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O MODELO KEYNESIANO SIMPLIFICADO

José Maria Alves da Silva

1. Determinação da renda de equilíbrio e o efeito multiplicador


Nos manuais de macroeconomia, geralmente o que se chama de modelo keynesiano
simplificado, é, na verdade, uma construção de teóricos neoclássicos convertidos ao
keynesianismo, como Paul Samuelson e Alvin Hansen1. Com uma matemática simples e
criativa esse modelo enfatiza, de fato, certos “insights” keynesianos básicos contidos na
Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (1936), relativos ao princípio da demanda
efetiva e as relações entre as funções agregadas de consumo, investimento e poupança,
podendo, dependendo do propósito, ser apresentado numa versão mais simples de economia
fechada, ou de forma um pouco mais complicada, para abranger o caso das economias
abertas. Também pode aparecer nas chamadas abordagens renda–dispêndio ou poupança–
investimento.
Na abordagem renda-dispêndio, a versão para economia fechada é composta pelo
seguinte sistema de três equações:

DA = C + I (1)

C = C( Y ) (2)

Y = DA (3)

A equação (1) simplesmente define a demanda agregada (DA) numa economia fechada
como a soma dos dispêndios planejados de consumo (C) e investimento (I). A equação (2) é
uma equação de comportamento relacionando a despesa de consumo (C) como função da
renda nacional (Y), ou seja, uma relação de causa e efeito na qual admite-se que as variações
da renda (Y) constituem a causa fundamental das variações da despesa de consumo (C),
conforme Keynes (1936) - capítulo 6. A equação (3) pode ser interpretada de duas maneiras:
primeiro, como uma racionalização do princípio keynesiano da demanda efetiva, segundo o
qual o nível de renda que tende a ser gerado num dado sistema econômico depende do volume
agregado dos dispêndios monetários planejados. (Keynes, 1936 – capítulo 3). Uma vez que,
por definição contábil, a renda gerada num sistema econômico, num determinado período, é
exatamente igual ao produto realizado no mesmo período, então esta mesma equação pode ser
interpretada como uma condição de equilíbrio macroeconômico entre produto ofertado (Y) e
o produto demandado (DA), ou oferta e demanda agregadas de bens e serviços, a partir do
qual fica determinada a renda de equilíbrio do sistema, ou seja, a renda que tende a ser gerada,
tudo o mais constante.
O modelo requer também, como condição de estabilidade do equilíbrio, que a
propensão marginal a consumir  nome que Keynes deu à primeira derivada da função
consumo com relação à renda  seja positiva, porém menor que um, isto é:

1
Entre outros entronizadores de Keynes na América, conforme mostrado em Galbraith (1972).
∂C
0< <1 (4)
∂Y

A consideração da demanda de investimento (I) como variável exógena do sistema é a


forma pela qual o modelo assimila a idéia keynesiana (Keynes, 1936, capítulo 11) de que os
gastos em ampliação da capacidade produtiva dependem muito mais das expectativas da
classe empresarial do que qualquer outra variável que possa ser bem descrita por um modelo
econômico qualquer, estando assim, por causa da base precária de formação dessas
expectativas, sujeitos a drásticas e repentinas mudanças. Assim, a demanda de investimento é
vista como causa ativa das flutuações da renda e do emprego e, portanto, o motor do ciclo
econômico das economias capitalistas, enquanto que a demanda de consumo é apenas uma
variável que se ajusta passivamente às flutuações da renda e do emprego.
Substituindo (2) em (1) e usando a condição (3), obtém-se:

Y = C( Y ) + I (5)

Diferenciando totalmente (5) chega-se a:

dY 1
= (6)
dI  ∂C 
1−  
 ∂Y 

Esta equação define genericamente o efeito sobre a renda de equilíbrio decorrente de qualquer
dada variação da demanda de investimento (I). Ela indica que a variação endógena da renda
provocada por uma variação exógena da demanda de investimento depende diretamente da
propensão marginal a consumir, ou o que dá no mesmo, inversamente da propensão marginal
a poupar.
Tomando os limites da equação (6), obtém-se:

dY ∂C dY ∂C
→ ∞ , quando →1, e → 1 , quando →0
dI ∂Y dI ∂Y

A análise da expressão (6) indica que, fora os casos implausíveis dos limites extremos,
qualquer que seja a variação inicial da demanda de investimento, a variação final da renda
será um múltiplo desta. O modelo racionaliza, assim, o conhecido efeito multiplicador do
investimento, ou multiplicador keynesiano, como costuma ser chamado na literatura
macroeconômica.
Pode-se chegar às mesmas conclusões a partir da abordagem poupança-investimento,
abaixo representada:

S=Y−C (7)

S = S(Y) (8)

S=I (9)

Agora, a equação (7) simplesmente define a poupança (S) como a diferença entre a
renda (Y) e o dispêndio de consumo (C). A equação (8) apresenta a poupança (S) como uma

2
função da renda (Y), enquanto que a equação (9) deve ser interpretada como a condição de
equilíbrio entre poupança e investimento.
Substituindo (8) na condição de equilíbrio (9) e diferenciando o resultado, obtém-se:

dY 1
= (10)
dI  ∂S 
 
 ∂Y 

Uma vez que, como decorrência direta da definição (7)

∂S  ∂C 
=1−  ,
∂Y  ∂Y 

segue-se que a expressão (10) é idêntica à expressão (6), sendo, portanto, uma forma
alternativa de expressar o mesmo efeito multiplicador do investimento. Fica assim
demonstrado também que a condição de equilíbrio entre o produto (Y) e a demanda (C+I) é
equivalente à condição de equilíbrio poupança (S) e o investimento (I). Vale dizer, se o
produto que estiver sendo gerado for exatamente igual à demanda, então, necessariamente, o
fluxo da poupança será exatamente igual ao dispêndio planejado de investimento, e vice-
versa.
Para melhor indicar as propriedades do modelo e suas principais predições teóricas, é
conveniente utilizar especificações lineares. Assim, usando a equação:

C = a + bY (11)

em lugar da função consumo genérica (2) e resolvendo o sistema (1)-(11)-(3) para a renda
(Y), obtém-se:

a+I
Y∗ = (12),
1− b

em que Y∗ denota agora o nível de equilíbrio da renda.


