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Curso Nestlé
de Atualização em Pediatria
Foz do Iguaçu
Paraná
Apoio Científico
Hospital das Clínicas
Universidade Federal do Paraná
Depto. de Pediatria
Pontifícia Universidade Católica
Depto. de Medicina
Disciplina de Pediatria
Faculdade Evangélica de
Medicina de Curitiba
Disciplina de Pediatria
Hospital Universitário Regional
do Norte do Paraná
Disciplina de Pediatria
Fundação Universidade Estadual
de Maringá
Depto. de Medicina
56º CURSO NESTLÉ DE ATUALIZAÇÃO EM PEDIATRIA 1
2 56º CURSO NESTLÉ DE ATUALIZAÇÃO EM PEDIATRIA
A presentamos, com grande satisfação, um resumo das aulas do 56o Curso
Nestlé de Atualização em Pediatria, realizado na cidade de Foz do Iguaçu – PR,
reafirmando seu compromisso fundamental que é, justamente, o de levar o
conhecimento dos especialistas a um grande número de pediatras de todo o país.
É patente que em nossos dias há uma demanda crescente por informação,
Editorial atualização e reciclagem do conhecimento. Novas técnicas e procedimentos surgem
a cada dia e os profissionais realmente preocupados em oferecer o melhor para
as crianças brasileiras sabem que, para exercer sua missão com plenitude, devem
estar em sintonia com essa nova realidade.
Também está claro a todos nós as dificuldades que enfrentamos para proporcionar
a nós mesmos a reciclagem que precisamos. Especialmente se considerarmos os
profissionais que desenvolvem suas atividades em cidades distantes dos grandes
centros. Se essa premissa acima é válida devido à intensidade das transformações
que testemunhamos hoje, o que dizer das dificuldades enfrentadas pelos médicos
pediatras em meados do século XX?
Nesse sentido, a parceria sabiamente iniciada no começo do século entre a
Sociedade Brasileira de Pediatria, suas Afiliadas e a Nestlé, e que há 43 anos
deu início ao Curso Nestlé de Atualização em Pediatria, tem gerado condições
favoráveis para que a oportunidade de reciclagem e atualização ocorra. A parceria
não deve ser brindada apenas pelas oportunidades que criou, mas principalmente
por seu ineditismo, arrojo e visão demonstrada por seus idealizadores.
As Entidades parceiras vêm dando à sociedade uma demonstração inequívoca
de que, baseada em princípios éticos sólidos, respeito mútuo e objetivos comuns,
podem construir juntas grandes benefícios para a coletividade.
O Curso Nestlé de Atualização em Pediatria volta ao Paraná após 11 anos,
e conta com o apoio da Sociedade Brasileira de Pediatria, através de seu presidente
Dr. Lincoln Marcelo Silveira Freire e de suas Afiliadas aqui representada pela
Sociedade Paranaense de Pediatria cujo presidente o Dr. João Gilberto Sprotte
Mira com seu entusiasmo e dedicação incontestes envidou todos os esforços para
a realização deste encontro.
A programação científica para este Curso foi cuidadosamente elaborada pela
Sociedade Brasileira de Pediatria e pela Sociedade Paranaense de Pediatria e
contou ainda com o apoio e a colaboração das Universidades Paranaenses.
O conteúdo programático transcrito nesta publicação é voltado para as
necessidades dos nossos dias e é resultado da contribuição inestimável dos
professores convidados, que se dispuseram a investir seu tempo para compartir
com os pediatras a preocupação de trazer benefícios para atualização pediátrica
no Brasil.
Desejamos aos participantes deste Curso um ótimo aproveitamento e que esta
publicação seja de grande valor para consulta e estudos.
Ricardo Gonçalves
Diretor Presidente
da Nestlé Brasil Ltda.
RESUMOS ................................................................................................................................................ 21
SEGURANÇA INFANTIL
Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes e Violência
na Infância e Adolescência ......................................................................................... 23
Conduta nos Acidentes por Animais Peçonhentos ........................................................... 25
Enganos e Mitos no Atendimento Clínico de Vítimas de Acidentes e Violências ................. 32
OTORRINOLARINGOLOGIA PEDIÁTRICA
Deficiência Auditiva .................................................................................................... 39
Manejo do Respirador Bucal ....................................................................................... 40
Estomatites na Infância ................................................................................................ 43
Diagnóstico e Tratamento das Amigdalites Agudas ......................................................... 44
Índice
CUIDADOS PRIMÁRIOS
A Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância ............................................... 45
Situação da Saúde da Criança Brasileira ..................................................................... 49
Experiências dos Comitês Municipais de Combate à Mortalidade Infantil ......................... 55
NEFROLOGIA
Refluxo Vésico-ureteral: Atualização ............................................................................... 57
Glomerulopatias na Infância ........................................................................................ 60
Diagnóstico e Manejo das Hematúrias ......................................................................... 61
ADOLESCÊNCIA
Adolescência, Violência e Drogas ................................................................................ 67
Doenças Psicossomáticas ............................................................................................. 70
Prevenção da Gravidez na Adolescência - Uma Visão Interdisciplinar ............................... 73
TERAPIA INTENSIVA
Choque Séptico na Criança ........................................................................................ 79
Traumatismo Crânio-Encefálico ...................................................................................... 84
Insuficiência Respiratória Aguda ................................................................................... 89
ALERGIA
Asma no Lactente ....................................................................................................... 93
Prevenção das Doenças Alérgicas ................................................................................ 94
Rinite Alérgica ........................................................................................................... 95
ONCO HEMATOLOGIA
Emergências Oncológicas ........................................................................................... 97
Anemias .................................................................................................................. 101
A Criança com Púrpura ............................................................................................ 105
CARDIOLOGIA E REUMATOLOGIA
Artrites Agudas ........................................................................................................ 121
Febre Reumática ....................................................................................................... 123
Avanços no Tratamento da Insuficiência Cardíaca Congestiva ....................................... 129
DEFESA PROFISSIONAL
O Pediatra e os Convênios ....................................................................................... 133
Cooperativas e Centrais de Convênios ....................................................................... 135
“Managed Care” ..................................................................................................... 138
A SBP e a Defesa Profissional ................................................................................... 139
EMERGÊNCIAS
Asma Aguda na Infância .......................................................................................... 143
Estado de Mal Epilético ............................................................................................ 148
Trauma Pediátrico ..................................................................................................... 152
Cetoacidose Diabética .............................................................................................. 163
PRÁTICA PEDIÁTRICA
Principais Dermatoses na Infância ............................................................................... 169
Abordagem da Cefaléia em Pediatria ........................................................................ 173
Dor Abdominal Recorrente ......................................................................................... 176
Problemas de Crescimento ......................................................................................... 180
ALEITAMENTO MATERNO
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e o Aleitamento Materno ............................... 185
O Aleitamento Materno e os Medicamentos ................................................................ 189
O Aleitamento Materno e a Prematuridade ................................................................. 192
NEUROLOGIA
Convulsões no Período Neonatal ............................................................................... 197
Distúrbios Paroxísticos de Origem não Epiléptica .......................................................... 199
Distúrbios do Déficit da Atenção - Hiperatividade: (DDAH) ............................................ 202
PNEUMOLOGIA
Tuberculose .............................................................................................................. 207
Pneumonias de Evolução Prolongada .......................................................................... 210
Bronquiolite Viral Aguda (BVA) ................................................................................... 213
GASTROENTEROLOGIA
Refluxo Gastroesofágico: Diagnóstico e Tratamento ....................................................... 217
Constipação na Criança ........................................................................................... 220
Avanços no Tratamento e Prevenção da Diarréia Aguda ............................................... 223
NUTRIÇÃO
Desnutrição .............................................................................................................. 227
Obesidade na Infância ............................................................................................. 232
Suplementação com Ferro e Vitamina A ...................................................................... 233
Anemia na Prematuridade ......................................................................................... 236
INFECTOLOGIA
Calendário Vacinal ................................................................................................... 241
Tratamento da Infecção pelo HIV em Crianças ............................................................ 243
Meningites Bacterianas ............................................................................................. 245
NEONATOLOGIA
Hiperbilirrubinemia do Recém-Nascido: Manejo ........................................................... 247
Anemias no Período Neonatal ................................................................................... 256
Dor no Recém Nascido ............................................................................................ 257
Diagnóstico Diferencial de Distress Respiratório no Recém-Nascido ................................. 259
DRA. WÂNIA MARA DEL FÁVERO G. DA CRUZ DR. JOÃO CORIOLANO RÊGO BARROS
1ª Secretária Diretor do PRONAP
DRA. BLANCA ELENA RIOS GOMES BICA DR. HÉLCIO VILAÇA SIMÕES
1ª Tesoureira Diretor do CEXTEP
DRA. ANA MARIA SEGURO MEYGE DR. JOSÉ HUGO LINS PESSOA
3ª Tesoureira
Diretor do GECHP
Diretorias
SOCIEDADE PARANAENSE DE PEDIATRIA
(Biênio 1998 / 1999)
• Segurança nos parques (MG) - Projeto em fase de • A prevenção de acidentes no ensino nas residên-
execução. cias de pediatras (RJ) - Projeto em execução.
• Biossegurança em hospitais infantis (MG / BA) - • Projeto de estruturação da biblioteca da SBP e
Projeto em fase de execução - 1ª fase concluída. Filiadas em relação à biossegurança e Bancos de
• Prevenção de acidentes e violência em cidades de Dados, fitas de vídeo, artigos, home page - projeto
grande porte (Belo Horizonte - MG) - Projeto em fase em planejamento.
de execução. • Biossegurança em creches de Belo Horizonte (mo-
• Prevenção de acidentes e violência no transporte - delo) (MG) - projeto em execução.
Transitolândia - Parceria SBP e Polícia Militar - 5º • Projeto criança e meio ambiente prevenção - estu-
Batalhão (Belo Horizonte - MG) - Projeto já existente do de riscos: surdez, cegueira, intoxicações e
- Atividades Diárias.
pneumopatias - Projeto em planejamento.
• Maternidade Segura - Odete Valadares (Belo Ho-
• Interfaces da biossegurança e especialidades mé-
rizonte - MG) - Projeto em planejamento.
dicas: Projeto para identificação de ações preventi-
• Escola Saudável IMACO (MG / RS) - Projeto em vas a nível de Brasil - projeto em planejamento
execução. (MG / PR).
• Biossegurança do Campus da Saúde - Hospital • Campanha na mídia: TV Escola - TV Futura - Pro-
Universitário (Belo Horizonte - MG) - Projeto em jeto em planejamento (SBP MG / SP / RJ/ RS).
execução.
• Inclusão de ações de prevenção de acidentes e Bibliografia
violência entre os pré-requisitos do projeto “Prefeitura
01 - Anais do III Congresso de Toxicologia e I Congresso Bra-
e ou Cidade Amiga da Criança”. Participação de sileiro de Acidentes na Infância.
universitários - Internato rural (Belo Horizonte - MG) 02 - Histórico e Memória do Comitê de Acidentes, atual Depar-
- Projeto em planejamento. tamento Científico de Segurança da Criança e do adoles-
cente.
• Inclusão de prevenção de acidentes e violência 03 - Campanha de Prevenção de Acidentes 1998 - Relatório
como ação básica de saúde proposta SBP ao Mi- da Assessoria de Comunicação da SBP.
04 - Mensagem do Presidente aos Pediatras sobre a Campa-
nistério da Saúde - Projeto em planejamento, já com nha de Prevenção de acidentes de 1998.
a sugestão feita oficialmente pela SBP. 05 - Relatórios e Atas de Reuniões sobre a campanha.
Escherichia Coli, Providência-sp e Streptococo do 1.1.2.7. Distúrbios respiratórios que demandam ven-
grupo D. Geralmente são sensíveis aos tilação mecânica são pouco freqüentes.
aminoglicosídeos nas doses habituais. Se houver
1.1.2.8. Tranqüilizar a criança e a família quanto à
suspeita de anaeróbios, usar clindamicina e/ou
gravidade do caso.
metronidazol.
Manifestações Classificação
Leve Moderada Grave
Dor – Edema Equimose ausentes ou discretos Evidentes intensos
Anúria
Choque ausentes ausentes presentes
Hemorragia grave
Tempo de Coagulacão normal ou alterado normal ou alterado normal ou alterado
Obs: o tempo de coagulação alterado por mais de 24 horas indica uma nova dose de 2 ampolas de soro.
Fonte: Ministério da Saúde, 1998.
Manifestações Classificação
Leve Moderada Grave
Facies Miastênica
ausente ou tardia Discreta ou evidente evidente
Visão Turva
Manifestações Soroterapia
Manifestações Classificação
Leve Moderada Grave
dor e parestesisas locais dor local intensa Idem forma moderada
}
náuseas Vômitos profusos e
vômitos incoercíveis
sudorese discretos Sudorese profusa
siolorréia Sialorréia intensa
agitação Prostração, convulsão,
taquipnéia coma
taquicardia Bradicardia, insuf.
Cardíaca, edema
pulmonar e choque
Soroterapia _ 2 a 3 ampolas 4 a 6 ampolas
endovenosa endovenosa*
Fonte: M. da Saúde, 1998
* A maioria dos casos se resolve com 40 ampolas, o que observamos desde 1972
Manifestações anteriores
Sudorese profunda
Siolorréia e vômitos
freqüentes Internação em CTI 5-10 ampolas
Hipertonia muscular
Priaprismo choque e/ou
edema pulmonar agudo
6.2. Acidentes por Loxosceles 6.2.1.2.5. Tratamento cirúrgico: para correção das
6.2.1. Tratamento cicatrizes, enxertos, geralmente após 3 a 4 semanas
do acidente.
6.2.1.1. Específico: o uso de soro é controvertido,
pois após 36 horas do acidente a sua eficácia é 6.2.1.2.6. Corticosteróides: prednisona por via oral
reduzida (Quadro 7). equivalente 1 mg/kg/dia por no mínimo 5 dias.
01. A atenção deve ser concentrada em eventos traumáticos mais freqüentes, mais graves e para os quais haja
intervenções efetivas.
02. Ao importar conhecimentos embasados cientificamente, países pobres precisam desenvolver intervenções que
sejam específicas no seu contexto político-sócio-econômico.
03. Há uma forte associação entre pobreza e mortalidade por injúrias físicas. Programas de promoção da segurança
e controle de injúrias físicas e violência devem considerar a privação social.
04. O empenho do pediatra no controle de injúrias físicas deve incluir o trabalho com indivíduos e com a comuni-
dade. É papel do médico estar a par dos programas de promoção da saúde da sua comunidade, envolver-se
e encorajar seus pacientes a fazer o mesmo e agir como consultor e incentivador.
05. Estratégias preventivas passivas (automáticas) são potencialmente mais efetivas do que as ativas e devem ser
usadas de preferência.
06. Campanhas de educação para a segurança têm um limitado sucesso em aumentar o conhecimento e alguma
mudança de comportamento, mas há poucas evidências de que reduzam as injúrias físicas.
07. Orientação preventiva específica é muito mais efetiva do que a vaga; atentar para prioridades em cada faixa
etária e contexto ambiental.
08. Ao aplicar medidas de prevenção primária a práticas pessoais em saúde, o paciente é o agente principal e deve
dividir com o médico a responsabilidade pelas tomadas de decisão.
09. O conceito de controle de injúrias físicas expande o foco de ação, incluindo também o cuidado pós-trauma
(prevenção secundária).
10. Injúrias intencionais, causadas por abuso, agressão, homicídio ou suicídio, merecem tanta consideração quanto
as não intencionais, que têm sido o principal foco de atenção até o presente.
Adaptado de: Rivara FP, Aitken M. Prevention of injuries to children and adolescents. Adv Pediatr 1998;45:37-72. US
Preventive Services Task Force. Guide to clinical preventive services, 2nd ed. Baltimore: Williams & Wilkins, 1996.
Dowswell T et al. Preventing childhood unintentional injuries - What works? Injury Prevention 1996;2:140-149.
Adaptado de: Garcia PCR, Carvalho PRA, Bruno F. Trauma pediátrico. In: Piva JP, Carvalho PRA, Garcia PCR, eds.
Terapia intensiva em pediatria. 4a ed. Rio de Janeiro, RJ: MEDSI; 1997. p.306-20.
ENGANO NO 4: Em caso de asfixia, aplicar a mano- braço do socorrista. Firmando a cabeça da crian-
bra de atendimento inadequada para ça e virando-a para o lado, em um nível mais
a faixa etária ou a crianças que este- baixo que seu tórax, aplicar cinco golpes fortes e
jam tossindo, chorando ou fazendo secos entre as omoplatas, com a base da mão. Em
ruídos respiratórios. seguida, colocar a mão livre sobre as costas da
criança, firmando-lhe a cabeça, virar a criança para
Procedimentos de auxílio urgente para desobstrução a posição de supinação, enquanto se mantém a
das vias aéreas estão indicados sempre que uma cabeça segura entre as duas mãos. Virar a cabeça
criança que tenha aspirado um corpo estranho não para o lado e aplicar cinco compressões sobre o
possa emitir sons ou apresente sinais de obstrução tórax, na região inferior do esterno. Se não houver
completa (cianose e/ou ausência de movimentos respiração, abrir a mandíbula e tentar visualizar o
respiratórios). Não tentar manobras para asfixia se a corpo estranho, removendo-o. Ainda não havendo
criança estiver tossindo, chorando ou fazendo ruídos. respiração, aplicar ventilação boca-a-boca. Se o
O lactente com menos de um ano deve ser tórax não se mover, a obstrução persiste. Repetir
posicionado em pronação, apoiado sobre o ante- toda a seqüência.
Criança maior de um ano consciente (em pé ou mãos sobre o abdômen, com um movimento rápido
sentada) deve receber a manobra de Heimlich: e seco dirigido para cima. Se necessário, repetir
posicionar-se por trás da criança, braços sob suas cinco golpes na mesma direção, cada um como um
axilas, envolvendo-lhe o tronco; colocar o punho movimento distinto. Tentar ventilação boca-a-boca.
com a região tenar contra o abdômen da criança, Se o tórax não se mover, a obstrução persiste. Repetir
na linha média, um pouco acima do umbigo, bem toda a seqüência.
abaixo do processo xifóide; agarrar o punho com a
outra mão e aplicar cinco compressões rápidas ENGANO NO 5: Em trauma craniano, indicar exames
dirigidas para cima. O punho não deve tocar o radiográficos ou hospitalização
processo xifóide ou a caixa torácica. Cada desnecessários para os casos leves
compressão deve ser um movimento distinto, com a e moderados, deixando de orientar
intenção de remover o corpo estranho. Tentar os responsáveis sobre a maneira
ventilação boca-a-boca. Se o tórax não se mover, a apropriada de observar a vítima.
obstrução persiste. Repetir toda a seqüência. Se a
Mais de 90% das crianças hospitalizadas para
criança perder a consciência, usar os procedimentos
avaliação de trauma craniano sofreram um injúria
para paciente inconsciente.
menor, com escore superior a 13 na escala de coma
Criança inconsciente (deitada) deve ser colocada de Glasgow (ver referências 4 e 5). Radiografias ou
em posição de supinação, com a cabeça voltada tomografias computadorizadas são desnecessárias
para o lado. Ajoelhar-se ao lado da criança ou quando não houver perda de consciência, amnésia,
acavalar-se sobre seus quadris; abrir a via aérea, déficits neurológicos focais ou afundamento do crânio
por meio da hiperextensão do pescoço; colocar a e o escore na escala de Glasgow for superior a 14.
base da palma de uma das mãos no abdômen da Nesses casos, a criança pode ser observada em
criança, na linha média, um pouco acima do umbigo, casa, desde que o transporte de volta ao serviço de
bem abaixo do processo xifóide (a outra mão deve urgência seja factível e os responsáveis recebam
ser colocada sobre o punho); pressionar ambas as orientação por escrito.
Instruções aos pais: O que observar no seu filho que sofreu uma batida na cabeça?
Observe atentamente o comportamento do seu filho nas próximas 24 horas. Fique de olho quando ele estiver acordado.
Quando dormir, acorde-o a cada 3 horas e verifique se ele é capaz de ficar acordado por alguns minutos, pode falar,
movimentar os braços e pernas normalmente e dizer o nome das pessoas conhecidas. Sintomas de uma batida na
cabeça podem surgir depois de dias ou até meses; mesmo que isso seja raro, se você notar qualquer problema procure
um médico.
Adaptado de: Goldstein B, Powers KS. Head trauma in children. Pediatrics in Review. 1994;15:213-9.
Vítimas de trauma craniano com escore de Glasgow 1 a 2 µg/kg EV) e sedação (diazepam, 0,1 mg/kg
entre 12 e 14, perda de consciência transitória EV, ou midazolam, 0,05 mg/kg EV) devem ser usadas
(menos de 5 minutos), amnésia, atenção prejudicada, rotineiramente, com reforços nos procedimentos.
ou com afundamento do crânio devem ser submetidas
a avaliação radiológica, preferentemente por
ENGANO NO 7: Recomendar o uso de xarope de
tomografia computadorizada. Caso a tomografia seja
ipeca como primeira escolha em ca-
normal, podem ser observadas em casa.
so de ingestão de substância tóxica.
Crianças que tenham tido perda de consciência por
A administração de carvão ativado tem se firmado
mais de cinco minutos, convulsões, déficits
como a estratégia de escolha para descontaminação
neurológicos focais, qualquer anormalidade na
gástrica, com algumas exceções (metais pesados,
tomografia, ainda que com escore de Glasgow entre
ácidos e bases fortes, álcoois), em substituição à
12 e 14, devem ser hospitalizadas para observação.
ipeca e à lavagem gástrica. Pode ser usado na
Nesses casos, um escore de Glasgow inferior a 12
dose de 1g/kg/dose (até de 4/4h, em ingestão de
indica alto potencial de deterioração neurológica,
carbamazepina, fenobarbital, salicilatos, fenitoína e
sendo necessária hospitalização em unidade de
teofilina), em suspensão a 25%. Novos produtos
tratamento intensivo e avaliação neurocirúrgica.
contendo carvão ativado em suspensão com gosto
de cereja têm aumentado a aceitação por parte das
ENGANO NO 6: Aplicar pomadas (ou outras soluções crianças, o que poderá tornar seu emprego factível
caseiras, como manteiga, pastas ou em casa.
pós) sobre áreas queimadas, negli-
genciando a hidratação adequada
ENGANO NO 8: Retardar a redução de uma subluxa-
e a analgesia.
ção da cabeça do rádio (pronação
Toda a área queimada deve ser imediatamente dolorosa).
encharcada com água fria (não usar gelo); retirar A conhecida “pronação dolorosa”, típica de crianças
toda a roupa que não estiver grudada na pele (se abaixo da idade pré-escolar com história de terem
for esse o caso, cortar o máximo de tecido livre); recebido puxão vigoroso do braço para cima, causa
cobrir a área queimada com uma toalha ou lençol muito desconforto e é fácil e rapidamente redutível,
molhado; não romper bolhas. trazendo alívio imediato e usualmente dispensando
Não aplicar pomadas, manteiga, pastas ou pós imobilização. A redução pode ser obtida pela flexão
caseiros, que só pioram a evolução da queimadura do cotovelo a 90°, seguida pela pronação e
e aumentam o risco de infecção. Queimaduras de supinação completas, com o polegar do socorrista
segundo grau, depois de adequadamente limpas mantido sobre a cabeça do rádio, o que permite
em um serviço de emergência, podem ser cobertas sentir um sobressalto no momento em que o ligamento
com uma camada fina de gaze vaselinada ou anular escorrega sobre a cabeça do rádio de volta
tratadas com sulfadiazina de prata a 1%. para sua posição normal. Se estas manobras não
trazem alívio imediato da dor, deve-se obter radio-
A analgesia é importante, mesmo por via oral, usan-
grafia de todo o braço em busca de fraturas.
do-se acetaminofen (20 mg/kg/dose) associado à
codeína (1 mg/kg/dose) em intervalos de seis horas.
ENGANO NO 9: Usar gelo por tempo insuficiente em
Indica-se hospitalização de qualquer criança com
caso de entorses ou distensão de
queimadura na face, mãos, pés ou períneo;
tecidos moles.
queimadura de segundo ou terceiro grau em mais de
10% da superfície corporal, queimadura elétrica ou A maioria das entorses e distensões em crianças
por inalação, acompanhada de fraturas ou ainda se apresenta resolução rápida mediante imobilização
houver suspeita de maus tratos. Logo após os cuidados moderada. O acrônimo “RICE” ajuda a lembrar
com a via aérea e prevenção do choque, deve-se repouso, gelo (“ice”), compressão e elevação.
iniciar hidratação com solução isotônica (soro Contudo, é importante ressaltar que a aplicação de
fisiológico ou Ringer lactato) a 20 ml/kg/hora. gelo deve ser imediata e durar pelo menos vinte
Analgesia (morfina, 0,05 a 0,1 mg/kg EV, ou fentanil, minutos, sob compressão.
ENGANO NO 10: Solicitar radiografias desnecessá- ENGANO NO 12: Avaliar de modo inadequado a
rias para injúrias de tornozelo. possibilidade de reimplantação de
dentes arrancados.
Os traumatismos de tornozelo são muito freqüentes
em jovens, exigindo procedimentos mais A avulsão de um dente permanente requer imediato
conservadores e menos dispendiosos. A aplicação encaminhamento para reimplante, preferentemente
da “regra de Ottawa” (Stiell et al. JAMA dentro de trinta minutos, com manipulação cuidadosa
1994;271:827-32) é capaz de reduzir em até 16% do dente em questão. Pegar o dente pela coroa
a necessidade de radiografias de tornozelo, com (jamais tocar nas raízes) e lavá-lo abundantemente
100% de sensibilidade para fraturas significativas. com soro fisiológico, removendo materiais estranhos.
Realizar radiografia do tornozelo apenas se houver Irrigar o local da gengiva de onde foi arrancado o
dor na região maleolar acompanhada de dente, removendo coágulos, e inseri-lo de volta com
hipersensibilidade na parte posterior ou ponta de firmeza. Procurar atendimento especializado imedia-
qualquer dos maléolos ou incapacidade persistente tamente, solicitando à criança que mantenha o den-
de apoiar o peso sobre o pé envolvido. Da mesma te no lugar, mordendo um pedaço de gaze. Se
forma, somente realizar radiografia do pé se houver essas manobras não forem factíveis, manter o dente
dor na região média do pé acompanhada de imerso em soro fisiológico.
hipersensibilidade na base do quinto metatarsiano
ou no navicular ou incapacidade persistente de apoiar ENGANO NO 13: Não administrar antibiótico em
o peso sobre o pé envolvido. casos de mordida de animal que
causem injúrias de alto risco de
ENGANO NO 11: Menosprezar a anestesia tópica e infecção.
novas abordagens ansiolíticas ao
Antibiótico profilático deve ser administrado nas
tratar lacerações.
seguintes situações: vítima imunodeficiente, mordida
Lacerações pequenas (<7 cm) em áreas bem de gato, ferimento profundo de mordida de cão,
vascularizadas, como o couro cabeludo e a face, mordidas de mais de 12 horas, qualquer ferimento
podem ser reparadas com o uso de anestésicos difícil de limpar, qualquer mordida na mão, punho
tópicos. Um mistura bem estudada contém lidocaína ou pé. Em vista da associação freqüente entre
(2-4%), adrenalina (1:1000) e tetracaína (0,5-2%) Pasteurella multocida e Staphilococcus aureus, as
em gel ou solução, que pode ser instilada nas drogas de preferência têm sido cefalexina e
margens da laceração, além de aplicada sobre o amoxicilina-clavulanato.
ferimento com um “swab” de algodão por cerca de
15 minutos. Em vista do efeito vasoconstritor, é contra-
ENGANO NO 14: Não suspeitar e/ou reconhecer ca-
indicado seu uso em áreas de circulação arteriolar
sos de abuso (injúrias intencionais).
terminal, como dedos, pênis, nariz e orelhas. EMLA,
uma mistura de lidocaína e prilocaína, é outra Todo pediatra que atende uma criança vítima de
alternativa, particularmente efetiva em ferimentos de injúria física deve estar atento para a possibilidade
extremidades, mas exige aplicação entre 60 e 120 de abuso. Lembrar que nem sempre os fatores
minutos antes do procedimento. clássicos de alto risco (criança menor de 4 anos,
hiperativa ou retardada, prematura; pais muito jovens,
A ansiedade da criança frente a procedimentos pode
deprimidos ou drogados; família com problemas de
ser aplacada com novas preparações de
relacionamento ou econômicos, desemprego) são
medicamentos por via oral. Midazolam, na dose de
evidentes.
0,3 a 0,5 mg/kg, tem sido administrado diluído em
suco de laranja, com boa aceitação, obtendo-se Suspeitar de abuso sempre que houver um tipo de
efeito em cerca de vinte minutos. Já se encontra injúria física inconsistente com a história, pais
referência a um “pirulito de fentanil”, com gosto de relutantes em dar informações ou confusos sobre como
framboesa, nas concentrações de 100 a 400 µg (a ocorreu o trauma, criança muito imatura para um
dose oral recomendada é 10 a 15 µg/kg), que tem determinado tipo de injúria supostamente auto-
sido muito bem tolerado, com baixa incidência de infligida, atraso em buscar auxílio médico. É
depressão respiratória. importante conhecer sinais indicativos de trauma
intencional, tais como hemorragias retinianas, 02 - Blank D. Controle de acidentes e injúrias físicas na infân-
cia e na adolescência. In: Costa MCO, Souza RP, eds.
equimoses antigas ou com graus variados de Avaliação e cuidados primários da criança e do adoles-
evolução, queimaduras com bordos definidos e cente. Porto Alegre: ArtMed; 1998. p.235-42.
distribuição uniforme, marcas específicas (mordida, 03 - Committee on Injury and Poison Prevention. American
corda, cinto, cigarro), lesões traumáticas nas costas, Academy of Pediatrics.Injury prevention and control for
children and youth. 3rd ed. Elk Grove Village, IL: AAP;
queimaduras nas palmas e solas, equimoses bilaterais 1997.
com marcas de dedos, fraturas ósseas com idades 04 - Garcia PCR, Carvalho PRA, Bruno F. Trauma pediátrico.
diferentes, fraturas metafisárias. In: Piva JP, Carvalho PRA, Garcia PCR, eds. Terapia
intensiva em pediatria. 4a ed. Rio de Janeiro, RJ: MEDSI;
Trauma craniano não acidental costuma ter 1997. p.306-20.
prognóstico pior, até porque pode ser repetitivo em 05 - Goldstein B, Powers KS. Head trauma in children. Pediatrics
in Review. 1994;15:213-9.
até 20% dos casos. A presença de hematoma
subdural na região intra-hemisférica posterior sem 06 - Huurman WW, Ginsburg GM. Musculoskeletal injury in
children. Pediatrics in Review. 1997;18:429-40.
história de impacto traumático significativo é
07 - Knapp JF. What’s new in pediatric emergency medicine.
patognomônico de maus tratos graves. Pediatrics in Review. 1997;18:424-8.
08 - Mofenson HC, Greensher J. Pediatric basic and advanced
life support. In: Hoekelman RA, Friedman SB, Nelson NM,
Seidel HM, Witzman M, Wilson M, eds. Primary pediatric
Bibliografia selecionada: care. 3rd ed. St. Louis, MO: Mosby; 1997. p.1783-98.
09 - Schiff D, Shelov SP. Basics of first aid. In:Id, eds. American
01 - Barkin RM, Rosen P. Emergency pediatrics: A guide to Academy of Pediatrics guide to your child’s symptoms.
ambulatory care. 5th ed. St. Louis, MO: Mosby; 1999. New York, NY: Villard; 1997. p.199-219.
Deficiência Auditiva
MANOEL DE NÓBREGA
A maturação das vias auditivas começa na vida consciência silábica e fonêmica, coesão auditiva
fetal e se completa no período de vida pós-natal por (interferências, abstrações, metáforas).
volta dos dois anos de idade. Corresponde ao
Os princípios da aprendizagem podem ser assim
período de maior plasticidade das vias auditivas.
definidos:
Quanto maior a riqueza de estímulos auditivos
recebidos, maior número de conexões entre as • Modalidade de Aprendizagem: três dos cinco
diferentes vias (auditivas e não auditivas) irá formar. sentidos - visão, audição e sentido táctil-cinestésico-
Pelo contrário, quanto maior for a privação auditiva, são primariamente utilizados no aprendizado,
menor número de conexões irá formar. Essa maturação colaborando com seus inputs, para o armazenamento,
irá desempenhar importante papel na aquisição e memorização e resgate dos dados;
desenvolvimento da fala e da linguagem. • Ambiente para o aprendizado: fatores interferentes
Os aspectos da estrutura da linguagem - fonologia, – ruído, iluminação, localização, hora do dia e
semântica e sintaxe - apresentam diferentes épocas movimento;
de maturação. Estas épocas correspondem ao
• Força de retenção: em geral, aprendemos 10% do
período de máxima plasticidade do sistema auditivo
que lemos, 20% do que escutamos, 30% do que
(“janelas”). A especialização mais precoce é a
vemos, 50% do que vemos e escutamos, 70% do
fonológica, quando ao final do primeiro ano de
que falamos enquanto trocamos idéias sobre o objeto
vida ocorre uma limitação no repertório de fonemas
de interesse e, 90% do que falamos enquanto
que podem ser discriminados. A especialização
fazemos uma coisa e falamos sobre ela (EKEVALL,
semântica ocorre até os 4 anos de idade e a sintática
E.E. & OSWALD, L.D., 1971 – Rx reading program
não será fixada antes dos 20 anos de idade. O
– teacher’s manual);
amadurecimento da semântica e da sintaxe é
dependente do input sensorial precoce. O input • Memória: curto termo, longo termo;
sensorial precoce, lingüisticamente organizado, irá • Aprendizagem preferencial: recrutando técnicas de
resultar no desenvolvimento de linguagem sofisticada, habilidades peculiares do hemisfério esquerdo e/ou
funcional. A privação precoce resultará em prejuízo direito.
deste desenvolvimento.
As perdas auditivas mínimas - limiar auditivo entre
A deficiência auditiva (DA), temporária ou definitiva, 16 a 25 decibéis (dB) high level (HL) - que ocorrem,
mesmo em graus de intensidade mínimos, já pode por exemplo, nas otites médias secretoras, já podem
prejudicar o desempenho da fala, da linguagem e interferir no desempenho escolar da criança. Crianças
do desenvolvimento intelectual e comportamental da com limiar auditivo de 15 dB HL podem perder até
criança. 10% do sinal auditivo quando o professor está a
A criança deve não apenas ouvir normalmente, mas mais de um metro de distância ou quando a sala de
processar corretamente a informação auditiva num aula é ruidosa. Isto é particularmente importante,
nível superior de consciência. Tais processamentos especialmente nos primeiros anos de vida em que a
auditivos centrais estão centrados nas capacidades instrução verbal predomina. Com limiares auditivos
de atenção auditiva, figura fundo-auditiva, fechamento de 30 dB HL, a criança já pode perder de 25 a
auditivo, discriminação auditiva, memória auditiva, 40% do sinal auditivo; limiares de 35 a 40 dB HL
perdem até 50%; limiares de 50 dB HL perdem de então é testar a audição de todas as crianças, sadias
80 a 100% do sinal da fala. Por outro lado, quando ou não, com fatores de risco para surdez ou não,
a amplificação obtida através da utilização do objetivamente, de preferência antes da alta pós-parto.
aparelho de amplificação sonoro individual (a Tal iniciativa tem como objetivo a reabilitação precoce
“prótese auditiva”) está otimizada, a criança com a fim de minimizar o déficit na aquisição e
perda auditiva de até 90 dB HL pode identificar desenvolvimento da fala e da linguagem.
sons ambientais e detectar praticamente todos os Quando existir a suspeita de deficiência auditiva, o
sons da fala. Isto significa que a DA é grave mas pediatra deve sempre encaminhar a criança para
pode ser compensada. O fundamental é a detecção uma avaliação otorrinolaringológica e audiológica
precoce. Quanto mais tempo levarmos para detectar criteriosa. Toda e qualquer avaliação feita no próprio
uma DA, mais “janelas” do desenvolvimento da fala consultório pelo pediatra trará poucos benefícios
e linguagem já estarão “fechadas”. Isto resultará em práticos para a sua reabilitação. A avaliação auditiva
importante atraso da aquisição da fala e linguagem, pode ser feita basicamente através de dois tipos de
com grave impacto no desenvolvimento intelectual avaliação: subjetiva e a objetiva. Na avaliação
da criança e suas relações com o meio que a cerca. subjetiva, as respostas obtidas dependem da
Em 1972, as Academias Americanas de Pediatria, colaboração da criança examinada. Os métodos
Otorrinolaringologia, Audiologia dentre outras, de testagem são divididos de acordo com a idade.
formaram o “JOINT COMMITTEE ON INFANT Nos casos em que houver dúvida ou que não se
HEARING” para facilitar e normatizar a suspeita e o consiga obter um limiar auditivo confiável, deve-se
diagnóstico precoce da DA, criando os chamados utilizar os métodos objetivos, que independem das
Fatores de Risco para a DA. Os resultados respostas ou da colaboração da criança.
apresentados em 1990 após a aplicação dos Fatores A reabilitação da criança portadora de DA deve
de Risco para a DA revelavam detecção apenas de utilizar todos os canais de comunicação e
50% dos casos de surdez. A outra metade aprendizagem: visual, auditivo e táctil-cinestésico. A
praticamente não apresentava nenhum risco para a reabilitação auditiva deverá ser feita através da
DA mas apresentava surdez. Concluiu-se que a utilização do aparelho de amplificação sonoro
aplicação dos Fatores de Risco isoladamente não individual (um para cada orelha afetada), tentando
estava trazendo o benefício de detecção precoce compensar, se não totalmente, pelo menos parte da
esperado. Em 1994 surge a visão e a missão de audição, fundamental para o desenvolvimento da
detecção universal da DA. O objetivo a partir de criança.
(edema) e palpação( dolorosa).O tratamento ém feito isso a resistência interna da face, com conseqüências
com antibioticoterapia e compressas quentes. como estreitamento do terço médio, alongamento da
face e retro-posicionamento da mandíbula, levando
C) Puberdade: ao conhecido “fáscies adenoideano”. A flacidez da
• Angiofobroma juvenil: É um tumor benigno com musculatura da boca leva à deformidade dos lábios.
características invasivas. É raro nas mulheres,
• Deformidade torácica e cor pulmonale:
aparecendo na grande maioria em meninos na
A hipertrofia exagerada de amígdalas e adenóides
puberdade. O diagnóstico é feito pela história de
leva a criança a um esforço muito grande para
obstrução nasal progressiva e sangramento de
respirar, exigindo movimentação intensa do tórax para
repetição. Na rinoscopia anterior observamos uma
vencer a resistência anatômica que bloqueia o fluxo
massa e, na tomografia computadorizada, avaliamos
de ar. Com o passar dos anos a deformidade torácica
sua extensão. O tratamento é sempre cirúrgico.
aparece e nos casos mais graves pode chegar a ter
• Pólipo nasal: É uma massa multilobulada que se uma área cardíaca aumentada (cor pulmonale).
forma na fossa nasal, com crescimento progressivo
da obstrução. Está relacionada a pacientes alérgicos. • Apnéia noturna:
O tratamento pode ser feito com corticóides, porém A hipertrofia amigdaliana é o grande causador desta
o resultado é temporário, sendo então indicada a doença, tão importante e tão estudada nos dias
remoção cirúrgica. atuais. As conseqüências são muito mais graves do
que se imaginava, como sonolência diurna,
• Rinite medicamentosa: É a complicação devido ao irritabilidade e enurese noturna.
uso de vasoconstritores nasais tópicos. Depois de
algum tempo, a hipertrofia dos cornetos é irreversível. Os estudos recentes mostram deficiência de
O tratamento é a tentativa de tirar-se o hábito do uso crescimento com diminuição de liberação deste
de gotas nasais, porém, nos casos rebeldes, a cirurgia hormônio, diminuição do QI. e outras alterações
estará indicada (turbinectomia parcial). ainda em estudos.
• Hipertrofia adenoideana: Nesta fase já estão em A alteração do fluxo aéreo do nariz para a boca
regressão, sendo muito raro um jovem apresentar merece uma importância maior do que é dada
obstrução nasal, porém, quando acontecer, o normalmente por alguns pediatras, ortodontistas,
tratamento é cirúrgico. fonoaudiólogos e otorrinolaringologistas. Observamos
com freqüência colegas deixarem uma criança
• Hipertrofia amigdaliana: Como as vegetações chegar à puberdade com respiração bucal, por
adenóides ,é raro um jovem apresentar obstrução desconhecimento das complicações ou por
nasal; porém, quando acontecer, o tratamento é radicalização na contra-indicação.
cirúrgico.
A nossa responsabilidade cresce quando lembramos
que as deformidades faciais alterações de linguagem,
CONSEQÜÊNCIAS DA alterações oclusivas, toráxicas , apnéia noturna são
freqüentes nestes pacientes. Pediatras, otorrinolarin-
RESPIRAÇÃO BUCAL:
gologistas, fonoaudiólogos e ortodontistas devem
• Deformidades faciais: A respiração bucal exige trabalhar em conjunto, procurando diagnosticar e
que a língua não encoste no palato, tirando com tratar adequadamente o adulto de amanhã.
Estomatites na Infância
LUC WECKX
2 - A atenção que atualmente é prestada às crianças – Reduzir o número e a gravidade destas doenças.
na maioria dos serviços de saúde, tem as seguintes
– Melhorar a qualidade da atenção à criança nos
características:
Serviços de Saúde, diminuindo o uso de tecnologia
– Esta focalizada no motivo de consulta. diagnostica e tratamento inadequado.
Classificar a doença:
Tratamento Domiciliar
unidades básicas de saúde, entretanto, devido ao e do município de São Paulo, sempre envolvendo
predomínio das causas perinatais na Mortalidade prioritariamente as equipes do PACS/PSF, sendo
Infantil, também nos países em desenvolvimento, a realizado neste ano a capacitação dos
Organização Mundial da Saúde, esta preparando coordenadores dos Polos de Capacitação do
material instrutivo especifico da primeira semana de Programa de Saúde da Família.
vida, para a sua incorporação na Atenção Integrada
Iniciou-se, também o trabalho de acompanhamento
às Doenças Prevalentes na Infância.
e avaliação pós capacitação na estratégia AIDPI,
que definiu critérios e ações necessárias ao processo
de seguimento da implementação da AIDPI no Brasil,
HISTÓRICO DA IMPLANTAÇÃO utilizando-se para isto indicadores de processo e de
NO BRASIL impacto na saúde infantil.
Em 1996, a viabilidade de implantação da AIDPI no
Classificação dos Estados, segundo a situação de
Brasil, foi discutida e aprovada por técnicos dos
implantação do AIDPI:
diferentes Programas do Ministério da Saúde, consultores
da Sociedade Brasileira de Pediatria, Universidades, 1 – Em face avançada: Ceará, Pará, Pernambuco e
técnicos das Secretarias Estaduais e Municipais de Sergipe.
Saúde e da OMS/OPS, UNICEF, BASIC/USAID. 2 - Em face intermediária, ou seja em processo de
implantação contando com facilitadores e tendo
Dando seguimento a essa reunião aconteceram 2
realizado pelo menos um curso: Bahia, Distrito
Oficinas de Trabalho, onde foi finalizada a
Federal, Paraíba, São Paulo, Rondônia e Tocantins.
adaptação do material da AIDPI á realidade
epidemiológica brasileira e às normas nacionais. 3 – Em face inicial, ou seja, contando com
facilitadores e com curso programado ou em
Após essa etapa em 1997, foram realizados 2 perspectivas de implantação: Alagoas, Amazonas,
Cursos Nacionais Sobre AIDPI, para a formação de Espirito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso,
53 multiplicadores, que participaram de diversos Paraná, Rio Grande do Norte e Roraima.
treinamentos e da implantação dessa estratégia no
país. Neste ano, foram realizados cursos locais nos No momento os maiores desafios para a estratégias
Estados que aderiram inicialmente a esta estratégia, da AIDPI, são:
Pernambuco, Sergipe, Pará e Ceará, totalizando 151 – Pressão para a sua expansão, mesmo nos Estados
profissionais de nível superior treinados. ou municípios que tem uma taxa de mortalidade
Devido às características desta estratégia, sua infantil superior a 40/l000nv, e para isto, existe a
implantação foi priorizada inicialmente para os necessidade de recursos financeiros suficientes para
municípios com mortalidade acima de 40/1000nv, capacitação de recursos humanos.
iniciando-se com os municípios do Projeto de Redução – Assegurou a qualidade de todos as atividades,
da Mortalidade na Infância e com os Programas dos procurando garantir primeiro as visitas de seguimento
Agentes Comunitários de Saúde e Programa Saúde para cada curso, para cada profissional capacitado.
da Família PACS/PSF.
– Enfatizar a necessidade da melhora dos serviços
Em outubro de 1997, a Sociedade Brasileira de de saúde. Assegurar que todos os medicamentos
Pediatria, ao organizar XXX Congresso Brasileiro no da AIDPI estejam na lista de medicamentos essenciais
Rio de Janeiro, incluiu a realização do Simpósio dos municípios. Garantir e facilitar o acesso aos
Internacional e, em conjunto com a Associação hospitais de emergência e aos ambulatórios de maior
Internacional de Pediatria (IPA) e a Associação Latino- complexidade.
americana de Pediatria (ALAPE) definiram como tema
central a Atenção Integrada às Doenças Prevalentes
na Infância, visando identificar a sua viabilidade, e REFERÊNCIAS BIOGRÁFICAS:
impacto social que a integralidade das ações
01 - Brasil, COMIN, Ministério da Saúde. Informe sobre grau
representa para a sobrevida e a saúde da criança. de cumprimento das metas da Reunião de Cúpula em
favor da Infância. Brasília, outubro 1996.
Em 1998, ampliou-se a cobertura para outros Estados 02 - Cunha, AL.A Integrated Management of Childhood Ilness-
do Nordeste e Região Norte, alem do Distrito Federal Basic Concepts. Mimeo. Rio de Janeiro, outubro 1997.
03 - Maranhão, AG.K. Política de atenção à saúde da criança 06 - OMS/OPS. La atención integrada a las enfermidades
no Brasil. Mimeo. Brasília, outubro 1997. prevalentes de la infancia em países de América Latina,
04 - OMS/OPS. Atenção Integrada às Doenças Prevalentes série HTC/AIEPI-12. Quito, janeiro 1998.
da Criança – o enfoque OMS/UNICEF. Washington, 07 - OPS/OMS/MS/SBP. Relatório do Simpósio Interna-
D.C., março 1996. cionalde Pediatria sobre AIDPI, Rio de Janeiro, outubro
05 - Tulloch, J. Visão da Atenção Integrada às Doenças 1997.
Prevalentes na Infância no mundo. Mimeo. Rio de Janeiro, 08 - FIOCRUZ, Assistencia Perinatal e Neonatal, Brasil. TEMA
outubro 1997. RADIS nº 17, janeiro 1995.
Nos últimos anos muitos foram os esforços Vale enfatizar os seguintes avanços relativos a saúde
desenvolvidos pelo Brasil na promoção da saúde e infantil:
nutrição da criança, resultando em quedas na taxa • redução da mortalidade infantil
de mortalidade infantil e diminuição da desnutrição
• declínio da mortalidade por diarréias, infecções
em todas as regiões brasileiras. A criação pelo
respiratórias e imunopreviníveis
Ministério da Saúde do Programa de Assistência
Integral à Saúde da Criança em 1984 em muito • erradicação da poliomielite
contribuiu para estes avanços encontrados. • declínio da desnutrição proteico-calórica na infância
Este programa com foco nos menores de 5 anos, Esta avaliação indicou ainda, áreas onde os
visava promover a integridade na assistência prestada progressos foram menores apontando para a
pelos serviços de saúde à criança deslocando o necessidade do estabelecimento de prioridade para
enfoque de uma assistência baseada em patologias, ação:
para uma modalidade de atenção que contemplasse • manutenção das altas taxas de mortalidade por
a criança no seu processo de crescimento e afecções perinatais
desenvolvimento.
• manutenção de prevalência de baixo peso ao
Esta posição em favor da infância foi reiterada no nascer
plano internacional com a criação do Estatuto da
• disparidades entre as situações de saúde e nutrição
Criança, do Pacto pela Infância e do compromisso
das zonas urbanas e rurais
governamental firmado em 1990 na sede das Nações
Unidas em NY, junto com mais de 150 países na • aumento da gravidez na adolescência
Reunião de Cúpula Mundial em Favor da Infância, As metas da infância serão agrupadas em 3 grandes
quando o Brasil foi signatário da Declaração Mundial temas e discutidas com mais detalhes:
sobre Sobrevivência, Proteção e Desenvolvimento da
Criança, assumindo 26 metas em favor deste grupo
etário, a serem atingidas até o ano 2000. Destas,
19 são referentes ao setor de Saúde. 1. SOBREVIVÊNCIA INFANTIL
Decorridos quase 8 anos deste compromisso As informações sobre mortalidade infantil são
governamental, os resultados de uma avaliação de provenientes de análises dos dados do Sistema de
médio prazo do grau de cumprimento destas metas, Informação do Ministério da Saúde e das estimativas
obtidas através de uma pesquisa de caráter nacional, de Mortalidade realizadas pelo IBGE além dos dados
mostram um substancial progresso na situação de da Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde
saúde da criança brasileira. realizada em 1996 (PNDS-96).
Em relação a MI, ela vem declinando em todas as • realização das campanhas de vacinação
regiões brasileiras, sendo no entanto diferente entre • implantação do Programa de Saúde Materno
elas, o ritmo de intensidade desta queda. Infantil (Terapia de reidratação oral, controle das
Dentre as ações que repercutiram na queda desta IRAs, CD e outras ações voltadas para o pré-natal
mortalidade destacam-se: e parto)
• ampliação da oferta dos serviços de saneamento • queda da fecundidade (4,1 filhos por mulher para
básico e da saúde 2,5 em 15 anos)
Ressalta-se que esta redução ocorreu mais acompanhamento tanto no pré-natal como no parto
marcadamente nas áreas urbanas. (207/1000 NV - 10 vezes maior que na área
Chama-se a atenção a mortalidade extremamente urbana), situação esta muito mais freqüente na zona
alta das crianças cujas mães não tiveram rural do país.
Fonte: PNDS-1996
Neste sentido o MS criou em 1996 o Projeto de Com relação as causas de morte em menores de 1
Redução da Mortalidade na Infância, priorizando ano, nota-se que a redução mais expressiva foi obtida
ações de saneamento, saúde e nutrição voltadas na mortalidade originada por causas infecciosas
para a mulher e a criança em 913 municípios com (diarréias e respiratórias agudas). Os óbitos por
as piores condições de vida no país, objetivando a causas perinatais passaram a assumir maior
melhoria da situação de saúde de crianças menores importância na estrutura da mortalidade no país,
de 5 anos. Nestes municípios foi priorizado também representando hoje cerca de 52% do total de óbitos
a implantação do Programa de Agentes Comunitários infantis.
de Saúde, que já conta com mais de 98 mil agentes A maioria destas mortes, refere-se ao período neonatal
espalhados em 3.800 municípios e o Programa de precoce, primeira semana de vida, especialmente os
Saúde da Família com mais de 4.000 equipes em óbitos ocorridos no primeiro dia de vida que
1.533 municípios. alcançam aproximadamente 36% destes óbitos.
Estes dados comprovam o incremento da Os dados da PNDS-96 mostram que 73,4% das
amamentação no país, resultados dos esforços crianças menores de 5 anos, com diarréia fizeram
empreendidos por toda sociedade brasileira. Ressalta- uso de TRO, no Nordeste o incremento do uso da
se como exemplo as marcantes Campanhas de TRO foi de 35% se compararmos o estudo de 96
comunicação desenvolvidas desde o início dos anos com o estudo realizado por Victora e Barros no final
80, os avanços obtidos em relação à legislação no da década de 80.
que se refere à regulamentação dos substitutos do
A freqüência global da diarréia nos últimos anos,
leite materno e às licenças maternidades e
em crianças menores de 5 anos diminui de 16,8%
paternidades, a implantação da iniciativa Hospital
em 86 para 13,1% em 96 (realizada no mesmo
Amigo da Criança (116 no país) e a criação dos
período do ano, excluindo a sazonalidade).
Bancos de Leite Humano (103 no país).
