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São Luís
2009
2
São Luís
2009
3
Aprovada em: / / .
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________
Prof. Dr. Paulo Roberto Rios Ribeiro (Orientador)
Faculdade São Luís
_________________________________________
1.º Examinador
_________________________________________
2.º examinador
4
AGRADECIMENTOS
À minha família, meu avô, que é o melhor ser humano que eu conheço e que sempre
incentivou a sua terceira geração a ser melhor sempre. A meu pai, arrimo de família, a
integridade e honestidade em pessoa. Minha mãe, sempre nos ajudando. À minha madrinha,
Socorro Mota, que sempre acreditou no meu sucesso e no meu avanço profissional. Muito
obrigada.
Aos Professores Paulo Rios e Larissa Leda, pela maravilhosa orientação e direção
neste trabalho. Agradeço a paciência, dedicação e sinceridade.
AGRADECIMENTOS
Aos meus professores, devo meu conhecimento e discernimento. Com suas aulas
e conselhos, contribuíram para a construção do meu senso crítico e profissional. No decorrer
de minha vida na faculdade, tive que fazer uma escolha difícil, mas necessária - abandonar
meu emprego fixo para me aventurar no campo de estágio do jornalismo. Hoje vejo que se
não tivesse decido assim, não seria tão apaixonado pela minha profissão como sou agora.
Sinto-me privilegiado pelas amizades que adquiri nos estágios, em especial nas
empresas: Colégio O Bom Pastor, Futura Produções, Serviço Social do Comércio – SESC,
Instituto Trabalho Vivo, Grupo Santa Fé e SENAI. Toda essa caminhada me ensinou a ser
ético e responsável e o exercício da comunicação social trouxe uma imensa gratificação por
poder exercer minha contribuição em prol da sociedade.
Agradeço aos meus irmãos na vida André Rabelo, André Ramos, Rafaela Lima,
Paulo Junior, Mauricio Araya, Alice Albuquerque, Jackson Douglas, Diego Torres, Graci
Ataíde e Leilane Fonseca. Sem vocês ao meu lado, não suportaria esta caminhada cheia de
escolhas difíceis em que abdico da presença de quem realmente gosto em detrimento da
conquista do meu sonho. Uma batalha que começou há três anos e que agora posso dizer
obrigado por tudo.
7
Cláudio Abramo
9
RESUMO
Este trabalho é uma análise da veiculação de notícias publicadas nos jornais O Estado do
Maranhão e Jornal Pequeno sobre a candidatura e eleição de José Sarney à presidência do
Senado Federal. Tem o objetivo oferecer uma contribuição acadêmica para o aprofundamento
teórico dos estudos que abordem a realidade maranhense e o papel desempenhado pela mídia
nos processo de formação da opinião. A análise segue de acordo com os padrões de
manipulação adotados pela mídia segundo o jornalista Perseu Abramo, no discurso
empregado nas matérias publicadas sobre o assunto no período de 23 de janeiro a 04 de
fevereiro. Além da interpretação do discurso, estas matérias são classificadas quanto o seu
padrão de manipulação e confrontadas quanto à suas linhas de pensamento. Os padrões de
manipulação de Abramo são detalhados para um melhor entendimento do assunto. A posição
política dos jornais, bem como suas linhas editoriais, também é apresentada como
direcionamento.
ABSTRACT
This paper is an analysis of published articles on the newspapers O Estado do Maranhão and
Jornal Pequeno about the candidature and election of José Sarney to the Presidency of the
Senate. It has the objective to offer an academic contribution to the theoretical studies that
approach the local reality and the function developed by the media in the process of forming
opinion. The analysis follows the manipulation patterns adopted by the press according to the
journalist and sociologist Perseu Abramo, related to the speech used on articles published
from January 23rd to February 4th, 2009. Besides the interpretation of speech, these articles
are classified on their manipulation patterns and compared on their way of thinking. Perseu
Abramo‟s manipulation patterns are detailed for a better understanding of the matter. The
newspapers‟ political views, as well as their editorial line, are also presented as guidelines.
SUMÁRIO
p.
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 13
REFERÊNCIAS 66
ANEXOS 71
13
1 INTRODUÇÃO
A pesquisa está referida na terceira parte deste trabalho. É feito o histórico dos
jornais O Estado do Maranhão e Jornal Pequeno, para que seja possível aprofundar o
conhecimento dos objetos de estudo, estabelecendo-se, assim, uma melhor compreensão da
sua posição dentro da imprensa e da política local. A comparação e análise dos objetos
procura observar a construção textual de ambos, além de classificá-los dentro dos padrões de
14
1
MIGUEL, Luis Felipe. Dossiê Mídia e Política. grifo suprimido. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/rsocp/n22/n22a02.pdf Acesso em: 21 mai. 2009.
2
Idem.
16
divulgação na mídia e outros, não. Porém, não se pode afirmar que a política perdeu a sua
função ou esteja completamente tomada pelas ações midiáticas. Miguel afirma que
As relações entre mídia e política são bem mais complexas. Partidos e redes
tradicionais de apoio, ainda são, em geral, indispensáveis para o êxito em uma
disputa eleitoral. O discurso político, por mais que precise adaptar-se aos meios em
que transita, ainda guarda suas marcas de distinção em relação àquele comumente
veiculado pela mídia, como um vocabulário mais elaborado, signo de uma pretensa
competência. A pauta da mídia fixa a agenda pública, mas muitas vezes os agentes
com maior capital político são capazes de orientar o noticiário. A gestão da
visibilidade é uma tarefa política central, mas nem toda a política é visível – uma
parte significativa dela continua ocorrendo nos bastidores. (MIGUEL, 2004, p. 9).
Abramo (1998, p.14), coloca seis pontos comuns entre o órgão de comunicação e
os partidos políticos. São eles:
3
Uma das teorias clássicas do jornalismo, A Teoria do Gatekeeper diz que o processo de seleção da notícia passa
pelos critérios de quem possui o „poder‟ de publicá-la.
4
A Teoria do Agendamento ou Teoria da Agenda Setting defende a idéia que os leitores são consumidores de
notícias e, por isso, possuem a visão direcionada para o que a mídia expõe.
19
arbitrária e que não corresponde aos vínculos reais, mas a outros ficcionais e
artificialmente inventados. (ABRAMO, 2003 p.27).
Perseu afirma que a seleção das notícias chega até mesmo a possuir um
significado antagônico, criando artificialmente outra realidade:
Salomão apud Breed (1955)5 afirma que as notícias são escolhas, mas não são
escolhas individuais do jornalista. De acordo com a Teoria Organizacional6, são escolhas
feitas pelo veiculo de comunicação para o qual o jornalista trabalha. Para Breed, o
comunicólogo se conforma mais com regras impostas pela política editorial da empresa do
que com suas crenças pessoais.
Abramo também defende que as notícias são utilizadas para impor visões
particulares do mundo, criando uma falsa realidade, o que pode ser remetido também a Teoria
da Ação Política7.
5
SALOMÃO, Mozahir. Os constrangimentos organizacionais no jornalismo. Disponível em:
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=283IMQ002. Acesso em: 17 de março de 2009.
6
A Teoria Organizacional explica que toda notícia é apenas uma das versões dos fatos e nunca uma versão
definitiva do acontecimento.
7
A Teoria da Ação Política diz que as mídias são instrumentos de visão política e defende que o posicionamento
das notícias são distorções sistemáticas, que servem a interesses políticos de agentes sociais.
20
“Toda mídia trabalha sobre nós de uma forma total. Esses meios são tão intensos em
suas conseqüências pessoais, políticas, econômicas, estéticas, psicológicas, morais,
éticas e sociais que não deixam nenhuma parte nossa intocada, não afetada,
inalterada. O meio é a mensagem. Qualquer compreensão sobre mudanças sociais e
culturais é impossível sem um conhecimento do modo como a mídia funciona como
contexto”.
O DEM – Democratas, extinto PFL – Partido da Frente Liberal, deu total apoio a
candidatura do senador José Sarney (PMDB-AP) como nome forte para vencer a disputa
contra o senador Tião Viana (PT-AC) pela presidência do senado. O DEM firmava alianças
em outros estados junto ao PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira - visando
aumentar numericamente a sua bancada de deputados. O PSDB só apoiaria a candidatura de
Sarney se o PMDB apóia-se a candidatura de José Serra ao Palácio do Planalto. No dias finais
da eleição o PSDB decidiu apoiar o candidato Tião Viana.
8
PMDB domina Congresso e quer vaga de vice para 2010. Disponível em:
http://www.sistemaodia.com/noticias/pmdb-domina-congresso-e-quer-vaga-de-vice-para-2010-9665.html.
Acesso em: 22 mai. 2009.
22
9
José Reinaldo tenta reconstruir Frente de Libertação. Disponível em:
http://www.oimparcialonline.com.br/noticias.php?id=7142. Acesso em: 22 mai. 2009.
23
colocada nas eleições de 2006, Roseana Sarney (PMDB) e o ex-senador João Alberto
(PMDB) assumiram o cargo do governador cassado.
10
Partidos acusam Roseana de infidelidade partidária. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2009-abr-
25/pt-psdb-psb-entram-recurso-tse-tirar-roseana-governo. Acesso em: 22 mai. 2009.
11
The Economist é uma revista semanal inglesa sobre assuntos e notícias internacionais. Disponível em:
http://www.economist.com/world/americas/displaystory.cfm?story_id=13062220. Acesso em: 22 mai. 2009.
24
Costa12 (2008. p. 4) afirma que José Sarney começa a fazer parte do quadro de
sócios do Jornal do Dia após apoio dado a ele pelo veiculo de comunicação impresso à sua
candidatura ao governo do Estado do Maranhão:
Aboud entrou no ramo da imprensa por pura conveniência política, pois julgava que
para executar um projeto político e alcançar a vida pública precisava de um veículo
12
Artigo As origens do Jornal O Estado do Maranhão, publicado por Ramon Bezerra Costa e apresentado no
GT – Jornalismo e Produção Editorial, do Iniciacom, evento componente do X Congresso de Ciências da
Comunicação na Região Nordeste.
25
Em 1968, Alberto Aboud vende o Jornal do Dia para o grupo político pertencente
a José Ribamar Marão. Em novembro de 1968, José Sarney adquire as ações pertencentes a
José Ribamar Marão, 50% do total do periódico impresso. Os outros 50% pertenciam ao
grupo formado por Clodomir Millet e Nunes Freire, aliados de José Sarney no governo do
Estado. Sarney posteriormente adquire a outra metade, tornando-se proprietário do jornal.
Como tradição no meio jornalístico impresso na sociedade maranhense, todo jornal existente
no referido período tinha um caráter essencialmente político. Hoje, o jornal O Estado do
Maranhão compõe o Sistema Mirante de Comunicação, de propriedade da Família Sarney,
juntamente com três emissoras de televisão afiliadas a Rede Globo e seis emissoras de rádio.
Em entrevista a Paulo César D‟Elboux14, Sarney afirma: “Eu criei o jornal porque
eu tinha que ter um instrumento político (...). O jornal não era de empresário, não era um
negócio que nós estávamos precisando, era uma inspeção do processo político”. (D‟ELBOUX
apud COSTA, 2008, p.5). De acordo com o 5º parágrafo do artigo 220 do 5º capítulo da
Constituição de 1988, os meios de comunicação não podem servir direta ou indiretamente
como objeto de monopólio ou oligopólio, o que acontece com o atual Sistema Mirante de
Comunicação, que tem o mesmo proprietário para diversas mídias.
