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INTRODUÇÃO:
“Deixar acontecer é uma liberação da vida. Deixar acontecer nos faz líricos,
macios, um rio impetuoso correndo, cambaleante,
circunavegante,
canção cânone,
vindo e indo
“Esta é a primeira vez que eu tive um grupo de três dias para eu mesma fazer
este trabalho (seria isto um trabalho?). Estou pronta para orquestrar estes dias de
abertura para si mesmo e para os outros. Que ambiente fabuloso! E as pessoas estão
querendo o que eu tenho a oferecer...”
____________________
1
Trabalho apresentado no I Fórum Internacional da Abordagem Centrada na Pessoa, México, 1982.
2
Tradução de Maria do Céu Lamarão Battaglia e Revisão de Marcia Tassinari – Abril – 1989
Escrevi estas linhas após uma manhã de trabalho com um grupo de quinze
pessoas através de alguns movimentos (vagarosos e rápidos) com e sem sons e música.
Depois do movimento, nós utilizamos lápis cera e expressamos nossos sentimentos
usando cor, linha e ritmo sobre o papel. Depois de criarmos nosso painel, nós
escrevemos por dez minutos sem parar para editar o que escrevemos ou nos preocupar
com a grafia ou pontuação. Então o poeta em mim e nos outros, transbordou. Meu
entusiasmo, por ser possível ter pessoas que queriam aprender comigo num ambiente
convidativo, estava aparente.
Em 1974 iniciei, com meu pai Carl Rogers e mais cinco colaboradores,
workshops de verão residenciais chamados “The Person Centered Approach”. Por sete
estações nós nos reunimos em várias partes do mundo (de San Diego, Califórnia até
Nottingham, Inglaterra) com a participação de sessenta a cento e cinqüenta pessoas.
Estes workshops foram grandes experiências de aprendizagem para mim como um dos
membros do staff. Nós tínhamos encontros da comunidade (grupão), grupos de
encontro, grupos de interesse e bons momentos. Jared Kass (um dos membros do staff)
e eu sentimos necessidade de algo mais que falar e, logo oferecemos um “grupo de
movimento” (o qual era muito mais que movimento, e alertava as pessoas para o fato de
que elas não teriam que ficar apenas sentadas e falando) ou um “grupo de arte e
movimento”, ou “espaço-studio” que envolveria toda a mídia.
Posso lhes falar um pouco sobre o que isto é. Não é brincar, não é teatro, não é
realmente uma improvisação, dança ou mímica. Não é arte terapia, não é diário escrito,
não é trabalho de corpo, não é estimulação sensorial, e ainda (a esta é uma parte
importante) é tudo isso junto.
“Jared e eu somos treinados em todas estas áreas e já vivenciamos tudo isso,
tanto como participantes, quanto como professores. Mas o que me empolga é
exatamente integrar, todas estas áreas e verificar que esta soma é mais do que qualquer
um destes métodos em separado. Eu não compreendo exatamente o que ocorre e, é por
isso que preciso de vocês para nos ajudar. Está bem para mim estar neste período
duvidoso e de questionamento sobre o nosso trabalho.
A carta seguinte a meus colegas também dará ao leitor o contexto no qual esta
abordagem evoluiu:
Nos grupos que facilitei, constatamos que o processo martela em nosso self
primitivo, nosso self criança, nosso lado de sombra e nosso lado de luz. Uma
conscientização de grupo emerge. Este processo é, para muitas pessoas uma integração
de mente, corpo, emoção e espírito. Agora estou me juntando com outros para
compartilhar nosso aprendizado. Queremos ensinar aquilo que queremos aprender.
Você é parte do processo. Eu imagino uma árvore; as raízes são a filosofia centrada no
cliente, tão básica para o crescimento humano; o tronco é o contexto social no qual
existimos e os inúmeros galhos e flores são os modos de criatividade e beleza que temos
dentro de nós. Estamos ainda para descobrir os frutos verdadeiros.
