Вы находитесь на странице: 1из 13

Aposentadoriade trabalhador rural:

prova do tempode carência


Elaborado em 09.2002.
Para tal fim, será necessária a comprovação do recolhimento das contribuições
previdenciárias antes do advento do mencionado diploma legal, não bastando a mera
apresentação do registro em carteira profissional.

Elaborado por Valéria da Silva Nunes, juíza federal em São Paulo (SP).
PROC. : 2000.03.99.040539-2 AC 608335
ORIG. : 9900000974 /SP
APTE : Instituto Nacional do Seguro Social - INSS
ADV : LUIZ CARLOS BIGS MARTIM
APDO : VALDOMIRO APARECIDO MAGRI
ADV : ANTONIO FLAVIO ROCHA DE OLIVEIRA
REMTE : JUIZO DE DIREITO DA 2 VARA DE SANTA FE DO SUL SP
RELATOR : JUÍZA CONV. VALÉRIA NUNES / SEGUNDA TURMA

RELATÓRIO

A Exma. Juíza Federal VALÉRIA NUNES (Relatora): Valdomiro Aparecido Magri


move a presente ação declaratória com pedido condenatório visando ao reconhecimento do
tempode serviço laborado sem registro em CTPS nas lides rurais no período de 30/11/63 a
31/12/1974, sua somatória com o devidamente registrado em carteira, bem como a
conversão dos períodos laborados em atividade especial, na condição de frentista e
faxineiro (fls.27/30), para efeito de concessão do benefício da aposentadoriapor tempode
serviço.

O MM Juiz a quo julgou procedente o pedido, concedendo a aposentadoriaintegral por


tempode serviço na forma da Lei n.º 8.213/91, determinando a incidência sobre as parcelas
vencidas de juros e correção monetária contados a partir da citação. Condenou a autarquia
ao pagamento das despesas e da verba honorária fixada em 10% (dez por cento) sobre o
valor da condenação. Isenção das custas. Determinou o reexame necessário.

Apela a autarquia, alegando, preliminarmente, ser a sentença ultra petita, uma vez que não
se manifestou sobre o cálculo com base nas últimas 36 contribuições, conforme pedido da
parte autora. Alega não haver um início razoável de prova material a comprovar a atividade
rurícola, nem tampouco laudo probatório da atividade exercida em condições especiais.
Pede isenção da verba honorária, que o cálculo da correção monetária seja efetuado nos
termos da Súmula 148 do STJ e que os juros sejam calculados à taxa de 6% (seis por cento)
ao ano, nos termos da legislação.
Com contra-razões, subiram os autos a esta instância, e, após distribuição, vieram-me
conclusos.

É o relatório.

VOTO

A Exma. Juíza Federal VALÉRIA NUNES (Relatora): A douta decisão recorrida julgou
procedente o pedido formulado pelo autor face ao Instituto Nacional do Seguro Social –
INSS, pleiteando a aposentadoriapor tempode serviço.

Preliminarmente, o fato de não ter sido especificada expressamente a forma de cálculo a ser
efetuado não configura sentença ultra petita, pois, por consequência lógica, o cálculo
haverá de observar a forma vigente à época da implementação dos requisitos legais.

O artigo 106 da Lei nº 8.213/91 enumera de forma sucinta e simplificada o rol de


possibilidades para comprovação de atividade rural, não criando óbice a outros meios de
prova admitidos pelos nossos Tribunais.

Embora referida norma não especifique a natureza de início razoável de prova material,
quer em sua potencialidade, quer em sua eficácia, a prerrogativa de decidir sobre a validade
dos documentos e concluir pela sua aceitação, ou não, cabe ao juiz. Qualquer que seja ela e
particularmente a escrita, deve levar à convicção sobre o fato probando, isto é, além de
pertencer à época dos fatos, deve fornecer indicações seguras de que houve o evento que se
pretende provar.

Nesse passo, verifico que foram juntados aos autos os seguintes documentos: certificado de
dispensa de incorporação (fls.30), título de eleitor (fls.30) e certidão de casamento (fls.31),
constituindo tais documentos, a meu sentir, início razoável de prova material, estando em
consonância com a prova testemunhal produzida, com validade para suprir eventuais
lacunas deixadas pelos documentos juntados.

Trago à colação ementa de acórdão na esteira de tal entendimento:

"PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. TEMPODE SERVIÇO PRESTADO NA ATIVIDADE


RURAL. PROVA TESTEMUNHAL COLHIDA COM AS CAUTELAS DO JUÍZO.

- Ação declaratória é via processual adequada para comprovação de tempode


serviço.