No dia 02 de fevereiro de 2009, José Sarney de Araújo Costa (PMDB-AM) foi
eleito presidente do Senado Federal do Brasil.
13
O Portal Imirante é parte do Sistema Mirante de Comunicação. Informação Disponível em:
http://imirante.globo.com/oestadoma/paginas/conhecendo.asp. Acesso em: 26 de abril de 2009.
14
Trecho da Entrevista de José Sarney a Paulo César D‟Elboux em 18 de dezembro de 2002. (D‟ELBOUX apud
COSTA, 2008, p.5)
26
O Jornal Pequeno foi criado pelo jornalista José de Ribamar Bogéa que, aos 12
anos, precisou trabalhar numa tinturaria para ajudar sua família. Ao final de seu dia de
trabalho, ia para a redação do Jornal O Globo, onde sempre observava os editores.
15
O Jornal. Disponível em: http://imirante.globo.com/oestadoma/paginas/conhecendo.asp . Acesso em 22 mai.
2009.
16
Disponível em: http://www.piratininga.org.br/artigos/2004/01/araujo-jornalpequeno.html. Acesso em: 26 de
abril de 2009.
27
Bogéa faleceu no ano de 1996, deixando o jornal para seu filho, Lourival Marques
Bogéa, que é o atual chefe do Jornal Pequeno. Hilda Bogéa, esposa de Ribamar, é quem ainda
hoje orienta o jornal. Lourival fez mudanças importantes, como transformar o sistema de
impressão de tipográfico para offset, fazer a página policial ficar mais informativa e adquirir
um caráter político de combate frontal ao grupo de José Sarney.
17
Disponível em: http://www.guesaerrante.com.br/2006/5/31/Pagina732.htm. Acesso em: 27 de abr. de 2009.
18
Informações retiradas da entrevista de Lourival Bógea concedida ao Portal AZ. Disponível
em:http://www.portalaz.com.br/noticia/maranhao/103558_diretor_do_jornal_pequeno_lourival_bogea_desabafa
_contra_a_familia_sarney.html. Acesso em 27 de abril de 2009.
28
19
Em 2006, a candidata Roseana Sarney (PFL), filha de José Sarney, perdeu a eleição do governo para Jackson
Lago, o que mudou a angulação das noticias do periódico para ataques diretos ao governador eleito.
29
vez de trabalhar pelo estado, ele vem para Brasília fazer a baixa política, a
politicalha. Conversei hoje (ontem) com vários senadores do PDT e senti a grande
admiração deles por Sarney”. (O ESTADO DO MARANHÃO, 2009, p.2).
Tal prática é definida como padrão manipulação de inversão da versão pelo fato,
pois, o que podemos observar foi o emprego da ideologia dos comandantes do periódico
impresso de propriedade da família Sarney, como tentativa de influenciar a opinião pública
através do uso do frasismo, tendo as declarações de Escórcio como base para a linha editorial
do jornal.
Mas o que chama atenção e predomina como uma manipulação do real é que o
foco em questão foi fragmentado – cabendo, assim, também classificar a matéria dentro do
padrão de fragmentação - e mudou da possível candidatura do senador José Sarney, para
críticas a administração pública do governador Jackson Lago. Tal direcionamento acarreta
como uma indução, pois o assunto principal foi utilizado somente como plano de fundo a
ataques pessoais e brigas políticas.
O Jornal Pequeno, por sua vez, tem como notícia principal do dia 23 de janeiro
que Garibaldi diz que denúncias contra filho de Sarney não prejudicam peemedebistas. Na
30
matéria, é declarado que o Senador Garibaldi Alves (PMDB – RN) teria minimizado as
denúncias existentes contra Fernando Sarney, filho de José Sarney. O texto é repleto de
acusações a Fernando Sarney e de declarações que Garibaldi teria dado à imprensa,
acompanhado também de uma foto do Senador, que tem como legenda a frase Garibaldi
Alves torce para que Sarney saia do páreo. Entretanto, em nenhum momento da matéria é
apresentada alguma declaração de Garibaldi confirmando esta afirmação.
Além da matéria citada anteriormente, o Jornal Pequeno ainda publica mais duas
matérias relacionadas ao tema. São elas: Por Serra, oposição apóia Sarney no Senado e
Julião Amin põe pingos nos „is‟: Sarney sempre usou o Maranhão e o PMDB como moeda de
troca.
Serra (PSDB-SP) ao Palácio do Planalto, induzindo o leitor por também relembrar fatos sobre
José Sarney, como o Caso Lunus.
A matéria publicada no Jornal Pequeno que tem como título Renan busca votos
para Sarney dentro de um PMDB rachado, foi feita pela equipe da Folha Online e não pela
equipe de jornalismo do Jornal Pequeno. A ênfase dada a Renan Calheiros entra em consenso
com o editorial, focalizando em fatos de uma época em que ele estava em evidência por
32
corrupção. Destaca-se o padrão de ocultação, por ter sido retirado o fato realmente jornalístico
e o padrão de indução, pelas lembranças da época Sarney.
Uma última matéria publicada neste dia segue o padrão de inversão da opinião
pela informação, com um uso exagerado de frasismos, do padrão de inversão da forma pelo
conteúdo, já que o texto está numa posição de maior importância do que a informação que ele
quer noticiar, e do padrão de indução. Sarney: sem consenso e sem Lula, escrita por Haroldo
Sabóia20, afirma que Sarney está numa posição delicada após o presidente Lula não apóia-lo
na candidatura ao Senado e por não ser o preferido do presidente.
Otacílio (2005, p. 196), sobre a discussão sobre ideologias nos discursos políticos
relata que:
A matéria publicada e intitulada Jackson Lago age como bobo nas eleições do
Senado, diz Gastão, é uma espécie de resposta a declarações de Jackson Lago, assumidamente
contrário à possível eleição de José Sarney ao comando do Senado. Na notícia, ao exemplo do
que ocorre no dia 23 de janeiro no mesmo jornal ao publicar declarações na íntegra do ex-
senador Francisco Escórcio, as declarações de Gastão Vieira resumem o trâmite político que
20
Haroldo Sabóia foi Constituinte em 1988.
33
acontece entre os partidos envolvidos na disputa/briga existente entre o PDT de Jackson Lago
e o PMDB de José Sarney. As opiniões do deputado federal Gastão Vieira são utilizadas
como julgamento e juízo de verdade, caracterizando assim o padrão de inversão da opinião
pela informação.
Gastão Vieira chega a afirmar que José Sarney ganharia naquele dia a eleição para
comandar o Senado, pois o senador do PMDB já teria votos suficientes para vencer a disputa.
Tal declaração pode ser considerada fato-jornalístico, mas o discurso do deputado e a matéria
em questão ocultam a informação que Sarney precisaria de 41 votos para se eleger e que até o
momento José Sarney teria supostamente 34 votos, quantidade insuficiente para vencer. A
declaração de Gastão Viera não está em discussão sobre os padrões de manipulação, mas o
periódico impresso deveria contestar mostrando o quadro atual dos votos. Quando o jornal se
omite, ele oculta a verdade e o leitor não toma conhecimento da realidade. O público é
induzido a acreditar no favoritismo devido à interpretação relatada pelo deputado federal, uma
indução construída pela inversão da versão interpretativa do fato em si.
Ele afirma que o acordo feito entre PT e PMDB não se estende ao Senado. Garibaldi
deixou oficialmente a disputa para apoiar José Sarney (PMBD-AP). Garibaldi
afirmou que o acordo firmado em 2007 que previa um rodízio na presidência entre
PT e PMDB tratava exclusivamente da Câmara. “Não houve reconhecimento de
nenhum acordo e isso não prosperou” afirmou o presidente do Senado. Garibaldi
pretendia disputar novamente a presidência, mas abriu mão depois que o senador
José Sarney anunciou que pretende concorrer ao posto. (O ESTADO DO
MARANHÃO, 2009.p.2).
34
21
O Portal Imirante é parte integrante do Sistema Mirante de Comunicação, de propriedade de José Sarney.
35
obter mais cargos. Usará o poder do cargo para perseguir adversários no Maranhão
e no Amapá e fará a ponte que deseja ou para tentar impor um vice da ministra
Dilma, caso perceba que está em condições de ser eleita ou então para embarcar na
candidatura de José Serra, já que em seus 55 anos de mandato jamais ficou longe de
quem sentou na cadeira de Presidente da República. (JORNAL PEQUENO,
2009).22
notícia publicada não é de autoria de jornalistas do Jornal Pequeno, e sim, de Josias de Souza,
colunista da Folha de São Paulo. Josias defende em seu texto que o PSDB estaria negociando
cargos para fechar acordo com Sarney. Souza afirma que “O PSDB está a um passo de fechar
com Sarney (AP), o candidato do PMDB. Os tucanos exigiram de Sarney três postos. Se
forem atendidos, fecharão as portas para Tião Viana (AC), o candidato do PT. (JORNAL
PEQUENO, 2009. p.3).
Souza também afirma que “Tião já teve duas conversas telefônicas com Serra, que
não se bica com Sarney” (JORNAL PEQUENO, 2009. p.3). Na matéria publicada no dia 23
de janeiro, porém, este mesmo jornal diz que o PSDB fecharia acordo com Sarney em favor
de José Serra. O texto sugere uma negociação de cargos, mas em momento algum o Jornal
explica o porquê da animosidade entre Serra e Sarney, evidenciando, inclusive, que o apoio
viria por parte de Serra, desde que Sarney também cumprisse a sua parte no acordo.
presidente Luiz Inácio Lula da Silva sua desaprovação à idéia do PMDB de comandar as duas
Casas do Congresso” (JORNAL PEQUENO, 2009. p.3), havendo, assim, a possibilidade de
ameaça de boicote à candidatura de Michel Temer. Há uma contradição com o título, que
afirma que a ameaça é contra Sarney. A matéria também diz que os governadores devem
consultar a posição de Lula antes de liberar as bancadas nordestinas, temendo que a eleição de
Sarney fortaleça os grupos regionais do PMDB.
Tomar para si a verdade dos meios de comunicação é um habito das classes que
consomem notícias. Dentro destas perspectivas, a matéria José Sarney garante apoio formal
das bancadas do PTB e do PR induz os leitores de várias formas com o objetivo de consolidar
o favoritismo do senador José Sarney na disputa para a presidência do Senado. É atribuída a
Sarney uma lista detalhada de seus aliados e apoiadores na eleição tratando dos trâmites das
coligações partidárias. O Estado confirma 46 votos para eleição, cogitando mais 13 votos no
decorrer das articulações, totalizando 59 votos contra 12 do senador Tião Viana.
O PSDB perdeu o timing e anunciará hoje apoio a José Sarney (PMDB-AP) quando
seus votos já não são mais decisivos para elegê-lo presidente do Senado. Perdeu a
oportunidade de faturar no papel de noiva. O roteiro está pronto. Para evitar a
imagem de decisões centralizadas na cúpula, o PSDB reunirá hoje sua bancada. O
passo seguinte é tentar afastar a impressão de que a decisão está atrelada a 2010.
