oficialmente.

111
Declaração de Londres – Global Plan for Recovery and Reform, que consiste de duas declarações, a Declaration on
strenghtening the financial system e a Declaration on delivering resources through the international financial institutions
(abril de 2009) – presidencial: aumento do capital do FMI em mais de US$ 700 bi; mais US$ 100 bi para bancos de
desenvolvimento e US$ 250 para crédito ao comércio internacional, com o objetivo de retomar o crescimento e a criação
de empregos, além de mais medidas para melhorar a regulação e a supervisão do SF.
Londres - Declaration on further steps to strengthen the financial system (setembro de 2009) – ministerial:
recomendações para o Pitsburgh Summit (semana que vem), basicamente no sentido de estabelecer padrões mais rígidos
de supervisão e regulação, que devem ser adotados pelo FEF.
15
Resumo das principais ações tomadas até agora (de Washington a Londres I) :
 medidas de estímulo fiscal que aumentaram +ou- 5,5% o déficit fiscal médio de 2009 e 2010 em relação a 2007 –
principalmente políticas sociais e de distribuição de renda;
 BCs se comprometeram a manter políticas expansionistas até a recuperação do crescimento, mas com adoção
de “medidas de saída”, caso necessário;
 Crédito de US$ 250 bi em dois anos para o comércio internacional, com foco nos países mais pobres e
emergentes, por programas bilaterais e multilaterais – incluindo bancos de desenvolvimento;
 Aumento do capital disponível do FMI, com empréstimos de países: Japão – US$ 100 bi, União Européia – US$
178 bi, Noruega – US$ 4,5 bi, Canadá – US$ 10 bi, Suíça – US$ 10 bi, EUA – US$ 100 bi, Coréia do Sul – ao menos US$ 10
bi, Austrália – US$ 7 bi, Rússia – até US$ 10 bi, China – até US$ 50 bi, Brasil – até US$ 10 bi, Índia – até US$ 10 bi,
Cingapura – US$ 1,5 bi. Além da venda de ouro do FMI para aumentara capacidade do fundo e do alocação de US$ 250 bi
em DES, para empréstimos preferencialmente para países emergentes (quarta emenda – países que entraram no fundo
depois de 1981 não tinham DES);
 Aumento de 200% no capital do Asian Development Bank;
 Aumento dos empréstimos dos Bancos de Desenvolvimento de até US$300 bi até 2012; nesse contexto, todos os
principais Bancos Regionais de Desto e o BM flexibilizaram suas regras para aumentar os desembolsos;
 Mudança na regra de votos do FMI em 2008: PIB (a preços de mercado e a PPC)-50%, abertura-30%,
variabilidade da entrada de capitais-15%, e reservas-5%; que aumentou o peso dos países em desenvolvimento (Brasil
aumentou 40% da participação, China uns 100%...); novas reformas, aumentando ainda mais a participação dos
emergentes, ainda devem ser feitas até 2011.
 Mudanças nas regras de voto do BM também estão em discussão;
 Novo processo, mais transparente e inclusivo, de escolha dos presidentes das IFIs;
 Condições de empréstimo do FMI foram flexibilizadas para facilitar empréstimos de emergência;
 Em Londres (abril), se substituiu o Fórum de Estabilidade Financeira pelo Conselho de Estabilidade Financeira,
com participação dos países do G20;
 Comitê da Basiléia deve entregar novo framework para o final de 2009, com melhora nos mecanismos de
supervisão, além de rever os mínimos de capital e outras recomendações em 2010, sendo que o Comitê já avisou que os
mínimos serão aumentados em relação ao nível pré-crise;
 Os países do G20 devem continuar a implementação do Basiléia II (que vai ser revisado);
 Estão sendo estudados padrões de regulação internacional para hedge funds;
 Foram criados grupos de supervisão para as instituições financeiras de maior importância global;
 Foram criados padrões de informação fiscal, para aumentar a transparência e combater o uso de paraísos fiscais,
além de tentativas de identificar “jurisdições não-cooperativas”;
 Iniciativas nacionais e internacionais estão sendo tomadas para enquadrar as agências de rating de forma a não
permitir que surja conflito de interesses.

15
Para ver a lista completa:
http://www.g20.org/Documents/20090905_G20_progress_update_London_Fin_Mins_final.pdf

112
Propostas do Brasil para a reunião de Washington:
A proposta brasileira batia muito na tecla da reforma das IFIs (principalmente na maior representatividade dos
emergentes), além de uma maior regulação e de mecanismos de prevenção das crises. Os princípios que o Brasil propôs
para a reforma da “governança financeira internacional” são: representatividade e legitimidade, efetividade, ação
coletiva, boa governança nos mercados domésticos, responsabilidade, transparência, prevenção.
Principais pontos da proposta do Brasil para a reforma das IFIs:
 G-7 como esfera insuficiente de negociação;
 Defende a continuidade das reformas do voto no FMI, e sua antecipação (antes estava prevista para terminar em
2013);
 Escolha aberta e transparente dos dirigentes das IFIs;
 Defende a retomada “mais ambiciosa” das reformas dos votos no BM, incluindo o critério do PIB PPC;
 Reforço institucional e da eficácia do G20:
o “Elevar o G-20 ao nível de foro de Chefes de Estado e de Governo;
o Priorizar deliberações com resultados práticos em termos de políticas públicas;
o Duas reuniões do G-20 por ano, antes dos encontros de primavera e anual do Fundo Monetário e do Banco
Mundial;
o Permitir a convocação de reuniões extraordinárias, em caso de necessidade, tal como ocorreu em Washington
no último dia 11 de outubro;
o Reforçar a capacidade do G-20 atuar na gestão e prevenção de crises. O G-20 poderia criar uma “sala de
situação” virtual, organizada pelo país na presidência do grupo, para a troca de informações e a coordenação de
respostas a crises em tempo real.”
 Exige a participação dos países emergentes de forma igual aos do G-7 num Fórum de Estabilidade Financeira
expandido.
Principais pontos da proposta do Brasil para regulação e supervisão do SFI:
 Acompanhamento do risco por governos e IFIs, incluindo a criação de um early warning system;
 Eliminação do setor financeiro não regulado;
 Adoção de padrões globais de regulação e de precificação de ativos;
 Criação de um “supervisor dos supervisores”;
 Supervisão em conjunto de instituições financeiras de maior importância global;
 Regras mais claras de transparência para agências de rating, para evitar conflito de interesses;
 Combate com o objetivo de eliminar os paraísos fiscais;
 Política econômica pragmática, voltada para o crescimento com controle da inflação, equilíbrio fiscal e câmbio
flutuante (com possibilidade de intervenção), manutenção de políticas de proteção social;
 Uso, sem problemas ideológicos, de políticas anti-cíclicas, e estímulo dessas políticas no setor privado;
 Transparência total no balanço de todas as instituições financeiras, incluindo perspectivas de risco de médio
prazo;
 Estabelecimento de maiores exigências mínimas de capital para as instituições financeiras;
 Regulação das políticas de salário das grandes instituições financeiras, para evitar conflito de interesses e
fraudes, bem como responsabilização de executivos envolvidos nestas criminalmente.

113
DESARMAMENTO E NÃO-PROLIFERAÇÃO

Histórico
As primeiras iniciativas quanto ao desarmamento surgem após a IGM, quando, pelo Tratado de Versalhes, que impôs
restrições de armamentos aos países derrotados. Em 1922, a Conferência Naval de Washington estabelecia restrições
quantitativas e proporcionais entre os efetivos navais das principais potências de então. As decisões dessa Conferência,
bem como das de Genebra (1927) e Londres (1930 e 1935) que a sucederam, impondo mais e modificando as restrições
anteriores, foram abandonadas com o início da IIGM – sendo que a maioria das partes já havia desrespeitado os acordos.
O final da IIGM veio junto com as primeiras explosões nucleares da história, o que modificou e intensificou os debates
sobre desarmamento. A primeira iniciativa nesse sentido foi o chamado Plano Baruch. O Plano Baruch foi baseado no
16 17
chamado relatório Acheson-Lilienthal e apresentado à Comissão das Nações Unidas para Energia Atômica (UNAEC) em
1946, e tinha por objetivo criar a Autoridade de Desenvolvimento Atômico. Essa ADA seria o órgão responsável gerir
qualquer instalação com armas nucleares e supervisionaria todas as instalações nucleares com fins pacíficos. O plano
ainda proibia a detenção ilegal de armas nucleares, a invasão de instalações administradas pela ADA e punia países que
interferissem nas inspeções. A ADA responderia apenas ao CSNU, que imporia sanções aos países que não aplicassem
suas demandas e, nesses casos, os membros do CS não teriam poder de veto. Depois que o plano entrasse em
funcionamento os EUA começariam a destruir seu arsenal nuclear. A URSS discordava totalmente do Plano Baruch, que
precisava de consenso dos 12 membros da UNAEC para passar – teve 10 votos a favor e duas abstenções (Polônia e
URSS).
Em 1953, na AGNU, o Presidente Eisenhower fez o discurso intitulado “Atoms for peace”, que visava a acalmar as tensões
quanto ao uso da energia nuclear para fins bélicos. Os EUA lançaram então o programa “Atoms for peace”, que fornecia
equipamentos e tecnologia para o desenvolvimento de projetos de energia nuclear com fins pacíficos para outros países.
Em 1959 foi assinado o Acordo da Antártica, que estabelece o continente como zona livre de armas nucleares e
desmilitarizada. A Antártica seria área de uso exclusivo para fins pacíficos, proibindo quaisquer atividades, exercícios ou
bases militares, bem como testes de qualquer tipo de armamento e o depósito de material radioativo. Ao longo dos anos
1960, outros tratados de desarmamento e não proliferação foram assinados, como os que regulam testes na atmosfera e
no espaço e, finalmente, o TNP e o Tratado de Tlatelolco.
Em 1969, em Helsinki, EUA e URSS iniciaram as Strategic Arms Limitation Talks (SALT), negociações com o objetivo de
limitar os arsenais nucleares das duas potências. A primeira série de negociações (SALT I) durou de 1969 a 1972, e teve
como resultados o Tratado sobre Mísseis Antibalísticos (ABM Treaty), de duração indeterminada e prevendo a parada na
construção de defesas ABM pelos dois países; e o Acordo Interino, com duração de cinco anos e dando os primeiros
passos na contenção dos mísseis ofensivos terrestres e submarinos dos dois países. As SALT II começaram ainda em 1972,
com o objetivo de concluir o que foi iniciado pelo Acordo Interino sobre armas ofensivas. Em 1974, em uma reunião em
Vladivostok, Brezhnev e Ford chegaram a termos básicos sobre um possível acordo. Em 1975, porém, discordâncias a
respeito de que tipo de armamentos entrariam nas limitações passaram a emperrar as negociações, que se estenderam e
terminaram na assinatura do Acordo SALT II (que englobava três partes e previa a continuação em um SALT III) em 1979.
Só que em 1980, Carter pediu que o senado americano parasse a apreciação do SALT II devido à invasão da URSS ao
Afeganistão e o acordo nunca foi ratificado pelos EUA, que se retiraram formalmente dele em 1986.
Já em 1982 os dois países iniciam as negociações do Strategic Arms Reduction Treaty (START I), pelo qual se
comprometiam a fazer reduções graduais de suas armas nucelares em um período de 7 anos, bem como davam limites
numéricos para veículos de lançamento. Esse tratado foi assinado em 1991, pouco antes do colapso da URSS, por isso ele
só entra em vigor em 1994. Em 1992, pelo Protocolo de Lisboa Bielorússia, Cazaquistão e Ucrânia assumem as obrigações
do START I (além de se comprometerem a entrar no TNP). Em 1993, Bush e Yeltsin assinam o START II, que prevê a
eliminação dos mísseis balísticos intercontinentais e de múltiplas ogivas e reduzir o número de armas nucleares dos dois
estados em dois terços. O START II foi ratificado pelos dois países, que nunca trocaram os instrumentos de ratificação. Em
2002, como resposta à retirada dos EUA do ABM Treaty (Bush anuncia a retirada em 2001, para que os EUA pudessem se

16
Esse relatório foi feito a pedido do Departamento de Estado americano sob comando do Subsecretário Dean Acheson e de David
Lilienthal, e previa um plano parecido com o apresentado por Baruch, que foi o delegado dos EUA na UNEAC.
17
Essa Comissão foi criada em 1946 e durou apenas até 1949, diante do fracasso em negociar qualque tipo de acordo.

114
proteger do eixo do mal), a Rússia anunciou que não iria mais cumprir o START II. O START I expira em 2009, e as
18
negociações para um novo acordo estão andando.

Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)


A AIEA surgiu a partir do discurso “Atoms for peace” de Eisenhower na AGNU de 1953. A Agência foi criada em 1957 por
81 países, com o objetivo de promover e controlar o uso pacífico da energia nuclear e baseada em três pilares: verificação
nuclear, segurança e transferência de tecnologia. A AIEA não tem ligação formal com a ONU, mas se reporta à AG e ao CS.
O trabalho da agência está baseado em acordos de salvaguardas, que são assinados por cada país e prevêem, caso a caso,
verificações para a certificação de que o material nuclear daqueles países não está sendo usado para fins não-pacíficos.
A primeira inspeção da AIEA foi na Noruega, em 1962, e a partir daí se assinaram vários acordos de salvaguardas, sendo
que a adesão da URSS à agência, em 1963, fez com que seu papel ficasse mais relevante. A partir do TNP, todos os países
signatários passaram a ter que implementar acordos de salvaguardas com a AIEA e declarar todas as suas instalações e
materiais nucleares à agência – e atualizar essas informações. Em 1997, a AIEA desenvolveu um novo modelo de
salvaguardas que se transformou no Protocolo Adicional ao TNP, que obriga os estados a prover mais informações à
agência, incluindo a pesquisa e a mineração de material nuclear.
Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP)
O TNP foi assinado em 1968 e entrou em vigor em 1970, contando atualmente com 190 Estados-parte, entre países que
detêm e países que não detêm armas nucleares. Três países que têm ou são suspeitos de ter armas nucleares não são
parte do TNP: Índia, Israel e Paquistão. A Coréia do Norte anunciou sua saída do TNP em 2003.
O TNP é organizado em três pilares:
 Não-proliferação: objetivo de parar a disseminação de armas nucleares. Desde sua assinatura, apenas Índia,
Paquistão e Coréia do Norte desenvolveram abertamente essas armas, enquanto Israel provavelmente também, e o Irã,
segundo alguns, também.
 Desarmamento: objetivo de acabar com os arsenais existentes. Os esforços para acabar com os arsenais
nucleares dos P5 não tiveram tanto sucesso. Rússia e EUA, que têm a grande maioria dessas armas, conseguiram reduzi-
las por meio de vários acordos. O número de ogivas, que chegou a 70000 nos anos 1980, atualmente é de 23000, sendo
8400 operacionais (prontas para uso). Em maio de 2009, Rússia e EUA retomaram negociações sobre o assunto, já que o
START-I expira no final do ano.
 Direito ao uso pacífico da energia nuclear: o terceiro pilar define o direito de todos os membros do acordo de
desenvolver e usar tecnologia nuclear para fins pacíficos. Os estados também se comprometem com a troca de
informações e tecnologia no setor, considerando as necessidades especiais dos países em desenvolvimento.
Pelo artigo I do tratado, os países detentores de armas nucleares (NWS), concordam em não fornecer nem ajudar não-
NWS a adquirir armas nucleares. Pelo artigo II, os não-NWS concordam em não desenvolver, fabricar ou adquirir armas
nucleares, nem ser assistidos para tal por outros Estados. Pelo artigo III, todos os não-NWS concordam em estabelecer
acordos com a AIEA para a implementação de salvaguardas para todo o material nuclear de seus programas de
desenvolvimento dessa energia para fins pacíficos. O artigo X estabelecia a duração de 25 anos para o TNP, o que foi
revisto em 1995. O tratado previa conferências de revisão a cada 5 anos, caso a maioria dos países concordasse, o que foi
feito todas as vezes.
Em 1997, o Conselho de Governadores da AIEA aprovou um modelo de salvaguardas reforçado (com maiores direitos de
inspeção), em discussão desde 1993, que se transformou no Protocolo Adicional do TNP. Nem todos os países assinaram
esse protocolo, o Brasil não assinou, e na Estratégia de Defesa Nacional afirma que “Não aderirá a acréscimos ao Tratado
de Não-Proliferação de Armas Nucleares destinados a ampliar as restrições do Tratado sem que as potências nucleares
19
tenham avançado na premissa central do Tratado: seu próprio desarmamento nuclear.”
Houve duas conferências importantes de revisão do TNP:

18
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1219958-5602,00-
EUA+E+RUSSIA+FECHAM+ACORDO+PARA+REDUCAO+DO+ARSENAL+NUCLEAR.html
19

http://74.125.113.132/search?q=cache:ebL_4XDep88J:https://www.defesa.gov.br/eventos_temporarios/2008/estrat_nac_defesa/estr
ategia_defesa_nacional_portugues.pdf+estrategia+nacional+de+defesa&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br

115
 Conferência de revisão de 1995: essa conferência teve grande importância pois deveria decidir sobre a
renovação do tratado, que terminava sua vigência. Acabou sendo decidido pela renovação por prazo indefinido do TNP.
Além disso, foi feito um apelo pela conclusão do CTBT (concluído em 1996), e uma resolução apoiando a criação de uma
NWFZ no Oriente Médio, bem como pedindo que Israel aderisse ao tratado.
 Conferência de revisão de 2000: a conferência de 2000 ocorreu em meio a um clima de pessimismo,
especialmente pela rejeição do CTBT no senado americano em 1999 e pela volta dos planos do país de criar o escudo
anti-mísseis (o que seria o fim do acordo ABM, que ocorre em 2001), além dos testes de Índia e Paquistão em 1998.
Mesmo com esse clima, com a intensa pressão dos não-NWS, a conferência teve alguns resultados:
o Os NWS se comprometeram a eliminar completamente seus arsenais nucleares;
o Reconheceu-se a necessidade de uma garantia formal de que os NWS não atacariam não-NWS com armas
nucleares;
o Foram aprovados os “13 passos em direção ao desarmamento nuclear”, que incluíam diversas coisas que não
foram cumpridas, entre as quais assinar o CTBT e manter acordos como o ABM.

Nuclear Suppliers Group (NSG)


O NSG foi estabelecido após o primeiro teste nuclear indiano, em 1975, quando se percebeu que a transferência de
tecnologia para fins pacíficos poderia ser “desvirtuada”. O grupo estabelece regras para a transferência de material e
tecnologia nuclear entre países, que primeiro foram publicadas pela AIEA em 1978 e ampliadas e revisadas em 1992. Em
1995, na conferência de revisão do TNP, as regras do NSG foram adotadas. Os membros do NSG são determinados de
acordo com a capacidade do país de suprir esse tipo de material; adesão e cumprimento das regras do NSG; leis
domésticas que comprometam o país no sentido a cumprir as regras; adesão ao TNP ou a algum outro tratado de não-
20
proliferação internacional; e apoio aos esforços internacionais de não-proliferação e desarmamento.

Conferência da ONU sobre Desarmamento (CD)


A CD é o único fórum de negociação multilateral sobre desarmamento. A CD foi criada em 1979, pela Sessão Especial da
AGNU sobre Desarmamento em 1978, e é sucessora de diversas outras iniciativas, como o Comitê de dez países sobre
desarmamento (1960) e o de dezoito (1962-68), bem como a Conferência do Comitê de Desarmamento (1969-1978). O
escopo de discussão da CD engloba praticamente todos os tópicos ligados ao desarmamento, incluindo armas nucleares.
A CD se reúne anualmente, e conta com 65 membros (inicialmente eram 40). A Conferência determina sua própria
agenda, e se reporta às Nações Unidas pelo menos uma vez ao ano, suas decisões são tomadas por consenso. Foi na CD
(ou em suas antecessoras) que se criaram os mais importantes tratados internacionais sobre desarmamento, incluindo o
TNP, o CTBT e a Convenção sobre Armas Químicas. O Brasil é membro da CD.

Tratado para Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBT)


Por este tratado, os países ficam proibidos de realizar explosões nucleares em áreas sob sua jurisdição ou controle, bem
como de auxiliar outros países que o façam. O CTBT estabelece, ainda, regimes de verificação do seu cumprimento,
incluindo o International Monitoring System. As negociações para o CTBT começaram em 1994, na CD. As negociações
foram muito complicadas, especialmente na definição de testes nucleares (ficou como qualquer explosão, menos os
chamados testes subcríticos), na fórmula para entrada em vigor (quantos e quais países precisariam ratificar) e na
inclusão ou não de um prazo vinculante para desarmamento nuclear. A negociação na CD ficou travada na terceira
questão e, dada a necessidade de consenso, o tratado foi enviado direto à AGNU para ser aprovado por lá, o que ocorreu
em 1996. O tratado só entra em vigor quando 44 países que têm reatores nucleares depositarem ratificações. O Brasil é
um desses e já o fez (assinou em 1996 e ratificou em 1998), mas China, Egito, Índia, Indonésia, Irã, Israel, Coréia do Norte,
Paquistão e EUA ainda não. Outros 148 países sem reatores já ratificaram.

20
Atualmente, os membros são: Argentina, Australia, Austria, Belarus, Belgium, Brazil, Bulgaria, Canada, China, Croatia, Cyprus, Czech
Republic, Denmark, Estonia, Finland, France, Germany, Greece, Hungary, Iceland, Ireland, Italy, Japan, Kazakhstan, Republic Of Korea,
Latvia, Lithuania, Luxembourg, Malta, Netherlands, New Zealand, Norway, Poland, Portugal, Romania, Russian Federation, Slovakia,
Slovenia, South Africa, Spain, Sweden, Switzerland, Turkey, Ukraine, United Kingdom, and United States. O Brasil aderiu ao grupo em
1996.

116
Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis (MTCR)
O MCTR é um grupo informal de países estabelecido em 1987 por Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e
EUA, com o objetivo de controlar a proliferação de mísseis capazes de levar armas de destruição em massa. Isso é feito
por meio de controles de exportação desses materiais; reuniões anuais do grupo (com presidência rotativa); diálogo com
outros países (não-membros) além da criação de um “Código de Conduta Internacional Contra a Proliferação de Mísseis
Balísticos” (“The Hague Code of Conduct”, de 2002), que tem mais de 100 signatários. Atualmente, o MCTR tem 34
membros. O Brasil faz parte desde 1995.

