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ANAIS DA XX JORNADA – GELNE – JOÃO PESSOA-PB 521

RETEXTUALIZAÇÃO E (RE)CONTEXTUALIZAÇÃO:
PROCESSOS DE MANIPULAÇÃO DOS LEITORES
Cleide Emília Faye Pedrosa1

1. INTRODUÇÃO

O objetivo desta investigação é trabalhar com os processos de retextualização e


(re)contextualização como estratégias discursivas do editor no gênero textual ‘Frase’.
Verificaremos que muito mais que estratégias discursivas do editor nesse gênero textual
específico, esses processos são utilizados pelos editores para exercer seu poder na e pela
linguagem.
A pesquisa orienta-se pelos postulados da Analise Crítica do Discurso segundo a
visão social defendida por Fairclough (2001, 2003) e apresenta também o posicionamento
de Brémond e Brémond (2002) quanto ao poder exercido na editoração de um texto.

2. DESENVOLVIMENTO

A década de 70 conheceu o surgimento de uma forma de análise do discurso e do


texto que identificava o papel da linguagem na estruturação das relações de poder na
sociedade (FAIRCLOUGH, 2001). E a partir dos anos noventa, os estudos são expandidos
com o surgimento da Análise Crítica do Discurso (ACD).
A ACD pode definir-se como uma disciplina que se ocupa fundamentalmente de
análises que dão conta das relações de dominação, discriminação, poder e controle, da
forma como esses se manifestam através da linguagem (WODAK, 2003). Nessa
perspectiva, a linguagem é um meio de dominação e de força social, servindo para legitimar
as relações de poder estabelecidas institucionalmente.
Devido aos diferentes enfoques seguidos por analistas críticos do discurso, aceita-se
a ACD não como um método único, porém como um método que adquire consistência em
vários planos.
Em sua visão social, Fairclough (2001) vê o discurso como prática política e
ideológica. Como prática política, o discurso estabelece, mantém e transforma as relações
de poder e as entidades coletivas em que existe relação de poder. É uma arena de luta de
poder e também arena delimitadora na luta de poder. Como prática ideológica, o discurso
constitui, naturaliza, mantém e também transforma os significados do mundo de diversas
posições nas relações de poder. Nas palavras de Fairclough (2001: 95), “diferentes tipos de
discurso em diferentes domínios ou ambientes institucionais podem vir a ser ‘investidos’
política e ideologicamente (...) de formas particulares.”

1
Universidade Federal de Sergipe – UFS / Universidade Federal de Pernambuco- UFPE. –
eliaspedrosa@uol.com.br
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2.1 Gênero textual ‘Frase’: retextualização e (re)contextualização, processos de


manipulação dos leitores

Estamos chamando gênero textual ‘Frase’ ao conjunto de textos que apresentam,


resumidamente, estas características:
A. Processo de retextualização, formado pela ‘fala’ do locutor
1. (Veja - 31/01/01) "Preciso de um ator despreparado para viver um príncipe
despreparado."
B. Processo de (re)contextualização que indica a recuperação do contexto situacional por
parte do editor
Gerald Thomas, diretor teatral, justificando a montagem de O Príncipe de
Copacabana, peça baseada em Hamlet, com o galã Reynaldo Gianecchini

Como pretendemos apontar a retextualização e a (re)contextualização como


estratégias que deixam transparecer a manipulação da linguagem pelo editor e
conseqüentemente seu poder social, então passaremos a abordar a concepção de poder para
a ACD.

O poder (...) pode ser conceituado como o conjunto de assimetrias


entre participantes nos acontecimentos discursivos, a partir da
eventual capacidade desigual desses participantes para controlar a
produção dos textos, a sua distribuição e o seu consumo – e,
portanto, a forma dos textos – em contextos socioculturais
particulares (PEDRO, 1998: 35, sic)