Dirá que o apoio foi decidido com base em uma lista de compromissos, como
independência em relação ao Palácio do Planalto, direito de obstrução garantido e
posição contrária a um terceiro mandato para o presidente Lula. (O ESTADO DO
MARANHÃO, 2009. p.2).
Por outro lado, a edição impressa do Jornal Pequeno do dia 28 de janeiro publica
duas notícias sobre a eleição no Senado. Na primeira, o veículo divulga que Blogueiros do JP
manifestam apoio à candidatura de Tião Viana ao Senado. A notícia refere-se a evento já
anunciado no dia 25 de janeiro, quando ainda era apenas uma intenção de apoio a Tião Viana
e sujeita a alterações e sugestões. A matéria pouco utiliza agressões a Sarney em seu discurso
e aproveita o espaço para transmitir a notícia como aconteceu. As agressões típicas das
notícias do veículo, apesar de em menor quantidade no texto, ainda existem nas frases de
represália, que afirmam que
A mesma notícia também traz uma carta aos blogueiros, vinda do candidato Tião
Viana, que expressa sua gratidão pelo apoio e relembra o papel do Senado, de “efetivar
medidas imprescindíveis à modernização do país, como a reforma política e tributária, e a
criação de uma agenda ambiental que garante nossa soberania sobre a Amazônia e a
sustentabilidade do seu desenvolvimento”. (JORNAL PEQUENO, 2009. p.3). Ao final de sua
carta, o Senador diz que a atividade política do país está sendo prejudicada por velhas
oligarquias, se referindo a Sarney. Apesar de o discurso de Viana ter ligação com o texto e
não apresentar palavras de baixo calão e agressões verbais, está de forma coerente à linha
editorial do jornal e não foge dos padrões de manipulação, já que o veículo utiliza a
declaração de Viana como oficial em relação ao fato, classificado, assim, como oficialismo.
Pode-se também classificar a notícia dentro do padrão de inversão da relevância dos aspectos,
tendo “o acessório e supérfluo no lugar do importante e decisivo.” (ABRAMO, 2003. p.29).
A segunda notícia do Jornal Pequeno publicada neste dia parece ser a de maior
coerência nesta análise. O jornal não utiliza seu espaço para agredir verbalmente o senador
José Sarney e nem mostra seu apoio ao senador Tião Viana. A matéria intitulada Partidos
trocam apoio por cargos na Mesa Diretora do Senado fala da disputa de partidos por cargos
em troca de apoio a Sarney ou Viana. São listados os cargos que cada partido pretende
assumir, beneficiando, assim, suas legendas para os próximos dois anos.
Durante toda a semana e períodos anteriores, o nome de Sarney foi cogitado para
disputar a vaga do então senador Garibaldi Alves, mas José Sarney sempre negava tal fato.
Nesta edição, o senador do Amapá declara: “A partir deste momento, eu sou candidato”, (O
ESTADO DO MARANHÃO, 2009.p.2). Visto que campanhas eleitorais nunca começam de
três a quatro dias antes de uma votação e que a briga pela disputa de cargos começa mesmo
42
Sarney declara: “Disseram que eu seria a pessoa indicada para presidir o Senado”.
(O ESTADO DO MARANHÃO, 2009.p.2). O senador joga a repercussão anterior à escolha
do seu nome para afirmações e especulações de terceiros, induzindo e invertendo um caráter
de idoneidade, com o intuito de se resguardar dos planejamentos e acordos já tratados pelo
seu partido através de alianças por promessas de futuros cargos, deixando a responsabilidade
destes acordos aos partidos. Tais fatos já ocorriam em um período anterior à escolha de seu
nome. Ocorreu inclusive, uma ocultação de informações não descritas de qual segmento da
sociedade o estava apoiando como melhor alternativa, induzindo que foi solicitado para uma
missão, com a afirmação:
“Não pude deixar de atender uma solicitação de meu partido”, completou Sarney,
destacando que, além da solicitação da bancada, setores da sociedade consideraram
que ele seria a melhor opção para presidir a Casa... O candidato do PMDB disse que
a partir de agora (de ontem) iria começar a conversar com os colegas de outras
legendas em busca de votos. (O ESTADO DO MARANHÃO, 2009.p.2).
Os acordos já firmados entre partidos são consolidados, mas logo após a definição
dos candidatos, existe uma corrida para firmar novas alianças, a fim de fortalecimento político
partidário e a presença em decisões e cargos de renome da casa. Partidos de oposições
juntam-se a novas bases para garantir o futuro das coligações. Estes referidos acordos não são
tratados de maneira explícita a luz de todos os olhos da sociedade:
O Jornal Pequeno, por sua vez, consolida o seu apoio a Tião Viana e utiliza do
padrão de manipulação por ocultação para publicar a matéria Tião Viana reafirma que não
desistirá de sua candidatura. Em momento algum é publicado um depoimento que reafirme o
título. Ao contrário, o Jornal se prende a mostrar as declarações de fúria de Viana ao saber
que Sarney seria ser candidato, declarando que
Quando ele escondeu a candidatura dele por quatro meses dizendo que não era
[candidato] e agora manda recado por líderes, ele só pode estar pensando que o
Senado é o quintal da casa dele, respondeu Viana, quanto à possibilidade de ser
procurado por líderes de partidos para propor que desista da candidatura petista em
favor de Sarney. (JORNAL PEQUENO, 2009.p.3).
O Jornal Pequeno também publica uma matéria da Folha Online neste mesmo dia,
que contradiz o texto analisado acima e é intitulada Sarney cede a apelos e oficializa
candidatura ao comando do Senado. Nesta, existem declarações de Sarney afirmando que
estaria disposto a enfrentar Viana na disputa pela presidência do Senado, enquanto a matéria
anterior publica declarações de Sarney insinuando uma possível desistência de Tião para que
houvesse uma candidatura de unidade. O teor da matéria é o mesmo da anterior e não se
considera necessária a repetição do assunto no mesmo dia, o que caracteriza também a
pobreza de conteúdo do meio impresso, não buscando por matérias novas.
A quarta matéria publicada no dia 29 de janeiro diz que o PSDB adia decisão
sobre apoio a Sarney ou Tião Viana e está enquadrada nas características do padrão de
ocultação, pois só torna jornalístico o fato de que Viana cedeu às exigências do PSDB, não
levando em consideração que Sarney também o fez. Segundo a notícia, a decisão foi adiada
por causa da carta que foi entregue por Viana a Arthur Virgílio, líder do PSDB. Outra matéria
publicada no mesmo dia afirma, porém, que o PSDB já teria decidido por José Sarney, por
considerarem que uma aliança com Viana os prejudicaria em 2010. A matéria foi escrita pela
Folha Online. Ora, se um veículo de comunicação possui uma linha editorial e deve segui-la,
é inconcebível que erros como este sejam deixados de lado por editores.
A sociedade terá ainda direito de se questionar: qual arma secreta e o poder invisível
que possui o senador Sarney, capaz de derrotar um senador do PT, encurralar o
governo e seduzir os democratas do Brasil, após servir militares, presidir a Arena e o
PDS. Ampliar o seu mandato de quatro para cinco anos em troca de canais de TV e
rádio e deixar o País com a maior inflação da história? A sociedade terá de se
perguntar: quais interesses estão movendo um político com 79 anos, a ponto de fazê-
lo mudar de idéia após negar por três vezes ao presidente da república que não seria
candidato, imitando o Apóstolo Pedro que também por três vezes negou Cristo antes
de traí-lo? (JORNAL PEQUENO, 2009.p.3).
Dutra chega a comparar Lula a Jesus Cristo em seu discurso e Sarney ao apóstolo
bíblico Pedro, o que não é coerente ao discurso e ao contexto histórico o qual ele representa.
O deputado também afirma que Sarney quer presentear o Maranhão a sua filha, Roseana
Sarney, já que ela não ganhou a eleição ao governo nas urnas (JORNAL PEQUENO,
2009.p.3).
estratégica, já que a regra da proporcionalidade das bancadas existe e o partido poderá apelar
para ela na composição da mesa diretora.
Nesta fala, somente uma das vertentes acaba por ser noticiada e, obviamente, a
que favorece o senador Sarney é a que o jornal de sua propriedade irá divulgar. Tais críticas
do senador José Agripino Maia se dão a vontade partidária do PT de comandar o senado e a
presidência da república, mas o líder do DEM se esquece de comentar o favoritismo do
PMDB em relação à câmara e o senado nacional.
encontra-se nas entrelinhas e nos bastidores da política articulada nos corredores da capital
nacional, como é observado na afirmação de Maia:
polêmica à complexa eleição que se definiria dia 2 de fevereiro. O último dia de janeiro no
Senado teve como repercussão o apoio inusitado do PSDB a Tião Viana – os tucanos já
haviam aderido à campanha do senador do Amapá.
A mudança do PSDB a apoiar Tião Viana é tratada com o que Abramo descreve
de uma inversão da relevância dos aspectos, pois o secundário é tratado como principal
(ABRAMO, 2009. p. 29); a notícia em questão seria a mudança repentina do partido que há
dois dias antes apoiava Sarney e resolveu mudar seu posicionamento em relação a Viana. Mas
cada veículo/empresa de comunicação possui linha editorial própria determinada a direcionar
suas reportagens. O que ocorre nesta matéria é um reordenamento dos fragmentos
considerados fatos jornalísticos de acordo com sua relevância. No referido reordenamento,
acontece a recontextualização do sentido, induzindo o leitor a uma determinada realidade e
relembrando que nem sempre pode ser atribuída culpa ao jornalista pela angulação
condicionada pela empresa de comunicação.
“Uma coisa é a disputa em si, que se mantém em alto nível. Outra coisa é esta
tentativa de desqualificação, inaceitável, até por ser o ex-presidente Sarney o que é,
um símbolo da redemocratização do país”, disse o dirigente petista.... “De um lado
temos um ex-presidente, a experiência política de Sarney. Do outro, um jovem
político como Tião Viana (PT-AC), que representa a força da juventude. Os dois
candidatos disputam dentro do mais alto nível. Não há espaços para as intrigas como
as que Domingos Dutra quer fazer”, desqualificou Vigilante. (O ESTADO DO
MARANHÃO, 2009.p.2).
Deve-se destacar que não se trata de dizer que, além da informação, o órgão de
imprensa apresenta também a opinião, o que seria justo, louvável e desejável, mas
sim que o órgão de imprensa apresenta a opinião no lugar da informação, e com a
agravante de fazer passar a opinião pela informação. O juízo de valor é
inescrupulosamente utilizado como se fosse um juízo de realidade, quando não
como se fosse a própria mera exposição narrativa/descritiva da realidade. O
leitor/espectador já não tem mais diante de si a coisa tal como existe ou acontece,
mas sim uma determinada valorização que o órgão quer que ele tenha de uma coisa
que ele desconhece, porque o seu conhecimento lhe foi oculto, negado e
escamoteado pelo órgão.
Tião Viana inspira avanços que a sociedade brasileira reclama. E a sociedade quer
um Senado transparente, ágil, atuante e com a firma iniciativa, especialmente frente
à crise econômica que vive o mundo. Neste sentido, avaliamos que Tião Viana
presidirá esta Casa com os olhos voltados não apenas para o seu funcionamento
interno, para os interesses específicos do Governo, mas para o bem do país.
(JORNAL PEQUENO, 2009.p.3).