- A prova testemunhal produzida em juízo, com as devidas cautelas, tem a


mesma eficácia das demais provas.

- Apelação improvida." (1)

Verifico do exame dos documentos juntados aos autos que o autor laborou de 30/11/63 a
31/12/74 nas lides rurais sem registro em CTPS, de 01/01/75 a 31/07/76 como frentista, de
02/08/76 a 31/7/79 como faxineiro, de 04/03/96 a 01/10/99 como auxiliar de limpeza, de
01/07/79 a 01/09/95 como autônomo, contribuinte individual, conforme comprovam as
cópias de carnês de contribuição anexadas aos autos.

Trabalhou portanto, como rurícola, trabalhador urbano em atividade comum e em atividade


especial.

Analisemos primeiramente a atividade rural.

Em se tratando de trabalhador rural, o período anterior à vigência da Lei nº 8.213/91


poderá ser computado independentemente do recolhimento das contribuições a ele
correspondentes, exceto para efeito de carência, conforme disposição expressa do artigo
55, parágrafo 2º do citado diploma legal.

Com relação ao período de carência de que trata o art. 142 da mesma lei, vinha eu
decidindo que o período exercido na atividade rurícola anteriormente à Lei n.º 8.213/91
poderia ser computado independentemente do recolhimento das contribuições
previdenciárias, em função da decisão liminar proferida na ADIN n.º 1664-4, na qual o
Supremo Tribunal Federal afastou a aplicação do inciso IV do art. 96 da Lei n.º 8.213/91
quanto ao tempode serviço do trabalhador rural, enquanto estava este desobrigado de
contribuir. Sucede que a mencionada ADIN foi julgada prejudicada por perda de seu
objeto, em decisão proferida pela Relatora Ellen Gracie aos 20/03/2002 (DJ 04/04/2002),
de modo que devo reexaminar a questão, considerando até mesmo a edição da Lei n.º
9.528/97, que trouxe alterações ao artigo 55 da Lei n.º 8.213/91 e tomando em consideração
também o quanto disposto no art. 39, II do mesmo diploma legal.

Feitas tais considerações, concluo que o tempode serviço em atividade ruralanterior à Lei
n.º 8.213/91 poderá ser computado para efeito de contagem de tempo, mas não pode ser
considerado para efeito de carência, consoante dispõe o § 2.º do art. 55 da Lei n.º 8.213/91,
norma explicitada no § 3.º do art. 26 do Decreto n.º 3.048/99.

O programa de assistência ao trabalhador rural(PRORURAL), instituído pela Lei


Complementar n.º 11, de 25 de maio de 1971 era custeado por contribuição devida pelo
produtor sobre o valor comercial dos produtos rurais e pelas empresas (art. 15, incisos I e
II) e foi esta legislação que instituiu vários benefícios ao trabalhador rural, exceto a
aposentadoriapor tempode serviço, benefício que passou a lhe ser deferido com a edição
da Lei n.º 8.213/91, de forma que justifica-se a exigência da referida carência.

Esta Turma firmou, portanto, entendimento no sentido de que o período exercido na


atividade rural, anteriormente à Lei n.º 8.213/91, pode ser reconhecido como tempode
serviço, mas, para efeito de carência, há de ser comprovado o recolhimento das
contribuições previdenciárias antes do advento do mencionado diploma legal, não
bastando a mera apresentação do registro em carteira profissional, pois que àquela
época a contribuição previdenciária do trabalhador rural não era obrigatória, mas
facultativa.

O tempode serviço do trabalhador urbano, por outro lado, para efeito de carência, pode
ser comprovado mediante mera anotação em carteira, pois a contribuição
previdenciária nesse caso sempre foi compulsória e, mesmo que não tenha havido o
recolhimento das contribuições previdenciárias pelo empregador urbano, tal fato não
invalida o direito à contagem do tempotambém para efeito de carência, sobretudo porque a
obrigação de arrecadar as contribuições, descontando-as em parte da remuneração do
empregado, compete exclusivamente ao empregador. Caberia à autarquia comprovar
eventual falsidade das anotações contidas na CTPS relativas ao período exercido em
atividade urbana. Em não o fazendo, restam as mesmas incólumes e aptas à formação da
convicção do magistrado no exercício de sua função judicante.

In casu, não há como acolher a totalidade do período pleiteado, vez que o período mais
remoto efetivamente atestado com prova documental é o ano de 1967, de forma que
reconheço como tempode serviço prestado em atividade rural, sem registro em carteira, o
período de 01/01/67 a 31/12/74, ante o irrefutável início de prova material, acrescido da
prova testemunhal idônea; tal período, embora não podendo ser admitido para efeito de
carência, há de ser considerado para efeito de contagem de tempo.

