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Intelectuais em tempos de incerteza

Adauto Novaes

Aqueles que deveriam não apenas refletir sobre a crise, mas principalmente dar
publicidade às grandes questões do nosso tempo, estão em inquietante silêncio. Ou são
silenciados pela forma de organização política e pelos valores dominantes na sociedade.
O que aconteceu com esse personagem que tanto marcou a história da cultura e da
política no Ocidente e que em momentos históricos quebrou barreiras que reduziam o
povo ao silêncio? Que fique claro: não se trata, neste ciclo de conferências, de fazer o
julgamento do intelectual, mas sim de buscar as razões da crise. Algumas delas são
visíveis: crise dos ideais universais, que sempre foram a razão de ser do intelectual
(quem ousa contestar que vivemos hoje problemas com os ideais de Liberdade, Justiça,
Razão e mesmo com os Direitos estabelecidos pelo Iluminismo e pelo
republicanismo?); domínio quase absoluto do relativismo (na cultura, na política, nas
artes etc., tudo se equivale: nunca a idéia de Verdade foi tão negada); pragmatismo;
ceticismo na política; submissão do trabalho intelectual aos interesses da tecnociência e
à demanda política . Talvez a própria figura do ‘velho’ intelectual esteja hoje superada
(é o que se pretende verificar no ciclo) se seguirmos o que afirmou Jacques Derrida:
para ele, a alta tecnologia ou a tele-tecnologia faz de cada trabalhador, “cidadão ou não”
um “intelectual”. Daí, a necessidade de escrever em outros tons, de mudar os códigos,
os ritmos e a música.
O esquecimento da política e A política do espírito são os dois outros ciclos de
conferências da trilogia Cultura e pensamento em tempos de incerteza, agendados para
o primeiro e o segundo semestres de 2006, respectivamente.

Adauto Novaes foi jornalista e professor. Há vinte anos organiza ciclos de


conferências e, a partir deles, livros. Em 2000, fundou a Artepensamento, para dar
continuidade a seus projetos.
Intelectual engajado, figura em extinção?
Marilena de Souza Chaui

Desde o ‘caso Dreyfus’, a participação dos intelectuais na agitação


política e cultural tinha se tornado parte da nossa vida social. A polêmica entre
Sartre e Merleau-Ponty evidenciou a questão do engajamento político, do qual
a década de 1960 deu mostras de vigor. Hoje, ao contrário, os intelectuais
retraíram-se da vida pública. Por quê? É o que tentaremos responder.

Marilena Chaui é professora de filosofia da USP e autora de, entre


outros livros, A nervura do real: Imanência e liberdade em Espinosa.

No silêncio do pensamento único: intelectuais, marxismo e política no


Brasil
Francisco de Oliveira

No Brasil, os intelectuais sempre se mostraram importantes; primeiro,


através da literatura. No século 20, quando responsáveis pela formulação do
Estado brasileiro, seguiram o modelo dos autoritários clássicos. O marxismo,
tardio aqui, sempre foi lido de maneira simplificada. Mesmo assim, contribuiu
para a crítica à ditadura. Hoje, predomina o pensamento único.

Francisco de Oliveira é Doutor pela USP e autor de, entre outros livros,
O elo perdido.

Verdade e contra-verdade
Marcelo Coelho

Julien Benda em seu livro A traição dos clérigos (1927) condena a


submissão dos intelectuais às paixões políticas. O tom, as preocupações e as
referências do livro podem parecer hoje fora de moda. Mas será que, depois de
tantos disparates protagonizados por intelectuais, num século em que as
fronteiras da verdade raramente estiveram definidas, não deveríamos retomar
as idéias de Benda?

Marcelo Coelho é Mestre em sociologia pela USP, jornalista e autor


de, entre outros livros, Trivial variado.

Novo intelectual, nova classe?


Fernando Haddad

Os intelectuais detêm um fator-chave da produção, o conhecimento, e


por isso constituem uma classe social. No século passado, muitos foram os
autores que discutiram o lugar dessa classe: Mannheim, Gramsci, Wallerstein,
para citar alguns. Frente à nova postura política e econômica do intelectual
hoje, o tema volta a despertar interesse.