Essa assimetria é bastante visível no gênero ‘Frase’, pois o editor manipula a ‘fala’
do Locutor ao retextualizá-la (primeiro processo) segundo sua escolha, que vai desde os
aspectos lingüísticos aos sociocomunicativos. Ao Locutor não lhe é facultado interceder na
produção, distribuição e consumo do texto. O editor controla a situação discursiva,
exercendo seu poder da forma como lhe apraz (PEDROSA, 2004).
No primeiro processo, o editor seleciona a ‘fala’ do locutor a partir de um evento
comunicativo mais amplo (PEDROSA, 2002) e a retextualiza segundo critérios bem
subjetivos, pois verificamos que as ‘falas’ não são transcritas, como o uso das aspas poderia
sugerir, mas retextualizadas segundo preferências lexicais, sintáticas, semânticas,
pragmáticas e, sobretudo, ideológica do editor.
No processo de (re)contextualização, o editor deixa transparecer que está
recuperando, para o leitor, o contexto lingüístico (cotexto) e situacional do evento
comunicativo de onde selecionou a ‘fala’, com o fim de que esse tenha condições de
entender a ‘frase’. Como tal prática/ intenção é apenas aparente, preferimos usar o termo
(re)contextualização em lugar de contextualização ou recontextualização, pois verificamos
que, para atender interesses editoriais da revista, a ‘fala’ é descontextualizada para depois
ser contextualizada, daí optarmos por (re)contextualização – o termo designa a releitura
que o editor faz para o evento comunicativo em foco.
Assim, podemos, resumidamente, afirmar que a produção, distribuição e consumo
desse gênero textual ‘frase’ são conduzidos pelo editor. Que, por sua vez, se liga a uma
rede mais poderosa que é a rede das grandes empresas editoriais.
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Compreender os critérios de edição, de seleção do que deve se tornar conhecimento


público até mesmo para textos tão curtos e despojados de ‘responsabilidade’ informativa,
como os textos do gênero ‘Frase’, é fundamental para o leitor lidar com as mensagens
explícitas e subliminares veiculadas por qualquer canal mediático, bem como para refletir
sobre as políticas editoriais.
De conformidade com os autores Brémond e Brémond (2002), grandes empresas
internacionais controlam as informações recebidas pelo público. E esse controle decorre de
dois importantes critérios, a rentabilidade e o exercício do poder. Outro aspecto destacado
por eles é que, além de empresas editoriais, esses grandes grupos controlam os meios de
comunicação; dessa forma, a manipulação passa também pelas técnicas de marketing.
Esse papel de difusão, na maioria dos casos, chega a ser mais importante que a
expressão de idéias e a demanda. Essa é uma prática que prepara o terreno para a
publicação de livros-irmãos (livros que veiculam o mesmo conteúdo), artigos similares em
quase todos os jornais e revistas, mesma notícia em todos os jornais televisivos, a fim de
que, por esse processo de uniformização, o consumidor não tenha escolha. Essa prática
pode ser resumida em duas tendências do mercado: ‘uniformização de ofertas’ e
‘onipotência da difusão’.
Esse poder editorial manifestado através de ‘uniformização de ofertas’ pode ser
observado no gênero que estamos analisando através da repetição de textos em diversos
veículos de divulgação, as ‘frases- irmãs’ ou ‘textos –irmãos’, como queiramos nos referir.
Vejamos:
2. (Contigo - 07/08/01) “Eu fiz 94 anos, mas já digo que estou com 95 para me
energizar e chegar lá. Escrevam o que eu digo: eu só vou morrer quando eu quiser!
Não programo morte, eu programo vida!”
Dercy Gonçalves, no Hebe, dia 30
3. (Veja – 08/08/01) "Só vou morrer quando eu quiser."
Dercy Gonçalves, atriz, 95 anos
4. (Tudo - 10/08/01) “Só vou morrer quando eu quiser”
Dercy Gonçalves, atriz, 95 anos
5. (Época - 13/08/01) “Só vou morrer quando eu quiser.”
Dercy Gonçalves, comediante, ao completar 94 anos

Verificamos que, na mesma semana, quatro revistas (Contigo, Veja, Tudo e Época),
veicularam ‘Frases’ do mesmo evento comunicativo. Não resta dúvida que há uma
‘uniformização de ofertas’, o leitor muda de revista, porém, não, de conteúdo. O aparente
poder de escolha do leitor é subjugado pela ‘onipotência da difusão’. Talvez o leitor possa
escolher onde ler, não o que ler.
Voltando aos processos de retextualização e (re)contextualização como práticas de
edição, daremos destaque a dois posicionamentos já indicados: os editores retextualizam as
‘falas’ dos locutores segundo critérios subjetivos; e os editores (re)contextualizam a ‘fala’
retextualizada a fim de situá-la em ‘seu’ contexto (com toda a carga semântica ambígua
que o pronome ‘seu’ traz nessa construção sintática e semântica).
Os editores retextualizam as ‘falas’ dos locutores segundo critérios subjetivos. O
processo de retextualização “envolve operações complexas que interferem tanto no código
como no sentido e evidenciam uma série de aspectos nem sempre bem-compreendidos da
relação oralidade-escrita.” (Marcuschi, 2001:46). Os casos de retextualização apresentam
um grau de interferência muito grande, pois interferimos tanto na forma e substância da
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expressão como na forma e substância do conteúdo, sendo que neste segundo conjunto a
questão se torna muito mais delicada e complexa (MARCUSCHI, 2001).
Na prática da retextualização, observamos, em nosso objeto de análise, desde a
atividade de colagem, passando por acréscimos de termos e informações, mudança na
pontuação, pequenas alterações semânticas, até alterações semânticas mais acentuadas.
As alterações semânticas abordadas abaixo se ligam às estratégias discursivas
distintas, como alteração na estrutura sintática, uso de conectores, recorte na ‘fala’ etc.

