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Górgias – Platão (482c-488b)
Cálicles — Sócrates, dás -me a impressão
de que te exibes em teus discursos como o
fazem os oradores populares. Mas só falas
dessa forma por haver Polo incidido no
mesmo erro que ele censurou em Górgias,
quando da discussão deste contigo. Pois, ele
disse que quando Górgias foi perguntado se
ensinaria a alguém que viesse estudar
retórica com ele sem saber o que é o justo,
respondera afirmativamente por se sentir
envergonhado e em consideração ao
costume dos homens, que protestariam no
caso de alguém dar resposta diferente. Com
semelhante concessão, viu-se Górgias
forçado a contradizer-se, que é com o que
mais gostas. Naquela altura, com toda a
razão, a meu ver, zombou ele de ti; mas
agora, por sua vez, a mesma coisa
aconteceu com ele; eis por que não posso
mostrar-me satisfeito com Polo, por haver
ele concordado que é mais vergonhoso
cometer injustiça do que sofrer injustiça.
Foi justamente por causa dessa concessão
que ele se viu forçado e calado por você na
discussão, por ter tido vergonha de dizer o
que pensa. Tu, Sócrates, embora afirmes
perseguir a verdade, levas a discussão até
um nível demagógico e vulgar que é
admirável segundo lei, mas não segundo a
natureza. Pois, na maioria das vezes,
acham-se em oposição a natureza e a lei.
Assim, quem, por vergonha, não se atrever
a dizer o que pensa, é forçado a se
contradizer. Percebeste isso de um modo
muito esperto, e daí tiras partido na
discussão. Se alguém afirma algo segundo a
lei, tu o questiona segundo a natureza, e se
é segundo a natureza que ele afirma, tuas
perguntas passam a ser segundo a lei. Foi o
que se deu há pouco com relação a alguém
cometer injustiça ou sofrer injustiça:
enquanto Polo se referia ao que há de mais
vergonhoso segundo a lei, tu perseguias o
argumento segundo natureza. Pois, segundo
a natureza, tudo o que é pior é também
mais vergonhoso, como sofrer o que é
injusto, enquanto que pela lei, cometer é
mais vergonhoso. Nem é condição normal
do homem sofrer injustiça, mas apenas de
escravo, a quem melhor fora morrer do
que viver,
[482ξ] ὦ Σώκρατες, δοκεῖς
νεανιεύεσθαι ἐν τοῖς λόγοις ὡς
ἀληθῶς δημηγόρος ὤν: καὶ νῦν ταῦτα
δημηγορεῖς ταὐτὸν παθόντος Πώλου
πάθος ὅπερ Γοργίου κατηγόρει πρὸς σὲ
παθεῖν. ἔφη γάρ που Γοργίαν
ἐρωτώμενον ὑπὸ σοῦ, ἐὰν ἀφίκηται
παρ᾽ αὐτὸν μὴ ἐπιστάμενος τὰ δίκαια
ὁ τὴν ῥητορικὴν [482δ]
βουλόμενος μαθεῖν, εἰ διδάξοι
αὐτὸν ὁ Γοργίας, αἰσχυνθῆναι
αὐτὸν καὶ φάναι διδάξειν διὰ τὸ
ἔθος τῶν ἀνθρώπων, ὅτι
ἀγανακτοῖεν ἂν εἴ τις μὴ φαίη—
διὰ δὴ ταύτην τὴν ὁμολογίαν
ἀναγκασθῆναι ἐναντία αὐτὸν
αὑτῷ εἰπεῖν, σὲ δὲ αὐτὸ τοῦτο
ἀγαπᾶν—καί σου καταγελᾶν,
ὥς γέ μοι δοκεῖν ὀρθῶς, τότε:
νῦν δὲ πάλιν αὐτὸς ταὐτὸν
τοῦτο ἔπαθεν. καὶ ἔγωγε κατ᾽
αὐτὸ τοῦτο οὐκ ἄγαμαι Πῶλον,
ὅτι σοι συνεχώρησεν τὸ ἀδικεῖν
αἴσχιον εἶναι τοῦ ἀδικεῖσθαι:
ἐκ[482ε] ταύτης γὰρ αὖ τῆς
ὁμολογίας αὐτὸς ὑπὸ σοῦ
συμποδισθεὶς ἐν τοῖς λόγοις
ἐπεστομίσθη, αἰσχυνθεὶς ἃ
ἐνόει εἰπεῖν. σὺ γὰρ τῷ ὄντι, ὦ
Σώκρατες, εἰς τοιαῦτα ἄγεις
φορτικὰ καὶ δημηγορικά,
φάσκων τὴν ἀλήθειαν διώκειν,
ἃ φύσει μὲν οὐκ ἔστιν καλά,
νόμῳ δέ. ὡς τὰ πολλὰ δὲ ταῦτα
ἐναντί᾽ ἀλλήλοις
αἰσχύνηται[483α] καὶ μὴ τολμᾷ
λέγειν ἅπερ νοεῖ, ἀναγκάζεται
ἐναντία λέγειν. ὃ δὴ καὶ σὺ
τοῦτο τὸ σοφὸν κατανενοηκὼς
κακουργεῖς ἐν τοῖς λόγοις, ἐὰν
μέν τις κατὰ νόμον λέγῃ, κατὰ
φύσιν ὑπερωτῶν, ἐὰν δὲ τὰ τῆς
φύσεως, τὰ τοῦ νόμου. ὥσπερ
αὐτίκα ἐν τούτοις, τῷ ἀδικεῖν
τε καὶ τῷ ἀδικεῖσθαι, Πώλου τὸ
κατὰ νόμον αἴσχιον λέγοντος,
σὺ τὸν λόγον ἐδιώκαθες κατὰ
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φύσιν. φύσει μὲν γὰρ πᾶν
αἴσχιόν ἐστιν ὅπερ καὶ κάκιον,
τὸ ἀδικεῖσθαι, νόμῳ δὲ τὸ
ἀδικεῖν. οὐδὲ[483β] γὰρ ἀνδρὸς
τοῦτό γ᾽ ἐστὶν τὸ πάθημα, τὸ
ἀδικεῖσθαι, ἀλλ᾽ ἀνδραπόδου
τινὸς ᾧ κρεῖττόν ἐστιν
τεθνάναι ἢ ζῆν,
pois, injustiçado e abusado, não é capaz de
se proteger nem de proteger os que lhe são
caros. No meu modo de pensar, as leis
foram instituídas pelos fracos e pela
maioria. É para eles e no interesse próprio
que são feitas as leis e distribuídos elogios
ou censuras. E por temerem os mais fortes
e, por isso mesmo, capazes de obter mais
do que eles, e impedir que obtenham mais,
declaram “vergonhoso” e “injusto” o ter
mais do que o devido, pois nisto,
precisamente, é que consiste a injustiça;
querer obter mais do que os outros.
