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Rio contra o tráfico

Polícia ocupa morros e desmantela facção


José Renato Salatiel*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Em uma operação inédita, a polícia com o apoio das Forças Armadas ocupou na manhã
do último domingo (28 de novembro) o Complexo do Alemão, um conjunto de favelas
controladas por traficantes no Rio de Janeiro. Durante uma semana, a imprensa
internacional acompanhou a ofensiva do Estado para recuperar áreas dominadas pelo
crime organizado na cidade-sede da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

A invasão marcou uma nova estratégia do governo. Ela consiste em reaver os territórios
perdidos para as facções criminosas, depois de três décadas de descaso dos governantes.
A intenção, não assumida pelas autoridades, é deixar a cidade mais segura para receber
os megaeventos.

Os traficantes se instalaram há 30 anos nos morros cariocas. A partir dos anos 1960, o
crescimento urbano desordenado gerou condições favoráveis para o narcotráfico. A
própria topologia dos morros favorece os bandidos, pois dificulta acesso da polícia e dá
aos traficantes uma visão privilegiada dos principais acessos.

A ofensiva das forças policiais começou após uma série de atentados ocorridos desde 21
de novembro. A mando dos traficantes, vândalos queimaram 106 veículos em retaliação
contra a instalação de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) em 13 comunidades. As
UPPs foram criadas há dois anos. Elas consistem em postos permanentes da Polícia
Militar em favelas que antes eram domínios do narcotráfico e de milícias.

Na quinta-feira (dia 25), policiais entraram na Vila Cruzeiro, favela vizinha ao


Complexo do Alemão, e expulsaram centenas de homens armados. As imagens dos
criminosos correndo por uma estrada de terra foi a mais emblemática de toda a
operação. Foram mobilizados cerca de 2.600 policiais - civis, militares e federais - e
integrantes das Forças Armadas. Entre os 800 soldados do Exército que participaram da
manobra, 60% fizeram parte da missão de paz da ONU (Organização das Nações
Unidas) no Haiti.

Também foram usados mais de 15 veículos blindados da Marinha, para vencer


barricadas nas ruas feitas pelas quadrilhas. Ao todo, 50 pessoas morreram em uma
semana de ataques de bandidos e investidas policiais.

Tim Lopes

As Forças Armadas são usadas em confrontos com criminosos no Rio desde a


Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente, a Eco-92. Em 1994, soldados do Exército
e fuzileiros navais ocuparam morros e favelas na Operação Rio. Mas a medida nunca
ocorreu na proporção atual e em uma área tão extensa.

O Complexo do Alemão é o quartel-general do Comando Vermelho (CV), uma das


organizações criminosas mais temidas e antigas do país. O complexo reúne 18 favelas e
quase 90 mil habitantes espalhados em uma área de 186 hectares na Serra da
Misericórdia, zona norte do Rio. A região concentra 40% dos crimes cometidos na
cidade.

Depois de dar um ultimato para que os traficantes se entregassem, os policiais entraram


nas comunidades e vasculharam casas a procura de drogas, armas e suspeitos. Não
houve resistência. Foram apreendidas toneladas de drogas, mais de cem armas e
centenas de motos. Oito pessoas foram presas.

A prisão mais importante foi a do traficante Elizeu Felício de Souza, conhecido como
"Zeu", um dos homens condenados pelo assassinato do jornalista Tim Lopes, da TV
Globo. Ele foi denunciado pelos próprios moradores. Tim Lopes foi sequestrado em 2
de junho de 2002 na Vila Cruzeiro por traficantes da quadrilha de Elias Pereira da Silva,
o Elias Maluco. O jornalista foi esquartejado e teve o corpo queimado em pneus.

Presos políticos

O Comando Vermelho surgiu durante o regime militar, em 1979, quando presos


políticos se misturaram com presos comuns no presídio Cândido Mendes, na Ilha
Grande, aprendendo os métodos de organização dos grupos de esquerda clandestinos e
da guerrilha urbana. De início, o objetivo era organizar a vida nas celas e impedir
roubos e estupros por parte de outros detentos.

Fora das grades, os presos começaram a empregar as mesmas técnicas para promover
roubos a bancos e sequestros. Eles também instituíram uma “caixinha” que as
quadrilhas eram obrigadas a dar aos líderes, para financiar fugas e subornar carcereiros.
O próximo passo foi assumir o controle da venda de drogas nos morros. O Comando
Vermelho fez acordos com carteis colombianos para distribuir cocaína, acompanhando
o aumento do consumo da droga no país.