Quadro 1: alterações na retextualização

EXEMPLOS COMENTÁRIOS
(Istoé (I) – 23/05/01) (Veja (V) – Em (I), com o uso de plural em ‘drogas’, o
“Drogas são 16/05/01) "Não efeito de sentido é que faz alusão a todo
prejudiciais à saúde” fumo, não bebo, não tipo de drogas (fumo álcool, etc); enquanto
Fernandinho Beira- cheiro, não jogo. em (V), como há, no primeiro período uma
Mar, traficante, em Droga é prejudicial listagem de ações’que se referem a drogas,
depoimento à à saúde." então provavelmente o uso no singular,
Comissão de Direitos Fernandinho refere-se a apenas um tipo.
Humanos no Beira-Mar,
Congresso traficante carioca
preso na Colômbia,
em depoimento na
Câmara dos
Deputados
(I – 07/11/01) “Temos (Tudo (T) – O uso da preposição ‘em’ e ‘de’ (‘nos/ dos
de pôr fim ao lobby 09/11/01) “Temos tribunais’), ocasionam uma leitura distinta.
nos tribunais” de pôr fim ao lobby
Eliana Calmon, dos tribunais”
ministra do STJ Eliana Calmon,
ministra do Supremo
Tribunal de Justiça
(IstoÉ – O5/12/01) (T - 07/12/01) “Eu Em (T) o acréscimo de informação
“Eu não sou apenas não sou um pedaço – ‘só que ele é pequenininho’ – vem
um pedaço de carne de de carne de prejudicar a ‘face’positiva do Locutor.
açougue. Também açougue. Também
tenho cérebro” tenho cérebro, só
Nana Gouvêa, que ele é
modelo, eliminada do pequenininho”
programa Casa dos Nana Gouvêa,
artistas e magoada com modelo eliminada
o SBT por ter exibido do programa Casa
as cenas em que ela dos Artistas
aparecia seminua
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Os editores (re)contextualizam a ‘fala’ retextualizada a fim de situá-la em ‘seu’


contexto. Se considerarmos que texto e contexto existem diretamente relacionados, então
qualquer exame mais particularizado do produto textual está sujeito a uma visão mais exata
do contexto social onde o texto veicula discursos (Motta-Roth, 2000). É por isso que “os
textos são sempre realizações situadas, contextualizadas e com propósitos bem definidos.
Contém escolhas léxicas, sintáticas e realizações estilísticas, registros, etc. muito bem
determinados ”(MARCUSCHI, 2001: 02).
Conforme o posicionamento de Martin (1996), “a teoria do gênero foi desenvolvida
como uma teoria do contexto social – como uma teoria do processo social constituindo uma
cultura quando vista da perspectiva da linguagem”(Martin, 1996: 126, tradução nossa).
À semelhança da retextualização, estamos reunindo os casos de alterações que
ocasionam profundas mudanças semânticas na (re)contextualização. Teceremos breves
comentários em relação ao fenômeno observado.

Quadro 2 Alterações na (re)contextualização

EXEMPLOS COMENTÁRIO
(I – 31/01/01) (V - 31/01/01) (Época (E) - Há grandes diferenças
“Ele é lindo, frágil "Preciso de um ator 12/03/01) "Preciso semânticas entre (I) e (V).
e perfeito” despreparado para de um ator Em (I), a justificativa da
Gerald Thomas, viver um príncipe despreparado ‘fala’ recai sobre o ator
diretor teatral, despreparado." para mostrar uma (reforçando a
justificando por Gerald Thomas, pessoa retextualização) . Em (V),
que escolheu o ator diretor teatral, despreparada no a justificativa da ‘fala’
Reynaldo justificando a mundo de hoje." recai na peça (afastando-se
Gianecchini para montagem de O Gerald Thomas, da retextualização).
protagonizar a sua Príncipe de diretor de teatro, Em (E), de forma resumida
nova peça inspirada Copacabana, peça sobre Reynaldo (‘sobre Reynaldo
em Hamlet, de baseada em Hamlet, Gianecchini Gianacchini’) o editor
Shakespeare com o galã reforça o dito na ‘fala’ do
Reynaldo Locutor. Contudo, ficamos
Gianecchini sem saber a que peça se
refere.