Uma vez eu aprendi muito por mim nestes grupos “não estruturados” sobre me
potencializar, ainda levou algum tempo para que eu entendesse que existem meio de ser
um “facilitador centrado na pessoa”. Centrado na pessoa, na minha mente, não quer
dizer sem estrutura. Em minha opinião, a não estrutura de Carl é muito claramente uma
estrutura com alguns resultados previsíveis.
Sinto que quando aplico a filosofia dele a meus grupos, minha personalidade irá
determinar a estrutura. Meus valores, minha filosofia, o modo que sou como facilitadora
é aceitador, congruente, empático e vindo do coração (Não gostei das palavras
consideração positiva incondicional). O que faço como facilitadora é oferecer as pessoas
algum movimento, técnicas de arte e escrita, que irão dar a elas uma maneira de se
expressar sem verbalizar. Eu as conduzo em exercícios estruturados em movimentos de
modo que eles tenham o “vocabulário” com o qual poderão falar através de seus corpos.
Eu os levo, através de experiências de arte, fantasia e escrita, que irão possibilitar a elas,
a exploração de seu mundo interior. Deste modo, respondo a eles no meu modo
(centrado na pessoa). Ser um psicoterapeuta e um facilitador de grupo é uma forma de
arte baseada na filosofia e não na metodologia.
Para aqueles leitores que não sejam estreitamente familiarizados com a
Abordagem Centrada na Pessoa, esta discussão pode parecer desnecessária. Para
aqueles de nós que batalharam com o fato de terem um estilo diferente com o pai da
Abordagem Centrada na Pessoa, isto faz sentido.
Minha própria definição evoluiu com o passar dos anos e inclui as palavras
“Abordagem Centrada na Pessoa para a Terapia Expressiva”, para distinguir a minha
abordagem da escola analítica de psicoterapia e das artes. Estou combinando o processo
de psicoterapêutico centrado na pessoa com o uso de formas de expressão artística.
A medida que observo aquilo que outros terapeutas expressivos estão fazendo e
escrevendo, chego a conclusão que eu e uns poucos colegas desenvolvemos um
processo bastante singular. Os departamentos das Universidades de Terapia Expressiva
oferecem cursos separados de dança-terapia, arte-terapia, etc. Estou interessada em
combinar as diversas formas de expressão para desencadear o potencial criativo que
existe em cada indivíduo. Estou intrigada com aquilo que chamo “a conexão criativa”.
Quer dizer, a conexão entre o movimento, escrita e arte. Quando toma consciência de
meus movimentos, me abro para sentimentos profundos que poderão então ser
expressos em cor, linha ou forma. Quando escrevo imediatamente após o movimento e a
expressão artística, existe um fluir (algumas vezes poesia). Quando descobri este
processo, por mim mesma, quis expandi-lo e criar uma atmosfera onde outros poderiam
se explorar do mesmo modo.
Mais adiante irei discutir as várias sequências que desenvolvi para atingir entre
processo de abertura. Por agora, quero frisar que estou dando ênfase a um processo, não
aos produtos da arte ou execução da dança. Desejo permitir que as pessoas possam se
desinibir (descascar a cebola) e usar os sentimentos que estão aflorando como uma fonte
para seu auto-conhecimento e criatividade. Frequentemente isto leva também a uma
sensação de unidade com o Universo.
“Se você dança mas não escreve, se você escreve mas não pinta, se você pinta
mas não se move, este é um curso para você descobrir as conexões. Ou se você pensa
que não faz ou não pode fazer nenhuma dessas coisas, junta-se a nós e você ficará
surpreso. Nós criamos para conectar as nossas fontes interiores e para alcançar o mundo
e o Universo. Iremos discutir como estas formas de expressão poderão ser usadas no seu
trabalho e em suas casas”.
