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Adauto Novaes
Aqueles que deveriam não apenas refletir sobre a crise, mas principalmente dar
publicidade às grandes questões do nosso tempo, estão em inquietante silêncio. Ou são
silenciados pela forma de organização política e pelos valores dominantes na sociedade.
O que aconteceu com esse personagem que tanto marcou a história da cultura e da
política no Ocidente e que em momentos históricos quebrou barreiras que reduziam o
povo ao silêncio? Que fique claro: não se trata, neste ciclo de conferências, de fazer o
julgamento do intelectual, mas sim de buscar as razões da crise. Algumas delas são
visíveis: crise dos ideais universais, que sempre foram a razão de ser do intelectual
(quem ousa contestar que vivemos hoje problemas com os ideais de Liberdade, Justiça,
Razão e mesmo com os Direitos estabelecidos pelo Iluminismo e pelo
republicanismo?); domínio quase absoluto do relativismo (na cultura, na política, nas
artes etc., tudo se equivale: nunca a idéia de Verdade foi tão negada); pragmatismo;
ceticismo na política; submissão do trabalho intelectual aos interesses da tecnociência e
à demanda política . Talvez a própria figura do ‘velho’ intelectual esteja hoje superada
(é o que se pretende verificar no ciclo) se seguirmos o que afirmou Jacques Derrida:
para ele, a alta tecnologia ou a tele-tecnologia faz de cada trabalhador, “cidadão ou não”
um “intelectual”. Daí, a necessidade de escrever em outros tons, de mudar os códigos,
os ritmos e a música.
O esquecimento da política e A política do espírito são os dois outros ciclos de
conferências da trilogia Cultura e pensamento em tempos de incerteza, agendados para
o primeiro e o segundo semestres de 2006, respectivamente.
Francisco de Oliveira é Doutor pela USP e autor de, entre outros livros,
O elo perdido.
Verdade e contra-verdade
Marcelo Coelho
Sérgio Paulo Rouanet é Doutor em Ciência Política pela USP e autor de,
entre outros livros, A razão cativa.
Ao pensar o intelectual na função do crítico que produz idéias com fatos, sempre
na busca de dar voz aos que não a possuem, devemos remontar ao séc. 5 a. C., quando
se deu o primeiro grande conflito ‘intelectual’: de um lado, os sofistas — que
submetiam as crenças e os mitos a uma feroz crítica racionalista —, a representarem,
como fundadores da democracia, o símbolo da defesa do único poder justo; de outro
lado, Sócrates — que denunciava as pretensões políticas dos sofistas —, a encarnar o
símbolo do Justo, sozinho contra todos os poderes.
O poder das palavras sobre as coisas: retórica, arte de persuadir. Assim, poder é
sempre ‘poder das palavras’, e a eloqüência é admirada e analisada, ao longo do tempo,
como um dos ingredientes da tomada e da manutenção do poder: daí o papel do
‘intelectual’, capaz de mobilizar multidões. Hoje o lugar da política metamorfoseou-se:
é na ‘telinha’ da tv que os ‘intelectuais midiáticos’ atuam. A propaganda, mudando os
meios em fins, tornou real a síntese do poder absoluto e do delírio: Hitler ‘persuadindo’
os alemães a se transformarem em ‘servidores de seu combate’. A opinião pública (as
convicções vazias) se torna incapaz do paradoxo, ou seja, da democracia?
O pastor da noite
Jean-François Sirinelli
Ave, palavra!
Haquira Osakabe
A proposta é pensar a crise da palavra frente ao espantoso aparato midiático da
atualidade. A palavra que hoje circula e que os homens assimilam como sua, tem na
verdade por função dominante a persuasão e, por escopo, não os homens, mas a massa
deles, em inexorável perpetuação dos mecanismos do poder. Cabe, assim, indagar se a
palavra reconquistará algum dia sua plena vocação para a instabilidade e a invenção.
Sem palavras
José Miguel Wisnik