Com isso, o padrão de indução também é presente, fazendo o leitor pensar que
Viana é a melhor opção para a presidência do Senado e não deixando o leitor tomar
conhecimento de acordos que também existem entre outros partidos.
Três das quatro matérias publicadas pelo Jornal Pequeno no dia primeiro de
fevereiro são de autoria de agências ou foram encontradas em sites, o que é uma prática
constante do jornal, já percebida em outros dias. As matérias acusam Sarney de negociar
votos e cargos para ganhar a eleição à presidência do Senado e, por lógica, assumem que será
o vencedor. Percebe-se que, com a proximidade do dia de eleição, o Jornal torna mais
agressivo o seu discurso e não mede esforços para destruir a campanha do Senador, buscando,
além de notícias em outros meios de comunicação, palavras de baixo calão para escrever as
atitudes de Sarney. Um dos artigos publicados é de Otávio Cabral23. Ele afirma:
23
Otávio Cabral é colunista da Revista Veja.
51
Sarney fez uma campanha de bastidores usando a mesma fórmula que marcou sua
trajetória ao longo de mais de meio século de política. Prometeu cargos aos que não
têm, assumiu o compromisso de manter os cargos dos que já têm, garantiu um
ambiente de tranqüilidade ao governo e, ao mesmo tempo, assegurou à oposição que
será um presidente independente, como se isso tudo fosse possível. (JORNAL
PEQUENO, 2009.p.4).
Nenhuma das notícias mostra que Tião Viana também cedeu às exigências do
PSDB e que também negocia cargos. Sarney é tido como o grande „vilão‟ do Senado. A
notícia Estratégia de Sarney é distribuir cargos e vantagens de está classificada dentro dos
padrões de ocultação, visto que é evidente que a edição da matéria escondeu o fato e a edição
opera nos antecedentes, nas preliminares da busca da informação, no “momento” das decisões
de planejamento das edições (ABRAMO, 2009, p.26).
A entrevista com Arthur Virgílio, também retirada do Blog de Josias Souza, segue
o mesmo padrão da notícia descrita anteriormente, abusando do oficialismo para tentar fazer
valer a posição da linha editorial do Jornal Pequeno. Em trechos da entrevista Virgílio deixa a
entender que não existem acordos entre Viana e o PSDB quando, ao mesmo tempo, dispara
que as conversas com o peemedebista estavam avançadas. (JORNAL PEQUENO, 2009.
p.24).
Sarney já não teme os holofotes da imprensa, não teme envidraçar-se ou ser o alvo
preferencial dos adversários políticos. Ele precisa de força institucional para salvar o
filho que não sai da mira da Polícia Federal. Presidente do Senado espera, como
52
frisou o deputado Domingos Dutra, ter mais espaço para constranger os membros do
Tribunal Superior Eleitoral a cassarem o mandato do governador Jackson Lago. Essa
disputa, a priori, deveria salvaguardar os interesses da Nação. Para Sarney, no
entanto, transformou-se num vale-tudo em que, para além de seus interesses
pessoais, está a salvação política e moral de sua família. (JORNAL PEQUENO,
2009.p.3)
Por outro lado, a um dia das eleições para a presidência do senado, o jornal O
Estado do Maranhão continuou com sua campanha eleitoral em favor de José Sarney. Dadas
as devidas proporções propagandistas, a manipulação ocorre com o resumo de todos os
acontecimentos gerados até o presente momento. Informar o leitor somente com suas próprias
interpretações e versões sobre determinados fatos considerados jornalísticos é um fator
primordial para a disseminação de discursos de caráter ideológicos:
A matéria Ano político começa para valer com fortes decisões este mês, no
Estado do Maranhão, exalta a importância do cargo de liderança no senado e sua influência e
participação nas eleições presidenciais da república de 2010, sem deixar, é claro, de dar um
teor de favoritismo à Sarney para a eleição do dia 2 de fevereiro. O Estado do Maranhão
(2009. p. 3) afirma:
que iriam contra a decisão do PSDB, fortalecendo ainda mais o caráter favoritista atribuído a
Sarney. Tal direcionamento caracteriza-se pela nova ordem dada aos acontecimentos
induzindo a dita verdade, principalmente neste dia antes da eleição. O Estado, além de
propagar a boa reputação do senador José Sarney, induz essa ideologia de maneira excessiva
em suas páginas. Ainda a intenção de inverter a opinião pública em relação a este caso,
colocando o PSDB como único partido que se interessa pelos cargos públicos.
Uma nota foi publicada na seção Estado Maior em resposta a declarações dadas
por Haroldo Sabóia ao Jornal Pequeno. Na nota, Haroldo Sabóia é tratado de forma pejorativa
por causa de suas opiniões, que serviram de ferramenta de ataque contra Sarney. Alguns
segmentos da sociedade acabam por serem citados em determinados veículos de comunicação
somente para serem atacados ou ridicularizados e, apenas seguindo esta linha de manipulação
indutiva e fragmentando todo o acontecimento antes do ocorrido – fato semelhante ao que
aconteceu com o Deputado Federal Domingos Dutra, adjetivado como irresponsável e leviano
– Haroldo é adjetivado como “Mãe Diná” e citado como a voz do fracasso:
busca a indução em seu grau máximo, como se o senador peemedebista não fosse obter
nenhuma vantagem pessoal em estar ocupando o almejado posto, o mesmo que já tinha sido
ocupado por ele duas vezes.
O editorial como retrato da linha política não somente induz o leitor a acreditar
em uma predeterminada realidade, mas também manipula ocultando, fragmentando e
invertendo o sentido real, o real estilhaçado, (ABRAMO, 2003. p.27) e é totalmente
recontextualizado criando uma realidade inexistente:
É chegado o tão esperado dia da eleição que definirá o comandante pelo biênio
2009/2010 no senado. Tião Viana (PT-AC) e José Sarney (PMDB-AP) encontram – se em
momentos finais de uma espera que culminaram inúmeros episódios de apoio e traições,
declarações de adesão e ataques pessoais, tudo que pode envolver uma disputa política
recheou e incrementou a disputa do senado um ano antes da disputa presidencial.
Sarney, se realiza, com um placar apertado. Entretanto, nenhuma divulgação de pesquisas que
embasem tal fato é realizada, o que faz com que o jornal trabalhe com suposições. O texto é
uma narração de fatos que explicariam o suposto “desespero” de Sarney e nele são utilizadas
palavras que induzem o leitor a pensar em Viana como o verdadeiro futuro do Senado. O
padrão de inversão da forma pelo conteúdo encontra no texto do veículo um perfeito aliado,
em trechos que parecem ser mais importantes que o fato que reproduz, o ficcional
espetaculoso sobre a realidade (ABRAMO, 2009, p.29), como:
No mesmo dia, outra matéria do mesmo veículo informa à sociedade que Arthur
Virgílio, líder do PSDB, diz que punirá traições a Viana e nega que tenham feito acordos com
o candidato em troca de votos. “O senador Virgílio não me pediu nada em relação a 2010”,
afirma Viana (JORNAL PEQUENO, 2009.p.3). Sabe-se que a aliança do PT e do PSDB é
inusitada, porém, os peessedebistas asseguram que é uma aliança despretensiosa. A
declaração de Virgílio se nega por outra, quando ele mesmo diz que o senador Papaléo Paes
será punido se efetivar seu voto a Sarney e não será indicado para nenhum cargo. É ilógico
pensar em uma aliança efetivada sem intenções que se porta dessa forma, já que declarações
do PMDB asseguram que a troca na decisão de apoio aos candidatos foi dada ao PT pelo
PMDB não poder atender todas as solicitações de cargos dos tucanos. O padrão de indução é
presença forte ao longo do texto, levando o leitor a pensar que o PSDB é um partido que apóia
a melhor escolha para o Brasil.
No decorrer das noticias são dadas fontes para embasar a numeração dos votos,
mas como cada segmento afirma ter um determinado número de votos fica ainda mais difícil
entender a real situação. Dentre as fontes citadas no dia 2 de fevereiro estão: a Agência
Estado, que conta com 32 votos para Sarney e 24 para Viana; o próprio senador Tião Viana,
que contabiliza 48 votos para si e 38 para a oposição; e o senador Epitácio Cafeteira, que
conta com 45 votos para seu aliado Sarney e 36 para o candidato petista.
“Mantenho meu voto no Sarney. Não entendi essa decisão do PSDB de ir para o
Viana”, afirmou Papaléo Paes (PSDB-AP). “Outros do meu partido vão manter o
voto no Sarney. Mas eu serei o único que vou confessar isso”, acrescentou. Outro
partido em que as traições são dadas como certas é o PDT - a expectativa é de que
pelo menos dois dos cinco senadores votem em Sarney. (O ESTADO DO
MARANHÃO, 2009.p.3).
afirma que o PSDB fechou com o senador tucano, no Estado do Maranhão do dia 2 de
fevereiro duas matérias se contradizem.
sendo mostrada sem a possibilidade de modificação. Esta afirmação pode ser caracterizada
pela declaração de Virgílio:
“Tenho deveres de amizades, deveres partidários e deveres políticos. Mas não será
com o Senado que resgatarei qualquer dever de amizade, político ou partidário.
Acima de tudo isso, estão a independência, a autonomia, a dignidade e os grandes
interesses de nossa Casa. Que o Senado tenha a certeza de que reafirmaremos nossa
independência e exigiremos cada vez mais respeito à nossa instituição”, disse. (O
ESTADO DO MARANHÃO, 2009.p.3).
“Ouvi muitos discursos aqui. Uma parte quero contestar porque é injusta. Desde que
comecei como político, sempre procurei caracterizar-me como inovador. Nunca
meus olhos ficaram como lanternas voltadas para trás. [...] Não me chamem de um
homem retrógrado, como se fosse um velho que chega aqui sem querer renovar o
Senado. Sempre tive esta vontade”, afirmou. “Fundei os primeiros circuitos fechados
de TV, depois a primeira TV educativa do Brasil. Não me chamem de um velho que
não tem gosto pela inovação. aqui no Senado, quando cheguei, a idéia da
informatização foi minha. Acho injusta a informação de que é um retrocesso eu
disputar o Senado.” (O ESTADO DO MARANHÃO, 2009.p.5).
Nesta coluna, a fragmentação pela seleção dos aspectos e a interpretação dos fatos
se torna evidente como ferramenta de manipulação, descontextualizando o sentido original
dos fatos e redirecionando a visão que o órgão de comunicação quer que o leitor tenha, uma
indução do senso crítico.
O editorial História, dignidade e fé, não traz nada de novo em relação a todos os
textos apresentados pelo veículo em questão. Fatos fragmentados e indutivos não só
caracterizam este editorial, como a mesma ordem de construção textual é seguida por todo o
conteúdo publicado, repassando de forma elogiosa a vitória do senador maranhense. Ressalta
a história de vida, as dificuldades que o país sofre economicamente e afirma que José Sarney
é o líder mais preparado para presidir o Senado em um momento como esse. A indução é
exacerbada pela repetição das mesmas palavras e informações em cada matéria e nota
relacionada ao tema. Tal acontecimento nos atenta a pobreza de conteúdo e ausência de
criatividade na angulação das matérias:
Maquiavel em sua obra O Príncipe, em que afirmava que política é a arte de conquistar,
manter e exercer o poder, o próprio governo. (JORNAL PEQUENO, 2009.p.2). O texto,
enquadrado no padrão de inversão da opinião pela informação, avalia que
Assim como foi feito em outras publicações, o veículo tenta trazer planejadamente
a eleição para dentro do Maranhão. Tal fato ocorre utilizando novamente as versões pelo fato
em discussão. Relatos de conterrâneos políticos embasam a matéria, a maioria das declarações
citadas como fatos jornalísticos foram coletadas na Assembléia Legislativa do Estado do
Maranhão e fazem alusão histórica a época que Sarney foi presidente da república, citando as
62
dificuldades passadas pelo país naquele momento induzindo que o senador maranhense seria a
melhor escolha devido suas experiências em épocas de crise.