Acredito que todos nós somos capazes de ser profunda e lindamente criativos
quer visando esta criatividade no modo como nos relacionamos com nossa família, ou
pintando um quadro. As sementes da maior parte de nossa criatividade vem do
inconsciente, de nossos sentimentos e intuições. O inconsciente é o nosso poço
profundo. Muitos de nós pusemos uma tampo sobre este poço. Os sentimentos também
são uma finte de nossa criatividade, amor, ódio, medo, mágoa, alegria, todas elas são
emoções que podem ser canalizadas em feitos criativos dança, música, arte ou escrita.
■ Explorar suas forças interiores (o que inclui olhar para o seu lado
sombrio);
■ Experienciar a si próprio e aos demais de maneiras significativas;
■ Abrir-se para suas habilidades intuitivas;
■ Aprender a se expressas por diversos meios;
■ Experienciar uma consciência de grupo;
■ Integrar suas mentes, corpos, emoções e espírito.
O que uma terapeuta expressiva faz é ajudar as pessoas a abrir o hemisfério
direito de seu cérebro que é a parte que nos permite ser intuitivos holísticas, emocionais
subjetivos. Acredito que se o mundo deve sobreviver e ir além desta era tecnológica
nós, como indivíduos, devemos ampliar o lado direito de nosso cérebro. Porque, a
medida que cada um de nós encontra seu equilíbrio interno, também o mundo entrará
mais harmoniosamente em equilíbrio.
O ambiente físico:
O local em que estamos afetam nosso modo de sentir e aquilo que podemos
fazer. Portanto um ambiente apropriado para nossas atividades criativas é essencial. Dos
espaços que tenho usado três deles se sobressairiam como sendo muito adequados às
nossas atividades. Um foi o espaço da Capela na Bélgica mencionado no início deste
artigo, outro foi o espaço em uma velha capela em New College, em São Francisco e o
terceiro foi o espaço dormitório em Ashland, no Oregon. Ambas as capelas tinham tetos
bem altos, boa acústica, um grosso tapete no assoalho (que torna o sentar, deitar e
movimentos no chão muito mais confortável), de um lado um palco baixo e uma
iluminação que poderia variar. Ar fresco, alguma vista e privacidade são também pré-
requisitos. Se nós quisermos cantar alto ou agir como ursos cinzentos, devemos poder
fazer isso sem incomodar os outros. O espaço deve ser grande o bastante para um grupo
de vinte pessoas poderem se movimentar rapidamente sem bater nos outros. Ainda
assim deverá ser íntimo o bastante de modo que, ao sentarmos em um canto falando
sobre nossas descobertas interiores, não iremos sentir uma frieza impessoal no aposento.
Um ginásio é muito grande e a maioria das salas de reunião são muito pequenas. O
salão dormitório vazio, revestido de lajotas e as grandes janelas nos serviam muito bem.
No caso de respingar tinta no chão, tornava-se fácil limpar.
Em volta das paredes da sala estão localizadas mesas com vários equipamentos,
material artístico, instrumentos musicais e fantasias. A medida que os participantes
começam a se movimentar em volta do aposento para explorar o ambiente (o que eu os
convido a fazer) isto é o que eles veem:
■ Uma mesa com material artístico incluindo tintas e óleo, vários tamanhos e cores
de fita gomada, grampeadores, hifrocor, papel, argila, pratos de papel (para usar
embaixo das peças de barro ou qualquer outro propósito) e talvez algum material
para colagem como revistas, fazendas, algodão e lixas de papel;
■ Uma mesa com instrumentos musicais que qualquer pessoa seja capaz de tocar
como: tambores, pratos, sinos, tamborins, triângulos, blocos de madeira, latas e
jarras e flautas simples;
■ Equipamentos de som incluindo um gravador, um cassete e um sistema stereo
com discos;
■ Uma mesa com fantasias, maquiagem e um espelho na parede. Quando eu digo
“fantasias” não menciono item complicador de teatro, porém peças colecionadas
durante anos para mudar o vestuário, coisas que podem ser convertida em