Na especificação (11), o coeficiente linear (a), que costuma ser chamado de parâmetro
de consumo autônomo, sintetiza a influência de outros fatores sobre a demanda agregada de
consumo.2 O coeficiente angular (b) define a propensão marginal a consumir. Tal
especificação pressupõe que qualquer acréscimo da renda nacional será distribuído numa
fração constante (b), gasta na aquisição de bens de consumo, e na fração complementar (1-b),
que é poupada. Esse parâmetro assim sintetiza a ação de fatores de ordem psico-social, por
exemplo, capazes de explicar uma maior ou menor propensão coletiva a consumir ou a poupar
para um dado nível de renda. Uma vez que esses fatores tipicamente só se alteram de forma
gradual, a longo prazo, segue-se daí a idéia de que a despesa de consumo é uma função
estável da renda, de modo que suas flutuações ao longo dos ciclos econômicos devem ser
vistas mais como efeitos do que como causas destes.
Diferenciando a equação (12), obtém-se:

2
A denominação parâmetro de consumo autônomo provém do fato de que esse coeficiente pode ser interpretado
como refletindo a parte da demanda agregada de consumo que independe da renda, e, nesse sentido, autônoma
em relação a essa variável.
3
dY ∗ dY ∗ 1
= = (13)
da dI 1− b

Esse resultado mostra que, embora não seja tipicamente uma causa ativa das variações
conjunturais da renda, em princípio, uma alteração exógena da despesa de consumo teria o
mesmo efeito multiplicador sobre essa variável que uma variação da despesa de investimento
de igual magnitude. Constata-se também a relação inversamente proporcional entre o efeito
multiplicador e a propensão a poupar.
Substituindo a equação (11) na definição (7), obtém-se:

S = −a + (1 − b)Y (14)

Isso mostra que a função poupança pode ser deduzida a partir da função consumo, e
vice-versa, uma vez que os fatores determinantes de um e outro são exatamente os mesmos.
Mais ainda, como indica os parâmetros a e b, tudo o que eleva a demanda autônoma de
consumo ou aumenta a propensão a consumir, reduz a poupança global e vice-versa. É fácil
constatar também que substituindo a função (14) na condição de equilíbrio (9), chega-se
também à equação (12).
A correspondência entre as funções consumo e poupança estão ilustradas na figura 1.

DA

C+I

a+I

a
Y
S Y=C Y∗

S
I I

Y
S=0 S=I
-a

Figura 1

4
O quadrante superior da figura 1 é dividido por uma linha reta de 45o que associa cada
segmento do eixo horizontal a um segmento igual no eixo vertical. As outras linhas retas
desse quadrante são as representações geométricas da função consumo linear, com intercepto
(a) e inclinação positiva (b < 1), e a função demanda agregada, com igual inclinação e
intercepto (a + I). No quadrante inferior, representa-se a função poupança, com intercepto (-a)
e inclinação (1-b) e a demanda de investimento (I) determinada exogenamente, e, portanto,
independente da renda (Y). O ponto de cruzamento entre a função consumo e a linha de 45o,
no quadrante superior, indica o nível de renda em que a poupança é igual a zero. No quadrante
inferior, esse ponto está associado ao intercepto horizontal da função poupança. O ponto de
cruzamento entre a função demanda agregada e a linha de 45o, no quadrante superior, indica o
nível de renda de equilíbrio, ou seja, aquele que iguala exatamente o valor da demanda
agregada. No quadrante inferior, esse ponto corresponde à igualdade entre a poupança e o
investimento, conforme indicado pelo cruzamento da função poupança (S) com a demanda de
investimento (I).
O efeito multiplicador e sua dinâmica são ilustrados graficamente na figura 2. Admite-
se, inicialmente, um dado nível de equilíbrio inicial da renda (Y0), determinado pelo nível da
demanda de investimento (I0). Supõe-se, a partir daí, que esse equilíbrio seja perturbado por
um aumento exógeno da despesa de investimento (∆I), deslocando a linha da demanda
agregada de C + I0 para C + I1. Assim, o produto demandado passa a exceder o produto
ofertado (Y0) por um montante igual a ∆I. Para atender essa demanda excedente, mais cedo ou
mais tarde, o produto terá de crescer, elevando-se, em conseqüência, a renda e o emprego3. O
gráfico, entretanto, indica que se o produto ofertado crescer por um valor exatamente igual ao
do aumento da demanda, ou seja, por um montante igual a ∆I, conforme indicado pelo
segmento EF, isso não será suficiente para levar a um novo equilíbrio, porque o resultante
acréscimo da renda induzirá um ulterior aumento na demanda de consumo igual ao segmento
FG. Por sua vez, esse aumento do produto demandado levará a um aumento do produto
ofertado, o qual induzirá também um aumento subseqüente do produto demandado, e assim
por diante. Conforme indicado pelas setas seqüenciais, tem-se aí uma dinâmica convergente
para um novo nível de equilíbrio Y1, mostrando como e porque o efeito final da renda será um
múltiplo da variação exógena inicial da demanda de investimento.
O diagrama da figura 3 ilustra algebricamente a dinâmica do multiplicador. Nesta
figura, o setor produtivo está desagregado em dois grandes sub-setores: o de bens de capital e
o de bens de consumo. O setor pessoal inclui o conjunto de pessoas físicas proprietárias dos
fatores de produção utilizados pelo setor produtivo (trabalhadores, capitalistas, proprietários,
etc), que se apropriam da renda gerada para gastar em consumo ou poupar. Por motivo de
simplificação, abstrai-se o setor público e inclui-se explicitamente o sistema financeiro, como
forma de representar o financiamento do investimento e a formação de poupança.

3
O primeiro efeito da elevação da demanda é uma redução involuntária dos estoques. Em vez de se apressarem
em aumentar o nível da produção, as empresas podem deixar cair o nível dos estoques em relação ao que
previamente haviam planejado. Somente quando esses estoques tiverem caído abaixo de um certo nível crítico é
que provavelmente elas aumentarão a produção.
5
DA

C+I1

G C+I0

E F

∆I

∆Y
Y
Y0 Y1

Figura 2

Suponha que, a um dado equilíbrio inicial, o fluxo da demanda de investimento


aumente por um valor igual a ∆I. Ao nível da poupança pré-existente, esse acréscimo da
despesa de investimento terá de ser financiado por alguma espécie de expansão monetária,
processada no interior do sistema financeiro. Dessa forma, conforme indicado pelo fluxo
partindo do sistema financeiro e apontando para o setor produtor de bens de capital, as vendas
desse setor tenderão a aumentar por um valor correspondente a ∆I. Esse acréscimo
permanente da demanda de investimentos, por sua vez, tenderá a elevar o emprego, lucros e,
conseqüentemente, a renda gerada nesse setor exatamente por esse valor, conforme indica
agora a linha reta partindo do setor de bens de capital e apontando para o setor pessoal. Dada
a propensão a consumir (b), segue-se que uma parte desse aumento da renda será gasta em
bens de consumo e parte será poupada, conforme indicado pelos fluxos partindo do setor
pessoal e apontando para o setor produtor de bens de consumo (b∆I) e para o sistema
financeiro ((1-b) ∆I), que representam os acréscimos da demanda de bens de consumo e de
poupança induzidos pelo incremento inicial da renda igual a ∆I. Entretanto, o processo não
finda aí, pois uma vez que as vendas de bens de consumo tenham aumentado, o produto do
setor deverá acompanhar esse crescimento da demanda. Assim, repete-se um novo round de
acréscimo de renda igual a b∆I dentro do setor de bens de consumo. Por sua vez esse
acréscimo da renda (b∆I) deverá induzir um ulterior acréscimo da demanda de bens de
consumo, numa fração correspondente à propensão marginal a consumir (b), e um acréscimo
da poupança, correspondente à propensão a poupar (1-b), os quais, portanto, implicarão num
6
aumento da demanda de bens de consumo igual a b2∆I e da poupança coletada pelo sistema
financeiro igual a b(1-b) ∆I, respectivamente. E, assim por diante, o processo vai se repetindo,
conforme indicado pelas linhas restantes, gerando séries em progressões geométricas com
infinitos termos.