O artigo 142 da Lei n.º 8.213/91 outorga as aposentadorias por idade, tempode serviço e
especial, desde que o segurado tenha implementado as condições necessárias à obtenção do
benefício. Essa norma traz também uma tabela consistente no ano de implementação das
condições e os meses de contribuiçãoexigidos, partindo de 1991 (ano da vigência da lei)
até 2011, quando o segurado completará 180 meses de contribuição.

Dessa forma, embora reconhecido o tempode serviço na qualidade de rurícola, para efeito
de carência há de ser observada a tabela inscrita no art. 142 do mesmo diploma legal, de tal
forma que na espécie dos autos não há como deixar de considerar a necessidade de
cumprimento de uma carência de 108 meses de contribuições previdenciárias, pois a
propositura da ação data de 1999, requisito que efetivamente foi cumprido pelo autor, que
comprovou nos autos ter vertido aos cofres previdenciários só em carnês como contribuinte
individual mais de 165 contribuições.

Não se há de confundir período de carência com período de tempode serviço prestado, pois
os dois são requisitos distintos para a aposentadoriapor tempode serviço, ou seja:
tempomínimo exigido por lei e cumprimento do período de carência nos termos do artigo
142 da legislação de benefícios previdenciários.

Veja-se, a propósito, a jurisprudência do E. Superior Tribunal de Justiça:

"PREVIDENCIÁRIO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. INÍCIO DE PROVA MATERIAL.


CERTIFICADO DE RESERVISTA. PERÍODO DE CARÊNCIA. TRABALHADOR RURAL.
CONTRIBUIÇÃO. COMPROVAÇÃO. NECESSIDADE. OMISSÃO. EFEITO INFRINGENTE. ERRO
NA APRECIAÇÃO DO JULGADO.
"Lei n.º 8.213/91. O tempode atividade ruralanterior a 1991 dos segurados
de que tratam a alínea "a" do inciso I ou do inciso IV do art. 11 da Lei
n.º 8.213/91, bem como o tempode atividade rurala que se refere o inciso
VII do art. 11, serão computados exclusivamente para fins de concessão do
benefício previsto no art. 143 desta Lei e dos benefícios de valor
mínimo, vedada a sua utilização para efeito de carência, de contagem
recíproca e de averbação de tempode serviço de que tratam os artigos 94 e
95 desta Lei, salvo se o segurado comprovar recolhimento das
contribuições relativas ao respectivo período feito em época própria.
Recebo os embargos para aclarar a decisão no sentido de que não deve ser
dispensado o período de carência para a concessão do benefício de
aposentadoriapor tempode serviço, resguardado, entretanto, o direito do
autor à aposentadoria ruralpor idade." (2)

"PREVIDENCIÁRIO – APOSENTADORIAPOR TEMPODE SERVIÇO – TRABALHADOR RURAL–


SEGURADO ESPECIAL – AUSÊNCIA DE RECOLHIMENTO DA CONTRIBUIÇÃO FACULTATIVA
– CARÊNCIA

A concessão da aposentadoriapor tempode serviço a trabalhador rural, na


condição de segurado especial, está condicionada ao recolhimento das
contribuições facultativas à Previdência Social, nos termos do art. 39,
II da Lei 8.213/91, não lhe assegurando a percepção do referido
benefício, o recolhimento obrigatório sobre percentual retirado da
receita bruta da comercialização da produção. Recurso não conhecido." (3)

Passo ao exame da atividade especial.

Passo à análise do tempode serviço em atividade insalubre.

Até o advento da Lei n.º9.032/95 a aposentadoriaespecial era concedida em virtude do


exercício de atividades profissionais consideradas especiais, conforme classificação
inserida nos Anexos I e II do Decreto n.º 83.080/79 e Anexo do Decreto n.º 53.831/64, os
quais foram inclusive ratificados pelo art. 292 do Decreto n.º 611/92, que inicialmente
regulamentou a Lei n.º 8.213/91.

A Lei n.º 9.032/95 promoveu perniciosa alteração no art. 57 e parágrafos da Lei n.º
8.213/91, retroagindo em prejuízo dos segurados, ao suprimir a expressão "conforme
atividade profissional", passando a exigir do segurado a apresentação de provas quanto à
efetiva exposição aos agentes nocivos, bem como das condições especiais prejudiciais à
saúde.