muitos usos, tais como xales, chapéu de todos os tipos perucas, grandes pedaços
de pano, bijuterias antigas, roupões de banho ou quimonos, um guarda chuva ou
bengala, grandes jaquetas e mascaras. Esperamos que o aposento tenha um
espelho bem grande assim como espelho de parede que providenciei
anteriormente;
■ Algumas vezes tivemos materiais que poderiam ser usados para construir
estruturas, coisas tais como escadas e pranchas de madeira, caixas ou módulos
de papelão grosso, uma rede de tênis ou um para quedas. Estes itens podem ser
usados para modificar totalmente o ambiente se os participantes assim o
desejarem;
■ Uma mesa cheia de livros e artigos em exposição para consulta e leitura. Tenho
livros com quadros de mascaras e grupos primitivos praticando seus próprios
rituais e também os livros que constam das referências deste artigo. Os tópicos
são: arte-terapia, terapia do movimento, músico-terapia, criatividade, discussões
sobre o hemisfério direito do cérebro e artigos sobre o processo de grupo e
psicoterapia centrada no cliente;
■ É conveniente também ter um colchão ou grandes travesseiros onde as pessoas
possam cochilar, relaxar ou cair com segurança sem se machucar;
■ Caso meu sonho se realize, algum dia terei equipamento de vídeo e uma pessoa
que goste de participar ficando atrás da câmera. Uma das mais eficazes
ferramentas para a aprendizagem neste tipo de trabalho é o feedback pelo vídeo.
Tive a ocasião de experienciar isto numa das aulas de movimento de Anna
Halprin e achei de um valor incalculável. Usei esta técnica treinando
conselheiros mas nunca tive a oportunidade de usar este sistema no meu trabalho
de Conexao Criativa. Como participante você irá explorar este ambiente e as
possibilidades de tentar novas coisas irão ocorrer. Talvez seja amedrontador
antecipar o que pode vir a acontecer, se você não estiver se sentindo bloqueado
no uso de qualquer desses materiais ainda assim a variedade de materiais é
tentadora. Sua tendência natural será: pegá-los, olhá-los, tocá-los e experimentá-
los. Algumas pessoas têm a reação “Oh! Que bacana”, outras poderão pensar
“Meu Deus! Em que espécie de bobagem eu fui me meter!” Outros podem se
sentir tímidos, porém curiosos.
O ambiente, no entanto, compõe a atmosfera para o trabalho/brincadeira que irá
acontecer. Apesar de eu estar coordenando um grupo sob luz florescente, num espaço
sem janelas, de ar condicionado no Hyatt Hilton Hotel, gosto de criar um ambiente que
proporcione comunicação, divertimento e intimidade, esteja eu na minha casa ou no
trabalho. Ar fresco, luz natural e cores quentes ajudam.
O CLIMA PSICOLÓGICO
“O ponto alto foi a sua habilidade em facilitar o grupo em termos como nos
relacionarmos uns com os outros”.
Pela minha maneira de trabalhar através de uma escuta sensível, respeito pelo
outro e frequentemente dividindo o grupo em pequenos subgrupos de dois ou três para
um compartilhar mais pessoal, os participantes muitas vezes tornam-se conselheiros
entre si e a confiança no grupo impera. Quando o clima é psicologicamente seguro, os
indivíduos podem assumir novos riscos. Se eles sabem que estão sendo respeitados,
encorajados, empatizados e confrontados de maneira amável, estarão mais disponíveis a
enfrentar o desconhecido. A seguir vem comentários de participantes que encontraram o
ambiente seguro o bastante para desenvolver novos aspectos sobre eles próprios:
“Fiz coisas que sempre temi, como ficar em pé diante de um grupo e atuar”.
1. Estar ciente de seus sentimentos são uma fonte para que a expressão criativa seja
canalizada para a arte (pintura, argila ou colagem) ou escrita ou movimentação.
Por exemplo se você está se sentindo confuso, você pode dançar ou desenhar a
confusão. Mesmo se você estiver cansado, você pode dançar este cansaço. Se
você estiver triste ou alegre você pode usar cores ou um poema, uma canção ou
um movimento para expressar estes sentimentos.