Estes avanços devem ser creditados não só ao
Controle das Doenças Diarreicas trabalho do MS como também a atuação dos
A promoção das terapias de reidratação oral tem agentes comunitários da saúde, além da
sido uma das armas mais importantes no combate a participação de outros órgãos não governamental
desidratação principal causa de morte em crianças e a mídia, através das numerosas campanhas de
com diarréia. divulgação da TRO.
A atividade inicial do comitê foi promover um Como ilustração, apresentaremos alguns casos de
conhecimento mais aprofundado sobre a situação óbitos investigados.
dos óbitos infantis no município de Curitiba, uma Na avaliação parcial dos resultados do Comitê,
vez que as estatísticas produzidas até então eram observa-se que grande parcela dos óbitos infantis
restritas e divulgadas com grande atraso. Neste decorre das precárias condições sócio-econômicas
diagnóstico, observou-se que a queda nas taxas da população. No entanto, identifica-se também que
de mortalidade infantil era decorrente da redução a forma de organização dos serviços, a melhoria da
dos óbitos no período pós-neonatal, reflexo da qualidade da assistência médica e das equipes de
política de saúde instituída através da imunização, saúde no âmbito ambulatorial e hospitalar, programas
uso intensivo da terapia de reidratação oral e de educação em saúde, de prevenção e detecção
incentivo ao aleitamento materno. Poucas precoce de problemas relacionados à saúde têm
modificações foram observadas entre as taxas de negligenciado o seu potencial e sua efetividade.
que seja autossômico dominante, com penetrância Por isso o manejo adequado desta síndrome deve
incompleta. Vários trabalhos têm demonstrado a sua fazer parte do tratamento de crianças com diagnóstico
presença em 8 a 45% de irmãos assintomáticos de de refluxo vésico-ureteral.
crianças com refluxo. Foi também detectado em 66%
de crianças, cujos pais apresentavam história de refluxo
vésico-ureteral, sendo também significativamente menos REFLUXO VÉSICO-URETERAL COM
comum na raça negra. URINA ESTÉRIL X LESÃO RENAL
Atualmente o refluxo estéril não é mais considerado
DISFUNÇÃO VESICAL / REFLUXO como causa de lesão renal. Entretanto, em presença
de obstrução, com micções de alta pressão (válvula
VÉSICO-URETERAL de uretra posterior, bexiga neurogênica, disfunção
Tem sido evidenciado que a disfunção do complexo miccional) podem ocorrer danos renais mesmo na
vésico-esfincteriano é um fator importante na ausência da infecção.
patogenia do refluxo vesico-ureteral, principalmente
observado em crianças normais, após a fase da
micção, sendo caracterizada através estudos urodinâ-
NEFROPATIA DO REFLUXO
micos por duas condições funcionais diferentes: Define-se como o conjunto de lesões renais
Hiperatividade do Detrusor (bexiga instável) - ocorre decorrentes do refluxo-vésico-ureteral.
constricção voluntária do esfíncter para manter a A prevalência vai variar de acordo com a idade da
continência, em conseqüência de contrações não- criança, severidade do refluxo e também com o
inibidas do detrusor, levando à obstrução do método utilizado para o diagnóstico (urografia
esvaziamento da bexiga; neste caso a capacidade excretora ou cintilografia renal com DMSA).
vesical é pequena ou normal e não há urina residual.
Os principais mecanismos envolvidos na formação
Hiperatividade do Esfíncter (bexiga descoordenada) das lesões (cicatrizes renais) são o refluxo intra-renal,
– caracteriza-se por obstrução durante a micção a infecção urinária e a pressão intra-vesical:
devido à constricção involuntária do esfíncter urinário
Refluxo intra-renal (RIR) - há regurgitação de urina
durante a contração miccional, com aumento da
para o parênquima renal, podendo ser diagnosticado
capacidade vesical, urina residual e graus variados
pela uretrocistografia miccional em 4 a 15% das
de trabeculação da bexiga e dilatação de ureter e
crianças com refluxo vésico-ureteral.
do trato urinário superior.
Foi demonstrada a existência de dois tipos de papilas
Estas alterações da micção caracterizam-se
renais: simples ou não refluentes, onde não há RIR,
clinicamente por incontinência urinária diurna e/ou
e compostas ou refluentes, que permitem a passagem
noturna, urge-freqüência e manobras realizadas pelas
de urina. As papilas compostas localizam-se
crianças para contenção da urina.
principalmente nos polos renais, onde são mais
frequentes as cicatrizes da nefropatia do refluxo. Nos
SÍNDROME DE DISFUNÇÃO seres humanos dois terços dos rins apresentam papilas
compostas.
DE ELIMINAÇÃO/ REFLUXO
Infecção Urinária - tem sido demonstrada a
VÉSICO-URETERAL. correlação entre RVU, infecção urinária e o
Esta síndrome caracteriza-se não apenas pela aparecimento da cicatriz renal.
presença dos distúrbios miccionais já relatados, mas
O papel de infecção reveste-se da maior importância,
também por associação com constipação intestinal,
já que o tratamento precoce e adequado reduz ou
sendo encontratada em 43% das crianças com refluxo
até mesmo previne o aparecimento das cicatrizes
vesico-ureteral. Por ser muitas vezes não
renais.
diagnosticada, relaciona-se com resolução tardia do
refluxo, número maior de episódios de infecção Pressão intra-vesical - em condições normais a pressão
urinária e até mesmo à indicação, muitas vezes vesical é baixa, sendo a urina conduzida pela
desnecessária, de tratamento cirúrgico do refluxo. peristalse ureteral. O aumento desta pressão facilita
Por que não submeter todos os pacientes ao – nos pacientes tratados conservadoramente o refluxo
tratamento cirúrgico, já que os índices de sucesso persistiu em 74% dos ureteres em 2 anos e em 55%
são tão elevados - graus I e II: 90 a 100%; grau III: em 5 anos.
93 a 99%; graus IV e V: 50 a 60%? O grupo de
Os resultados do Estudo Internacional Colaborativo
estudo do refluxo de Birmingham comparou o
do Refluxo na Infância também não resultaram em
tratamento cirúrgico ao conservador e chegou às
diferença significativa nas duas modalidades de
seguintes conclusões:
tratamento, em 5 anos.
– não foram encontradas diferenças significativas entre
À luz dos conhecimentos atuais, o tratamento cirúrgico
os dois grupos no que se refere à recorrência de
se restringe aos graus mais severos (IV e V) de refluxo,
infecção urinária, filtração glomerular, comprimento
com ocorrência concomitante de episódios repetidos
renal, formação de novas cicatrizes ou progressão
de infecção urinária na vigência de quimioprofilaxia,
das já existentes, em 2 e 5 anos de acompanhamento.
sobretudo nos pacientes menores de 5 anos, e também
– a cirurgia resultou em cura em 97% dos casos de nos casos de falta de aderência ao tratamento
refluxo. conservador.
Glomerulopatias na Infância
JÚLIO TOPOROVSKI
Abordaremos, em nossa apresentação, uma atualiza- vez de maneira bastante elegante, que o fator que
ção das duas glomerulopatias mais comuns em nosso determina a nefritogenicidade da bactéria está
meio: glomérulo nefrite difusa aguda (GNDA) pós inserido no segmento C. Assim sendo, nos doentes
estreptocóccica e a síndrome nefrótica idiopática (SN). com GNDA nota-se ascensão dos anticorpos contra
o segmento C. Os segmentos A e B possuem várias
Iremos focalizar os mais recentes avanços na área
sequências de aminoácidos que apresentam reação
destas duas nefropatias.
cruzada com vários tecidos do organismo (coração,
GNDA – seqüela não-supurativa de estreptococcia de articulações e sistema nervoso), que seriam
vias áreas superiores (IVAS) ou de pele, condicionada responsáveis pela reumatogenicidade da bactéria.
pelo estreptococo ß hemolítico do grupo A raças
3º – No que se refere à GNDA, conseguiu-se detectar
nefritogênicas - constatamos que a prevalência das
prováveis antígenos responsáveis pela agressão
raças nefritogênicas em uma determinada população
imunológica que ocorre nesta nefropatia.
é cíclica, pois com o passar do tempo a população
vai tornar-se imune ao sorotipo vigente. a – Para um grupo, trata-se de uma substância
secretada pelo estreptococo, Exotoxina B ou
Os principais aspectos que gostaríamos de mencionar “Streptococal Proteinase”, cujo teor de anticorpo
são os seguintes: apresenta-se elevado em todos os pacientes com
1º – A gravidade do quadro clínico também está GNDA e é normal nos doentes com Febre Reumática
associada aos sorotipos determinantes desta (FR) e faringite estreptocóccica.
patologia, que apresentam também variação cíclica. b – Outros pesquisadores realçam a importância da
2º – A proteína M que determina a virulência e a estreptoquinase secretada pelas raças nefritogênicas
imunidade tipo-específica apresenta três conjuntos da bactéria, como fator desencadeante da reação
protéicos: A,B,C, sendo que, recentemente, Mori e em cascata do complemento que determina o dano
colaboradores, conseguiram demonstrar, pela primeira renal da GNDA.
4º – Outro aspecto relevante desta patologia foi o Salientando-se que os pacientes com GESF constituem
estudo realizado por autores escandinavos, que a glomerulopatia que mais habitualmente leva à
recentemente conseguiram reproduzir a nefropatia Insuficiência Renal Crônica (IRC).
em animais de laboratório (ratos). A ministração de Do ponto de vista de apresentação clínica, é difícil
penicilina a um grupo de ratos conseguiu abortar o diferenciar os dois subtipos, pois o quadro clínico,
surgimento desta nefropatia, fato este ainda não o nível de proteínas plasmáticas, o teor de colesterol,
totalmente comprovado em humanos. a função renal e o sedimento urinário, são
5º – Importante contribuição na área da GNDA e FR praticamente iguais.
é a possibilidade de ministração de vacinas que Salienta-se, no entanto, que nos pacientes portadores
objetivam a proteção contra estreptococos de LM, a resposta terapêutica ao tratamento com
nefritogênicos, reumatogênicos e determinantes de Prednisona (2mg/kg/peso/28dias) é satisfatória, são
doença invasiva estreptocóccica. denominados córtico-sensíveis, enquanto os portadores
Os estudos em andamento são fundamentados no de GESF geralmente são córtico-resistentes.
seqüenciamento dos aminoácidos que constituem a Admite-se, modernamente, que a progressão nesta
proteína M. Esta proteína possui uma extremidade nefropatia é determinada fundamentalmente por
carboxi-terminal ancorada no citoplasma da bactéria alterações que ocorrem na matriz mesangial do
e outra extremidade livre amino-terminal. Conseguiu- glomérulo. Verifica-se acúmulo da matriz extracelular
se fracionar esta proteína em dois segmentos: um decorrente da alteração da síntese desta proteína e
responsável pela sua imunidade e virulência e outro sua degradação que se processa pela ação de
que apresenta reação cruzada com diversos tecidos proteinases.
e nefritogenicidade.
Os pacientes portadores de GESF diferem daqueles
Desta maneira, com esse fracionamento da proteína com LM na resposta terapêutica habitual: corticóides
M, conseguiu-se produzir duas vacinas: Tetravacina e imunosupressores. Este achado corresponde à nossa
com os sorotipos 24-5-6-19 e, mais recentemente, experiência.
Octavacina 24-5-6-19-1-3-18-2, usada na forma de
Recentemente abriu-se perspectiva mais animadora
spray, com grande atividade protetora.
na terapêutica da GESF e da SN córtico-resistente,
SN: carateriza-se fundamentalmente pela presença com o emprego da Metilprednisolona na forma de
de proteinúria maciça (>50 mg/kg/peso) e por pulsos (Esquema de Mendoza) e da Ciclosporina.
hipoalbuminemia (< 2,5 g%). Este esquema mostrou-se eficiente, determinando
Na grande maioria dos casos 80-90% vamos remissão na maioria de nossos pacientes. Outros se
encontrar dois padrões histológicos: Lesão Mínima beneficiaram, melhorando sua função renal e
(LM) e Glomérulo Esclerose Segmantar e Focal (GESF). diminuindo os níveis de proteinúria.
A hematúria, quando detectada, constitui-se em microscópica. A história clínica e o exame físico são
grande preocupação não só para os familiares, mas fundamentais na avaliação inicial, já que existindo
também para o médico, dado o grande número de dados que surgiram de um diagnóstico ou etiologia
patologias que causam este achado, seja ela os exames corretos serão solicitados com mais
sintomática, assintomática, macroscópica ou critérios.
A hematúria que não é explicada por uma condição da definição de hematúria e da composição da
óbvia, como por exemplo uma cistite ou glomerulone- população estudada, sendo que a prevalência
frite aguda pós-estreptocócica é relativamente comum. da hematúria macroscópica não é conhecida. Na
A avaliação inicial das hematúrias usualmente não tabela 1 estão assinaladas algumas definições de
requer a participação de um subespecialista (nefrolo- hematúria.
gista ou urologista), mas freqüentemente será solicitada A hematúria pode ser grosseiramente visível,
sua presença nas fases posteriores da investigação. variando do vermelho ao marrom escuro, reque-
Deve ser lembrado que algumas patologias podem rendo investigação imediata ou microscópica,
se beneficiar eventualmente de terapêutica precoce usualmente detectada ao acaso, quando sangue
(glomerulonefrite membranoproliferativa, uropatias (hemácias ou hemoglobina) é encontrado na urina.
obstrutivas, urolitíase) ou aconselhamento genético A hematúria microscópica na criança é transitória
(glomerulopatias hereditárias, doença renal policística em até 20% e se persiste por um período de 2 a
dominante). 3 meses, então a avaliação laboratorial deverá ser
iniciada.
As tiras reativas são pelo menos tão sensíveis quanto
INCIDÊNCIA o sedimento urinário e devido a sua alta sensibilidade
A prevalência da hematúria microscópica persistente e especificidade excluem, com segurança, a presença
na criança varia de 0,3 a 4,1% , na dependência de hematúria.
IVAS: GNAPI
D. da membrana fina
D. de Berger
História familial: GNs hereditárias
Doença policística
Hipercalciúria
HEMATÚRIA Dor em cólica: Litíase
Coágulo
S. hematúria dor lombar
Trauma
Exercício extenuante
Anticoagulante
Medicações
Raça negra
– Pré-escolar – Glomerulonefrites
– Corpo estranho
– Hipercalciúria
– Litíase
– Hemoglobinopatias
– Escolar/adolescente – Menstruação
ou mais de uma determinada forma de hemácia define, Não existindo proteinúria significativa, com função
com segurança, se a hematúria é glomerular renal e níveis tensionais normais, o seguimento
(dismórfica) ou não glomerular (isomórfica). A presença cuidadoso é a melhor opção, já que esta
de acantócitos parece ser o dado mais específico de anormalidade é freqüente na triagem de crianças
dismorfismo, já que sua presença, a partir de 4 a 5% em idade escolar e a segunda causa de referência
define a presença de glomerulopatia. para clínicas nefrológicas nos EUA.
A caracterização da origem da hematúria por outros Na Tabela 5 estão listadas as causas mais freqüentes
métodos que não o visual, retirando o aspecto de hematúria glomerular, quase todas assintomáticas,
subjetivo do exame, como a utilização do Coulter pelo menos na sua fase inicial.
counter é eficaz, mas não disponível na prática diária
e mais ainda no consultório do subespecialista. A Na investigação laboratorial (Tabela 6), é necessário
presença de cilindros hemáticos classicamente localiza ressaltar que em nosso país a forma mais comum de
a origem glomerular da hematúria, mas pensamos glomerulopatia é a glomerulonefrite aguda pós-
que a presença do dimorfismo eritrocitário basta para estreptocócica, cuja forma assintomática pode ser
definir, com segurança, a presença das várias formas até quatro vezes mais freqüente que a sintomática.
de glomerulopatias. O principal fator envolvido na Daí que devem ser rotineiramente solicitados exames
transformação da hemácia é a sua passagem através que corroborem esta possibilidade, com a
da membrana basal glomerular lesada, embora outros determinação do título de ASO e de C3 e C4.
mecanismos possam contribuir para esta alteração. Nos países mais desenvolvidos, notadamente no
Definida a origem da hematúria, a investigação será Japão, a doença de Berger é a forma de
dirigida para as causas mais comuns deste achado. glomerulonefrite mais comum, seja sintomática ou
Na tabela 4 estão listadas as principais causas de assintomática, sendo o diagnóstico de certeza
hematúria e, à exceção da primeira, todas as demais estabelecido pela presença de IgA nos glomérulos
se caracterizam pela presença de isomorfismo destes pacientes, que podem apresentar por vezes
eritrocitário. níveis séricos de IgA elevados.
Muitas crianças com hematúria glomerular A urinálise de pais e irmãos pode detectar hematúria
assintomática persistente não terão uma causa glomerular, devendo então ser considerada a
identificável, já que não apresentam doença possibilidade de glomerulonefrite hereditária, seja a
subjacente significativa. Com dados de história clínica glomerulonefrite familiar benigna, a doença da mem-
ausentes e exame físico normal, a avaliação se torna brana fina ou eventualmente a Síndrome de Alport,
mais problemática. existindo história familiar de surdez e de nefropatia
– Origem parenquimatosa
– Doenças vasculares renais
– Doenças do trato urinário excretor
– Alterações sistêmicas da coagulação
crônica evoluindo para a insuficiência renal crônica. Exercício extenuante como causa de hematúria ainda
Graças às modernas técnicas genéticas, estas glome- não foi descrito na criança, ao contrário do que
rulopatias parecem compartilhar várias semelhanças, pode acontecer no adulto.
existindo a possibilidade de serem variantes de uma
Na hematúria glomerular isolada, a preocupação
mesma doença, com penetrâncias diferentes.
inicial e evolutiva é a detecção de proteinúria que,
Estados infecciosos agudos, tanto virais como se presente e significativa, indica a possibilidade de
bacterianos podem cursar com hematúria glomerular evolução para a cronicidade.
e proteinúria discretas, com normalização em dias
A biópsia renal não é usualmente realizada nos
ou poucas semanas.
casos assintomáticos, já que não existe terapêutica
Uma causa comum de hematúria glomerular isolada específica para qualquer uma das condições
é a glomerulonefrite membranoproliferativa na sua fase referidas. No entanto, deve ser considerada,
inicial, com diminuição de C3 persistente ou intermiten- existindo evidências de doença progressiva,
temente, mas que na evolução quase sempre se mani- como elevação da creatinina, da excreção de
festa como uma síndrome nefrótica, causa importante proteína e de níveis tensionais. Embora a biópsia
de evolução para a insuficiência renal crônica. seja diagnóstica, ela dificilmente alterará o manejo
de pacientes com hematúria glomerular assintomática.
Raramente a Síndrome de Hematúria Dor Lombar
O acompanhamento a longo prazo confirmará o
é considerada no diagnóstico, dada a sua raridade.
prognóstico favorável na maioria dos pacientes,
Pela prevalência da raça negra em nossa população, assegurando o tratamento da hipertensão, se
a possibilidade de anemia de células falciformes manifesta e aumenta o entendimento da história
deve ser considerada. natural destas patologias.
Já com relação às hematúrias não glomerulares, Neste tipo de hematúria, estudos de imagem são
assinaladas na Tabela 7, também muitas delas podem freqüentemente solicitados, podendo elucidar
ser totalmente assintomáticas, dependendo da diagnósticos como doença renal policística, processos
experiência do médico a correta investigação, que obstrutivos, litíase ou eventualmente tumores, estes
deve ser desenvolvida passo a passo, iniciando com bastante raros na criança. A avaliação dos vasos
os exames mais simples e daí para os mais complexos renais com Ecodoppler, pode mostrar compressão
e conseqüentemente mais onerosos e, por vezes, da veia renal esquerda pela aorta e mesentérica
mais invasivos. superior, levando à congestão renal, que explicaria
a hematúria, por vezes acompanhada de dor lombar
Na Tabela 8 estão assinalados os exames que podem
na síndrome de “nutcracker”, patologia bastante rara,
ser solicitados de início na investigação destes
mas que deve ser lembrada na investigação.
pacientes. Assim, a relação cálcio/creatinina em
amostra de urina em jejum pode estabelecer a Já a presença de varizes e fístulas ou malformações
suspeita de hipercalciúria idiopática, corroborada arteriovenosas são uma raridade, mas devem ser
na urina de 24 horas, que também faz o diagnóstico lembradas quando todas as causas precedentes foram
de hiperuricosúria, outra causa freqüente de hematúria afastadas.
na criança, estando estas patologias por vezes Na dependência dos resultados iniciais, exames de
associadas. imagem de maior resolução serão solicitados, como
Evidentemente, causas óbvias como menstruação em a tomografia computadorizada, a ressonância
adolescentes (possibilidade nem sempre lembrada!!), magnética ou mesmo a angioressonância magnética.
a cistite hemorrágica a vírus na seqüência de estados Finalizando, é importante ressaltar novamente que a
gripais ou a administração de drogas que podem investigação de toda hematúria, seja ela sintomática
cursar com nefrite intersticial e insuficiência renal ou assintomática, macroscópica ou microscópica,
aguda, são patologias suspeitadas com os dados deve iniciar-se, obrigatoriamente, pelo estudo
obtidos na anamnese. morfológico das hemácias.
– Hipercalciúria – Cistos
– Hiperuricosúria – Obstrução
– Trauma – Cistite
– Drogas – Menstruação
– Malformação AV – Fístula
– S. do “nutcracker” – Varizes
– INEXPLICADA ??
Optamos por iniciar esta nossa conversa deslocando simples indivíduos massificados, modelados,
para o centro de nossas atenções o cidadão serializados são seres humanos singulares assumindo
adolescente. e vivendo a subjetividade. A singularidade é um
Segundo F. Peres (1995), ao lidarmos com a faixa conceito existencial e dentro dele cada ser humano
da adolescência não devemos perder de vista que é ele próprio e, por conseguinte, diferente, enquanto
estamos diante de “seres concretos, que vivem seus que a subjetividade é modelada no registro social e
cotidianos em suas diversas e desiguais condições desta forma assumida por indivíduos em suas
de existência” e que são exatamente estas “desiguais existências particulares. Segundo Guattari (1993):
possibilidades de existir em diversas situações “o modo pelo qual os indivíduos vivem esta
culturais, agravadas pelas diferenças sociais que subjetividade oscila entre dois extremos: uma relação
determinam e reforçam as diferentes maneiras de de alienação e opressão ou uma relação de
encarar a vida”. expressão, de criação, na qual o indivíduo se
reapropria dos componentes da subjetividade,
Precisamos destacar também que o conceito de produzindo um processo que se chamaria de
vida não pode e não deve ficar limitado à singularização”. No que complementa Elias (1994),
concepção paradigmática biológica, mas que está “cada pessoa parte de uma posição única em sua
concebido como diferentes processos e cursos rede de relações, atravessa uma história singular de
construídos sócio-cultural e historicamente vida ... e esse eu, essa essência pessoal forma-se
(Featherstone, 1991). E nesta concepção, Ortega num entrelaçamento contínuo de necessidades, num
Y Gasset (1989) já destacou a importância de desejo e realização constantes, numa alternância de
valorizamos o que chamou de “circunstância” dar e receber”.
(circum-stantia = presença em torno), no existir de
cada ser vivente, razão porque afirmou: “O indivíduo Ratificamos portanto o nosso pedido de permissão
vive envolvido pelo ambiente geográfico-histórico- para, em um evento fundamentalmente médico,
social-cultural” e que esse contorno pode se discutirmos as questões relacionadas à violência e
apresentar mais ou menos hostil, mais ou menos droga na adolescência a partir de paradigmas sócio-
favorável para cada um. Queiramos ou não, temos filosóficos.
que contar com ele, completando que “a vida é Segundo Carvalho (1991), não podemos mais
essencialmente um diálogo com o contorno tanto encarar o problema da drogadição como algo
em suas funções fisiológicas mais simples como em relacionado somente ao indivíduo envolvido, mas a
suas funções mais sublimes. Viver é conviver e o aspectos bem mais amplos, baseados em questões
outro que conosco convive é o mundo que nos sociais, culturais, econômicas e políticas, pois
rodeia”. drogadição hoje não se restringe apenas a uma
Não devemos esquecer, ao lidarmos com camada social, afetando todas as camadas da
adolescentes, que estamos diante de indivíduos com população e, dependendo das circunstâncias
suas singularidades, em diálogo com seu contorno. existenciais, em maior ou menor proporção. Afeta
As circunstâncias onde cada um está inserido não só o adolescente em péssimas condições
determinam fundamentalmente suas formas de financeiras, entregue à própria sorte, experimentando
caminhar na vida. Diferentes sim, pois mais do que sentimentos de incerteza, desproteção e menos-valia,
mas também o adolescente de classe privilegiada toda ação ou omissão pessoal ou coletiva na relação
experimentando às vezes carências de outros níveis, do poder, ferindo os direitos de pleno desenvolvimento
vivenciando também o mesmo sentimento de e do bem estar das pessoas, sendo o seu caráter
insegurança e menos-valia. Ambos encontram na histórico-social mutável, na função da dinâmica desse
droga seu refúgio. Portanto, não concebemos hoje poder e distribuição diferencial de regras e recursos.
em dia que se permaneça tratando a droga pela Ela não é única, mas múltipla, razão porque podemos
droga, esquecendo o indivíduo. E se é o indivíduo estabelecer distintos e vários tipos de violência,
que conta, por que na prática o olhar e o agir se segundo os interesses em jogo, os agentes e as
colocam tão ambíguos? Por que para alguns o uso vítimas, os cenários centrais, os valores, os
da droga requer necessidade de apoio, visando o instrumentos utilizados e os efeitos produzidos. Desse
resgate de valores, e para outros a abordagem modo, podemos ter a violência política, sexual,
continua a ser repressiva, policial? Não podemos ter estrutural, social, física, psicológica, urbana, rural,
visões simplistas com a droga que a coloquem ora etc. A agressão física, o terrorismo psicológico, a
como crime (um problema legal), ora como doença discriminação, a repressão pessoal, o engodo
(um problema psiquiátrico) e portanto, sob estes político, a coerção educativa e a destruição de
olhares, necessitando de condutas “extremamente” sonhos e planos são formas concretas de violência.
especializadas e discriminatórias.
Analisemos um pouco a situação brasileira. Sabemos
O problema das drogas é considerado hoje pela que a violência que aflige crianças e adolescentes
OMS como problema de saúde pública. E saúde na realidade brasileira atual é de tamanha gravidade
implica em qualidade de vida; a droga está inserida que tem incomodado todos os setores da sociedade,
e decorre deste contexto. A tentativa de se sendo, inclusive, reconhecida como relevante
compreender a pessoa que recorre a tais substâncias problema de saúde pública, principalmente a partir
deverá ser precedida de uma compreensão do final da década de 80, segundo documentos
adequada pela sociedade a que ela pertence e produzidos no próprio Ministério da Saúde (1993).
como este cidadão nela se insere. Como já Este e outros documentos têm afirmado que o mais
afirmamos, a literatura tem feito muitas referências freqüente tipo de violência a que estão sujeitas as
às razões que determinam a busca das drogas como crianças e os adolescentes no Brasil é a denominada
alívio de tensões internas, tais como angústias, estrutural.
sensações de vazio e/ou depressão de origem e
Segundo Minayo (1993), a gravidade dos casos
intensidade das mais variadas, além do próprio
nesta questão revela a face adulta da sociedade
modismo ( Ministério da Saúde, 1991 ). Entretanto,
brasileira, marcada por profundas desigualdades
somam-se às tensões internas intensidades variáveis
sociais, má distribuição de renda, discriminações de
de tensões externas, representadas pelas mais
raça, cor e sexo, expropriação econômica e cultural,
contraditórias formas de violência.
exclusão da cidadania e privilégios de grupos. Hoje,
Minayo (1990) em seu estudo classificou a violência essa face monstruosa e adulta do país constitui a
brasileira em três categorias: a violência estrutural, violência fundamental, no seio da qual são gerados
quando programada pelo próprio sistema social, com e reproduzidos bio-psíquico-social-culturalmente nossos
suas conseqüências tais como a fome, o desemprego jovens e nossas crianças.
e tantos outros problemas que afligem grande parte
E neste contexto da violência estrutural, pelas razões
da população do país; a violência revolucionária ou
supracitadas, um fato novo nos tem paralisado, a
da resistência, expressa por manifestações de classes
partir do final da década de 80, quando constatamos
e grupos discriminados pela sociedade e a violência
um novo perfil epidemiológico no país, passando as
de delinqüência, que se constitui na forma de
chamadas “causas externas” (homicídios, suicídios e
violência melhor entendida pelo senso comum. A
acidentes) para terceiro lugar no quadro geral de
referida autora ainda afirmou que qualquer forma de
mortalidade (12% dos óbitos) e já se constituindo,
violência deve ser vista em rede e não de forma
nesta década que atravessamos, a primeira causa
estanque e isolada.
de morte entre adolescentes. Perguntamos então:
Vários outros autores já definiram também a violência. Quem está morrendo realmente? Quem está
Entre eles há o consenso em resumi-la como sendo matando? Quem é violento de fato?
Segundo o Movimento Nacional dos Meninos e pela equipe da Fundação Carlos Chagas, registrou
Meninas de Rua e o Instituto Brasileiro de Análises discriminações do pobre e principalmente do negro
Sociais e Econômica (1991), a grande maioria que na escolaridade. A própria distribuição do aluno em
sofreu homicídio é do sexo masculino, com idade de área geográfica onde já no recrutamento das escolas
15 a 18 anos, negro e mulato. Foram assassinados públicas a absorção estabelece crivos diferenciados
em brigas de gangues, roubos, uso de tóxicos, e uma vez constituída a clientela socialmente
“queima de arquivo” ou simples suspeita. Enfim, “homogênea”, os próprios professores passam a atuar
situações que representam “o propósito de exterminar no sentido de reforçar estas diferenças, “na crença
hoje o possível delinqüente de amanhã ”. Neste de que os alunos pobres e negros não são
mesmo trabalho do MNMMR, os exterminadores educáveis”. Ramos Dias (1979) em sua pesquisa
foram detectados como justiceiros, participantes de sobre as desigualdades sociais e oportunidades
gangues de extermínio, esquadrão da morte a serviço educacionais – a produção do fracasso, comentou
de negociantes que se sentem ameaçados, mandantes que os professores de escolas públicas estão pouco
de tráfico de drogas ou simplesmente participantes aparelhados para lidar com a heterogeneidade do
da polícia ou egressos dela. alunado (de classes, étnicas ou raciais), legitimando
com isso as desigualdades sociais, gerando o
E o que é mais grave, o Relatório da Comissão
“otimismo educacional” nas escolas para classe média
Internacional dos Direitos Humanos (ONU, 1992)
(onde todos se orientam para a produção do sucesso
observou que não há mobilização da opinião
escolar) ou a “ideologia da impotência”, nas escolas
pública, na sua maioria, com relação ao extermínio
de clientela pobre onde partem do pressuposto de
de crianças e adolescentes. Os inquéritos policiais,
que filhos de famílias “incompletas”, de pais
quando abertos, são inconclusivos.
desempregados e aculturados não estão fadados ao
Como tem se comportado a sociedade adulta em sucesso escolar.
outros segmentos sociais? Procuremos fazer uma
breve análise sobre dois desses segmentos: a família É dentro deste contexto, como negros e descen-
e a escola. dentes desta etnia e como pobres, miseráveis, que
inúmeras crianças e adolescentes iniciam sua es-
Precisamos rediscutir os conceitos básicos da família, cola, no pressuposto dos que os recebem de que
diante da questão Droga e Violência. Precisamos são “diferentes”, inferiores, para quem não vale a
urgentemente resgatar valores (confiança, respeito, pena qualquer esforço. Considerando a educação
amor) que nos parecem ter sido sufocados no corre- como um “estar com”, perguntamos: como educa-
corre diário. Ainda acreditamos ser a família esse dores, quantas vezes paramos para refletir sobre
espaço privilegiado de socialização, de exercício o porquê de muitos que iniciaram conosco já
de tolerância e função de responsabilidade, ideal, constituírem “ausências” ? Neste “caminhar com”,
enfim, para a prática plena da cidadania. Sabemos a escola tem deixado de exercer sua função de
também, como esta vem sendo exigida nas buscas
ajudar cada criança e adolescente, que necessita
coletivas diárias de estratégias de sobrevivência.
mais de apoio para vencer seus obstáculos natu-
Discutir droga, violência e família requer antes de
rais e menos de quem os imponha dificuldades
tudo a superação de condutas alicerçadas na
ainda maiores. Tem faltado à escola olhar cada
concepção de que a família é incapaz, incompetente,
aluno como cidadão do ensino e não como con-
desestruturada. Precisamente este último preconceito
sumidor deste. O modelo hegemônico da educa-
precisa ser revisto, discutindo desestruturação não
ção, onde a preferência ainda está voltada para
somente sob o pressuposto do modelo nuclear, mas
aqueles intelectualmente melhores, que dão sem-
dentro dos conceitos modernos e atuais de família
pre respostas que a escola quer ouvir e que po-
saudável, cuja prática se fundamenta em outros
tencialmente representam sucesso, contribui para a
valores.
marginalidade, a exclusão de tantos que já ven-
Precisamos também discutir a escola, teoricamente cendo obstáculos para galgar um lugar na sala
protetora, desde que não passe a assumir junto aos de aula vêem seus potenciais podados e seus
jovens atitudes discriminatórias e marginalizadoras sonhos frustrados, só porque muitas vezes não
tantas vezes presentes, conforme exemplos que representam o “modelo” que a escola estabelece
seguem. Hasenbalg (1987), em pesquisa concluída como “normal”.
Por fim, recorremos ainda como exemplo desta mesma Referência Bibliográfica
violência e impunidade a veiculação indiscriminada
01 - CARVALHO, Fernando V., Realidade atual sobre o consumo
do álcool entre adolescentes, onde fabricantes e de drogas. IN: Anais do II Congresso Brasileiro de
vendedores visam sempre esta população como Adolescência. Pernambuco, 1991.
grande promotora de amplas oportunidades de lucro, 02 - GUATTARI, F. et al. Micropolítica - Cartografias do Desejo.
Ed. Vozes, Rio de Janeiro, 1993.
protegido sob os pseudo-rótulos de liberdade. E o 03 - ELIAS, Norbert. A Sociedade dos Indivíduos. Jorge Zahar
direito do jovem de ser protegido, como fica? Editor, Rio de Janeiro, 1994.
Quando entretanto, sob o comando do mesmo álcool, 04 - GASSET, Ortega Y. Em Torno a Galileu. Esquema das
Crises. Editora Vozes, Rio de Janeiro, 1989.
uma cena mais violenta ocorre, mutilando ou ceifando
05 - PERES, F. Adolescência em busca dos sujeitos sociais.
vidas adolescentes (acidentes, homicídios, suicídios, Tese de Doutoramento apresentada à Faculdade de Saúde
etc.) “arvoradores da verdade” logo se levantam e Pública da USP – São Paulo, 1995.
06 - MNMMR – Movimento Nacional de Meninos e Meninas
“vozes justiceiras” se pronunciam em julgamentos
de Rua e Instituto Brasileiro de Análises Sociais e
implacáveis, onde o adolescente comumente é o réu Econômicas (IBASE). Aspectos da Violência contra crianças
e culpado. e adolescentes. Rio de Janeiro, 1991.
07 - MINAYO, M. C. S. A violência na adolescência – um
Podemos afirmar, no convívio próximo com tantos problema de Saúde Pública. Cad. De Saúde Pública VG
Nº 3, 1990.
jovens há anos, que reabastecemos continuamente
08 - MINAYO, M. C. S. O Limite da Exclusão Social – Meninos
nossa confiança em dias melhores através deles, e Meninas de Rua no Brasil. Hucitec – Abrasco, São
desde que venham ter melhores referenciais adultos. Paulo / Rio de Janeiro, 1993.
09 - ONU – Organização das Nações Unidas. Relatório da
Para enfrentar a questão, temos que preparar nossos Comissão Internacional dos Direitos Humanos, 1992.
adolescentes. Na prevenção do problema, 10 - HASENBALG, Carlos A. Desigualdades Sociais e
Oportunidade Educacional – A Produção do Fracasso.
concordamos com Tufik (1988) e não acreditamos Caderno Pesq. (63), Rio de Janeiro, 1987.
na eficácia de atitudes meramente repressivas. Os 11 - RAMOS, Dias, M. Teresa. Tese de Mestrado. IN:
dados não justificam atitudes discriminatórias. A HASENBALG, Carlos. Desigualdades Sociais e
Oportunidade Educacional - Produção do Fracasso –
atenção ao usuário deve ser pautada na promoção INPERJ. Cad. Pesq. (63), Rio de Janeiro, 1987.
de saúde e de melhor qualidade de vida, seja ele 12 - TUFIK, Sérgio. Abuso de Drogas. IN: Adolescência e
Saúde – Comissão de Saúde do Adolescente. Secretaria
residente em suntuoso prédio ou sobrevivente das
de Estado da Saúde de São Paulo. Paris Editorial, São
ruas de qualquer cidade. Paulo, 1988.
Doenças Psicossomáticas
MARIA DE FÁTIMA GOULART COUTINHO
Para termos uma compreensão mais ampla dos relação de amor – a relação mãe e filho. Nessa
processos do adoecer, é fundamental considerar-se fase, pela exigüidade de possibilidades de expressão,
a totalidade do ser humano e das circunstâncias que o corpo passa a ser o veículo de contato com o
o rodeiam. O indivíduo, no decorrer do seu mundo. Na relação sintônica, a criança vai
desenvolvimento, constrói e estrutura formas de ser e encontrando novos meios de comunicação e de
de reagir aos diferentes estímulos aos quais pode ser defesa diante das situações de conflito e na obtenção
submetido no sentido de manter sua homeostase. da satisfação de suas necessidades.
A cada etapa do desenvolvimento, a identidade Assim, a somatização é um mecanismo de defesa
constitui características próprias de cada indivíduo. fixado nas fases iniciais do desenvolvimento afetivo,
Esse processo evolutivo tem início no nascimento, pois a perda da sintonia na relação mãe-filho faz
através dos primeiros contatos na mais profunda com que o bebê reaja fisicamente, uma vez que a
via de comunicação da criança está, a princípio, Segundo Guir, o fenômeno psicossomático possui
quase que exclusivamente constituída por suas funções três etapas: a) separação brutal de um ente querido
vegetativas, pelos seus órgãos (infans = que não (morte, separação, desmame); b) a separação se
pode falar ainda). Essa comunicação pré-verbal repete na realidade ou um conjunto de significantes
constitui-se numa das chaves para o entendimento particulares que relembram ao sujeito; c) antes de
dos processos psicofisiológicos. um ano após a lesão aparece.
Os transtornos psicossomáticos são desordens em O estresse significa um esforço para adaptação,
que os fatores psicológicos contribuem significa- geralmente em resposta a mudanças na vida. O ser
tivamente para o desenvolvimento, exacerbação ou humano é capaz de adaptar-se ao meio ambiente
manutenção da doença. Podem acometer vários desfavorável, mas esta adaptação não ocorre
órgãos e, embora fatores emocionais exerçam impunemente. As doenças de adaptação são
importante papel, não são necessariamente exclusivos. conseqüências de excesso de hostilidade ou de
excesso de reações de submissão. Quando as
Em muitas situações, o termo psicossomático vem sendo
mudanças excedem a capacidade e os recursos
substituído por psicofisiológico – termo que evidencia
adaptativos, os efeitos negativos, tais como sintomas
maior consciência de que os fatores psicossociais e
psicossomáticos, podem emergir.
os biológicos são aspectos inseparáveis e
interdependentes em todas as doenças. Na maioria Na adolescência, encontramos fatores estressores
dos artigos atuais, o termo psicossomático é usado do desenvolvimento, gerado pelas incontroláveis
para sintomas nos quais os achados orgânicos estão mudanças corporais e pela definição do papel
ausentes ou de muito pouca expressão. sexual, além de estressores gerados por eventos
inesperados (rompimento de relacionamentos, confli-
Os pacientes portadores de doenças psicossomáticas tos familiares e escolares, etc.), fazendo com que o
têm uma atividade fantasmática reduzida. Sonham adolescente se refugie no seu mundo interior para
pouco e seus sonhos são “realistas”: eles repetem o que possa fazer uma ligação com o seu passado.
que fazem durante o dia e o que se passa na Sendo assim, há uma somatização normal nessa
realidade. Há muito pouca elaboração psíquica, faixa etária, produto das mudanças biológicas, que
como se o pré-consciente funcionasse de modo são vivenciadas com angústia. Aqui, é importante
insuficiente. Não há afeto, nem via imaginária. Se assinalar que a somatização, assim como os sintomas
lhes sobrevem um acidente da existência, uma perda, psicossomáticos, são diferentes da simulação, já que
um luto, reagem com uma doença somática. A o paciente está sinceramente relatando suas sensações
eclosão psicossomática está correlacionada a corporais e não usa conscientemente esses sintomas
acontecimentos reais, por exemplo, a uma perda. para manipular ou controlar pessoas ou situações,
Existem características que são comuns aos pacientes mesmo que inconscientemente haja ganhos. Além
psicossomáticos: disso, é importante ressaltar que a presença de
uma desordem orgânica identificável não exclui a
– Alexitimia: Impossibilidade de nomeação dos
possibilidade do adolescente poder vivenciar níveis
próprios sentimentos, como uma falha no reco-
elevados de estresse podendo influenciar o curso da
nhecimento de seus estados afetivos;
doença.
– Pensamento operatório: Esses pacientes possuem
Alguns estudos têm procurado identificar componentes
um mundo interno pobre; investem intensamente na
do estresse que possuem maior relação com as
realidade externa, da qual passam a ser dependentes
desordens psicossomáticas. Esses estudos mostram
ou “hiperadaptados”. De ordem pragmática, quando
que os sintomas psicossomáticos são mais freqüentes
sofrem problemas existenciais, intensificam o
em adolescentes submetidos a estilos de vida mais
investimento no trabalho para que este ocupe o lugar
estressantes, nos que apresentam níveis maiores de
interno segurador (mãe). As representações ou
ansiedade e depressão, nos que têm menores recursos
percepções carregadas de afetos são afastadas da
sociais, nos que contam com menor suporte de
mente e as tensões físicas não encontram caminho
parceiros, nas famílias que respondem com atenção
para o psíquico, permanecendo no campo físico.
e privilégios especiais e em que haja altos níveis de
– Anhedonia: Dificuldade de viver emoções somatização, nos que conseguem perceber suas
prazerosas. limitações adaptativas.
Entre os transtornos psicossomáticos, os mais freqüen- responde bem a terapias que combinem terapia fí-
tes na adolescência são: sica e ocupacional, enquanto se trabalham as situ-
– Dor abdominal recorrente: É a mais comum, inclu- ações psicológicas subjacentes.
indo sintomas de motilidade intestinal e dispepsias. – Fadiga crônica
Dados recentes sugerem que crianças e adolescentes – Hiperidrose, acne, alopecia, dermatite seborréica,
com dor abdominal recorrente têm maiores possibili- eczema atópico, urticária, edema angioneurótico;
dades de diagnóstico de síndrome do cólon irritável. – Asma, rinite, sinusite crônica, soluços;
– Cefaléias: Isolada ou em associação com dor
– Colite ulcerativa, cardioespasmo, enterite, mega-
abdominal. A forma mais comum é a cefaléia
colon, cólica persistente, vômitos recorrentes, altera-
tensional episódica ou crônica. Muitas vezes, a
ção da salivação;
cefaléia tensional coexiste com a enxaqueca.
– Taquicardia paroxística, espasmos vasculares peri-
– Dor torácica: Freqüentemente associam à
féricos, enxaqueca, certas epistaxes, hipertensão
possibilidade de doença cardíaca, o que muito
essencial, algumas hipotensões;
raramente pode ser verdadeiro. A ansiedade e a
– Lombalgias, artralgias, mialgias, certas cãibras,
hiper ventilação podem estar associadas e,
bruxismo;
freqüentemente, pode-se relacionar a situações de
maior estresse. – Amenorréia, dismenorréia, TPM, poliúria, disúria,
– Dor músculo-esquelética: Ocorre em mais de 20% perturbações da função sexual;
de crianças e adolescentes e os principais estressores – Vertigens, perturbações do sono;
estão relacionados à família ou à escola. A maioria – Zumbidos, hiperacusia.
No Brasil, apenas 14% das jovens de 15 a 19 anos usam algum tipo de método
anticonceptivo. A pílula é utilizada por 7,9% das jovens nessa faixa etária.
Fonte: Dados de Demography Health Survey - DHS/96; FNUAP - Brasil.
18% das adolescentes brasileiras já tiveram pelo menos um filho ou estão grávidas. Metade
das jovens de 14 a 19 anos sem nenhum ano de escolaridade já havia
sido mãe.
Fonte: PNDS, 1996; CNPD, 1997.
Em 1997, no Brasil, houve 2.178.265 partos, sendo que 32% foram cesarianas.
Fonte: Ecos - Sylvia Cavasin.
Uma em dez mulheres de 15 a 19 anos já tem dois filhos, 49,1% desses filhos foram
indesejados, 20% das adolescentes residentes na zona rural têm pelo menos um filho, 13%
das adolescentes residentes na área urbana têm pelo menos um filho, 54% das adolescentes
sem escolaridade já ficaram grávidas, 6,4% de meninas com mais de 9 anos de escolaridade
já são mães ou estão grávidas do primeiro filho, 20% das adolescentes da região nordeste
têm pelo menos um filho e 9% das adolescentes da região centro-oeste têm pelo menos um
filho.
Fonte: PMDS (Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde).
O que mais preocupa os jovens atualmente? Medo do futuro incerto - 33%, falta de
emprego - 27%, Aids - 14%, violência - 9%, drogas - 4%, gravidez - 3%, todos os ítens
citados - 10% e outros - 1%.
Fonte: Mapa Marketing
A análise e o estudo dos dados e estatísticas relatados jovens, mas proibindo a gravidez precoce. As práticas
têm nos mostrado que, apesar de todos os esforços sexuais pelos rapazes são consideradas manifestações
envidados no sentido de prevenção da gravidez na de virilidade e força. As moças recebem, como os
adolescência, os resultados têm sido precários. rapazes, informações sobre sexualidade, só que há
Falta o quê? Falhamos onde? Como repensar as uma desvinculação com as suas experiências, já que
estratégias? Quais foram as dificuldades no para elas os desejos devem ser reprimidos, ligados
estabelecimento de vínculo com essa clientela? ao casamento, à heterossexualidade e à função
Falhamos na abordagem ou a questão primordial reprodutora. Suas emoções, sensações e seus
não é descobrir o que aconteceu, mas sim o que sentimentos não são considerados. Fica extremamente
faremos a partir de hoje? difícil trabalhar a prevenção da gravidez na
adolescência quando deparamos com uma moral que
No nosso curso “Especialização em Adolescência”
reprova o uso de anticoncepcionais entre as não
da Faculdade de Ciências Médicas, temos trabalhado
casadas, especialmente pelas adolescentes. Além
a atenção integral ao adolescente, numa visão
disso, há um pequeno número de serviços contra-
biopsicosocial, envolvendo profissionais da saúde e
ceptivos para a clientela masculina, a divulgação de
educação. Talvez, pensando numa abordagem
métodos que não atendem às necessidades das ado-
interdisciplinar, possamos ter no futuro resultados mais
lescentes e que sejam para elas adequados, as difi-
satisfatórios ao abordamos questão tão delicada:
culdades no fornecimento de anticonceptivos, princi-
Por que os nossos adolescentes têm engravidado?
palmente para as adolescentes pobres e a ausência
de ações que atentem para as necessidades reais
CONSIDERAÇÕES dos jovens e sua sexualidade.
A sociedade não reconhece e tende a ignorar o
exercício da sexualidade pelos jovens. Muitas vezes,
no processo educativo, qualquer manifestação de
A ESCOLA
sexualidade é negada, reprimida ou vista com uma A orientação afetivo-sexual, programa que vem
certa intolerância, ou a sociedade mostra-se pseudo- sendo implantado e implementado pelas escolas,
permissiva, permitindo o exercício da sexualidade pelos desempenha papel importante na informação e
Faixa etária do Foco Respiratório Foco Digestivo2 Foco Respiratório Foco Digestivo2
hospedeiro ou indeterminado ou Urinário ou Cateter3,4
ou Urinário
Observações:
1.Considerar imunocompetêncla do pacientce procedimentos invasivos, como também a prevalência de
germes e o padrão de sensibilidade do local (CCIH).
2.Com suspeita de foco abdominal, adicionar metronidazol; p. ex.. em apêndice roto, preferir anipicilina
+ gentamicina + metronidazol.
3.Considerar o uso de TMP+SMX e eritromicina na presença de pneumonia intersticial.
4.Uso de anfotencina B nos casos de sepse prolongada (> lO dias), especialmente na presença de
fatores agravantes cara s Candida ap. )ver texto).
5.Conforme a sensibilidade dos Stafilococcus no hospital considerado (CCIH).
Dobutamina
SUPORTE CARDIOVASCULAR
Temos usado a dobutamina sempre que a resposta
Dopamina inotrópica à dopamina falha ou, primariamente. em
A dopamina. quando usada em dose baixa pacientes com conhecida falência da bomba
(2.5-5 µg/kg/min), tem ação predominantemente cardíaca. Iniciamos 5 µg/kg/min e aumentamos
delta. com aumento das perfusões esplâncnica e gradativamente a dose até I5 µg/kg/min. Geral-
renal e com discreta ação cardíaca. Dopamina em mente utilizamos a dobutamina associada a uma
dose média (5-15 µg/kg/min) tem ação predomi- infusão em dose baixa de dopamina (2,5-5 µg/kg/
nantemente beta. Possui moderado efeito inotrópico min) para tirar vantagem de sua ação delta. Doses
positivo, com pequeno risco para taquicardias e menores ou maiores de dobutamina poderão ser
arritmias, promove moderada vasodilatação periféri- usadas conforme variação individual.
ca (efeito beta-2 e delta) e um aumento do DC e
da PAM, tanto pelo aumento da FC, contratilidade, Adrenalina
como pela redução moderada na pós-carga. A adrenalina é uma potente catecolamina endógena.
Dopamina em dose alta (acima de 15 µg/kg/min) com ação simpaticomimética alfa e beta-agonista.
copia alguns efeitos das altas doses de adrenalina Sua ação hemodinâmica é dose dependente.
indesejável no tratamento do choque. assim, nas doses de 0,05-0.2 µg/kg/min. tem um
Traumatismo Cranio-Encefálico
SÉRGIO AUGUSTO CABRAL
Figura 1
100 Pressão
Intracraniana
(mmHg) 4
50
3
2
1
0
Volume Intracraniano
Figura 2
SNC Crânio
Transdutor
Plexo
Coróide
Figura 3
SNC Crânio
Transdutor
Plexo
Coróide
Cérebro
Vilosidades
aracnóides
Espaço
Subaracnóide Foramen
Magnum
Figura 4
50
0 3 6 9 12
Pa CO2 (kPa)
Figura 5
50
0 6 12 18 24
Pa O2 (kPa)
1. É possível avaliar pelo exame clínico quais 3. Existe indicação para radiografia de crânio?
crianças apresentam lesão intracraniana?
As radiografias não apresentam grande utilidade na
Está bem demonstrado na literatura que crianças com avaliação do trauma agudo de crânio. São
TCE podem apresentar, após um período de lucidez, indicações as feridas penetrantes e fraturas com
deterioração clinica importante com sinais de her- afundamento. Não há consenso sobre o manejo da
niação uncal e morte. Este intervalo livre ou período fratura de crânio linear, não complicada. Sugere-se
lúcido é descrito por alguns autores como a Síndrome observação no hospital por 24 horas.
do “ falar e deteriorar”. A sensibilidade do exame
clinico em determinar a presença de lesões
4. As pequenas quedas sofridas por lactentes podem
intracranianas é muito variável, oscilando entre 62
causar lesões graves?
e 100%.
Alguns trabalhos demonstram que os lactentes
apresentam fraturas de crânio após quedas de
2. Quando indicar a tomografia computadorizada?
pequenas alturas (60 a 90 cm). O percentual de
A maioria dos autores recomenda a indicação da fraturas oscila em torno de 5%. Traumas secundários
TC nos pacientes com exame neurológico anormal e a quedas de pequenas alturas (menos de 1,3 metros)
nos que apresentem algum sintoma nas primeiras não ocasionam, de forma geral, lesões fatais.
