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RESENHA

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 2008. 288 p.


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Cristóvão Maia Filho1

A obra Vigiar e Punir é formada por 04 partes, assim divididas: Primeira


Parte, subdividida em dois capítulos: O corpo do condenados e A ostentação dos
suplícios; a Segunda Parte, chamada de Punição, está formatada também em dois
capítulos: A punição generalizada e A mitigação da penas; Disciplina, é como é
capitulada a terceira parte do livro e está fracionada em três capítulos: Os corpos dóceis,
Os recursos para o bom adestramento e o Panoptismo; a Quarta e última parte – Prisão –
é também formada por três capítulos, a saber: Instituições completas e austeras,
Ilegalidade e Delinqüência e, por fim, o Carcerário.
No seu livro, Michel Foucault relata o período histórico que marca a
transição entre a utilização dos suplícios como medida efetiva de política criminal e a
aplicação de sanções mais brandas, característica presente nos sistemas penais do
mundo ocidental.
Foucault examina as relações entre os modos de exercício do poder, a
constituição de saberes e o estabelecimento da verdade a partir do estudo da evolução
das penas, tendo como marca inicial a análise do sistema penal correcional, partindo
assim para uma visão de como os delitos e as penas foram, e são historicamente
assimilados como produto de uma sociedade burguesa nascente. Para tal, delineia os
contornos do Direito Penal nos regimes absolutistas europeus em confronto com a
nascente democracia burguesa, consolidada por volta do século XVIII.
No absolutismo a autoridade se reafirmava pela severidade da punição,
que era perpetrada por um representante judicial, mas sempre subordinado ao rei. O
delito passa a ser, não só um ato ilícito, mas, acima de tudo, um atentado ao poder e a
figura do rei; sendo assim, todo crime se consubstanciaria como um delito contra o
poder central. O processo é inquisitorial e velado, O processo medieval é inquisitorial
e secreto: uma sucessão de interrogatórios dirigidos para a confissão, sob
juramento ou sob tortura, em completa ignorância da acusação e das provas; mas a

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Pós-Graduando em Direito Penal e Criminologia, pela Universidade Regional do Cariri - URCA
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execução penal é pública, porque o sofrimento do condenado, mensurado para