Contentam-se em ter igual parte, crio,
porque são inferiores. Por isso, de acordo
com a lei, é denominado “injusto” e
“vergonhoso” buscar ter mais do que a
maioria, e chamam isso de cometer
injustiça. Mas a própria natureza, segundo
creio, revela que é uma coisa justa que o
melhor tenha mais que o inferior, que o
mais forte tenha mais que o mais fraco. A
natureza mostra que as coisas são assim e
que tanto entre os animais como entre os
homens, nas cidades e em todas as raças,
que o que ficou decidido é que o justo é que
os mais superiores dominem os inferiores e
tenham mais do que eles. De fato, com que
direito invadiu Xerxes a Hélade ou o pai
dele a Cítia? Incontáveis exemplos podem
ser mencionados. Acredito que esses
homens façam essas coisas de acordo com a
natureza do que é justo – sim, por Zeus – de
acordo com a lei da natureza, e talvez não
de acordo com a lei que instituímos.
Modelamos os melhores e os mais fortes
dentre nós, desde os mais tenros anos, como
fazemos com o leão, para escravizá-lo com
encantamentos ou fórmulas mágicas, e
dizendo que não se deve tomar mais que a
parte igual, pois nisso, precisamente,
consiste o admirável e o justo. Julgo,
porém, que quando surge um homem de
natureza suficiente, que balança, destrói e
escapa de tudo isso, que pisa em nossas
fórmulas, armadilhas e encantamentos, e
todas as leis contrárias à natureza, vemos o
escravo transformar-se em nosso mestre, e
aqui
ὅστις ἀδικούμενος καὶ
προπηλακιζόμενος μὴ οἷός τέ ἐστιν
αὐτὸς αὑτῷ βοηθεῖν μηδὲ ἄλλῳ οὗ ἂν
κήδηται. ἀλλ᾽ οἶμαι οἱ τιθέμενοι τοὺς
νόμους οἱ ἀσθενεῖς ἄνθρωποί εἰσιν καὶ
οἱ πολλοί. πρὸς αὑτοὺς οὖν καὶ τὸ
αὑτοῖς συμφέρον τούς τε νόμους
τίθενται καὶ τοὺς ἐπαίνους ἐπαινοῦσιν
καὶ τοὺς 483ξ] ψόγους ψέγουσιν:
ἐκφοβοῦντες τοὺς ἐρρωμενεστέρους
τῶν ἀνθρώπων καὶ δυνατοὺς ὄντας
πλέον ἔχειν, ἵνα μὴ αὐτῶν πλέον
ἔχωσιν, λέγουσιν ὡς αἰσχρὸν καὶ
ἄδικον τὸ πλεονεκτεῖν, καὶ τοῦτό
ἐστιν τὸ ἀδικεῖν, τὸ πλέον τῶν ἄλλων
ζητεῖν ἔχειν: ἀγαπῶσι γὰρ οἶμαι αὐτοὶ
ἂν τὸ ἴσον ἔχωσιν φαυλότεροι ὄντες.
