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Formosa és
Memórias do internato
Natal – 2009
T229c Tavares, Clotilde. (1947- )
Formosa és: memórias do internato.
Natal: Engenho de Arte, 2009.
150 p.
1. Literatura brasileira
2. Memória
3. Bom Conselho-PE
CDU 869.0(81)
“Escrever memórias é um ajuste de contas do eu
com o eu, e é ilícito mentir a si mesmo.”
Pedro Nava
Formosa és, Rainha Imaculada,
Fragrante lis, aurora divinal.
Se os olhos meus um dia te olvidarem,
Ó Mãe, então, recorda-te de mim.
Os preparativos 11
Arquitetura franciscana 50
Internas e órfãs 64
Freiras e frades 73
Pecados e dúvidas 81
O pastoril 115
A morte da Fé 136
Epílogo 148
Agora conto tudo
1
Nasci em 14 de dezembro de 1947. Por isso, durante todo o
ano de 1955 eu tinha sete anos, completando oito anos
somente no fim do ano. Esclareço isso porque eu mesma me
confundo com as datas sempre que vou escrever sobre minha
vida.
com cinco anos e Pedro com apenas um ano e
meio de idade, a quem ela ainda amamentava.
O fogão a carvão.
Meus pais: Nilo Tavares e Cleuza Santa Cruz
Tavares, na época em que fui para o internato.
Disciplina, fome e
pancadas
E nós:
- Macaco!
Isso queria dizer que novamente a banana
estaria sendo servida. As mais atrevidas, as
maiores, reclamavam das freiras:
Capela, altar-mor.
O parlatório.
Ou então:
- Cadê o grilo?
- Tá lá atrás!
- Cação é um peixe...
E Irmã Cação:
- Outra! Outra!
E não ia mesmo.
- Têm, Clotilde.
- E é igual ao meu?
- Igualzinho.
- Tem, sim.
E eu, cá comigo:
2
Mudei os nomes dessas meninas, para preservar sua imagem.
Eram crianças também, como eu, não tinham culpa do seu
comportamento.
Além de passar uma meia hora trancada no
tenebroso e escuro esconderijo até que alguém me
encontrasse e de ter ficado com a farda toda suja,
ainda levei uma surra de bolos da minha tia por ter
“deixado a marca dos meus dentes e das minhas
unhas no rosto e nos braços da filha do usineiro”.
E enquanto os bolos eram despejados na palma
das minhas mãos, eu engolia o choro, trincava os
dentes e dizia mentalmente:
E mamãe:
Eu levantei o braço.
(...)
As pastoras cantavam:
Borboleta pequenina
Saia fora do rosal
Venha ver cantar o hino
Hoje é noite de Natal.
Aí eu entrava:
Azul é o céu
Azul é o mar
Azul é a rainha
Que nós vamos coroar!
É de meu gosto
É da minha opinião
De amar sempre o azul
Com prazer no coração
É de amar, sempre o azu-ul,
Com prazer no coração!
É do meu gosto,
É da minha simpatia
De amar o encarnado
Com prazer e alegria
É de amar o encarnado,
Com prazer e alegria!
Eu perguntava:
Na Cidade Garanhuns
Um triste fato se deu
Um padre matou o Bispo
O mundo se comoveu
Leiam aqui a triste história
E gravem bem na memória
Como foi que aconteceu.
(...)
E assim o foi.
EPÍLOGO