Convenção para a Proscrição de Armas Biológicas e Bacteriológicas (BTWC)


Essa Convenção, assinada em 1972 e em vigor desde 1975, proíbe o desenvolvimento, a produção, o armazenamento e o
uso de armas biológicas, bem como determina a destruição dessas armas em até nove meses após a ratificação pelo país.
A BTWC é criticada por não ser muito efetivamente aplicável, pois não conta com mecanismos seguros de verificação do
cumprimento. Foi tentada a criação de um protocolo adicional em 2001, recusado pelos EUA. Na sexta conferência de
revisão do tratado, em 2006 (são qüinqüenais), foi criada a Implementation Support Unit, para ajudar na implementação,
mas esse órgão não tem poder de monitoramento real. Atualmente o BTWC tem 164 estados partes, incluindo o Brasil
(desde 1976) e todos os P5. Israel não assinou o BTWC.

Convenção para Proibição de Armas Químicas (CPAQ)


A CPAQ, assinada em 1993 e em vigor desde 1997, tem por objetivo eliminar as armas químicas. A convenção proíbe o
desenvolvimento, produção, aquisição, transferência e armazenagem de armas químicas. As partes se comprometem,
ainda, a destruir seus arsenais e fábricas dessas armas até 31/12/2012. A CPAQ também criou a Organização para a
Proibição de Armas Químicas (OPAQ, de 1997), que tem sede na Haia e o objetivo de implementar as provisões da CPAQ,
inclusive com inspeções. A OPAQ tem 188 membros (O Brasil é membro fundador). Israel assinou, mas não ratificou a
CPAQ.

Zonas Livres de Armas Nucleares (NWFZ)

117
Tratado (área) Ass. Vigor Conteúdo Observações
O tratado prevê reuniões regulares entre os membros
Declara a Antártica como área de uso exclusivo para consultativos para troca de informações e discussões
fins pacíficos, proibindo quaisquer atividades, sobre a Antártica. O tratado só está aberto a novos
Tratado da Antártica 1959 1961 exercícios ou bases militares, bem como testes de membros que forem aprovados pelos membros
qualquer tipo de armamento e o depósito de material consultativos. Foi assinado um Protocolo Adicional
radioativo. "on Environmental Protection", em Madri em 1991,
que entrou em vigor em 1998.
Proíbe o teste, uso, fabricação, produção ou aquisição No Protocolo Adicional I os países com territórios na
por qualquer meio, bem como qualquer forma de ALeC (FRA, HOL, UK e USA) aceitam aplicar o estatuto
possessão de armas nucleares por países da ALeC. Os de desnuclearização militar dessas áreas. No
Tratado de Tlatelolco
1967 1969 países devem concluir acordos individuais com a AIEA Protocolo II, os P5 aceitam respeitar a
(América Latina e Caribe)
para aplcação de salvaguardas para suas atividades desnuclearização da ALeC e não contribuir para atos
nucleares, e a AIEA tem o poder exclusivo de fazer envolvendo sua violação, nem usar ou ameaçar usar
inspeções. armas nucleares contra as partes do Tratado.
No protocolo I, FRA, UK e USA concordam em aplicar
Proíbe a fabricação ou aquisição de qualquer
as proibições para seus territórios na região. No
explosivo nuclear, sua posse ou controle, o
Tratado de Rarotonga protocolo dois, os P5 concordam em não usar ou
1985 1986 suprimento desses materiais pelos países (a não ser
(Pacífico Sul) ameaçar usar armas nucleares contra os estados-
sob salvaguardas da AIEA), bem como a instalação, o
parte. No protocolo 3, os P5 concordam em não fazer
teste e o depósito desses materiais.
testes naquela região.
Proíbe a fabricação ou aquisição de qualquer
explosivo nuclear, bem como a parada ou transporte
de armas nucleares pela zona. As partes também
Por um Protocolo adicional, os P5 aceitam não usar
Tratado de Bangkok concordam em não despejar material nuclear na zona
1995 1997 ou ameaçar usar armas nucleares contra as partes do
(Sudeste Asiático) e devem concluir acordos de salvaguarda com a AIEA
Tratado.
para verificação de suas atividades nucleares
pacíficas. A zona inclui os territórios e as plataformas
continentais dos países
No Protocolo I, os P5 aceitam não usar ou ameaçar
Proíbe a pesquisa, desenvolvimento, fabricação e usar armas nucleares contra as partes do Tratado. No
aquisição de explosivos nucelares, bem como Protocolo II, os P5 aceitam não realizar testes
Tratado de Pelindaba qualquer ataque a instalações nucleares e o depósito nucleares na zona. No Protocolo III (aberto à
1996 ?
(África) de material radioativo na zona. As partes devem assinatura de França e Espanha), países com
concluir acordos de salvaguarda com a AIEA para territórios na área devem respeitar o tratado nesses
verificação de suas atividades nucleares pacíficas territórios. O Tratado entra em vigor com 28
ratificações, por enquanto há 26.
Entre Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão, Por um Protocolo, os P5 se comprometem a não usar
Tratado de Semipalatinsk Turcomenistão e Uzbequistão. Proíbe a pesquisa, ou ameaçar usar armas nucelares contra os membros.
2006 2009
(Ásia Central) desenvolvimento, fabricação, aquisição e Esse protocolo ainda não foi assinado por nenhum
armazenagem de quaisquer armas nucleares. dos P5.

“Casos especiais”
Índia e Paquistão
Tanto Índia quanto Paquistão se recusam a assinar o TNP por considerarem que se trata de um tratado desigual e
discriminatório. Os dois países desenvolveram armas nucleares após a criação do TNP, sendo que a Índia realizou seu
primeiro teste em 1974 e o Paquistão em 1998, seguindo um novo teste indiano.
Recentemente, em 2006, a Índia assinou com os EUA um acordo para transferência de tecnologia nuclear para fins civis, o
que foi criticado, já que o país não faz parte do TNP. Pelo acordo, a Índia foi obrigada a firmar acordo de salvaguardas e
21
permitir o acesso da AIEA a 14 de suas 22 usinas nucleares, o que foi feito em 2008 . No mesmo ano, os EUA
22
conseguiram que o Nuclear Suppliers Group (NSG) abrisse uma exceção para a Índia . O acordo foi ratificado pelos EUA
mas ainda não pela Índia, onde enfrenta forte oposição interna.
Israel
O programa de armas nucleares de Israel é um “segredo conhecido” desde 1986, quando um ex-técnico Mordechai
Vanunu (depois seqüestrado pelo Mossad na Itália e hoje preso em Israel), deu detalhes do programa à imprensa inglesa.
O país mantém uma política de ambigüidade, afirmando que não seria o primeiro país a introduzir armas nucleares no
Oriente Médio. O programa nuclear israelense viria desde o final dos anos 1950
Coréia do Norte
A Coréia do Norte entrou no TNP em 1985. Em 1992, as duas coréias assinaram a Declaração Conjunta de
Desnuclearização da península Coreana. Em 1993 a DPRK anunciou saída do Tratado, mas voltou atrás antes do prazo de
efetivação. Em 1994, o país assinou com os EUA o Acordo Quadro Coréia do Norte-EUA, que previa a troca do tipo de

21
O acordo foi aceito pela AIEA ainda em 2008, e assinado pela Índia em janeiro de 2009.
22
Inicialmente, vários países do NSG, especialmente Áustria, Suíça, Noruega, Irlanda e Nova Zelândia, impediram a aprovação do
acordo. Após uma semana de negociações por parte dos EUA e de um compromisso da Índia de não repassar a tecnologia para outros
países, a aprovação foi obtida.

118
reator usado em usinas da DPRK e o abastecimento do país com óleo doado pelos EUA, além do compromisso dos EUA de
não atacar a DPRK com armas nucleares e da DPRK de manter-se no TNP e seguir o compromisso da declaração conjunta,
além de permitir inspeções da AIEA. O Acordo Quadro teve muitos problemas desde o início, devido à mudança de
composição do senado americano, que passou a dificultar o cumprimento dele pelos EUA. Com as falhas de parte a parte,
a DPRK começou a ameaçar que produziria armas em 1998, e a relação foi se desgastando até que a DPRK deu aviso de
que sairia do TNP em 2003. Depois disso, as negociações com a DPRK começaram a ocorrer por meio das six-party talks
(duas coréias, Rússia, EUA, China e Japão). Em 2005 os norte-coreanos afirmaram que haviam desenvolvido armas
nucleares e, em 2006, fizeram o primeiro teste. Em 2009, fizeram o segundo. Desde
Irã
O Irã é parte do TNP, mas tem tido problemas com respeito ao seu programa nuclear. Em 2003, a AIEA declarou que o Irã
vinha faltando com as obrigações de seu acordo de salvaguardas. Em 2005, o Conselho da AIEA decidiu que essas falhas
consistiam no não cumprimento do acordo de salvaguardas do Irã, e encaminharam relatório ao Conselho de Segurança
em 2006. Mesmo com uma resolução do CS ordenando a suspensão do programa de enriquecimento de urânio do país, o
Irã continuou o programa. Desde então, a AIEA vem trabalhando com o governo do Irã e fazendo inspeções no programa
nuclear do país, que faz uma política dúbia.
África do Sul
A África do Sul merece destaque por ser o único país que chegou a ter um arsenal nuclear e destruí-lo. Esse processo
aconteceu entre 1991 (quando o país assina o TNP) e 1994, quando inspeção da AIEA atesta a inexistência desse arsenal.
Líbia
Mesmo tendo assinado e ratificado o TNP, a Líbia conduziu um programa secreto e desenvolveu armas nucleares. A partir
de 2003, o governo do país iniciou negociações com os EUA e a Grã-Bretanha, e finalmente permitiram vistorias de
técnicos desses países e da AIEA, que verificaram a existência das armas e de armas químicas, que foram removidas do
país pelos EUA (as químicas foram destruídas no local e a Líbia aderiu à Convenção de Armas Químicas) ainda em 2003. O
não-cumprimento do TNP foi reportado ao CSNU pela AIEA, mas nada foi feito.

Brasil e desarmamento
O Brasil tinha interesse em desenvolver um programa nuclear desde os anos 1950. Em 1955 assinamos acordo com os
EUA de cooperação para o desenvolvimento de energia atômica (no contexto do “Atoms for peace”). O Brasil comprou,
em 1971, um reator da companhia americana Westinghouse para a usina Angra I, mas em 1973 os americanos
restringiram o fornecimento do urânio necessário para abastecer esse reator (ainda em implantação), o que fez o Brasil
se aproximar da Alemanha. Em 1975, Brasil e RFA assinaram o acordo nuclear que incluía transferência de tecnologia de
todo o ciclo nuclear para o Brasil. Sob forte pressão dos EUA por não ser signatário do TNP, o Brasil e a RFA acabaram
assinando um acordo de salvaguardas em 1976 com a AIEA. Angra I começou a funcionar em 1986 (com o reator da
Westinghouse) e Angra II em 2000 (a do acordo com a Alemanha).
Em 1980, Brasil e Argentina iniciam a cooperação na área nuclear com o Acordo de Cooperação para o Desenvolvimento
e a Aplicação dos Usos Pacíficos da Energia Nuclear. Em 1985, os mesmos países assinam a Declaração de Iguaçu e a
Declaração Conjunta sobre Política Nuclear, nas quais afirmam a possibilidade de cooperação positiva na área e
estabelecem um grupo de trabalho técnico. Em 1991 essas iniciativas ganham força e se institucionalizam com a criação
da Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle (ABACC). A ABACC é a única instituição binacional do gênero
no mundo e tem por objetivo garantir o uso pacífico do material nuclear dos dois países. A Agência conta com um corpo
funcional técnico próprio e teoricamente independente, além de receber contribuições financeiras iguais dos dois países
(para não ter problemas políticos). Em 1994 entrou em vigor um acordo quadripartite entre Argentina, Brasil, ABACC e a
AIEA, para reforçar as garantias em relação aos fins pacíficos.
Em 1994 entra em vigor para o Brasil também o Tratado de Tlatelolco (que tinha sido assinado em 1967), após negociar
que a Argentina também o colocaria em vigor e que seriam feitas algumas emendas a ele, no contexto das negociações
23
para a ABACC. Argentina e Chile colocam o tratado em vigor no mesmo ano. Tlatelolco cria a Agência para a Proscrição
de Armas Nucleares na América Latina (OPANAL), com a finalidade de supervisionar a aplicação do tratado (inclusive

23
O Tratado de Tlatelolco permite explosões nucleares com fins pacíficos! Desde que isso seja notificado à AIEA e à
OPANAL com antecedência.

119
promover inspeções), dotada de uma Conferência Geral, um Conselho e uma Secretaria. As reuniões da Conferência
Geral (órgão máximo ocorrem a cada dois anos).
Em 1996, o Brasil assina o CTBT, ratificado em 1998, mesmo ano em que assinamos o TNP “para contribuir com a
universalização e o fortalecimento dos esforços de não-proliferação”.
Em 9 de junho de 1998, o Brasil associou-se a 7 outros países (México, Egito, África do Sul, Suécia, Nova Zelândia, Irlanda
e Eslovênia-que saiu depois) para emitir uma Declaração Ministerial intitulada "Em Direção a um Mundo Livre de Armas
Nucleares: a Necessidade de uma Nova Agenda". A iniciativa propôs uma série de medidas interinas rumo a um efetivo
desarmamento nuclear global e completo, nos termos do Artigo VI do TNP. Para dar seguimento à Declaração, os países
da Coalizão da Nova Agenda, que inclui o Brasil, vêm defendendo as medidas propostas em todos os foros da área de
desarmamento, tendo patrocinado Resolução sobre o assunto na Assembléia-Geral das Nações Unidas, em 1998 e 1999.
Palavras de Celso:
“O Brasil entende que deve ser combatida a proliferação das armas nucleares, tanto em seu aspecto horizontal (para
outros Estados ou atores não-estatais) como vertical (nos países que já as possuem). Os riscos de proliferação podem
representar um desincentivo ao desarmamento, mas a falta de avanços significativos no desarmamento cria incentivos à
proliferação.”
“Nosso compromisso com o uso pacífico do átomo tornou-se obrigação constitucional na Carta de 1988. Assinamos dois
acordos com a Argentina e, junto com os argentinos e o Chile, retiramos as reservas que impediam a vigência plena do
Tratado de Tlateloco, efetivando, dessa forma, uma zona livre de armas nucleares na América Latina e Caribe.”
“Embora essas garantias de não-proliferação já fossem suficientes, o Brasil decidiu, em 1998, aderir ao TNP, por entender
24
que estaria contribuindo para a universalização e o fortalecimento dos esforços de não-proliferação e desarmamento.”
O Brasil defende, atualmente:
• Desarmamento completo, abrangente, irreversível e verificável
• Entrada em vigor do CTBT
• Tratado que proíba produção de material físsil radioativo (na Conferência do Desarmamento) - cut-off ou fissban
treaty
• Disseminação de ZLANs - Apoio a ZLAN no Oriente Médio (sem Israel)
• Redefinição do papel das armas nucleares nas doutrinas militares
• Garantias negativas de segurança - convenção para não-utilização ou ameaça de utilização de armas nucleares
contra países desnuclearizados
• Universalização do TNP

24
www.mre.gov.br/portugues/politica_externa/discursos/discurso_detalhe3.asp?ID_DISCURSO=2607

120
16.8. Narcotráfico

O PROBLEMA

O fenômeno do narcotráfico situa-se na intersecção de uma série de problemas: queda de preços de commodities
agrícolas, desestruturação de aparelhos de Estado, emergência de “paraísos fiscais”, atuação de movimentos de
guerrilha, estratégia internacional antidrogas dos Estados Unidos.

Os principais centros de produção agrícola da folha de coca são o Peru, a Bolívia e a Colômbia. A introdução do cultivo
em larga escala nesses países ocorreu durante a década de 1970, substituindo commodities tropicais. A queda
acentuada das cotações internacionais dos produtos agrícolas exportados por esses países, no final da década,
representou o pano de fundo para a expansão do cultivo de folha de coca. Simultaneamente, o narcotráfico organizava-
se em escala inédita e o consumo de maconha, nos Estados Unidos e na Europa ocidental, dava lugar ao consumo de
cocaína. A consolidação do negócio internacional do tráfico de drogas desenvolveu-se a partir da crise das instituições de
Estado na Colômbia, no Peru e na Bolívia.

Devido à forma como se organizam, desafiando a lógica territorial dos Estados, as redes de narcotráfico exigem novas
formas de cooperação política, policial e informacional entre os países, sob pena de ineficiência.

COLÔMBIA
Ocupou a posição de principal produtor industrial da cocaína, em situação quase monopolista. Refina cerca de 80% da
cocaína consumida nos Estados Unidos.
Cartel de Medellín / Cartel de Cali – concentraram as atividades de refino, formando o vértice do narcotráfico
internacional. A difusão do dinheiro dos cartéis por toda a economia e o meio político provocou a corrosão irreversível da
legitimidade das instituições públicas, esvaziando o sistema democrático de seus conteúdos vitais.
A formação do Cartel de Medellín acompanhou o crescimento da violência política e dos enfrentamentos entre as forças
armadas e as guerrilhas. Em 1979, a questão do narcotráfico convertia-se em tema central da diplomacia colombiana,
com a assinatura de tratado de extradição permitindo a entrega para os Estados Unidos de acusados de negócios com a
droga. Em 1991, a “rendição” de Pablo Escobar teve como contrapartida a votação, pelo Legislativo, de uma lei proibindo
a extradição. A “fuga” de Escobar contribuiu para desmoralizar o governo de Bogotá. A morte do traficante, em 1993,
reduziu a influência da organização de Medellín.
O negócio do tráfico transferiu-se para o controle do Cartel de Cali, que controla a maioria dos laboratórios de refino e
participa das mais diversas atividades legais em todos os setores da economia colombiana. Nova lei de extradição,
enviada pelo governo de Ernesto Samper e aprovada no Congresso em 1997, foi criticada por Washington em virtude de
não ter caráter retroativo.

BOLÍVIA
Instabilidade política desde a rebelião militar e a renúncia do ditador Hugo Bánzer, em 1978. Em 1980, um movimento
militar conduzia ao poder o general García Meza que, comprovadamente, estava envolvido com a máfia internacional da
cocaína. Esse período representou o momento da grande expansão do cultivo de folha de coca no país. Em meados da
década de 1980, com a estabilização institucional e a colaboração dos Estados Unidos na repressão ao tráfico em
território boliviano, o negócio veio a conhecer significativo retrocesso.

PERU
A expansão do cultivo da coca desde 1975 coincidiu com a dissolução do regime militar e populista de Velasco Alvarado.
No início da década de 1980, o surgimento do terrorismo do Sendero Luminoso e a perda de controle do Governo sobre

121
vastas áreas rurais do Andes e da Amazônia criaram o ambiente para o crescimento do negócio do tráfico. Nos anos 90,
sob o governo de Fujimori, o Sendero Luminoso foi golpeado e o cultivo da coca conheceu certo retrocesso.

PARAÍSOS FISCAIS
As rotas da cocaína, transportada para os grandes mercados consumidores na América do Norte e na Europa, envolvem
“os paraísos financeiros” da América Central e do Caribe. A legislação financeira flexível e as regulamentações bancárias
que favorecem o anonimato se combinam com o deslocamento de agências bancárias americanas e européias para
territórios off-shore, garantindo a legalização das rendas da cocaína.
A questão dos fluxos financeiros é fundamental para o combate ao narcotráfico. O fim dos paraísos fiscais é passo
fundamental para mitigar o extraordinário poderio econômico dos cartéis internacionais, que tornar-se-iam mais
vulneráveis as investidas internacionais.

POLÍTICA AMERICANA – Guerra ao narcotráfico


Em 1986, no segundo governo Reagan, os EUA definiram uma doutrina de combate ao narcotráfico, cujo pondo de
partida foi um decreto presidencial prevendo o uso eventual das Forças Armadas contra narcotraficantes, em países
estrangeiros. O tema deixava o âmbito das políticas nacionais de segurança pública e saúde para ingressar na esfera das
relações internacionais.
A nova doutrina transformou a questão do narcotráfico em assunto de segurança nacional. A expressão
“narcoterrorismo” passou a ser utilizada para recobrir todas as manifestações do narcotráfico, e não apenas a ligação
entre os narcotraficantes e os movimentos terroristas ou guerrilheiros. “Narcoterrorismo” tornou-se acusação passível de
ser dirigida a governos constituídos, como ocorreu mais tarde com o regime panamenho de Manuel Noriega.
Simultaneamente, as verbas destinadas pelo Congresso ao combate ao negócio da droga experimentaram crescimento
geométrico, enquanto eram desconsideradas estratégias alternativas, baseadas em considerações sociais e de saúde.
EUA passaram a atuar por meio de conselheiros militares, agentes da CIA ou da DEA, na repressão a narcotraficantes na
Colômbia, no Peru e na Bolívia. Nesses países, Washington coordenou programas de supressão de áreas de cultivo da
folha de coca e desenvolveu programas de treinamento de forças militares e policiais para o combate ao
“narcoterrorismo”.
A doutrina americana provocou a militarização do combate ao narcotráfico, envolvendo as forças armadas de países
latino-americanos. As forças armadas de países latino-americanos equipararam o narcotráfico à “guerra revolucionária” e
transformaram a repressão ao tráfico em prioridade de segurança nacional. No Pentágono planejava-se intervenções
militares na área andina. A invasão do Panamá, em 1989, por tropas do EUA e a prisão do homem-forte do país, Manuel
Noriega, foram apresentadas por Washington como operações enquadradas na repressão ao narcotráfico.
A “Operação Justa Causa” fundamentou-se na doutrina do “narcoterrorismo” e foi justificada em termos de segurança
nacional dos Estados Unidos. O Panamá continuou a ser utilizado como rota da cocaína e centro de lavagem do dinheiro
da droga, fornecendo argumentos para os críticos dos alicerces conceituais da “guerra ao narcotráfico”.
Commonsense Drug Policy – “While looking to Latin America and Asia for supply-reduction solutions to America’s drug
policy problem is futile, the harm-reduction approaches spreading throughout Europe and Australia and even into corners
of North America show promise. These approaches start by acknowledging that supply-reduction initiatives are inherently
limited, that criminal justice responses can be costly and counterproductive, and that single-minded pursuit of a “drug-
free society” is dangerously quixotic. Demand-reduction efforts to prevent drug abuse among children and adults are
important, but so are harm-reduction efforts to lessen the damage to those unable or unwilling to stop using drugs
immediately, and to those around them.” Ethan A. Nadelmann (Foreign Affairs).
Desde 1988 os EUA adotaram uma “política de certificação”, pela qual os EUA avaliam anual e publicamente o
comportamento de outros países no combate ao narcotráfico: provocou constrangimentos diplomáticos sem contribuir
para maior eficácia na repressão aos narcotraficantes. As contradições da “política de certificação” evidenciaram-se no
tratamento conferido à Colômbia e ao México.
Em 1996 e 1997, foi negada a certificação à Colômbia, o que acarretou suspensão de ajuda econômica e cassação do visto
de entrada nos EUA do presidente Samper. Em 1998, o certificado também deixou de ser concedido, porém as sanções
econômicas foram levantadas e retomou-se a cooperação militar. Em 1999, o aprofundamento da crise colombiana foi

122
acompanhado por enrijecimento ainda maior do enfoque conceitual americano. A política externa americana passou a
ser definida não pelo Departamento de Estado, mas pelo diretor da política antidrogas da Casa Branca.
No caso mexicano a certificação foi ritualmente renovada apesar das evidências de envolvimento com o narcotráfico de
altas autoridades com o cartel de Juárez. O regime semiditatorial de Fujimori também foi considerado um firme aliado na
“guerra ao narcotráfico”, todavia, durante o ocaso do regime, evidenciou-se o envolvimento de autoridades com os
negócios do narcotráfico.
Em 1990, reuniu-se a Cúpula de Cartagena (Colômbia, EUA, Peru e Bolívia) que aprovou um documento amplo (medidas,
instituições e organismos) a fim de coordenar a repressão ao tráfico de drogas, diluindo-se a ênfase militar pretendida
por Bush. O documento sublinhou a ligação entre produção e consumo de drogas, situando indiretamente a
responsabilidade dos EUA, como grande mercado consumidor, na expansão do narcotráfico.
Em 1992, reuniu-se a Cúpula de San Antonio (EUA, Colômbia, Peru, Bolívia, Venezuela, Equador e México) que aprovou
um documento muito aquém das pretensões americanas, sublinhando – pouco mais de dois anos depois da invasão do
Panamá – a necessidade de respeito à soberania nacional dos países envolvidos. A declaração voltou a enfatizar o
problema do consumo de drogas e explicitou os aspectos sociais envolvidos na repressão ao narcotráfico, destacando a
importância de programas de ajuda aos camponeses para a substituição do cultivo ilegal.
A constituição de uma força multinacional antidrogas pretendida por Bush esbarrou na ênfase conferida ao princípio da
soberania nacional, e o projeto de militarização da repressão foi atenuado pelo destaque conferido aos aspectos sociais
envolvidos. A administração de Clinton amenizou a retórica da “guerra às drogas”, mas não alterou os fundamentos da
estratégia definida pelos antecessores.
Do conceito de “narcoterrorismo” emergiu a caracterização de “narcoguerrilhas”, aplicadas aos grupamentos armados
de esquerda. Em 2003, foram suprimidas as distinções originais do Plano Colômbia e o treinamento de repressão ao
narcotráfico oferecido pelos EUA transformou-se em cooperação militar contra as guerrilhas colombianas.