b(1-b)2∆I b3∆I

b(1-b)∆I b2∆I

(1-b)∆I b∆I

SISTEMA SETOR BENS DE


FINANCEIRO PESSOAL CONSUMO

b∆I
∆I
b2∆I

∆I BENS DE
CAPITAL

Figura 3

A soma dos fluxos que apontam para os setores produtores de bens de capital e de
bens de consumo, em conjunto, dá o incremento total da renda que tende a ser gerado pela
expansão inicial da demanda de investimentos, de modo que:

∆Y = ∆I + b∆I + b 2 ∆I + b 3 ∆I + ⋅ ⋅ ⋅ (15),

ou, mais compactamente,

∞ j

∆Y = ∆I∑ b (16)
j= 0

Embora a série

7
∞ j

∑b
j= 0
= 1 + b + b2 + b3 + ⋅ ⋅ ⋅ (17),

contenha infinitos termos, o fato dela ser convergente, devido à condição b < 1, faz com que a
soma desses infinitos termos seja um número finito. Para deduzir a expressão algébrica dessa
soma, pode-se multiplicar inicialmente ambos os lados de (17) por b, tal que:

∞ j

b∑ b = b + b 2 + b 3 + b 3 + ⋅ ⋅ ⋅ (18)
j= 0

Subtraindo (18) de (17), verifica-se que:

∞ j ∞ j

∑b
j= o
− b∑ b = 1
j= o
(19),

de modo que:

∞ j
1
∑b =
j= o 1− b
(20)

Por fim, substituindo (20) em (16), chega-se a:

∆Y 1
= (21),
∆I 1 − b

que é a mesma expressão do efeito multiplicador já apurada em (13), considerando-se o


símbolo ∆ como o operador de derivada no tempo. Isso completa a demonstração algébrica da
dinâmica do multiplicador.
A partir daí, é fácil determinar-se os efeitos sobre as demais variáveis. Para obter o
efeito total sobre o produto de bens de consumo basta computar os fluxos de entrada no sub-
setor de bens de consumo e para obter o efeito total sobre a poupança basta computar os
fluxos de entrada no sistema financeiro. Assim procedendo, obtém-se, respectivamente:


∆C = b∆I + b ∆I + b ∆I + ⋅ ⋅ ⋅ = b∆I∑ b j
2 3
(22)
j= 0


∆S = (1 − b)∆I + b(1 − b)∆I + b(1 − b) 2 ∆I + ⋅ ⋅ ⋅ = (1 − b)∆I∑ b j (23)
j= 0

Utilizando (20), segue-se que:

∆C b
= (24)
∆I 1 − b

∆S 1 − b
= =1 (25)
∆I 1 − b
8
Conclui-se, portanto, que no final das contas a variação da poupança será exatamente
igual à variação inicial do investimento. O modelo mostra assim que o “investimento cria a
poupança que em última instância o financia”. Essa idéia ficou celebrizada como uma das
mais notáveis subversões keynesianas das clássicas idéias macroeconômicas.
De fato, observa-se que o processo retratado na figura 3 começou com uma variação
do investimento viabilizada por pura expansão monetária, ou seja, sem qualquer aumento
prévio da poupança. O efeito desse acréscimo de investimento sobre a demanda efetiva,
entretanto, gerou um processo cumulativo de crescimento de renda, consumo e de poupança,
que só parou quando a poupança cresceu o suficiente para novamente igualar-se ao
investimento. Portanto, pode-se dizer que nesse processo foi o investimento que determinou a
poupança e não o contrário.

2. O Paradoxo da parcimônia
A idéia keynesiana de que a poupança é determinada pelo investimento costuma
também ser ilustrada com um exercício bastante simples que ficou conhecido como o
paradoxo da parcimônia. À primeira vista, parece lógico supor que um aumento coletivo da
propensão a poupar tenderia a elevar o volume total da poupança. Entretanto, o modelo em
questão mostra que isso não ocorre. Para constatar, considere a figura 4 na qual mostra-se
que, a partir do equilíbrio inicial Y0 em que I0 = S0, a propensão marginal a poupar aumentar,
conforme indicado pela rotação para a esquerda da função poupança, de S para S’, essa
perturbação levará a um novo equilíbrio da renda Y1 mais baixo, compatível com um volume
poupado idêntico ao do equilíbrio incial S = S0.

S’

S0 I0

Y
Y0 Y1

-a
Figura 4

9
A explicação do paradoxo é muito simples: o aumento da propensão a poupar provoca,
de imediato, um excesso de poupança sobre o investimento. Como implica num excesso de
oferta agregada sobre procura agregada de bens e serviços, isso tem por conseqüência uma
redução da renda de equilíbrio, de modo que a poupança tende a aumentar pelo aumento da
propensão a poupar, mas tende a diminuir devido à redução da renda. Com efeito, se ao nível
de renda Y0, a comunidade resolvesse poupar mais, isso necessariamente só poderia ocorrer
mediante uma diminuição coletiva das despesas de consumo, o que, por sua vez,
desencadearia um efeito multiplicador negativo sobre renda, a qual tenderia a cair até que o
excesso de poupança fosse eliminado4.
A análise gráfica da figura 5 indica o que a ilustração dinâmica do efeito multiplicador
já havia esclarecido antes, ou seja, que a poupança só aumenta se o investimento aumentar
primeiro, e vice-versa. Assim, um aumento exógeno da demanda de investimento de I0 para I1,
tenderia a elevar a renda de Y0 para Y1, e, em conseqüência, a poupança de S0 para S1.

S0

S1 I1

S0 I0

Y
Y0 Y1
-a

Figura 5

4
Na verdade, como afirmava Joan Robinson (1960), o total poupado pode mesmo nem chegar a mostrar
qualquer alteração, quando o mesmo fato que faz alguém aumentar ao saldo poupado, faz outro ter de reduzi-lo
ao mesmo tempo.
10
3. O efeito acelerador
Até agora se pressupôs que o investimento fosse determinado de forma completamente
exógena, ou seja, de forma completamente independente das demais variáveis que estão
dentro do modelo. Num contexto dinâmico, essa formalização não representa adequadamente
o pensamento keynesiano sobre o ciclo econômico. Se uma expansão do investimento tende a
ocorrer quando os empresários estão com expectativas otimistas com relação ao futuro, e
vice-versa, é de se esperar que o resultante crescimento da renda tenderia a aumentar o
otimismo, reforçando assim o efeito sobre a demanda de investimento, e vice-versa. O
professor Samuelson sintetizou essa idéia numa versão dinâmica do modelo keynesiano
simples, a qual pode alternativamente ser representada pelas equações seguintes.