2. Esteja ciente de seu próprio corpo e cuide de si próprio neste grupo. Você é a
única pessoa que sabe se está sofrendo alguma dor e precisará adaptar os
movimentos às possibilidades de seu próprio corpo.
3. Todas as instruções dadas são sempre sugestões. Você tem a opção de não as
seguir.
4. Se você escolher observar, seja um observador participante. Isto poderá ser um
importante aprendizado para você e para o grupo. Você pode:
a. Identificar-se com alguém no grupo e experienciar através do outro;
b. Estar atento a interação e dinâmica do grupo;
c. Observar sem julgar.
5. Estas experiências e, em particular a movimentação, mexem com muitos
sentimentos. Se você sentir vontade de chorar ou emitir sons altos, isto é
definitivamente OK! Deixe que cada pessoa tenha seu próprio espaço para
experienciar estes sentimentos em profundidade sem interrupção para que ele/ela
possa encontrar uma maneira de colocar estes sentimentos dentro da arte,
movimento, música, sons ou escrita. Não se apresse muito em “ajudar”. Preste
atenção aos outros e seja atencioso, porém use seu bom julgamento ao permitir a
eles o tempo suficiente para experienciar seus sentimentos.
Discuti algumas das teorias e práticas que adotei nas terapias de arte,
movimento e escrita. Tenho menos experiência ou conhecimento sobre música e
som como terapia, mas sei, intuitivamente, que isto é básico para o conhecimento de
nós mesmos. Espero aprender mais com minha filha Janet Fuchsns nesta área. Como
musicista, ela e suas colegas estão explorando o uso terapêutico do som.
Eu encorajo os participantes a usarem os instrumentos musicais que
coloco à sua disposição. Quando estamos comendo ou jogando, ou quando um
pequeno grupo está “dançando suas pinturas” eu escolho o grupo que observa para
participar, usando instrumentos ou as vozes para apoiar o movimento. Isto evita que
eles pensem que estão fazendo um solo. Eles sentem o apoio entusiástico que
estamos dando, fazendo sons.
Naturalmente, nós também usamos discos e fitas como fundo musical
para muitos dos movimentos, e frequentemente, faço com que as pessoas emitam
sons para expressar os sentimentos que são evocados com seus movimentos. Um
dos participantes disse: “A música acordou parte de mim, que jaziam estagnadas por
uma década”.
IMPROVISAÇÕES
***
É difícil para mim teorizar a respeito destes “happenings”. De certo
modo, preferi não o fazer. Caso eu analise o processo até um certo grau, receio não ter
habilidade para descrevê-lo. Estou ciente porém,que muitos de nós escolhemos o nosso
lado mais “pastier” para representar. Nós nos damos permissão para representar os
papeis aos quais poucas vezes tomamos conhecimento. As pessoas roubam do cego,
destroem o rei ou tapeam o homem velho. Em uma das cenas na “vila” aconteceu um
nascimento e alguém roubou o bebê do peito da mãe! Nós permitimos que nosso lado
sombrio apareça de uma maneira brincalhona, mas autêntica.
Também nos permitimos ser poderosos: um ditador, um bispo, uma
rainha surge então. Ou experimentamos representar um ser humilde: o cego, o pobre ou
o aleijado. Quando eu escolhi ser o mendigo cego, fiquei surpresa ao notar que havia me
sentido muito poderosa naquele papel. O pessoal da “vila” constantemente vem me
relatar meus sentimentos de piedade, culpa, desgosto. Este não é o tipo de poder que eu
gostaria, mas é, na verdade, uma forma de poder.
Novamente, quero citar uma fita gravada de uma discussão no dia de São
Diogo (12). (Muita coisa aconteceu em um dia.) Novamente, uma mulher resolveu ser
observadora e foi nos relatando aquilo que havia visto.