A Insuficiência Respiratória Aguda continua sendo Ner voso Periférico, Músculos Respiratórios,
uma das causas mais comuns de internação por Pulmões (Vias Aéreas e Alvéolos) e a Vasculatura
risco de vida em unidades de terapia intensiva, a Pulmonar.
despeito dos recentes avanços no conhecimento sobre
A função primária do Sistema Respiratório é a de
fisiopatologia e tratamento pulmonar.
ofertar oxigênio (O2) e remover o dióxido de carbono
Insuficiência Respiratória Aguda é definida como (CO2) do leito do capilar pulmonar. Uma falha deste
troca gasosa ineficaz através dos pulmões pelo sistema resultará em níveis de oxigênio arterial
sistema respiratório. O sistema respiratório inclui: anormalmente baixos, com ou sem níveis arteriais
Sistema Nervoso Central (Tronco Cerebral), Sistema anormalmente elevados de dióxido de carbono.
Após a avaliação clínica devemos proceder a precoce, pode prevenir este evento catastrófico. O
avaliação laboratorial para diagnosticarmos a tratamento inicial da hipoxemia é sempre
Etiologia (Raio-X de Tórax, Hemograma, Culturas e oxigenioterapia, dado inicialmente em altas
outros que se fizerem necessários) e a gravidade da concentrações e, após estabilização do paciente e
Insuficiência Respiratória (Gasometria Arterial), para tendo dados adicionais disponíveis (Gasometria
podermos instituir a terapêutica adequada. Arterial, Oximetria), posterior diminuição progressiva
da sua concentração a níveis adequados para o
paciente. Se a hipoxemia é grave ou se há retenção
importante de dióxido de carbono, a ventilação
TRATAMENTO:
mecânica é indicada. Novas modalidades terapêuticas
O aspecto mais importante no manejo da Insuficiência têm sido utilizadas no tratamento da Insuficiência
Respiratória Aguda é a sua detecção precoce. Muitas Respiratória Aguda: Oxigenador de Membrana Extra-
das causas de Parada Cardiorespiratória em pediatria Corpórea (ECMO), Terapia com Óxido Nítrico,
são de origem respiratória e, somente uma intervenção Reposição de Surfactante e Ventilação Líquida.
Asma no Lactente
MARIA CECÍLIA AGUIAR
A asma brônquica é a doença crônica mais comum fácil de entender, pois a anatomia e fisiologia das
na infância, mas seu diagnóstico no lactente continua vias aéreas nesta idade fazem com que patologias
sendo um grande desafio para os médicos que lidam das vias aéreas inferiores evoluam facilmente para
com esta faixa etária. Não havendo nenhum marcador insuficiência respiratória.
fisiológico, biológico ou imunológico específico para
Não existe um único fator desencadeante de asma,
o diagnóstico de asma, este é baseado numa série
mas fatores de risco para o seu desenvolvimento
de dados, como história pessoal e familiar de atopia,
em indivíduos geneticamente predispostos. Os fato-
tipo de sintomas, fatores de risco, testes diagnósticos
res de risco considerados importantes para o de-
e resposta a medidas terapêuticas.
senvolvimento de asma são: mãe asmática, mãe
Os testes para auxiliar no diagnóstico de asma no fumante, dermatite atópica ou alergia alimentar;
lactente são difíceis de executar. Assim, contamos exposição aumentada a alérgenos respiratórios
com a clínica e a resposta medicamentosa. Além precocemente.
disso, inúmeras patologias podem desencadear Os vírus são os microorganismos mais associados à
sibilância, devendo ser afastadas. Devemos sibilância em qualquer idade, mas no lactente o tipo
considerar doenças de vias aéreas superiores (rinite de vírus e o momento da exposição podem ser
alérgica, rinite infecciosa, sinusite, corpo estranho), cruciais para a indução de atopia e asma. É normal
doenças do trato respiratório médio (membrana lactentes terem 6 a 8 infecções respiratórias por
laríngea, laringomalácia, traqueomalácia, fístula TE, ano; 30% apresentarão sibilância e 2/3 serão
anel vascular, hipertrofia ganglionar, tumores, corpo sibiladores transitórios (em geral apresentam redução
estranho, coqueluche, epiglotite, laringotraqueo- da funcão pulmonar prévia). Segundo alguns traba-
bronquite, disfunção das cordas vocais) e doenças lhos, infecção grave pelo vírus sincicial respiratório
do trato respiratório inferior (asma, bronqueolite, (RSV) aumenta o risco de alergia e o aparecimento
mucovicidose, displasia pulmonar, corpo estranho, de asma. Por outro lado, infecção pelo vírus do
refluxo gastroesofágico, aspiração crônica, bron- sarampo em crianças africanas levou a uma menor
quiectasia, hemosiderose, bronquiolite obliterante, prevalência de asma, uma tendência similar a apre-
tumor). Além da anamnese e do exame físico, existem sentada por japoneses após contrairem tuberculose.
exames importantes para chegarmos a um diagnós- A explicação seria que o vírus do sarampo e o
tico: Hemograma, dosagem das Igs, radiografia de bacilo da tuberculose induziriam a uma resposta Th1
tórax AP e P, seriografia esofagoestomagoduodenal, importante, diminuindo a formação de linfócitos Th2
cinedeglutograma, PPD, exame de fezes, teste de e suas citocinas, responsáveis por manifestações
puntura com alguns inalantes e antígenos alimenta- alérgicas.
res Phmetria, cintilografia pulmonar, US com color
O tratamento da asma no lactente, como na criança
doppler, teste do suor, tomografia computadorizada
maior, compreende o período de crise no qual
de alta resolução pulmonar, estudos citogenéticos,
broncodilatadores (B2 agonistas e brometo de
ECG, PFP, broncoscopia, biópsia pulmonar.
ipratrópio) e corticosteróides devem ser usados no
A morbidade da asma brônquica é muito alta e a tratamento ambulatorial e o período intercrise. A
mortalidade tem aumentado em alguns países, em conduta nesta segunda fase vai depender da
crianças abaixo de quatro anos de idade, o que é gravidade do quadro. Além de um bom controle
ambiental, evitando alérgenos e irritantes, medica- Flunisolida. A dose vai depender do modo de
mentos anti-inflamatórios poderão ser usados por administração e da gravidade do quadro. Os efeitos
inaladores pressurizados (MDI) com espaçador ou colaterais locais com doses altas mais freqüentes
nebulização. As dificuldades para a avaliação dos são irritação facial, moniliase oral e rouquidão.
estudos farmacológicos em crianças com menos de Efeitos colaterais sistêmicos, como supressão de
2 anos de idade são muitas: a população estudada supra-renal e diminuição do crescimento vão
em geral é heterogênea, a amostragem é pequena, depender principalmente da biodisponibilidade
o modo de administração da droga varia, a gravi- sitêmica da droga, que é maior com a
dade da doença difere, a aderência ao tratamento Beclometasona do que com a Budesonida e menor
não é boa, os parâmetros para avaliação são em com a Fluticasona.
geral clínicos e os estudos nem sempre randomizados,
Existem vários questionamentos com relação aos
duplo-cegos e com placebo.
corticóides inaláveis ainda sem respostas, especial-
Há os que preconizem o uso de cromoglicato mente com relação aos riscos versus benefícios.
dissódico ou nedocromil por terem menos efeitos Enquanto aguardamos novas pesquisas, parâmetros
colaterais, mas os anti-inflamatórios mais eficazes para introdução dos CI seriam sintomas duas vezes
são os corticóides inaláveis (CI). Existem diferentes por semana, crises de uma a duas vezes por mês,
drogas, mas a experiência internacional nesta idade ocorrência de crise com risco de vida e interferência
é com a Beclometasona, a Budesonida e a na qualidade de vida.
O fenótipo alérgico parece ser determinado por O delicado equilíbrio imunológico entre mãe e feto
componentes genéticos herdados e modificados por durante a gravidez, através da placenta, leva à
interações com fatores ambientais. Vamos focalizar as prevenção da rejeição fetal. Em condições de
estratégias de potenciais intervenções para a normalidade, o perfil das citocinas Th2 na placenta
prevenção das doenças alérgicas, em especial as do murina está associado a uma gravidez bem sucedida,
trato respiratório, e em particular, da asma. Os genes com adequado crescimento fetal. Apesar de o
responsáveis pela susceptibilidade à asma ainda não desenvolvimento fetal ocorrer em um ambiente tipo
foram identificados. Os efeitos modulatórios dos Th2, a maioria das crianças não apresenta posterior
múltiplos fatores ambientais ainda precisam ser mais doença atópica. Isto provavelmente significa que logo
bem definidos e também precisam ser mais investigadas após o nascimento este grupo muda o padrão Th2
a relação temporal entre doença alérgica e exposição para um Th1. As crianças que irão desenvolver
a fatores ambientais, especialmente durante a vida doenças alérgicas, já apresentam ao nascer uma
intra-uterina e no período pós-natal precoce. produção deficiente de interferon gama por células
mononucleares do sangue de cordão, mostrando um
Nos últimos quarenta anos, houve um dramático
predomínio do sistema Th2.
aumento na prevalência das doenças alérgicas.
Embora não haja uma explicação clara para este Para a prevenção primária de doenças atópicas é
aumento, as alterações ambientais que vêm ocorrendo necessário identificar crianças de alto risco. A
desde os anos 60 podem ter um papel, considerando maioria dos pesquisadores usa a presença de
que o potencial genético para o desenvolvimento de doença atópica na mãe e/ou pai como um critério
doenças alérgicas não se modificou. simples e barato; entretanto, este critério não é
aceito por todos. Marcadores biológicos no recém- o número de infecções nos primeiros meses e anos
nascido poderiam ajudar na identificação das de vida.
crianças de alto risco: de todos até agora
O estabelecimento de tolerância oral a alérgenos
investigados, o único de consenso é o da deficiente
inalantes e alimentares é uma abordagem interessante
produção de interferon gama. A identificação dos
para a prevenção primária da asma. Entretanto,
grupos de alto risco não é fácil. Vários estudos
intervenções imunes (desvio imune ou tolerância) ainda
prospectivos de longa duração, evitando alérgenos
estão em fase experimental e até sua eventual
alimentares e inalantes, não mostraram uma
aplicação ainda há um longo caminho.
diminuição significante na prevalência da asma. A
identificação correta dos grupos de alto risco é A prevenção secundária da asma em crianças com
importante para evitar a implementação de medidas dermatite atópica é possível em alguns subgrupos
preventivas desnecessárias. Na situação atual, pode- desta população, pela administração de um anti-
se recomendar aos filhos de pais atópicos: histamínico (cetirizina) por via oral, por tempo pro-
aleitamento materno prolongado, introdução tardia longado, sem quaisquer efeitos colaterais. Este exem-
de alimentos sólidos, ventilação adequada das plo de uma intervenção farmacológica preventiva
moradias, evitar animais domésticos e a exposição abre a possibilidade de verificar se outras drogas,
passiva à fumaça de cigarro. isoladas ou associadas, teriam também um potencial
de prevenir o aparecimento de asma.
Nos últimos anos, a diminuição de infecções
associadas à produção de interferon gama em Em conclusão, os mecanismos de “priming” e possível
crianças tem sido apontada como uma causa do sensibilização durante os períodos fetal e neonatal
aumento da prevalência das doenças alérgicas. ainda precisam ser mais bem definidos. Além disso,
Apesar das grandes controvérsias em relação ao deve-se definir critérios de identificação de recém-
eventual efeito protetor das infecções precoces, este nascidos de alto risco para o desenvolvimento de
conceito não se aplica a países em desenvolvimento. doenças atópicas. A prevenção primária das doenças
Assim, no Brasil, as famílias são numerosas e é grande alérgicas deve ser nossa prioridade nos próximos anos.
Rinite Alérgica
FRANCISCO JOSÉ PASSOS SOARES
A rinite é uma das patologias mais comuns na infância. A evolução crônica e episódios agudos recorrentes
É de origem alérgica e atinge até 20% das crianças provocam distúrbios no sono e no desenvolvimento
e adolescentes. Embora não apresente predominância psicossocial, comprometendo a produtividade escolar
por gênero ou raça, a prevalência da rinite alérgica e a socialização de crianças e adolescentes, além
parece aumentar em populações de maior poder de interferir na estética, em função de problemas
aquisitivo, com estilo de vida ocidental moderno e ortodônticos. A criança e a família desgastam-se em
que vivem em ambientes urbanos. visitas repetidas a serviços de emergência e
A rinite é definida como uma inflamação da mucosa consultórios devido a epistaxes, otites e sinusites
nasal e caracteriza-se pela presença de um ou mais secundárias à inflamação. Além disso, as crianças
dos sintomas: congestão nasal, rinorréia aquosa, sofrem variados tipos de proibições alimentares e
espirros e prurido. Este aspecto clínico varia entre repressões comportamentais que poderão repercutir
indivíduos na freqüência e gravidade. na vida psicossocial adulta.
A associação muito freqüente com a asma brônquica Tratamento: Medidas de higiene ambiental devem
poderá agravar ainda mais a qualidade de vida de priorizar os dormitórios, sendo consideradas como
uma criança portadora de rinite. O tratamento isolado medidas essenciais o controle dos ácaros, encapar
da asma ou da rinite poderá resultar em insucesso e colchões e travesseiros com capas impermeáveis e
frustração para a criança e os pais, perpetuando a laváveis.Deverá ser evitado também exposição a
falsa crença da incurabilidade das doenças alérgicas. fumaças, principalmente de cigarros, e odores fortes
de produtos utilizados na higiene doméstica.
A família de uma criança com rinite alérgica tem um
custo social aumentado, em função de faltas ao Anti-histamínicos (anti-H1) – são mais eficazes em
trabalho para cuidar do menor e de gastos com filtros, relação ao prurido, aos espirros e à coriza e têm pou-
mudança de móveis, residência e medicamentos. cos efeitos na obstrução nasal. Uma nova geração de
AH elimina a sonolência induzida pelos AH clássicos,
A avaliação clínica deve ser criteriosa: época do
embora tenham originado uma preocupação com respei-
início dos sintomas e eventos relacionados, sintomas
to ao uso de doses elevadas ou habituais de terfenadina
associados no início(sibilo, urticária, febre), sintomas
e astemizol combinados à eritromicina e cetoconazol,
atuais(secreção aquosa ou purulenta, cefaléia, prurido
podendo provocar arritmias cardíacas graves.
e espirros), duração dos sintomas, dispnéia associada
a esforços; fatores desencadeantes; sintomas atuais Drogas mais utilizadas: Cetirizina, loratadina, epinas-
associados (fungados, roncos noturnos, anosmia, tina, azelastina, fexofenadina, ebastina, cetotifeno.
epífora, prurido conjuntival, fadiga, apnéia durante Devem ser utilizados de forma descontínua e de
o sono, halitose), tratamentos prévios, história familiar acordo com a intensidade dos sintomas. Algumas
de alergia, história ambiental (tabagistas, preparações são combinadas com alfa-adrenérgicos,
escolarização precoce, animais, etc.). descongestionantes. Já existem no mercado duas
O exame físico deve ser completo, com observação preparações para uso tópico(azelastina, levoca-
cuidadosa dos ouvidos, narinas, conjuntivas, bastina) de anti-H1, com eficácia aproximada aos
orofaringe e pulmões. de uso sistêmico.
São sinais externos comuns: olheiras, dupla prega Cromoglicato dissódico – de uso tópico, tem ação
infra-palpebral, sulco nasal transverso, fácies razoável na rinite de sintomas leves ou moderados.
adenoidiano. O terço anterior da cavidade nasal Por ser de natureza profilática, deverá ser usado por
pode ser examinado até com o otoscópio, revelando períodos prolongados 4 a 6 vezes ao dia, induzindo
cornetos hiperplásticos, hiperemiados ou pálidos e raros efeitos colaterais locais.
violáceos, secreção hialina ou purulenta (se unilateral, Glicocorticóides: De potente ação anti-inflamatória,
suspeitar de corpo estranho) e pólipos. Na cavidade devem ser administrados por via tópica nasal,
oral observaremos palato ogival e má-oclusão evitando-se os efeitos sistêmicos indesejáveis. Hoje
dentária. existem disponíveis no mercado sprays de
Diagnóstico laboratorial: A detecção da Imuno- beclometasona, budesonida, triancinolona e
globulina E especifica a antígenos, por meio de fluticasona, semelhantes em eficácia e na forma
testes in vivo (teste cutâneos e intradérmicos e testes aquosa. Os efeitos colaterais mais comuns, locais,
de provocação nasal) ou in vitro (RAST) indica ape- são a epistaxe, ressecamento da mucosa e raramente
nas sensibilização, sendo comum às diversas pato- ocorrerá infecção por cândida.
logias alérgicas. Os testes cutâneos devem ser pre- Estudos enfatizam o uso de doses acima de 800mcg/
ferencialmente o método de escolha em função da dia, por período prolongado para que haja
simplicidade técnica e de interpretação dos resulta- interferência no metabolismo do cálcio. A rinite pode
dos, rapidez, baixo custo e maior sensibilidade que ser controlada com doses médias inferiores a
os testes in vitro. 200mcg/dia na maioria dos pacientes.
Alguns indivíduos com ausência de resposta à tera- Imunoterapia por via subcutânea deverá ser utilizada
pêutica com corticosteróides tópicos combinados a quando um paciente apresentar sintomas persistentes
anti-histamínicos deverão ser investigados para fatores apesar do tratamento farmacológico. Não é isenta
associados ou complicações por meio de métodos de riscos, devendo ser realizada por médico
radiológicos (Rx e tomografia) e nasofibroendoscopia. experiente em centro com recursos para reanimação.
Emergências Oncológicas
MARA ALBONEI DUDEQUE PIANOVSKI
Com os avanços no tratamento das neoplasias A VCS é um vaso de paredes finas, com baixa
malignas da infância, atualmente cerca de 70% das pressão intra-luminal. Ao seu redor, estão linfonodos
crianças com câncer são curadas. Emergências que drenam o lado direito, a porção inferior do
oncológicas podem ocorrer tanto no diagnóstico lado esquerdo do tórax e o timo, localizado no
quanto durante o tratamento de manutenção. Muitas mediastino anterior e superior. Tumor ou infecção
vezes, o pediatra é o primeiro médico a quem os nestas estruturas podem comprimir a veia cava e, na
pais recorrem, por ser este o profissional que se criança, a traquéia e os brônquios. Mais comu-
encontra mais próximo e os centros de especialidades mentemente, os tumores malignos são a causa, entre
existem em menor número. Assim, é importante que eles, do linfoma não-Hodgkin, tipo T, da doença de
o pediatra esteja familiarizado com as possíveis Hodgkin, da leucemia linfóide aguda T e dos tumo-
emergências com as quais possa se defrontar. res de células germinativas.
Os seguintes sinais e sintomas podem ser observados:
Patogenia
tosse, dispnéia, ortopnéia, e dor torácica. Menos
Quanto à patogenia, as emergências podem ser freqüentemente, porém mais graves, são ansiedade,
classificadas em três grandes grupos: confusão mental, letargia, cefaléia, visão turva e
1. Causadas por lesões que ocupam espaço e síncope. Os sintomas podem ser agravados se o
comprimem estruturas; paciente for flexionado para punção lombar. Também
2. Secundárias a distúrbios metabólicos; podem ser observados edema, pletora e cianose de
3. Causadas por anormalidades hematológicas. face, região cervical e extremidades superiores,
sudorese abundante, sufusão e edema da conjuntiva.
Nos adultos, o início da SVCS causada por tumor
1. EMERGÊNCIAS CAUSADAS POR maligno é usualmente insidioso; na criança e no
LESÕES QUE OCUPAM ESPAÇO: adolescente os sintomas freqüentemente progridem
rapidamente, em dias.
A. Síndrome da veia cava superior ou mediastinal
superior; O exame físico pode também mostrar linfono-
B. Tamponamento pericárdico; domegalias supra-claviculares ou cervicais.
C. Compressão da medula espinhal; O raio X do tórax mostra massa no mediastino anterior
D. Aumento da pressão intra-craniana; e superior. Efusão pleural e pericárdica podem ser
E. Hepatomegalia volumosa encontradas.
A. Síndrome da veia cava superior (SVCS) refere-se O hemograma é fundamental no diagnóstico,
aos sinais e sintomas de compressão ou obstrução podendo sugerir leucemia ou linfoma envolvendo
deste vaso. O termo síndrome mediastinal superior medula óssea. O perfil bioquímico pode demonstrar
(SMS) é usado quando também ocorre compressão alterações de uréia e ácido úrico, elevação de
traqueal. Nos adultos, predominam os sinais de desidrogenase lática, sugerindo doença linfo-
SVCS, enquanto que na criança é freqüente observar proliferativa. Determinações de alfa-feto-proteína ou
sinais de desconforto respiratório secundário à gonadotrofina coriônica podem ser úteis para o
compressão traqueal. diagnóstico, se bem que os resultados de alfa-feto-
proteína geralmente não são disponíveis em casos do mediastino. Ocorre quando o espaço existente
de urgência. entre o pericárdio e o epicárdio se torna preenchido
por fluído, aumentando a pressão no saco pericárdico
Muitas vezes, é necessário se obter tecido para análise
e podendo interferir com o retorno venoso ao lado
microscópica. É importante lembrar que a criança
direito do coração.
pode não tolerar procedimento anestésico. Durante a
anestesia geral, o tônus dos músculos abdominais Os achados clínicos usuais são: edema facial, dor
aumenta e o dos músculos respiratórios diminui, o pré-cordial, dispnéia, hipotensão, pulso filiforme,
movimento caudal do diafragma desaparece, os bulhas cardíacas hipofonéticas, aumento da silhueta
músculos lisos dos brônquios relaxam e o volume cardio-mediastinal e pulso paradoxal. O tratamento
pulmonar diminui. Estas alterações podem agravar os de emergência consiste de aspiração por agulha do
efeitos de compressão extrínseca da veia cava. A fluido pericárdico e já que efusões malignas tendem
entubação traqueal pode ser impossível e a extubação a recurrer rapidamente, medidas imediatamente
difícil. Os pacientes podem requerer ventilação posteriores devem ser tomadas, com quimio ou
mecânica até que a massa tumoral seja reduzida. radioterapia. A janela pericárdica pode ser uma
opção.
Tratamento:
Se a obstrução é secundária a cateter venoso cen-
tral, infusão de uroquinase 200 U/kg/hora pode C. Compressão de medula espinhal:
lisar o trombo. Há poucas evidências de que A compressão aguda da medula espinhal ocorre em
anticoagulação com heparina seja benéfica. 2,7 a 5% das crianças com câncer.
SMS causada por massa tumoral é uma verdadeira A maioria dos casos resulta de compressão epidural,
emergência; muitas vezes, não se consegue o decorrente da extensão do tumor paravertebral através
diagnóstico anátomo-patológico. Para o bem do do forame intervertebral ou, menos comumente, de
paciente, pode ser necessário tratá-lo antes de se extensão do tumor na coluna vertebral. Os tumores
realizar biópsia. Tratamento tradicional tem sido mais freqüentes são neuroblastoma, sarcoma de
radioterapia: doses tão baixas quanto 200 cGy Ewing, linfoma não-Hodgkin ou doença de Hodgkin.
podem ser suficientes, em se tratando de linfomas. Eventualmente, leucemias agudas podem causar
Deterioração respiratória pode ocorrer após a compressão medular.
radioterapia, por edema traqueal secundário.
Linfonodos incluídos no campo de irradiação podem Cerca de 80% das crianças com compressão medular
se tornar impalpáveis dentro de 24 horas. se apresentam com dor nas costas, localizada ou
irradiada.
Corticoterapia ou quimioterapia incluindo ciclo-
fosfamida são alternativas razoáveis para irradiação. O raio X da coluna pode evidenciar lesão lítica. O
As características histológicas podem se tornar sem melhor exame atualmente é a ressonência magnética
condições de interpretação em 48 horas. A avalia- nuclear.
ção do paciente deve ser dinâmica e a biópsia
O paciente com história de disfunção medular
obtida tão logo haja melhora das condições respi-
rapidamente progressiva necessita de imediata
ratórias.
atenção. Deve-se administrar dexametasona
Devido ao risco de trombose, flebite e inadequada intravenosa, na dose de 1 mg/kg. O paciente sem
distribuição das drogas, injeções intravenosas nos anormalidades neurológicas pode receber dose
membros superiores são contra-indicadas: assim, toda menor, 0,25 a 0,5 mg/kg, por via oral, a cada 6
infusão intravenosa deveria ser administrada nas veias horas, seguidas por exame de RM nas próximas 24
dos membros inferiores. horas. Se o aspirado de medula óssea não confirmar
Resposta rápida ao tratamento pode resultar na diagnóstico de leucemia, a abordagem cirúrgica para
síndrome de lise tumoral aguda (ver adiante). biópsia e descompressão devem ser agilizadas. A
laminectomia geralmente é suficiente para descom-
B. Tamponamento pericárdico: primir a medula.
É uma complicação rara que pode ser vista em O diagnóstico e tratamento precoces são essenciais
associação com linfomas ou outros tumores primários para recuperação das funções neurológicas.
D. Aumento da pressão intra-craniana. Embora este tumor possa apresentar regressão espon-
Os tumores cerebrais são os tumores sólidos mais tânea, seu tratamento deve ser cogitado frente às
freqüentes na infância, com uma incidência anual complicações acima assinaladas. A instituição do tra-
de 4 em 100.000 crianças. A maioria dos tumores tamento deve ser considerada mais cedo nos lactentes
cerebrais pediátricos manifesta-se por sinais e sintomas com menos de 4 semanas de idade. Regimes
de aumento de pressão intra-craniana. quimioterápicos podem incluir doses baixas de
ciclofosfamida. Radioterapia, na dose de 150 cGy
As manifestações clínicas variam de acordo com a por dia, durante 3 dias, também pode ser eficaz.
idade. Os sinais e sintomas no lactente incluem
alterações da personalidade, vômitos, letargia,
desaparecimento das habilidades motoras previamente 2. EMERGÊNCIAS CAUSADAS
adquiridas, convulsões e sintomas de hidrocefalia
obstrutiva e aumento do perímetro cefálico. POR DISTÚRBIOS METABÓLICOS:
A avaliação de um paciente com suspeita de hipertensão A. SÍNDROME DE LISE TUMORAL:
intra-craniana deve ser ágil. A tríade de Cushing pode As alterações metabólicas mais importantes, vistas
estar presente: bradicardia, hipertensão e apnéia. na síndrome de lise tumoral são: hiperuricemia,
Qualquer um destes sinais, assim como alterações outras hipercalemia, hiperfosfatemia com hipocalcemia, que
do padrão respiratório, tamanho e reatividade pupilar, podem ocorrer individualmente ou como parte da
alterações da função motora ou sensorial, indicam síndrome completa.
necessidade de descompressão urgente.
Síndrome de lise tumoral aguda é uma conseqüência
O diagnóstico deve ser confirmado por TAC ou RM. da liberação rápida de metabólitos intra-celulares
A punção lombar geralmente está contra-indicada (ácido úrico, potássio, fosfato), na corrente sangüínea,
na avaliação inicial. em quantidades que excedem a capacidade excre-
tora dos rins. Ocorre mais freqüentemente nos pa-
O tratamento inclui dexametasona IV, na dose de
cientes com grandes massas tumorais, tais como
0,5 a 1,0 mg/kg, seguida de 1 a 2 mg/kg
linfoma de Burkitt, ou síndromes leucemia-linfoma T.
diariamente. Também pode ser administrado manitol
a 20%, na dose de 1 a 2 g/kg. O manejo destas alterações é complicado pela pro-
pensão do ácido úrico e fosfato de precipitarem nos
E. Hepatomegalia volumosa túbulos renais e causar insuficiência renal. Orienta-
ções de tratamento podem ser vistas nos quadros I
Torna-se uma complicação emergencial nos lactentes
e II.
com neuroblastoma, estádio IV s. A hepatomegalia
decorrente da infiltração tumoral pode causar A função renal e as alterações metabólicas devem
comprometimento mecânico dos sistemas respiratório, ser monitorizadas várias vezes ao dia, especialmente
cardiovascular, gastro-intestinal e renal, além de quando se observar diminuição do tamanho do tumor,
coagulação vascular disseminada. o que pode acontecer em horas pós tratamento.
Anemias
FRANCISCO DE PAULA RAMOS PEDROSA
Figura 1
Representação esquemática dos sintomas da anemia. Relação entre os níveis de hemoglobina e sintomas,
que dependem da velocidade de instalação da anemia e da capacidade de adaptação de cada paciente.
história e no exame físico. Inicialmente, devemos ou a presença de formas especiais como hemácias
solicitar um hemograma, que nos fornece níveis de em foice ou em alvo orienta no sentido do
hemoglobina, índices hematimétricos, contagem de diagnóstico. Os índices hematimétricos nos informam
leucócitos e morfologia das hemácias. Além do se estamos diante uma anemia microcítica,
hemograma, deverá constar da solicitação inicial normocrômica ou macrocítica e, conseqüentemente,
uma contagem de reticulócitos e plaquetas. orientam no sentido da etiologia. (Tabela 2).
O exame do esfregaço do sangue periférico é o Com as informações obtidas com estes exames,
procedimento mais simples na avaliação laboratorial associadas às fornecidas pela história e pelo exame
do paciente com anemia, porém fornece informações físico, necessitaremos ou não solicitar outros exames,
muito importantes para a condução do diagnóstico tais como: ferro sérico, capacidade de combinação
etiológico da anemia. A presença de microcitose, do ferro, ferritina, protoporfirina eritrocitária livre,
macrocitose, policromasia, esquizócitos, esferócitos Coombs, eletroforese de hemoglobina, mielograma.
É freqüente a história de infecção aguda, geralmente efetuado, para excluir outras causas de tromboci-
viral, 2 a 3 semanas antes do início dos sintomas. topenia. Tem sido questionada a necessidade de rea-
Mais comumente são infecções de vias aéreas lização de mielograma para diagnóstico, baseado no
superiores, outras vezes são viroses da infância como fato de que seria muito improvável que uma criança
rubéola, sarampo e varicela. Vacinação com vírus com aplasia ou leucemia tenha contagem de plaquetas
vivo atenuado, como vacina Sabin ou MMR, pode inferior à 10.000/mm3 e ao mesmo tempo taxa de
também anteceder o episódio. hemoglobina, contagem e diferencial de leucócitos
normais. Nossa conduta é realizar o mielograma nos
O paciente típico é uma criança jovem, de 2 a 7
casos de trombocitopenia crônica e também antes do
anos, saudável, que recentemente adquiriu uma
uso de corticóide, pois esta droga poderia mascarar a
infecção viral não específica. Subitamente desenvolve
evolução natural da leucemia aguda.
petéquias, equimoses, epistaxe e/ou gengivorragia.
Mais raramente hematúria ou hemorragia digestiva Tratamento: Um aspecto questionado é quanto à
acompanham o quadro. O exame físico é completa- necessidade de hospitalização. A maioria das crian-
mente normal, exceto pelas manifestações de ças pode ser tratada ambulatorialmente, com avalia-
sangramento. O baço não é normalmente palpado. ção clínica e hemograma 1 a 2 vezes por semana.
O quadro clínico de apresentação pode ser abrupto, Nossa conduta é limitar os casos de hospitalização
com manifestações agudas e graves de sangramento, às crianças com hemorragias externas intensas e com
ou leve, com aparecimento de petéquias e equimoses, risco de vida e quando não se pode dar crédito aos
que são inicialmente atribuídas ao trauma. Das ma- cuidados a serem dados em casa.
nifestações de sangramento, a hemorragia intra-
Se a criança apresentar um quadro leve de púrpura,
craniana é a que determina a maior morbimortali-
pode-se manter conduta expectante com medidas
dade na PTI e ocorre em aproximadamente 1% dos
básicas de suporte: repouso relativo à intensidade
casos.
da trombocitopenia, proibição da ingestão de
O risco é maior no primeiro mês após o diagnósti- aspirina, anti-histamínicos e injeções intramusculares
co. Entretanto, pode ocorrer em qualquer tempo em e imunização com qualquer tipo de vacina.
que houver trombocitopenia persistente, com conta-
A indicação do corticosteróide e/ou gamaglobulina
gem de plaquetas inferior a 20.000/mm3. Fatores
intravenosa na PTI é controversa. Apesar de não
de risco consistem de petéquias em palato, hemor-
modificar a história natural da doença, foi demonstra-
ragia retiniana e manifestações de sangramento ati-
do um aumento mais rápido das contagens de
vo em qualquer superfície mucosa. Os sinais e sin-
plaquetas. É indicado em casos selecionados em que
tomas de sangramento intracraniano incluem cefaléia
é antecipado um risco maior de hemorragia severa,
importante, irritabilidade seguida de confusão mental
como crianças com plaquetas <20000/mm3 e
e, finalmente, convulsão. Alguns estudos sugerem que
sangramento intenso de membranas mucosas ou
a cefaléia é o primeiro sinal clínico a aparecer, às
<10000/mm3 com púrpura leve. Gamaglobulina
vezes 12 horas antes do comprometimento mais
intravenosa tem sido indicada quando há necessida-
generalizado. Pacientes com trombocitopenia e
de de aumento rápido de plaquetas, como, por exem-
cefaléia devem ser considerados de alto risco para
plo, antes da cirurgia ou em pacientes com hemorra-
sangramento em sistema nervoso central e ade-
gia extensa e com risco de vida. É uma medicação
quadamente manejados.
extremamente cara.
Exames complementares na PTI: Hemograma com
A administração de concentrado de plaquetas está
contagem de plaquetas, avaliação do esfregaço
contra-indicada como medida de rotina nos pacientes
sanguíneo e tempo de sangramento. Provas de
com PTI. Como o anticorpo antiplaquetário é dirigido
atividade inflamatória , pesquisa de células LE e FAN,
contra plaquetas autólogas e homólogas, estas serão
devem ser realizados em pacientes com PTI crônica.
rapidamente destruídas na circulação do receptor.
A alteração no hemograma é a diminuição do número Entretanto, nas hemorragias com risco de vida, como
de plaquetas, sendo que na medula óssea o número hemorragia intracraniana e gastrintestinal maciça, há
dos megacariócitos é normal ou aumentado. Todas as necessidade de manejo agressivo que inclui corticos-
crianças devem ser examinadas pelo hematologista e teróide em altas doses, gamaglobulina endovenosa,
um estudo cuidadoso do sangue periférico deve ser além de doses altas de concentrado de plaquetas.
4. TROMBOCITOPENIA CAUSADA
LEITURAS RECOMENDADAS:
POR DROGAS: 01 - George JN, Woolf SH: Idiopathic Thrombocytopenic
Purpura: A practice Guideline Developed by Explicit
A. Trombocitopenia Imune: Methods for the American Society of Hematology. Blood 1:
3-40, 1996 Bearsdley DS, Nathan DDG: Platelet
Heparina, quinidina, penicilina, sulfonamida e abnormmalities in Infancy and Childhood, on Nathan and
derivados, rifampicina, digoxina, anticonvulsivantes Oskis´s: Hematology of Infancy and Childhood. W.B.
Sauders Company, 5th edition, 1585 – 1630, 1998.
e clorotiazida.
02 - Medeiros D, Buchanan GR: Current controversies in the
management of idiopathic thrombocytopenic purpura during
B. Disfunção plaquetária: childhood. Pediatric Clinics of North America 43(3): 757-
Aspirina, antiinflamatório: fenilbutazona, indometacina, 772, 1996.
furosemide, nitrofuradantina, antihistamínicos, tranqui- 03 - Bearsdley DS, Nathan DDG: Platelet abnormmalities in
Infancy and Childhood, on Nathan and Oskis´s:
lizantes, antidepressivos, dipiridamol, penicilina, cefa- Hematology of Infancy and Childhood. W.B. Sauders
losporina e lidocaína. Company, 5th edition, 1585 – 1630, 1998.
A finalidade desta é apresentar aos Pediatras em Outras vezes a inspeção pode mostrar um quadro
geral alguns quadros de clínica oftalmológica que aparentemente importante como por exemplo uma
podem ser detectados no berçário ou no consultório hemorragia sub-conjuntival mas clinicamente banal
pediátrico e estabelecer as principais características e que se resolve sem qualquer intervenção. O olho
diagnosticas e terapêuticas. Não pretendemos que vermelho entretanto costuma aparecer em quase todos
os pediatras devam estabelecer o diagnóstico os quadros patológicos e para que esta apresentação
preciso ou o tratamento, bastando que a suspeita não seja excessivamente longa ou complexa mas
seja levantada. Trata-se portanto de determinar os não deixe de mencionar os aspectos mais importantes
casos positivos e encaminhá-los ao exame da clínica oftalmológica escolhemos 10 tópicos que
especializado. expomos a seguir:
Alguns quadros oftalmológicos são tão evidentes que 1) Conjuntivite neo natorum. Até há alguns anos a
é impossível um Pediatra não valorizar o achado. principal etiologia da conjuntivite neo natorum era a
Assim a anoftalmia é um quadro tão chamativo que infecção provocada por Neisseria gonorraehe. A
o recém nato portador desta anomalia oculo cerebral contaminação do feto durante o parto era o fator
é imediatamente rotulado como positivo e infeccioso principal. Atualmente os quadros
encaminhado ao exame com o Oftalmologista e com provocados por Neisseria são muito mais raros e a
o Neurologista. conjuntivite provocada por Chlamidia trachomatis
Outros quadros, não menos graves, podem passar ocupa o primeiro lugar nas etiologias. O quadro
desapercebidos pela inspeção feita pelo Pediatra. clínico é de uma conjuntivite catarral aguda com
Um retinoblastoma, por exemplo se reveste da maior grande edema de pálpebras superior e inferior,
gravidade em função da morbidade e mortalidade hiperemia e quemose, com abundante descarga
quando não tratado à tempo e aparece como um purulenta. O tratamento pode ser feito com colírio
reflexo amarelado através da pupila. Este reflexo se de Gentamicina 1 gt. nos dois olhos cada 2 horas
deve à massa tumoral ocupando a cavidade vítrea, nas primeiras 24 horas e 4 vezes ao dia a partir do
atrás de um cristalino transparente. O efeito é segundo dia até 6 dias tomando o cuidado de
chamado de “olho de gato amaurótico” e deve ser limpar a secreção e crostas com água fervida ou
encaminhado com urgência para a enucleação. soro fisiológico.
Nem sempre os problemas são exclusivos da baixa 2) Conjuntivite Alérgica. Extremamente freqüente na
idade. O Pediatra também deve estar atento a primeira infância isolada ou associada a outras formas
quadros que são raros em crianças apesar de seu de alergia das vias aéreas superiores, pode ser
diagnóstico fácil através da simples inspeção. O sazonal quando provocada por pólen ou crônica
herpes zoster, por exemplo embora seja uma quando assume as vezes a forma de uma conjuntivite
patologia comum de pacientes com idade avançada, severa com papilas gigantes e lesões corneanas. O
pode parecer em crianças. aspecto clínico é de um olho lacrimejante, com
são e a remoção dos agentes causadores de escuro quanto mais forte for o defeito. O tratamento
ambliopia podem evitar sua instatação. A forma consiste em receitar os óculos corretivos e oclusão
descrita anteriormente e provocada por catarata do olho são.
congênita é a mesma que é causada por qualquer
8) Ambliopia estrábica. Nos estrabismos o desvio
outro obstáculo à passagem normal da luz.
dos eixos oculares produz como primeiro efeito visão
Chamamos de ambliopia obscuracional a esta forma
dupla, ou diplopia. Para se defender deste incômodo
que aparece na catarata, na ptose, nas opacidades
sintoma o cérebro rapidamente põe em ação um
da córnea como leucomas e nas opacidades do
mecanismo para eliminar a diplopia, apagando uma
vítreo, como persistência do vítreo primário, restos
das imagens. Este fenômeno chamado supressão é
da artéria hialóide e retinopatia da prematuridade.
transitório no início mas com o tempo passa a
O diagnóstico pode ser feito pela simples inspeção
permanente. Como o passar dos meses o olho com
quando se perceberá que não há passagem
a imagem suprimida não consegue funcionar
adequada de luz na presença de uma mancha da
normalmente por estar suprimido. Com o tempo
córnea, de uma catarata ou de uma ptose. Nestes
apareceram defeitos nas células do corpo geniculado
casos também podemos utilizar um exame muito fácil
lateral e na córtex cerebral. As três formas de
e simples. Trata-se do reflexo vermelho do fundo que
ambliopia são portanto relativamente similares nos
é realizado com um oftalmoscópico de pilha.
fenômenos que ocorrem no SNC. No início, até os
Iluminando-se as duas pupilas ao mesmo tempo de
3 anos de idade, os mecanismos de supressão são
uma distância de 2 metros comparamos a cor dos
reversíveis com a oclusão. Após os 3 anos de idade,
reflexos do fundo do olho. Em geral se um olho
passado o período crítico, a oclusão já não funciona
apresenta um obstáculo à passagem da luz aparecerá
porque aparecem alterações estruturais no trajeto das
um reflexo vermelho mais escuro, ou mesmo ausente
fibras ópticas dentro do encéfalo. Devemos lembrar
enquanto que o olho são apresenta um reflexo
que os estrabismos podem ser confundidos com falso
vermelho alaranjado forte e claro. O tratamento
estrabismo e podem vir acompanhados de desvios
consiste na remoção das causas e oclusão do olho
verticais.
são.
9) Traumas. Um penúltimo capítulo que interessa aos
7) Ambliopia por anisometropia. Esta forma, uma
Pediatras diz respeito aos traumas oculares.
das mais difíceis de tratar e de descobrir
precocemente ocorre quando uma pessoa apresenta No ambiente doméstico, na escola, nos transportes
um grau óptico diferente nos dois olhos, os traumas oculares são freqüentes e sua prevenção
particularmente quando um olho é normal ou quase deve ser a regra primordial porque o tratamento
normal e o outro é hipernatrópico, astigmático ou cirúrgico sempre se acompanha de alterações e
uma combinação de ambos. Nestes casos a causa complicações que podem resultar em perda visual.
da ambliopia não é a falta de passagem de luz, 10) Toxoplasmose congenita. Para finalizar queremos
mas a imagem deformada e de má qualidade que mencionar o problema da toxoplasmose congênita,
se forma na retina do olho com o defeito óptico. O que pode comprometer ambos os olhos e quando as
cérebro escolhe a imagem melhor e “apaga” a lesões são centrais e comprometem de forma
imagem borrada. O reconhecimento desta forma de permanente a acuidade visual. A toxoplasmose
ambliopia, chamada anisometrópica se faz com o materna adquirida durante os 3 primeiros meses de
teste do reflexo vermelho que pode ser feito até no gestação tem uma probabilidade muito grande de
berçário. O reflexo se apresentará diferente nos dois se traduzir por lesões corio retinianas e este achado
olhos, mais claro no olho normal ou quase normal e deve sempre alertar o Pediatra a solicitar o exame
mais escuro no olho com o defeito óptico, tanto mais oftalmológico do recém nato.
As patologias do sistema músculo esquelético são metatarsos comum em crianças no início da mar-
comuns no consultório dos pediatras e o termo cha, a torção interna de tíbia, comum entre 2 e 5
“ORTOPEDIA” sintetiza bem a relação da anos e a anteversão do colo do fêmur, a mais co-
especialidade com as doenças na infância. mum delas e freqüentemente preocupando os pais e
os pacientes após os 5 anos de idade. Todas três
Algumas doenças congênitas freqüentes devem ser
possibilidades têm evolução favorável e raramente
enfatizadas pelas peculiaridades no seu diagnóstico
requerem qualquer tipo de tratamento.
e tratamento.
As deformidades angulares, principalmente dos
O pediatra clínico deve estar atento ao diagnóstico
joelhos, são também muito comuns. O joelho varo
diferencial do torcicolo, principalmente em relação
geralmente não é patológico em crianças de baixa
aos problemas oftalmológicos, como o estrabismo
idade quando está relacionado a fatores raciais,
vertical; problemas neurológicos, como as lesões da
torção interna de tíbia muito acentuada e quando
base do crânio; defeitos vertebrais, como o síndrome
apresenta radiografia onde a média do ângulo
de Klippel-Feil e também à possibilidade da
metáfiso – diafisário é menor que 11 graus. O
associação do torcicolo congênito com a luxação
diagnóstico diferencial deve ser feito com os diferentes
congênita do quadril.
tipos de doença de BLOUNT.
As escolioses congênitas devem ser avaliadas com
A deformidade em valgo dos joelhos é freqüentemente
relação ao risco de associação a má-formações
fisiológica entre os 2 e 5 anos de idade e está
cardíacas e renais.
mais relacionada a crianças com maior peso
A luxação congênita do quadril é hoje conhecida corporal.
como displasia do desenvolvimento e os esforços
O pé plano valgo, que pode ser rígido ou flexível,
dos pediatras devem estar voltados para o diagnóstico
é na maior parte das vezes fisiológico e não necessita
precoce. A manobra de ORTOLANI deve ser
tratamento ortopédico.
complementada com a de BARLOW e também o
uso da Ultrassonografia favorece a avaliação precoce Outro problema pediátrico comum é a dor nos
dos quadris suspeitos de displasia do desenvolvimen- membros inferiores em crianças. Segundo o “National
to. Outro fator importante é o esclarecimento dos Center of Health Science”, 7% das consultas
pediatras da necessidade do exame periódico dos pediátricas estão relacionas a dores nos membros
quadris durante o primeiro ano de vida, visto a inferiores.
possibilidade da displasia acetabular desenvolver-se As doenças infecciosas do sistema músculo esquelético
neste período. estão entre as principais causas de dor e claudicação.
Outra doença congênita comum é o pé torto Vale a pena ressaltar a importância do diagnóstico
congênito. Com relação a esta deformidade deve precoce principalmente da artrite séptica, da
ser enfatizada a necessidade do encaminhamento freqüência da osteomielite sub aguda e também a
para centros especializados, uma vez que as importância da cintilografia para o diagnóstico
correções secundárias estão muito sujeitas a maus precoce das infecções axiais.
resultados . As diferentes síndromes dolorosas da articulação do
quadril em crianças são também comuns e devem
As deformidades torcionais e angulares são muito
ser abordadas para discussão.
comuns no dia -a- dia do pediatra. Uma das principais
queixas no consultório dos ortopedistas é a marcha A sinovite transitória do quadril, com suas
com a ponta dos pés voltadas para dentro. Três características principais, constitue-se em uma doença
possibilidades, que são idades dependentes, podem com história e evolução natural conhecidas, tendo
ser comumente levantadas: a deformidade dos uma relação causal com a Doença de Legg-Perthes.
A doença de Legg- Perthes é ocasionada por múlti- A epifisiolise femural superior do adolescente tem seu
plos infartos ao nível da articulação do quadril e tem tratamento regrado através de um parafuso canulado
seu prognóstico relacionado ao grau de necrose e e os métodos modernos permitem uma melhor
idade do paciente no início da doença. exposição e adaptação destes instrumentais nacionais.
A respiração oral constitui um problema de interesse Lateralmente brotados da cavidade nasal estão os
médico-odontológico, tanto nos seus aspectos vários seios: os maxilares, o etmóide e o frontal,
etiológicos, sintomáticos como nos terapêuticos. sendo espaços preenchidos por ar, cuja função não
é bem definida.
Durante o repouso, um indivíduo respira de 12 a 15
vezes por minuto, 500 ml de ar penetram em cada O tabique nasal, por sua vez, é formado pela lâmina
respiração, ou seja, 6 a 8 litros por minuto são perpendicular do etmóide, o vômer e a cartilagem
inspirados e expirados, o que representa de 10.000 quadrangular, que rege o formato do nariz e onde
a 12.000 nas 24 horas. se realizam operações que visam a retificação dos
desvios septais e restauração da respiração
insuficiente.
TRAJETO DA CORRENTE AÉREA
ATÉ CHEGAR AOS ALVÉOLOS As paredes laterais são compostas pelas apófises
pterigóideas, maxilares superiores e massas laterais
PULMONARES
do etmóide, apresentando saliências horizontais
Este trajeto inicia-se no nariz, que constitui dirigidas de frente para trás, os cornetos, formados
característica da espécie humana e ocupa um bloco por uma lâmina óssea coberta por mucosa.
retangular com os seios da face, ficando entre a
Debaixo de cada corneto existe um espaço em forma
abóbada palatina e a base do crânio.
de canal ântero-posterior, chamado meato.
Na parte anterior, a cavidade nasal tem uma
O piso inferior (cornetos e meatos inferiores e
polegada de largura e uma polegada e meia na
medianos) está destinado à passagem do ar da
parte posterior, onde ocupa maior espaço, devido à
respiração, enquanto o piso superior serve para o
diminuição do tamanho das órbitas.
olfato.
Apresenta-se dividida em duas câmaras pelo septo
A mucosa do piso inferior é grossa e sua
nasal, que, teoricamente, deveria seu uma linha reta. vascularização abundante dá cerca de 500cc de
o que de fato raramente ocorre.
água por dia ao ar inspirado, também dando
As paredes laterais do nariz, por outro lado, passagem a um número incalculável de leucócitos,
apresentam-se consideravelmente maiores pela que englobam e destróem as bactérias do ar
presença de cornetos e dos seios nasais. Os cornetos, inspirado, que a capa de muco detém na superfície
especialmente o inferior, estão cobertos por uma da mucosa, protegendo o organismo contra
mucosa muito vascularizada, similar ao tecido erétil numerosas infecções. A este fato damos o nome de
do pênis, em sua estrutura. fagocitose nasal.
O epitélio nasal é estratificado e ciliado, sendo que Além desta filtração, temos outra muito mais importante
estas características variam de local para local. que é por precipitação turbulenta. Quando o ar
penetra no nariz, encontra muitos locais que
As funções do nariz sobre o ar que por ele transita
funcionam como “aspas obstrutivas”, tais como,
são as seguintes:
cornetos, tabique médio, parede faríngea, e ao entrar
• Aquecimento em contato com estas obstruções, o ar deve mudar
• Umidificação seu curso, e as partículas suspensas nele, por terem
• Filtração massa maior que o próprio ar, não podem mudar
seu curso rapidamente, seguindo mais adiante e se
O aquecimento é executado, particularmente, pelos chocando com as superfícies obstrutivas (anteparos).
cornetos, em virtude de sua rica vascularização, o
que lhes permite funcionar como verdadeiros Partículas de fumo, que têm aproximadamente 0,3µ
radiadores. de diâmetro passam pelos alvéolos pulmonares quase
sem perda de partículas e a maior parte volta aos
A umidificação é, como dissemos, função da porção pulmões com o ar expirado.
inferior das fossas nasais que, para tal, secreta cerca
de 500 ml de água por dia, que se mistura com o Ultrapassando as fossas nasais, a corrente aérea
ar inspirado. atinge a faringe, entrocamento para passagem de
ar e alimentos e pertencente aos aparelhos digestivos
A filtração, quando se trata de partículas volumosas, e respiratórios. É construída pela metade superior de
é feita através dos pêlos. um tubo, formando uma goteira de concavidade
Segundo Comroe (1967), partículas de 2 a 10µ voltada para frente. Muito importante é a presença
podem aderir-se à parede da traquéia, aos brônquios no fórnix da faringe, ou seja, sua parte superior, das
e bronquíolos. vegetações adenóides (tonsilas) e também das
“tonsilas tubárias”, que devido as suas íntimas relações
Partículas de 0,3 a 0,2 µ de diâmetro e os gases com os ;óstios das tubas auditivas ou trompas de
e vapores estranhos chegam aos condutos alveolares Eustáquio, podem muitas vezes, obstruí-los. As tonsilas
e alvéolos. Partículas como o silício, pó inerte, são estão situadas atrás da saída da trompa de Eustáquio.
captados; bactérias e vírus são depositados ou
Em seguida à faringe temos a laringe, em cujo interior
removidos, e vapores irritantes e tóxicos são
encontramos as cordas vocais. Pela deglutição, a
absorvidos como partículas grandes. Salvo em casos
laringe move-se no sentido de obstruir sua entrada e
de excesso de função, os mecanismos de filtração
impossibilitar a penetração de substâncias alimentares
conservam os alvéolos praticamente estéreis. Esta
em direção aos pulmões.
filtração é executada pelos cílios e seus movimentos.
Entre a laringe e os brônquios temos a traquéia, cujo
Os cílios são estruturas primitivas que se encontram
arcabouço é constituído por cerca de 20 anéis
em toda extensão do aparelho respiratório,
cartilaginosos incompletos para trás, que são as
excetuando-se partes da faringe, terço anterior das
cartilagens traqueais e têm forma de um “C”.
fossas nasais e unidades respiratórias terminais.