D At = C t + I t (26)

C t = a + bYt (27)

I t = I + g (Yt − Yt −1 ) (28)

Yt − Yt −1 = κ(D At −1 − Yt −1 ) (29)

A diferença de notação desta em relação à versão estática é que agora cada variável
tem um subscrito t para indicar o tempo de observação ao qual ela se refere. Assim, a equação
(26) é a mesma demanda agregada (1), só que definida num tempo especificado t.
Similarmente, a equação (27) é a mesma função consumo (2) definida no tempo t, sob a
hipótese de que uma alteração da renda induz uma alteração do consumo que se completa
totalmente no mesmo período. Na equação (28), admite-se que da demanda de investimento
tem uma componente autônoma (I) e uma componente induzida pela variação da renda, com
uma defasagem de um período.
Outra característica das versões dinâmicas de modelos estáticos é que, em vez de
condições de equilíbrio, estas devem incluir equações que mostram com que velocidade as
variáveis se ajustam no tempo em função umas das outras. Assim, conforme indicado pela
equação (29), admite-se que o ajustamento da renda entre t e t-1 se dá em função da diferença
entre a demanda agregada e oferta agregada no tempo t-1. Portanto, se houver equilíbrio entre
ambas, a renda estará constante no tempo, tal que Yt=Yt-1. Por outro lado, se a demanda
agregada exceder a oferta agregada em t-1, então Yt >Yt-1, e vice-versa.
A versão dinâmica incorpora outros dois parâmetros: um deles é o chamado
coeficiente de aceleração (g), que indica a velocidade de ajuste da demanda de investimento
no tempo t em resposta à variação da renda ocorrida entre t-1 e t-2; o outro é o parâmetro κ
que indica a velocidade de ajuste da renda na sua trajetória para o equilíbrio, em função das
discrepâncias observadas entre a demanda e a oferta agregada.
Introduzindo (27) e (28) em (26), defasando esta última um período e substituindo o
resultado na equação (29), obtém-se a seguinte equação de diferença de segunda ordem:

Yt = α 0 + α 1 Yt −1 + α 2 Yt − 2 (30),

11
α 0 = κ (a + I)
em que: α 1 = 1 − κ(1 − b − g )
α 2 = − gκ

Para determinar o nível de equilíbrio da renda (Y*), basta impor em (30), a condição:

Y* =Yt = Yt-1
Fazendo isso, se chega à mesma equação de equilíbrio do modelo estático:

a+I
Y∗ = (12),
1− b

Verifica-se, portanto, que o efeito acelerador não altera o efeito multiplicador, o qual
continua dependendo apenas da propensão a consumir. Ele tem a ver apenas com a velocidade
com que cada variável se ajusta e o padrão da convergência para o novo nível de equilíbrio,
após qualquer dada perturbação exógena. Quanto maior o coeficiente de aceleração mais
rápido a renda atinge seu novo nível de equilíbrio, podendo oscilar de forma convergente ou
não em torno dele, conforme indicado pelas trajetórias representadas na figura 6.

Figura 6
Renda (Y)

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Tempo (t)

Para um mesmo valor do coeficiente κ e dos demais parâmetros do modelo, a trajetória


assintótica, sem oscilação, indica um coeficiente de aceleração mais baixo do que a trajetória
assintótica com overshooting. A trajetória com oscilação convergente indica um coeficiente
de aceleração mais alto que as anteriores, mas mais baixo que a trajetória com oscilação não-
convergente, a qual, na verdade, indica a não existência de equilíbrio. A partir daí, um
coeficiente de aceleração ainda maior implicaria numa trajetória oscilante explosiva,
caracterizando uma situação de equilíbrio instável.

12
4. Pleno emprego e políticas fiscais compensatórias
O modelo keynesiano simples é uma formalização muito eficiente para ilustrar as
recomendações intervencionistas de Keynes e enfatizar o papel da política fiscal como
instrumento de estabilização anticíclica. Para isso, além de explicitar o setor governamental, é
necessário distinguir entre variáveis macroeconômicas reais e variáveis nominais, bem como
introduzir uma variável exógena adicional para representar o nível de capacidade produtiva
instalada, a qual costuma ser chamada como produto de pleno emprego ou produto potencial
(Yp). Se as variáveis estiverem definidas em termos nominais, então o modelo não informa se
o equilíbrio se dá no pleno emprego ou fora dele. Admitindo que as variáveis estão definidas
em termos reais, então o equilíbrio fora do pleno emprego poderá ocorrer de duas formas
distintas conforme representado nas figuras (7) e (8). Na figura 7, descreve-se o caso em que
o equilíbrio da renda se dá a um nível abaixo do produto potencial (Yp), caracterizando o
problema do desemprego por insuficiência da demanda efetiva. Em termos da figura 7, esse
problema pode ser interpretado também como decorrência de uma insuficiência de
investimento planejado em relação ao volume da poupança que seria gerada no pleno
emprego, conforme indicado pelo segmento AB5.

S
A

B
I0

Y
Y * Yp

-a
Figura 7

Na figura (8) descreve-se uma situação oposta a essa, ou seja, uma situação em que o
produto real demandado é maior do que o produto de pleno emprego. Uma vez que,
efetivamente, a economia não pode gerar um produto real maior do que o produto de pleno
emprego, o produto real de equilíbrio ali representado (Y*) deve ser visto apenas como um
5
Uma vez que sempre estará associado a uma economia em recessão ou com alto desemprego, a diferença
positiva entre o nível da poupança global “a pleno emprego” e o dispêndio planejado de investimento, do tipo
representado pelo segmento AB, costuma ser chamada de hiato recessivo ou hiato de desemprego.
13
valor virtual para o qual a economia tende, sem, no entanto, poder alcançá-lo. Uma vez que a
demanda é, de fato, maior do que a oferta máxima possível, tal situação deve implicar em
algum tipo de racionamento. Na ausência de quaisquer intervenções arbitrárias, isso é feito
pela elevação dos preços. Portanto, numa economia de livre mercado, a tendência ao
equilíbrio da renda além do pleno emprego necessariamente implica em instabilidade
inflacionária. Por isso é que qualquer distância como BA, na figura 8, que representa o
excesso do investimento planejado em relação à poupança de pleno emprego, costuma ser
chamado de hiato inflacionário.