διὰ ταῦτα δὴ νόμῳ μὲν τοῦτο ἄδικον
καὶ αἰσχρὸν λέγεται, τὸ πλέον ζητεῖν
ἔχειν τῶν πολλῶν, καὶ ἀδικεῖν αὐτὸ
καλοῦσιν: ἡ δέ γε οἶμαι φύσις αὐτὴ
ἀποφαίνει [483δ] αὐτό, ὅτι δίκαιόν
ἐστιν τὸν ἀμείνω τοῦ χείρονος πλέον
ἔχειν καὶ τὸν δυνατώτερον τοῦ
ἀδυνατωτέρου. δηλοῖ δὲ ταῦτα
πολλαχοῦ ὅτι οὕτως ἔχει, καὶ ἐν τοῖς
ἄλλοις ζῴοις καὶ τῶν ἀνθρώπων ἐν
ὅλαις ταῖς πόλεσι καὶ τοῖς γένεσιν,
ὅτι οὕτω τὸ δίκαιον κέκριται, τὸν
κρείττω τοῦ ἥττονος ἄρχειν καὶ
πλέον ἔχειν. ἐπεὶ ποίῳ δικαίῳ
χρώμενος Ξέρξης ἐπὶ τὴν Ἑλλάδα
ἐστράτευσεν ἢ ὁ πατὴρ αὐτοῦ ἐπὶ
Σκύθας; ἢ [483ε] ἄλλα μυρία ἄν τις
ἔχοι τοιαῦτα λέγειν. ἀλλ᾽ οἶμαι οὗτοι
κατὰ φύσιν τὴν τοῦ δικαίου ταῦτα
πράττουσιν, καὶ ναὶ μὰ Δία κατὰ
νόμον γε τὸν τῆς φύσεως, οὐ μέντοι
ἴσως κατὰ τοῦτον ὃν ἡμεῖς τιθέμεθα:
πλάττοντες τοὺς βελτίστους καὶ
ἐρρωμενεστάτους ἡμῶν αὐτῶν, ἐκ
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νέων λαμβάνοντες, ὥσπερ λέοντας,
κατεπᾴδοντές τε καὶ γοητεύοντες
καταδουλούμεθα [484α] λέγοντες ὡς
τὸ ἴσον χρὴ ἔχειν καὶ τοῦτό ἐστιν τὸ
καλὸν καὶ τὸ δίκαιον. ἐὰν δέ γε οἶμαι
φύσιν ἱκανὴν γένηται ἔχων ἀνήρ,
πάντα ταῦτα ἀποσεισάμενος καὶ
διαρρήξας καὶ διαφυγών,
καταπατήσας τὰ ἡμέτερα γράμματα
καὶ μαγγανεύματα καὶ ἐπῳδὰς καὶ
νόμους τοὺς παρὰ φύσιν ἅπαντας,
ἐπαναστὰς ἀνεφάνη δεσπότης
ἡμέτερος ὁ δοῦλος, καὶ ἐνταῦθα
o justo da natureza brilharia intensamente.
Penso que Píndaro afirma também isso
nesse poema em que diz:
Lei, Rainha de tudo:
dos deuses e dos mortais.
isso, acrescenta:
com seu pulso de ferro tona justo
o mais violentos. Como prova,
de Héracles cito os feitos. Sem ter
comprado nenhum...
O sentido é mais ou menos esse; não sei
de cor o poema. O que ele quer dizer é
que, sem ter comprado nem ganho os bois
de Gerião, tocou-os por diante, como
sendo justo por natureza, os bois e todos
os outros bens dos inferiores e mais
fracos pertencem ao superior e mais forte.
Essa é a verdade sobre o assunto, que tu
mesmo reconhecerias se deixasses de lado
a filosofia e te dedicasses a ocupações
mais importantes. A filosofia, Sócrates, é
de fato, muito agradável para quem a
estuda com moderação na juventude,
porém acaba por arruinar quem a ela se
dedica mais tempo do que razoável. Por
bem dotada que seja uma pessoa, se
prosseguir filosofando até uma idade
avançada, é forçoso que se torne
inexperiente em tudo o que quem quer
que queira ser admirável e bom e que
ambicione distinguir-se na cidade deve ter
experiência. Essas pessoas acabam não
somente desconhecendo as leis da cidade,
mas também o tipo de linguagem que é
preciso usar no trato público ou
particular, bem como carecerá de
experiência com relação aos prazeres e
aos apetites: em suma, inexperientes em
relação às coisas humanas em geral.
Assim, quando procuram ocupar-se com
seus próprios negócios ou com a política,
tornam-se logo ridículos, como ridículos,
a meu ver, também se tornam os políticos
que se dispõem a tomar parte em vossas
reuniões e vossos discursos. Cabem aqui
as palavras de Eurípides quando diz que
“cada homem brilha” naquilo,
Em que aplica a maior parte de seus dias
[484β] ἐξέλαμψεν τὸ τῆς φύσεως δίκαιον.
δοκεῖ δέ μοι καὶ Πίνδαρος ἅπερ ἐγὼ λέγω
ἐνδείκνυσθαι ἐν τῷ ᾁσματι ἐν ᾧ λέγει ὅτι—
“νόμος ὁ πάντων βασιλεὺς
θνατῶν τε καὶ ἀθανάτων:”
Pind. Fr. 169
οὗτος δὲ δή, φησίν,—
“ἄγει δικαιῶν τὸ βιαιότατον
ὑπερτάτᾳ χειρί: τεκμαίρομαι
ἔργοισιν Ἡρακλέος, ἐπεὶ—ἀπριάτας—”
Pind. fr. 169
λέγει οὕτω πως—τὸ γὰρ ᾆσμα οὐκ ἐπίσταμαι
—λέγει δ᾽ ὅτι οὔτε πριάμενος οὔτε δόντος τοῦ
Γηρυόνου ἠλάσατο τὰς βοῦς, [484ξ] ὡς
τούτου ὄντος τοῦ δικαίου φύσει, καὶ βοῦς καὶ
τἆλλα κτήματα εἶναι πάντα τοῦ βελτίονός τε
καὶ κρείττονος τὰ τῶν χειρόνων τε καὶ
ἡττόνων.
τὸ μὲν οὖν ἀληθὲς οὕτως ἔχει, γνώσῃ δέ, ἂν
ἐπὶ τὰ μείζω ἔλθῃς ἐάσας ἤδη φιλοσοφίαν.