Inferiormente, elas se bifurcam em dois brônquios
Sua velocidade de impulsão é de mais ou menos principais, dividem em brônquios de 2ª e 3ª ordens,
16mm por minuto, e o dessecamento os lesiona de os quais se ramificam em bronquíolos, que penetram
forma irreversível. Seus movimentos só se processam nos lóbulos pulmonares.
no muco, e não no ar, e a ação da onda é
Os pulmões, finalmente, são órgãos extraordi-
impulsionar a capa de muco (e as substâncias nela
nariamente elásticos e estão recobertos pela pleura.
contidas) até a zona alta do aparelho respiratório.
A superfície externa dos pulmões (pleura visceral) é
Sua forma é invariável de dois filamentos centrais constituída por uma membrana fina, úmida e brilhante
rodeados por uma auréola de nove. que envolve os pulmões e recobre a caixa torácica
interiormente (pleura parietal). Os capilares
O muco, por sua vez, é composto, principalmente
pulmonares somam uma superfície de 100 m2.
por mucopolissacarídeos (complexo com ácido
siálico), ao qual está unido intimamente e, talvez, Após compreender este roteiro da corrente aérea, é
possa separar-se fisicamente das mucoproteínas. necessário sabermos como ocorrem a inspiração e
expiração, que resultam de complexos movimentos primeiros dias de vida como resposta após o
musculares acompanhados de deslocamentos das nascimento, à flora normal, estafilococos da pele e
costelas e cuja finalidade é aumentar e diminuir a Escherichia coli, no trato intestinal. A Ig A aparece
área torácica interna. após o 30º dia de vida e aumenta vagarosamente
até a puberdade. A Ig gama G é a fração mais
Os músculos responsáveis são divididos em:
importante das gama-globulinas e consiste em vários
Inspiradores milhares de anticorpos específicos contra infecção.
• Diafragma
Inicialmente, estas globulinas provêm do sangue
• Intercostais externos materno e, pela placenta, vão ao feto, desapare-
• Intervertebrais cendo mais ou menos no 3º mês de vida; após o
• Esternocleidomastoideo nascimento a criança repõe a gama-globulina G e,
aos 5 meses, está reposta a mesma quantidade que
Expiradores a mãe lhe doou. Daí até os 16 anos de idade
• Intercostais internos aumenta, para, então, estabilizar sua taxa.
• Abdominais
As tonsilas palatinas são obstrutivas à respiração
• Peitorais menores nasal. Às vezes, quando estão muito hipertrofiadas,
pressionam a parede posterior da faringe, quando a
CAUSAS MAIS COMUNS boca é muito aberta e inicia-se o reflexo do vômito.
Estas crianças são conhecidas como “vomitadoras
DA RESPIRAÇÃO ORAL crônicas” ou “chronic gaggers” (Todd). Em relação
ao volume das tonsilas, segundo Worms e Le Mee,
Amígdalas ou Tonsilias
citados por Vieira Romeiro, “A tonsila mais suspeita
Constam de tecido linfóide, que aparecem mais ou é a que mais se esconde”. O problema das
menos no 6º mês de vida-uterina com infiltrações tonsilectomias é da maior importância. Há cerca de
subepiteliais com linfócitos, e que se assenta no teto 30 ou 40 anos, a conduta era simples e sucinta. Se
e na parede súpero-posterior da nasofaringite. existirem, renovam-nas. Hoje, com os recursos da
Apresenta cinco ou mais fissuras antero-posteriores, eletroforese, que estuda as proteínas do plasma,
com muitas criptas tubulares que se abrem para o aprendeu-se que as imunoglobulinas produzidas pelos
interior da mesma. Os folículos linfóides, com seus tecidos linfóides são muito importantes na função
núcleos, estão dispostos ao longo dos lados destas imunológica.
fissuras ou criptas.
Muitos casos de otite média em que foram removidas
As amígdalas (ou tonsilas) se dividem em palatina,
as tonsilas no sentido de resolver o problema, nada
ou anéis de Waldeyer, e as faríngeas ou de Luschka,
ocorreu, em virtude das trompas do Eustáquio serem
sendo que esta não apresenta criptas e é revestida
congenitamente pequenas.
por um epitélio pseudo-estratificado cilíndrico ciliado
(epitélio respiratório). As tonsilas palatinas diferem Também, na maioria dos casos de alergias as
das faríngeas ou adenóides, no epitélio estratificado adenotonsilectomias não resolvem. As indicações
escamoso que cobre e na presença de tecido fibroso atuais são as seguintes:
capsular. • Tonsilite folicular – Recorrente, aguda, que culmina
A função essencial das tonsilas é a elaboração dos com infecção crônica e hipertrofia tonsilar.
linfócitos. Os nódulos secundários são considerados • Abscesso peritonsilar.
como tendo um importante papel na produção de • Obstrução mecânica – Esta é a causa muito
anticorpos e estão separados do mundo exterior só importante de respiração oral, valendo acentuar que,
por uma camada de epitélio e em constante contato muitas vezes, se estabelece um círculo vicioso, isto
bacteriano. Segundo Fairchild (1968), como outros é, as tonsilas infectam em virtude da respiração oral,
tecidos de natureza linfóide, constituem fonte e e com isso agravam esta respiração, até que se
imunoglobulinas. estabeleça um quadro crônico.
Estas imunoglobulinas (Ig), são gama M, A e G. A • Infecções do ouvido médio – Há autores, incluindo
Ig M ocorre no feto, e seu aumento é grande nos 6 Ricketts, que asseveram que a adenotonsilectomia
São hipertrofias do tecido adenóideo normal da Mais propriamente, rinite alérgica, é conhecida desde
nasofaringe, ou mais precisamente da tonsila de 1919, descrita por Bostock, citado por Alcântara e
Luschka. Geralmente, obstruem os orifícios nasais Marcondes. Foi denominada inicialmente febre do
posteriores. A hiperplasia de todos os tecidos linfóides feno, denominação imprópria, pois na realidade não
ocorre entre 2 e 6 anos de idade (período de há febre e a rinite não é provocada pelo feno, mas
hiperplasia linfóide fisiológica). Constam de 4 a 6 pelo pólen de várias plantas, por diversos antígenos
lóbulos implantados na parte superior do cavum, à inalantes ou alimentares. O quadro se caracteriza
altura da apófise basilar do occipital, aderidos uns por rinorréia mais ou menos intensa, espirros em
aos outros e dirigidos de cima para baixo. Seu salva, coriza clara, prurido nasal, ocular ou palatino,
volume varia desde um espessamento até o e fases de obstrução nasal com dificuldade
fechamento total do cavum. respiratória e sensação de obstrução nos ouvidos.
Pêlos, penas, mofos, alimentos inalação de drogas
Propagando-se para o ouvido, causam surdez são incriminados. Alguns explicam-na como sendo
intermitente ou otite média com ou sem supuração; causada por alimentação à base de vaca no período
para a laringe e traquéia, produzem tosse intermitente neonatal (muito cedo), o que ocasiona edema
e espasmódica e, para o intestino, pela descida de persistente. As mucosas nasal e paranasal,
germes, podem causar enterite. A hiperplasia alergicamente edematosas, causam estase venosa
fisiológica das massas linfóides faríngeas na maxila e estruturas adjacentes pela pressão das
provavelmente explica a respiração oral comum entre veias. Em adição, a ação histamínica causa dilatação
o 4º e 12º anos de vida, quando a atrofia fisiológica marcada da rede aérea capilar nasal, palatina e
das tonsilas e o aumento das dimensões das vias alveolar.
aéreas nasofaríngeas explicam o fato de a respiração
oral obstrutiva ser pouco encontrada no adulto jovem. Lincock, citado por Marks, estudando este processo
em índios Chipewa, jamais observou um caso de
Desvios de Septo Nasal alergia e atribui o fato à alimentação nos primeiros
O septo nasal deve, como dissemos, ser teoricamente meses de vida Ter sido só no seio materno, sem
vertical, não apresentando irregularidades em seu alimentos suplementares ou água. Quando o leite de
vaca ou outros alimentos eram dados na dieta, os meses de inverno, quando a umidade é baixa,
eczema e outras manifestações apareciam. seca a bainha ou camada mucosa e causa
congestão nasal.
Como os alérgenos são os mais variados, e seus
efeitos são contínuos e prolongados (às vezes, durante As crostas mucosas acumulam-se nas passagens
toda a vida do indivíduo) podem conduzir a nasais e causam obstruções mecânicas à respiração
respiração oral quase totalmente crônica. A obstrução normal. Em certos locais industriais onde o ar é
é particularmente severa durante as horas de sono, contaminado, agrava-se tal condição. Em áreas onde
e pode ser completa se o paciente estiver em decúbito característica facial é do tipo estreito e alto, e o
dorsal. clima, desfavorável, ocorre aumento na incidência
de respiradores orais. “Existem mais respiradores orais
Predisposição (passagem aérea estreita) por acre na Inglaterra que em qualquer outro país”
A passagem aérea superior consiste em duas porções: (Osler, citado por Brash).
a nasal e a nasofaringe. Estas se conectam com a
via aérea inferior (árvore traqueobronquial e alvéolos Rinite Crônica e Sinusite
terminais dos pulmões, laringe). As passagens estreitas As rinites são extremamente comuns e foram
são mais facilmente ocluídas pelas obstruções nasais. apontadas como uma sensibilidade da mucosa, em
Isto explica porque a respiração oral ocorre com clima seco e ar contaminado de partículas. Estes
mais freqüência em dolicocefalos, ectomofos, nos insultos repetidos, inevitavelmente rompem as defesas
quais o espaço faríngeo é normalmente alto, mas nasais, que resultam em congestão crônica e
muito estreito (Poncher, Schour e Massler). ocorrência de infecção. Se estabelece um círculo
vicioso e a respiração oral torna-se inevitável,
Brash sugere que as adenóides sejam conseqüência
resultando em congestão crônica.
da fala de espaço na nasofaringe. Linder, Aronson
e Backstom, citados por Watson e colaboradores,
Rinite Atrófica
estudaram as dimensões faciais nasais e orais e
encontraram que crianças altas com faces estreitas e A atrofia da mucosa nasal ocorre ocasionalmente,
palatos ogivais apresentam menor resistência nasal resultando que, embora a passagem aérea nasal se
que as baixas, com face largas e palatos amplos. apresente aumentada, o estímulo reflexo pelo ar ou
Holick relacionou, através de exames teleradio- por via nervosa está perdido. Sobrevém a respiração
gráficos, relação entre a respiração oral e oral.
desenvolvimento da musculatura oral, especialmente
Atresia Congênita das Coanas
os músculos da língua.
Ocasionalmente, as coanas posteriores estão cobertas
Condições climáticas por uma membrana que oclui completamente a
passagem aérea nasal. Isto ocorre raramente.
As fossas nasais modificam o estado higrométrico e
térmico do ar. A temperatura e a velocidade do ar
Hábito Residual
variando, a mucosa nasal é capaz de modificar a
quantidade de secreção, devido a sua inervação Não deve ser confundido com a criança que, embora
vegetativa. Conhece-se bem as modificações respirando pelo nariz, mantém a boca aberta. Este
circulatórias por alterações térmicas. Quando o ar é hábito pode persistir após a remoção da causa
úmido e frio, o nariz aumenta as anfractuosidades, mecânica de obstrução ou, então, ser um hábito que
com isto, o ar se aquece e se depura melhor, se transformou em vício.
enquanto que com ar seco e quente os cornetos
diminuem de tamanho. Imitação
Assim, quando o indivíduo passa de um ambiente É uma característica muito comum na personalidade
quente para o frio, o nariz aumenta as de algumas crianças.
anfractuosidades, produz-se ingurgitação,
aumentando a secreção que, quando exagerada, Hábito de Manter a Boca Aberta
termina em coriza. Concluímos, então, que o ar A respiração nasal é o primeiro instinto da criança.
quente e seco de locais superaquecidos, durante Muitas crianças que mantêm a boca aberta
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Artrites Agudas
MARIA ODETE ESTEVES HILÁRIO
A artrite aguda é caracterizada por um processo A artrite séptica constitui-se em uma urgência
inflamatório (dor, calor, rubor e edema) ao nível reumatológica e deve ser precocemente diagnosticada
articular, com duração de dias a poucas semanas. e tratada. É uma patologia que acomete qualquer
Esta manifestação faz parte do espectro clínico de articulação, podendo determinar danos anatômicos
uma infinidade de doenças, muitas das quais não irreversíveis, principalmente quando seu diagnóstico
são diagnosticadas devido à fugacidade de seu é retardado. Ocorre em qualquer idade, mas é
quadro clínico e limitação laboratorial. Entretanto, principalmente observada em recém-nascidos,
algumas causas de artrite aguda devem ser lembradas lactentes e crianças menores de dois anos de idade,
e afastadas pelo pediatra ou reumatologista após um quadro de infecção de pele ou de vias
pediátrico, em virtude da necessidade de diagnóstico aéreas superiores.
precoce e tratamento adequado, os quais estão O quadril é a articulação mais acometida, seguido
diretamente relacionados ao bom prognóstico de pelo joelho e cotovelo. A AS apresenta-se geralmente
algumas dessas doenças. Deste modo, poderemos como monoartrite, porém duas ou mais articulações
ainda evitar que a criança seja submetida a podem estar envolvidas. O quadro clínico instala-se
tratamentos errôneos, como também a investigações rapidamente e é exuberante, com a presença de
invasivas desnecessárias. febre e queda do estado geral, manifestações estas
que poderão estar ausentes na fase inicial de alguns
casos. Ao exame articular observamos aumento de
TRAUMA
volume da articulação, dor intensa com limitação
O trauma é provavelmente a causa mais freqüente funcional, além de calor e rubor.
de monoartrite aguda em crianças na fase escolar e
O diagnóstico impõe-se principalmente nas crianças
adolescentes. O aumento da articulação pode ocorrer
com monoartrite e deverá ser confirmado através da
minutos após o trauma e é devido à hemorragia
punção articular (artrocentese) para análise do líquido
intra-articular ou fraturas. Havendo estiramento ou
sinovial. Na AS o líquido geralmente é purulento,
ruptura de componentes da articulação, o
tem intensa celularidade ( >50.000/mm3), os níveis
aparecimento de derrame pode levar algumas horas
de glicose estão diminuídos e são visualizadas
ou até mesmo alguns dias. Em nosso meio, o pediatra
bactérias com a coloração pelo Gram. É obrigatória
deve estar atento aos casos de maus-tratos a crianças,
a realização de cultura em meios apropriados
que, infelizmente, estão se tornando cada vez mais
(aeróbios e anaeróbios), que é positiva em cerca de
freqüentes. Nestas situações o exame radiológico
70% dos casos. No hemograma encontramos
pode ser útil, revelando múltiplas fraturas, em diferentes
leucocitose em desvio para a esquerda e a
fases de consolidação.
velocidade de hemossedimentação (VHS) geralmente
está aumentada.
ARTRITE INFECCIOSA
ARTRITE FÚNGICA (AF)
É um processo articular inflamatório caracterizado
pela presença de um agente etiológico na cavidade A artrite fúngica é rara na infância, quase não sendo
articular. observada no período neonatal. A artrite por Candida,
HEMOGLOBINOPATIAS
ARTRITE REATIVA A VÍRUS
As artrites reativas a vírus são mais freqüentes em As hemoglobinopatias, entre elas a doença falciforme
adultos, porém podem ser encontradas em e a talassemia, podem desencadear sintomas ósteo-
adolescentes. Um exemplo clássico de artrite reativa articulares por vários mecanismos, como a isquemia
à infecção viral é o da hepatite B, na qual são por fenômenos trombo-oclusivos e a proliferação
encontrados imunocomplexos circulantes que estariam intensa da medula óssea.
envolvidos na patogenia do quadro articular.
Os pacientes com quadro articular reativo a vírus DOENÇA FALCIFORME (DF)
geralmente apresentam artrite de caráter fugaz e As manifestações ósteo-articulares são freqüentes na
que não deixa seqüelas. As provas de atividade DF, sendo causadas, principalmente, por fenômenos
inflamatória poderão estar normais. trombo-oclusivos e osteomielite secundária. Podem
se apresentar como dor óssea intensa, síndrome mão-
FEBRE REUMÁTICA (FR) pé (em lactentes) ou poliartrite migratória. Esta última,
Entre os critérios de Jones, a artrite é o menos quando associada à anemia leve e sopro cardíaco,
específico e, portanto, o de mais difícil diagnóstico. constitui-se em um importante diagnóstico diferencial
Ela é geralmente aguda, fugaz, habitualmente para a febre reumática.
migratória, podendo ser aditiva e afetando, em
especial, as grandes articulações dos membros HEMOFILIA
inferiores. Tem ainda como características a dor A hemorragia intra-articular (hemartrose) recorrente é
intensa, geralmente limitando a deambulação, poucos um achado típico da hemofilia A (deficiência, no
sinais inflamatórios e a boa resposta aos salicilatos. plasma, da atividade coagulante do fator VIII) e é
uma das causas mais importantes de morbidade da sua evolução. Na maioria das vezes a dor é difusa,
doença. A freqüência de hemartrose está diretamente em ossos longos, preferencialmente nas regiões
relacionada ao grau de atividade do fator VIII e metafisárias. Algumas vezes há artralgia e/ou artrite,
geralmente é desencadeada por trauma. Embora ela principalmente em grandes ar ticulações,
seja mais freqüente a partir do segundo ano de especialmente nos joelhos. O número de articulações
vida, poderá ocorrer mesmo antes que a criança acometidas normalmente é pequeno. A artrite pode
comece a andar. As articulações mais acometidas ter caráter migratório e agudo, simulando a da
são os joelhos, cotovelos, tornozelos, ombros e coxo- febre reumática ou aditivo e crônico, mimetizando
femurais. Este fenômeno é geralmente transitório; a da artrite reumatóide juvenil. Muitas vezes o
entretanto, a sua repetição por traumas sucessivos diagnóstico diferencial é difícil. No entanto, alguns
poderá levar à destruição articular. achados clínicos como anemia importante e dor
articular ou óssea noturna, intensa e desproporcional
aos sinais flogísticos devem chamar a atenção do
DOENÇAS LINFOPROLIFERATIVAS pediatra.
Febre Reumática
MARGARIDA DE FÁTIMA FERNANDES CARVALHO
INTRODUÇÃO EPIDEMIOLOGIA
A febre reumática (FR) é a conectivopatia mais comum Aproximadamente 3% dos pacientes com infecções
da infância, sendo a principal causa de cardiopatia estreptocócicas de vias aéreas superiores não tratados
adquirida em nosso meio na criança e no adulto desenvolvem a FR. Destes, até 30% evoluem com a
jovem. forma grave da doença, a cardite reumática.
Afeta ambos os sexos, podendo aparecer em Embora sua incidência, prevalência, número de
qualquer idade, porém com maior incidência entre recorrências e gravidade tenham decrescido nos
cinco e quinze anos de idade. Apresenta grande últimos anos em alguns países da Europa e nos
tendência a recidivas. Estados Unidos, a FR continua sendo um importante
problema de saúde pública em países pouco
A manifestação clínica mais freqüente é a artrite e a desenvolvidos e o Brasil ocupa o 12º lugar em
mais grave é a cardite. incidência da doença.
CLÍNICA ➣ Cardite
A insuficiência cardíaca congestiva é rara nos surtos A cultura de orofaringe raramente é positiva, devido
iniciais, aparecendo principalmente nos pacientes ao tempo decorrido entre o início da infecção e a
gravemente comprometidos. coleta. Elevação dos títulos séricos de ASLO são
encontrados em pelo menos 80% dos pacientes com
➣ Coréia FR. Quando os títulos iniciais de ASLO não estiverem
A coréia reumática ou de Sydenham aparece após aumentados, recomenda-se a repetição do exame
um período de latência maior do que o observado em duas a três semanas, pela possibilidade de se
na cardite e na artrite (3-6 meses). Caracteriza-se detectar ascensão dos valores prévios. Outros
por movimentos incoordenados, involuntários, anticorpos antiestreptocócicos como a antiDNAse B
predominando nos segmentos distais das e a anti-hialuronidase, estão aumentadas em, pelo
extremidades, na face e na língua que se menos, um dos dois testes, em 90% dos pacientes.
acompanham com hipotonia muscular e labilidade Alterações eletrocardiográficas como bloqueio átrio
emocional. Tem como principal característica o seu ventricular de primeiro, segundo e terceiro graus,
desaparecimento com o sono. É patognomônica da ritmo nodal, extra-sístoles, sobrecarga ventricular
FR, podendo ser usada como critério isolado para o esquerda e fibrilação atrial podem ser observadas
diagnóstico da doença. A duração desses sintomas durante o curso da cardiopatia reumática.
varia de quatro a oito semanas. Alargamento do espaço PR e extra-sístoles também
podem ser encontrados em crianças sem cardite.
➣ Eritema marginado
Erupção cutânea plana e indolor com uma região Em algumas crianças com cardite observa-se
central mais pálida que desaparece com a pressão, cardiomegalia no RX de tórax.
não pruriginosa, fugaz, que ocorre no tronco e nas O ecocardiograma deve ser solicitado sempre que
extremidades e frequentemente está associado à possível a todos os pacientes com diagnóstico de FR
cardite. Pode ser isolada ou coalescente formando para detecção precoce de lesões valvares.
um padrão serpiginoso e aparecendo em caráter
O estudo hemodinâmico deve ser reservado aos
intermitente por vários meses.
casos com comprometimento cardíaco mais
➣ Nódulos subcutâneos significativo, de acordo com a orientação do
cardiologista pediátrico.
Ocorrem nas superfícies extensoras de joelhos, cotovelos,
tornozelos, no occípcio e nos processos espinhosos
das vértebras torácicas e lombares. Têm consistência
DIAGNÓSTICO
firme e podem ou não ser dolorosos. São raros,
persistindo por mais de quatro semanas e geralmente Os critérios de Jones modificados combinando
estão associados à cardite e ao eritema marginado. manifestações clínicas e laboratoriais (presença de
dois sinais maiores ou de um sinal maior e dois
menores) aliados à evidência de estreptococcia
EXAMES LABORATORIAIS anterior são importantes e devem sempre ser utilizados
como um guia no diagnóstico da FR (quadro 1).
E MÉTODOS DE IMAGEM
Os exames laboratoriais na FR têm por finalidade
demonstrar a reação inflamatória aguda, evidenciar DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
a infecção estreptocócica anterior e auxiliar na
O diagnóstico diferencial deve ser evocado em todos
exclusão de outras doenças.
os pacientes que apresentem manifestações mono
Leucocitose, anemia, elevação da proteína C reativa, ou poliarticulares, inflamatórias ou álgicas, que
das α-2 globulinas, da α-1 glicoproteína ácida e da preencham ou não os critérios de Jones, nos quais
velocidade de hemossedimentação são comuns em também devem ser afastadas outras doenças
doenças inflamatórias como a FR. A exceção é a inflamatórias da infância que cursam com
coréia como manifestação isolada da doença, onde manifestações osteoarticulares como a artrite
o indicadores de processo inflamatório podem estar reumatóide juvenil, o lúpus eritematoso sistêmico, as
ausentes. artrites pós infecciosas, a doença de Lyme, a
cardite* febre
poliartrite** artralgia**
eritema marginado elevação proteínas fase aguda (VHS***PCRr***, mucoproteínas)
coréia de Sydenham alargamento de PR no ECG*
nódulos subcutâneos febre reumática anterior
*Cardite como sinal major exclui alargamento de PR no ECG como sinal minor
**Poliartrite como sinal major exclui artralgia como sinal minor
***VHS = velocidade de hemossedimentação; ***PCR= proteína C reativa;
*ECG= eletrocardiograma
Evidência de infecção estreptocócica recente é obrigatória para o diagnóstico de FR (aumento de ASLO ou outros
anticorpos antiestreptocócicos ou cultura positiva para estreptococo do grupo A em orofaringe ou escarlatina recente)
Exceções: Coréia de Sydenham (patognomônica de FR) e evidências de cardiopatia insidiosa ou tardia, sem outra
explicação.
endocardite infecciosa, a anemia falciforme, a As cáries dentárias devem ser evitadas ou tratadas
leucemia linfoblástica aguda e o neuroblastoma. e a higienização de escovas de dentes e aparelhos
ortodônticos deve ser rigorosa pois esses objetos
podem servir de meios de cultura para o
TRATAMENTO estreptococo.
Aspirina - 90 - 100 mg/Kg/dia VO 6/6 h por duas semanas, com redução progressiva em
ARTRITE quatro a seis semanas
Melhora é rápida, ocorrendo em no máximo 48 horas após a introdução do antiinflamatório
Dose máxima: 3 a 4 g/dia
Prednisona 1 - 2 mg/Kg/dia VO (não ultrapassar 60 mg/dia) 6/6h ou
CARDITE
Pacientes que estiverem fazendo Serviço Militar manter o tratamento até o término do serviço
*Após os 18anos - o intervalo entre as doses poderá ser ampliado na dependência, sobretudo, do tipo de
atividade exercida pelo paciente como trabalho em hospitais, escolas e outros locais com alto risco de
contaminação
principalmente nos pacientes que apresentaram coréia incentivo à profilaxia primária do estreptococo e a
na infância ou na adolescência, o que reforça a facilitação do acesso do paciente com FR aos serviços
importância das profilaxias primária e secundária do de saúde para a administração de penicilina benzatina
estreptococo. O grupo de estudo americano criou para a profilaxia secundária da doença, cursos
um nome bastante peculiar para esses distúrbios – itinerantes de atualização para a classe médica, além
PANDAS (pediatric autoimmune neuropsychiatric da criação de campanhas educacionais para a
disorders associated with streptococcal infections). população, visando a diminuição e, talvez um dia, a
sua erradicação da doença em nosso país.
Até o momento não existe vacina antiestreptocócica.
A prevenção da FR deve ser feita pelo uso
sistemático de penicilina benzatina ou V para o
Bibliografia
tratamento de todas as anginas agudas sintomáticas,
01 - Brook I, Gober AE. Persistence of group A beta-hemolytic
principalmente em indivíduos com baixas condições streptococci in toothbrushes and removable orthodontic
socioeconômicas. appliances following treatment of pharyngotonsillitis. Arch
Otol & Neck Surg. 1998; 124: 993-995.
No Brasil, a cardiopatia reumática crônica é 02 - Feldman T. Rheumatic heart disease. Curr Op Cardiol
considerada uma das doenças de maiores custos para 1996; 11: 126-130.
o Sistema Previdenciário. Anualmente, segundo dados 03 - Guilherme L, Weidebach W, Kiss MHB et al. Association
do Ministério da Saúde, são realizadas 10.000 of human leukocyte class II antigens with rheumatic fever
or rheumatic heart disease in a Brazilian population.
correções valvares o que corresponde a 30% das Circulation 1991; 83: 1995-98.
cirurgias cardíacas realizadas no país. Esse percentual 04 - Snitcowsky R. Rheumatic fever prevention in industrializing
pode elevar-se até 90% quando observadas as countries: problems and approaches. Pediatrics, 1996;
97 (supll): 996-98.
cirurgias cardíacas realizadas em crianças.
05 - Stollerman, GH. Rheumatic fever. Lancet 1997; 349:
Desde 1997, reumatologistas pediátricos de todo o 935-42.
Brasil e representantes do Ministério da Saúde 06 - Guilherme L, Cunha-Neto E, Coelho V, Snitcowsky, R et
constituíram um grupo de trabalho que tem como al.: Human-infiltrating T cell clones from rheumatic heart
disease patients recognize both streptococcal and cardiac
principais objetivos o diagnóstico da real situação da proteins. Circulation 1995; 92: 415-20.
doença no nosso meio, o reconhecimento dos locais 07 - Markowitz M. Rheumatic Fever-A Half-Century Perspective.
de maior incidência e dos sorotipos prevalentes, Pediatrics 1998: 102(1S): 272-4.
Avanços no Tratamento da
Insuficiência Cardíaca Congestiva
ANTÔNIO CARLOS DE CAMARGO CARVALHO
O tratamento da insuficiência cardíaca congestiva nestes casos o retorno, com tratamento, aos níveis
(ICC) dependeu, por muitos anos, da utilização de normais de neurohormônios, é associado a um melhor
digital e diuréticos e também do conceito de prognóstico. Finalmente, também ficou evidente que
tratamento da ICC como decorrente de uma falência há substâncias vasodilatadoras secretadas pelo
da bomba, no caso um ou ambos os ventrículos. organismo na tentativa de combater o
desenvolvimento de ICC e que estas substâncias
Ambos os conceitos mudaram radicalmente. Hoje
(bradicinina, fator natriurético atrial, prostaglandinas),
temos uma variedade muito maior de opções
embora superadas pela noradrenalina e congêneres
terapêuticas, empregando diversas formas de
nos estados de ICC, constituem excelente fonte de
medicamentos. Além disso, as alterações
pesquisa terapêutica para o futuro.
neurohumorais passaram a ser extremamente
valorizadas e têm sido responsáveis pelo Houve portanto nos últimos anos uma ênfase em
encaminhamento das soluções terapêuticas hoje utilizar um conjunto de medicamentos sem depender,
existentes. como acontecia previamente, de apenas um ou
O que não mudou e não vai mudar é o diagnóstico dois compostos. Faz parte hoje da rotina de
clínico de ICC. O reconhecimento de ICC passa tratamento da ICC a utilização de inibidores da
por reconhecimento do quadro de taquicardia e enzima de conversão da angiotensina e a
taquipnéia (que são inespecíficos), além de espironolactona. Estão começando a ser utilizados
hepatomegalia. Não se deve esperar pela presença os beta bloqueadores e os inibidores do
de estase jugular, sopros (ajudam só quando angiotensinogênio.
presentes), estertores e edema. Os inibidores da ECA diminuem a produção de
Em neonatos e lactentes é ainda imperativo angiotensina, diminuindo a vasoconstrição e fatores
reconhecer o quadro clínico de baixo débito cardíaco de proliferação celular. Seus efeitos em diminuir pré
em que a criança apresenta, às vezes em poucas e pós-carga facilitam o esvaziamento ventricular. Deve
horas, quadro de irritação, gemência, palidez, pulsos ser iniciado com dose pequena para não provocar
finos e entra em choque com grave acidose hipotensão arterial na primeira dosagem. Entre seus
metabólica, evoluindo para óbito rapidamente. Este efeitos colaterais destacamos ainda tosse seca,
quadro, que se confunde com sepsis, é usualmente incoercível, que desaparece em poucos dias com a
decorrente de lesões obstrutivas críticas e miocardites retirada do medicamento. Pode ocorrer também hiper-
fulminantes, por exemplo. potassemia e aumento da creatinina. O medicamento
mais utilizado é o captopril na dosagem de 0.5 a
Estudos desenvolvidos em adultos envolvendo milhares
2.0 mg/kg/dia, dividido em três a quatro tomadas.
de pessoas deixam claro, de forma indiscutível, que
há uma nítida piora de sobrevida em pessoas com A espironolactona é um diurético poupador de
elevações neurohumorais do tipo aumento de potássio e potência não exagerada. Possui ação
noradrenalina circulante, além de renina, anti aldosterona eficaz. Em adultos o estudo Rales
angiotensina, aldosterona. Mais ainda, demonstraram demonstrou de forma categórica a melhora de
que a diminuição dos níveis destes hormônios, após alterações neuro humorais após a utilização de
tratamento, era associada com queda importante de espironolactona, com aumento significante na
mortalidade. Além disso, ficou muito claro que existe sobrevida destes pacientes, mesmo já estando em
uma fase pré ICC clínica, em que já existe disfunção uso de digital, diuréticos e inibidores da ECA. Em
ventricular e aumento hormonal, implicando uma crianças é utilizado na dosagem de 1 a 2 mg/kg/
situação de falência em desenvolvimento. Também dia, divididos em duas tomadas, após as refeições.
Mais recentemente, em 1997 e 1998, também em da hipotensão inicial pode ocorrer extrasístoles. Em
adultos, o uso de beta bloqueadores em alguns pacientes com insuficiência renal é necessário diminuir
estudos multicêntricos de grande porte revelou-se a dosagem de manutenção. Casos com ICC refratária
benéfico para portadores de ICC. Isto é podem ser submetidos à diálise peritonial,
aparentemente contraditório, pois os beta sempre transitoriamente, para remoção de hipervolemia. Esta
foram considerados como inotrópicos negativos e terapêutica é utilizada em situações extremas e está
em ICC habitualmente existe algum grau de falência associada com mortalidade na faixa dos 50%.
de bomba. No entanto, devido a seu efeito benéfico Além do uso de medicamentos com bases
neurohumoral, os beta bloqueadores também têm neurohumorais e de novas drogas vasoativas, os
demonstrado benefícios quando aplicado a pacientes avanços no manuseio da criança com ICC grave
com ICC. É necessário, entretanto, cautela no seu passam pelo diagnóstico não invasivo mais preciso
uso, iniciando com doses bem baixas e com o e mais precoce, por intervenções hemodinâmicas e
paciente já bem compensado de seu episódio prévio por intervenções cirúrgicas.
de ICC. Mesmo assim, em 15 a 20% dos casos há
piora transitória com o início de uso dos beta e há • O diagnóstico não invasivo hoje, principalmente
portanto necessidade de ajuste de inibidor de ECA com o ecocardiograma transtorácico com Doppler a
e diurético. O propranolol é utilizado na dosagem cores, sofreu uma revolução. Doenças que antes só
de 2 a 6 mg/kg/dia em três a quatro tomadas. Os eram diagnosticadas com estudo hemodinâmico
inibidores do angiotensinogênio são utilizados em passaram a ter seu diagnóstico feito à beira do leito
casos de intolerância ao uso de inibidores de ECA e de forma não invasiva. O eco, por ser não invasivo,
e embora pareçam promissores na terapêutica da também pode ser usado de forma seqüencial,
ICC, seu uso ainda não se encontra largamente repetitiva mesmo, propiciando uma análise adequada
difundido, com experiência mínima em crianças. da evolução de uma cardiopatia. Outros métodos
não invasivos, como a ressonância magnética,
As drogas vasoativas usuais são a Dopamina (2 a progrediram muito e hoje propiciam imagens de
15 mcg/kg/min), a Dobutamina E1 (5 a 20 mcg/ altíssima definição em três planos. A cine ressonância
kg/min), o Nitroprussiato de Sódio (0,25 a 3 mcg/ provavelmente substituirá em pouco tempo as imagens
kg/min) e a Noradrenalina (0.01 a 1.0 mcg/kg/ angiográficas convencionais que hoje empregamos.
min). Duas novas drogas são hoje importantíssimas Este diagnóstico não invasivo preciso e precoce foi
para o tratamento de cardiopatas, especialmente um grande “empurrão” para o desenvolvimento
neonatos: a Prostaglandina (Prostin), fundamental na adicional da hemodinâmica intervencionista e da
estabilização de cardiopatas canal dependente, seja cirurgia cardíaca neonatal.
pulmonar ou sistêmico-dependente. Com o Prostin
• O cateterismo intervencionista, que começou com
praticamente desapareceu a necessidade de
o balão de Rashkind para propiciar melhor mistura
intervenção de emergência, geralmente com a criança
em transposição, através da feitura de um CIA,
em acidose grave e já em pré-parada. O Prostin
progrediu muito. Hoje se consegue dilatar válvulas
é usado na dosagem de 0.025 a 0.4 mcg/kg/min
estenóticas mesmo em recém- nascidos e em estenose
e entre seus efeitos colaterais destacam-se a apnéia,
pulmonar o balão praticamente eliminou a intervenção
febre, calor local, hipotensão e convulsões.
cirúrgica. Hoje se realizam, além das dilatações,
O Milrinone (Primacor) é um inibidor da intervenções para fechar defeitos atriais, ventriculares
fosfodiesterase e tem efeito semelhante ao da e tipo canal arterial. A coarctação de aorta passou
associação entre nitroprussiato de sódio e dopamina. a ser tratada com balões e com stents. Molas e
Tem sido usado em casos de não resposta ao balões destacáveis passaram a ser empregados para
tratamento convencional, mas em alguns centros norte- oclusão de shunts ou fístulas artério-venosas e
americanos já é hoje a droga de segunda escolha fulguração ou ablação para eliminação de arritmias
para o tratamento de ICC grave. É feito um “bolus” tipo Wolff-Parkinson-White. Em síntese, atualmente
inicial de 0.05 mg/kg em 20 a 30 minutos, sendo cada vez mais o estudo hemodinâmico é empregado
muitas vezes necessária a utilização simultânea de como método terapêutico e não mais apenas
volume pela diminuição de pressão arterial que o diagnóstico. Neonatos, lactentes e crianças com ICC
Milrinone pode provocar. A seguir é utilizada uma têm portanto o potencial de poderem ser beneficiadas
infusão contínua de 0.25 a 0.5 mcg/kg/min. Além por intervenção hemodinâmica.
O Pediatra e os Convênios
MILTON MACEDO DE JESUS
A crise que se instalou no exercício profissional da I Fórum, como também tem cobrado “ações efetivas
medicina no Brasil atingiu os mais diferentes setores. e imediatas para melhorar a remuneração dos
Certamente os clínicos e os pediatras foram os mais pediatras”.
severamente atingidos.
Diversas Filiadas Estaduais realizaram reuniões
Nos últimos anos as várias entidades representativas preparatórias ao “I Fórum de Defesa Profissional da
dos médicos brasileiros têm desenvolvido numerosas SBP”. A Sociedade de Pediatria de São Paulo
ações visando melhorar as condições de trabalho e produziu o documento “Carta da SPSP”, publicada
remuneração de seus associados. A Associação na íntegra na página seguinte.
Médica Brasileira deu o primeiro e importante passo
A pesquisa “Perfil do Médico”( FIOCRUZ - CFM/
criando uma tabela de honorários médicos, com
1995) constatou que a Pediatria é a atividade que
diversas versões, culminando com a Lista de
reune o maior número de médicos no Brasil: 13,5%
Procedimentos Médicos- Valores Referenciais/1999.
dos médicos brasileiros. A mesma pesquisa detectou
Afinal, temos o direito de definir nossos honorários. que, já em 1995, 79% dos médicos mantinham
Quanto vale nossa consulta, ou melhor, nosso algum tipo de convênio em seu exercício profissional.
“Atendimento Pediátrico”? A pesquisa da SBP sobre o perfil dos pediatras
provavelmente indicará que a quase totalidade atende
O Conselho Federal de Medicina tem estado sempre
convênios.
presente.
Atualmente as cooperativas e convênios éticos
A Sociedade Brasileira de Pediatria tem incluído a
constituem o maior mercado de trabalho. Precisamos
“Defesa Profissional” nos mais diversos eventos
de assessoria jurídica competente para negociar, não
(Serões, Cursos, Congressos),tendo realizado, em
abrindo mão de princípios básicos: credenciamento
março de 1999, no Rio de Janeiro, o “I Fórum de
universal, livre escolha, honorários dignos repassados
Defesa Profissional da SBP”. (Leia neste livro resumo
diretamente, sem glosas e atrasos.
“A SBP e a Defesa Profissional”).
Devemos recusar trabalhar para empresas mercantilistas
Devemos reconhecer o empenho pessoal do atual
que só visam lucro e oferecem valores vis ao
presidente da SBP, Dr. Lincoln Marcelo Silveira Freire,
profissional mais resolutivo e mais barato: o Pediatra.
que não só participou de todas as reuniões do
Departamento Científico de Defesa Profissional e do Nossa luta, com dignidade e ética, será vitoriosa!
“O cidadão é o indivíduo que tem consciência de seus direitos e deveres e participa ativamente de todas
as questões da sociedade. Tudo o que acontece no mundo, seja no país, na minha cidade ou no meu
bairro, acontece comigo. Então eu preciso participar das decisões que interferem na minha vida. Um
cidadão com sentimento ético forte e consciência da cidadania não deixa passar nada, não abre mão
desse poder de participação.”
Herbert de Souza (Betinho)
1. O trabalho do pediatra como clínico generalista de crianças e adolescentes apresenta características próprias e
complexas, ultrapassa os limites de uma consulta médica, representando o que no Fórum convencionou-se chamar
de “Atendimento Pediátrico”.
2. O “Atendimento Pediátrico”, em virtude da sua grande abrangência, diminui a necessidade de encaminhamentos
a serviços especializados, exames complementares e procedimentos, minimizando dissabores à criança e à família
e reduzindo radicalmente o custo.
3. Torna-se necessária uma remuneração justa, adequada às características peculiares do “Atendimento Pediátrico”,
diferente de um simples valor atual de consulta médica das listas de procedimentos médicos.
4. O trabalho do pediatra compreende o atendimento da população desde o nascimento (recém-nascido) até o final
da adolescência (18-20 anos).
5. As entidades de pediatras (Sociedade de Pediatria Estaduais e Brasileira), como representantes dos mesmos, devem
ser ouvidas pelo poder público e pelas empresas intermediadoras de serviços médicos nas discussões relativas à
saúde das crianças e dos adolescentes, na remuneração e na regulamentação do trabalho do pediatra, a fim de
que se expresse sua real importância, irrelevada na última década em benefício da dispendiosa tecnologia sem
limites.
6. É necessário uma ampla discussão sobre a formação e distribuição dos pediatras brasileiros.
Art. 3º – A fim de que possa exercer a medicina com honra e dignidade, o médico deve ter boas condições de
trabalho e ser remunerado de forma justa.
Art. 10º – O trabalho do médico não pode ser explorado por terceiros com objetivo de lucro, finalidade política
ou religiosa.
Art. 86º – É vedado ao médico receber remuneração pela prestação de serviços profissionais a preços vis ou
extorsivos, inclusive através de convênios.
03 - “SUS: Mobilização Necessária”, in “Medicina – Conselho 08 - “Prática Profissional”, in “Manual do 53º Curso Nestlé de
Federal”, ano XIV, nº 105, maio/1999. Atualização em Pediatria”, Manaus/1996.
04 - “Pediatras dizem não ao managed care”, in “SBP
09 - “Defesa Profissional”, in “Manual do 55º Curso Nestlé de
Notícias”, nº 04, ano I, fevereiro – março/99.
Atualização em Pediatria”, Brasília/1998.
05 - “Pediatra e Mercado de Trabalho”, in “Boletim da
Sociedade de Pediatria de São Paulo”, VIII, nº 75, 10 - Constituição da República Federativa do Brasil, 21ª edição
março/99. atualizada e ampliada até 1999 – Editora Saraiva.
médicos. Isso, claro, como fruto de uma ausência À vista do exposto, que constata o estado atual do
de conscientização, de mobilização e de organiza- exercício da Medicina, encontra-se a justificativa e a
ção da categoria para tentar o equacionamento do explicação para os resultados da pesquisa do Perfil
problema. dos Médicos, quando mostra que 49% dos médicos
vêem o trabalho como atividade liberal, 79% afirmam
A pesquisa do Perfil do Médico (Fiocruz / CFM -
ser a profissão uma grande fonte geradora de
1995) vem mostrar que a Pediatria é a especialidade
desgaste e 41% têm uma visão pessimista sobre o
que reúne o maior número de médicos no país, com
futuro da profissão (17% vêem esse futuro com
13,5% da categoria e, desse universo, a pesquisa
incertezas).
mostra que 79 % mantêm convênios em sua atividade
profissional. Esses médicos têm sua inserção no
mercado de trabalho pelos vários segmentos, quais QUAL A SAÍDA ?
sejam as Cooperativas, as seguradoras, as empresas
Quais os novos rumos do exercício da Medicina e,
de medicina de grupo e as empresas de auto gestão.
especificamente, do exercício da Pediatria? Com
Mas, diante de uma primeira análise, cabe a primeira
certeza a saída não será encontrada num passe de
pergunta: “Há vantagens nessa situação? “ Como
mágica ou num a bola de cristal.
possíveis respostas podemos auferir: facilitação no
início das atividades de consultório, fonte de clien- Diante dessa situação, a saída significa ter,
tes, divulgação do nome do profissional e reserva obrigatoriamente, coragem e determinação para
de mercado. concretizar um trabalho de mobilização e
conscientização para se criar estruturas que possam
No contraponto vêm as possíveis desvantagens e,
reverter o vínculo de dependência que hoje existe
dentre várias, destacam-se: clientelismo exercido pelas
entre o médico e as empresas intermediadoras. Mister
empresas intermediadoras, tempo excessivo para
se faz a existência de um bom assessoramento jurídico
recebimento dos honorários, glosas sem justificativa,
para que no relacionamento com essas empresas
honorários defasados e demanda reprimida pelo
não só os deveres bilaterais, mas também os direitos
poder do credenciamento.
existam.
Logo, há que se considerar a influência dos convênios
Na balança que hoje se apresenta para o exercício
no mercado de trabalho e nos honorários profissio-
da Medicina há que se considerar que o equilíbrio
nais. A regulação do mercado de trabalho faz-se
tem que chegar sem que se comprometa a ética e
pela observância aos seguintes corolários:
a qualidade. Há que se pesar a prática do Managed
1 - Necessidades e interesses do profissional; Care em confronto com a prática das Cooperativas
2 - Necessidades e expectativas do cliente; e das Centrais de Convênios.
3 - Necessidades e expectativas da empresa. Dentro de um processo de valorização do trabalho
há que se considerar a criação da Unimed como
Os convênios influenciam o mercado de trabalho à
medida que promovem: modelo de cooperativa de trabalho medico. No rastro
desse modelo surgiram as cooperativas de
1 - Regulação do mercado pela manipulação do especialidades. Mais recentemente surgiram as
credenciamento e descredenciamento; centrais de convênios. As duas formas organização
2 - Reserva de mercado pelo direcionamento de do trabalho visam, entre vários outros, a construção
clientes (Managed Care); de uma rejeição ao estado atual de exploração do
3 - Ameaça à liberalidade do médico pela indução trabalho médico.
dos clientes aos credenciados. Antes de tecer comentários sobre essas variantes de
Também influenciam os honorários à medida que: organização de trabalho, cabem algumas considera-
ções sobre a mais recente ameaça à autonomia e
1 - Causam desvalorização por não cumprimento de
à liberalidade da Medicina, que é o Managed
tabelas atualizadas;
Care, já citado anteriormente nesse artigo. O prin-
2 - Praticam as tabelas como referencial máximo e cípio fundamental desse sistema é maximizar o
não mínimo; lucro, minimizando a assistência, tendo como estra-
3 - Praticam atrasos e glosas sem justificativa técnica. tégia principal o pagamento “per capita“. Sobre o
funcionamento, há que se esclarecer alguns concei- ao receber seus honorários calculados “per capita”
tos, quais sejam: terá, a cada despesa adicional, seja pela
1 - Managed Care = Cuidado Gerenciado: Conjunto necessidade de outro médico ou de exames
de estratégias destinadas a maximizar os lucros das complementares, uma diminuição de seu rendimento.
empresas prestadoras de assistência médica. Baseado Cria-se assim um confronto de origem comercial,
no pagamento “per capita“. Transforma o médico de fazendo com que esse sistema se caracterize por
profissional de saúde em administrador de lucros. uma incoerência, já que o médico porteiro ganha
mais pelo não atendimento ou pelo mau
2 - Capitation = Pagamento per capita: Pagamento atendimento.
pelos cuidados de saúde feito através de preço fixo
mensal para cada paciente cadastrado junto a um Claro fica que esse sistema causa interferências na
determinado médico (Gatekeeper). Nenhum outro ética médica, quais sejam:
pagamento é admitido, em que pesem os cuidados 1 - Na liberdade do paciente escolher seu médico
necessários ao paciente. e de aceitar o tratamento proposto (art. 56);
3 - Gatekeeper = Médico porteiro Quem tem o 2 - Na relação médico paciente quando o médico
poder de restringir a passagem através de um portão deixar, em prol do lucro, de oferecer aquilo que de
de acesso. Quanto maior a restrição ao acesso do melhor existir para seu paciente (art. 5-8-57);
paciente aos ser viços de diagnóstico ou
3 - No relacionamento entre médicos, confrontando
especializados, maior o lucro do médico. “Médico
o “generalista” com o “especialista” ou induzindo a
de Família?“
acordos que aumentem a lucratividade daquele em
4 - H M O - Health Mantenance Organization = prol da qualidade do atendimento (art. 9-19);
Organização mantenedora de saúde, que é o veículo
4 - Quando o médico recebe “per capita”,
para a implantação do sistema de Managed Care.
antecipadamente e por serviço que não realizou
São consideradas empresas financeiras de assistência
(art.87);
à saúde.
5 - Quando o médico porteiro, em prol do lucro,
5 - P H O - Physician Hospital Organization =
atuar fora de sua área de conhecimento, podendo
Organização médico - hospitalar que controla, do
errar por imperícia ou imprudência e comprometer a
ponto de vista médico - financeiro, uma determinada
saúde do paciente (art.29).
área ou região. São os patrões dos médicos porteiros
da região, com riscos à autonomia econômica dos E qual o contraponto, qual a saída, qual o mote
médicos que estiverem fora do esquema. “Sistema para a recuperação do espaço perdido e para a
feudal “. recuperação das características da profissão?
Ao longo dos tempos, situações foram criadas, Com certeza é a concretização das Cooperativas
intencionalmente ou não (sempre haverá a dúvida) de Especialidades e das Centrais de Convênios,
que hoje contribuem para a instalação do Managed que não se opõem mas, ao contrário, podem se
Care. São elas: somar pela comunhão de idéias e pelas coincidências
1 - Excesso de faculdades de medicina = excesso de fatores marcantes.
de médicos no mercado;
Tanto um como o outro têm objetivos fundamentais,
2 - Diminuição das vagas de Residência Médica; que podem ser relacionados como:
3 - Necessidade de sobrevivência do médico recém 1 - Preservar o caráter liberal da profissão e valorizar
formado; o trabalho do médico;
4 - Grade curricular defasada no tempo. 2 - Tornar possível o livre acesso e livre escolha de
Por suas características o Managed Care leva a médico pelo paciente, já que ambos os sistemas
um confronto entre o médico porteiro, generalista, visam aglutinar todos os médicos de uma ou várias
médico de família (ou outra denominação que se especialidades;
queira dar) e o especialista (tanto de área clínica, 3 - Habilitação universal do médico = direito de
cirúrgica ou SADT). Do universo de pacientes sob atender a qualquer paciente, preservando sua auto
a cobertura de determinado médico porteiro, este determinação de trabalho e honorário;
4 - Democratizar o acesso ao mercado de trabalho A grande expectativa é que, tanto com as Centrais
na substituição do contrato individual pelo contrato de Convênios como com as Cooperativas de
coletivo na relação médico-empresa; Especialidades, haja um fim do apadrinhamento no
5 - A Central de Convênios abrigará as Cooperativas credenciamento, efetivando a universalização das
de Especialidades e aqueles médicos não filiados a oportunidades, com reflexos positivos na regulação
nenhuma cooperativa. do mercado de trabalho e dos honorários.
Managed Care
EDUARDO DA SILVA VAZ
No final da década dos 80, os Estados Unidos influencia direta do managed care. Por outro lado o
embarcaram numa grande experiência com o seu custo com saúde nos Estados Unidos vem aumentado
sistema de saúde, mal planejada e impulsionada alem da inflação americana que é de 3% ao ano.
pelo mercado. A paternidade deste sistema deve-se Os prêmios das seguradoras no ano passado
aos empresários, que ficaram cansados de pagar aumentaram cerca de 6%, e espera-se um aumento
custos cada vez mais elevados para o acesso à de 9% para este ano. O aumento dos prêmios da
saúde de seus empregados. Ela postulava que se os Kaiser permanente chegará a 11,7%.
médicos fossem encurralados e obrigados a aceitar A face cruel é que os excluídos americanos, isto é,
os planos do Managed Care ( cuidado gerenciado) os sem condições de terem planos de saúde
e HMOs, o custo da assistência médica seria aumentaram de 31 milhões em 1987 para 43
controlado e o crescimento alarmante no número milhões em 1998. Enquanto na última década a
das famílias sem seguro seria interrompido, tudo isso população americana aumentou em 9% o número
com a mão forte do governo dando o seu aval. de crianças excluídas de planos de saúde aumentou
Atualmente 92% dos médicos americanos trabalham em 25%, atualmente são 10,5 milhões de crianças
sob alguma forma de Managed care, em razão sem assistência médica nos Estados Unidos. Outro
disto a Associação Médica Americana na sua última dado para análise são os salários auferidos pelos
assembléia no mês de Junho em Chicago, com a executivos deste sistema famigerado. USA Family uma
participação 474 delegados, sugeriu que os médicos entidade de Washigton de defesa do consumidor
americanos com consultórios se sindicalizassem. publicou no ano passado que em 1996 os executivos
chefes de 25 maiores HMOs receberam mais de 4
Atualmente a lei norte americana proíbe o médico milhões de dólares cada. Outro dado estarrecedor
de consultório ser sindicalizado. A sindicalização é o comprometimento dos governos latino americanos
seria a única forma dos médicos americanos com o FMI e o Banco Mundial. Estes governos se
defenderem seus direitos contra as empresas de comprometem cortar custos na saúde publica e
managed care. Alguns médicos são obrigados a implementar as ações das empresas de Managed
atender pacientes a cada 7 minutos, 8 pacientes em Care na América Latina, afim de que possam se
uma hora. Aqueles que se enquadram no sistema beneficiar de recursos destes organismos
recebem benefícios extras, os que se recusam são internacionais (publicado no New England em Abril
descredenciados do sistema. de 1999).