B
I0
A

Y
Yp Y*

-a
Figura 8

Ambos os problemas macroeconômicos retratados nas figuras 7 e 8, o desemprego


num caso, e a inflação, no outro, têm origem numa insuficiência ou num excesso da demanda
efetiva em relação à oferta de pleno emprego, ou o que dá no mesmo, num excesso ou
insuficiência da poupança de pleno emprego em relação ao dispêndio planejado de
investimento. Uma vez que o dispêndio governamental é tão bom para gerar demanda efetiva
quanto qualquer outro gasto monetário e que a tributação reduz a renda disponível do setor
privado, o modelo indica claramente que ambos os problemas poderiam ser solucionados por
criteriosas intervenções governamentais, visando aumentar (reduzir) a demanda mediante
aumento (redução) dos gastos públicos, ceteris paribus, ou redução (aumento) de impostos,
ceteris paribus. Nesse sentido, uma adequada administração do déficit público seria, em tese,
suficiente para neutralizar ou “compensar” as flutuações espontâneas que dão origem ao ciclo
econômico, daí porque essa prática ficou conhecida como política fiscal compensatória ou
anticíclica.
Assim, as figuras 7 e 8, formalizam a idéia que, para cada situação, haveria sempre um
nível de déficit positivo (despoupança governamental) ou negativo (poupança governamental)

14
que poderia fazer com que as retas S e I se cruzassem sobre a restrição do pleno emprego,
eliminando os hiatos AB e BA, respectivamente.
Para examinar essas questões mais precisamente, a versão básica do modelo deve ser
ampliada de forma a considerar explicitamente o setor público no sistema de equações do
modelo, conforme especificação abaixo:

DA = C + I + G (31)

C = a + b( Y − T ) (32)

T = u + tY (33)

Y = DA (34)

Essa versão difere da anterior por: 1) considerar explicitamente as variáveis gasto (G)
e receita governamental (T); 2) admitir o gasto (G) como uma variável política exogenamente
determinada; 3) especificar a receita (T) como uma função linear da renda e 4) admitir que a
demanda de consumo é mais propriamente uma função da renda disponível (Y – T). De resto,
cabem as mesmas interpretações e colocações já feitas anteriormente. Além dos parâmetros da
função consumo, o modelo agora inclui os parâmetros fiscais u e t, relacionados à função
receita tributária. O primeiro pode ser entendido como um termo de tributação autônoma que
capta o resultado líquido de receitas de impostos e transferências que independem da renda,
enquanto que o segundo indica o comportamento da receita em função da renda. O parâmetro
t pode ser interpretado como uma espécie de alíquota de tributação sobre a renda nacional ou
taxa marginal constante de tributação. O sinal de u é indefinido a priori, enquanto que t
necessariamente tem de ser um número positivo menor que um.
Substituindo as equações (33) em (32) obtém-se uma nova especificação para a função
consumo, tal que:

C = a − bu + b(1 − t )Y (35)

Introduzindo (35) na definição (31), obtém-se a equação da demanda agregada como função
linear da renda:

D A = (a + I + G − bu ) + b(1 − t )Y (36)

A função (36) não difere essencialmente da retratada na figura 1, a não ser pelo fato de
incorporar também o gasto público, tornando-se C + I+ G, e também levar em conta o efeito
da tributação sobre a demanda de consumo (C). Isso implica somente em modificações nos
elementos componentes do intercepto vertical (coeficiente linear) e da inclinação (coeficiente
angular), que passam a incorporar os termos fiscais G, u e t, respectivamente.
A análise da expressão (36) indica que aumentos dos gastos do governo deslocam
paralelamente a função demanda agregada para cima, e vice-versa, enquanto aumentos da
tributação autônoma deslocam-na para baixo, e vice-versa. Por outro lado, elevações da
alíquota tributária (t) mudam a inclinação da curva, fazendo-a girar no sentido anti-horário, e
vice-versa.
Substituindo (36) na condição de equilíbrio (34), obtém-se a expressão que define o
nível de equilíbrio da renda:

15
a + I + G − bu
Y* = (37)
1 − b(1 − t )

Além dos efeitos multiplicadores relacionados ao dispêndio privado, já discutidos


anteriormente, a expressão (37) permite identificar os efeitos multiplicadores decorrentes de
alterações de variáveis e parâmetros fiscais. Com efeito, tomando as derivadas com respeito a
G, I e o parâmetro de consumo autônomo (a), verifica-se que:

dY dY dY 1
= = = (38)
da dI dG 1 − b(1 − t )

Uma vez que, conforme indica a expressão (38), o efeito multiplicador do gasto
público é exatamente igual ao dos aos gastos privados, demonstra-se assim que o impacto de
um eventual redução de I, por exemplo, poderia ser completamente neutralizado por uma
expansão de G de igual valor absoluto, e vice-versa. Vale dizer, o gasto fiscal do estado é tão
poderoso quanto o gasto privado para gerar renda e emprego.
A expressão matemática do multiplicador (38) difere algebricamente da expressão (13)
deduzida anteriormente, mas não há nenhuma diferença conceitual entre ambas as expressões.
Tanto em (12) quanto em (36), sua magnitude depende das propensões marginais a consumir
e a poupar, sendo, em ambos os casos exatamente igual ao inverso da “propensão marginal a
não gastar em consumo”. A diferença é que, nesta versão, as propensões marginais a consumir
(PMC) e a poupar (PMP) serão afetadas pela taxa marginal de tributação (t)6. De fato, como
indicado na equação (35):

PMC = b(1 − t ) (39)

Sob tributação, a poupança é a renda que sobra depois do pagamento dos impostos e dos
gastos de consumo, de modo que:

S=Y–T–C (40)

Substituindo (32) e (33) em (40), obtém-se uma nova expressão para a função
poupança, tal que:

S = −a − (1 − b)u + (1 − b)(1 − t )Y (41)

Assim, chega-se à nova expressão da propensão marginal a poupar (PMP):

PMP = (1 − b)(1 − t ) (42)

Estas expressões mostram que a tributação sobre a renda, à semelhança da poupança,


constitui um “vazamento” do fluxo circular da renda retratado na figura (3), reduzindo,
portanto, a magnitude da expansão da despesa de consumo induzida pela renda. A expressão
da propensão marginal a consumir (38), indica que quando a renda apropriada pelo setor

6
Ressalve-se que as propensões marginais a consumir (PMC) e poupar (PMP), referem-se à renda nacional (Y)
que, nesta versão do modelo, diferentemente da versão anterior, diferem das propensões a consumir e a poupar a
renda disponível (Y – T), as quais continuam como antes sendo definidas somente pelos coeficientes b e (1 – b)
das funções consumo e poupança, respectivamente.
16
pessoal aumenta, em decorrência de uma expansão da demanda de investimento ∆I, por
exemplo, parte desse acréscimo será automaticamente desviada para o setor público numa
ordem de grandeza que dependerá da alíquota t, de modo que:

∆T = t∆I

Portanto, a renda disponível do setor pessoal crescerá apenas:

∆I − t∆I = (1 − t )∆I

A partir daí, o consumo induzido pelo acréscimo da renda disponível será dado por:

b(1 − t )∆I

Esse acréscimo do consumo dará origem a uma ulterior expansão da renda no setor de
bens de consumo, da qual, uma parte igual a:

tb(1 – t)∆I

será desviada para o governo e outra parte igual a:

b[b(1 – t) ∆I – tb(1 – t) ∆I ] = b[b(1 – t) ∆I (1 – t)] = b2(1 – t)2 ∆I

será gasta em bens de consumo. Deduz-se assim a série:

∆C = b(1 − t )∆I + b 2 (1 − t ) 2 + ...... + b n (1 − t ) n

cuja soma tende para:

b(1 − t )∆I
∆C = (43)
1 − b(1 − t )

quando n → ∞ , já que, necessariamente, 0 < b(1 – t ) < 1.