φιλοσοφία γάρ τοί ἐστιν, ὦ Σώκρατες, χαρίεν,
ἄν τις αὐτοῦ μετρίως ἅψηται ἐν τῇ ἡλικίᾳ:
ἐὰν δὲ περαιτέρω τοῦ δέοντος ἐνδιατρίψῃ,
διαφθορὰ τῶν ἀνθρώπων. ἐὰν γὰρ καὶ πάνυ
εὐφυὴς ᾖ καὶ πόρρω τῆς ἡλικίας φιλοσοφῇ,
ἀνάγκη πάντων ἄπειρον γεγονέναι [484δ]
ἐστὶν ὧν χρὴ ἔμπειρον εἶναι τὸν
μέλλοντα καλὸν κἀγαθὸν καὶ
εὐδόκιμον ἔσεσθαι ἄνδρα. καὶ γὰρ
τῶν νόμων ἄπειροι γίγνονται τῶν
κατὰ τὴν πόλιν, καὶ τῶν λόγων οἷς δεῖ
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χρώμενον ὁμιλεῖν ἐν τοῖς συμβολαίοις
τοῖς ἀνθρώποις καὶ ἰδίᾳ καὶ δημοσίᾳ,
καὶ τῶν ἡδονῶν τε καὶ ἐπιθυμιῶν τῶν
ἀνθρωπείων, καὶ συλλήβδην τῶν ἠθῶν
παντάπασιν ἄπειροι γίγνονται.
ἐπειδὰν οὖν ἔλθωσιν εἴς τινα ἰδίαν ἢ
πολιτικὴν [484ε] πρᾶξιν,
καταγέλαστοι γίγνονται, ὥσπερ γε
οἶμαι οἱ πολιτικοί, ἐπειδὰν αὖ εἰς τὰς
ὑμετέρας διατριβὰς ἔλθωσιν καὶ τοὺς
λόγους, καταγέλαστοί εἰσιν.
συμβαίνει γὰρ τὸ τοῦ Εὐριπίδου:
“λαμπρός” Eur. Fr. Antiope τέ ἐστιν
“ἕκαστος” ἐν τούτῳ, “καὶ ἐπὶ τοῦτ᾽
ἐπείγεται”,“νέμων τὸ πλεῖστον
ἡμέρας τούτῳ μέρος,
e entre todos os outros se distingue.
Mas evita e critica aquilo em que é inferior,
elogiando o oposto, tendo benevolência consigo
mesmo, pensando que desse modo está
louvando a si mesmo. Acredito, no entanto, que
o mais apropriado é ter uma parte de ambos. É
admirável tomar parte na filosofia como a sua
formação requer, e não é vergonhoso filosofar
desde que jovem. Mas quando já se é um
homem ainda filosofar chega ao ridículo,
Sócrates. Minha reação diante de homens que
filosofam é como diante de quem se põe a
balbuciar e a falar como criança. Quando vejo
uma criança, que não pode conversar
apropriadamente, balbuciando e brincando,
sinto prazer e me divirto, é o sinal de uma
infância de homem livre e de acordo com aquela
fase da existência; porém se ouço uma criança
falar com correção as palavras, doem-me os
ouvidos e julgo ser sinal da condição de
escravo. E, quando ouço um adulto falar ou
brincar como criança, penso que é ridículo,
indigno de um homem e merecedor de
pancadas. A mesma coisa com relação aos que
se dedicam à filosofia. Alegra-me quando vejo
um adolescente que se dedica ao estudo da
filosofia; semelhante ocupação convém a sua
idade, é própria de um homem livre, considero,
no entanto, inferior e incapaz de realizar alguma
ação bela e nobre quem nessa idade descuida da
filosofia. Mas, quando vejo um homem de certa
idade cultivá-la e não abandoná-la, um homem
nessas condições, Sócrates, para mim é
merecedor de açoites. Como disse há pouco,
quem assim procede, por mais que seja
naturalmente bem favorecido, torna-se um não-
homem; foge as praças da cidade e das
assembléias, onde, exclusivamente, no dizer do
poeta, os homens se distinguem, para meter-se
num canto o resto da vida, a cochichar com três
ou quatro moços, sem jamais proferir um
discurso livre, importante ou eficaz.
ἵν᾽ αὐτὸς αὑτοῦ τυγχάνει βέλτιστος
ὤν:”Eur. Fr. Antiope
[485α] ὅπου δ᾽ ἂν φαῦλος ᾖ, ἐντεῦθεν
φεύγει καὶ λοιδορεῖ τοῦτο, τὸ δ᾽
ἕτερον ἐπαινεῖ, εὐνοίᾳ τῇ ἑαυτοῦ,
ἡγούμενος οὕτως αὐτὸς ἑαυτὸν
ἐπαινεῖν. ἀλλ᾽ οἶμαι τὸ ὀρθότατόν
ἐστιν ἀμφοτέρων μετασχεῖν.