reproduzir a atrocidade do crime, é um ritual político de controle social pelo medo.
Para que o poder pudesse ser revitalizado de forma constante,
desenvolveram-se formas de punição àqueles que sublevassem: o patíbulo, a forca, o
pelourinho, o chicote e a roda formavam o elenco dos representantes do poder estatal,
com o objetivo de manter o desequilíbrio de forças entre acusado e soberano. Dentre
desses o Suplício nasce como forma de expressão do poder através da força, do
sofrimento e da submissão ao poder central, deixando vivo nas mentes dos súditos o
destino que lhes esperava ao contestarem o poder real.
Com o surgimento e consolidação da sociedade burguesa e o posterior
processo de codificação das leis, surge a chamada Sociedade Disciplinar, pós-revolução
francesa, consubstanciando-se como uma modalidade de poder que até hoje perdura.
Nasce, mais ou menos, no século XVIII e caracteriza-se como um modo de organizar o
espaço, controlar o tempo e obter um registro das atividades do indivíduo de forma
ininterrupta, sendo representado, de forma emblemática, pelo Panóptico, construção
centralizada, de forma circular, onde o vigia podia monitorar todas as ações dos presos
dentro de suas celas; representava a vigilância e a correção, controlando o tempo e
adestrando o corpo. Aqui, Foucault compactua com George Orwell, no seu livro 1984,
quando desenvolve a vigilância cotidiana com a criação do Grande Irmão, muito
assemelhado ao descrito na abra em estudo.
Na concepção de Foucault, o panóptico é o dispositivo do poder disciplinar,
como sistema de arquitetura constituído de torre central e anel periférico, pelo qual, pelo
qual a visibilidade/separação dos submetidos permite o funcionamento automático do
poder: a consciência da vigilância gera a desnecessidade objetiva de vigilância. O
panóptico de Benthan seria o princípio de nova anatomia política, como mecanismo de
disciplina aplicado na construção de um novo tipo de sociedade, em penitenciárias,
fábricas, escolas etc., permitindo a ordenação das multiplicidades humanas conforme
táticas de poder, com redução da força política (corpos dóceis) e ampliação da força útil
(corpos úteis) dos sujeitos submetidos.
Com o tempo houve uma mudança na forma de aplicação da pena, que
ficou mais velada, deixando o campo da percepção quase diária, para entrar na
consciência abstrata através da certeza de ser punido, isso se concretiza com a sociedade
burguesa, agora dona do poder, que reforma as velhas práticas feudais e introduz novas
práxis, dessa forma o primeiro passo, após a codificação, foi soterrar a idéia de que o
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corpo, por excelência, deveria ser o alvo da repressão penal como forma de punir o
delito cometido. O que deve afastar o homem do crime não é mais o teatro cruel das
penas corpóreas, mas a certeza de ser punido. Com esse novo pensamento, alicerçado na
obra de Beccaria, Dos Delitos e das Penas, passa-se a contestar as antigas práticas de
punição do crime pelas vis corporales. Não havendo mais o corpo para ser castigado,
objetiva-se agora atingir as instâncias mais profundas do sujeito: o intelecto, sua
vontade e suas disposição, em fim, a realidade incorpórea do sujeito, a pena é dirigida à
alma. A reclusão, a perda da liberdade, vem fazer as vezes do suplício e, com ela, surge
a idéia de gradação da pena
A pena passa a ser ditada e aplicada não mais pelos magistrados, mas sim
por um corpo burocrático de profissionais de áreas distintas: psicólogos, médicos, etc...,
que daí por diante passam a ser os responsáveis de dizer como os delinquentes se
sentiam ao cometer o crime, sua periculosidade e suas chances de recuperação, o que
instrui os juízes na aplicação da pena. A partir dessa mulitdisciplinaridade na
configuração e aplicação da pena, o corpo é confiscado pelo que Foucault denominou de
Instituições de Seqüestro, pelas quais os indivíduos são colocados dentro de um sistema
de produção, construindo uma visão de mundo de acordo com as normas e saberes
constituídos, é a inclusão pela exclusão. O corpo é confiscado pela sociedade através
dessas instituições: escolas, manicômios, prisões, cuja função é doutrinar para a nova
ordem burguesa nascente.
A função dessas instituições, junto aos sujeitos, é a de construir
internamente uma ordem fundada em preceitos pré-estabelecidos e desenvolver o temor
das penas àqueles que contrariarem o sistema, pois agora a sociedade possui um bem
jurídico comum, a liberdade, que por sua vez torna-se um bem jurídico disponível ao
Estado, através da sua supressão por meio da legalização da violência estatal.
Uma primeira crítica que é feita à obra é a sua excessiva colação de
recortes apoiados em uma extensa bibliografia; para outros, o livro torna-se pobre por
conta da obra não trazer grandes inovações, pois o mesmo baseia-se na concepção
materialista histórica de Marx ao afirmar que os regimes punitivos são determinados
pelos sistemas de produção em que estão imersos: nas sociedades antigas, a escravidão
era a punição; no feudalismo, as vis corporales; na economia comercial, as manufaturas
penais.
Foucault assevera que o sistema punitivo não pode ser explicado
unicamente pela “armadura jurídica da sociedade”, mas a partir de sua análise como
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fenômeno social dotado de variadas facetas, fugindo assim de um monocausalismo, mas


ao mesmo tempo recorre ao monocausalismo reducionista marxista das relações de
classes, ao mesmo tempo em que nega tal artifício, é o chamado Paradoxo Foucaultiano.
Segundo a obra, as ciências surgem não de forma a suprir a sede de
conhecimento do homem, de sua aproximação da realidade, mas como meio de suprir a
ânsia de domínio, sempre a serviço do poder. Agora, por meio de suas instituições de
seqüestro fica possível controlar o tempo e o movimento dos indivíduos, facilitando o
aumento da produtividade humana, fincado sempre na ideologia do desenvolvimento
social.
Nesse aspecto, a docilização do corpo tem como finalidade a aceitação da
aplicação das punições diferenciadas às diferentes classes sócias, desse ponto de vista
vemos o crescimento das penas relativas aos crimes contra o patrimônio, em detrimento
dos crimes contra a vida; a criação de tipos penais cada vez mais relacionados ao
patrimônio (seqüestro relâmpago, latrocínio, etc.) têm deixado a punição dos delitos de
sangue num segundo plano, nesse caso temos uma gestão diferenciada da justiça, com
repressão da criminalidade das classes inferiores e imunização da criminalidade das
elites de poder econômico e político.
Uma última crítica, mas talvez atualizando o livro de Foucault, quando
diz que é melhor prevenir do que punir; para a economia do crime a punição, via
penitenciárias, é mais favorável e produtiva ao capitalista do que a prevenção, tendo em
vista que, como instituição de seqüestro, a prisão cumpre uma função de produção e
reprodução do capital; de uma ótica social, cremos que a prevenção seria mais justa e
igualitária no sentido de cumprir sua função de diminuição do dano provocado pela
retirada do sujeito da convivência social; já para o mercado, um preso representa
produtividade desde que ele esteja encarcerado, pois seu crime torna-se necessário ao
lucro daqueles que se aproveitam do mal para serem ricos.

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