POSIÇÕES DO BRASIL

O Brasil é um país que, não obstante não sofrer ameaças de outros atores estatais, sofre com a segurança interna,
principalmente no que concerne ao narcotráfico. Essas organizações criminosas trabalham em redes, sem limites
fronteiriços ou de nacionalidade. Da mesma forma, seus vultosos recursos atravessam o sistema financeiro internacional,
proporcionando flexibilidade e capacidade de mobilização inaudita. Para enfrentar esses desafios, cabe ao Estado
territorial articular-se internacionalmente, única forma de se combater, efetivamente, essa ameaça. Para o Brasil, pais
segundo maior consumidor de cocaína do mundo, cercado de grandes produtores de droga e parte da “rota do trafico”
entre América e Europa, essa necessidade é premente. CACD 2009 – Guia de Estudos

Regiões sensíveis
Tríplice Fronteira – BRA/ARG/PAR  cooperação policial
Fronteira noroeste do Brasil, desde a Bolívia ate a Guiana Francesa. As chamadas “cidades gêmeas” são focos de ação das
redes internacionais de tráfico de drogas  cooperação bilateral.

A tese do Governo Lula é de que o narcotráfico resulta da pobreza, e a redução desta é fundamental no combate
ao tráfico de drogas.

Brasil ha adoptado una política consistente en lo que respecta al control de las drogas y al combate a su tráfico. Se ha
dado prioridad a cohibir el abuso y la demanda dentro de las fronteras y a practicar una política de estrecha
cooperación con otros países. En este sentido, Brasil es parte contratante de los tratados más relevantes relacionados
con el control de las drogas y, en mayo de 1995, fue elegido para la Comisión de Estupefacientes de las Naciones Unidas
sobre Drogas. De este modo, a nivel regional, el país ha venido participando activamente en el trabajo de la Comisión
Interamericana para el Control del Abuso de Drogas de la Organización de los Estados Americanos (OEA).

123
En el plano bilateral, Brasil es signatario de varios acuerdos de cooperación para la prevención del uso abusivo
de drogas, para la rehabilitación y para el intercambio de informaciones sobre legislación y jurisprudencia nacionales,
especialmente con los países vecinos. Dichos acuerdos marcan el inicio de una nueva etapa en la cooperación bilateral en
materia de estupefacientes, al incorporar a los esfuerzos conjuntos una visión compartida sobre los desafíos a enfrentar.
El país ha desarrollado además una serie de programas bilaterales destinados a combatir el narcotráfico a lo largo de las
fronteras y ha venido adoptando medidas para actualizar y mejorar su legislación, de cara a reducir la demanda de
narcotráficos.

SISTEMA ONU, ACORDOS MULTILATEAIS e EXTRA-HEMISFÉRICOS

# Comissão de Narcóticos
A Comissão de Narcóticos (ou Commission on Narcotic Drugs - CND) foi estabelecida em 1946 pelo Conselho Econômico e
Social das Nações Unidas (ECOSOC) e, dentro do Sistema ONU, é o principal órgão formulador de políticas relacionadas
às drogas. A Comissão, que conta com a participação de 53 países, analisa a situação do abuso das drogas no mundo e
desenvolve propostas para fortalecer o controle internacional dessas substâncias. O mandato de cada país junto à
Comissão de Narcóticos é de quatro anos.
Em 1991, a Assembléia Geral das ONU criou um fundo com recursos orçamentários para o então Programa Internacional
das Nações Unidas para Controle de Drogas (UNDCP) e expandiu o mandato da Comissão, que se tornou responsável por
administrar o Programa, que atualmente é parte do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC).

# International Narcotic Control Board (INCB) – Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes


The International Narcotics Control Board (INCB) is the independent and quasi-judicial monitoring body for the
implementation of the United Nations international drug control conventions. It was established in 1968 in accordance
with the Single Convention on Narcotic Drugs, 1961 (Brazil, 16/May/1973). It had predecessors under the former drug
control treaties as far back as the time of the League of Nations.
The functions of INCB are laid down in the following treaties: the Single Convention on Narcotic Drugs, 1961; the
Convention on Psychotropic Substances of 1971; and the United Nations Convention against Illicit Traffic in Narcotic
Drugs and Psychotropic Substances of 1988.
The three major international drug control treaties are mutually supportive and complementary. An important purpose
of the first two treaties is to codify internationally applicable control measures in order to ensure the availability of
narcotic drugs and psychotropic substances for medical and scientific purposes, and to prevent their diversion into illicit
channels. They also include general provisions on trafficking and drug abuse.

As regards the licit manufacture of, trade in and use of drugs, INCB endeavours, in cooperation with Governments, to
ensure that adequate supplies of drugs are available for medical and scientific uses and that the diversion of drugs from
licit sources to illicit channels does not occur. INCB also monitors Governments' control over chemicals used in the illicit
manufacture of drugs and assists them in preventing the diversion of those chemicals into the illicit traffic;
As regards the illicit manufacture of, trafficking in and use of drugs, INCB identifies weaknesses in national and
international control systems and contributes to correcting such situations. INCB is also responsible for assessing
chemicals used in the illicit manufacture of drugs, in order to determine whether they should be placed under
international control.

# Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC)


Agência da ONU responsável pela prevenção às drogas e pelo enfrentamento ao crime internacional, em seus mais
diversos aspectos. A missão do UNODC é de contribuir para o desenvolvimento socioeconômico dos países ao promover
justiça, segurança, saúde e direitos humanos. Estabelecido em 1997, quase todo o orçamento do escritório (90%) vem de
contribuições voluntárias dos países doadores.

124
O mandato do UNODC é prestar cooperação técnica aos Países-Membros da ONU para reduzir os problemas na área de
saúde (como o HIV) e social (como a violência) que têm relação direta ou indireta com drogas ilícitas e o crime. O
Escritório busca prevenir e controlar o crime organizado, incluindo corrupção, lavagem de dinheiro, tráfico de pessoas e
terrorismo, sempre baseado em ações de respeito e garantia dos direitos humanos. Na Declaração do Milênio, os Países
Membros decidiram implementar o compromisso mundial de intensificar a luta contra o crime transnacional - em todas
as dimensões.
Os três pilares do trabalho do UNODC são: Trabalho de caráter normativo (cooperar com países na ratificação e prática
dos tratados multilaterais e aperfeiçoamento da legislação doméstica); Pesquisa e análise; Cooperação técnica.

Programa no Brasil
- Prevenção às drogas no ambiente de trabalho e na família nos Países do Cone Sul. Parceiro: Serviço Social da Indústria
(SESI) do Rio Grande do Sul. Concluído

# Programa Global de Ação aprovado na XVII Sessão Extraordinária da Assembléia Geral das Nações Unidas, em 1990

# Brasil está no acordo da Interpol (OI)


Cooperação realizado com a Interpol levou, no Brasil, a prisão do georgiano Boris Berezovsky, acusado de trabalhar na
lavagem de dinheiro, entre outros negócios ilícitos.

# BRASIL E UNIÃO EUROPÉIA


Necessidade cada vez mais urgente de cooperação internacional com a Europa, em virtude da peculiar
“complementaridade” da indústria da droga nas duas regiões.
As chamadas “mulas” levam cocaína de Bolívia e Colômbia, que entra pela fronteira seca, para a Europa e trazem de volta
drogas sintéticas oriundas especialmente de Holanda e Espanha. A cooperação com a Interpol e com a Europol tem sido
fundamental para a repressão a esse trânsito.

SISTEMA HEMISFÉRICO

# Comissão Interamericana contra o Abuso de Drogas (CICAD/OEA);


Programa Interamericano de Ação do Rio de Janeiro contra o Consumo, a Produção e o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e
Substâncias Psicotrópicas, abril de 1986.

# OTCA – Organização do Tratado de Cooperação Amazônica

BRASIL E COLÔMBIA
# Comissão de Vizinhança: discute o problema das drogas com a Colômbia; Acordos Bilaterais com Colômbia
A guerra civil na Colômbia constitui um foco de instabilidade e preocupação para o Brasil, sobretudo, à
possibilidade de uma intervenção militar, efetuada ou articulada pelos Estados Unidos. O Plano Colômbia, lançado pelo
presidente Bill Clinton, preocupou o governo brasileiro, uma vez que equacionava o conflito, exclusivamente, em sua

125
dimensão armada, destinando mais US$ 1,2 bilhão à compra de material bélico pelo Exército colombiano e apenas US$
238 milhões à promoção dos direitos humanos e ao reforço da democracia e do sistema judicial.
O Brasil temia o impacto que a execução do Plano Colômbia produziria sobre o seu território, levando
guerrilheiros ou militares colombianos a invadi-lo, e receou que fungos e outras armas químicas e biológicas,
eventualmente empregadas pelos Estados Unidos, para destruir as plantações de coca, contaminassem os rios da
Amazônia. No seu entendimento, não se podia vincular a necessidade de se combater o negócio das drogas com o
problema da insurgência, que era da competência interna da Colômbia e devia ser politicamente resolvido, embora esta
posição não significasse simpatia por qualquer solução tendente a ceder às Farcs (Fuerzas Armadas Revolucionarias de
Colombia) e ao ELN (Ejército de Libertación Nacional) as zonas conquistadas, por implicar uma renúncia do estado
colombiano à soberania sobre seu território. Entretanto, o governo brasileiro resolveria a crise e recusou-se
terminantemente a permitir a utilização de qualquer base ou outras instalações militares em seu território para
operações na Colômbia.
O Brasil não admite que o Estado colombiano se desintegre, com as Farcs a controlar 40% do seu território, mas
se recusa a confundir o combate ao narcotráfico com a repressão da insurgência, e vê com desconfiança a presença dos
Estados Unidos nas repúblicas do Pacífico, na região da Amazônia. Daí porque procurou evitar que degenerasse em
conflito militar o incidente diplomático entre a Colômbia e a Venezuela, por causa da violação de sua soberania com a
captura ilegal, possivelmente com o auxílio da CIA, de um dirigente das Farcs em Caracas. A política do Brasil vis-à-vis da
Colômbia manteve a mesma diretriz desde o governo FHC de defesa da soberania nacional e de repúdio à intervenção
estrangeira nas questões internas do país.
Temas e Agendas – Volume 1 – Cap 9: O Brasil e a América do Sul
Moniz Bandeira
BRASIL E PERU
# Comissão Mista Antidrogas: discute o problema das drogas com o Peru;
# Convênio de Assistência Recíproca para a Repressão do Tráfico Ilícito de Drogas que produzem dependência.
Assinado em 1976 – em vigor em 1979

BRASIL E BOLÍVIA
# Convênio de Assistência Recíproca para a Repressão do Tráfico Ilícito de Drogas que produzem dependência
Os presidentes da Bolívia, Evo Morales, e Brasil, Lula, respaldados pelo Convênio de Assistência Recíproca para a
Repressão do Tráfico Ilícito de Drogas que produzem Dependência, de 1977 e o protocolo adicional de 1988, declararam
dar prioridade à negociação de um instrumento bilateral, a ser constituído por meio de Grupo de Trabalho que deverá
apresentar relatório no primeiro trimestre de 2009, para atualizar os acordos supracitados.
Além de agendarem a realização da VI Comissão Mista Sobre Drogas e Temas Correlatos, em Brasília (Jan 2009),
procurarão também integrar o DPF (Departamentos de Polícia Federal) e a FELCN (Força Especial de Luta contra o
Narcotráfico), levando ao fortalecimento da cooperação com vistas a combater o crime organizado transnacional.
A Polícia Federal, com base em apreensões feitas nos últimos anos, percebeu que os grandes traficantes estão migrando
da Colômbia para a Bolívia, devido à grande repressão ao tráfico de drogas empreendida na primeira, com apoio material
e financeiros dos EUA inclusive. O Brasil estaria sendo usado como rota para as drogas que teriam como destino a
Europa. Uma ação que deu certo na Colômbia foi o controle sobre produtos simples, como a Acetona e éter, mas que são
utilizados na produção da cocaína. A miséria nas cidades da fronteira do Brasil com a Bolívia leva muitos a serem
coniventes com o narcotráfico. Mostrando que, além do combate policial efetivo, é necessário investimento em combate
à pobreza, tanto lá quanto cá.

BRASIL E EUA
# Acordo de Cooperação Mútua para a Redução da Demanda, Prevenção do Uso Indevido e Combate à Produção e ao
Tráfico Ilícito de Entorpecentes. Assinado em 1995 - em vigor em 1997.
Problema do abuso de entorpecentes deve operar-se por meio de atividades concertadas e harmônicas na prevenção do
uso indevido, na repressão ao tráfico ilícito e na recuperação e reabilitação dos dependentes.

126
# Memorando de entendimento sobre controle de narcóticos e aplicação da lei. Assinado e em vigor 2008
- PROJETO DE TREINAMENTO EM APLICAÇÃO DA LEI - Departamento de Polícia Federal (DPF)/Departamento de Combate
ao Crime Organizado (DCOR)
Fornecer treinamento
- UNIDADES ESPECIAIS DE INVESTIGAÇÃO (UEI) - DPF/DCOR
Aumentar o número e a eficácia das UEIs do DPF, fornecendo apoio operacional, logístico e em treinamento,
possibilitando a investigação de grandes organizações internacionais e nacionais que operam com tráfico de narcóticos e
distribuição de produtos químicos ilícitos no Brasil e em países vizinhos.
- PROJETO DE INTERDIÇÃO EM AEROPORTOS - DPF/DCOR
Ampliar um programa já existente realizado nos aeroportos internacionais de São Paulo e do Rio de Janeiro e a reproduzir
o programa em outros aeroportos internacionais brasileiros. O projeto visa auxiliar o DPF na detecção de narcóticos,
produtos relacionados a narcóticos e outros tipos de contrabando que passem pelos terminais de passageiros como
bagagem despachada, bagagem de mão ou escondidos nos passageiros.
- PROJETOS DE CÃES FAREJADORES - DPF/ Coordenação Geral de Repressão a Entorpecentes (CGPRE)
- CONTROLE DO CRIME URBANO - Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) e
Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN)
Em conjunto com a SENASP, este programa destina-se a auxiliar na redução do tráfico de drogas e armas, o tráfico de
pessoas, a lavagem de dinheiro e os crimes relacionados com quadrilhas em São Paulo, Rio de Janeiro e outras cidades
brasileiras. O projeto também contribuirá para aprimorar os controles internos dos estabelecimentos prisionais.
- PREVENÇÃO ÀS DROGAS - Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD)
Implementação de atividades de redução da demanda de drogas, de acordo com as diretrizes estabelecidas pela Política
Nacional sobre Drogas do Brasil (PNAD).

MECANISMOS INTERNOS
# Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD)
É o órgão do governo encarregado de coordenar, supervisionar e controlar as atividades de prevenção e repressão ao
tráfico ilícito, uso indevido e produção não-autorizada de entorpecentes, assim como as atividades de recuperação de
viciados. A aprovação e supervisão da Política Nacional Antidrogas, proposta pela SENAD é efetuada pelo Conselho
Nacional Antidrogas (CONAD), órgão colegiado que reúne representantes das várias instâncias da Administração Federal
envolvidas na questão.
# Coordenação Geral de Repressão a Entorpecentes (CGPRE)

# Coordenação-Geral de Combate aos Ilícitos Transnacionais (COCIT): em que é realizada à cooperação bilateral,
subregional, regional e internacional com vistas ao combate ao narcotráfico, tráfico de armas e de pessoas, lavagem de
dinheiro, terrorismo e corrupção (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES). Faz parte do Sistema Brasileiro de
Inteligência.

# Lei do abate (2004)

ATUALIDADE
Curso de prevenção às drogas irá capacitar 25 mil professores de escolas públicas UNODC integra corpo de
tutores do curso promovido pela SENAD e pelo MEC em parceria com UnB.
Brasília, 7 de agosto de 2009 - Vinte e cinco mil professores da rede pública de ensino do Brasil irão participar do
curso gratuito de Prevenção do Uso de Drogas promovido pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) e

127
pelo Ministério da Educação (MEC). Serão quatro meses de capacitação por meio do Centro de Educação à Distância da
Universidade de Brasília (CEAD/UnB). O curso está previsto para começar na segunda-feira (10) e terá duração de quatro
meses.
Cada escola poderá participar com um grupo de cinco professores. Entre outras tarefas, eles vão elaborar um
projeto final que deverá ser aplicado à realidade de cada instituição de ensino. Os aprovados receberão um certificado de
curso de extensão pela UnB. A iniciativa pretende "capacitar educadores para o desenvolvimento de programas de
prevenção do uso de drogas e de comportamentos de risco no contexto escolar, além de possibilitar que os educadores
sejam capazes de abordar adequadamente as situações de uso de drogas e encaminhar alunos e familiares para a rede de
serviços de atenção à saúde e outras existentes na comunidade".
Durante o curso, haverá um tutor treinado para ajudar na orientação de cada 100 participantes. Os tutores
foram selecionados a partir de um curso específico no mês passado. Quatrocentos profissionais de diversas áreas
frequentaram as aulas presenciais durante quatro fins de semana. Desses, 250 foram escolhidos. Entre eles estão as
assistentes de projetos do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) Fabíola Veiga e Irany Paiva.
Esta é a terceira edição do Curso de Prevenção do Uso de Drogas para Educadores de Escolas Públicas. A
primeira versão ocorreu em 2004 e capacitou 5 mil professores. Em 2006, outros 20 mil profissionais da educação
participaram. Com isso, o governo brasileiro espera "favorecer o desenvolvimento dos jovens, reduzir os riscos e os danos
associados ao uso de drogas nesta faixa etária e reconhecer a escola como um importante agente de prevenção".

128
BRASIL E A REFORMA DA ONU

Desde a sua criação, o Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) sofreu apenas uma grande reforma, quando em
1963 foi alargado o número de assentos para membros não-permanentes de seis para dez vagas. Desde então, a
conjuntura internacional já se modificou bastante, e o CSNU não representa a correlação de forças que existe no Sistema
Internacional atual. A partir da década de 90 o debate acerca da reforma desse órgão tão importante ganhou vulto,
intensificado nos primeiros anos dos anos 2000, após a publicação de um documento escrito pelo então Secretário-Geral
das Nações Unidas, Kofi Annan, onde fica explicita a necessidade de expansão e modificação do CSNU.
A discussão que está em curso no momento teve inicio em 1992, quando foi adotado pela AGNU a resolução 27/62
solicitando a todos os Estados membros a apresentação de sugestões para revisão da composição do Conselho. Aquela
composição (que é a mesma de hoje) Não representava mais a correlação de poder na ONU.
“Dos 51 Estados fundadores das Nações Unidas em 1945, o número de membros elevou-se a 179 em 1992. Em quatro
décadas e meia, o número de membros da Organização crescera 211%, ao passo que o número de membros do Conselho,
apenas 67%, com a micro-reforma de 1963. Seu déficit de representatividade – especialmente em relação aos países em
desenvolvimento – tornara-se evidente. Países como África do Sul, Alemanha, Brasil, Índia, Japão e Nigéria foram
extremamente atuantes desde o início das discussões sobre uma possível reforma. Mesmo os Estados Unidos se
mostravam a favor, ao apoiar explicitamente o ingresso de Alemanha e Japão no Conselho como membros
25
permanentes”.

Em 1993 foi criado o Open-Ended Working Group (Carinhosamente chamado de Never-Ending Working Group),
que ainda está em funcionamento com o objetivo de analisar as propostas e considerar todos os aspectos relacionados
ao aumento da composição do Conselho de Segurança. Em 1998 esse grupo, presidido por Ismail Razali, lançou um plano
que propunha uma reforma em três etapas, que ficou conhecido como Plano Razali. É a primeira grande proposta
concreta de Reforma do CSONU. Esse plano nunca foi votado, mesmo que contasse com o apoio dos P5. É importante
mencionar que o Plano previa a admissão de Japão e Alemanha e de mais três países emergentes, e foi bloqueado por
um grupo de países (que hoje fazem parte do grupo da Resolução United for Consensus, ou do também chamado de
Coffee Club, que será melhor explorado abaixo), pela OUA (atual UA) e pelos países do MNA.