φιλοσοφίας μὲν ὅσον παιδείας χάριν
καλὸν μετέχειν, καὶ οὐκ αἰσχρὸν
μειρακίῳ ὄντι φιλοσοφεῖν: ἐπειδὰν δὲ
ἤδη πρεσβύτερος ὢν ἄνθρωπος ἔτι
φιλοσοφῇ, καταγέλαστον, ὦ
Σώκρατες, τὸ χρῆμα γίγνεται, καὶ
ἔγωγε [485β] ὁμοιότατον πάσχω πρὸς
τοὺς φιλοσοφοῦντας ὥσπερ πρὸς τοὺς
ψελλιζομένους καὶ παίζοντας. ὅταν
μὲν γὰρ παιδίον ἴδω, ᾧ ἔτι προσήκει
διαλέγεσθαι οὕτω, ψελλιζόμενον καὶ
παῖζον, χαίρω τε καὶ χαρίεν μοι
φαίνεται καὶ ἐλευθέριον καὶ πρέπον τῇ
τοῦ παιδίου ἡλικίᾳ, ὅταν δὲ σαφῶς
διαλεγομένου παιδαρίου ἀκούσω,
πικρόν τί μοι δοκεῖ χρῆμα εἶναι καὶ
ἀνιᾷ μου τὰ ὦτα καί μοι δοκεῖ
δουλοπρεπές τι εἶναι: ὅταν δὲ [485ξ]
ἀνδρὸς ἀκούσῃ τις ψελλιζομένου ἢ
παίζοντα ὁρᾷ, καταγέλαστον φαίνεται
καὶ ἄνανδρον καὶ πληγῶν ἄξιον.
ταὐτὸν οὖν ἔγωγε τοῦτο πάσχω καὶ
πρὸς τοὺς φιλοσοφοῦντας. παρὰ νέῳ
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μὲν γὰρ μειρακίῳ ὁρῶν φιλοσοφίαν
ἄγαμαι, καὶ πρέπειν μοι δοκεῖ, καὶ
ἡγοῦμαι ἐλεύθερόν τινα εἶναι τοῦτον
τὸν ἄνθρωπον, τὸν δὲ μὴ
φιλοσοφοῦντα ἀνελεύθερον καὶ
οὐδέποτε οὐδενὸς ἀξιώσοντα ἑαυτὸν
οὔτε καλοῦ οὔτε γενναίου [485δ]
πράγματος: ὅταν δὲ δὴ πρεσβύτερον
ἴδω ἔτι φιλοσοφοῦντα καὶ μὴ
ἀπαλλαττόμενον, πληγῶν μοι δοκεῖ
ἤδη δεῖσθαι, ὦ Σώκρατες, οὗτος ὁ
ἀνήρ. ὃ γὰρ νυνδὴ ἔλεγον, ὑπάρχει
τούτῳ τῷ ἀνθρώπῳ, κἂν πάνυ εὐφυὴς
ᾖ, ἀνάνδρῳ γενέσθαι φεύγοντι τὰ
μέσα τῆς πόλεως καὶ τὰς ἀγοράς, ἐν
αἷς ἔφη ὁ ποιητὴς τοὺς ἄνδρας
ἀριπρεπεῖς γίγνεσθαι, καταδεδυκότι
δὲ τὸν λοιπὸν βίον βιῶναι μετὰ
μειρακίων ἐν γωνίᾳ τριῶν ἢ [485ε]
τεττάρων ψιθυρίζοντα, ἐλεύθερον δὲ
καὶ μέγα καὶ ἱκανὸν μηδέποτε
φθέγξασθαι.
A teu respeito, Sócrates, tenho a melhor
disposição, experimento agora o mesmo que
Zeto com relação a Anfião, na peça de Eurípides
a que há pouco me referi. Sinto-me também
inclinado a falar como ele falava para o irmão, e
dizer-te: “descuidas, Sócrates, do que devias
cuidar, pois, embora a natureza da tua alma seja
tão nobre, tu a perverte sob uma aparência
juvenil e que nas deliberações da justiça és
incapaz de falar corretamente, ou defender o
que é verossímil ou persuasivo, nem apresentar
alguma proposta de modo firme no interesse de
outrem”. Por tudo isso, meu caro Sócrates —
não te ofendas com o que eu disser, pois a
benevolência que te dedico é que me leva a falar
dessa maneira — não consideras vergonhoso
teres chegado ao estado em que te vejo e,
contigo, os que sempre prolongam desse modo
o estudo da filosofia? Agora mesmo, se alguém
te detivesse ou a algum dos teus iguais, e te
colocasse na prisão sob acusação de ter
cometido uma injustiça não cometida, tu sabes
que não saberias como lidar com isso, mas
ficarias com vertigens e de boca aberta, sem
achares o que dizer no instante de te
apresentares ao tribunal, e, por mais
insignificante e desprezível que fosse o teu
acusador, virias a perder a vida, se ele decidisse
pedir para ti a pena de morte. Ora, que tipo de
sabedoria é essa, Sócrates, a técnica que se
apodera de um indivíduo de natureza nobre e o
torna inferior, incapaz não só de defender-se e
de livrar dos mais graves perigos, ele mesmo ou
qualquer outra pessoa, ou que o expõe a ser
despojado de seus bens pelos adversários, ou
forçado a viver desonrado na cidade? Um
indivíduo nessas condições - se me permites
uma expressão um tanto grosseira - seria lícito
esbofeteá-lo impunemente. Por isso, acredite-
me, caro amigo; pára com esses exames-
refutações e exercita a bela arte das coisas,
exercita o que pode te dar a reputação de
pensador, deixando para os outros essas
sofisticações, quer mereçam ser chamadas
tolices, quer coisas sem sentido, e que farão tu
habitar uma casa vazia.