Pesquisa recente da Associação médica Americana A regulamentação dos planos de saúde com aval
(AMA) mostra que o rendimento médio dos do governo e congresso brasileiro permitiu que estas
profissionais diminuiu nos últimos quatro anos por empresas multinacionais que operam planos de saúde
(managed care) se instalassem no Brasil. Entre estas se comprometem junto as empresas a restringir o
podemos citar a Aetna (associada a Sul-America) número de exames solicitados, isto é perdem a
que com o Banco do Brasil fundaram a Brasil Saúde, autonomia profissional. Se responsabilizam pelo
empresa que fez contrato com o governo da Bahia atendimento global do paciente, dificultando a ida
e já esta forçando valores de consulta abaixo de 14 do paciente ao especialista.
reais. Prudential associada a Bradesco, que em varias Este sistema como foi descrito inicialmente surgiu dos
regiões do Brasil já conta com rede referenciada, Estado Unidos, com aval do governo, achando que
diferente da credenciada, em que os médico se a responsabilidade pelos aumentos do custo na saúde
comprometem a atender dando descontos na consulta. deviam-se aos médicos. A história americana mostrou
Em Joinville, Santa Catarina, o Bradesco implantou que a finalidade destas empresas e dos empresários
o Managed care clássico descredenciando vários que as administram é o lucro, tem eles compromissos
consultórios e ficando com uma pequena rede de com seus acionistas. Isto serve também para o
referencia. A Cigna é outra empresa multinacional Brasil. Precisamos prestigiar o nosso Sistema Único
associada a Golden Cross. de Saúde, as nossas cooperativas médicas.
O que vem a ser o Managed care? Este sistema na Lutar pela implantação das cooperativas de
realidade é uma forma de gerenciamento de planos especialidades e Centrais de Convênios, afim de
de saúde que visam maximizar os lucros, combatendo garantir a LIBERDADE DE ESCOLHA DO MÉDICO
a livre escolha de pacientes pelos médicos, isto é, PELO PACIENTE e AUTONOMIA DO MÉDICO
referenciando poucos médicos. Estes ganham menos, FRENTE AO PACIENTE.
Certamente a Defesa Profissional é hoje um dos Hoje o principal motivo do desgaste profissional
principais desafios para a atuação da SBP. Nestes é o excesso de trabalho/multiemprego, seguindo
tempos de globalização, o exercício da medicina pela baixa remuneração, más condições de
enfrenta muitas dificuldades. trabalho, responsabilidade com a “vida”, área de
atuação/especialidade, relação médico-paciente,
A criança e o adolescente não são respeitados como
conflito/cobrança da população e perda da
cidadãos “de primeira ordem”, pois não detêm poder
autonomia.
econômico. Conseqüentemente, os profissionais que
cuidam da infância e da adolescência também não A tabela do SUS, o valor das consultas pagas pelos
são valorizados e respeitados. convênios e os salários pagos pelo Serviço Público
determinam nossa remuneração.
Somos a maior especialidade médica do país, com
24.650 pediatras. A maior atividade da categoria Diante desta situação, a SBP realizou em março
se encontra no setor público (81,3%), seguindo com deste ano, na cidade do Rio de Janeiro, o Fórum
56% no setor privado e em consultório (70,6%), sobre Defesa Profissional, com planejamento
tendo 2 a 3 atividades (60,7%) com uma renda estratégico, identificando os principais problemas,
média de US$2.163,70 (Pesquisa “Perfil dos suas linhas e a atuação que orientarão a ação da
Médicos no Brasil”, Fiocruz/CFM, 1995). Diretoria.
1. Muitos médicos exercem a 1. (Facilitação.) Incentivo às federadas, pela SBP, para a realização
Pediatria sem formação do TEP (custos reduzidos, conteúdo mais prático...).
adequada. – Incentivar cursos de reciclagem médica e enfermagem –
– Ausência de vínculo entre “melhor treinamento”.
o médico e o paciente e – Influenciar o Governo (as três esferas) a exigir a titulação
sua família. para os concursos públicos.
– A comunicação entre o – Contemplar os aspectos da humanização no atendimento pediátrico.
médico e o paciente é – Reivindicar a presença da SBP nas discussões nacionais (MEC)
obstruída pelas condições sobre o currículo da disciplina Pediatria nas escolas.
de trabalho. – Divulgação do manual (de MG) de Prevenção do Erro Médico.
2. Tempo destinado às consultas – Propor aos programas de residência a realização do TEP ao final desta.
é muito pequeno. 2. Campanha nacional pela SBP para aumentar o tempo da
3. Deficiências no suporte consulta pública por paciente.
propedêutico e terapêutico 3. Atuação da SBP nas discussões nacionais sobre o atendimento à criança.
nos serviços públicos. 4. Atuação do Dep. De Defesa Profissional das regiões junto ao
4. Despreparo do médico ao Ministério Público e à Imprensa.
para lidar com a imprensa. – Estimular a formação da Comissão Estadual do Médico em todos
– A imprensa busca denúncia os Estados.
sensacionalista a respeito do – Posicionamento público da SBP em defesa do colega INJUSTAMENTE
erro médico. denunciado.
– Atuar (ocupar) espaço nos meios de comunicação, agindo de maneira
preventiva.
I – INTRODUÇÃO II – ETIOLOGIA
A asma é uma doença inflamatória crônica das vias A resposta inflamatória na asma é orquestrada por
aéreas, de caráter obstrutivo, com evolução recurrente linfócitos T auxiliadores 2-símile (Th2-like cells) que
e reversível, conseqüente à hipereatividade a uma secretam citocinas que ativam linfócitos B, para a
variedade de estímulos, com espasmo da musculatura produção de IgE, e mastócitos, macrófagos e
lisa brônquica, edema de mucosa e hipersecreção eosinófilos, que liberar mediadores inflamatórios como
de muco, afetando difusamente ambos os pulmões. histamina, leucotrienos, prostaglandinas e bradicininas.
A crise de asma é um episódio agudo de Estes promovem broncoconstrição, secreção de muco,
broncoespasmo com hipoxemia, que se manifesta exsudação de plasma e hiperresponsividade da via
por tosse (predominantemente noturna e matutina), aérea. Os neuropeptídios podem amplificar esta
opressão torácica, sibilância, dispnéia e, às vezes, inflamação (asma neurogênica).
fadiga respiratória e alteração do nível de O excesso de IgE antígeno-específica para alergenos
consciência. inaláveis fica ligado à membrana de mastócitos e
O estado de mal asmático é uma crise de asma que basófilos do trato respiratório. Uma nova exposição
não responde ao esquema terapêutico inicial com ao antígeno resulta na sua interação com esta IgE e
oxigênio, broncodilatadores e corticosteróides que determina a liberação de mediadores inflamatórios
tende a evoluir para insuficiência respiratória grave. por estas células, que causam broncoconstrição em
No atendimento ao paciente asmático é importante três fases.
reconhecer as situações que contribuem para esta
A primeira fase, conseqüente à liberação de histamina,
má evolução:
inicia-se até 15 minutos após a exposição ao alérgeno
• crianças menores de 3 anos; e reverte espontaneamente ou com o tratamento inicial.
• pouca aderência a tratamentos propostos O uso prévio de cromoglicato dissódico e de
anteriormente; antagonistas da histamina pode inibir esta fase.
• necessidade do uso de broncodilatadores de ação
A segunda fase, conseqüente à liberação de
rápida maior que 2 vezes por semana;
mediadores inflamatórios broncoconstritores, inicia-
• hipóxia grave, alteração do nível de consciência se 3 a 8 horas após a exposição ao alérgeno e
ou necessidade de ventilação pulmonar mecânica se caracteriza por broncoconstrição intensa e
em episódio prévio; aumento do edema submucoso. O uso prévio de
• início súbito de crise grave; corticosteróides pode inibir esta fase.
• início súbito de crise associada a exposição a
A terceira fase é caracterizada por broncoconstrição
alergeno;
severa, prolongada e resistente à terapêutica. A
• início tardio do tratamento efetivo; liberação de fatores quimiotáticos causa mobilização
• abandono ou redução da corticoterapia no decorrer de células inflamatórias para a submucosa e para a
do mês prévio ao episódio atual; luz das vias aéreas. Estas liberam mediadores
• alterações da dinâmica familiar com história de citotóxicos que causam descamação irregular da
reações emocionais anormais. mucosa, hiperplasia de glândulas mucosas e células
caliciformes, rolhas de muco no lúmem das vias respiratório e do consumo de oxigênio progride
aéreas, reduzem a produção de fatores relaxantes acidose metabólica pela com dificuldade de manter
derivados do epitélio e aumentam a interação das a hiperventilação. Com a fadiga e/ou progressão do
células inflamatórias com os alérgenos inalados. Nos quadro, começa a haver hipercarbia e piora da
pacientes com asma prolongada ocorre remodelação hipóxia que resultam em acidose mista, que contribui
da parede das vias aéreas por hipertrofia e para a depressão cardiocirculatória e para o óbito.
hiperplasia da musculatura da parede brônquica,
neoformação vascular e deposição de colágeno sob
a membrana basal subepitelial, causando obstrução
IV – QUADRO CLÍNICO
irreversível. O diagnóstico asma deve ser considerado quando
Outros fatores etiológicos que podem desencadear ocorre tosse ou sibilância ou aperto no peito após
a crise asmática são: infecções do trato respiratório exposição a alergenos inalados ou poluentes, ou
inferior, algumas drogas (como os antiinflamatórios quadro sugestivo de resfriado comum que cursa com
não hormonais), aditivos alimentares, exercícios físicos, aumento da secreção pulmonar ou que tem duração
inalação de ar frio ou de irritantes químicos, fatores maior que 10 dias. As infecções virais são
endócrinos e estresse psicológico. desencadeantes comuns de asma em crianças
pequenas. Tosse recorrente, predominantemente
O reflexo broncoconstritor colinérgico deve-se ao noturna, também pode ser manifestação de asma. A
aumento GMP cíclico (GMPc) e a broncodilatação crise pode ser desencadeada por exercício.
mediada por receptores β implica no aumento do
AMP cíclico (AMPc), pelo estímulo à sua formação A anamnese deve procurar a ocorrência e as
pelas substâncias β2-adrenérgicas, e pelo bloqueio características de episódios graves prévios, a
de sua destruição por inibidores da fosfodiesterase. freqüência das crises, a duração da crise atual, a
Nos pacientes asmáticos pode ocorrer resposta medicação em uso (doses e horários) e falhas atuais
colinérgica excessiva e/ou resposta β2 adrenérgica ou pregressas das medicações habituais.
reduzida. A tabela 1 apresenta os principais sinais a serem
valorizados no exame físico.
Para estabelecer o diagnóstico é necessário que o
III – FISIOPATOLOGIA quadro clínico seja pelo menos parcialmente reversível
A alteração fundamental é a obstrução do fluxo aéreo com o uso de β2-adrenérgicos.
que resulta em aumento do volume residual e A medida do pico de fluxo expiratório (PFE), medido
hiperinsuflação pulmonar, determinando aumento do pelo “peak flow meter” serve para quantificar a
espaço morto (relação ventilação/perfusão V/Q alta). gravidade da crise e acompanhar sua evolução em
Há diminuição da complacência pulmonar e crianças maiores de 6 anos de idade em condições
conseqüente aumento do trabalho respiratório. O clínicas para colaborar. O PFE normal para a altura
aprisionamento de ar aumenta a pressão intra-alveolar, pode ser calculado aproximadamente usando a
que diminui o fluxo sangüíneo nos capilares alveolares fórmula:
(relação V/Q alta). Em outras áreas do pulmão a
FEM em ml/min = 150 + 5,3 x (Altura em cm - 110)
obstrução das vias aéreas causa hipoinsuflação e
atelectasias (relação V/Q baixa = “shunt”
Quando a medida do PFE não é aplicável, o escore
intrapulmonar).
clínico para asma de Wood e Downes pode ajudar
Os distúrbios da relação V/Q resultam em hipoxemia a quantificar a gravidade e avaliar a evolução da
e hipercarbia. A acidose aumenta ainda mais a crise. (Tabela 2)
resistência vascular pulmonar, com maior queda da
O diagnóstico diferencial inclui doenças que requerem
relação V/Q e piora da condição hemodinâmica.
abordagem diagnóstica e terapêutica específica,
No início do quadro ocorre só hipoxemia até o limite como insuficiência cardíaca, massas mediastinais,
de tolerância do paciente. A tentativa de compensá- displasia broncopulmonar, mal formações
la através da hiperventilação ocasiona hipocapnia traqueobrônquicas, refluxo gastroesofágico,
com alcalose respiratória. O aumento do trabalho incoordenação da deglutição, imunodeficiências,
PO2 sob FiO2 21% (mmHg) Normal > 60 mmHg < 60 mmHg
➞
PCO2 (mmHg) Normal < 42 > 42 ou 5/hora
0 1 2
deficiência de α1-antitripsina, raquitismo, fibrose ocorrência de desidratação por vômitos, febre, recusa
cística, corpo estranho, infecções respiratórias e alimentar e taquipnéia requerendo fluidoterapia por
síndrome de Löffler. via IV.
Para a reversão do broncoespasmo, inicialmente
utiliza-se um agonista β2 específico de efeito rápido,
V – TRATAMENTO
preferencialmente por via inalatória. Pode-se fazer
Na abordagem inicial, oxigênio deve ser oferecido até 3 inalações em uma hora (uma a cada 20
para manter a SatO2 acima de 90%, sendo rara a minutos), se necessário, avaliando a resposta ao
término de cada uma. Em crianças que não toleram • Terbutalina: 0,1 a 0,2 mg/Kg/dose, até o máximo
a inalação, pode-se usar a via subcutânea. de 4 mg/dose. Na apresentação em gotas a 1%,
usa-se uma gota/3 Kg/dose. Por via SC há a
Os agonistas β 2 estimulam o relaxamento da
apresentação injetável a 0,5% - 0,01 a 0,02 ml/
musculatura lisa da via aérea e a depuração
Kg/dose, até o máximo de 0,8 ml/dose.
mucociliar e inibem a secreção de mediadores
inflamatórios. Seus principais efeitos colaterais são: O uso de corticosteróides no início do tratamento
tremores; hipopotassemia; aumento da pressão deve ser considerada nas seguintes situações:
sistólica; diminuição da pressão diastólica; taquicardia • crise tendendo a moderada ou grave;
com palpitações; aumento no desbalanceo da relação • 2º atendimento pela mesma crise;
V/Q com conseqüente queda da PaO2.
• 3ª crise leve no último mês;
O agonista β2 usado por via inalatória, diluído em • internação por crise asmática moderada no último
2 a 4 ml de soro fisiológico, com um fluxo de mês;
oxigênio de 6 L/min, induz ao máximo a estimulação • mais de 3 internações por crise asmática moderada
β2 com um mínimo de efeitos colaterais. O uso de no último ano;
oxigênio minimiza as conseqüências do desbalanceo
• internação por crise asmática grave no último ano;
da relação V/Q. Os mais utilizados são:
• Fenoterol: 0,05 a 0,1 mg/Kg/dose, até o máximo Usa-se prednisona ou prednisolona, por VO, ou metil-
de 2,5 mg/dose. Na apresentação em gotas a prednisolona, por via IM, (início de ação = 2 a 6
0,5%, usa-se uma gota/3Kg/dose, até o máximo horas, tanto IM como VO) na dose inicial de 2 mg/
de 10 gotas. Kg (máximo = 125 mg), seguida de 1 mg/Kg/dose
(máximo = 60 mg) a cada 6 horas, até haver melhora.
• Salbutamol: 0,1 a 0,2 mg/Kg/dose, até o máximo
de 5 mg/dose. Na apresentação em gotas a 0,5%, Os corticosteróides agem em múltiplas etapas da
usa-se uma gota/2Kg/dose, até o máximo de 20 cascata inflamatória da via aérea, suprimindo-a e
gotas. restaurando sua função.
Obtendo-se uma resposta completa que se mantém 60 mg/dia, uma vez pela manhã), deve ser
por 4 horas, continua-se com as inalações a cada mantido por mais 5 a 7 dias e, se o paciente já
4 a 6 horas por mais 5 dias ou até ficar 2 a fazia uso de corticosteróide inalatório para
3 dias sem sintomas. Se indicado na abordagem tratamento entre as crises, recomenda-se que faça
inicial, o corticosteróide por VO (Prednisolona uso do dobro da dose habitual nos próximos 5 a
ou Prednisona – 1 mg/kg/dia, no máximo 7 dias.
Por ocasião da alta é importante assegurar que o 1 mcg/Kg/min, quando associa-se o β2-agonista
paciente está bem orientado quanto ao uso dos por via inalatória de 1/1 hora por 6 a 12 horas.
medicamentos e quanto à continuidade do tratamento
São indicativos da eminência de uma parada
de manutenção fora das crises de asma.
cardiorrespiratória e, portanto, indicações para
Se houver resposta incompleta ou crise moderada, intubação traqueal e ventilação pulmonar mecânica.
mantém-se as inalações com β2 agonista a cada 20 • excitação ou depressão do nível de consciência;
minutos, com reavaliações nos intervalos, e inicia-se
• choro curto, dificuldade para completar uma
o uso de corticosteróide por via oral ou IM. Após a
sentença ou deglutir em uma respiração;
introdução deste, acrescenta-se na inalação um
• confusão mental ou tontura;
anticolinérgico (brometo de ipratrópio), também a
cada 20 minutos na primeira hora e, depois, a • movimentos tóraco-abdominais paradoxais;
cada 4 a 6 horas. • bradi ou taquicardia;
hipercapnia e acidose respiratória moderadas 03 - FREW, A.J.: Choosing therapy for childhood astham.
N. Engl. J. Med. 337: 1, 1997.
(hipercapnia permissiva ou hipoventilação 04 - HIRSCHHEIMER, M.R.; CARVALHO, W.B.: Asma aguda
controlada). A relação inspiração:expiração deve na infância. Ped. Moderna, 31 (1): 5, 1995.
ser de 1:2 até 1:4. 05 - NATIONAL HEART, LUNG AND BLOOD INSTITUTE:
Guidelines for Diagnosis and Management of Asthma. In
Uma expiração incompleta resulta em pressão Expert Panel Report 2. Bethesda, NIH Publication, 97 -
4051, July 1997.
alveolar positiva no final da expiração (auto-PEEP).
06 - NICHOLS, D.: Respiratory Failure - Asthma. In NICHOLS,
Na asma grave há distribuição regional heterogênea D.: Golden hour: the handbook of advanced pediatric
dos gases, com as unidades normais expostas a life support, 2nd ed, St Louis, Mosby, 1996: p: 63-71.
pressão de distensão e volume excessivos pode 07 - PIVA, J.P.; CANANI, S.F.; PITREZ, P.M.C.; STEIN, R.T.:
Asma aguda grave na criança. Jornal de Ped. 74 (supl.1):
ocasionar barotrauma, volutrauma e alterações S59, 1998.
hemodinâmicas. Pode-se reduzir o volume inspiratório 08 - RODRIGUES, J.C.; SILVA FILHO, L.V.R.F.S.: Crise asmática.
final diminuindo o volume corrente e aumentando o In: Protocolo de conduta da assistencia médico hospitalar
do Hospital Israelita Albert Einstein, 1999.
tempo expiratório.
09 - SHEFFER, A.L.; BARTAL, M.; BOUSQUET, J; et cols.: Global
strategy for asthma management and prevention. In NHLBI/
A utilização de tratamentos mais complexos, que WHO WORKSHOP REPORT: A Practical Guide for Public
requerem equipes especializadas no manejo de Health Officials and Health Care Professionals.: Bethesda
equipamentos sofisticados de elevado custo, como – USA & Ghent – Bélgica, Global Initiative for Asthma,
1997.
oxigenação de membrana extracorpórea, hipotermia
10 - SOLÉ, D.; NUNES, I.C.; RIZZO, M.C.V.; NASPITZ, C.K.:
e suporte de vida com remoção extracorpórea de A asma na criança: classificação e tratamento. Jornal de
CO2, deve ser considerada apenas quando não se Ped. 74 (supl.1): S48, 1998.
consegue êxito com a terapêutica convencional acima 11 - TAKETOMO, C.K.; HODDING, J.H.; KRAUS, D.M.:
Pediatric dosage handbook – 6th Ed. Hudson, Lexi-Comp
exposta. Inc, 1999, p 1079-1085.
O “estado de mal epiléptico” é definido como crises fisiopatológica, anatômica e etiológica9. A definição
epilépticas tão freqüentemente repetidas ou do tempo de crise é muito discutida e ainda não
prolongadas que criam uma condição epiléptica fixa existe um consenso. Para alguns, cinco minutos de
e duradoura. Shorvon tem proposto a seguinte crise generalizada tônico-clônica já envolve falha
definição: é uma desordem cuja atividade epiléptica dos mecanismos inibitórios para controle da crise, o
persiste por trinta minutos ou mais, causando um que implica no tratamento imediato. Outros
amplo espectro de sintomas e uma variável base consideram vinte minutos como o tempo máximo de
crise relacionada a seqüelas6,10.O termo tem sido cerebelo, no tálamo e nas camadas corticais médias
aplicado a crises contínuas que durem no mínimo desenvolve-se após 60 minutos de estado de mal.
trinta minutos, mesmo quando a consciência não
Desde que os neurônios vulneráveis podem sucumbir
está comprometida. O estado de mal epiléptico é
no estado convulsivo, apesar de uma oxigenação
atualmente classificado como:
cerebral adequada e suprimento de glicose e energia,
1 - Estado de mal epiléptico convulsivo, no qual o suspeita-se que a morte celular resulte de um aumento
paciente não recupera o estado de alerta entre as excessivo nas necessidades metabólicas dos neurônios
crises tônico-clônicas repetidas. continuamente em descarga. Além disso, demonstrou-
2 - Estado de mal epiléptico não convulsivo, como se que após 20 minutos de estado convulsivo as
o estado de ausência e o estado parcial complexo, reduções na pressão parcial de oxigênio e no citocromo
no qual a apresentação é um estado prolongado de aa3 do córtex cerebral diminuem, e uma insuficiência
semi-consciência. de oxigênio regional adiciona-se à subsequente injúria
3 - Crises parciais contínuas nas quais a consciência celular. O estado convulsivo e as descargas elétricas
é preservada. neuronais devem ser interrompidas o mais rápido
possível, desde que os acontecimentos moleculares que
levam à injúria celular seletiva já estão ocorrendo durante
RISCOS ASSOCIADOS AO as primeiras duas ou três convulsões. Uma outra razão
ESTADO DE MAL EPILÉPTICO6,11,12 pela qual o estado convulsivo não deve prolongar-se
O estado de mal epiléptico tônico-clônico é uma além de 60 minutos é o aparecimento de complicações
emergência neurológica e deve ser interrompido o metabólicas secundárias.
mais rapidamente possível. Não se deve permitir
Após 60 minutos de estado, a acidose lática se
que se prolongue por mais de 20-60 minutos, quando
torna proeminente e a pressão do liquor aumenta.
ocorre dano cerebral permanente ou morte. A
Há hiperglicemia inicial, seguida por hipoglicemia e
duração média do estado convulsivo em pacientes
hipertermia, sudorese excessiva, desidratação,
que vêm a falecer é de 13 horas. Os índices de
hipertensão seguida por hipotensão e choque
mortalidade atualmente vão de 2,5 a 6%;
eventual. A atividade muscular excessiva pode
anteriomente variavam de 5 a 50%.
produzir miólise e mioglobulinúria levando a nefrose.
Estudos experimentais demonstram que dano celular Podem ocorrer insuficiência cardiovascular,
permanente no hipocampo, na amígdala, no respiratória ou renal
2) parar as crises, se possível antes de 20 a 30 minutos, quando iniciam lesões que poderão ser irreversíveis.
0-10 minutos 1) Verifique a função cardiorespiratória assim que o estado de mal epiléptico é
diagnosticado. Se não há certeza do diagnóstico, observe uma crise tônico-clônica
e verifique a presença de inconsciência ao fim da crise. Insira uma cânula de guedel
e administre 02 se necessário. Instale uma via endovenosa. Colha sangue venoso para
determinação de nível de anticonvulsivantes, glicose, creatinina, eletrólitos e hemograma.
Colha sangue arterial para determinação imediata de pH, pO2, pCO2, Bic, BE.
Monitore a respiração, pressão sangüínea se possível, eletroencefalograma.
2) Inicie infusão endovenosa de glicose a 10%, 2 ml/kg, desde que o Dextrostix esteja
em 45% mg/dl ou menos.
3) Infunda Diazepam EV*, (0,4 mg/kg/dose) não mais rapidamente que 1 mg/min.,
até cessar a crise ou que um máximo de 10 mg seja aplicado. Administração Retal
(0,5 mg/kg) ** pode ser usado, repetir a dose em 10 minutos Midazolam (Dormonid
3 ml = 15 mg) na dose de 0,2 mg/kg/Im ou EV pode ser utilizado como opção
inicial ou após Diazepan2,3,5. A seguir, infusão de difenilhidantoína ***, não mais
rapidamente que 1 mg/kg/min. em um total de 15-20 mg/kg (diluir em 20 a 30 ml
de soro fisiológico e aplicar em 20 min.). Se surgir bradicardia ou hipotensão diminua
a velocidade de infusão. (*) Valium (2ml=10mg). (**) Máximo de 10 mg (***)
Hidantal (5 ml = 250 mg).
Outras Drogas
PARALDEÍDO Se houver disponível, iniciar infusão de 0,3 ml/kg, com dose intraretal a cada 2 -
4 horas, endovenoso 5 ml/kg de ataque e manutenção com 0,5 ml - 15 ml/kg/hora.
➪
Coleta de Sangue
Perfil Metabólico
10 minutos
Gicemia, Hemograma,
TGO, TGP,
Repetir Diasepan Uréia, Creatinina, etc
➪
➪
➪
DIFENILHIDANTOÍNATO Fenobarbital
15-20 mg/kg/EV 10 minutos 15-20 mg/kg/EV
➪
➪
MIDAZOLAM
0,2mg/kg/EV
Manutenção = 1 a 18
mcg/kg/minuto
ou 0,06 a 1,0mg/kg/dia
➪
OUTRAS DROGAS
THIONEMBUTOL
Referências Bibliográficas 06 - Scott RE, Surtees RAH, Nevirle BGR. Status Epilepticus:
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epilepticus. Arch Dis Child 76: 445-448, 1997 status epilepticos. Arch Dis Child 79: 78-83, 1998
11 - Walton. N.Y. Systemic Effects of Generallized Convulsive
04 - Ramsay, R.E. Treatment of Status Epilepticus. Epilepsia, 34 Status Epilepticus. Epilepsia, 34 (suppl.1): S 54 - S 58,
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05 - Rivera R, Segnini M, Baltodano A, Peruzu Midazolan in 12 - Wasterlain, C.G. et al. Pathophysiological Mechanisms of
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Med 21: 991-994, 1993. (suppl.1): S 37 - S 53, 1993.
Trauma Pediátrico
ZULEIDE MUNIZ ALVES
O trauma continua sendo uma causa importante de e o tratamento é considerado crítico. Estes dois picos
morte e deficiência física na faixa etária pediátrica. de mortalidade integram as chamadas horas de
Como a criança, vítima de trauma, tem grande ouro do atendimento de urgência, quando a
potencial de recuperação, a ressuscitação deve intervenção médica é fundamental para a redução
começar o mais rápido possível, após a lesão, da morbi-mortalidade. As mortes tardias integram o
preferencialmente no local onde o trauma ocorreu. terceiro pico de morte por acidente, ocorrendo dias
e semanas após o trauma, sendo causada por
Qualquer pediatra pode, repentinamente, deparar-se
distúrbios cardiorespiratórios, metabólicos, falência
com uma vítima de múltiplos traumas. Os primeiros
de múltiplos órgãos ou infecção.
20 minutos de tratamento são essenciais para a
determinação do prognóstico da criança Existem particularidades na criança, em relação ao
politraumatizada. adulto, que tornam o trauma mais crítico. Assim, a
massa craniofacial é maior, o pescoço relativamente
No Brasil, óbitos por tipo de causas externas em
mais curto e a musculatura cervical mal desenvolvida,
crianças de 0 a 19 anos tínhamos um total de
aumentando o risco de traumatismo craniano e lesão
20.678 em 1995. Desses, 30% foram por acidentes
cervical.
com transporte, 27% por agressões e violência, 22%
por causas mal definidas. A elasticidade e flexibilidade dos tecidos
proporcionam reduzida proteção aos órgãos
As regiões do corpo mais atingidas no Politraumatismo
subjacentes e permitem a absorção de maior
são: cabeça, 59%; coluna, 2%; extremidades, 26%;
quantidade de energia sem fratura, logo, uma criança
tórace e abdômen, 12%.
é capaz de não ter fratura após um forte impacto,
Chamamos paciente pediátrico politraumatizado podendo, porém, apresentar um trauma de víscera.
aquele cujas lesões envolvem um órgão ou mais, ou O tamanho reduzido da cavidade abdominal da
um sistema ou mais, incluindo a área psíquica. criança e sua propensão a deglutir ar, com
Portanto, é sempre necessário uma equipe. A conseqüente distensão gástrica, associam-se e
condução da equipe fica a cargo do profissional comprometem a ventilação. A vítima pediátrica, por
com mais experiência em trauma. ser pequena, é fácil de ser transportada e numa
O atendimento na primeira hora é fundamental para situação de emergência, devido à rapidez no
que sejam prestadas a assistência inicial e a atendimento, ela pode ser mobilizada erroneamente,
estabilização do paciente, além de servir como fator o que causa ou agrava as lesões, ex.: fletindo o
de prognóstico. pescoço, expondo as fraturas.
Valor + 2 + 1 – 1
Peso > 20 kg 10 a 20 kg < 10 kg
Via aérea Normal Mantida/O2 Insustentável/Intubada
PA sistólica > 90 mmHg 50-90 mmHg < 50 mmHg
Nível de consciência Acordada Confusa Coma
Ferimento Ausente Mínimo Grave ou penetrante
Fratura Normal Fechada Exposta ou múltipla
Modificado de Tepas JJ.Mollit Dt. Talbert JL et al. 1987
A regra do ABC do trauma é uma conduta válida avaliação neurológica, E - Exposição (retirada da
e eficaz: A - Via aérea, B - Respiração, C - roupa), reavaliação - avaliação dos demais sistemas
Circulação, D - Deficiência, (incapacitação) rápida e etiologia da parada.
A - Vias Aéreas
Avaliar Tratamento
Permeabilidade da via respiratória Estabilização cervical
Nível de consciência Aplicar O2 a 100%
Traumatismo Maxilofacial Abrir a via aérea
Intubar: Glasgow < 8
Reflexo de engasgo (–)
PaO2 < 50 ou PaCO2 > 50
Abrir - Abrir a via aérea com manobra modificada segundos, perguntando-lhes seu nome ou outros
de elevação da mandíbula, enquanto se mantém a dados. A capacidade de responder confirma a
estabilização manual linear da coluna cervical, é presença de uma via respiratória pérvia e dá idéia
difícil no paciente pediátrico com trauma. A via aérea de comprometimento neurológico. Deve-se oferecer
é estreita sendo obstruída com facilidade por materiais oxigênio mesmo com a criança consciente através
estranhos como sangue, muco e fragmentos dentários de máscara ou cateter nasal até que se assegure de
que devem ser removidos. que não é mais necessário. Se houver distensão
gástrica e comprometimento do sensório, faz-se
Em relação aos adultos a coluna cervical da criança
necessário a colocação de uma sonda gástrica para
é mais elástica e tem maior mobilidade. A vértebra
descompressão do estômago e para evitar vômito.
é menos rígida. A cabeça da criança é maior do
que a do adulto; portanto, tem maior risco de ser São as seguintes as indicações de entubação
lançada durante uma queda ou ser propelida de um endotraqueal da criança vítima de trauma:
automóvel. • Parada respiratória
O comprometimento da coluna cervical pode ser • Insuficiência respiratória (hipoventilação, hipoxema
anatômicas ou funcional. A alteração anatômica está arterial mesmo com oferta de oxigênio e ou acidose
associada à alteração óssea vertebral, enquanto a respiratória)
alteração funcional consiste de comprometimento de • Obstrução da via aérea
medula espinhal sem anormalidade radiológica. Isto
• Coma - escore de Coma Glasgow = menor ou
é devido à relativa frouxidão dos ligamentos da
igual a 8
coluna cervical ao desenvolvimento incompleto da
musculatura do pescoço. Por definição, este tipo de • Necessidade de suporte ventilatório prolongado
lesão de medula não pode ser excluído por (ex.: lesões torácicas, grave instabilidade
radiografia. Sendo assim, o comprometimento da hemodinâmica)
coluna cervical deve ser considerado como estando A intubação endotraqueal da criança vítima de trauma
presente em todas as crianças com politrauma pode ser difícil, uma vez que o pescoço precisa
especialmente naquelas que apresentam apnéia, permanecer em posição neutra. A via preferencial
exigindo que sejam tomadas precauções para evitar para intubação é a oral pois a via nasal pode levar
piora da lesão. Colocar um colar cervical de tamanho a sangramento, obstruindo a visibilidade e retardando
adequado e fixar a cabeça com blocos de espuma a intubação, além de comprometer possíveis fraturas
ou rolos de lençol e fita de contenção. A extensão de ossos da base do crânio.
da cabeça deve ser discreta. A imobilização
Um tubo endotraqueal 3 a 3,5 mm de diâmetro
adequada da coluna cervical é alcançada com a
interno é adequado para recém-nascidos a termo e
utilização de uma prancha longa .
crianças pequenas, de 4 mm de diâmetro interno
Na criança consciente podemos avaliar a no 1º ano e de 5 mm para o 2º ano. Uma fórmula
permeabilidade da via respiratória em poucos usada para crianças maiores de 2 anos é:
B - Respiração
Avaliar Tratamento
Vamos agora avaliar a dinâmica respiratória, tânea de realizar uma radiografia de tórace,
observando a expansibilidade torácica simétrica e punciona-se o lado suspeito com cateter agulhado
adequada bilateralmente, ou não, a freqüência números 14 ou 16 no 4º ou 5º espaço intercostal,
respiratória presença de lesões penetrantes. Auscultar na linha axilar média ou posterior, para promover
o tórace procurando presença de hemotórace ou a retirada do ar ou sangue aprisionados. Quando
pneumotórace. Verificar ausência de cianose e medir o volume retirado for grande, deve-se drenar
a saturação de hemoglobinas com oxímetro de pulso, imediatamente o tórace, no local da punção como
esperando uma saturação maior do que 90%. dreno tubular de grosso calibre. Pode também ser
Hiperventilação se houver suspeita de hipertensão puncionado no 2º espaço intercostal na linha
craniana, pois reduz a pressão. hemiclavicular. Se a ventilação está dificultada,
Se identificar um pneumotárace hipertensivo ou reavalie se há obstrução ou mau posicionamento
hemotórace, não havendo possibilidade momen- do tubo endotraqueal.
C - Circulação
Avaliar Tratamento
Reenchimento capilar retardado Sinais vitais (5 min)
Pulso periférico Oximetria e ECG
Taquicardia, pele fina e moteada Acesso vascular (2)
Alteração do sensório Ressuscitação volumétrica
Papa de hemácias - 10 ml/kg
O trauma na criança freqüentemente resulta em de sangue totaliza mais de 15% da volemia são
significativa perda de sangue, sendo a freqüência observados sinais de falência circulatória (taquicardia,
cardíaca, perfusão sistêmica, monitores do débito diminuição da intensidade dos pulsos periféricos,
cardíaco. Quando a criança apresenta perda de enchimento capilar lento e extremidades frias. A
sangue, a transfusão sangüínea é de extrema vasoconstricção causada pela hipovolemia pode
importância, a fim de restaurar a oferta de oxigênio manter a pressão arterial com até 25% de perda do
bem como o volume intravascular. A falência no volume sangüíneo. Os sinais de choque podem
reconhecimento e controle da hemorragia interna inicialmente ser súbitos na criança e difíceis de se
parece ser a principal causa de óbito passível de diferenciar dos sinais de dor ou medo.
prevenção em crianças com múltiplas lesões. A
Após o trauma ocorre perda para o terceiro espaço,
intervenção cirúrgica pode ser necessária para
que é proporcional à extensão do trauma e perda
controle da hemorragia. Por esta razão, uma
sangüínea. Embora não haja consenso a reposição
avaliação e estabilização da perfusão da criança
dessas perdas é feita com soluções cristalóides.
precisa ser realizada rapidamente com a participação
Utilizamos até 60 ml/kg (soro fisiológico ou Ringer
precoce do cirurgião.
lactab). A necessidade de mais volume para
Sinais de choques podem ser observados ao evoluir reposição deve ser suprida com coloides. O sangue
gradualmente após o trauma. Quando a perda aguda é preferido a partir da Classe III do choque.
Deve-se ter um bom acesso venoso (dois periféricos), femural. A utilização de veia tronco (subclávia,
se em 90 segundos não obtivermos essa via, tentar jugular) só poderá ser realizada após exclusão de
o acesso intra-ósseo em crianças com menos de 6 lesões nessa área.
anos ou dissecção de safena nos maiores. Se O sangue deve ser administrado em bolus de
houver fracasso nesses dois métodos utilizar a veia 10 ml/kg. O aquecimento de produtos sangüíneos
D - Deficiência/Incapacitação
Avaliar Tratamento
E - Exposição
Avaliar Tratamento
A etapa final refere-se à exposição completa do prescritas para membros da família. Apenas em
paciente para definir todos os possíveis traumas. A 3,4% desses casos a medicação tinha sido prescrita
retirada da roupa é essencial para o exame e para para a criança.
permitir o procedimento. Colocação de sonda
O segundo grupo das intoxicações pediátricas é a
gástrica é necessário no paciente pediátrico, usamos
dos jovens e adolescentes de 12 a 19 anos que
de preferência uma sonda nasogástrica, exceto nos
ingerem medicações em tentativas ou gestos de
casos de fratura de base de crânio, quando usamos
suicídio.
orogástrica. A sonda vesical em todas as crianças
com lesão pélvica e politraumatismos graves com
esmagamento. A sondagem pode ser essencial nos 1. ESTABILIZAÇÃO
casos de controle do débito urinário mantido 1 a Avaliação rápida inicial das condições clínicas para
2 ml/kg/hora. verificar se o paciente apresenta alguma manifestação
Uma vez estabilizadas as condições de risco, uma que represente risco iminente de morte.
história detalhada deve ser obtida, assim como um Rotina de atendimento do paciente intoxicado na
exame físico completo. Exames laboratoriais, Raios X, emergência e/ou na UTIP.
que antes não era de importância vital, podem ser
a) Verificação dos sinais vitais do paciente: freqüência
obtidos. Após essas medidas iniciais na sala de
cardíaca e respiratória, pressão arterial e temperatura
emergência, os pacientes mais graves são transferidos
axilar;
para a UTI ou Centro Cirúrgico onde serão tratados
e observados. b) A anamnese deve obter o maior número de
informações em relação ao agente intoxicante (nome,
volume, recipiente, horário de exposição, local, uso
INTOXICAÇÕES AGUDAS
de medicações pela família) e evolução dos sintomas,
NA INFÂNCIA deve ser realizada concomitante ao exame físico.
As intoxicações agudas na infância são responsáveis Guardar os recipientes que sejam trazidos pela
por um grande número de atendimento nos serviços família;
de emergência pediátrica, e por uma porcentagem
c) Exame físico completo: retirar roupas e objetos
significativa das internações em Unidades de Terapia
contaminados, proceder à higiene ocular e da pele
Intensiva.
quando indicada; atentar para a pele, diâmetro
As intoxicações podem envolver dois grupos de pupilar, reação pupilar à luz, orofaringe e hálito,
crianças. O primeiro grupo é constituído pelas odor, nível de consciência, padrão ventilatório e
crianças com menos de cinco anos de idade que, circulatório (realizar hemoglioteste). Para avaliar a
pela curiosidade natural ou imitação dos pais, intensidade do coma em pacientes intoxicados,
ingerem acidentalmente produtos ou medicamentos utiliza-se a escala de Matthew, visto que a escala
encontrados em casa. Desses, os produtos de coma de Glasgow só tem valor prognóstico nos
domésticos são mais freqüentes. Estudos feitos por casos de trauma neurológico (quadro 1); avaliar a
Craft na Inglaterra, no período de 1974 a 1985, necessidade de suplemento de oxigênio, e até
das mortes de crianças com menos de 5 anos, mesmo de intubação e suporte ventilatório. Também
83% estavam relacionadas com medicações nesse momento inicial de avaliação do paciente,
2. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Algumas patologias devem ser consideradas no diagnóstico diferencial das intoxicações exógenas.
Endocrinopatias Hipoglicemia
Hipotermia
Hipotireoidismo
Hipoadrenalismo
Cetoacidose diabética
Hipoxia ou isquemia —
– Adultos: 5. Fixadores
• 15-30 ml seguidos, após cinco minutos, de 200 Leite - Apesar de ser considerado um bom agente
a 250 ml de água. A dose inicial pode ser repetida antitóxico e de largo uso popular para essas
se não ocorrerem vômitos em 20 minutos. finalidades, existem algumas restrições importantes.
• Dose máxima: 60 ml.
1. O leite não é bom agente antitóxico.
• Não aplicar o carvão ativado junto ao xarope de
Ipeca, pois este perde a sua eficácia. 2. O leite pode favorecer a absorção de vários
• Se não ocorrer vômitos com o xarope de Ipeca, tóxicos, geralmente potentes, tais como os inseticidas.
indicar o lavado gástrico. 3. O leite retarda a progressão do conteúdo gástrico
• Usado como indicado, produz efeitos adversos para o duodeno e assim a sua administração pode
leves e previsíveis, como vômitos repetidos, diarréia, ser útil para uso na criança que logo a seguir será
letargia ou irritabilidade, febre e sonolência em 20%. submetida a lavagem gástrica.
O uso prolongado está associado a miopatias
4. O leite pode ser usado como demulcente na
periféricas e cardiopatias muitas vezes fatais.
ingestão de substâncias tóxicas.
b) Lavagem gástrica: demorada, copiosa e
6. Carvão Ativado
cuidadosa; utilizar sonda de maior calibre possível
introduzida de preferência por via oral; o líquido de É um pó preto vegetal tratado no sentido de aumentar
lavagem deve ser aquele que for mais facilmente seu poder de adsorção. É eficaz para todos os
disponível, usualmente água ou soro fisiológico, sendo produtos químicos, exceto cianetos, ácidos minerais,
que a água é reservada para os adultos; volumes bases fortes, ácido bórico, sulfato ferroso e lítio.
adequados para lavagem gástrica: Devido ao seu amplo espectro de capacidade de
Recém-nascido 500 ml adsorção e rapidez de ação, é considerado como
Lactente (até 2 anos) 2 a 3 litros o mais valioso agente isolado para o tratamento das
intoxicações medicamentosas. Foi demonstrado que
Pré escolar 4 a 5 litros
o carvão ativado reduz a meia vida, acelera a
Escolar 5 a 6 litros
depuração do fenobarbitol e da teofilina
Adulto 6 a 10 litros administrados E.V.
Nas fases finais, utilizar solução de carvão ativado Administração do Carvão Ativado
a 20%. Introduzir e deixar no estômago durante
algum tempo. A seguir continuar a lavagem. • Dose em crianças: 0,5 a 1 g/kg (máximo 25 g),
a cada quatro horas, por S.NG, misturado com
Eficácia da lavagem gástrica – tem um valor limitado, 100 a 200 ml de água ou solução fisiológica nas
se feita quatro horas após a ingestão de substâncias primeiras 12 horas e após, a cada seis horas por
rapidamente absorvidas. O lavado, pode, contudo, 36 a 48 horas.
ser eficaz muitas horas após a ingestão de
medicações, como os anticolinérgicos e os salicilatos c) Catárticos Salinos
que retardam o esvaziamento gástrico.
Estão rotineiramente indicados após o carvão ativado,
2. O tóxico está em contato com a pele. por propulsionarem o material ingerido ou o complexo
Realizar lavagem corporal com água corrente, com car vão-tóxico com mais rapidez pelo trato
especial atenção aos sítios de depósito como cabelos, gastrointestinal. As doses são:
unhas, umbigo, orelhas, regiões genital e axilar. Retirar Sulfato de magnésio 250 mg/kg
as vestes do paciente durante o procedimento. Não
Sulfato de sódio 250 mg/kg
misturá-las com as de outras pessoas.
3. O tóxico foi inalado ou aspirado - Remover o Citrato de Magnésio
paciente do ambiente contaminado. O socorrista deve Atualmente o sorbitol e outros agentes osmó-
se proteger contra possível exposição ao tóxico. ticos, como a lactulose (15 ml a cada seis horas)
4. O tóxico está em contato com a mucosa ocular e o manitol (50 ml a cada seis horas), associa-
– Lavagem ocular com água ou soro fisiológico dos ao carvão ativado, também têm sido recomen-
durante cerca de 15 minutos. dadas.
04 - ATLS – Advanced Trauma Life Support Course for Physicians 07 - Moront ML et al. A criança traumatizada. Clínicas
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Cetoacidose Diabética
ROMOLO SANDRINI NETO
Figura 1
FALTA DE INSULINA
➪
➪
{
➪
LIPIDES TOTAIS
HIDRATOS DE CARBONO PROTEÍNAS LÍPIDES COLESTEROL
HIPERGLICEMIA CATABOLISMO LIPÓLISE TRIGLICERIDES
➪ ➪
➪ ➪
➪ ➪
➪
➪
➪ PERDA DE ÁGUA E
ELETRÓLITOS
DESIDRATAÇÃO CETONÚRIA
➪
PERDA DE ÁGUA E
ELETRÓLITOS
Importantes também são as alterações hidro- em consideração que o cálculo por peso costuma
eletrolíticas concomitantes. oferecer mais líquidos que o cálculo por EEC. Nestas
circunstâncias, deve-se repor as perdas em 24 horas.
Sódio:
– Hiponatrenemia dilucional devido à redistribuição OBSERVAÇÕES:
da água causada pela hiperosmolaridade; 1) Cálculo do volume do EEC por faixa etária:
– diminuição do sódio total devido à perda renal de – RN: 40% do peso
sódio que ocorre juntamente com a glicosúria e – Lactente: 30%
cetonúria.
– Pré-escolar: 25%
O potássio apresenta-se normal ou aumentado no
2) Cálculo das necessidade calóricas diárias para
plasma. Contudo há diminuição importante do
base do cálculo das necessidade hidroeletrolíticas:
potássio total devido à:
– < 10 kg = 100 Kcal/kg
– catabolismo aumentado
– 11-20 kg = 1.000 Kcal. mais 50 Kcal. por Kg.
– acidose metabólica
acima de 10 kg.
– perda renal
– > 20kg = 1.500 Kcal. mais 20 Kcal. por Kg.
O fósforo também apresenta alterações importantes acima de 20kg.
e que podem necessitar correção. Devido ao
3) A reposição da depleção deverá ser sempre na
catabolismo aumentado, o fósforo vai para a corrente
forma de solução fisiológica e não com solução
sangüínea e é eliminado pelo rim. Embora geralmente
glicosada - transformada em glicofisiológica.
esteja normal no plasma, o fósforo total costuma
estar diminuído.
2. CORREÇÃO DA
TRATAMENTO DA ACIDOSE METABÓLICA
CETOACIDOSE DIABÉTICA A acidose metabólica só deverá ser corrigida quando
Na correção da cetoacidose diabética os itens for grave:
importantes a serem considerados são: – BE inferior a - 18 mEq/l ou
1) Correção imediata do choque ou hipovolemia – presença de taquipnéia profunda com ou sem
severa. gemência.
2) Correção da acidose grave, elevando-se o
Calcula-se o bicarbonato a administrar pela fórmula:
bicabornato plasmático somente até 12 mEq/l.
3) Administração de insulina em pequenas doses. Bic a administrar = (12 - Bic encontrado) x EEC em litros x 2
4) Administração de doses adequadas de potássio.
Utilizar a solução de bicarbonato na concentração de
5) Vigilância constante de diurese, que costuma ser
1,25%, pois nessa diluição a quantidade de sódio é
intensa, dificultando a correção da hipovolemia.
semelhante à solução fisiológica (150 mEq/l). A
correção deverá ser feita nas primeiras 6 (seis) horas.
3. ADMINISTRAÇÃO DE OBSERVAÇÕES:
INSULINA DE AÇÃO RÁPIDA 1) A hipoglicemia é a complicação mais freqüente
Dose inicial: 0,25 U/kg de insulina de ação rápida, e grave. Na impossibilidade de realizar glicemias,
intramuscular. é preferível corrigir mais lentamente a hiperglicemia
do que correr o risco de induzir uma hipoglicemia.
Doses posteriores: 0,1 U/Kg de 1/1 hora, intramus-
Em condições adversas de tratamento, achamos mais
cular, até a glicemia diminuir para 300 mg/dl. Utilizar
seguro o uso de menos insulina.
ao menos 2 aplicações de 0,1 U/Kg
2) Toda administração de insulina deverá ser feita
Se a glicemia de entrada for menor que 300mg/dl,
pelo médico, ou sob a sua supervisão direta, se
introduzir o plano básico a 7,5% ou 10% de glicose
serviço não estiver habituado com o manejo da
para que a glicemia ultrapasse os 300 mg/dl (vide
tabela do item 5), e se posa usar insulina suficiente cetoacidose.
para diminuir a lipólise e formação de corpos cetônicos.
Com glicemias menores que 200 mg/dl ou glicosúria
4. ADMINISTRAÇÃO DE
de + + + a + + + + sem cetonúria e após a
aplicação de ao menos a dose inicial e mais 2
POTÁSSIO PARENTERAL
doses de 0,1 U/kg, pode-se utilizar insulina na dose O potássio deve ser administrado logo após a
de 0,4 U/kg, de 4/4 horas. Na presença de primeira micção ou mesmo antes, se estiver abaixo
glicosúrias menores, suspender temporariamente a de 4 mEq/l no plasma, quando da admissão. A
administração da insulina. forma e a dose utilizada é a seguinte:
OBSERVAÇÃO:
1) Na impossibilidade de se saber a glicemia, iniciar com plano a 7,5% de glicose.
6. REPOSIÇÃO DA – VHS;
DIURESE EXCESSIVA. – Hemocultura;
OBSERVAÇÕES: 8. ALIMENTAÇÃO
1) Quando a perda urinária mantiver-se superior à
Durante a fase de hidratação, o paciente deverá
velocidade de administração da reposição
permanecer em jejum até estar lúcido e sem vômitos.
hidroeletrolítica e o paciente estiver na fase de uso
Iniciar com líquidos, principalmente água, suco de
de insulina de ação rápida, subcutânea, deverá
laranja e leite desnatado. Sólidos só devem ser
temporariamente voltar a usar a via intramuscular.
liberados após um período adequado de aceitação
2) Quando a aceitação oral de líquidos for de líquidos na quantidade necessária para suprir as
adequada, o excesso de diurese poderá ser reposto necessidade básicas diárias e as perdas excessivas.
por esta via com os líquidos descritos no item 8.
