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Sexta, 7 de janeiro de 2011, 08h14

Por uma sociologia da Era Lula


Fonte: Terra Magazine

Fernando Borges/Especial/Terra

Lula recebe as chaves da cidade de São Bernardo do Campo

Edmilson Lopes Júnior


De Natal (RN)

No final da década de 1950, Wright Mills, um dos mais brilhantes cientistas sociais
norte-americanos da segunda metade do século XX, chamava à atenção, em uma obra
intitulada A imaginação sociológica, para o fato de que as pessoas tendem a reclamar dos
seus problemas cotidianos buscando causas explicativas no seu entorno imediato. Para
ele, a maioria das não consegue estabelecer relações causais entre os sofrimentos
vivenciados individualmente e as estruturas sociais mais amplas, expressas em tendências
econômicas, dinâmicas demográficas e relações de classes, dentre outras. Ao contrário do
que pensava o grande sociólogo não são apenas as "pessoas comuns" que agem assim.
Ultimamente tem sido essa também essa a reação de muitos dos que se pretendem
analistas do mundo social no Brasil. Em especial quando o objeto de análise diz respeito,
direta ou indiretamente, ao governo do agora ex-presidente Lula.

Na última semana, marcada pela despedida de um presidente com inéditos 87%


de avaliação positiva por parte da população, assistimos ou lemos os nossos "bem
pensantes", especialmente aqueles auto-identificados como "cientistas políticos",
produzindo lugares-comuns e vendendo-os como análises científicas. Nestas, via de regra,
a popularidade do ex-presidente resultaria de sua "capacidade de comunicação", dos
ventos favoráveis da economia internacional e do Programa Bolsa-Família. Platitudes e
lugares-comuns substituem, assim, a necessidade de perscrutar com mais rigor a
realidade.
Poucos analistas se preocuparam em produzir alguma explicação para o
espantoso fato de que a popularidade do ex-presidente tenha ocorrido concomitante a uma
das mais agressivas reações dos principais órgãos da imprensa nativa a um Presidente da
República. Para usar surrado bordão, nunca antes na história deste país um mandatário foi
tão hostilizado, quando não ridicularizado, como o Lula durante os últimos oito anos.

Como o bolsa-família, o Prouni e as políticas de micro-créditos, dentre outros


instrumentos de transferência de renda, não atingem, nem de longe, aquele contingente
populacional que, a cada nova pesquisa, identificava o Governo Lula como "ótimo" e
"bom", restou aos "bem-pensantes" apelar para o velho preconceito de classe: os "de
baixo" não teriam muito apreço pela ética. Ou pelas instituições democráticas.

Houve quem chamasse a atenção para o "carisma" do ex-presidente. Mas este foi
definido como uma característica pessoal. Mesmo gente que citava Max Weber, autor de
célebre elaboração sobre a "dominação carismática", esquecia que, para o pensador
alemão do início do século, carisma, na vida política, é um fenômeno relacional, não uma
particularidade desse ou daquele indivíduo. Analisar os motivos e reações dos
"seguidores" do líder supostamente "carismático" é sempre o exercício mais importante.
Exatamente o que era apenas superficialmente tocado.

Os "bem-pensantes" esqueceram as pessoas. E estas, ao contrário do supõem os


que se alimentam dos próprios preconceitos que secretam, são reflexivas. Fazem
comparações e escolhas. Entre um lado que fazia discursos "em defesa da ética", mas
ainda ontem praticara uma selvagem "privataria", e o lado que apresentava políticas
sociais que tiraram 15 milhões da pobreza, incluíram milhares de jovens no ensino
superior e provocaram um positivo curto-circuito em economias locais de recantos
esquecidos desde sempre, as pessoas escolheram o segundo.

Novos atores entraram em cena. Tornaram-se visíveis. Mais do que isso, cidadãos.
E, em conseqüência, também consumidores. Abarrotaram as ruas de comércio popular,
mas também os shoppings e os aeroportos. Não poucos ficaram incomodados com essas
novas companhias nos seus espaços. Afinal, "praias" durante tanto tempo exclusivas
foram "invadidas".

O incômodo de alguns setores tradicionais ante a emergência desses novos


cidadãos alimentou a narrativa preconceituosa dominante na imprensa. Os bem-pensantes
contribuíam com suas "análises" a respeito do "populismo". Os menos sofisticados falavam
em "bolsa-esmola"...

Passado o vendaval das fortes emoções provocadas pela presença de Lula no


centro do palco, é tempo de se produzir uma rigorosa e crítica sociologia da "Era Lula".
Quem desejar assumir essa tarefa deve se lembrar de um alerta, formulada há décadas
por outro grande cientista social, este brasileiro, que apontava a necessidade de
superarmos análises que apenas "arranham a superfície" dos fenômenos. Refiro-me a
Florestan Fernandes, alguém que desdenhava, com ironia corrosiva, o mundo pintado
pelos bem-pensantes.
Edmilson Lopes Júnior é professor de sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN).

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