ἐγὼ δέ, ὦ Σώκρατες, πρὸς σὲ
ἐπιεικῶς ἔχω φιλικῶς: κινδυνεύω οὖν
πεπονθέναι νῦν ὅπερ ὁ Ζῆθος πρὸς
τὸν Ἀμφίονα ὁ Εὐριπίδου, οὗπερ
ἐμνήσθην. καὶ γὰρ ἐμοὶ τοιαῦτ᾽ ἄττα
ἐπέρχεται πρὸς σὲ λέγειν, οἷάπερ
ἐκεῖνος πρὸς τὸν ἀδελφόν, ὅτι
“ἀμελεῖς, ὦ Σώκρατες, ὧν δεῖ σε
ἐπιμελεῖσθαι, καὶ φύσιν ψυχῆς ὧδε
γενναίαν μειρακιώδει [486α] τινὶ
διατρέπεις μορφώματι, καὶ οὔτ᾽ ἂν
δίκης βουλαῖσι προσθεῖ᾽ ἂν ὀρθῶς
λόγον, οὔτ᾽ εἰκὸς ἂν καὶ πιθανὸν ἂν
λάβοις, οὔθ᾽ ὑπὲρ ἄλλου νεανικὸν
βούλευμα βουλεύσαιο.” καίτοι, ὦ φίλε
Σώκρατες—καί μοι μηδὲν ἀχθεσθῇς:
εὐνοίᾳ γὰρ ἐρῶ τῇ σῇ—οὐκ αἰσχρὸν
δοκεῖ σοι εἶναι οὕτως ἔχειν ὡς ἐγὼ σὲ
οἶμαι ἔχειν καὶ τοὺς ἄλλους τοὺς
πόρρω ἀεὶ φιλοσοφίας ἐλαύνοντας;
νῦν γὰρ εἴ τις σοῦ λαβόμενος ἢ ἄλλου
ὁτουοῦν τῶν τοιούτων εἰς τὸ
δεσμωτήριον ἀπάγοι, φάσκων ἀδικεῖν
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μηδὲν ἀδικοῦντα, οἶσθ᾽ ὅτι οὐκ ἂν
ἔχοις ὅτι[486β] χρήσαιο σαυτῷ, ἀλλ᾽
ἰλιγγιῴης ἂν καὶ χασμῷο οὐκ ἔχων ὅτι
εἴποις, καὶ εἰς τὸ δικαστήριον
ἀναβάς, κατηγόρου τυχὼν πάνυ
φαύλου καὶ μοχθηροῦ, ἀποθάνοις ἄν,
εἰ βούλοιτο θανάτου σοι τιμᾶσθαι.
καίτοι πῶς σοφὸν τοῦτό ἐστιν, ὦ
Σώκρατες, “ἥτις εὐφυῆ λαβοῦσα
τέχνη φῶτα ἔθηκε χείρονα”, μήτε
αὐτὸν αὑτῷ δυνάμενον βοηθεῖν μηδ᾽
ἐκσῶσαι ἐκ τῶν μεγίστων κινδύνων
μήτε ἑαυτὸν μήτε ἄλλον μηδένα, ὑπὸ
δὲ [486ξ] τῶν ἐχθρῶν περισυλᾶσθαι
πᾶσαν τὴν οὐσίαν, ἀτεχνῶς δὲ ἄτιμον
ζῆν ἐν τῇ πόλει; τὸν δὲ τοιοῦτον, εἴ τι
καὶ ἀγροικότερον εἰρῆσθαι, ἔξεστιν
ἐπὶ κόρρης τύπτοντα μὴ διδόναι
δίκην. ἀλλ᾽ ὠγαθέ, ἐμοὶ πείθου,
“παῦσαι δὲ ἐλέγχων, πραγμάτων δ᾽
εὐμουσίαν ἄσκει”, καὶ ἄσκει ὁπόθεν
δόξεις φρονεῖν, “ἄλλοις τὰ κομψὰ
ταῦτα ἀφείς”, εἴτε ληρήματα χρὴ
φάναι εἶναι εἴτε φλυαρίας, “ἐξ ὧν
κενοῖσιν ἐγκατοικήσεις δόμοις”:
Invejes, mas não esses homens que refutam
essas ninharias, mas apenas os que sabem
adquirir vida, fama e muitas outras coisas
boas.
Sócrates — Se eu tivesse uma alma de
ouro, Cálicles, não achas que eu ficaria
satisfeito em encontrar uma dessas pedras
de toque que servem para testar o ouro, a
melhor de todas, com a qual eu aplicaria à
minha alma, para ver se ela recebeu a
terapia certa e suficiente, e se eu poderia
dispensar qualquer outro teste.
Cálicles — Por que me fazes semelhante
pergunta, Sócrates?
Sócrates - Vou dizer-te. É que estou
convencido de que, encontrando-te,
encontrei em tua pessoa um presente de
Hermes.
Cálicles - Como assim?
Sócrates – Estou certo que se concordares
comigo sobre as opiniões de minha alma,
elas serão, a partir disso, verdadeiras. De
fato, considero que, para testar
suficientemente uma alma e saber se vive
bem ou mal, é preciso ter três qualidades
que em ti vejo reunidas: competência,
benevolência e franqueza. Já encontrei
muitas pessoas que não se acham em
condições de pôr-me à prova, por não
serem tão sábias como tu; outros são sábios,
porém não querem a dizer-me a verdade,
por não terem por mim o interesse que
revelas. Os dois estrangeiros aqui presentes,
Górgias e Polo, são, realmente, sábios e
amigos meus, porém carecem de franqueza,
além de se mostrarem mais envergonhados
do que necessário. E, como poderia ser de
outra maneira, se por tamanha vergonha
ousam dizer, por ficarem envergonhados,
diante de muitas pessoas, o contrário do que
haviam dito, e isso em assuntos da maior
importância? Em ti, porém, reúnem-se
todas essas qualidades que faltam nos
demais. Tu és suficientemente bem
formado, o que ser atestado por muitos
atenienses, além de teres benevolência
comigo.