Ora: Tudo começou com um homem segurando um copo o vazio de
plástico e ele batia gentilmente no copo e foi batendo mais alto. A próxima coisa que
notei foi que eu estava batendo no chão com meus pés, e batendo palmas e então todo o
movimento começou... foi como uma corrente... que não passou até que outra coisa
acontecesse. Houve uma corrente. Eu não quis participar porque eu não queria NÃO ser
o que acontecia. Eu estava aturdida porque se existe isto de conscientização de grupo,
isto era o que estava acontecendo.
Natalie: A um certo ponto pareceu haver uma mudança da dança livre
para o teatro e a mímica e então cenas e cenários... foi como num crescendo. A energia
subia ora descia e então retomava outro crescendo. Você diria que foi como uma
conscientização de grupo que nunca nos deixava.
Rosa (da Espanha): A respeito da palavra “conscientização de grupos: no
flamenco cigano, na terceira ou quarta noite de um festival flamenco acontece um
momento místico, mágico. Nós o chamamos “duende”, que não se pode traduzir, mas
que é mais ou menos a alma. Isto somente acontece quando não estamos esperando,
vem por sua própria vontade, mas nós recebemos”.
Natalie: Trata-se então de receber... de se abrir para que aconteça?
Rosa: Não foi julgamento, nem constrangimento. Vem de algum lugar
polifônico. Não apenas a harmonia que está correndo no recinto. O duende é um
fantasma, ou espírito. O mágico.
Maureen: Quando eu estava falando a respeito do “isto”. Isto pode ser
descrito como consciência do grupo. A abertura para este tipo de conscientização de
grupo pode estar presente, a despeito do que o grupo esteja fazendo. Se o anestésico é o
corpo, é deixado de fora, isto não irá acontecer para mim. Caso minha atenção seja a de
estar receptiva. Eu tenho que me preparar para tal, e o trabalho do corpo me ajuda neste
sentido.
***
10:00 vamos nos conhecer verbalmente Talvez você tenha um ou dos exercícios
que permitam que as pessoas se dêem a conhecer de um modo não verbal para reduzir
as tensões e trazer para o grupo um sentimento de confiança. Talvez uma forma de
“conversação com as mãos” onde duas pessoas sentam-se frente a frente e exploram as
mãos um do outro, sem palavras.
10:40 sequência “Este sou Eu” movimentos aquecimentos Este sou Eu: uma
sequência de movimento, arte, fantasia em redação.
Movimento: movimentos energéticos para relaxar ansiedades, para que as pessoas
acordem e se divirtam. Prestar atenção aos sentimentos evocados durante os
movimentos. (Eu conduzo estes movimentos) – ser uma criança num balanço, com
sons; - imaginar que está colhendo frutos de uma árvore; - uma pessoa cortando lenha,
com seus ruídos; - andar com música conscientemente: rápido, devagar, mais devagar
ainda, correndo, mancando, andando com atitudes diferentes. (como um velho, uma
pessoa sexy, uma pessoa ferida, uma criança). Movimentos vagarosos no chão. Esteja
atento aos sentimentos evocados, agora que você está mudando:
- faça uma bola com seu corpo, uma posição fetal (com música).
Gradualmente, vá se esticando. Repita este movimento 2 ou 3 vezes. Levante os braços
acima da cabeça e respire. Estique-se. Enrole-se mais e mais, vagarosamente.
11:30 Fantasia dirigida Quem sou eu agora? Uma fantasia dirigida. “Feche os
olhos, respire profundamente por uns poucos minutos. Conforme a música vai tocando,
imagine que sua mente é um projeto de slides e que várias cenas de sua vida durante
esta última semana, estão sendo passadas. Não se detenha em nenhuma cena por muito
tempo, porém preste atenção aos sentimentos que cada cena está despertando em você.
Ai então passe para outra cena. Agora focalize uma cena que tenha algum conteúdo
emocional que você deseje entender mais a fundo. Conserve este sentimento por alguns
segundos. Talvez seja um sentimento de alegria, de pena, de acanhamento, esperança,
dor, raiva – qualquer que você deseje explorar dentro de você.