Os deputados Joaquim Haickel (PMDB), Chico Gomes (DEM), Graça Paz (PDT),
Penaldon Moreira (PSC), Alberto Franco (PSDB) e Antonio Carlos Bacelar (PDT)
exaltaram ontem, em discursos na tribuna da Assembléia Legislativa, a eleição do
senador José Sarney (PMDB) à presidência do Congresso Nacional. Os deputados
César Pires, Max Barros e Carlos Alberto Milhomem - todos do DEM – também
exaltaram a vitória de Sarney em conversa com jornalistas. Primeiro a subir à
tribuna, Joaquim Haickel levantou um pouco da história política de Sarney e frisou
ser ele o responsável pela tranquilidade democrática e pelo desenvolvimento
econômico que o Brasil desfruta hoje. “Hoje, o Brasil não é mais o país da inflação,
não é mais o Brasil da Ditadura. Isto ocorre hoje porque, muito antes, um
maranhense teve que engolir seco para trazer o Brasil à democracia” frisou Haickel.
(O ESTADO DO MARANHÃO, 2009.p.3).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Grande parte de seus textos que remetem à política nacional são produzidos pela Agência
Senado, mas obviamente, as notícias reproduzidas no periódico maranhense são voltadas à
boa imagem do Senador José Sarney. Suas ações e declarações são sempre retratadas e
denotadas para um sentindo positivo em relação a seu adversário nas eleições para a
presidência do Senado, o senador Tião Viana.
Por fim, considerando os teóricos que embasaram este trabalho, afirma-se que os
veículos impressos locais utilizam os padrões de manipulação, mesmo que de forma
inconsciente, para atingir os seus objetivos.
66
REFERÊNCIAS
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Amarela, 2001.
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Monografias. 4.ªed., São Luís: Visionária, 2007.
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MIGUEL, Luís Felipe. Política e mídia no Brasil: episódios da história recente. Brasília:
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MOTTA, L. Imprensa e Poder. Brasília; São Paulo: Ed. Da UNB; Imprensa Oficial do
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68
PMDB domina Congresso e quer vaga de vice para 2010. Disponível em:
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SCHERRE, Maria Marta Pereira. Doa-se lindos Filhotes de Poodle: variação lingüística,
mídia e preconceito. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.
VANEIGEM, Raoul. Nada é sagrado tudo pode ser dito: Reflexões sobre a liberdade de
expressão. São Paulo, 2004.
Periódicos
ANEXOS
72
23 de janeiro de 2009
Além da atuação de FHC, o ex-presidente do DEM Jorge Bornhausen (SC) visitou o senador
Demóstenes Torres (GO), que se recupera de uma cirurgia em São Paulo, para consultá-lo
sobre os rumores de que votaria no petista Tião Viana (AC). “Demóstenes está fechado com o
DEM, que já manifestou apoio a Sarney”, assegurou Bornhausen. No PSDB e no DEM, a
avaliação é que a disputa no Senado atrai o PMDB para a candidatura Serra.
Em todas as vitrines
24 de janeiro de 2009
Por outro lado, a tardia decisão de intimar Fernando Sarney a depor traz de volta o foco dos
holofotes para os membros da família, quase todos eles listados em complexas operações
financeiras que vão das propinas (Gautama) à remessa de divisas para o exterior. É uma
situação que faz de Sarney um candidato não recomendável para a saúde moral do Senado e
do Brasil.
24 de janeiro de 2009
Haroldo Saboia
O senador José Sarney, após meses fazendo campanha pelo consenso em torno de seu próprio
nome para a presidência do Senado, acabou derrotado.
Foi uma campanha inovadora. Todos os dias, o velho coronel fazia publicar uma declaração
sua negando ser candidato, tendo o cuidado sempre de lembrar que "se chamado por seus
pares", para "evitar disputas inúteis", poderia pensar em aceitar ser "o nome de consenso".
E sempre, sempre, dava lá o seu jeito para que os jornalistas nunca esquecessem ser ele,
Sarney, "o candidato preferido do presidente Lula".
Creio que muitos brasileiros (e brasileiras) foram convencidos de que o presidente Lula não
pensou em outra coisa, em suas férias de fim de ano, na Ilha de Fernando de Noronha, a não
ser em Sarney, presidente por consenso do Senado. É que do Natal ao Dia de Reis, não vi
jornal que não lembrasse que a primeira coisa que faria o Lula quando voltasse a Brasília era
falar com o Sarney.
O jornalista Kennedy Alencar, repórter especial da Folha de São Paulo, chegou mesmo a
afirmar;
"Lula deseja uma conversa definitiva com José Sarney. Se ele disser sim, Lula falará com o
senador Tião Viana (AC), candidato do PT a presidente do Senado, para que ele desista da
candidatura" (Folha de São Paulo, 14/01/2009).
Sarney disse sim e Lula, não. (O primeiro, que era como sempre foi candidatíssimo; o
segundo, que não o apoiaria nem tampouco pediria a desistência do senador Tião Viana).
O velho coronel Sarney acabou, assim, sem consenso e sem Lula; mas agarrado como nunca
em suas ambições e interesses.
75
(Nesse andar da carruagem, Sarney vai ter logo, logo, que propor aumento de cadeiras na
ABL).
O certo é que não está fácil para o velho coronel da Maguary.
Como convencer o PSDB e o PFL, partidos de oposição a Lula, com forte presença no Senado
a abrir mão da presidência de Comissões importantes como a de Justiça, a de Relações
Exterior, e a de Economia? Esses cargos fariam parte de um protocolo a ser formalizado pelo
senador Tião Viana, do PT, e as bancadas dos tucanos e pefelistas.
Apoiada por partidos de esquerda e centro esquerda, como o PSOL e o PDT, a candidatura do
petista Tião Viana ganha força apesar de toda a influencia que Sarney ainda tem na grande
imprensa. Mas é questão de tempo.
Derrotado na busca do consenso, derrotado na tentativa de conquistar o apoio de Lula, Sarney
agora será derrotado no voto, como no voto foi derrotada sua filha Roseana pelos
maranhenses que elegeram Jackson governador.
Nota:
Recebi do Secretario de Estado do Turismo, Sr.João Martins, carta tentando explicar a
exclusão do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses na disputa pela escolha das 7
Maravilhas Naturais do Mundo . Nela o Dr. João Martins afirma:
... "pessoas, órgãos, comitês é que falharam em suas proposições inclusive assumindo sem a
devida competência suas funções e gerando fracasso.
Como faço parte de uma equipe de Governo muitas vezes necessitamos ficar em silêncio para
não gerar conflitos, porém o Senhor Governador tem conhecimento de todos estes fatos."
24 de janeiro de 2009
Berzoini afirma que a disputa entre Tião e Sarney será decidida no voto
Brasília - O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), disse ontem que a
disputa entre os senadores Tião Viana (PT-AC) e José Sarney (PMDB-AP) pela presidência
do Senado será decidida no voto. Apesar de reconhecer que Sarney integra um partido aliado
ao governo federal, Berzoini disse que a candidatura do peemedebista "não contribui" para o
processo democrático.
77
"Sarney é um aliado do governo desde 2003. O PT ajudou a elegê-lo naquela eleição. Mas sua
candidatura, apresentada na reta final do processo, depois de inúmeras negativas, inclusive em
interlocução com o senador Tião Viana, não contribui para o processo", disse Berzoini em
entrevista ao site do PT.
O deputado reiterou que os petistas vão se manter na campanha do deputado Michel Temer
(PMDB-SP), na disputa pelo comando da Câmara, mesmo com a ameaça do PMDB ficar com
a presidência das duas Casas Legislativas.
Berzoini foi enfático ao afirmar que a candidatura de Tião será mantida até o final. "A
candidatura de Tião está mantida e a decisão será no voto, a partir da avaliação de bancadas e
também de cada parlamentar", disse. O petista afirmou que Tião lançou sua candidatura no
final do ano passado e que representa a renovação que o Senado necessita.
"O Tião Viana colocou seu nome com antecedência e com uma proposta política, respaldada
pela maneira como conduziu uma interinidade difícil, em momento de grande crise no
Senado. Tião representa uma renovação, com apoio de seis partidos e de vários senadores
individualmente", afirmou. As eleições para os comandos do Senado e da Câmara estão
marcadas para o dia 2.
Palpite - Berzoini evitou arriscar um palpite sobre os efeitos do impasse no Senado na
campanha de Temer na Câmara. "Esse assunto se resolve no dia da eleição. Cabe a todos que
defendemos o governo dissociarmos o assunto da eleição da Mesa com os interesses maiores
do país e as respectivas votações", afirmou.
O petista classificou a Câmara como um espaço "gerado para intrigas e tentativas de
desestabilização", mas garantiu que seu partido vai manter o acordo com Temer e ficará com
ele na campanha.
"Quanto à Câmara, apesar do espaço gerado para intrigas e tentativas de desestabilização,
entendo que o PT está unido em torno do cumprimento do acordo firmado em 2007 e que os
demais apoiadores de Michel Temer também estarão firmes. Vamos trabalhar para que a falta
de acordo do PMDB com o PT no Senado não desestabilize o quadro para a eleição do Temer.
Acordo se cumpre e palavra dada deve ser palavra honrada", disse.
No entanto, políticos que acompanham as negociações afirmam que o PT deverá ir rachado no
dia da eleição e não deve apoiar de forma integral o nome de Temer. Mas, no último dia 20, o
peemedebista se reuniu com vários aliados, entre eles petistas que lhe asseguraram que a
bancada se manterá unida a seu favor. No próximo dia 30, a bancada do PT na Câmara deverá
se reunir para tratar do assunto e oficializar uma posição.
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25 de janeiro de 2009
Jersan Araújo
O senador José Sarney quer presidente do Senado Federal pela terceira vez. E será. Apesar de
ter dito e repetido muitas vezes que não seria candidato, no fundo, gostaria de receber um
apelo do presidente Lula e ser aclamado pelos colegas de partidos atrelados ao governo.
Paralelamente, agia à calada da noite, e viabilizou-se com o apoio dos partidos de oposição,
com destaque para o PSDB e DEM. Diante da impossibilidade de Lula em abraçar a sua
candidatura e da recusa do petista Tião Viana em renunciar, o senador amapaense sinaliza, a
essas alturas, apoio ao candidato da oposição ao do presidente Lula, principalmente se esse
candidato for Aécio Neves.