Em 2003, após o fracasso do Conselho de Segurança em lidar com a questão do Iraque, a questão da reforma do
órgão voltou a ser fortemente debatida no cenário internacional e nas Nações Unidas. Kofi Anna, o então Secretário Geral
da ONU convocou em setembro do mesmo ano o Painel de Alto Nível sobre Ameaças, Desafios e Mudanças para avaliar
atuais problemas à segurança internacional e fazer recomendações para o fortalecimento da ONU. Como resultado desse
painel, em 2004 foi lançado um relatório que propunha uma reforma completa da Organização, em todos os níveis e
órgãos. Esse relatório, chamado de, “A More Secure World: our shared responsability”, afirmava a necessidade de
aumentar a eficiência e credibilidade do Conselho. Nesse relatório dois modelos são apresentados como alternativas para
a expansão do Conselho de Segurança da ONU. Ambos os modelos aumentariam para 24 o número total de assentos do
Conselho de Segurança, apoiados na questão da distribuição dos assentos por quatro principais regiões, ao invés de cinco
como ocorre atualmente.
No modelo A, seis dos nove novos assentos previstos serão assentos permanentes, e os outros três serão
rotativos, em mandatos de dois anos. Os novos membros permanentes não gozariam do direito de vetar propostas, e
apesar de não estar explícito quais seriam os candidatos, é bastante claro que, pela divisão das quatro regiões, seriam
Brasil representando as Américas, Japão e Índia representando Ásia e Pacífico, Alemanha representando Europa
Ocidental e Nigéria e Egito ou África do Sul como sendo os representantes do continente africano. Dos 13 assentos não-
permanentes restantes quatro iriam para o continente africano, três para Ásia-Pacífico, dois para a Europa e quatro para
as Américas.
Já o modelo B é um pouco mais controverso, pois deixa inalterada a categoria de membros permanentes. Ao
invés de criar novos assentos permanentes o modelo propõe a criação de oito assentos semi-permanentes, aumentando
o mandato de dois para quatro anos. Entretanto continuariam existindo assentos não-permanentes com mandatos de
dois anos, sendo criadas novas vagas. No geral, teríamos os cinco membros permanentes, oito membros semi-

25
Tirado da revista Juca – numero 2

129
permanentes e onze membros rotativos. Essa estrutura criaria novamente três categorias de membros dentro do
Conselho de Segurança, como o Modelo A, mas apresentaria alterações menos significativas em termos de poder. Além
disso, como menciona Blum, esse modelo recria a condição de membro "permanente não-permanente" do Conselho da
Liga das Nações, responsável pela inabilidade e conseqüente falência da Liga para resolver as crises apresentadas.

26
Modelo A
Assentos Novos assentos Assentos não- Em 2005, Kofi
Nº de
Região permanentes permanentes renováveis de 2 Total Annan escreveu outro
Estados
(mantidos) propostos anos propostos relatório: “In Larger
África 53 0 2 4 6 Freedom: towards
security, development
Ásia e Pacífico 56 1 2 3 6 and human rights for
Europa 47 3 1 2 6 all” onde endossava as
propostas do Painel.
Américas 35 1 1 4 6 Entretanto, apesar de
Totais 191 5 6 13 24 elogiar a iniciativa e as
propostas
apresentadas nos
Modelo B modelos A e B, pede
para que outros países
Assentos Assentos Assentos não- continuem
Nº de
Região permanentes renováveis de 4 renováveis de 2 Total contribuindo com
Estados
(mantidos) anos propostos anos propostos novas idéias para a
reforma do órgão, pois
África 53 0 2 4 6
a possibilidade de
Ásia e Pacífico 56 1 2 3 6 concordância com
aquelas até então
Europa 47 3 2 1 6
apresentadas são
Américas 35 1 2 3 6 pequenas. Nesse
mesmo ano, quando foi
Totais 191 5 8 11 24
comemorado 60 anos
das Nações Unidas e
realizado a Cúpula Mundial, o debate ganhou força já que os países começaram a se articular em torno de propostas mais
concretas de reforma do órgão.

27
Entre as principais propostas, a mais importante foi a apresentada pelo chamado G-4 , grupo de países que pleiteiam
assento permanente no Conselho de Segurança, formado por Brasil, Índia, Alemanha e Japão. Os autores propõem
aumento de dez assentos no Conselho de Segurança da ONU, seis deles sendo permanentes, um para cada um dos

26
Adaptado do documento : UNITED NATIONS (A/59/565); A More SecureWorld: Our Shared Responsibility – Report
of the High-level Panel on Threats, Challenges and Change; 2004.

27
Sobre a criação do G4-Já em 21 de setembro de 2004, o Ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Joschka Fischer,
o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva,o Premiê da Índia, Manmohan Singh, e o Premiê do Japão, Junichiro Koizumi,
reunidos em Nova York para os preparativos da 59ª Assembléia Geral, decidiram reunir esforços e criar o G-4, grupo no
qual os quatro países passaram a defender de forma coesa uma reforma do Conselho de Segurança que “*inclua+, de
forma permanente, países que tenham a vontade e a capacidade de assumir responsabilidades mais significativas em
relação à manutenção da paz e da segurança internacionais”. Cristalizaram a aliança do G-4 ao afirmar que,“baseados no
firme reconhecimento mútuo de que são candidatos legítimos a membros permanentes num Conselho ampliado, apóiam
suas candidaturas de forma recíproca”. VER JUCA – N2

130
propositores e os dois restantes para países do continente africano. Os outros quatro assentos seriam distribuídos
regionalmente. Em relação à questão do veto, inicialmente os membros abdicariam do poder de veto, mas essa proposta
foi reformada e os países propuseram a moratória do veto por quinze anos, quando o assunto deveria ser novamente
analisado. Em maio de 2005, com o apoio de mais 23 países apresentou o projeto de resolução na AGNU, o que
incentivou outros países a fazerem o mesmo.
A proposta conhecida como Unidos pelo Consenso foi elaborada por um grupo de países que seriam os principais
prejudicados com a proposta do G-4, entre eles: Paquistão, Itália, Argentina, Colômbia, México, Quênia, Espanha,
República da Coréia e Turquia, também chamado de Coffee Club. A proposta apresentada é bastante tímida, e sugere a
expansão total para 25 assentos, sendo que nenhum permanente, com mandatos de dois anos e direito a reeleição. Por
fim, uma proposta bastante importante é a da União Africana, conhecida também por Consenso de Ezulwini. Os autores
propõem a expansão do Conselho de Segurança em 11 novos assentos, seis deles permanentes. Desses seis com direito a
veto, dois iriam para o continente africano, Essa proposta é bastante controversa, pois é a única que expande o veto a
novos membros, indo contra ao desejo da maioria dos outros países que procuram restringir o poder de veto.
A posição dos países membros permanentes do Conselho de Segurança em relação à proposta do G-4 é diversa.
França, Reino Unido e Rússia apóiam o G4, declarando principalmente seu apoio à entrado do Brasil no Conselho de
Segurança; já a China, por conta das tensões com o Japão rejeita a proposta; já os Estados Unidos se mantém mais
neutros em relação ao G-4. “O projeto do G-4 não foi colocado em votação, alvo de ataques que foi da UA e do UfC, além
de ter sofrido oposição aberta por parte dos Estados Unidos e da China. Em 18 de julho, a UA apresentaria seu próprio
projeto de resolução, a que se seguiria, em 26 de julho, o draft do UfC, que não seriam tampouco colocados em
28
votação” .
Ainda em 2005, em Londres, os países do G4 e da União Africana concordaram com a proposta do G4,
entretanto, quando foi rediscutido apenas entre os membros da União Africana, essa proposta for rejeitada. Desde então
o tema encontra-se praticamente parado, pois nem a UA está disposta a mudar a sua proposta, e os países do G4 sabem
que aceitar a proposta do Consenso de Ezulwini e concordar com o veto seria um suicídio político. Nada de expressivo,
29
desde então, foi feito no âmbito da reforma.
BREVE ANÁLISE SOBRE A REVINDICAÇÃO BRASILEIRA
A reivindicação brasileira a um assento permanente no Conselho de Segurança reformada é visto como legítima
pela maioria dos países, devido ao papel proeminente que o país vem exercendo no Sistema Internacional. O pleito de ter
maior peso nos principais órgãos de negociação política internacional é um desejo antigo do Brasil, que, já na década de
1920 pleiteava um assento permanente no Conselho da Liga das Nações. A reivindicação brasileira pode ser considerada
histórica, visto que no momento da criação da ONU, o presidente norte-america propusera a participação permanente do
Brasil no conselho da instituição, o que fora vetado pelos membros europeus. Desde os anos 1990 o Brasil vem
reivindicando maior poder nesse órgão decisório das Nações Unidas, demanda que ganhou muito força a partir de 2003,
com o inicio do mandato do Presidente Lula. Desde então o país vem se articulando e ganhando apoio
internacionalmente, aumentando sua atuação diplomática, para pleitear assento permanente nesse órgão da instituição.
O Brasil é membro fundador das Nações Unidas, um dos quinze maiores doadores de recursos para a
Organização, exerce um papel expressivo na busca pelo diálogo e pela solução pacífica de controvérsias, além de
participar ativamente de missões de paz da organização, como pode ser visto pela atuação expressiva do Brasil no
continente africano na década de 90 e da atuação do Brasil na MINUSTAH, que ainda está em andamento. O Brasil,
juntamente com o Japão, foi o país que mais vezes participou do Conselho de Segurança como membro não-permanente,
tendo sido membro por oito vezes. Ademais, o Brasil é um dos maiores defensores do estabelecimento de uma ordem
internacional mais justa e democrática, onde o poder esteja distribuído de forma mais equilibrada, e a ascensão dos
países emerges a esse órgão das Nações Unidas seria uma das formas de tornar mais justo o sistema internacional atual.
Participar de forma permanente no Conselho de Segurança da Instituição, que é um dos órgãos internacionais
com maior poder decisório político, responsável por lidar com questões referentes á política e á segurança internacional,
e o único órgão das Nações Unidas com poder de tomar decisões vinculantes, seria uma forma de o Brasil ter uma
atuação internacional ainda mais efetiva, condizente com o real papel que desempenha no cenário internacional.

28
JUCA N2

29
Sobre os últimos acontecimentos de 2009 em relação à reforma da ONU acessar:
http://www.reformtheun.org/index.php/eupdate/5332

131
Ademais, o Brasil teria a possibilidade de representar os interesses da América do Sul no organismo, o que daria ainda
mais destaque e importância á atuação regional brasileira. Por fim, a importância de participar de um órgão dessa
importância está de acordo com as linhas gerais da política externa brasileira que vem conseguindo com muito sucesso
ter maior participação nos organismos internacionais.
IMPORTANTE PARA TERCEIRA FASE: A reivindicação brasileira está fundamentada no tripé:
representatividade/democratização-legitimidade-eficiência.

132
BRIC

As transformações em curso no sistema internacional indicam cada vez mais claramente uma mudança na distribuição de
poder, especialmente com a ascensão de novos pólos. Após o final da Guerra Fria, presenciou-se um período histórico
que pode ser considerado unipolar, ainda que tenha sido temporário (LAYNE, 1993). Surgiram muitas análises de que o
“fim da história” havia definitivamente sido alcançado e de que o “império” norte-americano anunciava seu período de
domínio sobre a humanidade. No entanto, Kenneth Waltz (2000) alertaria para a persistência do mecanismo da balança
de poder, assim como para os perigos da unipolaridade.
Tendo em mente a referência de Waltz, o que se percebe - principalmente a partir de 2000 - é um acelerado período de
mudanças, não apenas na capacidade das unidades do sistema, mas também no reordenamento de forças do Sistema
Internacional (SI). Ainda que de forma incipiente, em 2000, Rússia e China assinaram um acordo de cooperação e
amizade, corroborando as predições waltzianas. Além disso, o 11 de setembro de 2001 colocou em xeque as visões de
fim da história e de supremacia norte-americana. O mundo está abandonando a unipolaridade e se direcionando cada
vez mais à multipolaridade.
Nesse cenário, as regiões vêm ganhando importância, e consequentemente cada vez mais as potências regionais
adquirem um papel determinante na distribuição de poder no Sistema Internacional. Além de Rússia e China, que já
despontam como grandes potências regionais, outros países chamam atenção devido às elevadas taxas de crescimento
de suas economias, ao tamanho expressivo de suas populações, ao seu peso político na esfera internacional e,
principalmente, à sua importância nas respectivas regiões. Brasil, Índia, África do Sul, Nigéria, Paquistão, Turquia, Egito,
entre outros, figuram nessa categoria.
Seguindo essa tendência, em 2001, o economista Jim O´Neil, analista da Goldman Sachs, apresentou um relatório
identificando quatro países que, devido a suas taxas de crescimento econômico, provavelmente ultrapassariam as atuais
maiores economias do mundo em cinqüenta anos. Os quatro países identificados foram Brasil, Rússia, Índia e China, que
ficaram conhecidos pelo acrônimo BRIC. Segundo o relatório, em 2050, esses países serão responsáveis por 25% da
riqueza mundial (GOLDMAN SACHS, 2003). As projeções de O´Neil se confirmaram no último relatório publicado em
2007, já que, antes do final da década, os quatro países representavam em torno de 15% de toda a economia mundial
(GOLDMAN SACHS, 2007), participação que deve aumentar após a crise financeira internacional.
É importante frisar que esses países têm características que os tornam únicos no cenário internacional. Brasil, Rússia,
Índia e China apresentam populações expressivas, com mais de 100 milhões de pessoas; Produto Interno Bruto superior a
um trilhão de dólares (em poder paridade compra), e área superior a três milhões de quilômetros quadrados. Essa
combinação de características, que são elementos de hard power, só é encontrada nesses quatro países e nos Estados
Unidos.
Apesar de não ter sido pensado como um bloco, devido ao sucesso e à popularidade atingida pela classificação, os quatro
países estão, desde 2007, se articulando politicamente em torno da criação de um fórum permanente, de forma a ter um
impacto político e diplomático mais palpável no Sistema Internacional. O Fórum BRIC foi criado porque os governos de
Brasil, Rússia, Índia e China julgaram útil e válido tentar coordenar suas posições sobre a ordem política e econômica
mundial, tendo em vista homologias estruturais (desafios e potencialidades), bem como interesses conjunturais
compatíveis em relação à superação da crise econômica mundial e à reforma das instituições multilaterais do sistema
ONU, incluindo as instituições de Bretton Woods.
Desde então, os BRIC se articulam para concertar posições em conferências internacionais, sendo que em 16 de maio de
2008, os ministros das relações exteriores dos quatro países realizaram uma reunião em Ecaterimburgo (Yekaterimburg),
na Rússia. A primeira reunião de cúpula do grupo, entretanto, ocorreu apenas em 16 de junho de 2009, na mesma
cidade. O objetivo maior da reunião era criar coesão entre os países previamente às cúpulas do G8, que ocorreria na
Itália, e do G20 financeiro, que ocorreria nos Estados Unidos.
Os resultados dessa reunião (BRIC DEMANDS..., 2009) foram extremamente importantes para coordenar a ação política
desses países e lançar, de forma institucional, o projeto de cooperação entre os países. Além de tratar da crise econômica
de 2008 e da necessidade de os países emergentes terem mais poder no controle do Sistema Financeiro Internacional, a
primeira resolução da reunião foi pouco expressiva. Uma das propostas mais comentadas era a criação de uma moeda
supranacional de reserva, para diluir o peso do dólar, o que não foi mencionado na resolução. Outro tema importante, a
reforma do Conselho de Segurança da ONU, foi tratado apenas tangencialmente, não afirmando a necessidade de Brasil e
Índia integrarem o órgão máximo daquela instituição, especialmente devido à pressão chinesa, que não se posiciona
abertamente em favor da reforma no CSNU. A próxima reunião de cúpula do BRIC está prevista para ocorrer no Brasil, em
junho de 2010 (MRE, 2009).

133
A concertação da posição dos quatro países resultou em mudanças efetivas no Sistema Internacional, como pode ser
observado após a Conferência do G20 que ocorreu recentemente em Pittsburgh. Os países do BRIC conseguiram
aumentar a sua cota de participação no FMI em 5%, e em 3% no Banco Mundial (BRICS SAEM..., 2009). Juntamente com
os outros emergentes, esses países conseguiram, então, provocar alterações importantes no Sistema Financeiro
Internacional, tendo inclusive deslocado o foco das discussões sobre finanças internacionais do G8 para o G20.
Desde o início da crise financeira global, em 2008, ficou bastante claro que a correlação de forças no Sistema
Internacional estava se alterando rapidamente. A boa resposta dada pelos países emergentes, que até a década de 1990
eram o epicentro das principais crises econômicas mundiais, aos efeitos da crise internacional, apenas confirmou a
crescente importância e a emergência desses países como atores de relevo no cenário internacional. A institucionalização
do Fórum dependerá da superação de constrangimentos internos e externos significativos, mas também da evolução das
relações de poder entre as díades de países membros e de todos com os Estados Unidos. O Fórum pode se tranformar
em uma importante ferramenta para o gerenciamento da mudança da distribuição do poder no sistema internacional,
devido à grande importância desses quatro países atuando em conjunto.

134
2.2.2 A União das Nações Sul-Americanas e o Conselho Sul-Americano de Defesa

A integração sul-americana constitui hoje um dos eixos condutores da política externa brasileira. A região tornou-se
referência para a busca de ações concretas, que vêm gradualmente ganhando aceitação como prioridades na agenda do
país. A superação do subdesenvolvimento e das assimetrias, objetivo maior da América do Sul, sem dúvida requer a união
30
dos países do continente (Taunay Filho, 2007) .
Referimo-nos anteriormente à crescente importância do regionalismo nas relações entre os Estados. O Brasil tem
adotado a estratégia de integração cooperativa ou seletiva (Oliveira; Onuki, 2000, p. 108), buscando uma inserção
internacional desmilitarizada. De um lado, o entorno imediato sul-americano é uma área livre de conflitos internacionais
convencionais, de modo a não haver justificativa para uma corrida armamentista. De outro, o guarda-chuva nuclear
hemisférico norte-americano torna ainda menos provável uma ameaça externa que mereça preocupação do Brasil
(Hurrell, 1998, apud Oliveira; Onuki, 2000, p. 116).
Sobre esta questão, na década de 1990, o Brasil ainda demonstrava resistências à institucionalização hemisférica na área
de segurança, via Organização dos Estados Americanos, sob a égide norte-americana. No plano global, diferentemente do
conservadorismo na política hemisférica de segurança, o Brasil optou pela mudança estratégica, que tem início na
segunda metade da década de 1980, no sentido de uma crescente adesão aos regimes internacionais de não-
31
proliferação (Oliveira; Onuki, 2000, p. 12). De forma semelhante, o MERCOSUL facilitou a mudança no ambiente de
segurança regional. A eliminação do potencial de conflito – mais do que a própria coordenação de políticas de defesa –
tem sido o principal objetivo alcançado.
Diante da necessidade de os governantes da América do Sul elaborarem uma estratégia integrada, designando recursos
institucionais e operacionais para encarar problemas regionais e ameaças transnacionais com efetividade (Estevez, 2001,
p. 08), a construção de um novo modelo de integração justifica-se pela necessidade de as iniciativas não se basearem
unicamente em relações comerciais, mas agregarem também uma agenda social e política.
32
Neste sentido, foi constituída a Comunidade Sul-Americana de Nações (CASA) , em 2004, tendo como documentos
33
fundacionais as Declarações de Cuzco e de Ayacucho . Sua criação reflete um intenso processo de aproximação dos
34
dirigentes políticos da região nos últimos anos , colocando como prioridade entre os países da CASA “a convergência de
seus interesses políticos, econômicos, sociais, culturais e de segurança, como um fator potencial de fortalecimento e
35
desenvolvimento de suas capacidades internas para sua melhor inserção internacional” . Em 2007, em Isla Margarita, na

30
TAUNAY FILHO, J. O sentido da integração sul-americana. Notícia publicada no jornal Valor Econômico, EM
26 Junho 2007. Disponível em: http://www.comunidadandina.org/prensa/articulos/unasur26-6-07.htm. Último
acesso: 4 Nov. 2009.
31
O Brasil tem assumido papel de liderança em várias iniciativas nos foros multilaterais em que se tratam das
questões da segurança, do desarmamento e da não-proliferação, tais como às iniciativas de criação de uma
Zona de Paz e Cooperação no Atlântico Sul e de declaração do Hemisfério Sul como Zona Livre de Armas
Nucleares; a adesão ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear; e a participação ativa na coalizão da "Nova
Agenda", que teve papel decisivo no programa concreto de medidas para o desarmamento nuclear adotado
pela Conferência de 2000 (AMORIM, 2004, p. 154).
32
A CASA é formada por Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru,
Suriname, Uruguai e Venezuela.
33
Formuladas no terceiro Encontro de Presidentes Sul-Americanos. A Declaração de Cuzco está disponível
em: http://casa.mre.gov.br/documentos/reuniao-presidencial-de-cusco/declaracao-de-cusco/. A Declaração de
Ayacucho encontra-se em: http://casa.mre.gov.br/documentos/reuniao-presidencial-de-cusco/declaracao-de-
ayacucho. Último acesso: 4 Nov. 2009.
34
UNASUR. Antecedentes. Disponível em: http://www.comunidadandina.org/unasur/antecedentes.htm.
Último acesso: 2 de Novembro de 2009.
35
Declaração de Cusco. 08/12/2004.

135
Venezuela, durante a Primeira Reunião de Energia Sul-Americana, o nome da organização foi alterado para União de
36
Nações Sul-Americanas (UNASUL) .
O Tratado Constitutivo da UNASUL foi assinado em 23 de maio de 2008, em Brasília, dotando a organização de
personalidade jurídica internacional, e estabelecendo seus objetivos e estrutura. No preâmbulo do Tratado, explicita-se:
(...) que tanto a integração quanto a união sul-americanas fundam-se nos princípios basilares de: irrestrito respeito à
soberania, integridade e inviolabilidade territorial dos Estados; autodeterminação dos povos; solidariedade; cooperação;
paz; democracia, participação cidadã e pluralismo; direitos humanos universais, indivisíveis e interdependentes; redução
das assimetrias e harmonia com a natureza para um desenvolvimento sustentável (...) (Tratado Constitutivo da UNASUL,
2008).