Similarmente, as séries da poupança e da receita tributária serão dadas por:

(1 − b)(1 − t )∆I
∆S = (1 – b)(1 – t) ∆I + b(1 – b) (1 – t)2 ∆I + ...= (44)
1 − b(1 − t )

t∆I
∆T = t ∆I + tb(1 – t) ∆I + tb2(1 – b)2 ∆I + .... = (45)
1 − b(1 − t )

A partir de (43) conclui-se que:

∆I
∆I + ∆C = ∆Y =
1 − b(1 − t )

17
Somando (43), (44) e (45), constata-se novamente que:

∆I
∆Y =
1 − b(1 − t )

Finalmente, somando (44) e (45), verifica-se que:

∆S + ∆T = ∆I

Isso mostra novamente que, no final das contas, a soma dos vazamentos do fluxo circular da
renda será exatamente igual à injeção inicial de investimento. Ratificam-se assim as mesmas
conclusões obtidas anteriormente.
Para trabalhar o modelo na abordagem poupança-investimento, tem-se de levar em
conta agora que o fluxo total da poupança inclui tanto a poupança privada (S) quanto a
poupança governamental (Sg), a qual é dada por:

Sg = (T – G) (46)

Portanto, o equilíbrio poupança-investimento implica agora a condição ex-ante:

S + (T – G) = I (47)

Substituindo (33) e (41) em (47), e isolando Y, chega-se à equação (37) por outro
caminho, o que demonstra novamente a equivalência das duas abordagens.
Diferenciando a condição de equilíbrio (37) com respeito a u e t, obtém-se,
respectivamente:

dY −b
= (48)
du 1 − b(1 − t )

dY − bY
= (49)
dt 1 − b(1 − t )

A expressão (48) dá o efeito multiplicador decorrente de uma alteração autônoma da


tributação, enquanto que a expressão (49) dá o efeito multiplicador da alíquota tributária. Os
sinais negativos de ambas expressões indicam que aumentos de impostos, quaisquer que
sejam, reduzem a renda de equilíbrio, e vice-versa. A diferença é que no caso do
multiplicador da alíquota (t) o efeito absoluto dependerá do nível da própria renda7.
Com um certo trabalho algébrico pode ser demonstrado que:

dY dY
+ =1 (50)
dG dT

A interpretação disso é que um aumento do gasto governamental plenamente financiado por


tributação, aumenta a renda de equilíbrio por um valor absoluto igual ao da alteração
orçamentária. Esse resultado, também conhecido como teorema do multiplicador do

7
Isso reflete o fato óbvio de que quanto maior a renda maior tende a ser o aumento da arrecadação para uma
dada elevação da alíquota t, e vice-versa.
18
orçamento equilibrado, pode ser demonstrado mais facilmente por meio de simulações
numéricas conforme mostrado na tabela 1.
As colunas a, b, u e t da tabela 1, contêm valores simulados dos parâmetros das
funções consumo e receita tributária. A coluna (1/s) refere-se ao multiplicador, definido pelo
inverso da propensão marginal a não gastar (s)8. As demais colunas, na seqüência, se referem
às duas variáveis exógenas (I e G) e às três variáveis endógenas (Y, T e C). Substituindo os
valores simulados das variáveis exógenas e parâmetros nas equações (37), (33) e (32),
recursivamente, obtêm-se os valores de equilíbrio das variáveis endógenas dispostos nas
últimas três colunas.
A primeira linha da tabela 1 apresenta valores condizentes com uma situação de
equilíbrio inicial.9 A partir daí, simulam-se três perturbações desse equilíbrio, cujos efeitos
estão representados nas linhas 2, 4 e 6. Para efeito de análise estático-comparativa, as
diferenças entre os valores de equilíbrio inicial e final estão apresentados nas linhas 3, 5 e 7.
O exercício da linha 2 consistiu em zerar os valores da alíquota tributária e do gasto
governamental, ceteris paribus. Como o parâmetro de tributação autônoma (u) assume valor
zero, isso implica efetivamente em reduzir a receita de impostos num valor igual à redução do
gasto governamental, ou seja simular uma situação na qual ∆G = ∆T . A análise da terceira
linha indica que a renda de equilíbrio diminui por um valor absoluto exatamente igual ao da
variação absoluta do gasto e da receita, de forma consistente com a expressão (50). O
exercício mostra também que o dispêndio de consumo não se altera. A explicação para isso é
que efeitos sobre o consumo induzidos pela redução dos gastos governamentais são
compensados pela redução de impostos, de modo que a renda nacional cai, mas não a renda
disponível, justamente a variável da qual depende a demanda de consumo.

Tabela 1.
Variáveis e parâmetros a b u t (1/s) I G Y T C

1. Valores Iniciais 5 0,75 0 0,20 2,50 15 20 100 20 65

2. Simulação I 5 0,75 0 0 4 15 0 80 0 65

3. Variação (2 – 1) 0 0 0 -0,20 1,50 0 -20 -20 -20 0

4. Simulação II 5 0,75 0 0,20 2,50 15 24 110 22 71

5. Variação (4 – 1) 0 0 0 0 0 0 4 10 2 6

6. Simulação III 5 0,75 0 0,15 2,76 15 20 110 16,55 75

7. Variação (6 - 1) 0 0 0 -0,05 0,26 0 0 10 -3,45 10

Até agora não se falou nada sobre a restrição de pleno emprego. Portanto, o equilíbrio
inicial pode estar associado a um hiato recessivo tanto quanto um hiato inflacionário. Suponha
que o nível de renda de pleno emprego Yp = 110, representando-se assim uma situação de
desemprego por insuficiência de demanda efetiva. O modelo indica que esse problema pode
ser remediado por uma política fiscal expansiva, a qual, por sua vez, pode ser levada a efeito
por uma elevação do gasto governamental ou por uma redução de impostos.