Fernando Haddad é Mestre em Economia e Doutor em Filosofia pela


USP. Ocupa o cargo de Secretário-Executivo do Ministério da Educação.

O imperativo ético de Sartre


Franklin Leopoldo e Silva

A partir do existencialismo, podemos dizer que o primado da existência


não é outra coisa senão a afirmação da liberdade e que a historicidade que
caracteriza essa existência enraíza o homem nas realidades concretamente
determinadas. Como o intelectual é quem ‘pode’ assumir de modo explícito,
consciente e crítico essa ‘condição humana’, ele ‘deve’ explorá-la a fundo:
assim fez Sartre.

Franklin Leopoldo e Silva é professor de Filosofia da USP. Publicou,


entre outros livros, Descartes, metafísica da modernidade.
A sedução relativa
Antonio Cicero

O relativismo – declarado ou não – parece ter-se tornado, nas mais


diversas disciplinas e sob os mais diversos mantos, a característica marcante
da contemporaneidade intelectual laica. Tanto entre professores, quanto entre
estudantes, parece ter-se tornado incontestável a proposição de que ‘tudo é
relativo’.

Antonio Cicero é poeta, ensaísta e letrista. Publicou o livro de poemas


Guardar e, com Waly Salomão, O relativismo enquanto visão do mundo.

A crise dos universais


Sérgio Paulo Rouanet

O caso Dreyfus fez mais do que originar o conceito de intelectual. A


partir dele, foram estabelecidos o universalismo, originado no Iluminismo e
bem representado por Zola, e o anti-universalismo de Joseph de Maistre, para
quem não existe o homem em geral. Acredito que só a perspectiva universalista
é compatível com o ideal de construção de uma civilização humana.

Sérgio Paulo Rouanet é Doutor em Ciência Política pela USP e autor de,
entre outros livros, A razão cativa.

Dilemas trágicos do intelectual


Francis Wolff

Ao pensar o intelectual na função do crítico que produz idéias com fatos, sempre
na busca de dar voz aos que não a possuem, devemos remontar ao séc. 5 a. C., quando
se deu o primeiro grande conflito ‘intelectual’: de um lado, os sofistas — que
submetiam as crenças e os mitos a uma feroz crítica racionalista —, a representarem,
como fundadores da democracia, o símbolo da defesa do único poder justo; de outro
lado, Sócrates — que denunciava as pretensões políticas dos sofistas —, a encarnar o
símbolo do Justo, sozinho contra todos os poderes.

Francis Wolff é professor de filosofia na Universidade de Paris X e na


Escola Normal Superior e autor de, entre outros livros, Aristóteles e a política.

Marx, o jornalista e o espaço público


Géraldine Muhlmann

Longe de ser a fonte de pura racionalização dos julgamentos, como pensava


Kant, a troca pública de opiniões aparece, na crítica marxista, mais como uma parte da
superestrutura: é, pois, determinada pelas condições materiais da sociedade, sendo
conduzida a favor das classes dominantes. A atividade jornalística desenvolvida por
Marx ao longo de toda a vida, muito ajudou no aprofundamento da discussão sobre o
espaço das opiniões e do debate públicos.

Géraldine Muhlmann é jornalista e professora de filosofia. Participa do


programa de televisão Le bateau livre, transmitido aos domingos pelo canal
France 5.

O peso das palavras


Michel Déguy

O poder das palavras sobre as coisas: retórica, arte de persuadir. Assim, poder é
sempre ‘poder das palavras’, e a eloqüência é admirada e analisada, ao longo do tempo,
como um dos ingredientes da tomada e da manutenção do poder: daí o papel do
‘intelectual’, capaz de mobilizar multidões. Hoje o lugar da política metamorfoseou-se:
é na ‘telinha’ da tv que os ‘intelectuais midiáticos’ atuam. A propaganda, mudando os
meios em fins, tornou real a síntese do poder absoluto e do delírio: Hitler ‘persuadindo’
os alemães a se transformarem em ‘servidores de seu combate’. A opinião pública (as
convicções vazias) se torna incapaz do paradoxo, ou seja, da democracia?