A UNASUL foi concebida para facilitar a confluência dos processos de integração regional, e, ao mesmo tempo, para
propiciar a ação regional em novos âmbitos políticos e econômicos. É interessante notar que a União é criada logo em
seguida à Conferência Especial sobre segurança hemisférica da OEA (2003), em que se verificou o relativo abandono (em
termos práticos) do TIAR. Além disso, a possibilidade de a UNASUL ter sido concebida como alternativa à OEA, em que os
Estados Unidos têm notável capacidade de manobra, também merece ser destacada. A UNASUL tem o equilíbrio de
poder e a justiça como valores fundamentais. Além disso, os países entendem que a integração deve ser alcançada
através de um processo inovador, que inclua os avanços alcançados pelas experiências do MERCOSUL e da Comunidade
Andina de Nações (CAN). O nascimento da UNASUL acontece em meio a repetidos atritos entre a Colômbia e seus
vizinhos, Venezuela e Equador, devido à decisão colombiana de atacar um acampamento das Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia (FARC) situado em território equatoriano.
A União foi concebida a partir da perspectiva de que a segurança de um país é afetada pelo grau de instabilidade da
região em que o mesmo se situa, neste caso, a América do Sul. Para tanto, com o objetivo de alcançar o desejado grau de
estabilidade regional, é necessário que exista consenso, harmonia política e convergência de ações entre os países sul-
americanos.
Para tornar isso possível, a criação de um Conselho de Defesa Sul-Americano foi proposta pelo Brasil em abril de 2008,
sendo aprovada apenas em 16 de dezembro daquele ano, na cúpula extraordinária da União de Nações Sul-Americanas,
37 38
realizada em Salvador . O Conselho de Defesa assumirá funções tais como a elaboração de políticas de defesa
conjunta, intercâmbio de pessoal entre as Forças Armadas de cada país, realização de exercícios militares conjuntos,
participação em operações de paz das Nações Unidas, troca de análises sobre os cenários mundiais de defesa e
integração de bases industriais de material bélico. Além disso, pretende-se que o Conselho fortaleça a confiança mútua, a
unificação de procedimentos quanto à indústria bélica e a troca de experiências e treinamentos militares.
O Conselho de Defesa Sul-Americano é um órgão de consulta, cooperação e coordenação. Este Conselho se sujeitará aos
princípios e propósitos consagrados na Carta das Nações Unidas e na Carta da Organização dos Estados Americanos
39
(Ministerio de Relaciones Exteriores de Chile, 2008).

Da Primeira Reunião do Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS) da União das Nações Sul-Americanas (UNASUL),
resultou a Declaração do Chile, em março de 2009. Destacam-se, deste documento, alguns aspectos interessantes para
nossa análise. Os objetivos gerais do CDS, acordados na declaração, são:

36
A UNASUL é atualmente composta pelos seguintes países: Bolivia, Equador, Peru, Brasil, Argentina,
Paraguai, Colômbia, Uruguai, Venezuela, Chile, Guiana, Suriname. Panamá e México são observadores.
37
Na ocasião, também foi criado o Conselho Sul-Americano de saúde, que reunirá os ministros da área com
vistas à confecção de programas regionais na área de saúde, financiados pelos países-membros com base em
fundo que ainda deve ser criado.
38
Este passa a ter em sua composição os respectivos ministros da área de defesa da Argentina, Brasil,
Uruguai, Paraguai, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Chile, Guiana, Suriname e Venezuela.
39
Nota de imprensa do Ministerio de Relações Exteriores do Chile. Santiago de Chile, 16 de dezembro de
2008. Tradução nossa. Disponível em: http://www.comunidadandina.org/prensa/articulos/chile16-12-08.htm.
Último acesso: 04 Nov. 2009.

136
Consolidar América do Sul como uma zona de paz, base para a estabilidade democrática e o desenvolvimento dos nossos
povos, e como contribuição para a paz no mundo; construir uma identidade sul-americana em matéria de defesa, tendo
em conta as características sub-regionais e nacionais, que contribua para o fortalecimento da unidade da América Latina
e Caribe; e gerar consensos para fortalecer a cooperação regional em matéria de defesa (Declaração de Santiago, 2009)
40
.

Na ocasião, também foi estabelecido um plano de ação para o período de 2009-2010, prevendo iniciativas específicas em
matéria de políticas de defesa, cooperação militar, ações humanitárias e operações de paz, indústria e tecnologia de
defesa, e formação e capacitação, prevendo a criação de um Centro Sul-Americano de Estudos Estratégicos de Defesa
41
(CSEED) .
Diante dos fatos apresentados, é possível constatar que o governo brasileiro atribui grande importância ao projeto de
integração continental, mas esse é um longo processo que implica discussões entre instâncias do governo e movimentos
políticos, sociais, e empresariais. Privilegiar os aspectos e interesses comuns, sem, contudo, deixar de respeitar as
diferentes regiões e características locais, tem sido uma preocupação brasileira para alcançar o objetivo de promover a
cooperação entre os países. Nas palavras do Ministro Nelson Jobim, a importância das conferências e reuniões realizadas
no âmbito do CDS da UNASUL:
reside especialmente na oportunidade para reafirmar os conceitos e consagrar princípios de segurança e defesa. Além
disso, os esforços para promover integração e fortalecimento da indústria de defesa regional pretendem abastecer,
oportunamente, em todas as situações, com produtos estratégicos de qualidade e custo aceitável para as Forças Armadas
42
Sul-Americanas, reduzindo assim a dependência de fontes extra-regionais de abastecimento (Jobim, 2009, p. 24) .

Algumas realizações importantes já foram produzidas no âmbito da União das Nações Sul-Americanas e do Conselho de
Defesa Sul-Americano, a respeito de acontecimentos recentes relevantes para a dinâmica da segurança regional, como
veremos em seguida.
Com relação à crise boliviana de 2008, marcada pela realização de protestos em favor de uma maior autonomia dos
departamentos orientais do país, por ameaças separatistas, e pelo risco de comprometimento da infraestrutura de gás
natural e petróleo na Bolívia, o governo brasileiro se posicionou inicialmente no sentido de tentar mediar as negociações
entre as partes em conflito. Ao mesmo tempo, a UNASUL deu total apoio à manutenção da ordem, da institucionalidade,
da soberania e da integridade territorial boliviana.
A Declaração de La Moneda (Chile), de 18 de setembro de 2008, foi um marco importante no sentido do
comprometimento dos países da região com a estabilidade sul-americana. Os governos nas nações sul-americanas
expressaram na ocasião seu respaldo ao governo constitucional do presidente Evo Morales, cujo mandato fora ratificado
por ampla maioria da população por meio de um referendo em 2008. Além disso, os países membros da UNASUL
rechaçaram energicamente qualquer situação que implicasse uma tentativa de golpe civil na Bolívia. Os massacres do
Departamento de Pando foram condenados, e os países concordaram com a criação de uma comissão de apoio e
assistência ao governo de Evo Morales, para acompanhar o diálogo entre os atores políticos e sociais envolvidos nas
manifestações.
Outra situação de crise regional, referente ao golpe militar de Honduras, ocorrido em 28 de junho de 2009, enseja a
concertação de posições dos países da União de Nações Sul-Americanas em defesa da solução pacífica para a crise
institucional instaurada no país. Na reunião de chanceleres da UNASUL realizada em Quito, em 23 de setembro deste
ano, os países participantes rechaçaram a utilização da força contra os grupos que defendiam o retorno da situação
democrática. Os países da UNASUL apelaram, ao mesmo tempo, ao respeito da imunidade diplomática, consagrada na
Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, e à inviolabilidade da embaixada do Brasil em Honduras, onde se

40
Declaração de Santiago do Chile. Março de 2009. Disponível em:
http://www.comunidadandina.org/unasur/10-3-09com_defensa.htm. Último acesso: 05 Nov. 2009.
41
Está previsto, para novembro de 2009, o Primeiro Encontro Sul-Americano de Estudos Estratégicos.
42
In: Grupo de Trabajo del Consejo de Defensa Suramericano. El Consejo de Defensa Suramericano de La
UNASUR: Crónica de su gestación. Santiago de Chile, julho de 2009. Disponível em:
http://www.ssg.gov.cl/portal/documentos/unasur/libro200907.pdf. Último acesso: 05 Nov. 2009.

137
encontra, desde 21 de setembro, o presidente deposto Manuel Zelaya. Os Estados membros pedem a convocação de
uma reunião do Conselho de Segurança da ONU para o tratamento da crise, e apóiam os esforços da OEA para
restabelecer a ordem constitucional em Honduras. Além disso, os termos da declaração presidencial de Quito, de 10 de
agosto de 2009, são reafirmados, advertindo-se que os membros da UNASUL não reconhecerão nenhuma convocatória
de eleições por parte um governo inconstitucional.
O Brasil entende que, ao convocar uma reunião extraordinária em 25 de setembro de 2009, o Conselho de Segurança da
ONU reconhece que a situação da Embaixada do Brasil em Honduras constitui uma ameaça à paz e à segurança de nossa
região. A posição brasileira, como tradicionalmente tem sido, é de apoio à democracia e à solução pacífica das
controvérsias. O governo brasileiro apóia também as resoluções da OEA e as declarações do MERCOSUL, da UNASUL e do
Grupo do Rio, na perspectiva de um retorno pacífico e imediato do Presidente Zelaya.

TERRORISMO

TENTATIVA DE PERIODIZAÇÃO

•Teixeira da Silva: quatro períodos(ondas) distintos na história do terrorismo no pós século XIX.

•O terrorismo de “primeira onda”, visualizado durante o período de 1880-1914, possuía uma característica nacionalista,
anarquista ou libertário populista. Empregava métodos “espetaculares” para despertar na opinião pública um interesse
sobre as causas dos seus movimentos e, raramente, seus atos visavam locais públicos de grande movimento, pois
buscavam manter a simpatia da população. Caracterizou-se, ainda, em alguns momentos da história, por não apresentar
unidade ideológica e suas lutas estavam intimamente associadas a inspirações de origem religiosa, sendo a defesa da fé
mais importante do que seus objetivos políticos.

•O terrorismo de “segunda onda”, visualizado no período de 1945-1974, tinha características de cunho anti-colonial,
como presenciado nas denominadas “Guerras de Libertação Nacional” na Argélia, Indonésia, Malásia etc. Este terrorismo
ainda aparece segundo a forma de resistência nacional, ainda presente, por exemplo, na Irlanda, pelo Exército
Republicano Irlandês (IRA), e na Espanha, pelo Euskadi ta Askatsuna (ETA).

•O terrorismo de “terceira onda”, visualizado no período de 1975-1985, é caracterizado pelas ações com propósitos
políticos, tanto por extremistas de “esquerda” como de “direita”. Como exemplos, destacam-se as ações do grupo
Baader-Meinhof na Alemanha ou das Brigadas Vermelhas na Itália. Neste período, verifica-se uma participação ativa dos
Estados tanto no apoio logístico como financeiro às organizações terroristas.

•O terrorismo de “quarta onda” surge a partir de 1993 com a reorganização dos diversos movimentos mujjahidin que,
desmobilizados da luta contra a ex-URSS na invasão do Afeganistão, voltaram-se para os “cruzados, os pecadores e os
sionistas” (a saber: norte-americanos, os regimes árabes moderados e o Estado de Israel). Este tipo de terrorismo
caracteriza-se por suas ações de proporções globais e ilimitadas, com o emprego de meios não convencionais que
apontam para uma caracterização de suas ações como uma forma de Guerra Assimétrica.

CONCEITO

•O sentido de terrorismo foi dado pela primeira vez em 1798, no Dicionário da Academia Francesa, como “sistema,
regime de terror”. De acordo com um dicionário francês de 1796, os Jacobinos utilizavam o termo em seus escritos e
discursos em um sentido positivo, referindo-se a eles mesmos. Foi só após o 9 de Thermidor que o termo ganhou um
sentido negativo e relacionado a implicações criminais. “Terror”, antes entendido como meio de legítima defesa da
ordem social estabelecida pela Revolução, é substituído por terrorismo, que significava terror empreendido de forma
abusiva pelo Estado.

138
•A concepção moderna do conceito de terrorismo, essencialmente como instrumento de violência com fins políticos e
estratégicos, patrocinados por ideologias, inclusive religiosas, surgiu no século XIX, com o alemão Karl Heinzen (1809-
1880). Heinzen sugere que qualquer meio é válido, inclusive com o uso de violência e de métodos que tragam pânico e
terror, para atingir a democracia “radical”. Com estas idéias, Heinzen influenciou sobremaneira Mikhail Bakunin e Piotr
Kropotkin, que deram origem à escola inspiradora do anarquismo, bem como de terroristas que, mais tarde, ficariam
famosos como, por exemplo, o venezuelano Carlos - o Chacal, a russa Vera Zasulitch e o milionário milanês Giangiacomo
Feltrinelli.

• VI Conferência Internacional para a Unificação do Direito Penal – Kopenhagen/1935: necessidade de tratamento da


questão “dos atentados que criam um perigo comum ou um estado de terror”.

• Assassinato do rei Alexandre I da Iugoslávia por um terrorista em outubro de 1934, faz com que os países se debrucem
sobre a questão.

• A primeira tentativa de se chegar a uma definição internacionalmente aceitável do termo foi feita no âmbito da Liga das
Nações, em 1937, embora não se tenha chegado a uma Convenção. Na época, a definição proposta para terrorismo foi a
seguinte:

"All criminal acts directed against a State and intended or calculated to create a state of terror in the
minds of particular persons or a group of persons or the general public".

• O problema de uma definição clara e universalmente aceita de terrorismo constitui um grande obstáculo para a adoção
de medidas mais efetivas em seu combate, pois aquele considerado “terrorista” por um grupo de Estado é também
chamado de “guerreiro da liberdade” por outros. A abrangência da definição também gera problemas pois se, por
exemplo, o terrorismo fosse definido estritamente como o ataque a alvos não-militares, seriam excluídos das estatísticas
os ataques a bases e instalações militares, assim como as ofensivas às residências dos soldados.

• Década de 60: seqüestros a aeronaves leva à aprovação de convenções contra o terrorismo.

•Dentre os principais “grupos guerrilheiros” ou “terroristas” na América Latina durante a Guerra Fria destacam-se: no
Brasil, a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), a Ação Libertadora Nacional (ALN) e o Movimento revolucionário 8 de
Outubro (MR8). No Peru, o Sendero Luminoso e o Movimento revolucionário Tupac Amaru (MRTA). Na Colômbia, as
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), o Movimento 19 de Abril, o Exército Popular de
Libertação (EPL) e o Exército de Libertação Nacional (ELN). No Uruguai, os Tupamaros. Na Argentina, os Montoneros e
Exército Revolucionário do Povo (ERP). No Chile, o Movimento Revolucionário de Esquerda (MIR) e a Frente Patriótica
Manoel Rodríguez (FPMR). Em El Salvador, a Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN). Na Nicarágua, a
Frente Sandinista de Libertação Nacional e os Contra.
No Oriente Médio, destacaram-se como grupos terroristas no período da Guerra Fria o Irgun. Na Argélia, a Frente de
Libertação Nacional (FLN). Na Palestina, o Al Fathah, a Organização para Libertação da Palestina (OLP), o Setembro
Negro e o Hamas. No Líbano, o Hezbollah. (ibidem) Em 1959, surge na Palestina o Al Fathah, liderado por Yasser Arafat,
com o objetivo de evitar a formação do Estado de Israel, valendo-se, para tanto, de ações terroristas. Em 1964, Arafat,
por meio da OLP, passa a adotar o seqüestro de aeronaves como forma de atrair a atenção da mídia internacional para a
causa da Palestina. Com estas ações, a OLP revoluciona e internacionaliza a prática do terrorismo, caracterizada pelo uso
indiscriminado de reféns

•Em 1992, Schmid propôs, em um relatório ao UN Crime Branch, que se partisse do conceito de crime de guerra e o
estendesse aos tempos de paz, fazendo surgir um conceito de terrorismo. “If the core of war crimes - deliberate attacks
on civilians, hostage taking and the killing of prisoners - is extended to peacetime, we could simply define acts of
terrorism as "peacetime equivalents of war crimes".

•Resolução 51/210 da A.G. – Medidas para Eliminar o Terrorismo Internacional

139
"1. Strongly condemns all acts, methods and practices of terrorism as criminal and unjustifiable,
wherever and by whomsoever committed;

2. Reiterates that criminal acts intended or calculated to provoke a state of terror in the general public,
a group of persons or particular persons for political purposes are in any circumstance unjustifiable,
whatever the considerations of a political, philosophical, ideological, racial, ethnic, religious or other
nature that may be invoked to justify them".

• Definição Acadêmica presente no site do UN Office for Drugs and Crime:

"Terrorism is an anxiety-inspiring method of repeated violent action, employed by (semi-) clandestine


individual, group or state actors, for idiosyncratic, criminal or political reasons, whereby - in contrast to
assassination - the direct targets of violence are not the main targets. The immediate human victims of
violence are generally chosen randomly (targets of opportunity) or selectively (representative or
symbolic targets) from a target population, and serve as message generators. Threat- and violence-
based communication processes between terrorist (organization), (imperilled) victims, and main targets
are used to manipulate the main target (audience(s)), turning it into a target of terror, a target of
demands, or a target of attention, depending on whether intimidation, coercion, or propaganda is
primarily sought" (Schmid, 1988).

• A falta de consenso leva a muitas definições enumerativas

• Legislações nacionais:

Terrorist Act 2000- Ingraterra

USA Patriot Act

Código Penal Francês, modificado em julho de 2006

• Para Lafer, Terrorismo seria o conjunto de ações voltadas a provocar o horror, o medo e a insegurança, enquanto o
Terror seria o estado psicológico de medo provocado nas pessoas diante das ações terroristas

• Segundo Magnoli, “o terrorismo define-se como a ação política que combate o poder estabelecido por meio de atos de
violência dirigidos contra civis ou militares não combatentes”

• Terrorismo Contemporâneo – o pós 11/09:

•A globalização, acompanhada de mercados livres, trouxe consigo uma dramática acentuação de desigualdades
econômicas e sociais dentro e fora dos Estados desde a década de 1990, sendo estas consideradas as bases das tensões
sociais e políticas do novo século. O fato é que o terrorismo do pós Guerra Fria promoveu um novo paradigma, deixando
de ser um ‘terrorismo promovido pelo Estado’ ou um ‘terrorismo contra o Estado’ para ser um ‘terrorismo político-
ideológico-religioso’ com alcance estratégico global. Este novo terrorismo surge a partir de 1993, conforme aponta
Teixeira da Silva, com a reorganização dos movimentos mujjahidin - os chamados afegãos - que lutavam contra a invasão
do Afeganistão pelos soviéticos.

• As principais características do terrorismo contemporâneo são: o emprego da violência em larga escala e


indiscriminada; a mudança na organização terrorista, caracterizada pela estrutura de células descentralizadas; a perda da
referência do Estado na prática do terrorismo, caracterizada pelo aparecimento do Estado-Rede; e, por fim, a motivação

140
religiosa que se tornou neste início de século uma das características de maior letalidade do terrorismo contemporâneo,
principalmente quando associada à prática martírio religioso

•Segundo Magnoli, o terrorismo contemporâneo relaciona-se, direta ou indiretamente, a dois principais atores: um não-
estatal, que seria o fundamentalismo islâmico, e outro estatal, consubstanciado na doutrina de Bush.

1)Fundamentalismo Islâmico: Surgimento no Egito (Irmandade Muçulmana). Grupos fundamentalistas que declararam a
Jihad contra o Ocidente e, especialmente, contra os EUA, visando a reforma do mundo corrompido e a instauração de um
Estado jihadista globalizado que, localizado inicialmente no mundo árabe, se expandiria para o resto do mundo. O
terrorismo organizado em redes e apoiado pelo crime organizado e pela lavagem transnacional de dinheiro seriam os
meios de concretização deste projeto. Seus agentes comportam-se de maneira tribal, que se sacrificam em nome da
coletividade. Como o projeto expansionista necessita de cada vez mais adeptos, o recrutamento iniciado no Afeganistão
se expandiu, não mais se limitando ao mundo árabe e muçulmano. É importante salientar que o fenômeno da
globalização, ao intensificar os contatos com culturas diversas, acirrou as disputas já existentes e a ojeriza dos
fundamentalistas islâmicos pela chamada “decadência moral ocidental”.

2)EUA sob a doutrina Bush:Para Magnoli, o governo Bush significou a subida ao poder de uma nova maioria no Partido
Republicano formada pela união da direita cristã (isolacionista) e dos neoconservadores(internacionalistas), uma aliança
que só obteve unidade após o 11/09.Duas fases distintas:

1) Guerras preventivas – legítima defesa preventiva?: inimigo sem “rosto”, sem definição específica.
Invasão do Iraque, membro do “eixo do mal”, composto ainda por Coréia do Norte e Irã. Caráter
unilateral das medidas, que não contaram com a aprovação da comunidade internacional.

2) Reeleição de Bush: missão libertadora e “iluminadora” do povo muçulmano. Busca e apoio ao


crescimento de movimentos e instituições democráticas em cada país para acabar com a tirania.

PRINCIPAIS CONVENÇÕES NO TEMA

• 1963 – Convenção de Tokyo sobre Crimes e outros Atos cometidos a bordo de aeronaves (entrada em vigor em 1969)

• 1970 – Convenção de Haia para a Supressão de Seqüestro de Aeronaves (entrada em vigor em 1971)

• 1971- Convenção de Montreal para a Supressão de Atos Ilícitos contra a Segurança da Aviação Civil(entrada em vigor
em 73)

•1988- Protocolo Adicional sobre a Supressão de Atos de Violência Ilegais em Aeroportos servindo a Aviação Civil
Internacional(entrada em vigor em 1989)

• 1973 – Convenção da ONU sobre a Proteção e Punição de Crimes contra Pessoas Protegidas Internacionalmente,
incluindo Agentes Diplomáticos (entrada em vigor em 1977)

• 1979 – Convenção Internacional da ONU contra a Tomada de Reféns (entrada em vigor em 1983)

•1979 – Convenção de Viena sobre a Proteção Física de Material Nuclear (entrada em vigor em 1987)

• 1988 – Convenção de Roma para a Supressão de Atos Ilícitos contra a Segurança da Navegação Marítima (entrada em
vigor em março de 1992)

• 1988 – Protocolo para a Supressão de Atos Ilegais contra a Segurança de Plataformas Fixas localizadas na
Plataforma Continental(entrada em vigor em 1992)

141
• 1991 - Convenção de Montreal sobre a Marcação de Explosivos Plásticos para o Propósito de Detecção (entrada em
vigor em 1998)

• 1998- Convenção Internacional de Nova York para a Supressão de Bombardeios Terroristas (entrada em vigor em 2001)

• 1999- Convenção Internacional de Palermo sobre o Crime Organizado Transnacional (entrada em vigor em 2003)

• 2000- Convenção Internacional de Nova York sobre a Supressão do Financiamento ao Terrorismo (entrada em vigor em
2002)

• 2005 – Convenção Internacional sobre a Supressão de Atos de Terrorismo Nuclear (entrada em vigor em 2007)

• 2002 – Convenção Interamericana Contra o Terrorismo (entrada em vigor em 2003)

CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDAS

• Ações desde o início da década de 90 - sanções a Estados que tinham ligações com o terrorismo: Libia (1992); Sudão
(1996) e o Taliban (1999 – em 200º inclui-se a Al-Qaida in 2000 através da resolução. 1333).