ζηλῶν οὐκ ἐλέγχοντας ἄνδρας τὰ
μικρὰ[486δ] ταῦτα, ἀλλ᾽ οἷς ἔστιν καὶ
βίος καὶ δόξα καὶ ἄλλα πολλὰ ἀγαθά.
Σωκράτης εἰ χρυσῆν ἔχων ἐτύγχανον τὴν
ψυχήν, ὦ Καλλίκλεις, οὐκ ἂν οἴει με
ἅσμενον εὑρεῖν τούτων τινὰ τῶν λίθων ᾗ
βασανίζουσιν τὸν χρυσόν, τὴν ἀρίστην,
πρὸς ἥντινα ἔμελλον προσαγαγὼν αὐτήν,
εἴ μοι ὁμολογήσειεν ἐκείνη καλῶς
τεθεραπεῦσθαι τὴν ψυχήν, εὖεἴσεσθαι ὅτι
ἱκανῶς ἔχω καὶ οὐδέν με δεῖ ἄλλης
βασάνου;
[486ε]Καλλίκλης πρὸς τί δὴ τοῦτο
ἐρωτᾷς, ὦ Σώκρατες;
Σωκράτης ἐγώ σοι ἐρῶ: νῦν οἶμαι ἐγὼ
σοὶ ἐντετυχηκὼς τοιούτῳ ἑρμαίῳ
ἐντετυχηκέναι.
Καλλίκλης τί δή;
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Σωκράτης εὖ οἶδ᾽ ὅτι, ἅν μοι σὺ
ὁμολογήσῃς περὶ ὧν ἡ ἐμὴ ψυχὴ δοξάζει,
ταῦτ᾽ ἤδη ἐστὶν αὐτὰ τἀληθῆ. ἐννοῶ
γὰρ [487α] ὅτι τὸν μέλλοντα
βασανιεῖν ἱκανῶς ψυχῆς πέρι
ὀρθῶς τε ζώσης καὶ μὴ τρία ἄρα
δεῖ ἔχειν ἃ σὺ πάντα ἔχεις,
ἐπιστήμην τε καὶ εὔνοιαν καὶ
παρρησίαν. ἐγὼ γὰρ πολλοῖς
ἐντυγχάνω οἳ ἐμὲ οὐχ οἷοί τέ εἰσιν
βασανίζειν διὰ τὸ μὴ σοφοὶ εἶναι
ὥσπερ σύ: ἕτεροι δὲ σοφοὶ μέν
εἰσιν, οὐκ ἐθέλουσιν δέ μοι λέγειν
τὴν ἀλήθειαν διὰ τὸ μὴ κήδεσθαί
μου ὥσπερ σύ: τὼ δὲ ξένω τώδε,
Γοργίας τε καὶ πῶλος, σοφὼ μὲν
καὶ[487β] φίλω ἐστὸν ἐμώ,
ἐνδεεστέρω δὲ παρρησίας καὶ
αἰσχυντηροτέρω μᾶλλον τοῦ
δέοντος: πῶς γὰρ οὔ; ὥ γε εἰς
τοσοῦτον αἰσχύνης ἐληλύθατον,
ὥστε διὰ τὸ αἰσχύνεσθαι τολμᾷ
ἑκάτερος αὐτῶν αὐτὸς αὑτῷ
ἐναντία λέγειν ἐναντίον πολλῶν
ἀνθρώπων, καὶ ταῦτα περὶ τῶν
μεγίστων. σὺ δὲ ταῦτα πάντα
ἔχεις ἃ οἱ ἄλλοι οὐκ ἔχουσιν:
πεπαίδευσαί τε γὰρ ἱκανῶς, ὡς
πολλοὶ ἂν φήσαιεν Ἀθηναίων, καὶ
ἐμοὶ εἶ εὔνους.
Como posso provar isso? Vou dizer. Sei
perfeitamente, Cálicles, que fez parte de um
grupo de quatro: tu, Tisandro de Afidna,
Andrão filho de Androtião, e Nausícides da
Colargeia vos associastes para estudar a
sabedoria. Certa vez, cheguei a ouvir
quando determináveis até que ponto seria
aconselhável exercitar a sabedoria, tendo
certeza de que prevaleceu a opinião de que
não é conveniente prolongar demais
semelhante estudo. Chegastes, até, a tomar
o compromisso uns com os outros de não
vos tomardes sábios além do limite, para
não virdes a vos arruinar sem se dar conta.