8
Ou seja, s = 1 – b(1 – t).
9
Para comprovar basta observar que o nível de renda Y = 100 é exatamente igual ao nível da demanda agregada,
ou seja, DA = C + I + G = 65 + 15 + 20 = 100. A condição de equilíbrio S + T = I + G também pode ser
constatada observando-se que S + T = Y – C = 35 = I + G = 20 + 35.
19
As linhas 4 e 5 mostram os resultados da simulação de uma política fiscal de aumento
do gasto público no montante exatamente necessário para eliminar o hiato recessivo e
conduzir a renda para o equilíbrio a pleno emprego. Observa-se que, para isso, basta que o
gasto governamental aumente de G = 20 na simulação inicial para G = 24 na simulação II.
Portanto, nessa hipotética economia, uma elevação de 20% do gasto governamental seria
suficiente para eliminar o desemprego. Uma vez que na situação inicial o orçamento público
está equilibrado e o nível de equilíbrio da renda é igual a 100, isso implica na criação de um
“déficit de pleno emprego”, da ordem de 4% do PIB10. Para chegar a esse número, observe-se
simplesmente que o efeito multiplicador sobre a renda nesta economia é da ordem de 2,5, ou
seja, que cada acréscimo exógeno de uma unidade monetária de dispêndio tende a gerar
endogenamente mais 1,5 unidades por meio da demanda de consumo. Segue-se, portanto, que
para aumentar a renda em 10 unidades basta que o dispêndio governamental aumente apenas
4 unidades, tudo o mais constante. Entretanto, analisando o equilíbrio final, verifica-se que o
déficit público ex-post acabou sendo bem menor que o inicialmente projetado, ou seja, cerca
de 1,8% do PIB, já que G – T = 2, e Y = 110. O déficit ex-post acaba sendo menor que o
déficit ex-ante porque o crescimento da renda eleva automaticamente a receita tributária, já
que:
∆T = t∆Y (51)

dividindo ambos os lados de (51) por ∆G e substituindo a expressão do multiplicador


dos gastos, chega-se a:

∆T t
= (52)
∆G 1 − b(1 − t )

De acordo com os dados simulados nesse exercício, t = 0,2 e b = 0,75. Substituindo esses
valores na equação (51) conclui-se que quando a renda nacional cresce 10 unidades, a receita
tributária cresce 2 unidades, automaticamente. Portanto 4 unidades adicionais de gastos
governamentais, que geram 10 unidades de renda, pelo efeito multiplicador geram também 2
unidades de tributação.
As linhas 6 e 7 mostram o resultado de uma política fiscal alternativa consistindo de
uma redução de impostos. Verifica-se que, nesse caso, o déficit de pleno emprego é maior do
que no caso anterior, ou seja, um déficit de G – T = 3,55, o que equivale a cerca de 3,1% do
PIB de pleno emprego. Esse resultado é um corolário do teorema do multiplicador do
orçamento equilibrado, que mostra que uma política de expansão de gastos tem um impacto
direto e, portanto, mais forte que a política de redução de imposto que somente atua
indiretamente por intermédio das elevações de consumo induzidas pelo aumento da renda
disponível.

5. Extensão para economia aberta

O modelo keynesiano simplificado pode ser facilmente estendido para representar o


caso da economia aberta. Para isso, deve-se a demanda externa pelos produtos nacionais
(exportação) na definição da demanda agregada, tomando-se o cuidado de subtrair do

10
Déficit de pleno emprego é a denominação pela qual se costuma definir o nível do déficit público que mantém
a economia no pleno emprego.
20
dispêndio agregado os gastos que se referem às aquisições domésticas de produtos
estrangeiros (importações)11. Assim, a equação (31) se converte em:

DA = C + I + G + X − M (53),

em que X denota as exportações e M as importações de bens e serviços.


As exportações de um país para o resto do mundo dependem fundamentalmente da
renda dos seus principais clientes comerciais externos, da taxa de câmbio e outras variáveis de
política comercial. Pressupondo que a economia em questão seja suficientemente pequena em
relação ao resto do mundo, de forma a fazer com que mudanças na renda doméstica
provoquem efeitos de repercussão desprezíveis sobre a renda de outros países, bem como
admitindo que a taxa de câmbio seja administrada, pode-se tomar as exportações como mais
uma variável exógena ao modelo. No caso das importações, entretanto, é plausível admitir
que elas devem depender da renda nacional; primeiro, porque quando o nível de atividade
cresce a demanda de bens de consumo cresce tanto para os bens nacionais quanto para os
importados. Segundo, porque o crescimento do produto interno deve estar associado também
a uma maior absorção de insumos importados.
A maneira mais simples de especificar a relação entre renda nacional e as importações,
sem nenhuma perda de substância analítica, consiste em admitir uma relação de estrita
proporcionalidade entre ambas as variáveis, tal que:

M = mY (54)

O coeficiente m na equação (54) costuma ser chamado de propensão marginal a


importar ou coeficiente de importações.
Operando o modelo de acordo com os procedimentos utilizados nas versões anteriores
percebe-se facilmente que, nessa extensão, a expressão da demanda agregada torna-se:

D A = a + I + G + X − bu + [b(1 − t ) − m]Y (55),

ou seja, inclui as exportações X como mais uma componente autônoma e a propensão a


importar (m) como mais um vazamento, na dinâmica do multiplicador. Enquanto os impostos
constituem desvios de renda do setor pessoal para o governo, as importações constituem
desvios de renda do país para o exterior. Impondo a condição de equilíbrio Y = DA , obtém-se,
a partir de (55), a seguinte expressão do nível de equilíbrio da renda:

a + I + G + X − bu
Y∗ = (56),
s+m

em que s = 1 – b(1 – t), conforme já denotado anteriormente.


Da expressão (56) pode-se derivar os seguintes efeitos multiplicadores:

dY dY dY dY 1
= = = = (57)
da dI dG dX s + m

11
As importações devem ser entendidas como adições à oferta global de bens e serviços. Tudo o mais constante,
uma elevação das importações implica necessariamente numa redução da demanda de bens de produção
doméstica, daí o sinal negativo de M na equação (50).
21
Uma vez que s é a propensão marginal a não gastar e m é a propensão marginal a importar,
então a soma s + m pode ser interpretada como propensão marginal doméstica a não gastar em
bens e serviços correntes de origem nacional. Assim, a expressão (57) indica também que os
efeitos multiplicadores da demanda autônoma tendem a ser tão menores quanto maior o grau
de abertura da economia ao comércio exterior. Quanto maior o multiplicador, maiores tendem
a ser as flutuações da renda e do emprego provocadas pelas flutuações da demanda de
investimento. Isso pode dar margem a pensar que uma economia aberta tende a ser mais
estável que uma economia fechada. Entretanto, uma economia aberta também está sujeita às
flutuações da demanda de exportações decorrentes das mais diversas influências externas, que
podem torná-la uma categoria da demanda de natureza semelhante à demanda de
investimento, quanto ao potencial de instabilidade.
O modelo de economia aberta pode ser trabalhado numa série mais ampla de
exercícios semelhantes aos realizados com as simulações da tabela 1. Entretanto, para
enfatizar as principais questões envolvidas na escolha de políticas econômicas adequadas,
quando se perseguem simultaneamente objetivos de estabilidade interna (equilíbrio da renda
no pleno emprego) e estabilidade externa (equilíbrio do balanço de pagamentos em transações
correntes), é conveniente utilizar uma análise gráfica muito simples e objetiva. Para isso,
considere-se que a condição de equilíbrio da renda nacional numa economia aberta (equilíbrio
interno), pode ser representada como:

Y−E=F (58)

em que

E=C+I+G (59)

define o dispêndio planejado dos residentes nacionais, o qual doravante será chamado de
dispêndio doméstico, e

F=X–M (60)

define o saldo do balanço de pagamentos em transações correntes.