• Resolução 1269 de 1999: o CSONU chamou os países a trabalhar conjuntamente para prevenir e suprimir todos os atos
terroristas. Esta resolução é vista como precursora da intensificação do trabalho em contra-terrorismo.

• 1267 Committee – estabelecido em1999 pela resolução 1267 , sua tarefa era monitorar as sanções contra o Taliban e a
Al-Qaida .

43
•Em 2001, após os ataques de 11/09, o CSONU estabeleceu o Counter Terrorism Committee através da resolução 1373 .
De acordo com o site da ONU, “This resolution obliges Member States to take a number of measures to prevent terrorist
activities and to criminalize various forms of terrorist actions, as well as to take measures that assist and promote
cooperation among countries including adherence to international counter-terrorism instruments. Member States are
required to report regularly to the Counter Terrorism Committee on the measures they have taken to implement
resolution 1373.” Esta decisão determinou o congelamendo dos fundos de organizações consideradas terroristas que
constassem em uma lista específica.

• Resolução 1535: Counter Terrorism Committee Executive Directorate (CTED) : monitorar a implementação da resolução
1373.

• 2004: a resolução 1540 criou o 1540 Committee , ao qual “was given the task of monitoring Member States' compliance
with resolution 1540, which calls on States to prevent non-State actors (including terrorist groups) from accessing
weapons of mass destruction.”

•Resolução 1566 “called on Member States to take action against groups and organizations engaged in terrorist activities
that were not subject to the 1267 Committee's review” . Criação do 1566 Working Group para recomendar medidas
práticas contra indivíduos e grupos e estudar a possibilidade de reparação às vítimas através de um fundo.

43
1. Decides that all States shall:
(c) Freeze without delay funds and other financial assets or economic resources of persons who commit, or attempt to
commit, terrorist acts or participate in or facilitate the commission of terrorist acts; of entities owned or controlled directly
or indirectly by such persons; and of persons and entities acting on behalf of, or at the direction of such persons and
entities, including funds derived or generated from property owned or controlled directly or indirectly by such persons and
associated persons and entities;

142
• 2005 : Resolução 1624 ”condemning all acts of terrorism irrespective of their motivation, as well as the incitement to
such acts. It also called on Member States to prohibit by law terrorist acts and incitement to commit them and to deny
safe haven to anyone guilty of such conduct. “

BRASIL:

• II Encontro de Estudos sobre Terrorismo, realizado pela Secretaria de Acompanhamento e Estudos Institucionais do
Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, em julho de 2004: questionamentos acerca do alcance
do terrorismo no Brasil.

•2004 Brasil apresentava risco médio de sofrer alguma ameaça terrorista.

• O Brasil, por meio de suas ações da política externa, vem procurando nesses últimos anos projetar o país para uma
maior presença internacional de forma a angariar uma maior inserção e poder na arena das decisões mundiais. O país
pretende assumir uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, o que implicará no engajamento do
Estado em questões mais delicadas na área da segurança mundial. Ainda, observa-se uma considerável pressão dos EUA
para que o Brasil assuma maiores responsabilidades, em especial, na área da segurança regional.

• Ordenamento jurídico pátrio: a Constituição Federal de 1988, seguindo a corrente do direito das gentes, previu no
Título I - Dos Princípios Fundamentais - em seu art. 4º, Inciso VIII: “*...+ o repúdio ao terrorismo e ao racismo”, bem como
considera como “inafiançável e insuscetível de graça ou anistia a prática do terrorismo” (art. 5º, inciso XLIII). Além disso, o
inciso XLIV do art. 5º da CF estabelece que “constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis
ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado democrático”. Ou seja, apesar de não estar tipificado na CF o
“crime de terrorismo”, essa designação se aplica em todas as espécies de crimes que se caracterizam: a) por causar dano
considerável a pessoas e coisas; b) pela criação real ou potencial de terror ou intimidação generalizada; e c) pela
finalidade político-social.

• BR no pós 11/09: As primeiras reações por parte do governo brasileiro, particularmente no nível da Presidência da
República e do Ministério das Relações Exteriores, foram de manifestações de repúdio e indignação aos ataques
terroristas, bem como de solidariedade ao governo norte-americano. Porém, a grande preocupação inicial por parte do
governo brasileiro estava centrada no impacto econômico no país, decorrente dos atentados, tendo em vista que o
cenário a curto prazo apontava para uma mudança de prioridades por parte do governo norte-americano em função da
insegurança econômica no mercado internacional Pois, ao produzir a redefinição da agenda internacional, na qual as
questões relacionadas à segurança e à defesa internacional foram priorizadas, os desdobramentos decorrentes do 11 de
setembro alteraram significativamente o contexto em que era conduzida a política externa brasileira. Ademais, observa-
se que os países pertencentes ao G-7 passaram a revalorizar a questão da segurança, o que acabou por projetar ainda
mais os EUA como potência militar e como líder na guerra contra o terrorismo pós ataques de 2001.

• No campo da segurança, verifica-se que o Brasil, em função da ausência de tensões regionais ou de preocupações com
conflitos de natureza clássica, de caráter inter-estatal, relegou ao segundo plano as questões relativas à segurança e à
defesa do Estado brasileiro. Esta situação levou o governo do país a conceder uma baixa prioridade sobre o tema. Por
isso, entende-se o fato do país não possuir até o presente momento uma Estratégia de Segurança Nacional sólida e
integrada, orientadora das ações nos campos da Segurança e Defesa. Porém, os ataques do 11 de setembro contribuíram
para que a classe governante do Brasil reavaliasse este posicionamento, como será apresentado a seguir.

• No próprio dia 11 de setembro o Presidente FHC convocou o Conselho de Defesa Nacional para acompanhar os
desdobramentos da crise mundial. Além desta medida, o Presidente brasileiro, após contato com os Presidentes da
Argentina, Chile e Uruguai, anunciou o recurso do TIAR de 1947 como forma do continente reagir e prestar solidariedade
aos EUA, como observa-se nas palavras do então chanceler brasileiro Celso Lafer:

[...] o governo brasileiro entende que cabe considerar a adoção de


medidas apropriadas no âmbito do nosso hemisfério. [...] O TIAR,

143
como sabem, é parte do sistema mais amplo da Organização dos
Estados Americanos. No nosso entender seriam relevantes os textos
dos artigos 3º e 6º do Pacto do Rio de Janeiro. O artigo 3º do TIAR
indica que um ataque armado, por parte de qualquer Estado, a um
Estado americano, será considerado um ataque contra todos os
Estados americanos. Este artigo 3º do TIAR está em consonância com
o artigo 3º letra “h” da Carta da OEA e é, na verdade, um dos seus
princípios. E o artigo 6º do TIAR prevê as medidas a serem adotadas
no caso de uma agressão que não seja um ataque armado e que atinja
a inviolabilidade ou a integridade do território ou a soberania ou
independência política de qualquer Estado americano. Trata-se do
único instrumento jurídico vinculante em matéria de segurança coletiva
do hemisfério.

• No que concerne o envio de tropas brasileiras ao exterior ou a participação de qualquer ação militar decorrente dos
atentados do 11 de setembro, o governo brasileiro já descartava estas hipóteses logo após os atentados, apresentando à
comunidade internacional a adesão brasileira em um esforço amplo e coordenado na guerra contra o terror, porém, não
necessariamente, de natureza militar, como observa-se nas palavras do próprio Presidente FHC:
[...] a vocação de paz do povo brasileiro e seu repúdio ao terrorismo
são preceitos constitucionais que orientam a política externa do país.
Nossa posição é clara. Se repudiamos o terrorismo em todas as suas
formas, e quaisquer que sejam suas origens, estamos também do lado
da racionalidade e da sensatez. Este não é um conflito deflagrado
contra um povo, um Estado ou uma religião. O objetivo é um só:
conter e eliminar o flagelo do terrorismo.

•No campo interno, as atenções foram voltadas para a região da Tríplice Fronteira. A questão chegou ao seu ápice nos
últimos dias de outubro de 2001, quando os Estados Unidos anunciaram ter provas de que Osama Bin Laden montara seu
quartel-general na fronteira do Brasil, embora tais afirmações nunca tenham sido minimamente provadas.

•A Política de Defesa Nacional (PDN) vigente no Brasil na época dos ataques ao World Trade Center e ao Pentagono era a
de 1996. A PDN de 1996 tratava-se mais de uma documentação para “harmonizar” os diferentes pontos de vista entre as
diversas agências responsáveis pelos assuntos externos do país do que propriamente uma Política de Defesa Nacional.

• Governo Lula: No âmbito interno, particularmente no que concerne ao Ministério da Defesa, o novo governo, com um
discurso semelhante ao governo anterior, estabelece como incumbência do MD formular as diretrizes da concepção
brasileira de Defesa Nacional, assim como integrar as “visões estratégicas de cunho social, econômico, militar e
diplomático, que contem com o respaldo da Nação” preconizada pela PDN de 1996. Desta forma, o governo estabelecia
que “o esforço conjunto de militares e civis atribuirá legitimidade, transparência e credibilidade ao Sistema de Defesa
Nacional, promovendo a discussão dos grandes temas relacionados à defesa e à segurança e permitindo proveitosa
integração entre os dois segmentos.” (Revista Defesa Nacional e Política Externa, 2003)

•Assim, o novo governo estabelecia como atribuição primordial do MD o delineamento do perfil estratégico que o Brasil
pretenderia assumir neste início de século, mantendo as Forças Armadas aptas à realização das missões a serem
conduzidas nos contextos regional, hemisférico e mundial. Para atingir este propósito, o governo determina que o MD
desenvolva novas doutrinas e apóie o desenvolvimento de tecnologias apropriadas e modernas para cumprir suas
missões, de forma a atender os seguintes princípios:

- Atualizar a base conceitual do pensamento estratégico nacional


diante da realidade mundial e das necessidades de defesa do País;
- Assegurar a proteção da Amazônia;
- Consolidar o papel do Brasil como promotor da integração regional
e hemisférica em matéria de defesa, bem como sedimentar sua
presença nos foros internacionais de defesa, realçando a posição

144
brasileira na manutenção da paz mundial;
- Promover a obtenção, a modernização e a adequação dos meios
necessários ao emprego das Forças Armadas;
- Minimizar a dependência externa quanto aos recursos de natureza
estratégica para a defesa do País, incentivando a pesquisa para o
desenvolvimento de tecnologias duais;
- Aperfeiçoar a capacidade das Forças Armadas de operarem de
forma combinada ou conjunta; e
- Modernizar as estruturas organizacionais e os processos
administrativos, com ênfase nos sistemas de controle, gestão da
informação e na qualidade da ação gerencial. (Revista Defesa
Nacional e Política Externa, 2003)

• Uma das primeiras medidas estabelecidas pelo governo Lula como tarefa do Ministério da Defesa em 2003 foi a
promoção da atualização da Política de Defesa Nacional de 1996. Através do Decreto n.º 5.484, de 30 de junho de 2005, o
governo do Presidente Lula aprovou a nova Política de Defesa Nacional para o Brasil que, ao realizar a análise do cenário
internacional, destaca o momento instável representado pelas novas ameaças à segurança dos Estados, desaprovando e
condenando o terrorismo internacional e outras ações de ilícito internacional. Ao referir-se ao entorno estratégico, a PDN
sinaliza como prioridades para a defesa do Brasil a região Amazônica e o Atlântico Sul. O documento aborda, ainda, a
necessidade da cooperação internacional dos países da América do Sul, África e os de língua portuguesa. Destaca-se,
ainda, que a nova PDN traz em seu bojo definições e conceitos que a PDN de 1996 era omissa, como as definições de
Segurança e de Defesa Nacional:
I – Segurança é a condição que permite ao País a preservação da
soberania e da integridade territorial, a realização dos seus interesses
nacionais, livre de pressões e ameaças de qualquer natureza, e a
garantia aos cidadãos do exercício dos direitos e deveres
constitucionais;
II – Defesa Nacional é o conjunto de medidas e ações do Estado, com
ênfase na expressão militar, para a defesa do território, da soberania e
dos interesses nacionais contra ameaças preponderantemente
externas, potenciais ou manifestas.

• Tentando mitigar estas vulnerabilidades apresentadas pela PDN, o Presidente Lula criou, por decreto presidencial
datado de 6 de setembro de 2007, o comitê para formulação de um Plano Estratégico Nacional de Defesa, presidido pelo
Ministro da Defesa e coordenado pelo Ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos.

TRÍPLICE FRONTEIRA:

•No pós 11 de setembro de 2001, a Tríplice Fronteira (TF), caracterizada pela interseção das fronteiras entre Argentina,
Brasil e Paraguai, voltou a ser relevante no cenário internacional, em função das suspeitas que pairavam sobre a presença
de células terroristas nesta área, bem como na exploração das características da região como forma de angariar recursos
financeiros e como área de lavagem de dinheiro para atividades terroristas; tendo sido, inclusive, levantado pelo governo
norte-americano, por intermédio do Subsecretário de Defesa Douglas Feith, a possibilidade de intervenção militar na
região logo após os atentadosa o World Trade Center e Pentagono.

•A região da Tríplice Fronteira é caracterizada pela confluência dos limites territoriais das cidades de Puerto Iguazu na
Argentina, Foz do Iguaçu no Brasil e Ciudad Del Este no Paraguai, apresentando uma população destas três cidades
somadas superior a 500 mil habitantes. A região é considerada o maior centro de contrabando da América do Sul,
havendo a presença de diversas organizações criminosas. Conseqüentemente, há crimes de toda a ordem, como: tráfico
de drogas, armas, pessoas, lavagem de dinheiro, contrabando e pirataria de mercadorias etc. A região congrega uma
grande comunidade árabe e muçulmana, a qual é composta, em sua maioria, por muçulmanos Shi’a e, em minoria, por
Sunni, havendo, ainda, uma pequena população de cristãos emigrados do Líbano, Síria, Egito e dos territórios palestinos.

145
•A partir da década de 1990, a Tríplice Fronteira começa a atrair a atenção internacional como palco indireto de violência
associado ao terrorismo internacional.
• 1992: governo da Argentina atribuiu ao grupo terrorista Hezbollah o planejamento e execução do atentado
terrorista contra a embaixada de Israel em Buenos Aires em 17 de março daquele ano. As investigações realizadas pelas
autoridades argentinas e israelenses identificaram que o Hezbollah empregou a TF como base de planejamento e
operação.
• 1994: outro carro-bomba explodiu em frente ao principal prédio do Centro da Comunidade Judaica na
Argentina - Associación de Mutuales Israelitas Argentinas (AMIA) - causando 85 vítimas fatais e mais de 300 feridos, como
forma de protesto ao acordo de paz entre israelitas e jordanianos realizado naquele ano. As investigações conduzidas
pelo Serviço de Inteligência argentino, apoiada pela CIA e Mossad, indicaram, novamente, o Hezbollah como responsável
pelo atentado.

• Existem três fatores que contribuem para a configuração da TF como uma zona propícia à ação de grupos terroristas:
1)há uma falta de controle efetivo das fronteiras, e a interdependência econômica entre as cidades da TF
complica ainda mais esta questão, tendo em vista que mais de 30.000 pessoas e 20.000 mil veículos atravessam,
diariamente, a Ponte Internacional da Amizade entre o Brasil e o Paraguai, sendo que menos de 10% dos
veículos são inspecionados e praticamente não há controle sobre o tráfego de pessoas a pé. Diante desta
situação, milhões de dólares em mercadorias ilegais, drogas, armas e pessoas são contrabandeados ou transitam
clandestinamente pelas fronteiras anualmente. Essas fronteiras permeáveis comprometem a segurança de toda
a região.
2) faltam leis e estatutos rígidos antiterrorismo na área da Tríplice Fronteira. A questão mais preocupante refere-
se à fragilidade na legislação financeira do Paraguai, na qual há várias brechas no tocante ao crime de lavagem
de dinheiro, dificultando, desta forma, a prisão de possíveis financiadores do terrorismo internacional.
3) a corrupção em grande escala como fator que impossibilita reformas significativas na área. A Transparency
International, uma coalizão mundial contra a corrupção, aponta a Argentina e o Paraguai como alguns dos países
com maior propensão ao suborno no mundo, com um total de 24% dos paraguaios pesquisados admitindo ter
dado ou recebido suborno em 2006. Além disso, outra grande preocupação é o suborno para aquisição de
passaportes e identidades falsos, agravando ainda mais o controle nas fronteiras e facilitando o trânsito de
terroristas para qualquer lugar.

• Fatos Relevantes:
- Em fevereiro de 2000 foi detido em Ciudad del Este o libanês Alí Khalil Merhi, apontado como um dos principais
arrecadadores de verbas para o Hezbollah.
- Em novembro de 2000, foi detido na cidade de Encarnación o libanês Salah Abdul Yasine, o qual era investigado
por sua filiação a uma organização terrorista egípcia (Al Jihad ou Gamaa). Porém, descobriu-se que Yasine estava
envolvido em um plano para executar atentados terroristas contra as embaixadas dos EUA e de Israel em
Assunção.

INICIATIVAS REGIONAIS:

• Na década de 90, os governos da Argentina, Brasil, e Paraguai iniciaram, modestamente, por iniciativa da Argentina,
uma proposição de medidas de prevenção ao terrorismo na região da Tríplice Fronteira em face aos ataques terroristas
de 1992 e 1994 naquele país, o que permitiu inserir na agenda de segurança desses países o tema “terrorismo
internacional”. Esta inclusão se daria de duas formas:
(1) pela constituição de acordos trilaterais de segurança concebidos
ad hoc para a TF; e
(2) pela aplicação à zona de acordos de segurança mais amplos,
subscritos no marco de fóruns multilaterais.

•Em agosto de 1995, ocorre no âmbito das Américas, a "Reunião de Consulta Cooperação para Prevenir e Eliminar o
Terrorismo Internacional", com a participação dos governos da Argentina, Brasil, Canadá, Chile, EUA, Paraguai e Uruguai,
no intuito de afirmar a cooperação existente sobre a prevenção do terrorismo na região.

146
•Em 1996, ocorre entre Argentina, Brasil e Paraguai o "Acordo de Segurança e Facilidade de Trânsito das Três
Fronteiras", com o propósito de promover a coordenação, entre estes países, da prevenção contra o terrorismo e
combate ao narcotráfico na região da TF. Além dessa medida, foi criado o “Comando Tripartite” para a região da Tríplice
Fronteira, com o propósito de incrementar a cooperação para a segurança na zona da TF, intercambiando informação;
efetuar operações simultâneas de controle de pessoas e documentação; e integrar um banco de dados comum, o Sistema
Integrado de Informação de Segurança

•Em dezembro do mesmo ano, concretiza-se a Reunião de Ministros do Interior do Mercosul (RMI), considerada a
instância de mais alta hierarquia política que trata dos assuntos de terrorismo no âmbito sub-regional.

• Em 1998, é criado no âmbito da OEA o Comitê Interamericano de Combate ao Terrorismo (CICTE), por iniciativa
argentina, aumentando ainda mais as iniciativas regionais na prevenção do terrorismo. No âmbito regional, logo após os
atentados aos EUA, foi realizado um encontro extraordinário da RMI, no qual ficou estabelecido um Grupo de Trabalho
Permanente sobre Terrorismo (GTP), com o objetivo de coordenar a atividade de todos os grupos operacionais
constituídos no âmbito da RMI do MERCOSUL.

• Em 2001, é estabelecido no âmbito da OEA o Fortalecimento da Cooperação do CICTE (resolução 23/Res1/01), visando
reforçar a segurança hemisférica, por meio da cooperação regional entre seus membros, empregando para tal unidades
de inteligência financeira para coletar, analisar e disseminar informações sobre ofensas terroristas e melhorar as medidas
de patrulhamento de fronteiras para detectar e evitar o movimento de terroristas e de material a eles relacionados.

• O ponto culminante no que se refere à instrumentalização da cooperação contra o terrorismo no marco da OEA é a
adoção da Convenção Interamericana contra o Terrorismo como principal instrumento que rege a cooperação regional
contra o terrorismo.

•Com a finalidade mitigar as vulnerabilidades e ameaças provenientes desta região em 2002, Argentina, Brasil e Paraguai
convidam os EUA para fazer parte da Comissão Tripartite da Tríplice Fronteira, passando a ser nomeada de “Comissão
3+1”

PI – Terceira Fase – TOPICOS GERAIS - LARISSA

01/04/2009

Formato

5. Introdução – argumento
6. Comprovar o argumento com dados ao longo da resposta
7. Caráter dissertativo
8. Forma argumentativa

Ex: Relações Brasil-Argentina são melhores quando os países estão com governos democráticos.
 Acordos que levaram ao MERCOSUL (PICE, etc)
 Acordos de Uruguaiana não deram certo
 Teoria da Paz Democrática?

 TRI: usar apenas se tiver familiaridade.


 Conclusão – perspectivas, mas com cuidado para não parecer “futurologia”.
 Não adicionar informações
 Banca:
 Lessa - UE

147
 Alcides - MERCOSUL
 Atualidades: site do MRE (seleção diária de notícias)
 Segunda Cúpula ASPA
 Questões puramente de segurança são raras.
 Relação das questões com o Brasil
 Regimes internacionais de meio ambiente, direitos humanos e não-proliferação nuclear
 CALC
 UNASUL
 OMC-Rodada Doha

08/04/2009

Relações Brasil-Argentina

 Voltar, no máximo, a 1979: Acordo Tripartite. Itaipu-Corpus


 1980: Acordo Nuclear
 1982: Malvinas
 Neutralidade favorável à Argentina: o Brasil deixou claro que reconhecia a soberania argentina sobre aquele
território;
 Brasil não autoriza pouso de avião britânico para reabastecimento;
 1983: Alfonsín
 1985: Sarney
 1985: Ata de Iguaçu
 Aproximação nuclear
 Aproximação econômica
 Aproximação política
 1986: PICE (Programa de Integração e Cooperação Econômica)
 Integração setorial
 1988: Programa de Integração, Cooperação e Desenvolvimento.
 Prazo de 10 anos para a realização de integração completa.
 1990: Ata de Buenos Aires
 Paraguai
 Uruguai
 Antecipa o prazo de 1988 para 31/12/1994
 1991: Criação do MERCOSUL
 1991: ABACC (Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares) – passam a ter
praticamente programa nuclear conjunto.
 Teoria do spillover (Ernst Haas): cooperação técnica resulta em aproximação política.
 1991: Acordo Quadrilateral
 Brasil, Argentina, ABACC, AIEA
 1991-1998: Fase de ouro do MERCOSUL. Comércio intrabloco aumenta de US$ 4 bi para US$ 21 bi.
 1997-1998: desgaste nas relações
 Crises internacionais
 ALCA (Menem quer ter “relações carnais” com os EUA)
 Argentina pede para entrar na OTAN
 1999: desvalorização do real – Brasil torna-se mais competitivo (produtos e investimentos)
 Protecionismo argentino
 Março 1999: salvaguardas sobre o têxteis (não há possibilidade de salvaguardas no MERCOSUL)
 Brasil convoca o tribunal ad hoc do MERCOSUL em abril e ganha a causa;
 Argentina ignora a decisão;
 Brasil arrepende-se de ter defendido baixo grau de institucionalização do bloco;
 Brasil recorre à OMC e tem ganho de causa. Antes que a decisão chegue à Argentina, esta retira as
salvaguardas.
 Pior momento do MERCOSUL.

