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Abstract
This article discusses the importance of work in people’s lives, assuming there is no end
to this controversy. Contrary to presumptions, work is not a receding social category. In
the framework of a knowledge-intensive society (relative surplus value), beyond the old
society in which physical labor prevailed (absolute surplus value), it would seem that pe-
ople work less, increasingly less. This is true only in a certain sense – for high-level work.
For the vast majority, work is an inescapable desideratum; in such a way that the more
time available, the more work is done – and generally only to survive. Work is not the
meaning of life, but it is an integral part of it. Hence, it is still key to take into account
that a life of alienation, such as Marx would put it, is a life of alienated labor.
Keywords: Work; Labor; Immaterial Work; Knowledge; Value; Concept; Self-realization;
Political Theory.
Coloquei um ponto de exclamação como única atividade que produz condição – de dirimir a polêmica. Meu
no título para indicar que se trata de valor, naquele sentido próprio da intento é apenas repor a discussão
uma hipótese polêmica de trabalho, metade do século XIX (Negri/Hardt, com outro contexto, tendo como
não de pretensa certeza. Não 2004)3. O trabalho produtivo é um um dos objetivos fundamentais a
recupero aqui a “ética do trabalho”, tipo de trabalho, ademais de não ser valorização do trabalho na vida
de sentido nórdico, como imaginava correto identificar trabalho produtivo humana (Antunes, 2000; 2005)4. Ao
Weber (2004)1, por exemplo, mas com trabalho capitalista. Quando contrário do que se propala, numa
retomo a noção original marxista do o ser humano descansa, pensa, se visão eurocêntrica desabrida, trabalho
trabalho como categoria fundante da diverte, também trabalha... Aquela não vai desaparecendo na vida das
sociedade, no sentido de que poderia célebre metáfora da abelha que pessoas hoje, por mais que ciência
ser, pelo menos até certo ponto, a trabalha incansavelmente, mas sem e tecnologia permitam reduzir horas
categoria que mais poderia unificar previsão e planejamento, comparada de trabalho produtivo mercantilizado,
a sociedade em torno de objetivos ao trabalho humano consciente, não só porque, saindo do local de
comuns (Gorz, 2005)2. As razões sinaliza horizontes pertinentes de trabalho, continuamos trabalhando,
marxistas precisam ser revistas, até análise, mas seria esdrúxulo assumir muitos de modo forçado sob o peso
porque o trabalho não pode ser visto que trabalho é apenas atividade do assim dito trabalho precário,
consciente, planejada, organizada. como também porque, se respirar
As oito horas de sono por dia são também é trabalhar, quando cessa esta
trabalho, o trabalho que o corpo, de habilidade, cessamos! Ainda assim,
* PhD em Sociologia pela Universidade de
Saarbrücken, Alemanha, 1967-1971, e pós- modo inconsciente ou subconsciente, não se quer consagrar o trabalho
doutor pela University of California at Los realiza para manter-se. Talvez a como tudo na vida, porque vida é
Angeles (UCLA), 1999 - 2000. Prof. Titular da noção de “valor” pudesse ser refeita: muito mais. Quando uma categoria
Universidade de Brasília (UnB), Departamen- trabalho é toda atividade humana analítica pretende explicar tudo, tende
to de Sociologia (Mestrado e Doutorado em
que gera algum valor, não apenas a não explicar nada. Defendo apenas,
Sociologia). Site: http://pedrodemo.sites.uol.
com.br/. E-mail: pedrodemo@uol.com.br. monetário, mercantil, mas vital, como já fiz uma vez (Demo, 1999)5,
material ou imaterial. Muita polêmica! que é preferível ver o trabalho com
Não tenho qualquer pretensão – nem bons olhos...
Recebido para publicação em 08/02/2006.
Riqueza
trabalho acumuladas, deixa de ser como regra, funda-se na pilhagem
mensurável, tornando-se cada vez do bem comum e no desmonte da
mais imaterial. A criação do valor coletividade, produzindo miséria
em vez de prosperidade e impondo
das mercadorias passa a depender
muito mais deste componente
deveria ser o como riqueza a concentração
comportamental e motivacional,
exercitado permanentemente por
bem comum mercantilizada de bens privadamente
apropriados. Riqueza deveria ser
processos sempre reavivados de enriquecido em o bem comum enriquecido em
nome de todos, com base no saber
aprendizagem reconstrutiva, em vez
do tirocínio aí despendido. Em geral, nome de todos, pensar coletivo. É isso que buscam
tais fatores são compreendidos como os movimentos antiglobalização,
“capital humano” das empresas. com base no quando reagem, já violentamente,
Segundo Gorz38, uma vez desfeitas ao desmonte da coletividade, à
as relações salariais convencionais, o saber pensar modernização predatória dos países
em desenvolvimento, à privatização
modo como o capital regula os seres
humanos tomou outra configuração:
coletivo. do saber, do conhecimento e do bem
os empregados são forçados a se comum. Entre seus ativistas, Gorz
conceberem como empresários destaca os hackers, por atuarem na
de si mesmos, dando conta, por “esfera mais importante para o capital :
iniciativa própria de aprendizagem a esfera da produção, disseminação,
é que o conhecimento se torna socialização e organização do saber”41.