O Decreto n.º 611, de 21/07/92, manteve a vigência dos anexos I e II aos referidos Decretos
53.831/64 e 83.080/79 para efeito de concessão de aposentadorias especiais (art. 292), regra
que só veio a ser revista a partir da edição do Decreto n.º 2.172, de 05 de março de 1997 e
posteriormente com o Decreto n.º 3.048, de 06/05/99, cujo art. 70 estabelece:

"Art.70. É vedada a conversão de tempode atividade sob condições


especiais em tempode atividade comum.

§ único – O tempode trabalho exercido até 05/03/97, com efetiva exposição


do segurado aos agentes nocivos químicos, físicos e biológicos ou
associação de agentes constantes do Quadro Anexo ao Dec. 53.831, de
25/03/64, e do Anexo I do Dec. 83.080, de 24/01/79, e até 28/05/98,
constantes do Anexo IV do Regulamento dos Benefícios da Previdência
Social, aprovado pelo Decreto 2.172, de 05/03/97, será somado, após a
respectiva conversão, ao tempode trabalho exercido em atividade comum,
desde que o segurado tenha completado, até as referidas datas, pelo menos
20% do tempo necessário para a obtenção da respectiva aposentadoria,
observada a seguinte tabela:

.................................................."

Portanto, hoje a matéria relativa à aposentadoria especial encontra-se regulada nos artigos
57 e seguintes da Lei n.º 8.213/91, com as alterações introduzidas pelas Leis n.º 9.032/95,
n.º 9.528/97, n.º 9.732/98 e 9.711/98 e respectivo decreto regulamentador n.º 3.048/99, que
expressamente revogou os Decretos 83.080/79 e 2.172/97 (art.3.º).

A partir da edição da Lei n.º 9.032/95 a concessão da aposentadoria especial passou a


depender da comprovação pelo segurado do tempode trabalho permanente, não ocasional
nem intermitente em situações especiais prejudiciais à saúde.

Lembro a propósito a lição da doutrina, ao tratar do artigo 58 da Lei n.º 8.213/91:

"A nova redação do caput desse dispositivo, originada pela medida


Provisória n.º 1.523, de 11 de outubro de 1996, reeditada até ser
convertida na Lei n.º 9.528/97 apresenta duas inovações principais: a) o
legislador não quis deixar qualquer dúvida quanto à necessidade de
demonstração das condições especiais impedindo que o simples exercício de
uma determinada profissão – onde se presumia que determinada categoria
estaria submetida a agentes insalutíferos – pudesse permitir o direito à
prestação. Agora, a concessão restringe-se apenas aos segurados que
demonstrarem a efetiva presença de agentes insalubres, penosos, ou
perigosos nas suas atividades, assemelhando-se ao que ocorre na
verificação de insalubridade no Direito do Trabalho. Exige-se, ainda,
para que a atividade seja classificada como especial, que a freqüência do
trabalho submeta o obreiro aos agentes nocivos de forma permanente e
habitual (§3.º do art. 57), ou seja, a exposição a estas condições todos
os dias e durante todas as horas. Se a exposição foi intermitente, isto
é, habitual, todos os dias, mas durante pequenos intervalos, não será
considerada especial. b) Aboliu-se a exigência de lei, delegando para o
Poder Executivo a atribuição de fixar os agentes agressivos cuja efetiva
exposição ensejaria o direito de obter a aposentadoria especial." (4)

Ante o príncípio da irretroatividade da lei e também em obediência ao aforismo "tempus


regit actum", as novas regras, por certo, devem ser aplicadas para o futuro, aplicando-se
quanto às aposentadorias especiais hoje requeridas, a regra vigente quando da efetiva
realização do trabalho insalubre, até porque o prejuízo, o dano à saúde do segurado
aconteceu efetivamente quando da realização do serviço insalubre e este fato não pode ser
ignorado. Ou como afirma Maria Helena Diniz:

"A nova lei só deverá incidir sobre os fatos que ocorrerem durante sua
vigência, pois não haverá como compreender que possa atingir efeitos já
produzidos por relações jurídicas resultantes de fatos anteriores à sua
entrada em vigor." (5)

Ao estabelecer a distinção entre direito adquirido e irretroatividade da lei, salientou Geraldo


Ataliba:

"Realmente cumpre distinguir a incidência da lei nova sobre as situações


em curso ("facta pendentia") e sobre as situações futuras ("facta
futura") da retroação, em que a norma regride para o passado atingindo os
"facta praeterita".

Esquematicamente o tempopode ser dividido em tres momentos: passado,


presente e futuro. A lei que surge em dado instante, o presente, pode, em
princípio regular desde esse momento, isto é, de agora para o futuro.
Segue daí que nada tem a fazer com o momento que a precedeu, o qual é,
para ela, o passado. Seu domínio é o do presente e o do futuro.