EXEMPLO: - Criança com 26kg - dose inicial de - Fósforo abaixo de 2,5 mg/dl na entrada ou
insulina NPH=13 unidades. Durante o dia necessitou - Fósforo abaixo de 1,0 mg/dl na evolução:
de complementação com mais 30 unidades de
insulina de ação rápida. Dose de insulina NPH a ser Utilizar fosfato ácido de potássio 2 mEq/kg/dia
usada no dia seguinte = 13 + 30 = 28 unidades. EV ou VO
2
central (pápula de Tomazoli), pruriginosas. O local cervical e febre. Acredita-se que este tipo de tinea
depende do tipo de inseto envolvido: se mosquitos, capitis se dê em indivíduos imunocompetentes que se
mais freqüente em áreas expostas; se pulgas, mais expõem ao fungo pela primeira vez, resultando em
em áreas cobertas ou de pressão e geralmente uma reação imunológica importante como tentativa
dispostas linearmente. O ato da coçadura pode levar de destruição do fungo. Por este motivo, às vezes as
a escoriações, formação de crostas hemáticas, que pesquisas de fungo podem ser negativas. Esta forma
podem se infectar secundariamente, tornando-se é conhecida como Kerion Celsi.
melicéricas e geralmente evoluindo para cicatrizes
Tratamento: por acometer a haste do cabelo, as
hipo ou hipercrômicas. O desaparecimento das lesões
medicações tópicas não são eficazes, pois não
se dá em 1 a 2 semanas e a tendência à melhora
conseguem penetrar na cutícula nem nas camadas
espontânea da reação de hipersensibilidade é a
mais profundas da pele, de forma a atingir a raiz do
regra ao redor dos cinco anos de idade.
cabelo. O tratamento deve ser sistêmico, sendo
Tratamento: Griseofulvina a droga de escolha na criança. Sabe-
• Orientação para erradicação do agente ou se que esta medicação é fungistática e tem poucos
diminuição da exposição ao mesmo efeitos colaterais na criança. A dose é de 20 mg/
Kg/dia, em administração única após uma refeição
• Aplicação de repelentes, uso de mosquiteiros
rica em gordura, para sua melhor absorção. Outros
• Tiamina via oral na dose de 75 a 150mg dia antifúngicos orais como o Cetoconazol, Itraconazol
(Benerva cp. 300mg ou complexo B), faz com que (também fungistáticos) e a Terbinafina (fungicida)
haja a excreção pela pele de seu odor que repele podem ser utilizados, com eficácia semelhante, porém
os insetos. Funciona para mosquitos e não para de maior custo para o paciente e, às vezes, com
pulgas. mais efeitos colaterais. O tempo médio de tratamento
• Pós anti-pulga, exposição dos cobertores e colchão é de dois meses.
ao sol, dedetização
O uso de xampus de sulfeto de selênio a 1 ou
• Tópico: uso de anti-histamínicos tópicos (cuidar com 2,5%, duas a três vezes por semana, pode reduzir
fotossensibilização) ou CTC de baixa ou média o número de esporos viáveis, diminuindo o tempo
potência por curtos períodos de tempo, antibiótico de afastamento das crianças de suas atividades
associado ao CTC se a infecção for secundária escolares, de 2 meses para 2 semanas. Deve-se
• Sistêmico: anti-histamínicos se o prurido for procurar os possíveis vetores e tratar os cães e gatos
importante, antibiótico se infecção for extensa. infectados.
• Dessensibilização: para crianças com quadros Nos casos de Kerion Celsi, onde o processo
graves, que não melhoram espontaneamente. inflamatório é importante, pode-se utilizar CTC
Indicado após os cinco anos. Via subcutânea de um sistêmicos, na dose de 1mg/Kg /dia nos primeiros
macerado da parte picadora e sugadora de vários três a cinco dias de tratamento.
insetos, em concentrações crescentes, aplicações
semanais por 1 a 2 anos. A vacina sublingual parece Além disso, é importante separar objetos de uso
não ter eficácia. pessoal, como escovas e toalhas e orientar o uso de
bonés até que o tratamento seja concluído.
KERION CELSI
VERRUGAS
Forma inflamatória de tinea capitis, mais comum nas
As verrugas são tumores intra-epidérmicos causados
infecções por fungos zoofílicos ou geofílicos, já que
pelo Papilomavírus humano (HPV) do grupo Papova.
o homem não é um hospedeiro habitual, provocando
um processo inflamatório importante, foliculite até Classificam-se em verruga vulgar, plana, plantar e
abscessos extensos, que podem ser diferenciados dos condiloma acuminado. Vistas em 7-10% da
bacterianos por serem frios e menos dolorosos. Deve população, são uma das afecções de pele mais
ser suspeitada sempre que um abscesso no couro freqüentes em crianças, com incidência maior entre
cabeludo apresente alopécia e não responda ao 10-19 anos. Inoculáveis de um local para outro e
tratamento antibiótico. Pode haver linfonodomegalia de um indivíduo para outro.
• Vulgar: predomina na superfície dorsal das mãos lesão eritematosa, edemaciada, brilhante e com limites
e região periungueal. Arredondadas, cor da pele, bem nítidos e formação rápida de vesículas e bolhas
crescimento gradual, tornando-se amareladas, sobre a lesão. Nos casos graves ou em crianças
acinzentadas ou amarronadas, com pontos pretos, desnutridas pode evoluir para necrose da pele.
que correspondem a vasos trombosados pelo vírus.
Pode ocorrer em qualquer localização, mas é mais
• Plana: face, pescoço, braços e pernas. Pápulas freqüente na face, couro cabeludo e períneo. Na
cor da pele ou discretamente amarronadas e face e no períneo costuma ser mais grave e de
elevadas, 2-5mm de diâmetro. Fenômeno de Koebner evolução mais rápida.
é freqüente.
A forma clássica com cordão linfático e linfadenite
• Plantar: área de apoio dos pés. Crescem para
é mais rara na criança de baixa idade.
dentro por causa da pressão sobre a lesão, dando
a aparência de um olho de peixe. Profundas e Conduta:
dolorosas. Diferenciam-se das calosidades pela dor • penicilina procaina I.M. durante dez dias
à compressão lateral, sendo que os calos doem • penicilina V por via oral durante dez dias.
quando comprimidos no centro da lesão. Outra
característica é a presença de pontos pretos na lesão Quando localizada na face ou no períneo:
que correspondem aos vasos trombosados pelo vírus. internação com administração de penicilina cristalina
I.M. ou EV.
• Condiloma acuminado: verrugas macias, cor da
pele, ao redor de junções mucocutâneas ou áreas
intertriginosas (glande, genitália, perianal). Pode ser
CELULITE ESTREPTOCÓCICA
doença sexualmente transmissível ou pode estar
associado a verrugas em outros locais. O contato PERIANAL
pode ser venéreo ou não, pelo uso de toalhas Infecção cutanea superficial da região perianal,
contaminadas, contato próximo com adultos que exclusiva da criança, causada pelo S.beta hemolítico
tenham lesões semelhantes ou verrugas vulgares. do grupo A.
Diagnóstico diferencial com o condiloma plano.
Caracterizada por eritema bem definido na região
Tratamento: procurar o tratamento menos agressivo, perianal, associado a prurido, dor a defecação e
já que a virose é relativamente benigna e tem caráter obstipação.
auto-limitado.
O diagnóstico e confirmado por “swab” e cultura e
• Sugestão o tratamento é feito com penicilina V por via oral.
• Ácido nítrico fumegante em aplicações semanais
• Ácido salicílico e ácido lático em colódio elástico
aplicados após o banho e com proteção ao redor GRANULOMA PIOGÊNICO
das lesões, seguido de oclusão com esparadrapo.
É uma lesão vascular comum nas crianças,
Usar diariamente até queda da lesão.
provavelmente resultante de reação proliferativa
• Crioterapia: sessões semanais ou quinzenais, vascular associada a trauma ou à presença de
provocando um congelamento rápido e descon- bactérias piogênicas. Apesar da possível associação
gelamento lento. com bactérias não é um processo infeccioso.
• Vacina anti-rubeólica
Normalmente é uma lesão única que se desenvolve
• Podofilina 25% no condiloma acuminado rapidamente sob a forma de tumor vermelho brilhante,
• Ácido retinóico tópico nas planas moderadamente firme, pedunculado de um a dois
centímetros de diâmetro e que tem como principal
característica sangrar facilmente, mesmo ao menor
ERISIPELA traumatismo, diminuindo sensivelmente de tamanho,
É uma forma de celulite superficial com envolvimento para aumentar de volume novamente.
linfático causada pelo S. beta hemolítico do grupo A.
Diferencia-se dos hemangiomas, cujo aspecto clínico
Causada pela inoculação da bactéria em solução de e histológico é muito semelhante pela idade de
continuidade da pele e após dois a cinco dias surgem aparecimento e sangramento fácil.
INTRODUÇÃO AVALIAÇÃO DO
PACIENTE COM CEFALÉIA
A cefaléia é uma queixa freqüente entre crianças1.
Até um terço das crianças de até sete anos de idade A história será a ferramenta fundamental na
apresenta um episódio de cefaléia anual. Esta cifra determinação do diagnóstico correto. Deve-se incluir
atinge a grande maioria da população quando perguntas para o paciente e o seu responsável.
incluímos os adolescentes. Engloba a abordagem da cefaléia propriamente dita
acrescida das etapas habituais da anamnese
A cefaléia pode também ocorrer de forma repetida
pediátrica.
nas crianças1. Apresenta-se pelo menos mensalmente
em boa parte desta população, obedecendo a uma As informações obtidas com as perguntas referentes
elevação na prevalência destas formas à medida à cefaléia devem ao final da história permitir que se
que avançamos na idade de nossos pacientes (5 a defina:
20%). As causas para tal sintoma são variáveis. 1. aspectos temporais: idade de início, freqüência,
Doenças febris comuns, distúrbios craniofaciais, duração, evolução;
situações de tensão, enxaqueca e distúrbios 2. aspectos qualitativos (pulsátil, constante, pontada),
associados à hipertensão intracraniana são alguns de localização e intensidade;
exemplos2,3,4,5,6,7,8. As doenças infecciosas como as
3. sintomas associados: gastrointestinais, fonofobia,
virais, a sinusite e a faringite estreptocócica
fotofobia, neurológicos (afasia, hemiparesia, vertigem,
representam dois terços das causas de cefaléia
oftalmoplegia, distúrbio da consciência), gerais;
atendidas em serviços de emergência2. Esta também
é a etiologia da maioria das crianças atendidas em 4. fatores precipitantes (circunstâncias, alimentos,
ambulatórios gerais 3 . Nesta última instância medicamentos, atividade), agravantes (posição,
encontram-se com elevada freqüência as cefaléias manobra de Valsalva, atividades) e atenuantes
de causas psicosociais e a enxaqueca3,4,5,7. (atividades, medicamentos).
A cefaléia em cada uma dessas situações pode ser Embora a maioria dos pacientes com cefaléia
suspeitada com base na história clínica e no exame apresente o exame físico integralmente normal, este
físico do paciente. Este texto objetiva ajudar o deve necessariamente incluir:
pediatra a reconhecer algumas das principais causas 1. temperatura axilar, pressão arterial, pulso;
de cefaléia. 2. peso, altura e exame da pele;
3. perímetro cefálico, ausculta craniana, sinais com base no tipo de cefaléia que o seu paciente
meníngeos; apresenta. Auxilia neste sentido rever os aspectos
temporais do sintoma, tentando classificar a cefaléia
4. fundoscopia e movimentos oculares.
em uma das seguintes categorias: (quadro 1): aguda,
Após estas duas etapas da avaliação, o médico aguda recorrente, crônica não progressiva, crônica
deverá ser capaz de formular hipóteses etiológicas progressiva.
A realização de exames complementares para Nas cefaléias agudas e nas crônicas progressivas
confirmação da etiologia deve ser orientada de podem vir a ser indicados exames de sangue, do líquido
acordo com as principais hipóteses. A extensão desta cefalorraquiano e de imagem. A maioria dos pacientes
investigação variará de acordo com cada caso, classificados nas categorias aguda recorrente ou crônica
havendo alguns nos quais estes serão desnecessários não progressiva apresenta exame neurológico normal
e outros nos quais serão imprescindíveis (quadro 2). e prescinde de exames complementares.
Sinais de alerta
1. cefaléia aguda
2. cefaléia crônica, mas com mudança de padrão recente ou com menos de 6 meses de evolução
3. “a cefaléia mais intensa já apresentada na vida”
4. cefaléia unilateral sem alternância dos lados
5. exame neurológico anormal
6. mudanças de personalidade ou comportamento
7. declínio de função cognitiva
Na imensa maioria das crianças que sofrem Outra constatação de natureza etiopatogência
dessa manifestação não se diagnostica doença importante refere-se ao aumento da sensibilidade
orgânica, sendo o quadro sindrômico definido como dolorosa à distensão do íleo, reto-sigmóide e ano-
Dor Abdominal Recorrente Funcional, uma vez que reto, o que reforça o significado da chamada
a antiga concepção de dor puramente psicogênica Constipação Oculta da Infância como causa da DAR6.
perdeu significado diante da evidência de que, Trata-se da condição presente em algumas crianças
nesses pacientes, os sintomas costumam ser que costumam reter suas fezes, tornando-se constipadas
expressão clínica de um distúrbio da sensibilidade sem se darem conta do fato. A distensão do cólon
gastrointestinal provocado pelo estresse físico ou desencadeia cólicas abdominais de caráter intermitente,
psicológico. de localização variável, geralmente referidas à região
periumbilical ou ao quadrante inferior esquerdo. São
Conhecimentos adquiridos nas últimas décadas
crianças que aparentam ter hábitos intestinais regulares
fortalecem a abordagem biopsicossocial da criança
mas que, na verdade, apresentam defecação
portadora de DAR, com base na caracterização de
incompleta, situação que pode ser revelada pela
dois mecanismos essenciais: a) Nociceptor, constituído
presença de fezes no reto, ao raio x simples de
pelo nervo periférico e receptor sensorial visceral,
abdômen, em posição supina e após micção completa.
encarregado da recepção e transmissão do estímulo
doloroso; b) Afetivo, representado pelo estado mental, Em síntese, a DAR resulta da somatória de
responsável pela gradação da resposta à dor. Fatores experiências de natureza sensorial, emocional e
genéticos, a experiência pessoal e o ambiente cultural cognitiva, particularizadas pelas diferenças individuais
interagem, estreitamente, para influenciar esse dois na captação das sensações viscerais, pelo grau de
mecanismos e determinar as características da reação estresse vivenciado pela criança, pelo tipo de sua
individual à dor. personalidade e pelo maior ou menor reforço dos
sintomas, provocado pelo comportamento dos
Define-se, assim, a existência de um Eixo Cérebro-
circunstantes em relação à sua queixa. Não há,
Intestinal ligando os sistemas nervosos central e
contudo, um padrão psicopatológico que assemelhe
entérico, de tal modo que as vias nervosas bidirecio-
os portadores de DAR.
nais desta estrutura comunicam as sensações viscerais
aferentes com a função motora intestinal, ambas
modificadas pelos centros corticais superiores. Assim, 5) CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
a condução dos estímulos originados nos receptores E ASPECTOS DIAGNÓSTICOS
nociceptivos, até à medula e cérebro, é regulada
pelo corno posterior da medula, sendo a dor A DAR costuma ter início entre dois e três anos de
finalmente influenciada pelos centros cognitivos e idade. Quando se manifesta antes desta faixa etária,
emocionais. são maiores as chances de causa orgânica.
A dor se localiza, caracteristicamente, na região
Admite-se que alterações nos receptores sensoriais
periumbilical ou no quadrante inferior esquerdo do
do intestino, na modulação da transmissão sensorial
abdômen, valendo o princípio de Stone e Barbero7,
no SNC ou periférico, na percepção cortical e na
segundo o qual, quanto mais próxima do umbigo for
memória da dor, possam criar uma situação de
a dor, menor é a chance de que sua origem seja
Hiperalgesia Visceral, que baixa o limiar para o
orgânica.
fenômeno doloroso, fazendo com que as referidas
estruturas transmitam estímulos que normalmente não O tipo da dor é mal definido pelo paciente, e seu
causam dor5. aparecimento se faz em qualquer hora do dia,
podendo, às vezes, despertar a criança de seu sono
Sabe-se, além disso, que os nervos sensoriais da
noturno. O sintoma pode melhorar durante os fins de
pele e músculos da parede abdominal estabelecem
semana, quando diminuem os estresses, ou durante
sinapses em vários interneurônios da medula, que
as férias, pela mesma razão.
atravessam alguns dermátomos. Essa peculiaridade
anatômica e fisiológica, conhecida por Convergência O início dos episódios é gradual, a dor é pouco
Víscerossomática, gera uma verdadeira difusão do intensa, e sua duração pode se estender por vários
campo da dor, e pode tornar difícil a diferenciação minutos ou, às vezes, se prolongar por horas ou
entre suas origens musculoesquelética e visceral. dias. Em outras ocasiões, o paciente refere uma
Cumpre, pois, assegurar aos pais que a manifestação Sempre que se suspeitar de intolerância a carboidratos
dolorosa é real, e interagir com eles no sentido de presentes em outras fontes alimentares, tais com a
restabelecer a tranquilidade na vida da criança, frutose das bebidas carbonatadas, o sorbitol ou o
assegurando-lhes que não há doença orgânica amido dietético, o tratamento consistirá de exclusão
causando os sintomas de seu filho. O outro passo do alimento suspeito, a título de prova terapêutica.
decisivo é explicar, com paciência e detalhe, o
O uso de medicamentos como antiespamódicos e
mecanismo da dor, seus fatores predisponentes e
anticolinérgicos será reservado como ultima instância
agravantes.
na tentativa de atenuar a intensidade do fenômeno
Nesse sentido, é sempre de valor ter em mente a doloroso.
possibilidade de atuação nos quatro grupos de fatores
assinalados por Rapparport, cuja interação atua seja
como elemento desencadeador do fenômeno doloroso, 8) EVOLUÇÃO
seja como modulador de sua natureza e intensidade. Com a condução adequada do tratamento,
O primeiro deles é composto pela PREDISPOSIÇÃO, implicando profundas modificações ambientais e
DISFUNÇÕES E DOENÇAS SOMÁTICAS. O exemplo comportamentais, cerca de um terço das crianças
principal de atuação neste caso é a terapêutica responde favoravelmente, livrando-se dos sintomas
laxante, aliada a modificações dietéticas instituídas da DAR. O restante dos casos evolui, na idade
para reverter a constipação, quando presente. O adulta, seja para síndrome do cólon irritável ( 30 a
segundo grupo de fatores é constituído pelos ESTILOS 50%), seja para outros quadros sintomáticos crônicos,
DE VIDA E HÁBITOS. Para sua normalização são como a cefaléia.
necessárias mudanças nas rotinas diárias da criança,
que possam estar contribuindo para a DAR, como é
o caso, por exemplo, dos longos períodos diante da
TV levando à retenção de fezes e constipação. O
9) BIBLIOGRAFIA
terceiro grupo refere-se ao MEIO AMBIENTE E 01 - Walker LS, Guite JW, Duke M. Recurrent abdominal pain:
a potential precursor of irritable bowel syndrome in
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por isso mesmo, ser identificados e afastados. 02 - Levine MD, Rappaport LA. Dores abdominais recidevantes
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Finalmente o quarto grupo de fatores é representado Clin. Ped. Am. Norte: 05 : 1017-1040,1984.
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comportamentos familiares que reforcem reações 05 - Hyams JS, Hyman PE. Recurrent abdominal pain and the
negativas ou respostas desfavoráveis aprendidas. É biopsychososial model of medical practice. J. Ped: 133(04):
473-478,1998.
preciso fazer com que os pais saibam apoiar a criança 06 - Barr RG, Levine MD. Chronic and occult stool retention.
e não a dor. A clínical tool for its evaluttion in school-aged
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Quando estiver presente a intolerância à lactose, o 07 - Stone RJ, Barbero G.J. Recurrent abdominal pain in
tratamento estabelecerá dieta restritiva deste açúcar. childhood. Pediatrics, 45:732,1970.
Problemas de Crescimento
MARCO ANTONIO BARBIERI
não ocorre de maneira linear e sofre influência sazonal, É importante avaliar também a história do
a velocidade de crescimento é melhor avaliada quando desenvolvimento puberal dos pais, principalmente: a
as medidas forem realizadas com intervalos de pelo idade da menarca materna, se o pai ainda cresceu
menos 4 meses. após se apresentar no serviço militar e se começou
a barbear-se cedo ou tarde.
Para avaliação do potencial genético, importante
para verificar se o padrão de crescimento da criança
tem caráter familiar, é necessário que se obtenha a 2.2. EXAME FÍSICO E ANTROPOMETRIA
altura dos pais. Para isso as fórmulas para o cálculo No exame físico da criança é importante verificar a
do canal familiar (CF) estão representadas a seguir: presença de alguns estigmas que possam sugerir
• crianças do sexo feminino: patologias genéticas, cromossômicas ou gênicas, e
mesmo associadas com distúrbios metabólicos e
CFF = (P - 13) + M ± 9 doenças endócrinas.
2
A precisão da medida de peso e estatura é a chave
para uma correta avaliação do crescimento. A
• crianças do sexo masculino: precisão engloba instrumentos calibrados e técnicas
CFM = P + (M + 13) ± 10 de medidas adequadas. Além disso é importante
2 colocar estas medidas frente a uma curva de
referência. São importantes também outras medidas
Onde “CFF” é o canal familiar feminino; “CFM” é o como altura sentado, e outras proporções corporais
canal familiar masculino; M é a altura da mãe em (para a distinção de baixa estatura proporcionada e
cm; P é a altura paterna em cm. O canal familiar desproporcionada), pois elas auxiliam no diagnóstico
máximo e o canal familiar mínimo correspondem, diferencial.
respectivamente, ao extremo superior e inferior do
intervalo do intervalo de confiança (95%). Para o 2.3. AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO PUBERAL
sexo feminino o número 9 representa 2 desvios Ainda como parte do exame físico, a avaliação dos
padrões (um desvio padrão é 4,5 cm), a adição de estágios puberais é baseada nos critérios descritos
9 encontra o limite superior do canal e o limite por TANNER (1962), usando padrões de
inferior do canal é encontrado diminuindo-se 9. Para desenvolvimento para mamas e pelos pubianos nas
o sexo masculino o número 10 representa 2 desvios meninas e genitais e pelos pubianos para os meninos,
padrões ( um desvio padrão é 5 cm), a adição de com uma escala que varia de 1 a 5. O primeiro
10 encontra o limite superior do canal e o limite sinal de puberdade na menina é o aumento da mama
inferior é encontrado diminuindo-se 10. e do menino é o aumento do testículo (> 3 cm3 do
A constante “13” refere-se ao valor em centímetros volume avaliado pelo orquidômetro de Prader).
na estatura final que os homens tem, em média, a As meninas apresentam a menarca aproximadamente
mais que as mulheres. Estes centímetros são obtidos 2 anos após o início do desenvolvimento mamário,
devido aos 2 anos posteriores no desenvolvimento enquanto os homens completam a puberdade 2 a
puberal dos meninos, o que lhes dá 11 cm a mais 4 anos após.
(5,5 cm/ano) e os outros 2 cm é a diferença no
pico máximo de crescimento dos homens em relação 2.4. AVALIAÇÃO DA IDADE ÓSSEA
às mulheres.
A idade óssea é verificada através da radiografia
Lembrar que este cálculo só é bom referencial quando de punho e mão esquerda comparada com o Atlas
usado no período da equação da reta na curva de de Greulich-Pyle. O tempo de início da puberdade
crescimento, ou seja, de 2 a 3 anos de idade até está mais relacionado com a maturidade óssea do
9 a 10 anos de idade. A partir desta idade o canal que com a idade cronológica. A média de idade
de crescimento depende do tipo de maturação, se do início da puberdade em mulheres (mamas no
esta é precoce, mediana ou tardia, podendo a curva estágio II de Tanner) é a idade óssea de 10,9
de crescimento ficar por algum período fora do canal anos, e para homens (testículos >3 cm3) é a idade
familiar, que irá se restabelecer após o início da óssea de 11,5 anos. A idade óssea dá informações
puberdade. relativas ao potencial do crescimento, porque a
estatura final é influenciada pela velocidade de 3 e 97), a família pode ser tranqüilizada. Neste
crescimento e a maturidade esquelética. Uma criança caso, o acompanhamento com avaliação da idade
tem potencial de crescimento aumentado se a idade óssea é suficiente. A estatura final pode ser predita
óssea for atrasada em relação a idade cronológica. por vários métodos, mas eles são pouco válidos para
crianças com velocidade de crescimento anormal.
3. EVOLUÇÃO DIAGNÓSTICA Se a história e/ou exame físico levarem a outras
Uma boa anamnese e um bom exame físico, incluindo suspeitas diagnósticas, outros exames laboratoriais
o estadiamento puberal, leva na maioria das vezes a podem ser necessários, como avaliação dos
um diagnóstico preciso. A anormalidade da velocidade hormônios tireoideanos e sexuais, cariótipo. Em
de crescimento é que mais distingue entre presença situações em que forem descartadas outras patologias,
ou ausência de doença. Se a velocidade de testes para avaliação do GH são necessários.
crescimento é normal para a idade (entre o percentil
4. PRINCIPAIS CAUSAS DE BAIXA ESTATURA mesmo porque os estudos não mostraram vantagens
no uso de GH em pacientes com este tipo de
4.1.VARIANTES NORMAIS diagnóstico. Os pais devem ser orientados quanto
ao padrão normal e genético do crescimento da
A) BAIXA ESTATURA FAMILIAR – Este diagnóstico é
criança.
feito quando a criança tem percentil de estatura para
idade menor do que 3, não tem idade óssea B) BAIXA ESTATURA CONSTITUCIONAL – Esta é a
atrasada, não apresenta característica de alterações causa mais comum atendida em clínicas de problemas
gênicas ou cromossômicas, é apropriada para o de crescimento. Este diagnóstico é feito quando a
canal familiar ou potencial genético e tem velocidade criança tem percentil de estatura para idade menor
de crescimento normal. O estirão puberal ocorre na do que 3, tem idade óssea atrasada, velocidade de
idade cronológica normal. O tratamento é expectante, crescimento normal e não segue o canal familiar.
Estes pacientes têm comprimento de nascimento c) Anomalia Gênica – Síndrome de Noonan – Trata-
normal e a desaceleração do crescimento ocorre se de uma anormalidade gênica e não cromossômica
nos primeiros 2 anos de vida. Eles têm atraso da que ocorre no sexo masculino ou feminino, em que
puberdade e consequentemente atraso do estirão de o paciente tem características clínicas da síndrome
crescimento. O tratamento é expectante e requer de Turner.
tranqüilizar a criança e a família.
d) Causas não endócrinas – As causas não
C) BAIXA ESTATURA CONSTITUCIONAL COM endócrinas são mais comuns do que as causas
COMPONENTE FAMILIAR – Este diagnóstico é feito endócrinas. O paciente tem proporções corporais
quando a criança tem percentil de estatura para normais. Em geral a história e o exame físico são
idade menor do que 3, tem idade óssea atrasada, suficientes para fazer o diagnóstico definitivo. As
velocidade de crescimento normal e segue o canal causas mais freqüentes são: nanismo psicossocial,
familiar. O canal familiar por sua vez situa-se parcial desnutrição, doenças cardíacas e pulmonares, anemia
ou totalmente abaixo do percentil 3. crônica, doenças renais, doenças gastrointestinais e
mucopolissa- caridoses.
4.2. BAIXA ESTATURA DE CAUSA PATOLÓGICA
A) BAIXA ESTATURA DESPROPORCIONADA
CONCLUSÃO
1. Displasia óssea Pacientes com baixa estatura podem não ser
2. Raquitismo reconhecidos se medidas rotineiras e precisas não
forem realizadas. Uma precisa avaliação do
B) BAIXA ESTATURA PROPORCIONADA crescimento requer medidas confiáveis e precisas, e
1. Início pré-natal - Retardo do crescimento intra- correto uso de padrões de crescimento. Isto pode ser
uterino – A criança apresenta comprimento e/ou feito em ambulatório de cuidados primários,
peso ao nascer abaixo do 3o percentil para a idade anualmente ou em cada visita médica.
gestacional. Fica classificada nesta situação a Quando avaliamos crianças com baixa estatura,
Síndrome de Silver-Russell em que, além do dados prévios de crescimento, história alimentar,
comprimento ser menor do que o percentil 3, história do nascimento, altura dos pais e história do
apresenta uma assimetria do tronco ou dos membros. desenvolvimento puberal dos pais são extremamente
2. Início pós-natal importantes. Muitas crianças com baixa estatura não
tem anormalidade endócrina e o pouco crescimento
a) Causas endócrinas – A baixa estatura de causa
é o único problema. Se o diagnóstico da causa não
endócrina é menos comum do que as de causas
foi feito pela história e exame físico, exames
não endócrinas. Pode-se citar: pan-hipopituitarismo,
laboratoriais individualizados para cada paciente
hipotiroidismo, excesso de glicocorticóides, déficit
podem determinar o diagnóstico. Algumas crianças
de GH (baixa estatura por déficit de GH é incomum).
necessitam de testes especializados, como cariótipo
b) Anomalia Cromossômica – a principal representante ou teste para verificar déficit de GH. A terapêutica
é a Sindrome de Turner. É baixa estatura que ocorre para baixa estatura depende do entendimento da
no sexo feminino, podendo apresentar também sinais etiologia. Na maioria das vezes a tranquilidade de
físicos típicos como: pescoço alado, implantação baixa pediatra, criança e familiares, além de necessária,
da orelha, cabelo em tridente, tórax em “escudo”, é totalmente suficiente.
valgismo cubital e encurtamento do 3º metacarpo. Na
idade puberal o hormônio folículo estimulante e
luteinizante estão aumentados, indicando falha primária REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
do ovário, pois estas meninas têm gônodas
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6 (3): 8-15, 1997. p.1-16, 1985.
As evidências científicas que recomendam o leite mecanismos que levam um medicamento a ser
materno como alimento exclusivo nos primeiros seis excretado no leite materno e variáveis da criança
meses de vida são inúmeras e certamente outras que determinarão maior ou menor resposta
ainda serão relatadas. Portanto, todo e qualquer farmacológica.
fator que possa interferir ou dificultar o aleitamento
Independente da via de administração da droga, o
deve ser cuidadosamente considerado. As drogas
nível plasmático se constitui um dos elementos mais
utilizadas pelas mães que amamentam se constituem
importantes na correlação com os níveis detectados
freqüentemente em um fator indutor de desmame.
no leite materno. Quanto maior o nível plasmático
Existem, no entanto, regras básicas que podem
materno maior o nível da droga encontrado no leite
auxiliar o médico diante da necessidade de prescrever
materno. O pico de concentração no leite ocorre
a uma mulher que esteja amamentando.
quase que concomitante ao pico plasmático materno.
Os medicamentos podem interferir no processo de
Estima-se que, em média, a quantidade de um
aleitamento de duas maneiras diferentes: interferindo
medicamento que é transferida para o leite não
na produção do leite e agindo farmacologicamente
ultrapasse a 2% da dose ingerida pela nutriz.
no lactente.
A partir da corrente sangüínea, a droga atinge o
citoplasma da célula mamária, chegando ao ápice
INTERFERÊNCIA NA PRODUÇÃO da célula. A partir daí a droga será transportada
para o leite por três mecanismos principais: difusão,
Alguns medicamentos podem levar à diminuição da
pinocitose reversa e secreção apócrina. A difusão
produção do leite por intermédio de diferentes
passiva é o mecanismo principal na transferência
mecanismos. Os diuréticos podem provocar perdas
das drogas para o leite. A difusão transcelular,
hídricas; drogas com atividade simpaticomiméticas
intercelular e a ligação com proteínas carreadoras
ou que produzam vasiconstrição levam à diminuição
se constituem em outros mecanismos de transporte.
do fluxo sangüíneo à mama, como a atropina, a
nicotina, os descongestionantes nasais e os As propriedades físico-químicas exercem influência
estimulantes do SNC. importante na transferência das drogas do plasma
para o leite. Dentre estas propriedades destacam-se:
Alguns medicamentos produzem aumento na liberação
lipossolubilidade, peso molecular, grau de ionização
de fatores inibidores da liberação da prolactina:
e ligação com as proteínas.
bromocriptina, pridoxina, levodopa, inibidores da
monoaminooxidase. Por outro lado, alguns Quanto maior a lipossolubilidade, maior a facilidade
medicamentos suprimem a liberação dos fatores de transferência da droga para o leite. A fração
inibidores da prolactina agindo como lactagogos: lipossolúvel é a fração não ionizada de uma droga.
metoclopramida, sulpiride, cimetide e alguns anti- Algumas drogas estão quase que permanentemente
hipertensivos como a reserpina, clonidina e metildopa. ionizadas, como os compostos quaternários do amônio,
sendo pouco transferidos para o leite. As bases fracas
predominam em sua forma não ionizada no pH mais
AÇÃO FARMACOLÓGICA alto do plasma e passam ao leite materno, que tem
um pH ligeiramente mais ácido, onde são ionizadas
NO LACTENTE
e se concentram em maior quantidade que no plasma.
A maior preocupação do médico, no entanto, ao Ácidos fracos como barbitúricos, diuréticos e
prescrever à mãe que amamenta, está relacionada benzilpenicilinas têm uma concentração igual ou menor
ao possível efeito farmacológico do medicamento que no plasma. Moléculas de alto peso molecular,
no lactente. Daí a importância de se conhecer os como a heparina e insulina, não são excretadas no
leite. Drogas com alta ligação com as proteínas sulfas, anti-maláricos e outros medicamentos oxidantes,
plasmáticas apresentam maior dificuldade para serem mesmo quando em baixa dosagem.
transferidas para o leite.
Ao se revisar a literatura sobre o assunto, verifica-se
A relação entre a concentração da droga no leite que os efeitos adversos provocados por uma droga
e no plasma se expressa pela razão leite/plasma. utilizada durante a amamentação, constituem-se, na
Preocupação maior deve se ter quando esta relação maioria das vezes, de relatos de casos isolados,
é igual ou superior a 1. Aspecto importante a ser faltando os preceitos metodológicos que habitualmente
considerado quanto ao possível efeito farmacológico se requer na investigação científica.
são as características do lactente. O volume do Portanto, a avaliação do risco/benefício deve sempre
leite por ele ingerido dependerá da idade e se o prevalecer na decisão quanto à conduta a ser
aleitamento é exclusivo ou não. Tratando-se de um tomada. Apesar do número enorme de medicamentos
prematuro ou de uma criança menor que 3 meses, utilizados no dia a dia, são muitos poucos os efeitos
deve-se considerar a sua menor capacidade adversos relatados. Dessa maneira, a lista de
hepática e/ou renal de metabolizar as drogas, bem medicamentos que efetivamente devem ser contra-
como se for portador de uma hepatopatia ou indicados é constituída por um número pequeno de
nefropatia. medicamentos
Algumas drogas são excretadas pelo leite, porém Algumas medidas podem limitar a exposição do
não são absorvidas pelo lactente. É o que se observa lactente a medicamentos excretados no leite materno:
com os aminoglicosídeos, que não são absorvidos
• Usar medicamentos mais conhecidos
pelo tubo gastro-intestinal e as tetraciclinas, cuja
absorção é muito pobre devido à formação de • Usar dose terapêutica mínima
quelatos com íons de cálcio do leite materno. • Prescrever o medicamento para ser tomado após
as mamadas
Fatores ambientais, genéticos e sensibilidade
individual podem determinar respostas diferentes à • Utilizar dose noturna quando possível
exposição medicamentosa. Lactentes deficientes em • Considerar a idade e o estado clínico do lactente
G-6-PD são particularmente sensíveis a desenvolver • Monitorar clinicamente e dosar níveis plasmáticos
quadro hemolítico quando expostos a cloranfenicol, no lactente dependendo do medicamento
A alimentação do RN prematuro com leite materno para os prematuros maiores, com idade gestacional
é uma arte que envolve não só conhecimentos próxima do termo, é a melhor forma de oferecer os
científicos e técnicos, mas também experiência , componentes nutritivos, principalmente pelas
empenho e dedicação de toda a equipe que trabalha propriedades de defesa e função estrutural. O leite
com a mãe e a criança. materno das mães de RN prematuros tem composição
diferente do leite das mães dos nascidos a termo,
Apesar de as mães se declararem intencionadas e
apresentando maior valor calórico com maior
esforçarem-se para oferecer seu leite ao bebê
concentração de proteínas, sódio e cloretos e menor
prematuro internado, muitas vezes acabam desistindo,
de lactose.
ao terem alta da maternidade ou no período
subseqüente, se não tiverem um apoio consistente
que começa nas consultas do pré- natal e continua
pelo período imediato após o parto, passando pela PARTICULARIDADES DO LEITE
fase de risco na UTI, no período estável de ganho
MATERNO QUANTO À
ponderal e no preparo para a alta, seguindo nas
revisões pós-alta.
ADEQUAÇÃO AOS PREMATUROS
Alguns estudos realizados nos Estados Unidos na Composição
década de 80 demonstraram que mais da metade O conteúdo protéico total do leite prematuro é maior
das mães que pretendiam amamentar seus recém- que o do leite a termo, diminuindo nas duas primeiras
nascidos prematuros desistiam antes da alta dos bebês semanas, chegando a uma mesma concentração por
da UTI, apesar de todo o esforço, declarando que volta da quarta semana.
o insucesso da lactação se devia a obstáculos
Na composição das proteínas do leite materno
próprios da internação, tais como informações
predomina a lactoalbumina no soro(60%) em vez da
incoerentes e contraditórias sobre a lactação, falta
caseína(30%) proporcionando maior solubilidade do
de apoio dos médicos e enfermagem, dificuldades
coágulo, promovendo esvaziamento gástrico mais
no esvaziamento das mamas no período em que o
lento. As proteínas do soro consistem fundamentalmente
bebê ainda não sugava e ausência de local
de α lactoalbumina, importante na síntese da lactose.
apropriado para amamentação.Quanto ao insucesso
Praticamente não tem β globulina, fração responsável
após a alta citavam também informações insuficientes
por mecanismos de reação alérgica.
e conflitantes com as que tinham recebido durante a
internação. A relação metionina/cisteína do leite materno próxima
a 1 é fundamental aos prematuros por apresentarem
O crescimento extra- uterino ideal do prematuro ainda
diminuição da síntese da cisteína e os baixos teores
é mal definido, apesar de exaustivamente discutido.
de fenilalanina e tirosina também os beneficiam pela
A nutrição do recém-nascido prematuro tem como
incapacidade de metabolização devido a imaturida-
objetivo proporcionar um crescimento adequado
de hepática.
comparável ao padrão intra-uterino até a 40ª semana
de gestação. Suas necessidades nutricionais variam A digestão e absorção dos lipídeos do leite materno
conforme peso, idade gestacional, método de são facilitadas pela complexa organização dos
alimentação usado, alterações metabólicas causadas glóbulos de gordura, pelo padrão dos ácidos graxos,
por doenças que possam apresentar e métodos pela distribuição das moléculas de triglicerídeos e
terapêuticos a que são submetidos. pela presença da lipase.
Não existe dúvida que para o recém-nascido a termo Os ácidos graxos de cadeia longa aracdônico e
o leite materno é recomendado como fonte completa docosaexaenóico, derivados do ácido linoleico e
e exclusiva de nutrientes até o sexto mês de vida e linolênico, respectivamente, apenas encontrados no
A colononização intestinal do RN alimentado com Apesar das qualidades, alguns estudos mostraram
leite materno, predominante com Lactobacillus bifidus, que recém nascidos prematuros de muito baixo
inibe o crescimento de flora mais patogênica e o peso (<1500g), que recebem leite materno,
sistema imune enteromamário, ativo no recém nascido apresentam crescimento mais lento e que alguns
a termo, pode ser proporcionado ao prematuro nutrientes do leite materno não são suficientes
quando o contato precoce pele a pele for praticado. para as necessidades da fase de crescimento
rápido principalmente quanto à calcificação óssea.
Desenvolvimento neurológico A diminuição do conteúdo de proteínas e do
sódio após as primeiras semanas de lactação
Recém nascidos de muito baixo peso que receberam
despertam preocupação quanto a hipoalbuminemia
leite materno precocemente durante a hospitalização,
e hiponatremia.
quando avaliados aos 7.5 a 8 anos de idade,
apresentaram melhores resultados em testes de As concentrações de cálcio e fósforo do leite humano
inteligência com melhor desempenho e expressão tanto das mães de prematuros quanto das mães
verbal. Estudo realizado em recém nascidos a termo de recém nascidos a termo são semelhantes, em
mostrou que habilidades motoras e cognitivas a longo torno de 25 mg/dl de cálcio e 15 mg/dl de
prazo, foram diretamente relacionadas com duração fósforo, bastante inferiores às necessárias para pro-
do aleitamento materno. mover a incorporação desses minerais comparável
à intra uterina, que teriam no 3º trimestre da ges- dos efeitos sobre o crescimento e desenvolvimento
tação. Se o volume de leite materno diário ingerido a curto e a longo prazo.
pelo prematuro for o adequado para a oferta
calórica, em torno de180 a 200 ml/kg ele estará
recebendo 45 a 60 mg/kg/dia de cálcio e 22
NORMAS DE ALEITAMENTO
a 30 mg/kg/dia de fósforo menos que as neces- MATERNO AOS PREMATUROS
sidades diárias que são130 a 150 mg/kg/dia Com o objetivo de aumentar os índices de aleitamento
de cálcio e 75 a 85 mg/kg/dia de fósforo, po- materno seguimos atualmente em nosso serviço a
dendo levar a hipomineralização óssea e suas seguinte normatização aos prematuros que
consequências. permanecem internados após alta da mãe:
Frente a essas particularidades, algumas soluções 1. Ordenha precoce das mamas logo nas primeiras
têm sido propostas. Pesquisas mais recentes tem horas após o parto continuando a seguir com
demonstrado o efeito da suplementação do leite intervalos regulares. Procedimentos realizados e
materno, aumentando a concentração de proteínas, orientados pela enfermagem da unidade e do banco
sódio, cálcio, fósforo, vitaminas e melhorando a oferta de leite.
calórica. Tem sido utilizados como suplementação, 2. Leite fresco ordenhado da própria mãe,
somente o acréscimo de proteínas obtidas de conservado no refrigerador, oferecido em bolo por
centrifugado de leite materno de banco até fórmulas sonda gástrica até iniciarem sucção.
comerciais contendo multinutrientes em forma de pó 3. Volumes iniciais e aumentos conforme peso do
ou líquido. Os produtos comerciais contém proteínas RN e tolerância digestiva.
liofilisadas do leite humano ou do leite de vaca,
4. Intervalo de ofertas de 2 a 4 horas.
cálcio e fósforo em diferentes formas de sais, açúcares
e vitaminas. Utilizados há algum tempo, nos Estados 5. Prematuro de muito baixo peso, volumes iniciais
Unidos e em alguns países da Europa, estes produtos mínimos, em torno de 10 ml/kg/dia como nutrição
estão disponíveis em nosso meio como fortificantes trófica, com pequenos aumentos diários, nunca
do leite materno. maiores que 20 ml/kg/dia. Ao atingir dieta enteral
de 150 ml/kg/dia, suplemento ao leite da própria
Estudos comparando a alimentação dos prematuros mãe ou do banco de leite, com formula comercial
de muito baixo peso com leite materno de multinutrientes até capacidade de sucção total no
suplementado, ou não, foram realizados para seio.
avaliar o crescimento, o desenvolvimento neurológico
5. Retorno precoce após alta com orientações e
e o metabolismo ósseo. Os resultados principais
apoio no ambulatório de revisão de prematuros e
têm demonstrado que a curto prazo a suplementação
clínica de lactação.
promove aumento de ganho ponderal, da estatura
e do perímetro cefálico. Não exercem efeito nos
níveis séricos de fosfatase alcalina. O conteúdo
mineral ósseo e a retenção nitrogenada parecem
estar aumentados.
Conclui-se que para avaliar o uso de diferentes 03 - PEREIRA,G.R. Nutritional care of the extremely premature
infant. Clinics in Perinatology, v.22, n.1, p.61-75, mar.
preparados de multinutrientes em recém nascidos 1995.
prematuros de muito baixo peso, são necessárias
04 - SCHANLER,R.J. Suitability of human milk for the low
mais pesquisas, comparando suplementação versus birth weight infant. Clinics in Perinatology, v.22, n.1,
não suplementação do leite materno, com análise p.207-23, mar. 1995.
05 - SCHANLER,R.J. The role of human milk fortification for 10 - WAUBEN,I.P.et al. Moderate nutrient supplementation of
premature infants. Clinics in Perinatology, v.25,n.3. mother’s milk for preterm infants supports adequate bone
p.645-57, sept. 1998. mass and short-term growth:a randomized, controlled trial.
Am J. Clin.Nutr., v.67, p.465-72, 1998.
06 - LUCAS, A.; MORLEY,R.; COLE,T.J.; ANDGORE,S.M.
A randomised multicentre study of human milk versus formula 11 - MATALOUN,M.M.G.B. ; LEONE,C.R. Peculiaridades do
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v.70, p.F141-F146 , 1994. análise critica de literatura.Pediatria (São Paulo), v.20,
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07 - LUCAS, A., .FEWTRELL, M.S.,MORLEY,R. et al. Randomised
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outcome trial of human milk fortification and developmental
Supplementation with human milk protein improves growth
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p.142-51, aug. 1996
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08 - LUCAS,A.; MORLEY,R. ; COLE,T.J. Randomised trial of 13 - KUSCHEL,C.A.; HARDING,J.E. Multicomponent fortification
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BMJ,v.317, p1481-7, nov.1998. na Internet via www. URL: Erro! A origem da referência
não foi encontrada.. Arquivo capturado em 10/06/99.
09 - PETTIFOR,J.M. et al. Mineral homeostasis in very low
birth weight infants fed either own mother’s milk or pooled 14 - HURST,N.M.; VALENTINE,C.I.; RENFRO,L. et al. Skin-to-skin
pasteurized preterm milk. J. Pediatr. Gastroenterol. Nutr., holding in the neonatal intensive care unit influences maternal
v.5, n.2, p.248-53, 1986. milk volume. J.Perinatology, v.17,n.3,p.213-17,1997
Fisiológicos
Intoxicação exógena
Psicogênicos
enxaqueca, tais como estado confusional, hemiplegia, a existência de fenômenos dos mais variados, inclu-
ataxia e sinais de comprometimento de nervos sive crises epilépticas. Isto acaba levando a realiza-
oculomotores, o diagnóstico de enxaqueca nem sempre ção de investigações extensas e que algumas vezes
é considerado. colocam em risco a criança, além da instituição de
diversos esquemas terapêuticos.
5. Intoxicação exógena
A possibilidade de intoxicação exógena deve sempre
ser lembrada em crianças com fenômenos motores
INVESTIGAÇÃO E TRATAMENTO
de aparecimento agudo que simulam convulsões. Na maior parte das vezes, a história clínica sugere
Medicamentos com atuação sobre o sistema nervoso o diagnóstico do DPONE, não sendo necessário
central, tais como antieméticos (metoclorpramida, investigação complementar. No entanto, existem
bromopride e outros) e antipsicóticos (haloperidol e algumas exceções, conforme já apontado. Assim,
fenotiazínicos), podem levar ao aparecimento de uma síncope aos esforços ou sem desencadeante
hipertonia com desvio vertical para cima dos olhos, definido pode levar à investigação de uma causa
parkinsonismo e dificuldade. cardiológica. Um evento paroxístico recorrente
ocorrido durante o sono que não é característico de
6. Vertigem paroxística da infância uma parasonia clássica pode levar à investigação
de epilepsia. E finalmente, os distúrbios paroxísticos
É uma condição benigna, ocorrendo em geral entre
psicogênicos podem ser de difícil elucidação e vão
1 e 5 anos de idade e que se caracteriza por
necessitar experiência por parte do médico para
episódios de poucos minutos de duração em que a
serem diagnosticados. A maior parte dos DPONE
criança mostra-se desequilibrada, recusa-se a
descritos previamente não necessita de tratamento
caminhar e procura apoio de quem está próximo.
específico, devendo a família ser tranqüilizada quanto
Estes episódios podem se repetir mais algumas vezes
à natureza benigna desses eventos.
e deixam de ocorrer após os 6 anos de idade.
A. Déficit da Atenção definido pela presença de pelo menos seis (6) dos seguintes itens:
1. Freqüentemente falha em dar atenção a detalhes ou comete erros grosseiros nas atividades escolares,
deveres ou outras atividades.
2. Freqüentemente tem dificuldade em manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas.
3. Freqüentemente parece não escutar quando lhe falam diretamente.
4. Freqüentemente não consegue seguir completamente instruções e não consegue terminar tarefas escolares,
atividades domésticas ou deveres (não devido a atitudes negativistas ou falha na compreensão das instruções).
5. Freqüentemente tem dificuldade em organizar tarefas e atividades.
6. Freqüentemente evita, não gosta, ou fica relutante em se engajar em atividades que necessitam de um esforço
mental contínuo (tais como deveres escolares, ou trabalhos domésticos).
7. Freqüentemente perde coisas necessárias para suas atividades ou trabalhos (p.ex.: brinquedos, deveres escolares,
lápis, livros, ferramentas, apetrechos de uso pessoal).
8. Freqüentemente é facilmente distraído por estímulos externos.
9. Freqüentemente se esquece das suas atividades diárias.
B. Hiperatividade/Impulsividade definidas pela presença de seis (6) dos nove critérios abaixo, dos quais seis dizem
respeito à hiperatividade e três à impulsividade:
Hiperatividade
1. Freqüentemente inquieto com as mãos e pés, ou se mexendo constantemente quando sentado.
2. Freqüentemente deixa o seu assento na classe ou em outras situações quando se espera que permaneça
sentado.
3. Freqüentemente corre ao redor, ou trepa nas coisas, em situações onde isso não é apropriado (em adolescentes
ou adultos isto pode se limitar a uma sensação subjetiva de inquietude).
4. Freqüentemente tem dificuldade em brincar ou se engajar em atividades de lazer de forma quieta.
5. Freqüentemente está “pronto para decolar”, ou freqüentemente age como se estivesse “ligado a um motor”.
6. Freqüentemente fala excessivamente.
Impulsividade
7. Freqüentemente responde de forma intempestiva antes que a pergunta esteja completamente formulada.
8. Freqüentemente tem dificuldade para aguardar pela sua vez.
9. Freqüentemente se intromete ou interrompe os outros (p.ex.: se intromete em conversas ou em jogos).
Entretanto, é preciso deixar claro que o tratamento 07 - Giedd JN et al. Quantitative morphology of the corpus
callosum in attention deficit hyperactivity disorder. Am J
medicamentoso não deve ser usado indiscriminada- Psychiatry 1994;151:665-9.
mente. Os efeitos colaterais mais comuns são a 08 - Halperin JM, Matier K, Bedi G, Sharma V, Newcorn JH.
irritabilidade, anorexia, insônia e efeito “rebote” Specificity of inattention, impulsivity, and hyperactivity to
the diagnosis of attention-deficit hyperactivity disorder.
comportamental (com drogas de ação curta). Não há J Am Acad Child Adolesc Psychiatry 1992;31:190-6.
evidências de que a utilização do aspartame ou açúcar
09 - Kelly DP, Aylward GP. Attention deficits in school-aged
modifique o quadro clínico dessas crianças15. children and adolescents. Current issues and practice.
Pediatr Clin North Am 1992; 39: 487-512.
O treinamento cognitivo isolado ou combinado com
10 - Lahat E et al. BAEP studies in children with attention deficit
drogas estimulantes não parece ser eficaz em crianças hyperactivity disorder. Dev Med Child Neurol
hiperativas1. 1995;37:119-23.
11 - Lou HC, Henriksen L, Borner H, Nielsen JB. Striatal
dysfunction in attention deficit and hyperkinetic disorder.
Arch Neurol 1989;46:48-52.
12 - Mannuzza S, Klein RG, Bessler A, Malloy P, LaPadula M.
Adult outcome of hyperactive boys. Arch Gen Psychiatry
IX - Referências Bibliográficas 1993;50:565-76.
01 - Abikoff H. Cognitive training in ADHD children: less to it 13 - Rapport MD. Controlled studies of the effects of psycho
than meets the eye. J Learn Disabil 1991;24:204-9. stimulants on children’s functioning in clinic and classroom
settings. In Conners K, Kinsbourne M. (eds.), Attention
02 - American Psychiatric Association. Diagnostic criteria from Deficit Hyperactivity Disorder. München: Medizin Verlag,
DSM-IV. Washington DC: American Psychiatric Association, 1990: 77-111.
1994: 63-6.