148
 2003: reaproximação
 Consenso de Buenos Aires
 Lula
 Kirchner

Iniciativas
 MAC (Mecanismo de Adaptação Competitiva) – no âmbito da ALADI
 MERCOSUL
 FOCEM (Brasil 70%, Argentina 27%, Uruguai 2%, Paraguai 1%)
 Ampliação do MERCOSUL (Venezuela)
 MINUSTAH
 Forças argentinas subordinadas às brasileiras na MINUSTAH.
 G-20 Rodada Doha.
 Comércio em moeda local (redução dos custos de operação de 3 a 4%).
 Gasoduto do Sul (Venezuela, Bolívia, Brasil e Argentina, talvez Uruguai e Paraguai).
 Garabi (hidroelétrica binacional), no Rio Paraguai.
 Gaúcho (tanque de guerra conjunto).
 Embraer.
 Perspectiva de criação de empresa binacional de enriquecimento de urânio.
 G-20 financeiro: coordenação de opiniões.
 Venda de 2,1 mil megawatts para a Argentina até dezembro de 2009.

Desafios
 CSNU
 Rodada Doha: NAMA (Brasil aceitou redução de tarifas para NAMA bem maior do que a Argentina aceitaria –
50%)
 Superávit brasileiro – perfil de comércio favorável para o Brasil, que exporta manufaturados e importa produtos
agrícolas.
 Protecionismo argentino
 Gás boliviano (Argentina paga muito mais que o Brasil, que não quer ceder sua parte).

Integração Sul-Americana

2000 – I Cúpula de Presidentes da América do Sul (Brasília)


 Contexto do Plano Colômbia
 Plano Cobra (mandar soldados brasileiros para ocuparem a região amazônica)
 Concertação Sul-Americana
 Iniciativa para a Integração da Infra-estrutura Sul-Americana (IIRSA) – olhar site
 Integração física
 Dez eixos: andino, MERCOSUL-Chile, Bolívia-Brasil-Peru, etc.
 Três temas
 Transportes (rodovias, ferrovias, hidrovias, aeroportos)
 Energia (gasodutos, oleodutos, linhas de transmissão)
 Telecomunicações (internet, cabos de fibra óptica)
 Financiamento: BNDES, CAF (Corporação Andina de Fomento – Brasil é membro), Fonplata (membros
MERCOSUL + Bolívia), BID e BM.

2002 – II Cúpula (Guayaquil)


 Necessidade de Banco de Fomento Sul-Americano

2004 – III Cúpula (Cuzco)


 CASA ou CSN (Comunidade Sul-Americana de Nações)
 Quatro pilares:
 Livre comércio

149
 Concertação política
 Integração física
 Integração energética
 Duas visões do que deve ser a CASA:
 Venezuela, Bolívia, Argentina e mesmo Brasil: aprofundamento do processo, que deve ser prioridade
para os Estados.
 Peru, Colômbia e Chile: integração mais leve; apenas coordenação de ações.
 Não se consegue chegar a estatuto; há apenas declaração.

2005 – I Cúpula da CASA (Brasília)


 Definição de Secretaria Pro-Tempore

2006 – II Cúpula da CASA (Cochabamba)


 Periodicidade das reuniões (MRE a cada seis meses; presidentes a cada ano)
 Chávez propõe a UNASUL (relançamento da integração)

2007 – I Cúpula Energética da América do Sul (Isla Margarita)


10) Lançamento da UNASUL
11) Criação do Conselho Energético

Outubro 2007: Criação do Banco do Sul (ainda não está em funcionamento, pois não se concordou de onde virá o capital).
Divergências a respeito da atuação: Brasil queria que fosse uma espécie da BNDES regional para promover o
desenvolvimento; Chávez queria que fosse uma opção ao FMI. A idéia de Lula prevaleceu.

Maio de 2008 – Brasília (Cúpula da UNASUL)


 Institucionalização da UNASUL (sede em Quito)
 Rodrigo Borja, previamente indicado para ser o SG, sai do projeto por considerá-lo muito vago.

Dezembro de 2008: CALC – Costa do Sauípe


 Grupo do Rio
 Entrada de Cuba – ver relações Brasil-Cuba
 UNASUL
 Conselho de Defesa Sul-Americano (ainda não bem definido)
 Conselho de Saúde
 Secretário-Geral: Nestor Kirchner não foi eleito SG por oposição do Uruguai (papeleiras). Permanece sem SG.
 MERCOSUL
 CALC
 Esvaziamento da Cúpula das Américas em Trinidad e Tobago, em maio 2009.
 Existe perspectiva de aproximação do Brasil da América Latina, e não mais só América do Sul.

15/04/2009
Segurança

Operações de Paz
TNP
Ampliação do conceito de segurança
Cooperação com Ucrânia, China e França
CSNU
Operação Amazônia
Mediação de Conflitos
Grupo do Rio
Conselho de Defesa Sul-Americano
Criação do Ministério da Defesa
Plano Nacional de Defesa
Reaparelhamento das Forças Armadas
Plano Colômbia

150
Aproximação Brasil-Argentina

Parágrafo 1: mudança na orientação da política externa brasileira no que diz respeito à segurança
 Redemocratização: Gelson Fonseca - “saldar as hipotecas com a comunidade internacional”
 DH, MA e não-proliferação nuclear

Parágrafo 2: mudança no cenário regional


 Aproximação Brasil-Argentina*
 1980: Acordo Nuclear
 1991: ABACC (Tratado de Guadalajara) – Agência Brasileiro-Argentina de Controle e Contabilidade de
Materiais Nucleares
 1991: Acordo quadripartite – Brasil, Argentina, ABACC e AIEA.
 Operação Amazônia
 Grupo do Rio
 Conselho de Defesa Sul-Americano*
 Mediação de Conflitos
 Porosidade das fronteiras amazônicas – narcotráfico
 Plano Colômbia – possibilidade da presença de tropas americanas e de guerrilheiros fugidos na Amazônia
brasileira.
 Operação Amazônia
 Aumento da importância do tema
 Conselho de Defesa Sul-Americano
■ Proposta brasileira
■ Criado em dezembro de 2008, na reunião da UNASUL, no Sauípe
■ Primeira reunião: março 2009

Parágrafo 3: plano multilateral


 Adequação ao regime de não-proliferação nuclear – esforço-síntese:
 CF 1988: proíbe o uso de tecnologia nuclear para fins não-pacíficos
 Collor 1991: fechamento dos locais de testes nucleares na Serra do Cachimbo
 Itamar 1994: ratificação do Tratado de Tlatelolco (assinatura em 1967 – com ressalvas em relação ao art. 18)
 FHC 1998: Brasil assina e ratifica TNP (1968)
 1996: CTBT

Parágrafo 4: ampliação do conceito de segurança


 Participação em operações de paz
 GF: operações de peacekeeping
 pós-GF
■ operações de peacekeeping
■ operações de peacemaking
■ operações de peacebuilding – Brasil – MINUSTAH
 processamento de lixos
 construção de infraestrutura
 supervisão do processo eleitoral
 Segurança alimentar
 Segurança energética

Parágrafo 5: revisão de suas próprias instituições


 Criação do Ministério da Defesa – comando civil
 Reaparelhamento das Forças Armadas
 Plano Nacional de Defesa - 2008
 Cooperação com Ucrânia, França e China
 China: área espacial: construção e lançamento de satélites de sensoreamento remoto (1989 – CBERS).
Primeiro satélite: 1999. Segundo satélite: 2003. Em 2005 ocorreu a ampliação do projeto, com a previsão de
lançamento de mais dois satélites (2007: CBERS-2B)
 Ucrânia: área espacial: lançamento

151
 Consórcio em que países disputam pela compra brasileira de caças: EUA, Suécia e Rússia
 França: dezembro/2008: acordo para a venda e montagem de submarinos no Brasil de submarinos que
podem vir a ser nucleares + helicópteros parcialmente montados no Brasil

Conclusão: o Brasil reviu sua participação, maior empenho regional e multilateral. Segurança continua sendo importante,
visto sua candidatura para membro permanente do CSNU.
22/04/2009

Sistema Financeiro Internacional

1) Sistema de taxas de câmbio flutuantes:


 Origem: fim do padrão de Bretton Woods.
 1971: Nixon decreta o fim da conversibilidade do dólar
 1973: fim do sistema de Bretton Woods por conta da crise do petróleo
■ Dilema de Triffin: para se ter liquidez no sistema internacional, é necessário haver dólar – necessidade
de se incorrer constantemente em déficits na balança comercial: questiona-se a capacidade dos EUA de
suportarem os constantes déficits.
 Características:
 Desregulação do sistema de câmbio
 Aumento do número e diversificação de ativos financeiros
 Crescimento do mercado de ações
 Internacionalização dos fluxos combinada com o processo de regionalização
 Grande número de crises de grandes proporções
 Estratégias de regulação
 Acordos de Basiléia I e II (1988, 2004)
■ Regulação da atividade bancária: estabelecimento de critérios para gestão de risco (nível mínimo de
capital)
 Via Bancos Centrais
 Consenso de Washington
■ Medidas de liberalização comercial
■ Controle fiscal por parte dos governos (superávit primário, privatizações)
■ Taxas cambiais flutuantes

2) Reforma do SFI:

1) FMI:
 Participação desproporcional dos países
 Sistema de cotas que varia conforme a participação do país no comércio internacional, e que dá direito aos
votos dos países (250 + X)
■ Poder de veto informal aos EUA (17%) e à UE (23% quando vota em bloco)
■ Decisões relevantes tomadas por supermaioria de 85%
 Comitê Executivo tem participação apenas dos maiores contribuintes
 Presidente é sempre um europeu.
 Condicionalidades
 Prescrições do Consenso de Washington
 Reformas constantes (revisão das cotas a cada 5 anos)
 Abril/2008: revisão das cotas
■ Brasil: de 2,4% para 2,8% dos votos (18 ª para 15 ª)
 Novo cálculo até 2011
■ Maior papel aos países emergentes
 Participação maior do FMI na solução da crise, por meio do restabelecimento do crédito e do emprego
2) ONU: Painel Consultivo
 Proposta do Parlamento Europeu: Criação de Comitê Econômico Mundial: G-20 (G-8 + economias emergentes)
 Base de recursos a serem disponibilizados/emprestados

152
 Não se está sujeito às condicionalidades e ao processo decisório do FMI
3) Maior regulação
 Financial Stability Board (Conselho de Estabilidade Financeira)
 Composição: G-20
 Substituído pelo Fórum de Estabilidade Financeira em abril/2009, Londres.
 Principais recomendações para a solução da crise financeira:
■ Controle de paraísos fiscais (França/UE).
■ Restrições ao sigilo bancário.
■ Verificação do cumprimento dos Acordos de Basiléia.
■ Gestão de riscos independentes.
4) Liberalização comercial
 Concluir a Rodada Doha
 Julho/2008: estancaram-se as negociações
■ Produtos especiais (produtos agrícolas sobre os quais a redução tarifária deveria ser pequena ou nula) –
resistências do G-33 (agricultura de base familiar)
■ Salvaguardas especiais – resistências do G-33
 Hong Kong, 2005
■ Agricultura - G-20
■ NAMA – países desenvolvidos.

3) Posicionamento do Brasil:
 País está preparado; não é causa da crise;
 “Motor do crescimento”: BRICs
 Democratização dos fóruns decisórios:
 G-8: esquema ultrapassado, que não corresponde mais à realidade do poder econômico mundial
■ G-7 na década de 1980: Acordo de Basiléia I, Acordo de Plaza e Acordo de Louvre (os dois últimos
estabeleceram o nível cambial do dólar)
 FMI
 Conclusão da Rodada Doha
 Postura não protecionista.

BRICs

 BRICS, BRIMCs, N-11(outras economias emergentes)


 Goldman Sachs trabalha só com BRICs, pois considera outras emergentes como muito dependentes de outras
economias. Os BRICs têm recursos para promover crescimento autônomo.
 Goldman Sachs (2001) → BRICs: até 2050, os BRICs superariam em PIB o G-6 (EUA, Japão, Alemanha, UK, França
e Itália)
 Goldman Sachs (2007) → até 2010, BRICs totalizariam 10% do PIB mundial. 2009: já totalizam 15% do PIB
mundial.
 Peculiaridades em relação aos demais países em desenvolvimento:
◦ Grandes territórios e grandes populações
◦ Disponibilidade de mão-de-obra barata
◦ Recursos naturais
◦ Mercado interno em expansão
◦ Pólos regionais
◦ Recursos de defesa:
▪ Três potências nucleares
▪ Brasil: indústria aeroespacial
 EMBRAER
 Indústria armamentista
◦ Estabilidade política
▪ Três democracias consolidadas
▪ Um sistema político em transição

153
◦ Grande fluxo de investimentos (receptores e investidores)
◦ Infra-estrutura
◦ Diminuição lenta das desigualdades sociais
 Desafios
◦ China:
▪ Déficit ambiental
▪ Integração da população rural
▪ *Envelhecimento da população
 Política do filho único
 Aumento da longevidade da população
▪ Abertura política – déficit democrático
◦ Índia:
▪ Infra-estrutura
▪ Desigualdade social e barreiras à ascensão social (sistema de castas)
▪ Educação → todos os níveis sociais
▪ Burocracia
◦ Rússia:
▪ Dependência do setor exportador em relação ao petróleo e gás
▪ Controle excessivo do governo nas áreas de petróleo e gás
▪ Política: corrupção
▪ Problemas demográficos
 Brasil:
◦ Apresenta as menores taxas de crescimento no grupo
▪ Conseqüência do processo de estabilização macroeconômica
◦ Democracia
◦ Estabilidade regional → sem problemas políticos com países do seu entorno
◦ Recursos naturais: pool mais diversificado

 Importância dos BRICs


◦ Voz uníssona
◦ Objetivos comuns de política externa entre os membros
◦ Atual contexto de crise: BRICs → “motor do crescimento”
◦ Formalização do grupo: maio de 2008. Cúpula presidencial em junho de 2009 em Ekaterimburgo. Maiores
promotores dessa formalização: Brasil e Rússia

 Brasil-Rússia
◦ Adensamento na década de 1980.
▪ 1988: primeira visita presidencial a Moscou
 Cooperação na área espacial
◦ Até meados da década de 1990: pouco espaço para aproximação
▪ Brasil: crise; preferência por outros atores → MERCOSUL e países desenvolvidos
▪ Rússia: desmantelamento do Estado soviético
◦ 1997: visita de FHC a Moscou
▪ Criação da Comissão Russo-Brasileira de Alto Nível de Concertação
 Viés político
 Viés econômico
 Viés técnico
◦ Âmbito político:
▪ Rússia foi o primeiro país a manifestar seu apoio à candidatura do Brasil a membro permanente do
CSNU
▪ Brasil apóia a entrada da Rússia na OMC em troca de acesso ao mercado russo de carne e açúcar e da

154
redução de subsídios (por produto).
◦ Âmbito econômico:
▪ Crescimento das exportações brasileiras
 Perfil da pauta: produtos primários
 Concentração: soja, carnes e minérios
◦ Iniciativas recentes:
▪ Militar
 Cooperação na área espacial (após o acidente de Alcântara)
 Cooperação para uso pacífico de energia nuclear
 Plano Nacional de Defesa
▪ Energia: Memorando de entendimento entre Petrobras e Gazprom (outubro/2008) → escritório no
Brasil:
 Biocombustíveis
 GNL
 Grande Gasoduto do Sul
▪ Financeira
 Modernização do sistema bancário russo

 Brasil-Índia
◦ Brasil e Índia dividem uma série de características comuns
▪ Política externa:
 Defenderam historicamente uma política universalista; pragmatismo, independência (TNP)
 IBAS (outubro/2003)
 G-4: reforma do CSNU
 G-20 (OMC): grandes articuladores
◦ Índia também é parte do G-33: posições menos ambiciosas no acesso a mercados.
▪ Economia: baixo nível de transações comerciais. Índia oscila entre 17º e 20º parceiro econômico mais
importante do Brasil.
 Pauta comercial concentrada em termos de produtos primários.
 Acordo de Preferência Comercial entre Índia e MERCOSUL. Só falta ser aprovado pelo Brasil
(aprovado na Câmara; espera votação no Senado).
◦ 900 produtos
▪ 3% - tarifa zero
▪ 10% - redução de 20%
▪ 87% - redução de 10%
▪ Acordo na área de cooperação nuclear negociado no âmbito do IBAS.

 Brasil-China
◦ Política:
▪ Necessidade de ampliação do diálogo político
▪ 2006: Primeira reunião da COSBAN (Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação) – dimensão
política e econômica
▪ Apoio do Brasil à entrada da China na OMC em 2001, mas não há reconhecimento formal (apenas
político) da China como economia de mercado.
 G-20, ainda que o perfil da China seja baixo por ainda estar em processo de acessão
▪ Não há apoio da China à candidatura do Brasil como membro permanente do CSNU.
◦ Economia:
▪ China: segundo maior parceiro econômico do Brasil (previsão de se tornar o primeiro)
 Pauta Brasil: soja e minério de ferro
 Pauta China: bastante diversificada
 Brasil corresponde a 1% das importações chinesas.

14/05/2009

155
Comércio Internacional

2001: Conferência Ministerial de Doha


 Órgão decisório máximo, responsável pelas grandes decisões políticas/diretrizes
 Via de regra, de dois em dois anos
 Primeira conferência ministerial: Cingapura, 1997 (temas de Cingapura)
 1999: Seattle → Rodada do Milênio
◦ Contexto de divergência Norte-Sul → AGRICULTURA → começa a ser discutida a partir da Rodada do
Uruguai (1986-1994)
◦ Acordo de Agricultura da OMC → pouco ambicioso
◦ Acordos de Blair House (1992)
◦ Negociação mandatada sobre agricultura para 1999
◦ Cláusula da paz – 2003
 Contexto de ênfase no multilateralismo → lançamento da Rodada Doha do desenvolvimento
 Licenciamento compulsório de fármacos
◦ Brasil, Índia, África do Sul → IBAS e G-20

 Mandato:
◦ Agricultura
▪ Tripé agrícola:
 Eliminação de subsídios à exportação
 Redução, com vistas à eliminação, dos subsídios à produção (apoio interno)
 Acesso a mercados → redução de tarifas; desgravação tarifária
◦ NAMA (Acesso a mercados em bens não-agrícolas)
◦ Novos temas (temas de Cingapura): compras governamentais, facilitação do comércio, concorrência,
investimentos)
◦ Serviços
◦ Propriedade intelectual
◦ Novíssimo tema: meio ambiente

 Conferência Ministerial de Cancun – 2003


◦ Contexto de contestação do mandato de Doha
▪ UE: não eliminação dos subsídios à exportação
◦ Reedição dos Acordos de Blair House
◦ G-20: apresenta novo texto negociador
▪ Desarticular o QUAD (EUA, UE, Japão e Canadá)
▪ Defende resultados ambiciosos/completa cobertura do tripé agrícola
▪ G-4: Brasil, Índia, EUA e UE → G-20 torna-se ator significativo
◦ Julho/2004 – July Package:
▪ UE retoma mandato do tripé agrícola
▪ Temas menos sensíveis

 Conferência Ministerial de Hong Kong – 2005


◦ 2013: data limite para o fim dos subsídios à exportação
◦ Criação de instrumentos de proteção à agricultura dos países em desenvolvimento → ponto de dissensão no
G-20
▪ Produtos especiais → cortes tarifários menores
▪ Salvaguardas especiais

 Entraves:
◦ Conjuntural:

156
▪ Julho/2008: SP e SSM no âmbito do próprio G-20 → Índia, Indonésia, Coréia do Sul → também
pertencem ao G-33 (menos ambicioso em acesso a mercados)
◦ Estruturais:
▪ Princípio do single undertaking
▪ Número mais elevado de atores, agrupados em diferentes coalizões (Cotton-4)
◦ EUA
▪ Farm Bill – novembro/2008
 Aumentou as medidas de apoio interno. Etanol: manteve o pagamento de subsídio por galão e a
tarifa ao produto importado por ao menos dois anos.
 Veto presidencial derrubado
▪ Nova administração
▪ Trade Promotion Authority – fast track → fim em 2008
◦ Crise financeira internacional → países recorrem ao protecionismo
◦ UE: defende o fechamento da Rodada
▪ Reforma da PAC

 2009/2: previsão de nova ministerial

*Ver sistema de solução de controvérsias; princípios da organização; estatuto


*Exceções ao princípio de nação mais favorecida (acordos regionais, sistema geral de preferências)
Questão 2 – Simulado – Direitos Humanos

 60 anos Declaração Universal


 20 anos CF

 Declaração Universal dos Direitos do Homem


◦ Carta da ONU – preâmbulo e art. 55
▪ Preâmbulo: to reaffirm faith in fundamental human rights, in the dignity and worth of the human
person, in the equal rights of men and women and of nations large and small, and
▪ Art. 55: With a view to the creation of conditions of stability and well-being which are necessary for
peaceful and friendly relations among nations based on respect for the principle of equal rights and
self-determination of peoples, the United Nations shall promote: (c) universal respect for, and
observance of, human rights and fundamental freedoms for all without distinction as to race, sex,
language, or religion.
◦ 30 princípios: direitos humanos a serem garantidos
◦ Não tem caráter vinculante, mas alguns desses princípios fazem parte do costume internacional
◦ Número reduzido de signatários (ONU ainda não tinha tantos membros, e alguns se abstiveram: Leste
Europeu, Arábia Saudita, África do Sul)

Evolução

1) Institucional
 UNCHR (1946, mas começa a funcionar em 1947)
◦ Vinculada ao ECOSOC
◦ 53 membros
◦ Uma reunião anual
◦ Até 1967 → promover os direitos humanos (dar conhecimento acerca do tema)
◦ A partir de 1967 → investigar violações
▪ Res ECOSOC 1235 (1967): autorizar investigações – debate público (âmbito UNCHR)
▪ Res ECOSOC 1503 (1970): procedimento confidencial
◦ Décadas de 1970 e 1980: relatórios especiais (geográficos e temáticos)
◦ Críticas:

157
▪ Órgão político → representantes são atores estatais
▪ Seletividade
▪ “Double standard”
▪ Países violadores eram eleitos e colocam óbices ao funcionamento da UNCHR
 HRC (2006)
◦ Vinculado à AGNU → terceira comissão (SOCHUM)
◦ 47 membros
▪ Possibilidade de a AGNU, por maioria de 2/3, suspender um Estado do HRC em virtude de violações
claras aos DH.
▪ Eleitos para mandatos de três anos, critérios geográficos, permitida uma reeleição.
◦ No mínimo 4 reuniões por ano
◦ Mecanismo de revisão periódica universal:
▪ de 4 em 4 anos, os países passariam por uma revisão. → operacionalizado pelo Alto Comissariado
▪ Atores de diversas esferas
◦ Relatórios especiais geográficos: necessidade do apoio de 15 membros para que uma proposta de relatório
seja considerada → despolitização do tema. Encerrados os relatórios para Cuba e Bielorrússia.