Por isso, quando vejo que me aconselhas
como fizeste com teus companheiros mais
próximos, encontro a prova suficiente de
que és, de fato, bem benevolente a meu
respeito. Que sabes ser franco sem se
envergonhar, tu próprio o declaraste, o que,
aliás, é confirmado pelo teu discurso de há
pouco. De tudo isso, o que se infere até o
presente momento é que a proposição em
que estiveres de acordo comigo deverá ser
considerada como suficientemente
comprovada por ambos, sem que nenhum
de nós necessite aduzir novos argumentos
como reforço. Pois é evidente que não
poderias concordar comigo nem por
deficiência de sabedoria nem por excesso
de vergonha, muito menos com o propósito
de enganar-me, visto seres meu amigo,
conforme tu mesmo o declaraste. Assim, é
fora de dúvida que tudo aquilo em que
estivermos de acordo representa a. mais alta
expressão da verdade. Não há mais bela
pesquisa, Cálicles, do que isso mesmo que
mereceu censura de tua parte, a saber, que
tipo de homem é preciso ser e a que tipo de
atividade é preciso se dedicar, e até que
ponto será preciso fazê-lo, ou seja, na
velhice ou na mocidade. No que me diz
respeito, se eu não ajo corretamente na
minha vida, podes estar certo de que não o
cometo o erro voluntariamente, porém por
minha ignorância. Por isso, uma vez que
começaste, não pares de admoestar-me;
demonstres suficientemente que tipo de
atividade tenho de aplicar-me e qual a
maneira de consegui-lo, e, no caso de vires
que me declaro agora de acordo contigo
sobre algum ponto, mas no futuro não ajo
conforme prometi, podes qualificar-me de tolo e
nunca mais me aconselhes, uma vez que me
revelei indigno de teus esforços.
[487ξ] τίνι τεκμηρίῳ χρῶμαι; ἐγώ σοι
ἐρῶ. οἶδα ὑμᾶς ἐγώ, ὦ Καλλίκλεις,
τέτταρας ὄντας κοινωνοὺς γεγονότας
σοφίας, σέ τε καὶ Τείσανδρον τὸν
Ἀφιδναῖον καὶ Ἄνδρωνα τὸν
Ἀνδροτίωνος καὶ Ναυσικύδην τὸν
Χολαργέα: καί ποτε ὑμῶν ἐγὼ
ἐπήκουσα βουλευομένων μέχρι ὅποι
τὴν σοφίαν ἀσκητέον εἴη, καὶ οἶδα ὅτι
ἐνίκα ἐν ὑμῖν τοιάδε τις δόξα, μὴ
προθυμεῖσθαι εἰς τὴν ἀκρίβειαν
φιλοσοφεῖν, ἀλλὰ εὐλαβεῖσθαι [487δ]
 8

παρεκελεύεσθε ἀλλήλοις ὅπως μὴ

πέρα τοῦ δέοντος σοφώτεροι
γενόμενοι λήσετε διαφθαρέντες.
ἐπειδὴ οὖν σου ἀκούω ταὐτὰ ἐμοὶ
συμβουλεύοντος ἅπερ τοῖς σεαυτοῦ
ἑταιροτάτοις, ἱκανόν μοι τεκμήριόν
ἐστιν ὅτι ὡς ἀληθῶς μοι εὔνους εἶ.
καὶ μὴν ὅτι γε οἷος παρρησιάζεσθαι
καὶ μὴ αἰσχύνεσθαι, αὐτός τε φῂς καὶ
ὁ λόγος ὃν ὀλίγον πρότερον ἔλεγες
ὁμολογεῖ σοι. ἔχει δὴ οὑτωσὶ δῆλον
ὅτι τούτων πέρι νυνί: [487ε] ἐάν τι σὺ
ἐν τοῖς λόγοις ὁμολογήσῃς μοι,
βεβασανισμένον τοῦτ᾽ ἤδη ἔσται
ἱκανῶς ὑπ᾽ ἐμοῦ τε καὶ σοῦ, καὶ
οὐκέτι αὐτὸ δεήσει ἐπ᾽ ἄλλην
βάσανον ἀναφέρειν. οὐ γὰρ ἄν ποτε
αὐτὸ συνεχώρησας σὺ οὔτε σοφίας
ἐνδείᾳ οὔτ᾽ αἰσχύνης περιουσίᾳ, οὐδ᾽
αὖ ἀπατῶν ἐμὲ συγχωρήσαις ἄν:
φίλος γάρ μοι εἶ, ὡς καὶ αὐτὸς φῄς.
τῷ ὄντι οὖν ἡ ἐμὴ καὶ ἡ σὴ ὁμολογία
τέλος ἤδη ἕξει τῆς ἀληθείας. πάντων
δὲ καλλίστη ἐστὶν ἡ σκέψις, ὦ
Καλλίκλεις, περὶ τούτων ὧν σὺ δή μοι
ἐπετίμησας, ποῖόν τινα χρὴ εἶναι τὸν
ἄνδρα καὶ τί [488α] ἐπιτηδεύειν καὶ
μέχρι τοῦ, καὶ πρεσβύτερον καὶ
νεώτερον ὄντα. ἐγὼ γὰρ εἴ τι μὴ
ὀρθῶς πράττω κατὰ τὸν βίον τὸν
ἐμαυτοῦ, εὖ ἴσθι τοῦτο ὅτι οὐχ ἑκὼν
ἐξαμαρτάνω ἀλλ᾽ ἀμαθίᾳ τῇ ἐμῇ: σὺ
οὖν, ὥσπερ ἤρξω νουθετεῖν με, μὴ
ἀποστῇς, ἀλλ᾽ ἱκανῶς μοι ἔνδειξαι τί
ἔστιν τοῦτο ὃ ἐπιτηδευτέον μοι, καὶ
τίνα τρόπον κτησαίμην ἂν αὐτό, καὶ
ἐάν με λάβῃς νῦν μέν σοι
ὁμολογήσαντα, ἐν δὲ τῷ ὑστέρῳ
χρόνῳ μὴ ταὐτὰ πράττοντα ἅπερ
ὡμολόγησα, πάνυ με ἡγοῦ βλᾶκα εἶναι
καὶ [488β] μηκέτι ποτέ με νουθετήσῃς
ὕστερον, ὡς μηδενὸς ἄξιον ὄντα.