14 - Rosemberg PB. Attention deficit. Pediatr Neurol
03 - Conners K. Diagnosis of attention deficit hyperactivity 1991;7:397-405.
disorder (ADHD). In Conners K, Kinsbourne M. (eds.), 15 - Shaywitz BA et al. Aspartame, behavior, and cognitive
Attention Deficit Hyperactivity Disorder. München: Medizin function in children with attention deficit disorder. Pediatrics
Verlag,1990:17-35. 1994;93:70-5.
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nucleus in attention deficit hyperactivity disorder. Am J status. Hyperactive children grown up. 2nd ed. New York:
Psychiatry 1994;151:1791-6. Guilford Pr, 1993:61-83.
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hyperactivity disorder. Child Adolesc Psychiatr Clin N Am attention-deficit hyperactivity disorder. Arch Gen Psychiatry
1994;3:285-301. 1993;50:333-40.
Tuberculose
CLEMAX COUTO SANT’ANNA
Quadro 1
1. As manifestações clínicas podem ser variadas. O outros métodos diagnósticos, tais como broncoscopia,
dado que chama atenção na maioria dos casos é punções e até mesmo biópsia pulmonar por
a febre, habitualmente moderada, persistente por mais toracotomia. Nestas condições, além de exame
de 15 dias e freqüentemente vespertina. É comum a bacteriológico, pode-se proceder a exame cito ou
sudorese noturna, às vezes profusa, enquanto que o histopatológico para aumentar a chance de
relato de hemoptise é relativamente raro. positividade.
Muitas vezes a suspeita de tuberculose acontece em Há perspectivas de diagnóstico rápido da
casos de pneumonia que não apresentam melhora tuberculose através de testes imunológicos que
com o uso de antimicrobianos para germes comuns. pesquisam antígenos e anticorpos e da biologia
Há predomínio da localização pulmonar sobre as molecular, cujo exemplo mais importante foi
demais formas de tuberculose, isto é, as formas alcançado com as sondas de DNA. Os métodos
extrapulmonares. imunológicos, dentre eles o ELISA, cujo rendimento
é melhor observado em líquidos de serosas, são
2. Os achados radiográficos da tuberculose pulmonar mais simples quando há dificuldade de obter
mais compatíveis são: adenomegalias hilares e/ou secreções acessíveis, embora não possam ser
paratraqueais (gânglios mediastínicos aumentados de empregados na rotina atualmente.
volume); pneumonias com qualquer aspecto
radiológico, de evolução lenta, às vezes associadas O método PCR (reação em cadeia da polimerase)
a adenomegalias mediastínicas, ou que cavitam envolve a identificação de cadeias de DNA
durante a evolução; infiltrado nodular difuso (padrão específicas do M. tuberculosis e pode ser realizado
miliar). O diagnóstico diferencial com tuberculose em diversos materiais (escarro, lavado gástrico e
deve sempre ser feito em crianças com pneumonia broncoaspirado). Ainda há poucos trabalhos sobre
de evolução lenta, isto é, quando o paciente vem sua utilização em pediatria.
sendo tratado com antibióticos para germes comuns 2.1. DIAGNÓSTICO DA TUBERCULOSE
sem apresentar melhora após duas semanas. EXTRA-PULMONAR
3. A história de contágio com adulto tuberculoso Algumas localizações extrapulmonares da tuberculose
bacilífero ou não, deve ser valorizada principalmente são mais freqüentes na infância, atingindo gânglios
nas crianças até a idade escolar periféricos, pleura, ossos e meninges. A tuberculose
do aparelho digestivo (peritonite e intestinal),
4. O teste tuberculínico, realizado com PPD através
pericardite, gênito-urinária e cutânea são mais raras.
da reação de Mantoux, pode ser interpretado da
seguinte maneira: A tuberculose ganglionar periférica acomete geralmente
• não reator - inferior a 5 mm. cadeias cervicais, em geral é unilateral, com
adenomegalias de evolução lenta, superior a três
• reator fraco - entre 5 e 9 mm
semanas. Os gânglios têm consistência endurecida e
• reator forte - 10 mm ou mais podem fistulizar (escrófula ou escrofulodrema). É comum
O teste tuberculínico pode ser considerado positivo a suspeita em casos de adenomegalia que não
(reator) quando superior a 10 mm em crianças não responderam ao uso de antibióticos.
vacinadas com BCG ou vacinadas há mais de 2 A meningoencefalite tuberculosa costuma cursar com
anos; ou superior a 15 mm em crianças vacinadas fase prodrômica de uma a oito semanas, quase
com BCG em qualquer época.
sempre com febre, irritabilidade, paralisia de pares
5. Em crianças até 5 anos que estejam internadas cranianos que pode evoluir com sinais clínicos de
para investigação de tuberculose pode ser tentada a hipertensão intracraniana, como vômitos, letargia e
realização de cultura para M. tuberculosis de rigidez de nuca. O liquor é claro, com glicose baixa
espécime proveniente de lavado gástrico. Em serviços e predomínio de mononucleares.
ambulatoriais o lavado gástrico não é recomendado. A forma osteoarticular mais encontrada situa-se na
O exame de escarro (baciloscopia e cultura), em
coluna vertebral, constituindo-se no Mal de Pott. Cursa
geral só é possível a partir dos 5 ou 6 anos. com dor no segmento atingido e posição antálgica
Dependendo do quadro clínico-radiológico nas lesões cervicais e torácicas, paraplegias e
apresentado pela criança podem ser necessários gibosidade.
• Conversores (de PPD não reator para reator forte) 04 - Diaz,E.S. Inmunologia de tuberculosis: metodos
diagnosticos. In: Seminario Regional de Tuberculosis,
recentes (até 2 anos) ao teste tuberculínico. OPAS/OMS, 1988 (pub. cient. 511)
• Reatores ao PPD com condições clínicas associadas 05 - Kritski, A L., Rossetti, M.L., Bonfim, G., Castelo, A, Mello,
F.C.Q.- Reação em cadeia da polimerase (RCP/PCR)
à imunodepressão e à elevada incidência de aplicada ao diagnóstico da tuberculose. J. Pneumol 1997;
tuberculose, como: diabéticos insulinodependentes, 23: 33-42.
nefropatas graves, pessoas sob corticoterapia 06 - Melo,F.A F., Ide Neto, J., Seiscento, M., Pinto ,J. A,
Afiune,J.B. - Tuberculose multirresistente. J. Pneumol. 1993;
prolongada ou quimioterapia antineoplásica, 19: 73-82
indivíduos HIV positivos
07 - Starke,J.R. - Tuberculose na criança: diagnóstico e
• Portadores de imagens radiográficas compatíveis tratamento. Anais Nestlé vol. 56, 1998
com tuberculose inativa (lesões fibróticas) sem história 08 - March, M.F.B.P.,Sant’Anna, C.C. - Aspectos da eficácia
da vacinação e da revecinação BCG. Pulmão RJ 1996;
de quimioterapia prévia adequada. 5: 152-156.
Nos comunicantes de pacientes tuberculosos 09 - Brasil. Ministério da Saúde - 2o Informe sobre a
vacinação/revacinação BCG. Fundação Nacional de
multirresistentes (TBMR) ainda não há normas bem Saúde. Brasília, DF. 1994
definidas até o presente, ficando de ser definidas 10 - Rosemberg,J. - Tuberculose atual no mundo e no Brasil.
pelos centros de referência. Bol. Soc. Paulista Pneumo. Tisio., ano 3, n.4, ago. 1995
11 - Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia -
I Consenso brasileiro de tuberculose - 1997. J. Pneumol.
REFERÊNCIAS 1997; 23: 279-346.
12 - Dalcolmo, M., Macedo, E. A., Menezes. L.L., Paiva, M.
01 - Sant’Anna, C.C. - Formas clinico-radiológicas In: Sant’Anna A .S., Sant’Anna, C.C. - Prevenção de tuberculose:
C.C., Bethlem,N. - Tuberculose na infância. 2a ed. Rio vacinação BCG e quimioprofilaxia. J. Pneumol.
de Janeiro, Cultura Médica, 1988. p.36-52 1993;19:60-2.
A pneumonia aguda constitui-se numa das principais pneumonia persistente ou recorrente. Em alguns
causas de morbidade e mortalidade infantil em todo estudos, a pneumonia foi amplamente definida como
o mundo, principalmente nos países em desenvol- tosse, dispnéia ou taquipnéia associadas com
vimento. Conforme relatos da Organização Mundial achados de exame físico de macicez a percussão,
de Saúde, estima-se que aproximadamente 4 milhões estertores, sibilos, diminuição do murmúrio vesicular,
de crianças com idade inferior a 5 anos morram ou aumento do frêmito tóraco-vocal.
anualmente, sendo que aproximadamente 2/3 destas
com idade inferior a 1 ano. Embora os vírus sejam Estes sinais e sintomas clínicos foram usualmente (mas
responsáveis pela maioria das pneumonias na nem sempre) confirmados por imagens radiográficas
população pediátrica, as bactérias são responsáveis anormais com localização lobar, segmentar,
por 20% a 30% de todos os casos nesta faixa etária. subsegmentar ou broncovascular.
Uma definição clara é necessária para discutir-se o A pneumonia recorrente é definida como uma
diagnóstico e o enfoque terapêutico da criança com pneumonia que recidivou depois da resolução destes
A maioria dos pacientes com pneumonia de evolução 11. Defeitos ciliares estruturais ou discinesia ciliar.
adequada terá as imagens radiográficas involuídas – síndrome dos cílios imóveis.
em 2 a 3 semanas, como no caso das viroses 12. Anomalias fisiológicas congênitas:
respiratórias (VSR, parainfluenza, etc.); de 6 a 8 – traqueomalácia.
semanas nas pneumonias pneumocócicas e acima – broncomalácia.
de 12 meses nas pneumonias pelo adenovírus-21. 13. Alterações ambientais (cigarro, etc.).
Infelizmente, o diagnóstico etiológico para a maioria
das pneumonias em crianças é desconhecido, 14. Outras alterações do clearance mucociliar:
– seqüelas de infecções.
fazendo com que estes dados não sejam utilizados
na prática. – defeitos da deglutição.
– reparos de anomalias congênitas.
As pneumonias com alterações radiográficas lobares,
15. Outras desordens associadas com obstrução das
segmentares ou difusas persistentes, as quais
vias aéreas.
permaneçam inalteradas ou piores por um período
– compressões adquiridas (linfonodos, massas,
igual ou superior do que 2 semanas - apesar da
etc.).
terapia antimicrobiana para patógenos comuns -
– desordens imunológicas locais e sistêmicas.
constituem-se em indícios significativos da existência
de algum problema básico e que podem ser Devido ao fato de não existir uma definição
classificados em diversas categorias. universalmente aceita de pneumonia recorrente e
persistente, a real incidência deste problema clínico
Fatores Etiológicos:
é desconhecida. O termo persistente deixa implícito
Pneumonias Recorrentes / Persistentes
cronicidade, o que faz com que aflore um
01. Síndrome aspirativas. questionamento crítico de quando então uma
02. Corpos estranhos. pneumonia seria considerada como crônica.
03. Anormalidades das vias aéreas. A duração dos sintomas ou a persistência das
04. Distúrbios de deglutição: alterações radiográficas por um período igual ou
– imaturidade dos mecanismos de deglutição. superior a 3 meses é freqüentemente utilizada para
– desordens neurológicas e neuro-musculares. definir uma pneumonia como crônica. Outros autores
definem arbitrariamente como pneumonia persistente
05. Refluxo gastro-esofageano.
ou recorrente o encontro de anormalidades
06. Técnicas inadequadas de alimentação. radiográficas além do prazo esperado, tosse crônica
07. Anomalias congênitas: que está presente na maioria dos dias por 3 meses,
ou ambas as situações.
a. das vias aéreas:
– síndrome de Pierre Robin. É muito difícil de determinar se uma pneumonia é
– fenda palatina, laringotraqueal. persistente ou recorrente, a não ser que tenha ocorrido
– fístula traqueo-esofágica. um intervalo livre de manifestações clínicas durante
b. broncopulmonares: o qual as alterações radiográficas anteriormente
– cisto broncogênico. presentes mostrem-se ausentes.
O reaparecimento de alterações radiográficas numa nhecimento tardio e/ou inadequado pelo médico
mesma área em exames subseqüentes pode ser e, por último, condutas inadequadas, quer na
atribuído a casos de recorrência, enquanto que investigação, como no acompanhamento dos
alterações que não desaparecem falam a favor de diferentes casos.
pneumonias persistentes.
2º) Fatores relacionados aos pacientes, pois
Tendo em vista a diversidade de enfoques que as sabemos que as infecções respiratórias incidem de
pneumonias podem se enquadrar, se persistentes, forma diferente de acordo com a idade, estado
recorrentes ou crônicas e, verificando a dificuldade nutricional, existência de patologias associadas,
que temos numa freqüência relativamente expressiva estado imunológico, vacinal e alterações do meio
em conduzir o seu tratamento apropriado, gostaríamos ambiente.
de dar uma conotação diferente, sob nosso ponto
3º) Fatores relacionados ao agente etiológico, seja
de vista, de cunho inteiramente prático, baseado
nas dificuldades de sua identificação nas diferentes
nos diferentes graus de dificuldades em tratar nossos
fases da doença, assim como também dependência
pacientes.
da virulência, do tempo de evolução decorrido antes
Pudemos observar recentemente, que apesar do do diagnóstico e início do tratamento, da investigação
conhecimento dos diferentes agentes etiológicos, das realizada e da terapêutica adequada.
modernas técnicas de investigação laboratorial e
4º) Fatores relacionados ao tratamento propriamente
radiológica, nem sempre disponíveis ao alcance
dito, importando a escolha correta das medicações,
de todos, da grande variedade de agentes
muitas vezes de alto custo, os procedimentos
antimicrobianos que dispomos e que muitas vezes
invasivos e a presteza com que foram realizados,
são utilizados de maneira não criteriosa, tivemos
nas intercorrências esperadas, nas iatrogênicas e,
uma grande incidência de casos nos quais não
nas limitações terapêuticas, quer na fase de
apresentaram uma evolução conforme era de
investigação, como na do tratamento propriamente
se esperar, permanecendo hospitalizados por
dito.
períodos 2 a 3 vezes maiores aos encontrados na
literatura nacional e internacional. São pacientes Certamente existem outros fatores que deixaram de
que necessitaram de múltiplos agentes ser lembrados e que poderiam estar aqui incluídos.
antimicrobianos, intervenções não usuais - e muitas Após uma análise criteriosa de todas as condições
vezes com resultados nada satisfatórios e com a que interferem no reconhecimento das patologias que
incidência elevada de seqüelas –, além de limitações acometem nossa crianças, depois de esgotados todos
para uma vida normal sob todos os pontos de os recursos disponíveis muitas vezes de uma maneira
vista. desigual para uma investigação diagnóstica ideal e
ainda após empregado todo o arsenal terapêutico
Por isso, abordamos este tema por um prisma
de maneira racional e criteriosa, poderemos
diferente, baseado na análise evolutiva de alguns considerar nossa missão cumprida independente das
casos, procurando uma provável causa para a
adversidades encontradas.
ocorrência dos mesmos. Sendo assim, deduzimos
que a evolução arrastada de alguns pacientes
poderia estar enquadrada dentro de alguns
fatores.
Bibliografia:
1º) Fatores relacionados ao diagnóstico da
patologia, com implicações diretas relacionadas à 01 - Grisi SJEF. Pneumonias Bacterianas Agudas. Rozov T, ed.
Doenças Pulmonares em Pediatria: Diagnóstico e
maneira como nossas crianças são atendidas pelos Tratamento. São Paulo: Editora Atheneu, 1999.
profissionais da área de saúde, tendo em vista a
02 - Correa & Stark. Bacterial Pneumonias. Edwin Kendig, ed.
desproporção entre o número de profissionais e o Disorders of the Respiratory Tract in Children. 6th edition.
número de consultas/dia e o tempo disponível para W.B. Saunders Company, 1998.
cada caso. Incluímos aqui os fatores dependentes 03 - Churgay CA. Community-Acquired Respiratory Infections
in Children. Prim Care Dez 1996;23(4)821-35.
do reconhecimento pela mãe que seu filho
está doente e que necessita de atendimento 04 - Orens JB, Sitrin RG, Lynch III JP. The Approach to
Nonresolving Pneumonia. Med Clin North Am 1994
especializado; fatores dependentes do reco- 87(5)1143-72.
permanente nos bronquíolos, obstrução irreversível grave devem receber de 70 a 80% dos valores
das vias aéreas, colapso lobar ou segmentar e diários por via IV. Broncodilatadores: a utilização
hiperinsuflação (Bronquiolite Obliterante). de agentes broncodilatadores na BVA permanece
controversa. Como estas drogas podem causar
hipoxemia, elas devem sempre ser administradas
DIAGNÓSTICO com oxigênio, monitorização clínica e da saturação
de O2. O medicamento Ribavirin está disponível
O diagnóstico da bronquiolite é essencialmente
desde 1985. É um nucleosídeo sintético, utilizado
clínico. Coriza e febre precedem tosse seca e a
na forma de aerossol, que tem atividade
seguir inicia-se dispnéia progressiva. Os sibilos são
bacteriostática contra muitos vírus, incluindo o VSR.
quase sempre audíveis. Dificuldade e recusa para
Apresenta riscos de teratogenicidade e mulheres
alimentar são freqüentes. Apnéia e cianose podem
grávidas devem evitar entrar em contato com o
ser encontradas em 10 a 20% das indivíduos
aerossol. Sua pouca atividade em reduzir a
acometidos. O fígado e o baço freqüentemente
gravidade e a duração da BVA, além de seu preço
podem ser palpados devido a hiperinsuflação dos
elevado, têm desestimulado a sua utilização.
pulmões e rebaixamento do diafragma. Os aumentos
Esteróides: O uso de esteróides na BVA ainda não
das freqüências respiratória (50-100 ipm) e cardíaca
tem suporte científico definido e deve ser reservado
(120-200 bpm) é um achado comum.
para casos onde há dúvida de asma no diagnóstico.
Para o diagnóstico diferencial é importante lembrar Diferentemente da fase aguda, os esteróides têm
das enfermidades obstrutivas das vias aéreas comuns sido preconizados no tratamento da sibilância após
aos lactentes, que incluem a pneumonia por bronquiolite. Embora a fase aguda da BVA
Clamydia trachomatis, síndrome de Loefler, fibrose desaparece no máximo de 10 a 20 dias, muitos
cística e asma. lactentes podem persistir com tosse, sibilância e
dispnéia durante meses ou anos. Sabe-se que terapia
anti-inflamatória com cromolin sódico ou corticóides
COMPLICAÇÕES E SEQÜELAS: inalatórios tem efeito em pacientes asmáticos ou
Muitos investigadores têm mostrado que até 75% com hiperreatividade brônquica induzida por
dos lactentes com bronquiolite moderada e grave bronquiolite. Infelizmente, não há marcadores ideais
apresentam sibilância após o quadro agudo. para se identificar os pacientes que desenvolverão
Hiperreatividade brônquica e/ou alterações na sibilos após bronquiolite ou quais deles seriam
função pulmonar podem estar presentes até dez anos beneficiados por tratamento anti-inflamatório precoce.
depois. De acordo com o estudo de Reijonen et al. as
crianças atópicas se encaixariam nesta situação.
As causas da hiperreatividade permanecem obscuras
Recomenda-se três a quatro meses de tratamento
e são decorrentes de vários fatores, entre eles a
anti-inflamatório com cromolin sódico ou budesonide
inflamação causada pela infecção viral associada
para as crianças atópicas que necessitem de
a níveis elevados de IgE. Atualmente existem muitas
internação no episódio agudo de bronquiolite, sendo
evidências de que o Vírus Sincicial Respiratório (VSR)
que o uso do cromolin sódico, um agente não
estimula o desenvolvimento de células TH2 e
esteroidal, foi quase tão eficaz quanto o do
produção de IL4, que é a interleucina estimuladora
budesonide. Para os pacientes não atópicos ou
da síntese de IgE. Vários autores têm mostrado que
àqueles que não requeiram internação no episódio
após episódios de bronquiolite viral aguda pelo VSR
agudo, recomenda-se tratamento apenas se houver
os níveis de IgE ficam muito aumentados. Estes
recorrência dos sibilos.
lactentes apresentam maior incidência de asma em
seguimentos de longo prazo, quando comparados
aos lactentes que não tiveram BVA.
PREVENÇÃO:
Nenhum tratamento tem mostrado reduzir a
gravidade ou diminuir a duração da bronquiolite. A prevenção ativa com vacinas ainda está em
O oxigênio é o único agente que reduz a desenvolvimento. A profilaxia passiva com
hipoxemia. Quanto à hidratação, raramente o imunoglobulina intravenosa (VSR - IGIV) (Respigam),
lactente com BVA desidrata-se. Aqueles com doença tem mostrado ser eficiente em reduzir de 41 a 63%
as hospitalizações de lactentes prematuros e 9) A maior gravidade da doença pode ser vista nos
portadores de doenças pulmonares crônicas. A dose lactentes com displasia bronco pulmonar, cardiopatias
é de 750 mg/kg uma vez ao mês. congênitas, fibrose cística, imunodeficientes e
prematuros.
Recentemente, a Academia Americana de Pediatria
liberou a utilização de anticorpos monoclonais 10) A prevenção ativa com vacinas ainda está em
humanizados e específicos contra o VSR chamados desenvolvimento. A profilaxia passiva com
PALIVIZUMAB. (PALI = Prevention/Palliative; VI = virus; imunoglobulina intravenosa (VSR – IGIV - Respigam),
zu = Humanized; MAB = Monoclonal antibody. Este e com anticorpos monoclonais humanizados e
produto é disponível para aplicação IM na dose de específicos contra o VSR: (PALIVIZUMAB-Synagis)
15 mg/kg, uma vez ao mês. tem sido utilizada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As 10 características importantes da BVA que todo REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
pediatra necessita saber:
01 - Amantéa SL & Abreu e Silva, F. Bronquiolite Viral Aguda.
1) A BVA afeta cerca de 10% dos lactentes e é a Jornal de Pediatria, 74; Suplemento 1; s37 - s47, 1998.
infecção respiratória baixa mais comum nesta faixa 02 - Reijonen, T et al. Anti-inflamatory therapy reduces wheezing
etária. after bronchiolitis. - Arch. Pediatric Adolesc. Med., 150:
512-517, 1996.
2) O microorganismo mais encontrado em 70-85%
dos casos é o VSR. 03 - Cox, MJ et al. – Seroepidemiological study of RSV in São
Paulo State, Brasil. - J. Med. Virol., 55: 234-239, 1996.
3) O diagnóstico é clínico. Febre e coriza são
04 - Epler, GR. Diseases of the Bronchioles. Raven Press Ltd.
rapidamente seguidas de tosse seca e dispnéia. New York, 1994.
4) A mortalidade chega a 10-20% em imunodefi-
05 - Fischer, GB. Bronquiolite Viral Aguda. Tese de Doutorado.
cientes, prematuros e cardiopatas. Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul. Porto Alegre, 1994
5) Hipoxemia é a conseqüência fisiopatológica mais
importante e os níveis de oxigênio arterial podem ser 06 - Hemming, VG. – The Enigmatic Respiratory Syncytial Virus:
A Global Perspective. New approaches in the prophylaxis
monitorizados por oximetria de pulso. of RSV. Supplement to: Infections in Medicine, 9-14,
6) Nenhum tratamento tem mostrado reduzir a February, 1999.
severidade ou a duração da BVA. O oxigênio é o 07 - Kimpen JL, Schaad UB. Treatment of respiratory syncytial
único agente capaz de reduzir a hipoxemia. virus bronchiolitis: 1995 poll of members of the European
Society for Paediatric Infectious Diseases. Pediatr Infect
7) Todo lactente com insuficiência respiratória aguda Dis J.; 16(5): 479-81, May 1997.
grave deve ser transferido para UTIP 08 - Simoes, EAF. Respiratory Syncitial Virus Infection: A Global
8) Entre os fatores risco para adquirir a doença Perspective. New approaches in the prophylaxis of RSV..
Supplement to: Infections in Medicine, 24 – 30, February,
encontram-se os lactentes, freqüentadores de creches, 1999
com múltiplos irmãos, submetidos a fumaça de
09 - Wang SZ, Forsyth KD. Asthma and respiratory syncytial
cigarro, internados em UTIP e aqueles com tempo virus infection in infancy: is there a link? – Clin. Exp.
curto de aleitamento materno. Allergy, 28 (8): 927 – 935, 1988.
O refluxo gastroesofágico (RGE) é caracterizado pela que apresentam RGE fisiológico daqueles com RGE
passagem involuntária e intermitente do conteúdo patológico. O início e evolução dos sintomas e
gástrico em direção ao esôfago. Na criança, o RGE possível associação entre os mesmos, além da
está freqüentemente associado à presença de avaliação do estado geral e nutricional da criança
regurgitações e/ou vômitos que ocorrem principalmente são dados que contribuem para uma impressão
nos primeiros quatro meses de vida, constituindo-se diagnóstica inicial.
em importante motivo de consultas em pediatria(1,2).
Exames complementares
Para adequada abordagem diagnóstica e terapêutica
da criança com RGE torna-se necessário o Quando a anamnese e o exame físico da criança
conhecimento de alguns conceitos como: RGE sugerem RGE fisiológico, não há necessidade da
fisiológico- é aquele que se manifesta apenas por solicitação de exames complementares, sendo
regurgitações e/ou vômitos, que ocorrem geralmente importante a avaliação clínica periódica do paciente
no período pós-prandial, tornam-se menos freqüentes para que se confirme esta hipótese inicial. Os exames
à medida que a criança assume uma postura mais complementares serão solicitados nos casos de RGE
ereta e inicia a alimentação mais sólida e, em geral, patológico e RGE oculto (4).
desaparecem por volta dos 9-24 meses de idade;
Estudo Radiológico Contrastado do Esôfago,
RGE patológico ou doença do refluxo gastroesofágico
Estômago e Duodeno.
(DRGE), quando, além das regurgitações e/ou vômitos,
o RGE provoca outras manifestações clínicas, sendo Este exame possibilita a avaliação dos aspectos
as mais freqüentes o baixo ganho pôndero-estatural, anatômicos e funcionais do trato digestivo alto, como
sintomas de esofagite de refluxo e/ou dismotilidade obstruções, hérnia hiatal, alterações da deglutição e
esofágica (pirose, disfagia, anemia, choro e da motilidade esôfago-gástrica. Tem como
irritabilitadade), quadro respiratório de repetição (asma, desvantagem o curto período de observação do
pneumonia, otite); RGE oculto, quando tais paciente, o que contribui para uma baixa
manifestações de DRGE ocorrem na ausência de sensibilidade e especificidade (em torno de 60%).
regurgitações e/ou vômitos. O RGE patológico em No entanto, é importante como exame inicial para
geral está associado às alterações funcionais do crianças com DRGE (5).
esôfago e/ou estômago, como redução do tônus do
Cintilografia Gastroesofágica
esfincter esofágico inferior (EEI), episódios de
Aproximadamente 50% das crianças com DRGE
relaxamentos transitórios do EEI e aumento do tempo
apresentam retardo do esvaziamento gástrico e este
de esvaziamento gástrico (3).
exame é considerado um bom médoto para avaliar
este aspecto funcional do estômago. A cintilografia
DIAGNÓSTICO também está indicada para crianças com problemas
respiratórios, quando há suspeita de que estes sejam
Anamnese e exame físico decorrentes do RGE. Ao alimento habitual da criança
A história clínica é de fundamental importância para é adicionado o radioisótopo, sendo este “rastreado”
o início da abordagem médica da criança com no abdome e tórax. Com sensibilidade e especifici-
RGE. Objetiva-se deste modo diferenciar os pacientes dade semelhantes ao exame anterior, a cintilografia
Constipação na Criança
MAURO BATISTA DE MORAIS
Apesar da relativa diversidade conceitual observada conceitos normalmente adotados em nosso meio,
nos estudos de prevalência de constipação, onde escape fecal ou “soiling” indica a perda
acreditamos que constipação pode ser definida como involuntária de parcela do conteúdo retal em
a eliminação de fezes endurecidas, com esforço, portadores de constipação crônica, muitas vezes
dor ou dificuldade, associada ou não a aumento no associado à presença de fezes impactadas no reto
intervalo nas evacuações, escape fecal e sangramento e/ou cólon. Por sua vez, encoprese pode ser
em torno das fezes. É importante, também, definir entendida, em analogia com enurese, como sendo
escape fecal (“soiling”) e encoprese. Com freqüência, o completo ato da defecação em sua plena seqüência
na literatura estrangeira, “soiling” e encoprese são fisiológica, porém em local e/ou momento
utilizados como sinônimos, em contraposição aos inapropriado, sendo, em geral, associada a distúrbios
psicológicos ou psiquiátricos. Rigorosamente, escape intestinal, o ciclo vicioso entre evacuações dolorosas
fecal deve ser caracterizado somente após o quarto com conseqüente comportamento de retenção
ano de vida. Entretanto, em algumas oportunidades fecal(10,11,12,13) e fatores dependentes dos hábitos
observa-se crianças menores com esta manifestação, alimentares, especialmente da dieta pobre em fibra
principalmente quando o controle esfincteriano ocorreu alimentar. (9,14,15)
antes do seu aparecimento. Finalmente, o termo
Na avaliação inicial, deve-se decidir qual a
incontinência fecal fica reservado para a falta de
terapêutica a ser adotada.(10,11,12,13) Casos leves
controle esfincteriano decorrente de causas orgânicas,
identificados pelo interrogatório complementar devem
como as anormalidades anorretais e disfunções
receber, em uma primeira etapa, orientação alimentar
neurológicas.(10,11)
baseada na correção de erros alimentares, aumento
Com relação às manifestações clínicas, na maioria da oferta de líquidos e fibra alimentar. Deve ser
das vezes não é difícil caracterizar o quadro de assegurado livre acesso ao banheiro e condições
constipação, apesar de que as características das para apoiar os pés durante a defecação. É
fezes possam apresentar grande variabilidade, desde importante, também, que a criança permaneça cerca
a ocorrência de evacuações diárias de fezes de 10 minutos no vaso sanitário após uma refeição,
endurecidas em cíbalos até a eliminação de fezes na tentativa de aproveitar o reflexo gastro-cólico como
volumosas e endurecidas, a cada 5 ou 7 dias, que estímulo para a evacuação. Os pais e o paciente
além de poder ferir a criança, podem entupir o vaso devem ser informados da importância de cada um
sanitário. Deve ser ressaltado que as manifestações destes procedimentos, dando ênfase à dismistificação
clínicas variam com a idade. Nos lactentes é comum de conceitos falsos relativos à constipação e ao seu
se observar a eliminação, com esforço, de fezes tratamento.
ressecadas em cíbalos. Nesta fase da vida é
importante diferenciar, na vigência do aleitamento A catarse inicial deve ser indicada em todos os
natural, a constipação da pseudoconstipação. A pacientes que apresentam fezes impactadas. Tem o
pseudoconstipação se caracteriza pela eliminação objetivo de eliminar as fezes ressecadas retidas no
de fezes amolecidas e amorfas, normalmente sem reto e colo e permitir que as outras medidas
dor ou dificuldade, em intervalos prolongados que terapêuticas possam agir de maneira adequada. Em
podem ultrapassar 5 dias. Nos pré-escolares é comum nosso ambulatório, são utilizados enemas osmóticos
o comportamento de retenção. Na anamnese é de fosfato ou sorbitol, realizados uma vez ao dia. É
freqüente a caracterização de medo e de atitudes recomendável que os enemas sejam realizados no
para evitar a evacuação. Aversão ao vaso sanitário ambulatório, especialmente o enema de fosfato, com
e tentativas de evacuações em locais não habituais atenção redobrada caso não ocorra completa
são relatados com freqüência. A partir dos 4 ou 5 eliminação do volume administrado. O esvaziamento
anos, aumenta a freqüência do escape fecal como reto-colônico geralmente é conseguido após 2 a 4
motivo de procura por assistência médica, quando é dias, entretanto, casos mais graves podem requerer
possível constatar longo histórico pregresso de período mais prolongado. Os enemas esvaziatórios
constipação.(10,11,12,13,14) É importante enfatizar que devem ser suspensos quando o paciente começa a
em aproximadamente 10% dos pacientes atendidos eliminar fezes amolecidas, uma ou duas vezes ao
em ambulatório de Gastroenterologia Pediátrica, o dia, prosseguindo-se, então, com o tratamento de
diagnóstico de constipação foi estabelecido a partir manutenção.
de complicações da constipação, como alterações
O tratamento de manutenção inclui todas as medidas
urinárias e escape fecal, em crianças com evacuações
recomendadas para os casos leves e o correto
diárias consideradas normais. Trata-se da constipação
emprego de laxantes. Em nossa prática, costumamos
oculta(14).
utilizar como primeira escolha o óleo mineral e o leite
A fisiopatogenia da constipação crônica funcional de magnésia. O óleo mineral não deve ser utilizado
não está plenamente esclarecida, mas, ao que tudo no primeiro ano de vida e em crianças com problemas
indica, múltiplos fatores influenciam no neurológicos pelo risco de aspiração que ocasiona
desenvolvimento deste processo, entre os quais quadro de pneumopatia extremamente grave. A dose
características constitucionais e hereditárias associadas varia de acordo com a gravidade e a resposta de
ou responsáveis por provável distúrbio da motilidade cada paciente. Portanto, o paciente deve ser
reavaliado em consultas realizadas a curto prazo. 03 - MAFFEI, H. V. L.; MOREIRA, F. L.; OLIVEIRA Jr., W. M.;
SANINI, V. - Prevalência de constipação intestinal em
Como referência, pode-se utilizar 1 a 2 ml/Kg de escolares do ciclo básico. J. pediatr. (Rio J), 73:340-4,
peso de óleo mineral ou leite de magnésia na dose 1997.
diária inicial, subdividida em duas ou três tomadas. 04 - MOTTA, M.E.F.A. & SILVA, G.A.P. - Constipação intestinal
crônica funcional na infância: diagnóstico e prevalência
A dieta é a medida mais importante para assegurar em uma comunidade de baixa renda. J. pediatr. (Rio J.),
o controle da constipação a longo prazo. Deve-se 74:451-4, 1998.
ter em mente as dificuldades para promover mudanças 05 - BORGO, H. C. - Hábito intestinal de lactentes de quatro
nos hábitos dietéticos do paciente e, às vezes, em creches de Bauru-SP: avaliação retrospectiva e prospectiva
por 1 a 4 semanas. Botucatu, 1998. (Tese – Mestrado
sua família, no sentido de aumentar a quantidade – Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade
de fibras na alimentação. Dependendo da idade do Estadual Paulista)
paciente, os seguintes alimentos devem ser incluídos 06 - AGUIRRE, A.N.C. – Constipação intestinal, consumo de
ou aumentados na alimentação: feijão, ervilha, fibra alimentar e hábitos alimentares em crianças menores
de 2 anos. São Paulo, 1998. (Tese – Mestrado –
lentilha, grão de bico, pipoca, verduras, frutas, aveia Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de
em flocos e ameixa preta. O farelo de trigo e outros Medicina)
produtos industrializados ricos em fibras podem ser 07 - DEL CIAMPO, I. R. L. - Constipação intestinal crônica na
utilizados; entretanto, nem sempre são aceitos com infância: prevalência, diagnóstico e valorização dos seus
sinais e sintomas em unidade básica de saúde. Ribeirão
facilidade. É necessário, também, levar em Preto – SP, 1999 (Tese – Mestrado – Faculdade de
consideração o custo destes produtos. Medicina Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo)
A indicação de exames subsidiários depende, 08 - ISSENMAN, R. M.; HEWSON, S.; PIRHONEN, D.;
TAYLOR, W.; TIROSH, A. - Are chronic complaints the
fundamentalmente, da gravidade do caso e da má result of abnormal dietary patterns? Am. J. Dis. Child.,
evolução clínica quando o tratamento é realizado 141:679-82, 1987.
de forma correta. Nesta situação, deve ser ressaltada 09 - ROMA, E.; ADAMIDIS, D.; NIKOLARA, R.;
a necessidade de descartar a possibilidade da CONSTANTOPOULOS, A.; MESSARITAKIS, J. - Diet and
chronic constipation in children: the role of fiber. J. Pediatr.
doença de Hirschsprung, especialmente, a Gastroenterol. Nutr., 28:169-74, 1999.
aganglionose com segmento curto ou ultra-curto.
10 - MORAIS, M. B. & FAGUNDES-NETO, U. - Constipação
Levando em conta que normalmente nos ambulatórios em Pediatria. Pediatr. Mod., 31:1030-42, 1995.
gerais o único exame disponível é o enema opaco,
11 - MORAIS, M.B. – Constipação intestinal em pediatria.
pode ser considerado recomendável que, nestas Programa Nacional de Educação Continuada em Pediatria
circunstâncias, os pacientes com constipação de difícil – PRONAP. Número Extra I. Sociedade Brasileira de
Pediatria, 1998. p. 30-53.
controle sejam avaliados em um ser viço
especializado. 12 - LOENING-BAUCKE, V. Chronic constipation in children.
Gastoenterology, 105: 1557-64, 1993.
VÍRUS: Rotavirus
Adenovirus
PROTOZOÁRIOS: Giardia lamblia
Entamoeba histolytica
Cryptosporidium
Desnutrição
FERNANDO JOSÉ DE NÓBREGA
Figura 1
Como nosso tempo é escasso, vamos nos ater Tal situação tem origem nos primeiros trabalhos realiza-
a um ponto que achamos muito importante e dos em São Paulo e na Bahia que mostraram de forma
ainda não foi muito divulgado: o Fraco Vínculo Mãe/ muito semelhante que as mães de desnutridos, em sua
Filho. grande maioria, não são desnutridas (figuras 2,3,4 e 5).
Figura 2 Figura 3
Figura 4 Figura 5
Por outro lado, quanto maior o número de irmãos 6), mas, dado importante, a mãe quanto maior número
mais chance a criança tem de ser desnutrida (figura de filhos, mais condição tem de ser obesa (figura 7).
Figura 6 Figura 7
Concluímos que cerca de 80 a 85% das mães de Procuramos explicar essa situação segundo os
desnutridos não são desnutridas, significando que o aspectos psicológicos e concluímos que
alimento chega a sua casa. Fraco Vínculo Mãe/Filho representa importante
Outros trabalhos foram realizados em Niterói e Vitória papel na gênese da desnutrição (figuras 8, 9
com resultados semelhantes. e 10).
Figura 8 Figura 9
Figura 10
Para a constituição de um bom Vínculo Mãe/Filho é necessário“ a atuação de muitos fatores, como mostra
a figura 11.
Figura 11
Nas figuras 12, 13, 14, 15, 16 e 17, mostramos as situações que podem afetar a ligação da mãe com
o filho.
Figura 12 Figura 13
Figura 14 Figura 15
Figura 16 Figura 17
Assim, temos procurado atuar nesta linha, isto é, no tratamento, recuperação e prevenção da desnutrição
fortalecimento do Vínculo Mãe/Filho, visando o como aparece nas figuras 18 a 26.
Figura 18 Figura 19
Figura 20 Figura 21
Figura 22 Figura 23
Figura 24 Figura 25
Figura 26
Na nossa experiência, as mães que aceitam violência, usuários de drogas que não permitem a
participar do trabalho desta forma vêem seus filhos recuperação nutricional, o que não passa pela área
recuperados. Acreditamos que, em São Paulo, cerca da saúde.
de 80% dos desnutridos podem ser recuperados É Entretanto, poderíamos fazer muito atuando com
claro que há condições de extrema pobreza, crianças recuperáveis que, afinal, são muitas.
Obesidade na Infância
RENATO JUNGER DE OLIVEIRA
Obesidade define-se como o excesso de gordura necessidade de se ter uma avaliação da gordura
corporal total em relação com o peso corporal. Para corporal específica. Para isto utiliza-se a medida da
diagnosticar obesidade, os critérios utilizados ainda prega cutânea a nível tricipital, bicipital, subescapular,
não são ideais, a começar pelo índice de massa suprailiaco e ou de panturrilhas. Sendo a mais
corporal ( IMC=P(kg)/A2 (m) ). Quando o IMC utilizada, a prega tricipital sendo superior ao percentil
encontra-se acima do percentil 90 ou dois desvios 95 ou dois desvios acima da média considera-se
acima da média para idade, a criança é considerada obesidade, embora na prática utilizemos a
obesa. Outros consideram obesidade na infância observação clínica e a relação peso/estatura.
quando o IMC é igual ou superior a 120%, sendo Métodos sofisticados como densiometria,
o IMC de 100% uma criança de peso e altura ultrasonografia, bioimpedância, tomografia axial
média, 110% de IMC como sobrepeso e IMC de computadorizada, condutividade elétrica corporal total
140% superobesidade. (TOBEC) e a absorciometria de fótons(DEXA) são
utilizados em pesquisa.
Deve-se salientar que massa muscular e estrutura óssea
fazem parte do peso corporal, e uma criança com A obesidade pelo Third National Health and Nutrition
uma massa muscular desenvolvida, poderá ter um Examination Survey (NHANES III) acomete de 20 a
IMC elevado. Na situação colocada, observa-se a 27% de todas as crianças e adolescentes, e 33%
dos adultos. Esse mesmo estudo mostrou um aumento momento, as fobias, angústias, sofrimentos e
da prevalência da obesidade em crianças de 6 a apelações por que passam a criança e o adolescente
11 anos em 54%, e de superobesidade em 98%, obesos. Não será com críticas negativas que se
no período de 1976 a 1987. conseguirá atingir o objetivo desejado, ou seja, a
perda e posterior manutenção de peso.
As implicações da obesidade na infância sobre a
saúde são: transtornos psicossociais, ortopédicos, Não utilizamos fármacos na terapêutica da obesidade
dermatológicos, cardiorrespiratórios, risco de na infância e adolescência, bem como procedimentos
obesidade no adulto (40% das crianças obesas serão cirúrgicos, os quais tem sido utilizados em casos de
adolescentes obesos e 80% dos adolescentes obesos superobesidade grave.
permanecem obesos na idade adulta). Além destes
transtornos, estão sendo relatadas a elevação da
incidência de Diabetes Mellitus tipo II em crianças
obesas, em níveis preocupantes. Referências:
A abordagem terapêutica da obesidade na infância 01 - Coutinho W. Consenso Latino-Americano de Obesidade.
e na adolescência visa o crescimento e desenvol- Arq Bras Endoc Met 1999 Fev, 43:1, 21-67
vimento normais, com conseqüente bem-estar social. 02 - Cook VV; Hurley JS. Prevention of type 2 diabetes in
childhood. Clin Peduatr(Phla), 1998 Febm 37:2, 123-9
Para tal, trabalhamos sobre o binômio - ingesta
03 - Neufekd ND, Raffek LJ, London C, Chen YD, Vadheim
calórica x gasto energético. CM. Earky presentation of type 2 diabetes in Mexican-
American youth. Diab Care, 1998 Jan, 21:1, 80-6
Para aumentar o gasto energético tem de se estimular
a atividade física através de esportes, que devem 04 - Ogden CL; Troiano RP, Brufek RR, Kucznarski RJ; Flegal
Km; Johnson CL. Pediatrics, 1997 apr, 99:4 E1
ser adequados à cada faixa etária, à aptidão e às
05 - Schonfeld-Warden N, Warden CH. Obesidade pediatrica.
possibilidades da criança. Clinic Pediat Am Nort 1997-2:343-66
Quanto à ingesta calórica, faz-se necessário 06 - Seidel JC. Obesity: a growing problem. Acta Paed Suppl,
1999 Feb, 88:428, 46-50
procedermos uma reeducação alimentar/nutricional.
Para tanto, necessitaremos de apoio dos familiares e 07 - Story M; Evans M; Fabsitz RR; Clay TE; Holy Rock B;
Broussard B. The epidemic of obesity in American Indian
muitas vezes de um acompanhamento psicológico. communites and... . Am J Clin Nutr, 1999 Apr, 69:4
Trata-se de um trabalho contínuo e permanente, onde Supl, 747S-754S
o relacionamento da criança com o médico, o 08 - Takahashi E; Yoshida K; Sugimori H; Miyakawa M;
Izuno T; Yamagami T; Kagamimori S. Influence factors on
nutricionista, o psicólogo e o professor de educação the development of obesity in 3-year-old children... . Prev
física tem que ser bom. É preciso entender, em cada Med, 1999 Mar, 28:3, 293-6
A hipovitaminose A (HV-A) e a anemia carencial de 05 anos, com risco de deficiência desta vitamina,
ferropriva (ACF) são, até hoje, consideradas grandes podendo resultar entre 250.000 a 500.000 novos
problema de Saúde Pública no mundo, principalmente casos de cegueira irreversível, a cada ano. Já a
nos países em desenvolvimento. Quanto a vitamina deficiência de ferro, foi constatada em cerca de 1,5
A, a OMS estima 05 a 10 milhões de crianças, a 2 bilhões de pessoas no mundo, principalmente
com manifestações clínicas e com deficiência sub- nos países em desenvolvimento. Entretanto, tanto o
clínica por ano e 124 milhões de crianças menores ferro como a vitamina A podem ser encontrados em
vários alimentos, tanto nos de origem animal (carnes, Não resta nenhuma dúvida que o país que se
ovos, leite e derivados) como em alimentos de origem encontra sob estas circunstâncias arca com um custo
vegetal como verduras de folhas verdes escuras, que social e monetário em função desta situação.
juntamente com as frutas amarelas, são excelentes
As opções para a minimização deste grave problema
fontes de carotenóides (pró-vitamina A).
são muitas e a um custo baixíssimo, evitando-se, desta
As recomendações diárias de vitamina A e de ferro forma, esta situação injustificável. De modo geral, as
para lactentes são muito pequenas. Para vitamina A práticas adotadas por diversos países para o aumento
é da ordem de 370 ER (equivalente retinol) para do consumo de micronutrientes abrangem a
crianças de 6 a 12 meses; 400 a 700 ER para pré suplementação medicamentosa, aumento de alimento
- escolares; de 800 a 1000 ER para adolescentes ricos em vitamina A, e a fortificação de alimentos.
e mais, respectivamente do sexo masculino e feminino;
800 ER para gestantes e de 1200 a 1300 ER para
lactantes. Quanto ao ferro situa-se em torno de 10 2. AÇÕES
mg/ dia, considerando-se que a absorção do sal
de ferro é cerca de 10%, aumentando para 12mg 2.1. Levantamentos Diagnósticos: o diagnóstico da
(masculino) e 15 mg (feminino) já no período de HVA e da ACF podem ser feitos pelas seguintes
adolescência, sendo que esta quantia praticamente avaliações: Indicador do Consumo Alimentar; Sinais
dobra na gestação. Portanto, a oferta diária de Clínicos; Indicadores Bioquímicos e para HVA ainda
alimentos corretos e balanceados poderia suprir as Histológicos e Fisiológicos.
necessidades do organismo. A OMS definiu pontos de corte para caracterizar a
Entretanto, a situação referida no mundo aponta HV-A problema de Saúde Pública (em crianças acima
vários fatores como responsáveis pela gênese da de 01 ano), por meio de exames de retinol sérico,
em: Leve: dados inferiores a 20 µg / dl em mais de
ACF e da HV-A, como: dietas inadequadas;
problemas na absorção, no transporte e no 10% da população; Moderada: quando dados
metabolismo e aumento das necessidades, como inferiores a 20 µg / dl atingirem mais que 10 até
20 % da população; Grave: quando mais que 20%
em períodos de gestação, lactação e primeiros anos
de vida. Além disso, em países em desenvolvimento, da população apresentar estes níveis séricos. A
verifica-se associação de vários outros fatores como situação ideal é que mais de um tipo de avaliação
seja feita para caracterizar a deficiência de vitamina
baixo nível sócio-econômico, baixa distribuição de
renda e escolaridade, infecções repetidas, A em nível de Saúde Pública. A OMS também definiu
desnutrição e abandono precoce do aleitamento uma série de pontos de corte para as lesões oculares
que caracterizam problema de Saúde Pública e que
materno.
podem ou não estar associadas com os níveis baixos
As conseqüências da ACF para o organismo são de retinol sérico.
inúmeras, podendo em suas formas mais graves,
A dosagem de hemoglobina é considerada pela
levar à falência cardíaca e morte. Pela baixa
OMS um bom indicador no diagnóstico de uma
oxigenação dos tecidos há comprometimento no
população e considerou pontos de corte para
crescimento, no desenvolvimento, sendo esperados
caracterizar anemia: 06 meses – 05 anos: hb <11
distúrbios neuropsicológicos, déficits de atenção e
g/dl; 06 meses- 14 anos: hb <12 g/dl; homens:
no índice intelectual. Ao nascimento são esperados
hb < 13 g/dl; mulheres: hb < 12 g/dl; gestantes:
maiores índices de prematuridade, de baixo peso o
hb <11 g/dl.
nascer e de mortalidade fetal. Em adultos
freqüentemente são esperados reduções na 2.2. Conscientização da População e dos
capacidade física e de trabalho. Profissionais de Saúde: os resultados dos
levantamentos diagnósticos devem ser utilizados na
Como uma das principais funções da vitamina A é
conscientização dos profissionais de saúde, em
a sua atuação sobre a imunidade, bem como sobre
relação a magnitude e gravidade da situação, bem
a integridade dos epitélios, a sua deficiência acarreta
como para o encontro de soluções.
maior morbimortalidade infantil, além dos problemas
oculares conhecidos, que podem levar à cegueira 2.3. Medidas Preventivas: na tentativa de se evitar
irreversível. que, por volta dos 4 aos 6 meses de vida, a criança
já venha a se tornar com deficiência de Vitamina A Introdução do Esquema de Tratamento e/ou Profilaxia
e de ferro, algumas medidas são desejáveis como: com Vitamina A e ferro, caso seja necessário, como
em casos de baixo – peso e prematuridade (ver
2.3.1. Nível Individual
indicações abaixo).
• Pré-Natal: deve ser adequado, de maneira a serem
evitados os nascimentos prematuros ou de baixo peso. • CRIANÇA – Primeiros Anos de Vida
Neste momento são desejáveis práticas que devem Ações Básicas de Saúde: deve continuar periodica-
estar incluídas as seguintes ações: educação mente. A mãe deve ser orientada quanto ao desmame
nutricional com ênfase à ingestão de alimentos ricos (4º – 6º mês de vida), quando a introdução de
em ferro e vitamina A; incentivo ao aleitamento alimentação mais diversificada e rica em alimentos
materno; avaliação da condição nutricional da fontes de vitamina A e ferro deve ser estimulada.
gestante; incentivo ao parto normal; Neste momento
também é de fundamental importância a profilaxia Profilaxia Medicamentosa:
medicamentosa, que tanto pode ser diária (40 mg Ferro: caso a criança seja prematura, de baixo peso
de ferro elementar por meio de sulfato ferroso a ou que esteja em aleitamento artificial, de acordo
partir da comprovação da gestação), como semanal com o seguinte esquema: recém nascidos de termo,
(120 mg de ferro elementar). de peso adequado para a idade gestacional: a
• Parto: este é um momento de fundamental partir do início do desmame, até o 24º mês de
importância e, se bem conduzido, torna-se um bom vida, receberão 1 mg de ferro elementar/ kg de
começo, principalmente quanto ao aleitamento peso/dia, ou dose semanal de 45 mg, exceto nas
materno. Desta forma, o parto normal , o alojamento crianças com fórmulas infantis fortificadas com ferro.
conjunto, a orientação adequada, facilitam o Prematuros e recém–nascidos de baixo peso: a partir
aleitamento materno e tornam a mãe mais segura. do 30º dia de vida: 2 mg/kg de peso/dia, durante
Altas com menos de 24hs, devem ser evitadas. 2 meses. Após este prazo, 1 mg/kg/dia, até o 24º
mês de vida. A ingestão de alimentos fortificados
• Puerpério: Retorno à UBS com no máximo 07 dias
deve ser incentivada, podendo substituir a
após o nascimento, quando devem ser introduzidas
suplementação medicamentosa.
as seguintes práticas:
Vitamina A: caso seja detectado que a dieta da
MÃE: O monitoramento da alimentação da lactante população alvo é deficiente e quando for detectado
é de fundamental importância, não só para a saúde altas prevalências de hipovitaminose A, a OMS/
da lactante, mas também pela do lactente, que recebe IVACG/ UNICEF preconizam o seguinte esquema para
a maior parte de suas necessidades, para a formação a suplementação medicamentosa de Vitamina A
de reservas adequadas de retinol, neste momento da
vida. A Suplementação Medicamentosa com vitamina Todas as Regiões: (Esquema de Tratamento Individual
A é necessária, (caso seja detectado região de alto em Hospitais, Clínicas Pediátricas e Salas de
risco), até 4 semanas após o parto. Quanto ao ferro, Desnutridos)
o ideal é que seja mantida a sua suplementação por Casos de Xeroftalmia (03 doses); Sarampo (02
mais 2 a 3 meses, não em função do recém – doses); DEP, Diarréia Crônica (01 dose):
nascido, mas para repor as reservas maternas de 1ª dose de 200.000 UI , no diagnóstico;
ferro espoliadas durante a gestação.