2) Normativo

 Declaração Universal
 1966: Pacto da ONU sobre direitos civis e políticos
◦ Pacto da ONU sobre direitos econômicos, sociais e culturais
◦ Estabelecimento de órgãos de controle
◦ Entram em vigor em 1976
 Tratados de DH específicos a partir de 1950
 Dois pactos + Declaração: Carta Internacional de DH

3) Multilateral

 1968: Conferência de Teerã


◦ Resultados modestos: divisibilidade + universalidade limitada pela matriz cultural
 1993: Conferência de Viena
◦ Universalidade
▪ DH inerentes ao homem
▪ 170 países assinam a Declaração final e o Plano de Ação (unanimidade)
◦ Indivisibilidade
▪ Impossibilidade de alegar problemas econômicos para a não promoção dos direitos econômicos e
sociais
◦ Criação do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos
▪ Coordenar os trabalhos da ONU na área de DH
 1998: Estatuto de Roma → TPI
◦ UNCHR – esforço para a elaboração de um código de crimes contra a paz e segurança internacionais
◦ Plano de Ação de Viena (Par. 92)

Desafios do regime

 Universalidade
◦ Conferência de Durban (2001) – Discriminação Racial
▪ Abril/2009: III Conferência de Revisão
 Discurso do Irã → criticado pelo Brasil
 Ausência de EUA, Israel, Nova Zelândia, Itália → tom marcadamente anti-sionista.
 Delegações européias se retiraram depois do discurso do Irã

158
 Temas que não são consensuais: orientação sexual, difamação de religiões e compensação pelo
tráfico de pessoas.
 Direitos humanos de terceira geração → direitos difusos
 Violações massivas
 Efetividade/cumprimento das normas

Brasil

 Hipotecas (Gelson Fonseca Jr)


 Até 1985:
◦ 1974/75: investigação no âmbito do procedimento confidencial (encerrada em 1976)
◦ 1976: Governo Carter → pressões na área de DH (Brasil chega a denunciar Acordo Militar de 1952)
◦ 1977: Brasil se candidata e é eleito para a CDH → postura reativa
 A partir de 1985: quitação da hipoteca
◦ 1985: Convenção contra tortura (ratificada em 1989)
◦ Sarney envia para o Congresso os dois pactos da ONU de 1966 e o Pacto de San José da Costa Rica
(ratificados em 1992)
◦ CF 1988 (Constituição Cidadã)
▪ Art. 5º, §2º
▪ Visão Cançado Trindade (EC 45 como retrocesso)
◦ 1991: Discurso Rubens Ricupero na AGNU: 1/3 da fala dedicada aos problemas do Brasil → reconhecimento
político
◦ Eleição de Gilberto Sabóia, sem ter-se candidatado, para a presidência do comitê de redação da Conferência
de Viena
◦ Brasil: segundo país em número de votos na primeira eleição para o HRC. 2008: reeleito
◦ Transparência
▪ Convite permanente, desde 2001, para os relatores da UNCHR e HRC
▪ 2007: ACNUDH – Louise Arbour → elogiado pela transparência
▪ 2008: Mecanismo de revisão periódica universal → destacou-se a colaboração do Brasil e projetos como
Fome Zero e Bolsa Família.
▪ Brasil sediou a Conferência Regional de Durban

23/05/2009

Principais Variáveis da PEB Contemporânea

 “Autonomia pela participação” (Gelson Fonseca Jr.: A legitimidade e outras questões internacionais)
 Legitimidade: o Brasil deve buscar, nesse novo cenário internacional, preservar a legitimidade de seus pleitos e a
coerência de suas ações.
 Saraiva Guerreiro: Brasil é um país sem excedentes de poder

Anos 90:

 Três pilares
◦ Integração regional. Ex: MERCOSUL → plataforma de inserção competitiva na economia internacional.
Complementaridade entre globalização e regionalismo.
◦ “Renovação de credenciais” (Gelson Fonseca): “saldar as hipotecas”, “liquidação dos passivos”: meio
ambiente, direitos humanos, não-proliferação.
◦ Multilateralismo: redução dos custos de transação e aumento dos ganhos; inserção principista
▪ Reciprocidade difusa (Ruggie)
▪ MINUSTAH: demonstrar para a comunidade internacional que o Brasil pode assumir responsabilidades
→ legitimidade.
▪ Defesa da democratização dos fóruns multilaterais

159
Atualmente (2003-)

 Discurso de continuidade entre um governo e outro, com diferenças de ênfase.


 Cooperação Sul-Sul
◦ Não é uma novidade do governo Lula (elementos desde a década de 1960)
◦ Mudam o significado e o alcance → para conseguir maior projeção na agenda internacional, não para fazer
demandas dos pobres para os ricos.
◦ Países emergentes
◦ Ex: IBAS (2003) → criado como mecanismo de concertação política. 2008: fixado o objetivo de aumentar o
comércio entre os países em 50% até 2010. 2007: fluxo de comércio total entre os 3 países: US$ 10 bilhões.
▪ G-20
▪ BRIC (2008): institucionalização → reunião de chanceleres e de ministros da Fazenda.
 Desenvolvimento: PEB como instrumento para contribuir para o desenvolvimento do mundo periférico → “Não-
indiferença”
◦ Perdão de dívidas (África) – 8ª MDG
◦ Fundo de Combate à Fome e à Miséria (Fundo IBAS) → chancelado pelo PNUD
▪ Recursos investidos no Haiti: coleta de lixo, saneamento básico
▪ Guiné-Bissau
◦ Central de Medicamentos da ONU. Percentual cobrado de passagens internacionais para permitir o acesso
dos LDC a medicamentos.
◦ Filial Fiocruz (Moçambique)
◦ Filial EMBRAPA (Acra)
 Busca por um reforço efetivo de relações com o Norte (pragmatismo)
◦ Brasil-EUA: relações maduras (podem-se ter desentendimentos pontuais sem que eles atrapalhem a relação
como um todo). Ex: OMC, meio ambiente, Iraque, Guantánamo.
▪ Pela primeira vez, o Brasil passa a ser tido como um interlocutor necessário para os EUA. Brasil →
articulador de consensos
◦ Brasil-UE:
▪ Apesar de problemas com a PAC, possibilidade de acordo de livre comércio.
▪ Investimentos
▪ Cultura
▪ Política: principal ponto de apoio do Brasil na questão do desenvolvimento. É quem mais destina
dinheiro para o mundo periférico.
▪ Meio ambiente
▪ DH
▪ França
 Relação histórica, base cultural
 Investimentos franceses: automotivo, atacadista
 Militar (transferência de tecnologia): submarinos, helicópteros
 Político: grande defensora do pleito do Brasil no CSNU, FMI, G-8.
▪ Alemanha
 G4
 Maior parque industrial de empresas alemãs fora da Alemanha: Brasil → indústria automobilística,
CSA (Cia Siderúrgica do Atlântico – Thiessen-Krupp)
◦ América do Sul
▪ MERCOSUL
 Dimensão econômica: central
◦ Br-Arg: MAC
◦ Medidas protecionistas: Argentina suspendeu licenciamento automático de importações;
medidas antidumping contra alguns produtos brasileiros.
◦ Brasil quer a recuperação da Argentina. O fracasso da Argentina é o fracasso do MERCOSUL.

160
◦ FOCEM (Fundo de Convergência Estrutural do MERCOSUL): países menores
 Dimensão política
◦ Discussões ALCA
◦ OMC (todos os membros do MERCOSUL estão no G20)
 Dimensão social
◦ Fortalecer legitimidade da integração junto ao cidadão do MERCOSUL.
◦ Ex: Parlasul (eleições diretas programadas para 2010)
◦ Instituto Social (dezembro de 2008)
 Venezuela: peso econômico, político, fluxo comercial, energia
▪ UNASUL (sucessora da CASA)
 Concertação política
◦ Ex: Conselho Sul-Americano de Defesa. Primeiro foro para questões de defesa não subordinado
aos EUA (TIAR, OEA, JID – Junta Interamericana de Defesa)
 Cooperação comercial (MERCOSUL + CAN + Guiana e Suriname)
 Integração em infra-estrutura
◦ IIRSA
▪ CALC
◦ Parcerias não-tradicionais
▪ Rússia (visita Medvedev)
 Sem necessidade de visto prévio desde dezembro 2008
 Apoio ao Brasil no CSNU
 Começa a cogitar transferência de tecnologia → possibilidade de compra de equipamento militar.
▪ Países Árabes (Cúpulas ASPA)
▪ Israel: primeiro acordo de livre comércio do MERCOSUL com país de fora da ALADI.
 Celso Amorim no Israel e na Palestina e outros países árabes

03/06/2009

Mercosul

1. Expansão vertical – aprofundamento da integração


 Contexto: evolução do bloco:
◦ Até 1999
▪ Desvalorização do real → 2001: crise argentina
▪ Retração do comércio e dos investimentos
▪ Emergência de comportamentos desviantes: contenciosos “linha branca”, calçados, algodão, vinhos.
Argentina-Uruguai: papeleiras
 Perda de credibilidade do bloco → têxteis chegou à OMC. Não foi ao órgão de solução de
controvérsias; parou na fase de negociações.
◦ Relançamento da integração (2002)
▪ Adensamento normativo e institucional → lastro de permanência.
 Brasil: política externa do governo Lula: aproximação com países do Sul.
2. Exemplos:
 Institucional:
◦ Protocolo de Olivos (2002): criação do Tribunal Permanente de Revisão do MERCOSUL
▪ Cria instância revisora. Até então, o mecanismo de solução de controvérsia do MERCOSUL estava restrito
aos tribunais ad hoc (Protocolo de BSB). → aumento da segurança jurídica → promove os mecanismos
regionais em detrimento da OMC.
 Uma controvérsia, uma vez julgada pelo TPR, não pode ser revisada na OMC.
 Pode também funcionar como primeira instância.
◦ Parlamento do MERCOSUL: aprovado em dezembro de 2005

161
▪ Primeira sessão: maio de 2007.
▪ Função: consultiva, não participa do processo decisório.
 Colaborar para a internalização das normas. Se o Parlamento der um parecer positivo para
determinada norma, ela passa a ter caráter prioritário → deve ser votada em, no máximo, 180 dias
pelo Congresso Nacional.
◦ Necessidade de internalização decorrente do caráter intergovernamental do MERCOSUL. UE é
supranacional: o Parlamento Europeu participa do processo legislativo, da elaboração do
orçamento, da indicação de representantes em outras instâncias, etc.
 Diminuição do déficit democrático: por enquanto, eleições indiretas (18 representantes por país).
2010 → eleições diretas para o Parlasul, com base em representação cidadã. Paraguai já teve
eleições diretas.
 Normativo:
◦ FOCEM (Fundo de Convergência Estrutural do MERCOSUL) - 2004/2005
▪ Pool de US$ 100 milhões destinado a corrigir assimetrias estruturais.
▪ Contribuições maiores de Brasil (70%) e Argentina (27%)
▪ Maiores beneficiados: Paraguai e Uruguai
▪ Até 2002: integração negativa – liberalização comercial por meio da eliminação de barreiras. → FOCEM
→ expandir o escopo da integração:
 Integração das cadeias produtivas, criação de infra-estrutura comum
 Atender demanda dos sócios menores → 1990: Paraguai e Uruguai haviam aceitado tudo o que
tinha sido negociado.
 Pequenas e médias empresas
◦ Pagamento em moeda local
▪ Mecanismo estabelecido de maneira bilateral: Brasil e Argentina (outubro 2008)
▪ Eliminar o dólar nas transações comerciais
▪ Primeiro passo para moeda comum/esforço de coordenação macroeconômica
◦ TEC – Protocolo de Ouro Preto (1994) – entrou em vigor em 01/01/1995. Dois problemas:
▪ Lista de exceções (último prazo para terminar: 01/01/2009). Resolução CMC (2007): novos prazos: Brasil e
Argentina → dezembro de 2010 ; Uruguai e Paraguai → dezembro de 2015.
▪ Bitributação → Resolução CMC (2004) estabeleceu cronograma para a eliminação
 1ª etapa: 2006 – alíquota zero, 100% de preferência tarifária.
 2ª etapa: elaboração de Código Aduaneiro do MERCOSUL, maior interconexão das aduanas e
esquema para repartição das rendas aduaneiras.
3. Expansão Horizontal
 Aumento do número de membros
◦ Membros associados (Chile, Peru, Bolívia, Colômbia, Equador)
◦ Adesão de novos membros: Venezuela
▪ 2004: Membro associado, solicitou adesão
▪ 04/07/2006: Assinatura do Protocolo de Adesão. Ainda não está em vigor: falta ser ratificado por Paraguai
e Brasil.
▪ Aumento do mercado
▪ Integração energético
▪ Fator de estabilização
▪ Barrar China
▪ Saída para o Caribe → caráter mais setentrional para o bloco
▪ Desafio: deve se adequar à TEC, ao arcabouço normativo e aderir aos acordos com terceiros países.
 Acordos comerciais
◦ Acordo Marco ou Acordo Quadro: estabelece as bases e o escopo das negociações comerciais. (MERCOSUL-
União Européia_
◦ Acordo de Preferência Comercial ou de Comércio Preferencial: lista de ofertas
▪ APC MERCOSUL-Índia (2004)
 900 produtos (450/450) em que se oferece redução de tarifas

162
 Ofertas da Índia: máquinas, material elétrico, farmacêutico, carnes
 Ofertas do MERCOSUL: químicos, alimentos.
 Entrou em vigor em 02/06/2009.
▪ APC MERCOSUL-SACU (União Aduaneira da África Austral)
 2000: Acordo Quadro apenas com África do Sul
 2006: SACU → Lesoto, Namíbia, Suazilândia, Botsuana.
 1900 produtos
 Ofertas da SACU: agropecuários
 Ofertas do MERCOSUL: máquinas, pescado, indústria química
 Ainda não está em vigor
◦ Acordo de Livre Comércio
▪ Israel (2007)
 Meta de abrangência de 90% do comércio bilateral
 Complementaridade de pautas
 Primeiro acordo de livre comércio firmado com um país de fora do entorno regional.
▪ ALC MERCOSUL-Conselho de Cooperação do Golfo
 2005: I Cúpula ASPA → Acordo Marco
 2009: II Cúpula ASPA → impulso político para a conclusão do ALC até o fim de 2009.
 Complementaridade: petróleo/alimentos.
 Desafio: indústria petroquímica (CCG quer que seja inserido no acordo, e empresas do MERCOSUL
são reticentes).
▪ Perspectiva de acordos com Marrocos, Egito, Turquia, Jordânia

Acordo MERCOSUL- União Européia

1992: Acordo Interinstitucional MERCOSUL-União Européia → incentivo à consolidação do bloco sul-americano.


 Conformação de Secretariado do MERCOSUL
 Harmonização de normas técnicas
1995: Acordo-Quadro de Cooperação Interregional
 Conselho de Cooperação (Ministros de Estado → impulso político)
 Comissão de Cooperação (órgão técnico → elabora a proposta do acordo que vai ser firmado)
 Subcomissões comerciais
1998: Segunda Cúpula das Américas (Santiago) → início das negociações da ALCA
1999: Cimeira do RJ → início das negociações
2001: III Cúpula das Américas (Québec)
2001: Proposta unilateral da UE
 90% do fluxo de comércio
 10% de fora: carnes, açúcar, tabaco, soja, café
 Contraproposta do MERCOSUL: 35% (apenas produtos agropecuários)
2004: Monterrey – ALCA
2004: Cimeira em Guadalajara
 Impasse nas negociações
2005: Mar del Plata → “enterro da ALCA”
2005/6: opção de esperar o fim da Rodada Doha.
2007: volta às negociações → novo impasse.
 Bitributação da TEC
 Denominação de origem
 Drawback (importar os componentes e montar a máquina, para depois revendê-la): proibido pela UE

2007: Parceira estratégica Brasil-UE

Brasil-Alemanha

Cooperação em âmbito político: G4 → visões semelhantes acerca do cenário internacional, que precisaria ser
democratizado. Necessidade de que os fóruns multilaterais reflitam a realidade atual.
BR-Alemanha: importantes parceiros comerciais

163
Cooperação energética
 Biocombustíveis
◦ Etanol (Br → Al)
◦ Biodiesel (Al → Br)
 Energia Nuclear
Componente cultural: 7 milhões de descendentes de alemães no Brasil.
1200 empresas de capital alemão no Brasil (Volkswagen, Thyssen-Krupp)
Brasil-UK
Apoio UK ao Brasil no CSNU;
Apoio à reestruturação do G8, com inclusão do Brasil;
Apóia o pleito brasileiro na OMC de liberalização do comércio agrícola → maior crítico europeu da PAC (previsão de fim da
PAC: 2013)
Brasil-Mundo Árabe

 Discurso de posse Lula menciona os países árabes


 2003: 5 Estados árabes (primeiro Presidente brasileiro): Egito, Líbia, Líbano, Emirados Árabes e Síria.
 I Cúpula ASPA (maio 2005, BSB) – 33 Estados
◦ Multilateralismo
◦ Multiculturalidade
◦ Incremento dos fluxos de comércio
◦ Respeito ao DIP
◦ Democratização dos fóruns decisórios mundiais → apoio da Liga Árabe ao G4
◦ Aproximação cultural (8,5 milhões descendentes libaneses no Brasil; 3,5 milhões descendentes sírio-
libaneses na Argentina; maior população de palestinos fora da Palestina é no Chile)
 2006: Visita à Argélia
 2007 – Annapolis → multilateralizar o processo de paz.
◦ Aplicação do Fundo IBAS nos territórios palestinos (saúde/educação)
◦ EUA, Israel e Países Árabes reconhecem o Brasil como interlocutor.
 2009:
◦ Celso Amorim na Faixa de Gaza (com apoio EUA)
◦ II Cúpula ASPA (Doha)
▪ Acordos de investimentos
▪ Esvaziada por conta da Cúpula do G20 financeiro, logo depois.
◦ Visita de Lula à Arábia Saudita → principal parceiro comercial no mundo árabe
▪ Comitiva de empresários → esforço de melhora no ambiente de negócios
▪ Interesse de grupos sauditas na compra de terras no Brasil para a produção de alimentos para
exportação para os países árabes → Brasil não deu resposta.
▪ Joint Ventures: Petrobras-Aranco → produção de petróleo calcinado (transferência de tecnologia para o
Brasil) → usado para usinas termoelétricas
 Produção de insulina humana
▪ Câmara de Comércio Árabe-Brasileira
◦ Destravamento as negociações do Acordo Mercosul-Conselho de Cooperação do Golfo

04/06/2009

Relações Brasil-França

 França: inspiração em termos políticos e culturais. Ex: bandeira brasileira, positivismo, Missão Francesa,
geografia. Exceção: questão lindeira.
◦ Campo político: ideais da Revolução Francesa no Brasil; positivismo de Comte na política brasileira →
bandeira.
◦ Cultura: Missão Francesa
◦ Geografia: IHGB (1838)

164
◦ Exceção: Questão do Amapá (ganho do Barão na disputa)
 Após Segunda Guerra Mundial: “negligência cordial” (Antônio Carlos Lessa). Imagem negativa do Brasil, projetos
concorrentes, presença cultural norte-americana.
◦ Influência política perde espaço porque os dois países estão em projetos completamente concorrentes:
Brasil está focado no desenvolvimento (com o qual a França não tem condições de ajudar); a França, na
integração da Europa.
◦ Perda de influência da cultura francesa por conta da dominação da cultura norte-americana na sociedade
brasileira.
◦ Instabilidade política e econômica do governo Goulart: fuga dos parcos investimentos franceses.
◦ Guerra da Lagosta (1961): Brasil proibiu lagosteiros franceses de pescar no litoral do Nordeste.
Conseqüência:

Novas Perspectivas:

 2005: Ano do Brasil na França: visita de Lula, com aumento de quase 20% nas exportações brasileiras.
 Ponto de vista político:
◦ 2006: visita de Chirac. Reafirmam-se velhos princípios comuns: multilateralismo (apoio à reforma do CSNU,
G8 ampliado).
◦ Os posicionamentos adotados pelos dois países em matéria de política internacional tendem a convergir:
Iraque, Haiti.
◦ Identificação principiológica com efeitos práticos.
◦ Fronteira terrestre comum: a maior fronteira da França é com o Brasil. Essa fronteira tem catalisado a
aproximação dos dois países.
▪ Cooperação fronteiriça → contemplada no Acordo-Quadro de Cooperação Brasil-França de 1996
(projeto de ponte sobre o Rio Oiapoque, projeto de pavimentação da BR-156, imigração).
◦ Cooperação trilateral: Brasil, França e países de menor desenvolvimento relativo.
◦ França: um dos maiores apoiadores do Fundo de Combate à Fome e à Pobreza.
◦ Cooperação militar: participação da França no processo de reaparelhamento das Forças Armadas brasileiras.
Início em fevereiro de 2008 (após visita de Sarkozy em janeiro), concretização em dezembro do mesmo ano,
com a aquisição de 50 helicópteros, a serem construídos no Brasil, e cinco submarinos (sendo que um deles
pode tornar-se nuclear). Caça Rafale.
◦ Área espacial: uso das bases espaciais um do outro.
◦ Meio ambiente
 Ponto de vista cultural:
◦ Brasil é o país mais francófilo da América Latina.
◦ Rádio França Internacional, Aliança Francesa.
 Ponto de vista econômico:
◦ 1900: Câmara de Comércio França-Brasil → mais de 800 empresas associadas.
◦ Relações comerciais intensificam-se no final dos anos 1990: o Brasil só perde para a China em investimentos
franceses nos países em desenvolvimento.
◦ França é o sexto maior investidor no Brasil (destaque para os setores de energia, serviços financeiros,
automobilístico e indústria agroalimentar).
◦ O número de empresas brasileiras na França mais do que duplicou desde 2000.
◦ Produtos Brasil: soja, minérios, madeira e petróleo.
◦ Franca: automóveis, aeronaves, produtos químicos e aparelhos eletrônicos.
◦ Desafio: protecionismo francês (maior defensora da PAC).

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