Michel Déguy é filósofo, poeta e ensaísta. Professor de literatura


francesa na Universidade de Paris 8, é redator-chefe da revista Poésie.

O pastor da noite
Jean-François Sirinelli

Muitos foram os juízos críticos favoráveis e contrários à atuação política de


Jean-Paul Sartre, que durante muitos decênios encarnou a figura do intelectual francês
por excelência. Os elogios seguem, por exemplo, a fórmula de Jacques Audiberti, para
quem Sartre era “um vigilante da noite em todos os fronts da inteligência”. Ao
contrário, os detratores irão dizer que é perigoso quando o vigilante sonha acordado,
sem levar em conta a realidade das coisas; pior ainda, quando se torna sonâmbulo.

Jean François Sirinelli, professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris,


publicou vários livros sobre os intelectuais. Entre eles: Sartre e Aron, deux intellectuells
dans le siècle.

Intolerância religiosa e a morte de um intelectual


Newton Bignotto

Duas vertentes serão exploradas: as principais idéias filosóficas de Giordano


Bruno e uma análise dos documentos que restam do processo a que o filósofo foi
submetido pela Inquisição. Preso em 1592, após ter ensinado em Veneza ‘arte da
memória’ e ‘magia’, Bruno enfrentará a intolerância religiosa e a tortura com espantosa
serenidade e clareza de espírito, até sua execução em 1600.

Newton Bignotto, Doutor em Filosofia pela École des Hautes Études en


Sciences Sociales, é professor de Filosofia da UFMG e autor de Maquiavel
republicano.
O cientista e o intelectual
Renato Janine Ribeiro

Diferente do que acontece com o cientista, a matéria de que trata o intelectual - o


mundo dos homens - pressupõe reciprocidade. A partir dos campos das ciências
humanas e sociais, ele deve mediar o conhecimento, para que esse possa ser apropriado
socialmente. Contudo, o intelectual não é um mero difusor: é sua tarefa também discutir
a apropriação do conhecimento, articular idéias e ideais. Nisso, hoje, a televisão tem
papel fundamental.

Renato Janine Ribeiro é professor de filosofia política e estética na USP.


Publicou, entre outros livros, Ao leitor sem medo: Hobbes escrevendo contra o seu
tempo.

O silêncio dos céticos


José Raimundo Maria Neto

Serão examinados a natureza e o significado do silêncio propostos pelos céticos


antigos, aqueles que primeiro questionaram a validade da filosofia no momento em que
se julgou poder a razão estabelecer a Verdade universal. O silêncio dos intelectuais está
associado, na modernidade, ao papel do filósofo que segue o modelo iluminista de
buscar a emancipação da humanidade pelo triunfo da razão em todas as esferas da vida
social.

José Raimundo Maia Neto é professor de filosofia da UFMG, Mestre em


Filosofia pela PUC-Rio e Doutor em Filosofia pela Washington University.

Ave, palavra!
Haquira Osakabe
A proposta é pensar a crise da palavra frente ao espantoso aparato midiático da
atualidade. A palavra que hoje circula e que os homens assimilam como sua, tem na
verdade por função dominante a persuasão e, por escopo, não os homens, mas a massa
deles, em inexorável perpetuação dos mecanismos do poder. Cabe, assim, indagar se a
palavra reconquistará algum dia sua plena vocação para a instabilidade e a invenção.

Haquira Osakabe, professor de literatura portuguesa, publicou os livros


Argumentação e discurso político e Fernando Pessoa — Resposta à
decadência.

Sem palavras
José Miguel Wisnik

O diagnóstico da exaustão do campo de ação, social e discursivo, em que


operou o intelectual, está feito e se fazendo. Ele aponta para uma desativação do
‘lugar de palavra’. É necessário, pois, um rastreamento da questão, tal foi
enfrentada por algumas linhas atuantes da cultura brasileira, e dos impasses com
que se defrontou a literatura moderna, especialmente Drummond e Clarice
Lispector.

José Miguel Wisnik é professor de literatura na USP e autor de Sem


receita – ensaios e canções.

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