2ª dose de 200.000 UI, no dia seguinte;
Este talvez seja o momento mais importante para 3ª dose de 200.000 UI , 4 semanas mais tarde.
garantir a manutenção da lactação. A mãe deve ser
sendo + dose (100.000 UI) para crianças de 6-12
encorajada e estimulada na tentativa de reduzir sua
meses, ou que pesam menos de 8 kg e + de dose
ansiedade e manter a sua segurança.
(50.000 UI), para as crianças de 0- 6 meses de
CRIANÇA: o monitoramento da criança deve ocorrer idade.
já com alguns dias de vida por meio de Ações
Básicas de Saúde (controle das doenças diarréicas Regiões de Alto Risco (Tratamento e Prevenção):
e respiratórias, incentivo ao aleitamento materno Devem ser conduzidos em locais comunitários
exclusivo até o 4 – 6 mês de vida; acompanhamento (creches, favelas) ou acopladas às campanhas de
do crescimento e do desenvolvimento; vacinações); vacinação.
A identificação das regiões de alto risco deve se 3.2.2. Alimentos Fortificados: creches, pré-escolas e
feita por dados de prevalência, entretanto, se esta escolas
não for disponível, podem ser considerados os fatores
Não resta dúvida que a fortificação de alimentos
de risco, a saber: desnutrição, zonas ecológicas,
com vitamina A tem sido uma boa estratégia para
regiões áridas, campos de refugiados, grupos de
a resolução deste grave problema, principalmente
baixa cobertura de programas e de vacinação.
quando se deseja soluções no âmbito de saúde
Crianças de 6-12 meses pública e mais à longo prazo, desde que a prática
100.000 UI (1 dose a cada 4-6 meses) da suplementação medicamentosa é difícil de ser
Crianças de12- 72 meses mantida por longos períodos. A fortificação pode
200.000 UI (1 dose a cada 4-6 meses) ser feita localmente, por meio de “mix” ou por
alimentos industrializados.
Crianças menores de 6 meses e que são amamenta-
das, devem receber 50.000 UI a cada 4-6 meses Recomenda-se a confecção de um “mix”, que após
2.3.2. Nível Coletivo a diluição deve conter 9mg de ferro elementar sob
a forma de ferro-aminoácido-quelato, por litro de
3.2.1. Profilaxia Medicamentosa em Creches, Pré-
leite; 2000 UI de vitamina A e 400 UI de vitamina
Escolas
D. O ideal é ainda se acrescentar um aromatizante.
Recomenda-se a administração do sulfato ferroso que O “mix” pode ser adquirido em farmácias, ou com
tanto pode ser diário (12 mg de ferro elementar-o representantes específicos. A quantidade em cada
sulfato ferroso contém 20% de ferro elementar, cápsula deve ser estabelecida pelo local, de acordo
devendo ser oferecidas 10 gotas diárias), como com o volume dos produtos que serão fortificados
semanal (40 mg de ferro elementar uma vez por (5,10 ou 20 litros de leite, suco, etc) nos locais.
semana). O importante é que se tenha a certeza Recomenda-se a utilização de farmácias de manipu-
que o medicamento esteja sendo oferecido, lação para a pesagem do ”mix” e formação das
necessitando, portanto de profissionais treinados e cápsulas, que serão distribuídas nos locais. A quan-
motivados para esta ação. Agentes Comunitários de tidade de ferro pode ser monitorada por meio dos
Saúde podem participar da administração do sulfato levantamentos diagnósticos. Após o controle da
ferroso na prática semanal, em locais comunitários anemia, a quantidade de ferro pode ser reduzida
ou em visitas domiciliares. para 0,6mg ou 0,3 mg/litro.
Administração do sulfato ferroso por meio da água: A profilaxia com ferro, pode ser feita por meio de
este tipo de profilaxia foi testada com bom resultados alimentos industrializados, desde que o mercado já
por grupo de pesquisadores de Ribeirão Preto (20 se apresenta com uma série de produtos (pão, leite,
mg de ferro elementar por litro de água da talha, sucos, macarrão) e que podem fazer parte da me-
sendo a ingestão à vontade). renda escolar.
Anemia da Prematuridade
LUÍS EDUARDO VAZ MIRANDA
Figura 1
26
Hemoglobina (g/dl)
22
6
1 5 7 14 21 28
dias de vida
Valores médios (+2 SD) da concentração de hemoglobina em prematuros (extraído de Stockmann JÁ III, Oski FA. Clin
Hematol 7:3
(Enquanto esse estado de anemia é habitualmente bem crianças nascidas a termo, ele é tão mais precoce e
tolerado e considerado mesmo como fisiológico nas pronunciado quanto mais prematura tiver sido a criança.
Figura 2
18 BLOOD HAEMOGLOBIN 14
CONCENTRATION
(GRAMS)
14
12 8
10 6
BODY WEIGHT (GRAMS)
RETICULOCYTE COUNT
RETICULOCYTES %
3000
6
2000
2
1000
0 2 4 6 8
TIME (WEEKS)
Concentração de hemoglobina, hemoglobina corporal total, contagem de reticulócitos e peso durante evolução de um
prematuro (extraído de Doyle JJ, Schmidt B, Blanchette V, Zipursky A. Neonatology, by Avery G, et pp 1045, 1.999
Mesmo que agravada por outros fatores, como retira- inicial conseqüente às variações nas práticas de liga-
da excessiva de sangue para atender a múltiplas dura do cordão umbilical e hemodiluição secundária
determinações laboratoriais necessárias ao acompa- ao rápido crescimento, a anemia da prematuridade é
nhamento de uma grande variedade de condições tida como um exagero da queda habitual dos valores
médicas e cirúrgicas experimentadas pelos prematuros, hematimétricos observados na anemia fisiológica do
perdas extraordinárias, diferenças na hematimetria recém-nascido (tabela 2).
Idade em semanas
800 – 1.000 16,0 (14,8-17,2) 10,0 (6,8-13,2) 8,7 (7,0-10,2) 8,0 (7,1- 9,8) 8,0 (6,9-10,2)
1.001 – 1.200 16,4 (14,1-18,7) 12,8 (7,8-15,3) 10,5 (7,2-12,3) 9,1 (7,8-10,4) 8,5 (7,0-10,0)
1.201 – 1.400 16,2 (13,6-18,8) 13,4 (8,8-16,2) 10,9 (8,5-13,3) 9,9 (8,0-11,8) 9,8 (8,4-11,3)
1.401 – 1.500 15,6 (13,4-17,8) 11,7 (9,7-13,7) 10,5 (9,1-11,9) 9,8 (8,4-12,0) 9,9 (8,4-11,4)
1.501 – 2.000 15,6 (13,5-17,7) 11,0 (9,6-14,0) 9,6 (8,8-11,5) 9,8 (8,4-12,1) 10,0 (8,6-11,8)
Modificado de Williams ML, Shott RL, O’Neal PL, et al> Dietary iron and fat in vitamin E deficiency anemia of infancy. N.Engl.J.Med.
292:877, 1975
Embora tenham uma boa resposta in vitro A anemia da prematuridade está associada a sintomas
à eritropoietina, os prematuros são mais “tole- (tabela 3) em até 40% das crianças nascidas com menos
rantes” à anemia e apresentam uma sensi- de 32 semanas. Enquanto algumas crianças resistem
bilidade diminuída à hipóxia tissular. Além bem a concentrações muito baixas de hemoglobina,
de justificar, em grande parte, a complexa outras acabam denunciando suas grandes dificuldades
fisiopatologia da anemia da prematuridade, os de modo bastante ostensivo. O caráter imprevisível e
níveis menores de eritropoietina endógena inespecífico dos sintomas tem levado a grandes variações
observados nessas crianças vêm estimulando seu nas indicações de transfusão de concentrado de hemácias
uso terapêutico. praticadas por diferentes Serviços.
Calendário Vacinal
REINALDO MENEZES MARTINS
O calendário vacinal é um instrumento de trabalho, coberturas vacinais altas e a apuração das ações
devendo ser adaptado à situação epidemiológica e de vacinação, permitindo a análise das estratégias
à disponibilidade de vacinas. Portanto, precisa ser empregadas.
revisto periodicamente. Deve também ser de fácil
compreensão e aplicação. É preciso levar em conta as particularidades dos
setores público e privado. Ambos devem seguir as
Sua aplicação deve ser flexível, isto é, procurando
mesmas normas de vacinação, mas deve-se
fazer os pequenos ajustes necessários no dia-a-dia
reconhecer, como fato da realidade, que os serviços
de trabalho. Deve-se fazer o possível para aplicar o
particulares podem oferecer de rotina uma gama
maior número possível de vacinas no menor número
maior de vacinas à sua clientela.
possível de consultas. Em situações especiais, por
exemplo, pacientes que tenham indicação de receber Darei a seguir quatro exemplos de esquemas vacinais,
vacina pneumocócica, contra varicela ou hepatite A, para mostrar como são variados. A fonte principal
encaminhá-los para os CRIEs (Centros de Referência dos dados apresentados é o Dr. David Salisbury, em
de Imunobiológicos Especiais). capítulo do livro “Vaccines” de Plotkin & Orenstein,
O calendário tem por objetivos racionalizar as 3ª ed, 1999, p.1033-1046 (“Immunization in
práticas de vacinação, facilitar a obtenção de Europe”).
Vacina Esquema
BCG 0, 6 anos
Hepatite B 0, 1, 6 m
DTP, pólio oral 2, 4, 6, 15 m
Hib 2, 4, 6 m
Febre amarela 9 meses e mais
Sarampo 9 m
Tríplice viral 15 m
dT 10/10 anos
Observação: As vacinas contra rubéola ou rubéola e sarampo devem ser aplicadas nas
puérperas.
Vacina Esquema
O calendário vacinal de atópicos é igual ao de não por exemplo, vacinação dos susceptíveis contra
atópicos. varicela.
Os imunocomprometidos graves não devem receber Prematuros devem ser vacinados normalmente, nas
vacinas vivas. idades cronológicas habituais, com exceção da BCG,
que só deve ser aplicado quando a criança tiver
Pacientes recebendo corticosteróides em dose de
dois quilos ou mais.
imunossupressão (2mg/kg/dia de prednisona ou
equivalente durante 14 dias ou mais) não devem Deve-se apurar a história vacinal e imunoló-
receber vacinas vivas durante os 30 dias seguintes. gica dos adolescentes, aplicando-se as vacinas
indicadas, como a tríplice viral, hepatite B, dT,
Outros imunossupressores contraindicam as vacinas
varicela e hepatite A, estas duas últimas caso sejam
durante os três meses seguintes.
disponíveis.
Transplantados de medula óssea não devem receber
As puérperas e seus maridos devem ser vacinados
vacinas inativadas durante um ano e vivas durante
contra rubéola e sarampo. Caso haja atraso ou falta
dois anos.
em relação a outras vacinas, deve-se encaminhar ao
Pessoas que estão em contato com imunocom- Posto de Saúde ou serviço equivalente para
prometidos graves devem receber proteção especial, atualização do calendário.
Os conhecimentos recentes sobre a dinâmica da incorporação dentro do DNA proviral sintetizado pela
replicação viral na infecção pelo HIV revelaram que transcriptase reversa viral. Por exemplo; o trifosfato
o vírus se multiplica intensamente durante todos os de zidovudina inibe a transcriptase reversa em
estágios da infecção. Quando a terapia antiretroviral competição com o trifosfato de timidina.
não é capaz de suprimir significantemente essa
2) Inibidores da transcriptase reversa não
replicação viral, emergem cepas virais resistentes,
nucleosídeos: Nevirapina e Delavirdina, Efavirenz.
além de aumentar a chance de deterioração mais
Estes inibidores da transcriptase reversa não
precoce do sistema imune. A terapia antiretroviral
nucleosídeos realizam uma supressão altamente
tem por finalidade suprimir ao máximo a replicação
seletiva da replicação do HIV em cultura de células
viral, preservar a função imunológica do paciente e
e têm baixa citotoxicidade. Eles não requerem
reduzir o desenvolvimento de resistência viral à
ativação intracelular (fosforilação) e então não
medicação. A terapia antiretroviral potente modificou
interferem com o metabolismo dos inibidores da
o prognóstico da criança com AIDS e alterou muito
transcriptase reversa nucleosídeos análogos.
a sua qualidade de vida, melhorando o seu
Entretanto, a resistência viral emerge rapidamente.
crescimento e desenvolvimento e levando à importante
queda na morbi-mortalidade destas crianças. 3) Inibidores da protease (IP): Indinavir, Nelfinavir,
Ritonavir e Saquinavir. A protease tem por função
O tratamento antiretroviral em crianças apresenta
clivar os precursores polipeptídicos que produzem
enormes dificuldades de aderência: as formulações
as proteínas estruturais e as enzimas do vírus:
das drogas para uso pediátrico disponíveis são
transcriptase reversa, integrase e a própria protease.
poucas e não têm boa palatabilidade; há grande
A protease é essencial para a montagem e maturação
impacto da agenda medicamentosa na qualidade
dos virions infectantes. A resistência do vírus aos
de vida do paciente. Nem sempre os responsáveis
inibidores da protease desenvolve-se mais dificilmente
pela criança ou adolescente têm habilidade na
com estas drogas. Estão liberados para uso na
manipulação e administração do complexo regime
população pediátrica: o Ritonavir e o Nelfinavir.
terapêutico. É grande a capacidade do vírus
desenvolver resistência às drogas precocemente, Há alguns anos, a terapia anti-retroviral era indicada
especialmente se os regimes terapêuticos não são somente para crianças que apresentavam sintomas
oferecidos com regularidade. clínicos e deficiência imunológica bem evidentes.
Nesta época, o esquema terapêutico inicialmente
O tratamento adequado da criança infectada pelo
proposto era a monoterapia com AZT. Atualmente
HIV pressupõe a identificação das mulheres infectadas
com o aparecimento crescente de resistência viral e
pelo HIV antes e durante a gestação, objetivando
com a descoberta de novos antiretrovirais, a terapia
prevenir a transmissão perinatal, além de iniciar preco-
combinada está recomenda para tratamento inicial
cemente as medidas profiláticas para o lactente filho
em todas as crianças.
de mãe infectada. Esforços devem ser feitos para se
realizar o diagnóstico precoce da infecção no lactente Quando comparada com a monoterapia, a terapia
e avaliação dos parâmetros imunológicos e virológicos, combinada retarda a progressão da doença, aumenta
que é fundamental para a adequação da terapia. a sobrevida e diminui a carga viral com maior
intensidade. A associação de duas ou três drogas
Os anti-retrovirais disponíveis atualmente em nosso
tem sido recomendada. O Ministério da Saúde do
meio são classificados em três categorias:
Brasil recomenda, segundo normas publicadas em
1) Inibidores da transcriptase reversa núcleosideos 1998, o uso de dois inibidores da transcriptase
análogos: ddI, 3TC, d4T, ddC, AZT, Abacavir(ABC). reversa nucleosídeos análogos para a terapia inicial:
Nesta categoria de anti-retrovirais, a droga ativa, AZT+ddI ou AZT+ 3TC. No entanto, o CDC (Centers
compete com o nucleotídeo trifosfato endógeno pela for Disease Control and Prevention) sugere como
regime terapêutico preferencial o uso de um inibidor 3) Critério virológico: devem receber terapia anti-
de protease associado a dois inibidores da retroviral as crianças que apresentarem CV elevada
transcriptase reversa nucleosídeos análogos. A ou em progressivo aumento.
monoterapia não é recomendada, exceto para a
4) Grupo Especial: a maioria dos pesquisadores
profilaxia da transmissão perinatal do vírus.
sugere que as crianças detectadas como infectadas
Acredita-se que a introdução precoce do esquema durante o primeiro ano de vida, independentemente
terapêutico, sobretudo em crianças durante o primeiro dos critérios clínico, imunológico e virológico, devem
ano de vida, determine uma diminuição rápida da iniciar terapia antiretroviral.
carga viral, antes que haja comprometimento do
Uma vez iniciado o esquema terapêutico, além da
sistema imune e aparecimento de cepas virais
avaliação clínica, controles trimestrais ou quadri-
resistentes.
mestrais devem ser feitos para avaliar a evolução da
As indicações para se iniciar a terapêutica anti- carga viral e contagem de células CD4+ com a
retroviral em crianças obedecem aos seguintes finalidade de detectar falhas terapêuticas e intolerân-
critérios: cia medicamentosa. Ocorrendo isso, estará indicada
a mudança da terapêutica.
1) Critério clínico: devem receber terapia antiretroviral
as crianças que estão classificadas nas categorias Antes de indicar mudança terapêutica baseada em
clínicas A, B e C (Tabela 1) sinais de intolerância, considerar que os sintomas mais
freqüentes, como náuseas, vômitos, dor abdominal,
2) Critério imunológico: devem receber terapia
diarréia e cefaléia são leves e geralmente desapare-
antiretroviral as crianças que estão classificadas nas
cem após as primeiras semanas de uso das drogas.
categorias imunológicas 2 e 3 (Tabela 2) ou
apresentam rápido declínio de CD4 (absoluto ou É importante lembrar que todas estas normas
relativo) para os níveis da categoria 2. utilizadas, tanto para início quanto para mudança
Ausente 1 N1 A1 B1 C1
Moderada 2 N2 A2 B2 C2
Severa 3 N3 A3 B3 C3
Severa 3 < 750 (<15%) < 500 (<15%) < 200 (<15%)
Meningites Bacterianas
CALIL KAIRALLA FARHAT
eficácia do método em crianças anêmicas ou ictéricas flebotomia pode ser realizada antes do início da
a risco de kernicterus. Foi Hart (1925) quem primeiro exsangüíneo. A exsangüíneo com sangue total é
a usou em um caso de doença hemolítica Rh grave. indicada nas icterícias hemolíticas graves, como
Era o nono filho de uma mãe que perdera seis bilirrubinemias menores do que 10 mg%, no primeiro
anteriores com anemia e edema. Usou o seio sagital dia de vida, antecipando uma indicação futura e em
por punção no escalpe, e a criança sobreviveu. No todas as outras indicações já citadas. A criança que
entanto, foi com Diamond (1945), com o uso da teve ligadura precoce do cordão umbilical recebe
veia umbilical como via de acesso, que o tratamento um cateter introduzido 10-12 cm, alcançando, assim,
se estabeleceu, e hoje usam-se dois volumes de a veia cava inferior; mede-se a pressão venosa pela
sangue da criança (80 mg/kg x 2), o que se mostra altura da coluna de sangue que se eleva no cateter
eficiente para a troca de 85% das células do receptor e inicia-se a troca de 10/10 ml ou 20/20 ml, na
pelas do doador. Na doença hemolítica, a transfusão dependência do peso da criança, deixando sempre
de substituição está indicada quando o hematócrito um déficit inicial de volume (10 ml - 20 ml). Use
é menor do que 45% e a bilirrubina indireta maior sangue ABO específico e Rh negativo na
do que 4 mg% no sangue do cordão, ou quando há incompatibilidade Rh (ou sangue O Rh negativo).
aumento de mais de 0,5 mg%/hora de bilirrubina Sangue fresco, conservado em ACD ou CPD, é
não-conjugada por mais de seis horas, ou na melhor do que o heparinizado (este eleva os ácidos
presença de metalbuminemia. Se não há hemólise, graxos não-saturados que competem com a bilirrubina
está indicada quando a bilirrubina indireta alcança pela albumina), apesar de apresentar uma glicemia
18 mg% por mais de 48 horas ou 20 mg% em de cerca de 300 mg%, sódio de 180 mEq/l,
qualquer dosagem, em recém-nascidos a termo ausência de cálcio e um pH baixo (6,9-7,0). Na
normais, dentro dos primeiros 15 dias de vida. eritroblastose, há hiperplasia das ilhotas de
Quando se trata de recém-nascidos pré-termo, temos Langerhans, com hiperinsulinismo semelhante ao do
exsangüinado com valores tão baixos quanto 12-15 filho de mãe diabética, e esta hiperglicemia no
mg% para aqueles de peso de nascimento menor do sangue doado pode provocar rechaço hipoglicêmico,
que 1.500 g, ou idade gestacional inferior a 34 caso não se mantenha uma linha venosa de glicose
semanas, mesmo na ausência de outras patologias a 5% nas 24 horas seguintes ao procedimento. É
associadas. desnecessária a administração de 1 ml de gluconato
de cálcio a 10% para cada 100 ml de sangue
O Quadro 2 é útil, pois mostra critérios práticos,
trocado. No entanto, na presença de taquicardia,
valorizando outras variáveis, mas peca pela
irritabilidade, prolongamento do intervalo S-T no
generalização. Os Quadros 3 e 4 também são
monitor cardíaco, o cálcio deve ser injetado
válidos, mas suscetíveis ao mesmo erro.
lentamente, sob monitoração da freqüência
O uso de papa de hemácias é apropriado para cardíaca, lavando-se bem como soro fisiológico o
aqueles severamente anêmicos e que necessitam de tubo contendo sangue ACD. O sangue é aquecido
uma exsangüíneo imediata. Durante a troca, o sangue por 30 minutos em temperatura ambiente, deve
da criança com hematócrito tão baixo quanto 10% receber uma irradiação simples de 3 rads ao RX
é substituído, volume por volume, por sangue (para destruição dos linfócitos T e B), agitado 3-4
compatível do doador, concentrado a um hematócrito minutos durante o procedimento e utilizado após
de 70%. Isto aumenta o transporte de oxigênio aos prova cruzada com o sangue receptor.
seus tecidos sem sobrecarregar a circulação, e usa- Complicações existem decorrentes do cateter
se apenas um volume de sangue da criança para a umbilical, hemodinâmicas e metabólicas. O cateter
troca. Infelizmente, haverá apenas remoção parcial pode introduzir infecções ou êmbolos gasosos,
das hemácias sensibilizadas da doença Rh ou podendo também levar à trombose aórtica ou da
intrinsecamente deficientes da alfa-talassemia ou da veia porta. Hemorragia ao nível da veia umbilical
deficiência de piruvatoquinase. As hemácias residuais ou a temível enterocolite necrosante aguda. Muita
serão destruídas, e uma exsangüineotransfusão rapidez no procedimento pode levar a choque
padrão, com dois volumes de sangue total, é hemodinâmico com deterioração cardiorrespiratória,
posteriormente necessária. Como essas crianças e sangue gelado pode produzir arritmias ou parada
severamente anêmicas, edemaciadas, com ascite, cardíaca. Ainda, hipoglicemia de rechaço,
apresentam uma pressão venosa umbilical elevada, hipocalcemia, hiperpotassemia (K+ eleva-se 1 mEq/
l/dia em sangue guardado), acidose metabólica, (1982) encontrou um aumento de 41% na eficiên-
hipoxia tecidual (2-3 DPG das hemácias diminuem cia em remover bilirrubina, especialmente em pe-
10% por dia, comprometendo a cur va de quenos prematuros. Não esquecer que 1 g de
dissociação do oxigênio ao nível dos tecidos), albumina eleva o volume plasmático em 17 ml, em
hipotermia (cuidado com queimaduras com uso de função de seu poder oncótico, o que contra-indica
colchão elétrico), alcalose metabólica pós- na vigência de edema ou hipoalbuminemia severa.
transfusional e fibroplasia retrolental (toxicidade da Quando usamos albumina prévia, devemos aumentar
HbA/O2). Freqüentemente, indicamos o uso de uma em 34 ml (17 ml x 2) por quilo o volume total de
transfusão de albumina humana a 25% (1 grama / sangue do doador a ser utilizado, ultrapassando os
kg), 60-90 minutos antes da exsangüíneo, e Odell dois volumes usuais.
Quadro 2 - Normas para tratamento da hiperbilirrubinemia neonatal (Pn > 1.000 g)*
Bilirrubina Peso
sérica de < 24 horas 24-48 horas 48-96 horas 5° ao 10° dia
mg/100 ml nascimento
< 5 Qualquer
Em presença de:
1. Asfixia perinatal
2. Sofrimento respiratório
3. Acidose metabólica (pH 7,25 ou abaixo) Considerar como fatores de risco
4. Hipotermia (temperatura abaixo de 35°C) que exigem conduta individualizada
5. Proteína sérica baixa (5 g/100 ml ou menos) para cada paciente (ver Quadro 3)
6. Peso ao nascer < 1.000 g
7. Sinais de deterioração clínica ou do SNC
(Modificado de Brown, A.K., Klaus, M.H. e Fanaroff, A.A.) (Alves Filho, N – 1999)
Quadro 3 - Máximo de bilirrubina indireta sérica recomendado como seguro para o SNC (mg/dl)
Peso de nascimento (em gramas) Curso clínico não-complicado Curso clínico complicado*
Menos de 1.250 13 10
1.250 - 1.499 15 13
1.500 - 1.999 17 15
2.000 - 2.499 18 17
Mais de 2.500 20 18
* Curso clínico complicado inclui asfixia perinatal, acidose, hipotermia significativa e persistente,
hipo-albuminemia, meningite, sepse, hemólise, hipoglicemia.
** Lee, K.S. et al. – Clin. Perinatolog., 4:305, 1977.
geométrica da bilirrubina IX-alfa (ZZ), onde os anéis Vários possíveis efeitos biológicos e complicações
pirrólicos A e D realizam uma rotação de 180°, da fototerapia foram copilados nos últimos anos da
levando ligações nitrogenadas e lactâmicas literatura. Citaremos apenas aqueles que o autor
hidrogeniônicas, a se exporem ao ambiente externo, considera mais importantes:
tornando o produto final muito hidrossolúvel, 1. Alterações de ritmos circadianos mediados pela
compreende cerca de 80-85% do efeito da luz, como menarca, ovulação, função gonadal,
fototerapia. Portanto, é mais importante do que a função supra-renal, síntese de gonadotrofina, síntese
formação da biliverdina. Isso explica por que Storey de melanina, síntese de vitamina D.
(Austrália, 1974), estudando gêmeos monozigóticos,
2. Hipertermia, queimaduras, desidratação,
encontrou efeito sensível da luz sobre o gêmeo ictérico
hemoconcentração. O uso de lâmpadas azuis ou a
tratado quando os valores plasmáticos de bilirrubina
colocação de dois vidros de plexiglás sob as
indireta ultrapassaram 9 mg%; portanto, com pele
lâmpadas brancas diminui a presença de raios
impregnada, quando comparado com o gêmeo não-
infravermelhos (> 600 nm) ou ultravioletas (< 350
tratado. Também explica a pouca ação da fototerapia
nm), que podem aumentar de 2-3 vezes a perda
profilática em prematuros extremos, em riscos de
insensível de água pela pele.
icterícia, e sugere que recém-nascidos com pele negra
(raros) sejam pouco sensíveis ao procedimento. 3. Dano retiniano. Ocluir os olhos, com higiene
diária para impedir conjuntivite. Cuidado para não
No terceiro processo, também sob fototerapia, há
obstruir as narinas. A oclusão ocular parece
uma fotoisomerização estrutural, já citada, levando
responsável por distensão abdominal.
ao aparecimento da lumirrubina — “talvez o mais
importante produto de degradação de bilirrubina 4. Alteração no trânsito intestinal. Acreditava-se haver
indireta atualmente conhecido” (Maisels, 1994). redução no trânsito intestinal, associada à diarréia
Convém lembrar também que, à luz desses recentes por deficiência de lactase. Parece haver, sim,
conhecimentos, a bilirrubina direta que impregna muito peristaltismo normal ou aumentado, ausência de
mais facilmente a pele (é o caso na hepatite vírica) lactase na borda em escova dos enterócitos,
também é fotoisomerizada para um pigmento escuro, substâncias redutoras nas fezes líquidas e necessidade
chamado pigmento desconhecido (unknown pigment), de aumentar em 10-20% o balanço diário de água,
antes considerado como porfirina polimerizada, que sódio, potássio e nitrogênio.
também ganha a bile, dando-lhe uma coloração 5. Pouco ganho pondoestatural. Apenas durante o
marrom-escura, mas principalmente impregna por uso da fototerapia. Manter amamentação regular
meses a pele da criança, na chamada “síndrome do (Maisels, 1994).
bebê de bronze”.
6. Aumento da circulação periférica. Causa
Atualmente, em nosso serviço, indicamos a fototerapia acentuação clínica de cianose preexistente. Com uso
nas seguintes situações: (1) doença hemolítica de luz azul, fica prejudicado o diagnóstico de
perinatal, como preventiva da exsangüineotransfusão cianose.
(principalmente na ABO) ou como coadjuvante pós- 7. “Rashes” cutâneos. A injúria da pele causa
exsangüíneo (impedindo repetição); (2) recém-nascido fotossensibilização nos mastócitos, com liberação de
doente onde a bilirrubina indireta alcança 8-10 mg% histamina (Levine, 1993).
e onde a bilirrubina direta não ultrapassa 2 mg%
8. Hemólise. Fotossensibilização das hemácias e
(“risco de bebê de bronze”); (3) recém-nascidos sadios
talvez das plaquetas, levando à anemia e
e de bom peso onde a bilirrubina indireta alcança
plaquetopenia (50.000 / mm3) sem significado
mais de 15 mg% antes do quinto dia de vida.
clínico. Haveria indicação para o uso de vitamina E
Com essa conduta, tentamos diminuir a iatrogenia (Valaes, 1992).
da separação desnecessária pais-filhos e o uso
9. Dano ao DNA intracelular. A luz excessiva é
abusivo da fototerapia, mascarando quadros clínicos
considerada mutagênica, com a agravante de estar
ainda sem diagnóstico. Não usamos colestiramina
incidindo num organismo que viveu toda a gestação
para diminuir a circulação êntero-hepática de
no escuro.
fotobilirrubina, nem oclusão dos testículos (efeito calor),
mas sim a oclusão ocular com tampão preto e 10. Diminuição de riboflavina no plasma. Com
hidratação oral abundante. vitamina fotossensível, uma deficiência transitória
ocorrerá especialmente naqueles alimentados com Também em todas as situações semelhantes, onde se
leite humano, pobre nessa vitamina. Não há prevê uma icterícia neonatal acentuada.
significado clínico conhecido.
A dose de 50-75 mg/dia deve ser dada à mãe na
11. Outros: Hipocalcemia (via pineal?), queda nos semana que antecede o parto. Drogas de efeito
níveis de ácidos graxos livres, aumento de crises de semelhante seriam a antipirina, os salicilatos, a
apnéia em pequenos prematuros, priapismo, sucção heroína, o álcool, os derivados do DDT, sem
pobre, sonolência, avaliação prejudicada de icterícia, aplicação clínica.
estrabismo futuro, acidentes elétricos, trauma por Em doença hemolítica perinatal muito severa, por
queda da lâmpada sobre a criança, impacto incompatibilidade Rh, o feto morre in utero, de anemia
emocional sobre os familiares. e hidropisia, antes que possa nascer. Numa tentativa
Em conclusão, apesar de não ser um tratamento de prolongar a vida intra-uterina de tais crianças, em
isento de riscos, desde que afastada a iatrogenia da uma gestação onde o risco de prematuridade não é
má indicação e respeitados a ligação mãe-filho e o muito grande, a transfusão intraperitoneal fetal intra-
estímulo ao aleitamento materno, não há uterina foi desenvolvida. Historicamente,
comprovação de que os benefícios da redução de Recklinghausen (1863) experimentou transfusão
até 7 mg% por dia nos níveis da bilirrubina indireta intraperitoneal em animais. Ponfick (1875) realizou
pela fototerapia bem-feita possam ser superados pelos a primeira transfusão intraperitoneal no homem, e
malefícios dos efeitos colaterais conhecidos (Polin, Golgi (1880) mostrou evidente aumento da
1994).Recentemente, foram apresentados novos hemoglobinemia após transfusão intraperitoneal. Em
aparelhos de fototerapia de 4a geração, utilizando 1936, Allan fotografou a passagem de hemácias
diiodos emissores de luz (LEDs) de nitrito de galio, em estomas existentes entre as células mesoteliais
de megaintensidade de irradiação, altamente peritoneais.
resolutiva em ratos Gunn (Lan-Chan et al) (SPR-1999). Courtice e cols. (1953) comprovaram que a absorção
dos elementos figurados ocorre através do duto
C. Fenobarbital e outros linfático direto. Com esses e outros conhecimentos
Vários agentes farmacológicos são capazes de induzir bem estabelecidos, Liley (1963), na Nova Zelândia,
o sistema de captação, conjugação e excreção de transfundiu in utero um feto Rh positivo isoimunizado.
bilirrubina indireta ao nível do hepatócito. Como Freda e Adamson (1964) realizaram uma
vimos, o fenobarbital pode promover essa indução exsangüineotransfusão intra-uterina, e Hinselman e
enzimática e de transporte, abolindo a fase I da Kubli (1968), uma transfusão intra-amniótica de
icterícia “fisiológica” e reduzindo os níveis sangüíneos sangue, com resultados duvidosos. Desde então, a
de pigmento na síndrome de Crigler-Najjar tipo II. técnica de Liley se firmou e hoje é praticada
unicamente naqueles casos de gestantes Rh negativo
Também parece diminuir a circulação êntero-hepática isoimunizadas em que, seguramente, seus fetos
de bilirrubina. No entanto, cerca de 48 horas são morreriam antes que se pudesse realizar um parto
necessárias para o início de sua ação no hepatócito, prematuro com alguma maior possibilidade de
além de levar à sonolência e pobre sucção ao recém- sobrevivência (Friesen e Bowman, 1969).
nascido, o que, praticamente, o contra-indica na
icterícia neonatal das doenças hemolíticas e outras As provas de gravidade da doença que indicam o
com rápida elevação dos níveis plasmáticos do procedimento excepcional incluem: (1) história anterior
pigmento de reação indireta. Atualmente, ganha de gestações afetadas com alto grau de
entusiasmo o seu uso em gestantes grupo sangüíneo acometimento fetal (prova anamnésica); (2) altos títulos
O cujos maridos são do grupo A ou B, naquelas de anticorpos maternos anti-Rh (índice de
que terão filhos certamente prematuros, nas gestantes sensibilização); (3) estudo espectrofotométrico do
Rh negativo sensibilizadas cujos fetos apresentam a líquido amniótico indicando zona de transfusão intra-
doença hemolítica, nas diabéticas com parto cesáreo uterina nos gráficos de Freda ou Liley (prova
programado para 38 semanas, nas japonesas fundamental). Deve ser ela intravascular, por
grávidas ou nas gestantes habitantes da ilha de Lesbos cordocentese.
(Grécia), onde há 15% de incidência de deficiência Apesar de a transfusão intra-uterina em fetos Rh
de G-6-P-D em recém-nascidos do sexo masculino. positivo anêmicos ser procedimento salva-vidas,
requer grande habilidade, não está isenta de peri- porquanto oferece uma moderada percentagem de
gos e não é substitutiva da cesárea eletiva em êxitos, devendo ser encorajada nos maiores centros
casos moderadamente afetados, ou quando sufici- brasileiros.
entemente maduro o feto (32 semanas). As condi-
ções para a realização de transfusões intra-uterinas
exigem plena concordância materna e paterna (con- IV. PREVENÇÃO
dição jurídica), gestante informada sobre as possi- Tanto a fototerapia quanto o fenobarbital podem ser
bilidades de êxito e fracasso da operação e de usados para a prevenção da hiperbilirrubinemia, mas
que o feto certamente morreria in utero sem possi- seu uso profilático não encontra indicação, pois
bilidade de sobrevivência se precipitado o parto, apenas 5% dos recém-nascidos poderiam beneficiar-
para decisão com pleno conhecimento de causa e se deles.
tranqüilidade para o ato cirúrgico (condição médi-
A alimentação precoce é fundamental aqui, para
co-psicológica). As condições fetais exigem vitali-
diminuir a circulação êntero-hepática de bilirrubina,
dade para beneficiar-se da transfusão, conhecimen-
talvez o principal fator causal da icterícia própria do
to da idade gestacional e comportamento do feto
recém-nascido (“fisiológica”). É evidente que há uma
intra-útero, só a realizando antes de 32 semanas.
necessidade crescente de melhor conhecimento do
As condições do operador devem ser de prudência
metabolismo da bilirrubina e da sua toxicidade para
respeitosa, membro de uma equipe responsável e
o SNC e outros tecidos. Contribuição importante foi
com progressiva e evidente melhora de sua técnica
o advento da imunoglobulina anti-Rh (D) para a
com experiência firmada. Em Belo Horizonte, há
prevenção de isoimunização Rhesus. Desde 1992,
um Centro Regional de Atendimento às Gestantes
Valaes, Vreman, Stevenson e outros (EUA, Canadá,
Rh negativo, coordenado por Mário Dias Corrêa,
Europa) vêm investigando o uso de inibidor de
já com mais de uma centena de transfusões intra-
hemeoxigenase, tin-proto-porfirina (TPP), SC ou IM
uterinas realizadas, bons resultados e acompanha-
logo ao nascer para prevenção da icterícia neonatal
mento das crianças tratadas (prova prospectiva).
em RN e risco maior. É um fotossensibilizador e não
Condições técnicas difíceis existem em fetos peque-
deve ser usado com fototerapia. Proto e mesoporfirinas
nos, na gemelaridade, estando contra-indicado o
contendo estanho (Tin), zinco, manganês, crômio,
procedimento em fetos hidrópicos (“sinal do halo”
níquel, magnésio vêm sendo estudadas já que a
positivo no couro cabeludo fetal). A assistência
metaloporfirina ideal como inibidora deve conter um
neonatal exige pediatra treinado para a correção
metal biocompatível, não degradável em tecidos,
da hipoglicemia e acidose metabólica,
sem reações fotossensíveis e de alta eficiência. É um
hipoalbuminemia, anemia severa, icterícia muito
tratamento não ortodoxo, de engenharia biológica,
precoce, insuficiência cardíaca e ascite que
de conseqüências pouco conhecidas e ainda não
prejudica a respiração. SARI grave é precoce, e
aprovado para uso clínico. A individualização das
hipoxia perinatal, importante. O prognóstico
crianças a risco de toxicidade pela bilirrubina precisa
depende da gravidade do acometimento fetal no
ter metodologia mais simplificada. A correlação com
momento de se tomar a decisão pelo procedimento,
circunstâncias clínicas associadas dentro dos primeiros
do número de transfusões, da prática e experiência
anos de vida torna-se imperativa, através de estudos
do grupo de trabalho e do bom resultado das
prospectivos de crianças tratadas ou não. A arte no
exsangüineotransfusões imediata e precoce.
reconhecimento e na conduta da hiperbilirrubinemia
A correção dos distúrbios metabólicos, sempre neonatal tem progredido muito nos últimos anos, de
presentes na primeira semana de vida pós-natal, exige modo que estamos entrando numa era altamente
cuidados intensivos. Em conclusão, a transfusão intra- científica nesta área, onde a prevenção certamente
uterina é um método razoável de tratamento, substituirá o tratamento, na maioria dos casos.
células produtoras de EPO, sensível às variações de tecidual decorrente da alteração dos transportadores
pO2. Em 1999, Costa e cols., em São Paulo, de oxigênio, da capacidade de liberá-lo às células
demonstraram que a administração subcutânea de e estas, de o aproveitar.
400 U/Kg de EPO em RN-PT, de diferentes idades
gestacionais, pós-natal e de peso, sem nenhum efeito A anemia neonatal poderá ser classificada,
adverso, elevou a concentração plasmática da EPO etiopatogenicamente, em cinco tipos:
já nas primeiras horas, atingindo o pico em termo 1. Anemia por produção sangüínea inadequada;
da 6ª hora, decrescendo a seguir, mantendo na 72ª
hora concentração praticamente dobrada em relação 2. Anemia por perda de sangue;
à inicial, antes da administração. 3. Anemia por destruição de sangue;
Consideremos um problema de elevada importância
4. Anemia paradoxal (cardiopatas cianóticos,
no período neonatal: a anemia. A anemia poderá
variações bruscas de altitude, etc);
ser conceituada do ponto de vista metabólico como
afecção caracterizada por deficiência de oxigênação 5. Anemia da prematuridade.
Dor no Recém-Nascido
RENATO SOIBELMANN PROCIANOY
Escore máximo: 8 pontos. Considera-se a presença de dor quando três ou mais movimentos faciais aparecem de
maneira consistente, durante a avaliação da presença de dor.
Diagnóstico Diferencial de
Distress Respiratório no Recém-Nascido
WILMAR MENDONÇA GUIMARÃES
O diagnóstico diferencial de recém nascidos com medida que a resistência vascular pulmonar diminui
dificuldade respiratória é o desafio mais freqüente passando a perfundir o parênquima . Isto é perfusão
que se apresenta ao pediatra e neonatologista. Nem pulmonar.
sempre muito difícil , pode algumas vezes desafiar As manifestações clínicas costumam ser diferentes
a argúcia pois são numerosas as possibilidades das da criança maior por vários motivos. Como
diagnósticas. O uso do raciocínio clínico cotejando exemplo, a cianose só costuma aparecer quando a
os dados obstétricos e os achados no recém nascido tensão de oxigênio é menor de 40 mm de Hg, pela
oferecem os elementos diagnóstico na maioria das grande afinidade da hemoglobina fetal pelo gás.
vezes. Igualmente a maior complacência da caixa torácica
A transição da vida intra para a extra-uterina exige faz as retrações mais acentuadas, especialmente nos
grandes mudanças adaptativas no aparelho prematuros. O batimento da asa do nariz é a solução
respiratório . Em poucos minutos, o líquido pulmonar do RN para a redução da resistência nasal ,
presente nos pulmões é retirado ou absorvido, os responsável por 50% da resistência da via aérea. O
pulmões enchem-se de ar progressivamente. A gemido expiratório é respiração com as cordas
instalação da capacidade residual funcional é vocais parcialmente fechadas representa o esforço
importante pois propicia condições fisiológicas de de prolongar o ciclo respiratório para aumentar as
troca gasosa, mesmo durante a fase expiratória da trocas de gases.
ventilação. Isto é ventilação pulmonar. O fluxo O diagnóstico diferencial inclui as enfermidades do
sangüíneo pulmonar aumenta acentuadamente à quadro 1.
Quadro 1 – Causas
Desordens pulmonares
Membrana hialina
Aspiração de mecônio
Pneumonia
Taquipnéia transitória
Hemorragia pulmonar
Escapes de ar
Displasia broncopulmonar
Anomalias do desenvolvimento
Hipoplasia pulmonar
Enfisema lobar congênito
Quilotórax
Má formação adenomatóide cística
Cisto lobar congênito
Linfangiectasia pulmonar
Vias aéreas altas
Atresia de coanas
Micrognatia , Síndrome de Pierre Robin
Obstrução laringea
Paralisia , estenose , malácea de cordas vocais
Obstrução traqueal
Anormalidades diafragmáticas
Hérnia diafragmática
Eventração
Lesão de nervo frênico
Cardiovascular
Arritmias
Cardiopatia estrutural
Miocardiopatias
Hematológicas
Policitemia
Anemia
Doença neuromuscular
Sepsis - infeção
Deformidades da parede torácica
Doença metabólica
Hipoglicemia
Erros inatos do metabolismo
Outros
Asfixia
Hipotermia
Hipertermia
retrações, gemidos e cianose . Os sintomas costumam O quadro radiológico pode ser de condensação
aparecer nas primeiras 6 horas de vida. Apnéia e extensa ou esparsa. No prematuro o aspecto
diminuição dos ruídos respiratórios, são secundários ragiográfico pode simular a doença de membrana
a atelectasia que acompanham os acometimentos hialina. A existência de efusão pleural sugere E Coli,
mais graves. A dificuldade tende a piorar em 2 a 3 estáfilo ou estreptococo. Neutropenia < 1500 cel
dias e então inicia-se a melhora em 72 horas. RX de mm3 ou > 15000 cels mm3, relação de neutrófilos
tórax mostra padrão característico “em vidro moído“, imaturos sob totais igual ou maior de 0,2 e
diminuição do volume pulmonar e silhueta brônquica trombocitopenia sugerem a infeção.
visível os chamados “broncogramas aéreos“. Nas
formas severas o aspecto radiológico pode ser Taquipnéia transitória do recém nascido
completamente opaco. Mais freqüente nos meninos recém nascidos de parto
cesárea, também é chamada de distress tipo II.
Síndrome de aspiração de mecônio Comumente é uma desordem auto limitada que se
Cerca de 10 a 20 % de todos os nascituros podem apresenta nas primeiras horas de vida com taquipnéia,
estar tintos de mecônio, crescendo esta incidência gemidos e retrações que habitualmente não são graves.
com a chegada da pós maturidade. O síndrome de Raramente será necessário ventilação mecânica. Os
aspiração de mecônio porém é raro antes de 37 sintomas desaparecem dentro de um a dois dias sendo
semanas pelo padrão imaturo da motilidade intestinal. raro além do terceiro dia. Ao Rx líquido nas cisuras
Destes 10 a 20% apenas 2% aspiram líquido pulmonares , com acentuação da trama peri hilar.
amniótico com mecônio. As crianças apresentam grau
Discreta cardiomegalia pode ser vista algumas vezes.
de insuficiência respiratória proporcional á quantidade
de mecônio que entra nos pulmões. Cianose, Escapes de ar
taquipnéia e acidose predominam as manifestações
clínicas. A aspiração com a forma particulada de Os escapes pulmonares de ar (air leaks), corres-
mecônio, leva a hipoventilação acentuada e aumento pondem ao pneumotórax, pneumomediastino e ao
da resistência ao fluxo aéreo . A gasometria mostra enfisema intersticial pulmonar. A incidência de
hipercapnia, acidose respiratória e hipóxia de graus pneumotórax espontâneo é de 2% entre todos os
variáveis. Rx de tórax mostra quadro polimorfo com recém nascidos, sendo mais raro antes das 34 se-
graus variáveis de atelectasia, condensações e áreas manas.
de hiperinsuflção entremeadas a hipoventilação. O Quando existe uma enfermidade respiratória
diâmetro antero-posterior do tórax está freqüentemente subjacente a incidência aumenta acentuadamente
aumentado. Podem ser encontrados sinais de podendo chegar a 40% das crianças com distress
comprometimento do SNC. respiratório por mecônio e membrana hialina e 10%
na taquipnéia transitória. O pneumopericárdio é raro
Pneumonia neonatal e ocorre sempre em pacientes com ventilação
Menos de 1% das crianças a termo tem pneumonia mecânica. O enfisema intersticial pulmonar ocorre
neonatal, incidência que aumenta muito no prematuro, mais em prematuros que tem tecido conjuntivo de
cerca de 10%. O diagnóstico associa-se com sustentação da bainha dos vasos mais frouxo. A
freqüência a ruptura de membranas amnióticas por maioria dos pacientes com pneumotórax espontâneo
mais de 24 horas, especialmente nos partos e penumomediatino é assintomática.
prematuros e a achados clínicos no bebê como Clinicamente, além dos sintomas de dificuldade
instabilidade térmica, icterícia, dificuldades respiratória pode ser encontrado aumento do diâmetro
alimentares, vômitos, letargia em conjunção com antero-posterior do tórax, deslocamento do ictus e
distress respiratório. Petéquias, hepato-esplenomegalia hipotensão. O enfisema intersticial leva a progressiva
e microcefalia estão associados a pneumonias virais deterioração ventilatória, hipóxia e anormalidade na
intra-uterinas. Quando a pneumonia é provocada perfusão periférica. Radiografia de tórax de um
pelo estreptococo do grupo B pode ter curso pneumotórax mostra área de hiperlucência sem trama
fulminante precoce na primeira semana de vida ou broncovascular , com imagem do pulmão colabado.
ter uma evolução mais arrastada na segunda semana No pneumomediastino se observa área hiperlucente
associando-se a meningite e lesões ósseas e de pele. retroesternal na incidência de perfil e ao redor das
estruturas centrais do mediatino na antero-posterior. Com maior freqüências estas crianças intercorrem
No pneumopericárdio gás ao redor do coração pneumotórax e hipertensão pulmonar persistente. O
delineia o órgão. A imagem do enfisema intersticial diagnóstico radiológico é sugerido quando se observa
pulmonar é de hiperinsuflação com delineamento das campos pulmonares pequenos e dependendo do
bainhas vasculares nos hilos , que pode ser localizada grau, desvio do mediatino para o lado afetado.
ou difusa e aparecimento de pequenos cistos que
deixam estas áreas hipelucentes. Quilotórax
O quilotórax é causa rara de efusão pleural nos
Diplasia broncopulmonar
primeiros dias de vida sendo duas vezes mais
Ë uma doença crônica do pulmão do recém nascido freqüente nos meninos. O lado direito mais afetado
submetido a ventilação mecânica e oxigênio-terapia que o esquerdo sendo na maioria das vezes de
prolongados no período neonatal. Caracterizado por causa desconhecida apesar de se especularem causa
necessidade de oxigênio suplementar após 28 dias. como: 1) ruptura do ducto torácico por trauma
O bebê mostra sinais de hipóxia e dificuldade obstétrico, 2) erro no desenvolvimento do ducto
respiratória quando se retira suporte ventilatório. Durante linfático 3) presença de fístula entre a cavidade pleural
a internação na UTI, as manifestações são variáveis e o ducto torácico. Metade das crianças com
com a idade pós natal e o tempo de ventilação quilotórax tem distress nas primeiras 24 horas e 75%
mecânica. Este quadro é visto em paciente de UTI e tem até a primeira semana de vida.
egressos dela. Tem tórax enfisematoso, com diâmetro Os ruídos respiratórios são diminuídos no lado
AP aumentado, ausculta pulmonar rica e ao Rx imagens correspondente e o mediatino é desviado para o
variadas com acentuação da trama a cistos múltiplos. outro lado. O líquido pode ser seroso inicialmente
tornado-se leitoso a medida que se inicie a
Hemorragia pulmonar
alimentação.
Está associada quase sempre a outra doenças como
distress respiratório, asfixia, cardiopatia congênita, Enfisema lobar congênito
infeção, hipotermia e distúrbios da coagulação. O São os bebês a termo que são geralmente acometidos
diagnóstico é sugerido quando ocorre súbita e podem ser assintomáticos ou com acentuado distress
deterioração, choque e cianose. Pode aparecer sangue respiratório. Metade são sintomáticos no primeiro
na cânula endotraqueal, geralmente após 2 a 4 dias mês de vida e quase todos tem sintomas com 6
de idade. A imagem radiológica pode ser de meses. Os pacientes tem sintomas típicos de distress
infiltrados difusos a opacificação completa do pulmão. respiratório com diminuição das excursões torácicas
no lado afetado. O ictus está desviado para o outro
lado. Cerca de 20 % tem associação com
ANOMALIAS DO
cardiopatia congênita.
DESENVOLVIMENTO
A hiperinsuflação é geralmente de um só lobo
Hipoplasia pulmonar pulmonar, secundário a um mecanismo valvular, resulta
A suspeita diagnóstica surge quando aparecem em atelectasia do pulmão ao redor. Mais freqüente
eventualidades na história obstétrica como 1) no lobo superior esquerdo ( 40%), lobo médio (30%)
oligodramnia importante secundária a ruptura e lobo superior direito (20%). Ocorre desvio do
prematura de membranas amnióticas, ou mediatino para o lado contra lateral.
anormalidades renais. 2) Hérnia diafragmática
congênita. 3) desordens neurológicas como Mal formação adenomatóide cística
anencefalia e 4) anormalidades esqueléticas do tórax. Condição rara, quase sempre unilateral, sendo que
Clinicamente as crianças com hipoplasia pulmonar os lobos são afetados em igual freqüência . Inúmeros
se apresentam com grau variado de insuficiência cistos entremeiam a lesão.
respiratória, dependendo da extensão. Por exemplo, Um terço aparece no período neonatal e o restante
quanto menor a idade gestacional ocorrer a ruptura no primeiro ano. As crianças tem grau variado de
das membranas, maior será a sintomatologia dificuldade respiratória sendo que as mais velhas
hipoplasia. podem ter infeções respiratórias de repetição.