Ao mesmo tempo, os lucros provocaram desavenças internas na facção. Entre os anos


1980 e 1990 surgiram grupos rivais, como o Terceiro Comando e os Amigos dos
Amigos (ADA). A disputa pelo negócio de venda de drogas gerou uma onda de
violência que tornou o Rio uma das cidades com os maiores índices de criminalidade no
país. Hoje, a maioria dos líderes do CV está presa ou morta. Entre os líderes mais
conhecidos estão Fernandinho Beira-mar, Marcinho VP e Elias Maluco.

Milícias

Após a ocupação do morro, o governador Sérgio Cabral deu um prazo de sete meses
para a instalação de uma UPP e pediu ao Ministério da Defesa que os militares
permaneçam no local até outubro de 2011. O presidente Luis Inácio Lula da Silva
garantiu apoio.
O que o episódio deixou claro é que o Estado, apesar de ter deixado a população pobre
abandonada por décadas, pode desarticular o tráfico nos morros. Isso foi feito com a
retomada dos territórios, a transferência de detentos perigosos para presídios federais, a
prisão de familiares de traficantes e o bloqueio de suas contas bancárias.

A operação também contribuiu para mudar a imagem da polícia do Rio, reconhecida


como a mais violenta do mundo. Mesmo com as denúncias de abusos de poder por parte
dos policiais, a população aprovou a invasão das favelas.

O próximo desafio do governo será estender a estratégia para outras comunidades,


inclusive aquelas sob o controle de milícias. As milícias apareceram no final dos anos
1970, quando comerciantes da zona oeste passaram a pagar proteção a policiais contra
traficantes. No começo de 2000, as milícias se tornaram grupos paramilitares formados
por policiais na ativa ou na reserva. Eles expulsaram os traficantes e implantaram um
esquema de cobrança por proteção e serviços clandestinos de luz, gás e TV a cabo.

Hoje, as milícias dominam 41,5% das 1.006 favelas cariocas, contra 55,9% do tráfico e
2,6% das UPPs, de acordo com levantamento do Nupevi (Núcleo de Pesquisas das
Violências) da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Na última semana, o
Rio mostrou que é possível mudar esta estatística.

Direto ao ponto
A polícia com o apoio das Forças Armadas ocupou na manhã do
último domingo (28 de novembro) o Complexo do Alemão, um conjunto
de favelas controladas por traficantes no Rio de Janeiro.

A operação marcou o início de uma nova estratégia do governo de


recuperar áreas dominadas pelo crime organizado. O objetivo, não
declarado, é tornar a cidade mais segura para receber a Copa do
Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

A ofensiva começou após uma série de atentados ocorridos desde 21


de novembro. Vândalos queimaram 106 veículos em retaliação contra
a instalação de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) em 13
comunidades. As UPPs consistem em postos permanentes da Polícia
Militar em favelas que antes eram domínios do tráfico e de milícias.

Foram mobilizados cerca de 2.600 policiais e integrantes das Forças


Armadas, além de veículos blindados da Marinha.

Os traficantes se instalaram há três décadas nos morros cariocas,


beneficiados pelo descaso do governo. O Comando Vermelho, facção
criminosa que dominava o Complexo do Alemão, surgiu nos anos 1970
em presídios cariocas. O governo agora deve estender as ocupações
para outras favelas, inclusive aquelas dominadas por milícias – grupos
paramilitares formados por policiais.

Saiba mais

• Rio de Janeiro: violência, jogo do bicho e narcotráfico segundo uma


interpretação (Revan): Helio de Araújo Evangelista estuda a criminalidade no
Rio de 1980 a 2000, explicando como o Estado deixou de exportar tendências
para inspirar medo.
• Criminalidade no Rio de Janeiro (Revan): pesquisa do jornalista Wilson Couto
Borges sobre a mudança de políticas de segurança, com emprego das Forças
Armadas no combate ao tráfico, a partir da Operação Rio.
• Abusado: o dono do morro Dona Marta (Record): livro-reportagem do jornalista
Caco Barcellos que conta a vida do traficante Marcinho VP, integrante do
Comando Vermelho morto em 2003 no presídio.
• Cidade de Deus (2002): filme dirigido por Fernando Meirelles sobre jovens que
disputam o controle do mercado de drogas nos morros do Rio no final dos anos
1970, pouco antes da chegada das facções criminosas.
• Tropa de Elite 1 e 2 (2007 e 2010): filmes dirigidos por José Padilha que relatam
a violência no Rio do ponto de vista de policiais do Batalhão de Operações
Policiais Especiais (BOPE).

*José Renato Salatiel é jornalista e professor universitário

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