As mágoas que guarda contra o governador de São Paulo, José Serra, a quem é atribuída a
denúncia contra Roseana Sarney em 2002, que culminou com a retirada da candidatura dela à
Presidência da República, também, são "negociáveis" desde que o PSDB se disponha,
realmente a apoiá-lo. Não há dúvida de que o motivo preponderante dessa postulação do
senador amapaense está diretamente ligada à necessidade de ter mais poderes para tentar
livrar o filho das garras da justiça e da polícia. Quer salvar, como sempre o fez, a própria pele
e a pele dos seus filhos, envolvidos em atos ilícitos.
Cheguei a admitir nesta coluna que o senador José Sarney não teria coragem de disputar, no
voto, a presidência da Câmara Alta. Errei na avaliação. Nas confirmo que essa "disposição"
dele de "topar a briga" está impulsionada pela necessidade de adquirir mais poderes e
influenciar nas decisões sobre os processos envolvendo o filho Fernando Sarney. Para ver
prosperar os próprios interesses, Sarney enfrenta qualquer desafio, e, para tanto, usa o partido
em que estiver (agora o PMDB) e o Maranhão, como moeda de troca, como bem o diz o
deputado Julião Amim (PDT) e ratifica Domingos Dutra (PT).
O senador amapaense não está um pouco incomodado se a sua candidatura vai ou não
prejudicar a eleição de Michel Temer para a direção da Câmara Federal. Também, a essas
alturas, não se está nem aí para Lula, em fim de mandato. Assim foi em 1985 quando chutou
seus aliados do regime militar e se transformou no mais ferrenho defensor da candidatura de
Tancredo Neves, de quem foi vice-presidente e depois, com a morte do mineiro, ascendeu à
Presidência da República.
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26 de janeiro de 2009
Convertido em fiel da balança da disputa pela presidência do Senado, o PSDB está a um passo
de fechar com José Sarney (AP), o candidato do PMDB. Os tucanos exigiram de Sarney três
postos. Se forem atendidos, fecharão as portas para Tião Viana (AC), o candidato do PT. Eis
as posições reivindicadas pelo PSDB: Na primeira vice-presidência, o tucanato deseja
acomodar na cadeira o senador Marconi Perilo (PSDB-GO).
Para a Comissão de Assuntos Econômicos, o PSDB não abre mão de entregar a presidência
dessa comissão ao senador Tasso Jereissati (CE). Para o comando da Comissão de Relações
Exteriores, os tucanos indicaram Eduardo Azeredo (MG).
As exigências do PSDB foram levadas a Sarney pelo líder tucano Arthur Virgílio (AC). O
candidato mostrou-se receptivo. Sarney condicionou o atendimento das exigências apenas a
um acerto com os líderes dos demais partidos que o apóiam. Incumbiu-se Renan Calheiros
(AL), virtual novo líder do PMDB e centro-avante de Sarney, de conduzir a articulação que
deve levar à formalização do acordo.
Fixou-se a próxima quarta-feira (28) como data limite para a conclusão das negociações.
Nesse mesmo dia, Sarney reúne o PMDB num almoço. O encontro servirá para oficializar a
candidatura de Sarney e sacramentar a saída de Garibaldi Alves (PMDB-RN) do jogo. No dia
seguinte, quinta-feira (29), reunem-se as duas bancadas de oposição: a do PSDB e a do DEM.
No caso dos 'demos', que já fecharam com Sarney, o encontro da bancada será mera
formalidade. Vai-se apenas ratificar o decidido. Quanto aos tucanos, se forem atendidos em
suas reivindicações, tendem também a derramar os seus 13 votos no colo de Sarney.
É essa a tendência de Arthur Virgílio e do presidente do PSDB, Sérgio Guerra. A dupla
recebera, no final de 2008, delegação da bancada para tratar do tema. Confirmando-se a
adesão do PSDB a Sarney, só por um milagre o petista Tião Viana prevaleceria na disputa
pelo comando do Senado.
Dentro do próprio PT a posição do PSDB é vista como definidora do jogo. Vem daí o esforço
de Tião Viana para arrastar para o centro da disputa o governador José Serra. Tião já teve
duas conversas telefônicas com Serra, que não se bica com Sarney. Deve ter uma terceira.
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Parte-se da avaliação de que um pedido de Serra, hoje o presidenciável tucano mais bem-
posto nas pesquisas, poderia inverter a tendência da bancada do PSDB. Por ora, Serra não se
moveu na direção pretendida por Tião. Parceiros de 2010, líderes do PSDB e do DEM
duvidam que o governador venha a fazer o pedido.
Ainda que Serra peça, não é negligenciável a hipótese de não ser atendido. No final de 2007,
Serra recomendara a aprovação da CPMF. Os senadores tucanos votram contra. De resto, o
sarneyzista DEM também mexe os seus pauzinhos em São Paulo. Jorge Bornhausen (DEM-
SC) esteve com o ex-presidente FHC.
O petista Jorge Viana, ex-governador do Acre e irmão do candidato do PT, também foi a
FHC. Contou a lideranças petistas ter ouvido dele palavras de apreço a Tião. A julgar, porém,
pelo telefonema de apoio que FHC deu a Sarney na sexta (23) a embaixada de Bornhausen
teve mais sucesso.
Na fase em que o candidato do PMDB inda era Garibaldi Alves, Tião Viana colecionara algo
como seis promessas de voto no DEM e dividira ao meio a bancada do PSDB. Com Sarney,
afirmam lideranças 'demos' e tucanas, a chance de haver defecções seria pequena, muito
pequena, mínima.
(Blog de Josias de Souza).
27 de janeiro de 2009
Brasília - O senador Tião Viana (PT-AC), que disputa a presidência do Senado, aposta no
apoio de pelo menos cinco dos 20 senadores do PMDB à sua candidatura -mesmo após o
ingresso do senador José Sarney (PMDB-AP) na disputa. Embora o PMDB oficialmente
mantenha o discurso de que estará unido em torno de Sarney, candidato do partido, Tião disse
que um grupo de peemedebistas já manifestou interesse em apoiar o seu nome na corrida pelo
comando do Senado.
"Eu acredito que terei o apoio de cinco a sete senadores do PMDB, além de votos no DEM e
no PTB, hoje não muito simpático à minha candidatura. Isso sem contar os seis partidos que
já declararam apoio ao meu nome", afirmou.
81
28 de janeiro de 2009
Brasília - Os partidos deflagraram no Senado a corrida por cargos na Mesa Diretora da Casa
Legislativa e nas comissões permanentes. Além da disputa pela presidência da Câmara e do
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Senado, os parlamentares lutam por indicações em cargos estratégicos que possam beneficiar
as legendas nos próximos dois anos.
No Senado, o PSDB negocia cargos em troca do apoio do partido aos senadores Tião Viana
(PT-AC) ou José Sarney (PMDB-AP). Os tucanos estão dispostos a definir o voto da bancada
de acordo com a oferta do candidato, mas reivindicam a primeira-vice presidência do Senado
e as presidências da CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) e a CRE (Comissão de
Relações Exteriores).
O partido pretende indicar o senador Marconi Perillo (PSDB-GO) para a 1ª vice-presidência,
enquanto os senadores Tasso Jeiressati (PSDB-CE) e Eduardo Azeredo (PSDB-MG) ficariam,
respectivamente, com as presidências da CAE e da CRE.
O DEM, por sua vez, não está disposto a abrir mão da presidência da CCJ (Comissão de
Constituição e Justiça), a mais cobiçada da Casa, que atualmente está com o senador Marco
Maciel (DEM-PE). A presidência da CCJ, no entanto, foi prometida pelo PMDB ao senador
Garibaldi Alves (PMDB-RN), que deixou a disputa pela presidência da Casa em favor de
Sarney.
Nos bastidores, o PMDB já admite ceder a presidência da CCJ em troca do apoio da bancada
do DEM a Sarney. A estratégia do peemedebistas, para acomodar Garibaldi, será ceder a
presidência da Comissão de Infraestrutura da Casa, responsável por analisar obras do PAC
(Programa de Aceleração do Crescimento).
O DEM ficaria, além da presidência da CCJ, com a 1ª secretaria do Senado -cargo atualmente
ocupado pelo senador Efraim Morais (DEM-PB). O senador Heráclito Fortes (DEM-PI) briga
pelo comando da 1ª. secretaria, embora Efraim já tenha sinalizado que gostaria de permanecer
no cargo.
Além da Comissão de Infra-Estrutura, o PMDB também reivindica a presidência da Comissão
de Ciência e Tecnologia --já que na Mesa Diretora o único cargo que lhe resta além da
presidência é a segunda secretaria da Casa Legislativa. Na eventual vitória de Sarney, o PT
deve ficar com a presidência da CAS (Comissão de Assuntos Sociais) e da Comissão de
Direitos Humanos.
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29 de janeiro de 2009
Brasília - Com um discurso cheio de mea-culpas e insinuações de que seu adversário deveria
desistir da disputa, o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) contrariou o que vinha dizendo
há cinco meses e oficializou ontem, após almoço da bancada do partido, sua candidatura à
presidência do Senado.
Em sabatina realizada pela Folha de S.Paulo, em agosto do ano passado, ele fora taxativo: "O
que posso adiantar é que não serei candidato. Não quero ser presidente de nada". Depois
disso, repetiu o mesmo discurso a senadores, ministros e ao próprio presidente Lula, a quem
em quatro ocasiões garantiu que não entraria na disputa.
Ontem, ao formalizar que mudara de idéia, ele alegou que não poderia pensar no próprio bem-
estar, abdicando de "prestar um serviço para o país". "Não desejei, não quis, não queria,
esperava que não se chegasse a essa situação. Mas não pude deixar de atender as solicitações
que recebi do partido, de muitos senadores de nossa casa, de todos os partidos e de alguns
setores da sociedade."
O peemedebista entra na disputa como favorito, com votos em quase todas as bancadas da
Casa. Ontem, havia expectativa que o PSDB, terceiro maior partido, oficializasse o apoio a
Sarney, o que não ocorreu até o agora porque os tucanos não tiveram garantias de que ficarão
com os cargos almejados na Mesa Diretora e nas comissões.
"Existe uma preferência por Sarney, mas ainda não fechamos", disse Sérgio Guerra (PE),
presidente do PSDB. "A gente vai reagir se não nos tratarem bem", afirmou o líder do partido,
Arthur Virgílio (AM). Confiante na vitória, o PMDB colocou obstáculos para acomodar os
tucanos Tasso Jereissati (CE), na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos), e Eduardo
Azeredo (MG), nas CRE (Relações Exteriores).
Além das duas comissões, o PSDB quer emplacar Marconi Perillo (GO) na primeira vice-
presidência. No começo da noite, os tucanos cogitavam trocá-lo por Tasso, diante das
dificuldades de fazê-lo presidente da CAE.
Na primeira entrevista como candidato oficial, Sarney negou em público o que senadores de
seu próprio partido admitem nos bastidores: que a projeção da presidência do Senado dará a
seu grupo mais força nas articulações para 2010. "Ao contrário, me tomará mais tempo o
próprio Senado, em detrimento das articulações políticas."
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O peemedebista concorrerá ao cargo com Tião Viana (AC), senador do PT que em dezembro
passado anunciou que concorreria ao cargo. Mas hoje Sarney deixou claro que seu grupo
ainda trabalha com a possibilidade de fazer dele candidato único. "Eu não queria [que
houvesse disputa]. Muito melhor se tivéssemos uma candidatura de unidade."