11:45 “Este sou Eu” movimento Agora, gradualmente, deixe que seus olhos se
abram apenas o suficiente para que você possa começar a se mover. Gradualmente
coloque um pouco do sentimento antes experimentado dentro de algum movimento,
sentada, deitada ou em pé. Pode ser um movimento bem simples, mas conserve-o para
que você possa estar consciente de que seu corpo está falando. Ou talvez seja um
movimento complexo. Lembre-se, no movimento você tem espaço – alto, baixo, largo
ou estreito, e você terá ritmos e atitudes que pode usar, como fizemos nos
aquecimentos. Você pode emitir sons para acompanharem os movimentos. Eu sou a
única pessoa que estou olhando. Esta é a minha Dança Agora”.
12:00 “Este sou Eu” Quadro com mão não-dominante “Agora pare e sente-se
quieto por um minuto. Deixe a sua mente fantasiar cor, linha, ritmo, movimentos que
emergem de seus sentimentos. Vá então para a mesa de arte, pegue uma caixa de tintas e
papéis. Com sua mão esquerda (ou sua mão não-dominante) use as cores para expressar
“É assim que me sinto neste momento”. Pode ser um abstracionismo ou simbolismo –
qualquer coisa que brote dos seus sentimentos naquele momento. Não se trata de um
desenho ou produto como tal. É a expressão de como você se sente naquele momento.
12:20 Redação livre “Quando você tiver terminado o quadro, pegue uma folha
de papel de escrever, e tire uns dez minutos para redação livre”. (Eu dou instruções para
redação livre).
3:00 Aprendizados O grupo inteiro retorna ao círculo para falar sobre o que cada
uma aprendeu daquela sequência. “O que você aprendeu sobre si mesmo? Algo de
novo?”
7:00 Dança de Sombras solo “Esta noite iremos nos aprofundar mais ainda com
a pintura que você criou, agora que temos os subsídios dados pelos membros do seu
grupo. Você pode pendurar sua pintura na parede e estudá-la sob estes novos aspectos.
Iremos usar os spots de luz no assoalho para criar sombras. Você irá se mover olhando
para sua própria sombra, improvisando movimentos que expressam como você se sente.
A pintura é apenas um ponto de inicio. Você pode imaginar uma conversa com sua
sombra. Nós seremos seu grupo de apoio. A medida que você se move, iremos usar
instrumentos ou nossas vozes para dar apoio aos seus movimentos. Tentaremos ser
sensíveis aquilo que você fizer e não iremos forçá-lo em uma outra direção. Se você não
gostar da nossa música, diga-nos”. (Esta sugestão geralmente cria pânico nas pessoas,
porque agora elas estarão por sua própria conta. Mas depois que uma pessoa mais
corajosa começa, torna-se evidente que é divertido. Eles não irão notar a “audiência”
porque estarão – olhando para sua enorme sombra), brincando com ela.
9:00 am Meditação Feedback Começarei a meditação dirigida que irá nos ajudar
a relaxar e nos afinarmos com nosso eu e com cada pessoa do grupo. Então eu pergunto,
“Onde está você agora? O que está sentindo com relação ao dia de ontem? Você
sonhou? Quaisquer outras reações?”
9:45 Movimento – Aquecimento Brincar de pegar (com música animada tocando)
Exercício tipo ioga (com música suave)
11:30 Conceitos sobre o seu “Eu” “O próximo passo será escrever cinco conceitos
sobre cada um de seus lados, começando sempre com “Eu”. Por exemplo: “Eu sou forte
e atarracado”. Eu estou nua, sentindo empertigado. “Eu sou graciosa”, etc. Estes
conceitos deverão se referir ao lado de seu corpo para o qual você esteja olhando. “O
próximo passo será abrir o papel e ver se existem diferenças entre os dois lados”.
Observando cada retrato “Agora deixe seu retrato de lado e dê uma volta pela sala
para o quê as outras pessoas fizeram. Tente se imaginar como se fosse aquela pessoa do
desenho. O que você sente?