(I – 23/05/01) (E – 21/05/01) (T– 27/05/01) A interpretação é


“Estou feliz com os “Estou feliz com “Sou feliz com os totalmente contrária na
meus peitinhos meus peitinhos meus peitinhos (re)contextualização entre
pequenos, mas sinceros.” pequenos e (I) e (E)
sinceros” Nívea Stelmann, sinceros” Observemos em (I), que o
Nívea Stelmann, atriz, sobre a Nívea Stelmann, locutor não ‘afirma’,
atriz, afirmando hipótese de atriz embora a inferência de
que não pensa em aumentar os seios ‘que não pensa em colocar
colocar com silicone silicone nos seios’ seja
silicone nos seios autorizada para o recorte
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da ‘fala’apresentado.
A hipótese levantada pelo
editor de (E) não é
autorizada pela
‘fala’retextualizada, pois o
Locutor afirma que está
‘feliz’
(T) – não faz uma leitura
interpretativa da ‘fala’, a
interpretação ou inferência
cabe ao leitor.
(I – 10/10/01) “O (E – 08/10/01) “Isso, As (re)contextualizações
Brasil não se sim, é um dão toda orientação de que
classificar para a problema.” se trata do mesmo assunto.
Copa do Mundo Fernando Há, em (E), um problema
será mais grave do Henrique Cardoso, semântico, deveria ser ‘não
que qualquer crise presidente da classificação’ ou
econômica” República, sobre a ‘desclassificação’.
FHC, em visita ao possibilidade de O ‘isso’ é catafórico, se
Equador, falando classificação do relacionarmos a
sobre uma eventual Brasil para a Copa retextualização com a
desclassificação da do Mundo (re)contextualização
Seleção Brasileira
nas eliminatórias
da Copa do Mundo

3. CONCLUSÃO

Este gênero textual ‘Frase’é hoje cada vez mais freqüente na mídia escrita e serve
como uma boa sugestão para que se consiga entender como as idéias alheias são repassadas
ao público através de estratégias discursivas e práticas sociais nem sempre satisfatórias e
condizentes com o texto original. As grandes alterações identificáveis nos processos de
retextualização e (r)econtextualização são a prova de manipulação da linguagem de quem
detém o poder em nossa sociedade.
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4. REFERÊNCIAS

BRÉMOND, Janine e BRÉMOND, Greg. 2002. Las redes ocultas de la edición. Madrid:
Editorial Popular.
FAIRCLOUGH, Norman. 2003. “El análisis crítico del discurso como método para la
investigación en ciencias sociales”. In: WODAK, Ruth e MEYER, Michel. Métodos de
análisis crítico del discurso. Barcelona: Gedisa, p. 179 - 203
_____. 2001. Discurso e mudança social. Brasília: UnB.
MARCUSCHI, Luiz Antonio. 2001. Gêneros discursivos & oralidade e escrita: o texto
como objeto de ensino na base de gêneros. Recife; PG em Letras – UFPE. (mimeo)
MARTIN, John R. 1996. “Evaluating disruption: symbolising theme in junior secondary
narrative”. In: HASAN, R. e WILLIAMS G. (eds.). Literacy in Society. London/ New
York: Longman, p. 125 –171.
MOTTA-ROTH, Desirée, 2000. Gêneros discursivos no ensino de línguas para fins
acadêmicos. In: FORTKAMP, Mailce B.M. e TOMITCH, Leda M.B. (orgs). Aspectos da
Lingüística Aplicada. Florianópolis: Editora Insular. p. 167 – 184.
PEDRO, Emília Ribeiro. 1998. “Análise crítica do discurso: aspectos teóricos,
metodológicos e analíticos”. In: PEDRO, Emília Ribeiro (org.). Análise Crítica do
Discurso. Lisboa: Caminho, p. 19- 46.
PEDROSA, Cleide Emília Faye. 2004. Gênero textual “Frase”: marcas do editor nos
processos de retextualização e (re)contextualização. Tese de Doutorado. UFPE. Inédito.
_____. 2002 . “ ‘Frases’: caracterização do gênero e aplicação pedagógica”. In: DIONÍSIO,
Ângela Paiva et al. Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, p. 151 – 165.
WODAK, Ruth. 2003. “De qué trata el análisis crítico del discurso (ACD). Resumen de su
historia, sus conceptos fundamentales y sus desarrollos.” In: WODAK, Ruth e MEYER,
Michel. Métodos de análisis crítico del discurso. Barcelona: Gedisa, p. 17 – 34.
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