Viana, horas depois, demonstrou irritação com as declarações do colega. "Ele cometeu mais
uma indelicadeza ao sugerir que eu renunciasse. Se tem uma candidatura que deve ser
repensada é a dele, que não disse a que veio, além de ter dado a palavra de que não seria
candidato por cinco vezes", afirmou.
29 de janeiro de 2009
O senador José Sarney (PMDB-AP) oficializou ontem, 28, sua candidatura à presidência do
Senado. O peemedebista atendeu aos apelos da bancada do partido na Casa e, durante almoço,
que reuniu integrantes da legenda, formalizou o seu ingresso na disputa com o discurso de
que, apesar de suas resistências pessoais, decidiu ser o candidato do PMDB.
"Não queria, resisti, mas eu acho que é importante a minha candidatura num momento como
esse em que há uma crise mundial", afirmou.
Sarney não quis adiantar suas estratégias de campanha, porque disse que só agora vai começar
a buscar votos - embora nos bastidores já tenha contabilizado o apoio da maioria dos
parlamentares, inclusive senadores do DEM e partidos da base do governo federal. O
peemedebista disse que mais importante que sua vontade são os interesses do país - por isso
aceitou lançar-se candidato.
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Questionado sobre a neutralidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na corrida pela
presidência do Senado, Sarney disse que o petista desejava apenas uma candidatura. Mesmo
assim, o peemedebista afirmou estar disposto a uma disputa direta com o senador Tião Viana
(PT-AC), do partido de Lula.
Ausências - A reunião que selou a candidatura de Sarney não contou com as presenças dos
senadores Jarbas Vasconcelos (PE) e Pedro Simon (RS), contrário ao nome do peemedebista.
Jarbas declarou apoio a Tião, enquanto Simon disse que não concorda com a decisão tardia de
Sarney de ingressar na disputa. Ex-presidente da República, Sarney chegou a negar em
diversas ocasiões a possibilidade de disputar o cargo. O senador Garibaldi Alves (PMDB-
RN), atual presidente da Casa, lançou sua candidatura pelo partido, mas teve que recuar
depois que Sarney aceitou disputar o cargo.
Com a pressão do partido e o aval indireto do Planalto, o peemedebista acabou por formalizar
hoje sua candidatura.
(Da Folha Online)
30 de janeiro de 2009
Informe JP
O PSDB optou por apoiar a candidatura do petista Tião Viana (AC) à presidência do Senado.
O líder tucano Arthur Virgílio (AM) já comunicou a decisão ao candidato petista. Deu-se num
telefonema disparado pouco antes das 22h de ontem. Antes, Virgílio discara para Rosena
Sarney, filha e coordenadora da campanha de José Sarney (PMDB-AP), o rival de Tião.
A deliberação do PSDB foi tomada em reunião realizada no Recife (PE), na casa de Sérgio
Guerra (PE), presidente do partido. Além de Virgílio e Guerra, participou do encontro o
senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Os outros senadores tucanos foram consultados pelo
telefone. Exceto Mário Couto (PA). Em viagem ao exterior, Couto não foi localizado.
O senador Arthur Virgílio confirmou a notícia ao blog de Josias de Souza, da Folha de S.
Paulo: "Nossa decisão está tomada. Apoiaremos o senador Tião Viana. Fizemos a opção que
consideramos melhor e mais adequada para o Legislativo".
86
Tião disse que "o elo" do entendimento de sua candidatura com o tucanato "foi a carta-
compromisso do PSDB", que assinara e respondera na véspera. "O PSDB me informou que
não reivindica nada além disso". E quanto aos cargos na mesa diretora e nas comissões do
Senado?
Tião responde: "Esse assunto, o PSDB me informou que vai tratar dentro do que está previsto
nas regras da proporcionalidade das bancadas."
Sob a aparência de desprendimento, o tucanato almeja pelo menos três cargos: a primeira
vice-presidência do Senado e o comando das comissões de Economia e de Relações
Exteriores. São posições que, na véspera, Tião dissera aos tucanos que conseguiria prover.
31 de janeiro de 2009
DISPUTA NO SENADO
foram para lá (Sarney) no efeito manada, agora voltam para cá (Tião). O Tião Viana está no
jogo", avalia.
A contabilidade do PT do Senado ontem apontava algo em torno de 37 ou 38 votos, logo de
manhã. Nas contas de Viana, que entrou madrugada adentro avisando os companheiros do
Senado da novidade bastariam três novas adesões para virar o jogo. No fim do dia, o petista já
falava em 42 votos. A dificuldade é que há dissidências em todos os partidos, tanto para um
lado quanto para o outro.
Até mesmo o PSDB, que anunciou o voto em bloco de seus 13 senadores, a exemplo do que
ocorreu na votação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), não
fechará inteiramente com Viana. Diferentemente da CPMF, que foi derrubada com o apoio
maciço dos tucanos, o painel de votação não exibirá publicamente a posição de cada um, já
que o voto para presidente do Senado é secreto.
Contas - O grupo de Sarney afirma, contudo, que tem vitória garantida com pelo menos, 55
dos 81 votos. Os peemedebistas acreditam que o PSDB apostou mais na confusão do que na
definição do jogo sucessório, quando aderiu ao PT. O PMDB admite que o fato novo altera as
contas, mas mantém a previsão de vitória com folga de votos. A aposta do grupo é que o
PSDB vai rachar e dar a Sarney pelo menos sete votos. A conta do PT é outra. Os apoiadores
de Tião Viana acreditam que a dissidência tucana não passará de quatro votos.
No caso do PMDB, os partidários de Sarney contabilizam apenas uma defecção - Jarbas
Vasconcelos (PE) - na bancada de 20 senadores. Mas o PT aposta que, com o apoio dos
tucanos, tomará de volta votos perdidos. Um dirigente do PMDB avalia que o senador Gerson
Camata (PMDB-ES), por exemplo, é um dos que podem fazer o caminho de volta.
Segundo o parlamentar, Sarney teve muito trabalho para obter o apoio do capixaba, que,
apesar do carinho e da atenção dispensados pelo candidato peemedebista, mostrava-se
desconfortável com a opção. O raciocínio neste caso é de que todos os que aderiram
"contrariados" a Sarney, porque a candidatura de Viana parecia inviável, agora podem
repensar o voto.
Líderes de cinco partidos declaram apoio a Tião Viana
Brasília - Os líderes dos cinco partidos que apoiam a candidatura do senador Tião Viana (PT-
AC) à presidência do Senado divulgaram nota ontem reafirmando a adesão ao petista. No
documento, os líderes do PT, PSB, PDT, PR e PRB afirmam que o grupo rechaça as
negociações envolvendo a troca de cargos por apoio político. Na nota, não está incluído o
PSDB nem integrantes da legenda.
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A nota é uma resposta às informações de que Tião estaria fazendo acordos com líderes
partidários nos quais daria sua palavra de que os partidos teriam os comandos de comissões
permanentes e cargos na Mesa Diretora do Senado, se for eleito.
Para os aliados de Tião, apesar de ele pertencer ao PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
não comandará o Senado como uma extensão do governo federal. Segundo eles, Tião
consagra a renovação no Senado e aprofunda o processo democrático brasileiro.
"Neste sentido, avaliamos que Tião Viana presidirá esta Casa com os olhos voltados não
apenas para seu funcionamento interno, para os interesses específicos do governo, mas para o
bem do país", diz o documento. Íntegra da nota:
"Carta de apoio do PT, PSB, PDT, PR e PRB a Tião Viana presidente do Senado
A candidatura do senador Tião Viana a presidente do Senado no período 2009-2010 consagra
a renovação da Casa no sentido de aprofundar o processo democrático brasileiro e o
fortalecimento da República. Reafirmamos nosso apoio à sua candidatura, confiantes no
cumprimento de um mandato voltado para as mudanças que o Senado Federal exige.
Tião Viana inspira os avanços que a sociedade brasileira reclama. E a sociedade quer um
Senado transparente, ágil, atuante e com a firme iniciativa, especialmente frente à crise
econômica que vive o mundo. Neste sentido, avaliamos que Tião Viana presidirá esta Casa
com os olhos voltados não apenas para seu funcionamento interno, para os interesses
específicos do Governo, mas para o bem do País.
Repelimos, ao reiterar este apoio, acordos de bastidores sem a participação de todos os
partidos para a distribuição de cargos ao arrepio da lei e da tradição desta Casa. A
Constituição e o Regimento Interno são claros e consagram a prática adotada por esta Casa.
Diz o art. 58, º 1º da Constituição Federal:
"Na constituição das Mesas e de cada Comissão, é assegurada, tanto quanto possível, a
representação proporcional dos partidos ou dos blocos parlamentares que participam da
respectiva Casa".
Esse dispositivo confere aos partidos políticos o direito à proporcionalidade na composição da
Mesa Diretora e das Comissões do Senado Federal. A Constituição é clara e taxativa. O verbo
utilizado é "assegurar". Não é uma garantia aleatória, susceptível de recusa por interpretação,
mas de caráter incondicional, impositivo.
O texto constitucional apenas permite variação ou flexibilidade na medida da
proporcionalidade, que será observada "tanto quanto possível". A dimensão da
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proporcionalidade, portanto, é que pode ser graduada, tendo em vista o número de partidos e a
representação (número de senadores) de cada um deles.
A Constituição não afirma "quando possível" ou "se possível" e sim "tanto quanto possível".
É, portanto, inegável que a garantia da representação proporcional dos partidos, em cada
comissão, tem caráter obrigatório. O texto constitucional, aliás, está inscrito no artigo 59,
parágrafo 1º, do Regimento Interno, e no artigo 78."
Líder do PR, João Ribeiro (TO)
Líder do PSB, Renato Casagrande (ES)
Líder do PRB, Marcello Crivella (RJ)
Líder do PDT, Osmar Dias (PR)
Líder do PT, Ideli Salvatti (SC)
31 de janeiro de 2009
Brasília - Aliados do candidato do PMDB à presidência do Senado, José Sarney (AP), vão se
mobilizar durante o fim de semana para conquistar o maior número de votos na bancada do
PSDB, cuja cúpula anunciou apoio a Tião Viana (PT-AC). A eleição é na segunda-feira.
De imediato, o grupo de Sarney diz contar com seis do 13 votos tucanos. Dentro da bancada,
três trabalham pelo peemedebista: Flexa Ribeiro (PSDB-PA), Marconi Perillo (PSDB-GO) e
Papaléo Paes (PSDB-AP). Este último chegou a declarar publicamente que votará no
candidato peemedebista.
"Eu voto no Sarney. Já declarei meu voto, depois de uma reunião que indicava tendência pró-
PMDB. E, depois que eu dou minha palavra, mudar é quase impossível", disse.
Paes, que é aliado de Sarney no Amapá, disse ter sido "comunicado" da decisão do PSDB na
quinta à noite, por meio de um telefonema do líder da bancada tucana, Arthur Virgílio (AM).
"Acho que não vou sofrer represália", afirmou.
Flexa Ribeiro e Marconi Perillo trabalham por Sarney nos bastidores. Ambos tentam garantir
seus lugares na Mesa Diretora. Ao paraense, foi prometida a quarta-secretaria e, ao goiano, a
primeira vice-presidência. No domingo, Marconi reúne a bancada em sua casa.
Os aliados de Sarney, porém, tentarão conquistar a vitória sem precisar dos votos tucanos.