ilimitada, da concorrência. A pressão
bem comum acessível a todos. São os dissidentes do capitalismo
da concorrência é respondida
Assim, uma economia autêntica do digital, oferecendo à coletividade, com
pela habilidade potencializada ad
conhecimento poderia corresponder freqüência, softwares mais criativos e
infinitum de cada empregado, na
a um tipo de comunismo do saber, nisto confrontando-se abertamente
condição de capital humano da
no qual relações monetárias e de com o monopólio capitalista. Aparece
empresa, o capital propriamente
troca seriam dispensáveis. Para evitar neles a criatividade desimpedida
criativo e alternativo. Em vez do
esse efeito igualitário, o capitalismo capaz de sinalizar, pelo menos numa
trabalhador que depende do salário,
impõe a apropriação privada do parte deles, um estilo alternativo de
entra em cena o empresário de sua
conhecimento, tornando-o escasso, sociedade mais livre e cooperativa.
própria força de trabalho, garantindo
à revelia do fato de não poder ser Uma verdadeira sociedade do saber
ele mesmo sua formação permanente.
manipulado como mercadoria. Seus seria igualitária. “Em contraste com as
No lugar da exploração, entra a “auto-
custos de produção, freqüentemente, concepções correntes, o saber aí não
exploração e a autocomercialização
não podem ser determinados, seu aparece como um saber objetivado,
do ‘Eu S/A’, que rendem lucros às
valor mercantil não coincide com composto de conhecimentos e in-
grandes empresas clientes do auto-
tempo de trabalho gasto em sua formações, mas sim como ativi-
empresário”39.
criação. Monopolizar o conhecimento dade social que constrói relações
O aproveitamento capitalista
é a saída do capitalismo, criando comunicativas, não submetidas a
do conhecimento se faz pela via
artificialmente a escassez, subsumindo- um comando”42. Embora me pareça
do saber “morto”, objetivada em
O
incomensurável, embalado hoje pelas
ser competitiva, deve reduzir ainda mais
o trabalho vivo e ampliar sua dimensão novas tecnologias representadas pelo
tecnocientífica, o trabalho morto, cujo computador e a nova mídia. Mudam
resultado não é outro senão o aumento
da informalidade, da terceirização,
trabalho mais fortemente as condições de trabalho,
em especial por conta do trabalho
da precarização do trabalho e do
desemprego estrutural em escala global.
profundo do virtual. O que está em jogo é a
inovação criativa permanente, aquela
E, ao apropriar-se da dimensão
cognitiva do trabalho, ao apoderar-se
ser humano é a de teor semântico interpretativo,
autopoiético. Força bruta é bem
de sua dimensão intelectual, os capitais habilidade de menos importante do que habilidades
ampliam as formas e os mecanismos da
geração do valor, aumentando também fazer-se sujeito de mentais. Inovar, sobretudo inovar-se,
é condição crucial de realização e de
os modos de controle e de subordinação
dos sujeitos do trabalho, uma vez que história própria, auto-realização. Se daí poderia surgir
se utilizam de mecanismos ainda ‘mais uma sociedade alternativa, tipicamente
coativos, renovando as formas primitivas construir sua igualitária, é promessa a ser verificada.
de violência na acumulação, uma vez
que – paradoxalmente –, ao mesmo autonomia relativa, De todos os modos, o saber pensar,
advindo de um equipamento comum
tempo, as empresas necessitam cada vez
mais da cooperação ou ‘envolvimento’
arquitetar mundos que todo ser humano possui (cérebro
e sentidos), poderia ser assumido
subjetivo e social do trabalhador'
(Antunes, 2005)58.
alternativos. como patrimônio comum, fora da
lógica abstrata da mercadoria. O
mercado capitalista tenta aprisionar
A classe trabalhadora se expande, esta energia indomável, disruptiva
embora reestruturada. “Ao contrário, para lucro próprio e também porque
portanto, do fim ou da redução de teme o questionamento (Collins/
relevância da teoria do valor-trabalho, de recuperar o liberalismo americano Pinch, 2003; Gandelman, 2004)61. Por
há uma qualitativa alteração e de empurrar, a ferro e fogo, os isso parte o saber pensar em duas
ampliação das formas e mecanismos pobres para o mercado, até porque metades esquizofrênicas: fica com a
de extração do trabalho” 59 . O esta pressão supõe o que não existe: qualidade formal, reprime a qualidade
neoliberalismo perdeu toda condição emprego decente à vontade. Trata-se política.
de dar conta da inserção maciça da de alcançar que as pessoas consigam Quem
população ativa no mercado, porque auto-sustentar-se como proposta mais inventar
sua lógica competitiva globalizada digna de vida. um traba-
se posta avessa completamente. Os Ao mesmo tempo, há que alargar lhador crí-
empregos escasseiam. Trabalhar mal os horizontes positivos do trabalho, tico, mas não
vai se tornando a tônica, em especial em especial do trabalho imaterial. autocrítico.
para a multidão desqualificada. Pleno Embora as idéias de Gorz (2005)60 O trabalho
emprego é balela. Mas é desta balela pareçam, por vezes, mirabolantes, mais profundo
que imensas populações correm atrás. sinalizam outros questionamentos do ser humano é