12:00 Pequenos grupos – Compartilhar “Forme pequenos grupos de três pessoas
e passe cinco minutos cada um falando sobre o seu retrato e obtendo dados dos outros
grupos”.
12:30 p.m Grupo todo: “O que você descobriu sobre você mesma? Como se
sentiu a este respeito?”
2:00 “Agora vocês irão formar grupos de seis. Eu Gostaria que cada um de vocês
se alternassem na colocação do seu retrato na parede, e ajudado pelo grupo, dançasse o
lado direito e o esquerdo. Vocês agora têm os conceitos “Eu” e subsídios de todos os
membros do grupo e gostaria que vocês se aprofundassem mais neste tema. Estudem
realmente o retrato e os conceitos que obtiveram para o lado direito. Então passem
algum tempo elaborando os sentimentos relativos a este lado. Façam alguns
movimentos, alguns sons, também se o desejarem para retratar os sentimentos deste
lado seu. Os membros do grupo podem ajudar talvez participando de sua dança, se você
quiser, ou usando instrumentos e suas vozes para acompanhar seus movimentos”.
Quando você houver terminado a dança de cada lado de você mesma e tiver sentido a
diferença, tente então um movimento que integre a esquerda e a direita, e veja como
você se sente”.
Tenho usado estes exercícios por anos e anos. Mas somente agora estou
começando a colecionar alguns dos retratos e conceitos de participantes de grupos. Os
resultados são tão interessantes que fundamentam o estudo e alguma relação com os
construtos teóricos de Ornstein e outros. Conceitos típicos de participantes seguem:
*******
Hey, você! Alma assimétrica.
Eu estou aqui e seu empurrão
está deixando seu tributo.
Por favor pare, preste atenção em mim
Eu sou macio como um salgueiro
Eu me curvo como uma árvore
Eu sou uma lua no deserto
Eu sou canção no céu
Minha imagem subjetiva é,
“todos voam!”
Você precisa de mim para o equilíbrio
o mundo está guiando
A luta terminará
Quando saborearmos nosso yin”.
*****
ENCONTRANDO SEU ESPAÇO VITAL
Uma outra sequência que Jared criou e nós dois expandimos, demonstrou
ter profundas implicações para os participantes. Nós denominamos isto “Encontrando
seu espaço Vital”.
Depois da sequência usual do tempo de meditação seguido de, pelo
menos quarenta minutos de movimento consciente, dei instruções como o que se segue:
1. “Encontre um lugar na sala, no qual você irá explorar ser próprio espaço. Você
pode usar qualquer item: móveis, paredes, portas, etc. Agora feche seus olhos e
explore o espaço físico que você quer e precisa para você mesmo. Este é seu
espaço vital. Isto é uma metáfora. Experiencie isto por cinco minutos. Esteja
atento a seus sentimentos durante este tempo. Você pode se aborrecer, mas
permita que o aborrecimento surja. Experiencie o espaço que você criou para
você mesmo em todos os aspectos. Faça sons em seu espaço”.
2. (depois de cinco minutos) “Agora pare. Esteja consciente de como você se
moveu para explorar aquele espaço e os limites que você criou. Agora, use o
método oposto para explorar seu espaço – Se você foi pequeno, seja grande. Se
você foi expansivo, seja pequeno. Emita sons. Veja isto leva você. Novamente
mantenha seus olhos fechados o máximo possível para aumentar a sua
conscientização interior”.
3. (depois de cinco minutos) “Escolha se você irá usar cores, barro ou colagem
para expressar aquilo que você vem experienciando, Você terá meia hora para
usar meios de arte para expressar a experiência de seu espaço vital”.
4. “Escreva um estilo livre por dez minutos. Não censure aquilo que você escreve.
Não se preocupe com a ortografia, pontuação ou gramática. Você não irá
compartilhar sua redação com ninguém a menos que deseje, mais tarde.”
NOTAS
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