Ontem o grupo reuniu-se na casa da senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), que admitiu ter
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ficado surpresa com a decisão dos tucanos. Sobre o pai, afirmou: "Quando ele virou
candidato, ele aceitou o jogo".
Aliado de Sarney, o DEM minimizou o apoio tucano ao PT. "Lamentei. Gostaria de ganhar a
eleição ao lado do PSDB. Mas Sarney vai ganhar, independentemente do PSDB", disse o líder
José Agripino Maia (RN). Arthur Virgílio reagiu ao ser avisado que o grupo de Sarney diz
contar com seis votos tucanos. "Eles estão pensando o quê? Se é assim, diga que eu conto
com os 20 votos deles. Acho que eles estão confundindo os partidos", afirmou.
1 de fevereiro de 2009
Para derrotar Tião Viana na disputa pelo comando do Senado, o velho ex-oligarca mais
uma vez vira as costas para a moralidade política
O senador Tião Viana, do PT do Acre, acreditava que o apoio do presidente da República, sua
biografia e as elogiáveis propostas de moralização do Parlamento seriam suficientes para
convencer os colegas de que seu nome era o que havia de melhor para presidir o Congresso. A
política, porém, não se move apenas por virtudes. Há interesses gigantescos, alguns
inconfessáveis, a maioria infelizmente direcionada ao fisiologismo. Na semana passada, o
senador José Sarney apresentou-se como candidato do PMDB e, mantida a lógica, assumirá
nesta segunda-feira o comando do Senado. Sarney fez uma campanha de bastidores usando a
mesma fórmula que marcou sua trajetória ao longo de mais de meio século de política.
Prometeu cargos aos que não têm, assumiu o compromisso de manter os cargos dos que já
têm, garantiu um ambiente de tranqüilidade ao governo e, ao mesmo tempo, assegurou à
oposição que será um presidente independente, como se isso tudo fosse possível.
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Em novembro do ano passado, Tião Viana procurou Sarney e pediu apoio. "Conte comigo",
respondeu o senador, que já estava costurando sua candidatura com a ajuda de Renan
Calheiros, um de seus principais discípulos na política e que dispensa maiores apresentações.
E tome promessas. O DEM, que flertava com Tião Viana, foi o primeiro a fechar com Sarney,
após a garantia de que continuará comandando a primeira-secretaria, responsável pela
administração de um orçamento anual de 2 bilhões de reais e epicentro de uma série de
escândalos de corrupção. O PSDB chegou a piscar diante da proposta de assumir a primeira-
vice-presidência, a quarta-secretaria e a presidência da Comissão de Assuntos Econômicos.
Adversário histórico de Sarney, até o senador Fernando Collor prometeu entregar seu voto e o
de mais seis petebistas em troca do comando da Comissão de Relações Exteriores. O PR,
partido com quatro senadores, obteve o compromisso mais prosaico: a troca da frota de carros
oficiais, hoje composta de Fiat Marea da década de 90.
No atacado, Sarney garantiu ainda que não mexerá na estrutura do Conselho de Ética - uma
promessa que agrada em cheio a um colégio eleitoral no qual um quarto de seus membros
responde a processos. O senador também avisou a Dilma Rousseff que a apoiará na sucessão
de Lula, ao mesmo tempo em que falou a José Serra, o provável candidato tucano, que não
tem nada contra ele e que ainda está indeciso sobre os rumos que tomará em 2010. Foram
tantas promessas que elas acabaram se sobrepondo e criando um incidente. Na quinta-feira
passada, depois de anunciarem o apoio a Sarney, os tucanos voltaram atrás e se alinharam ao
petista Tião Viana. Descobriram que os cargos prometidos ao partido entraram em
negociações com outras bancadas. A confusão, que pode acabar criando dificuldades para o
PMDB na Câmara, onde o deputado Michel Temer tinha uma eleição tranqüila, expõe o nível
de preocupação institucional que orienta as decisões de uma boa parte dos nossos políticos.
Caso Sarney confirme seu favoritismo, os petistas ameaçam trair Temer em benefício de Ciro
Nogueira, do PP. Ciro é afilhado político de Severino Cavalcanti, que renunciou ao ser
apanhado em negociações nada institucionais. Solução no Senado, problema na Câmara.
(Otávio Cabral, da Veja)
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Informe JP
1 de fevereiro de 2009
A disputa no Senado
2 de fevereiro de 2009
de uma derrota acachapante. Sarney ainda pode prevalecer, mas prenuncia-se um placar
apertado. Ao relatar o telefonema de Roseana a colegas de partido, Sérgio Guerra disse ter
tido a impressão de que a filha de Sarney chorava do outro lado da linha. Segundo a descrição
do presidente tucano, Roseana lamuriou-se da atmosfera de guerra que se estabeleceu no
Senado.
Disse que, se tivesse idéia de que a coisa tomaria esse rumo, não teria permitido que o pai, já
entrado em anos, se envolvesse na refrega. De duas uma, concluiu um interlocutor de Sérgio
Guerra: ou Roseana tentava amalocer o coração do tucanato ou o otimismo que reinava ao
redor de Sarney se dissipou.
Na reta final, grupo de apoio a Tião diz contar com 43 votos no Senado
2 de fevereiro de 2009
3 de fevereiro de 2009
MONOPÓLIO NO CONGRESSO
O senador pelo Amapá José Sarney e o deputado paulista Michel Temer, ambos do PMDB,
venceram ontem as eleições para as presidências do Senado e da Câmara federais. Sarney
obteve 49 votos contra 32 dados ao petista Tião Viana. Temer teve 304 votos. Ele disputou o
cargo com os deputados Ciro Nogueira (PP-PI) e Aldo Rebelo (PC do B-SP), que receberam,
respectivamente, 129 e 76 votos. Com isso, o PMDB comandará as duas Casas no biênio
2009-2010. É a primeira vez que vigora tal "monopólio partidário" no Congresso. Em seu
discurso, antes de serem conhecidos os resultados, tanto na Câmara como no Senado, Aldo
Rebelo criticou a virtual vitória do PMDB nas duas Casas: "O peixe grande invade o espaço
dos peixes pequenos. Não se pode dar o monopólio do Congresso a um partido só. Não creio
que isso seja saudável para a democracia", disse o comunista.
Foto: reprodução
É a terceira vez que Sarney ocupa a presidência do Senado - ele já exerceu o cargo nos
biênios 1995-1997 e 2003-2005. Para ser eleito presidente do Senado, é preciso conquistar a
maioria simples dos votos dos senadores presentes - os 81 senadores compareceram. A
votação foi manual.
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'Velho retrógrado' – Sarney rebateu críticas de aliados de Tião de que seu retorno à
presidência representa a manutenção do conservadorismo político na Casa. "Ouvi muitos
discursos aqui. Uma parte quero contestar porque é injusta. Desde que comecei como político,
sempre procurei caracterizar-me como inovador. Nunca meus olhos ficaram como lanternas
voltadas para trás. [...] Não me chamem de um homem retrógrado, como se fosse um velho
que chega aqui sem querer renovar o Senado. Sempre tive esta vontade", afirmou.
O senador listou uma série de medidas implementadas durante sua gestão na Casa para
mostrar que, no passado, foi favorável à renovação. "Fundei os primeiros circuitos fechados
de TV, depois a primeira TV educativa do Brasil. Não me chamem de um velho que não tem
gosto pela inovação. aqui no Senado, quando cheguei, a idéia da informatização foi minha.
Acho injusta a informação de que é um retrocesso eu disputar o Senado."
Ele disse ainda que decidiu lançar-se na corrida à presidência da Casa após ser "convocado"
por parlamentares de partidos diversos. Depois de ser criticado por ter lançado seu nome na
disputa tardiamente, Sarney disse que não desejou disputar o comando do Senado, mas que
não poderia "fugir ao dever" de atender aos colegas -tendo "a Deus como testemunha" da sua
disposição inicial de não concorrer ao cargo.
"Eu nunca fui candidato pela minha vontade, mas por convocação. Eu não queria disputar a
presidência do Senado, fui convocado como um homem público que não pode deixar de fugir
ao dever de atender a essa convocação no momento em que colegas de quase todos os
partidos me solicitavam que assim eu fizesse", afirmou.
Interesses – A disputa pela presidência do Senado envolve interesses partidários que vão
além do desejo de comandar o Congresso Nacional. O novo presidente da Casa terá a
prerrogativa de selecionar o que entra na pauta de votações em pleno ano eleitoral. Com
mandato de dois anos, Sarney estará no comando da Casa durante a disputa pela Presidência
da República, em 2010.
Cabe ao presidente do Senado ditar o ritmo de votações e elaborar a pauta, o que poderá
beneficiar ou prejudicar o governo em meio à corrida rumo ao Palácio do Planalto.
Os peemedebistas, que não mostram disposição em lançar candidato próprio à Presidência no
ano que vem, são cortejados pelo PT e pela oposição para uma eventual composição de chapa.
Com a presidência do Senado, o partido ganha força para as negociações com governo e
oposição nas negociações pré-eleitorais.
Além da força política de presidir o Congresso, o senador eleito para comandar a Casa vai
administrar um orçamento estimado em R$ 2,7 bilhões ao ano. O valor supera orçamentos de
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várias capitais e grandes municípios brasileiros, o que reforça a importância do cargo para os
partidos - que também pleiteiam cargos na Mesa Diretora.
O presidente ainda autoriza, ou não, a instalação de CPIs (Comissões Parlamentares de
Inquérito).
Apego ao poder é marca da biografia de Sarney
O senador José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, o José Sarney, 78 anos, nasceu em 24 de
abril de 1930, em Pinheiro (Baixada Maranhense). Ocupou seu primeiro cargo político há
mais de 50 anos, como deputado. Desde então, nunca deixou de estar próximo ao Poder,
alternando mandatos no Legislativo e no Executivo. Neste ano, volta à presidência do Senado,
cargo que já exerceu por duas vezes - de 1995 a 1997 e de 2003 a 2005.
Filho de Sarney de Araújo Costa e Kiola Ferreira de Araújo Costa, José Sarney é bacharel em
Direito pela Faculdade de Direito do Maranhão. Integrou a UDN (União Democrática
Nacional), partido que fazia oposição ao governo de Getúlio Vargas.
Também foi líder do governo Jânio Quadros na Câmara e presidiu a Arena e o PDS (Partido
Democrático Social), braços políticos do regime militar (1964-1985). Com a
redemocratização do país, integrou-se ao PMDB.
Em 1965, elegeu-se ao governo do Maranhão com o apoio do presidente Castelo Branco. Em
1971, entrou no Senado e saiu em 1985 para ser vice de Tancredo Neves.
Com a morte de Tancredo, antes da posse, foi Sarney o primeiro presidente do país após a
ditadura. Foi sob seu governo que a Assembléia Constituinte aprovou, em 1988, a atual
Constituição.
Após deixar a Presidência, Sarney voltou ao Senado, agora eleito (e reeleito duas vezes) pelo
PMDB do Amapá, já que no Maranhão sua eleição era incerta.
Membro da Academia Brasileira de Letras, Sarney costuma dizer que sua verdadeira vocação
é a literatura. A política, segundo ele, foi seu destino. Como escritor, é autor de diversos
romances, livros de poesia e obras sobre política no país.
(Folha Online)