O lado esquerdo de (58) define a poupança nacional (SN) como a diferença entre renda
da nação e o gasto nacional agregado dos setores pessoal (C), empresarial (I) e público (G).

SN = Y − E (61)

Substituindo a especificação (35) da função consumo em (59) e introduzindo o


resultado (61), obtém-se a seguinte relação funcional linear entre a poupança nacional e a
renda:

S N = −(a + I + G − bu ) + sY (62)

Substituindo (54) em (60), obtém-se outra função linear relacionando o saldo do


balanço de pagamentos em transações correntes ao nível da renda, tal que:

F = X – mY (63)

A análise dos sinais dos coeficientes indica que a inclinação da função (62) é positiva
e a de (63) é negativa. Portanto, ambas se cruzam nalgum ponto, conforme representado na
22
figura 9. Para mostrar que esse ponto é consistente com o nível de equilíbrio da renda basta
estabelecer a condição SN = F e substituir ambas as variáveis pelas respectivas expressões
funcionais (62) e (63). A partir daí, isolando Y chega-se novamente à equação (56).

F, SN

SN
inclinação = - m
X

F*
Y
Y*
F

inclinação = s

(a+I+G-bu) Figura 9

A figura 9, entretanto, indica que o nível de equilíbrio da renda (Y*) coincide com a
existência de um superávit no balanço de pagamentos em transações correntes (F > 0). Esse
superávit, tudo o mais constante, também pode ser entendido como um superávit de
equilíbrio, já que é também uma situação que tende a permanecer enquanto tudo o mais
estiver constante12. Tal equilíbrio pode coincidir com o pleno emprego, mas esta é apenas
uma possibilidade entre infinitas outras. Fora isso, a condição externa (superávit/déficit) e a

12
Há que se ressalvar, entretanto, que strictu sensu, a renda e o superávit estarão em equilíbrio desde que a conta
de capital do balanço de pagamentos apresente um déficit igual ao superávit das contas correntes. Caso contrário,
esse superávit implicará numa progressiva acumulação de ativos externos na carteira do Banco Central. Uma vez
que essa acumulação necessariamente implicará em expansão da base monetária ou da dívida pública, então, de
um modo ou de outro, a demanda agregada deverá estar se deslocando no tempo enquanto permanecer o
superávit e, portanto, a renda não estará em equilíbrio.
23
condição interna (hiato recessivo/inflacionário) podem se combinar em quatro cenários
possíveis, caracterizados pela ocorrência simultânea de superávit com desemprego, superávit
com inflação, déficit com desemprego e déficit com inflação, respectivamente.
A figura 10 ilustra graficamente a primeira dessas quatro combinações possíveis.
Como se pode observar, o nível de equilíbrio da renda ocorre abaixo do pleno emprego,
indicando a existência de um hiato recessivo, ou seja, uma demanda efetiva insuficiente para
absorver o produto de pleno emprego.

F, SN

SN

X inclinação = - m

F*
Y
Y* Yp
F

inclinação = s

(a+I+G-bu) Figura 10

Como se pode concluir pela análise dos interceptos e inclinações das duas curvas, as
políticas fiscais de expansão do gasto ou redução de impostos, que deslocam a curva SN para a
direita ou diminuem sua inclinação, fazendo-a girar no sentido horário, e vice-versa, enquanto
que políticas cambiais ou de comércio exterior deslocam a curva F para a direita e/ou
aumentam sua inclinação, fazendo-a girar no sentido anti-horário, e vice-versa13. A partir daí
pode-se deduzir facilmente quais as políticas mais apropriadas a cada situação. No caso
retratado na figura 10, o problema principal é o desemprego decorrente do hiato recessivo.
Em princípio, tanto uma política cambial, como qualquer outra favorecesse as exportações e
13
O modelo enfatiza as variáveis de política fiscal, entretanto, em princípio, uma política monetária ou creditícia
que conseguisse incentivar o investimento privado também poderia levar a efeitos semelhantes.
24
penalizasse as importações, poderia ser dirigida ao objetivo de reduzir o desemprego.
Entretanto, uma vez que isso levaria a um novo ponto de cruzamento acima e à esquerda do
ponto inicial, observa-se que, nesse caso, a redução do desemprego interno seria
acompanhada de um aumento do superávit externo. Por outro lado, uma política fiscal
expansiva tenderia a eliminar o desemprego e, ao mesmo tempo, reduzir esse superávit.
Embora o modelo não contemple nenhuma variável indicativa do comportamento do nível
geral de preços, é de se esperar que a redução do desemprego por meio da primeira política
tenha uma repercussão inflacionária sensivelmente maior do que a segunda, uma vez que
deverá ter implicações desfavoráveis sobre a oferta interna. Assim, diferentemente da
segunda, a primeira política pode ser vista como uma que favorece um objetivo (reduzir o
desemprego) prejudicando outro (conter a inflação).

F, SN

Y*
Y
* Yp
F

(a+I+G-bu)
Figura 11

A figura 11 ilustra um caso em que o desemprego está associado a um déficit externo.


Nessas condições, as políticas de expansão da demanda podem ser utilizadas para reduzir o
desemprego, entretanto, uma vez que, elas implicam num novo ponto de cruzamento entre as
curvas SN e F à direita do ponto inicial, segue-se o custo macroeconômico dessa alternativa
seria uma piora do déficit externo. Por outro lado, as políticas de câmbio e comércio exterior
atuam no sentido de reduzir o déficit externo e ao mesmo tempo reduzir o desemprego
interno. Observa-se assim, que uma economia deficitária com elevado desemprego, qualquer

25
política que incentive as exportações ou penalize as importações é sempre bem vinda, porque
a exportação passa a ser a componente ativa da demanda na geração efeitos multiplicadores
sobre a renda e o emprego interno, mas também porque o próprio efeito multiplicador tende a
tornar-se mais poderoso devido à concomitante redução do coeficiente de importações.
A essa altura já deve estar bem demonstrado quão interessante é esta abordagem
gráfica, como forma de indicar de maneira simples e bastante objetiva não apenas os
problemas macroeconômicos envolvidos, mas também as políticas de estabilização mais
adequadas para combatê-los. Assim, deixa-se ao leitor, à guisa de exercício, a análise os casos
restantes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GALBRAITH, J. K. Economia, Paz e Humor. Rio de Janeiro: Editora Artenova S.A., 1972

HANSEN, A. H. A Guide to Keynes. New York: McGraw Hill, 1953.

KEYNES, J. M. Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. São Paulo: Atlas, 1982.

ROBINSON, J. Introdução à Teoria do Emprego. Rio de Janeiro: Forense, 1960.

SAMUELSON, P. A. The Simple Mathematics of Income Determination. In M. G. Mueller


(ed.) Readings in Macroeconomics. New York: Holt, Rinehart and Winston, 1966.

---------------------- Interactions between the Multiplier Analysis and the Principles of


Acceleration. Review of Economic and Statistics, May, 1939. Reprinted in American
Economic Association, Readings in Business Cycle Theory, Richard D. Irwin, Inc,
Homewood, III, 1944.

26

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