O ocorrido no passado, nele se exaure e ao seu domínio pertence. Assim,


os fatos que nasceram no passado e os efeitos deste fato enquanto já
passados, são evidentemente inatingíveis por uma lei que os suceda. Se
algo era liso, legítimo ou protegido em dada época não pode, logicamente,
por força de regra ulterior, ser desconstituído da lisura e legitimidade
que à época possuía. É certo que as mesmas situações poderão a partir de
um dado instante, o da incidência da lei nova, deixar de persistir como
lisas, legítimas e protegidas. Contudo, aquelas sobre as quais já desceu
a cortina do tempoao momento da incidência da nova lei pertencem a uma
unidade cronológica vencida e inacessível ao diploma novo, sob pena de
ilogismo do direito e de sua conversão na mais rúptil e quebradiça das
garantias". (6)

Entendo assim que estamos trabalhando nas fronteiras do direito adquirido e o que interessa
é como se dá a aquisição dos direitos decorrentes de elementos autônomos que se
realizaram de forma autônoma e válida de acordo com a lei anterior ou seja, com fatos
iniciados, mas não completados quando a lei nova é editada.

É de todos sabido que o benefício é regido pela lei em vigor no momento em que reunidos
os requisitos para sua fruição, mas, em se tratando de direitos de aquisição complexa, a lei
mais gravosa não pode retroagir exigindo outros elementos comprobatórios do exercício da
atividade insalubre, antes não exigidos, sob pena de agressão à segurança jurídica que o
ordenamento jurídico visa preservar.

Lembro, a propósito, a lição do insuperável mestre R.Limongi França, ao caracterizar o


direito à aposentadoriacomo um direito de aquisição sucessiva:

"Trata-se, como vimos, daqueles que se obtêm mediante o decurso de um


lapso de tempo. È o caso da prescrição, do direito à aposentadoria, da
maioridade, etc.

Não se confundem com os direitos a termo. Nestes últimos, a perfeição


depende da mera incidência de um evento futuro e certo; naqueles, o
direito se adquire dia-a-dia, com o correr sucessivo do prazo.

A retroação total, conforme o preceito de Muller, incorreria em ignorar a


patrimonialidade do prazo já decorrido. Por outro lado, a aplicação
integral da lei antiga (Código francês, art. 3.381) implicaria em
considerar adquirido um direito cuja perfeição estava na dependência de
elementos ainda não verificados.

A solução, pois, parece encontrar-se na aplicação imediata da lei,


considerando-se válido o lapso já decorrido, e computando-se o lapso por
escoar de acordo com a lei nova. Está isto não apenas de acordo com a
lógica jurídica, senão também com a regra do efeito imediato, a qual
constitui atualmente uma das vigas mestras do nosso sistema de Direito
Intertemporal." (7) (grifos meus)

A jurisprudência vem reiteradamente decidindo neste sentido, consoante ementas de


acórdãos que ora transcrevo:

"PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIAESPECIAL. EXPOSIÇÃO A AGENTES INSALUBRES.


RUÍDO. PERÍODO DE TRABALHO ESPECIAL ANTERIOR À LEI N.º9.032/95 E AO
DECRETO N.º 2.172/97. TRABALHO PERMANENTE, NÃO OCASIONAL, NEM
INTERMITENTE. DECRETO N.º 53.831/64. REQUISITOS. RUÍDO SUPERIOR A 80
(OITENTA) DECIBÉIS.

A legislação vigente à época do período trabalhado sob condições


insalubres, Decreto n.º 53.831/64, exigia como requisito para
aposentadoria especial a exposição a ruído superior a 80 (oitenta)
decibéis, não especificando se a exposição deveria ser permanente. A
permanência só passou a ser exigida com a edição da Lei n.º 9.032/95, a
qual só pode produzir os seus efeitos para o futuro, não podendo
retroagir, sob pena de malferir a garantia constitucional da
irretroatividade das leis.

Comprovado o trabalho em condições insalubres, o autor tem direito ao


restabelecimento do benefício, o qual foi concedido levando em
consideração o período trabalhado sob essas condições.

Redução dos juros moratórios para 0,5% ao mês, a partir da citação.

As parcelas em atraso devem ser corrigidas monetariamente nos termos da


Lei n.º 6.899/81 (Súmula n.º 148 do STJ), a partir da data em que se
tornaram devidas.

Apelação e remessa oficial a que se dá parcial provimento, tão-somente


para reduzir os juros moratórios para 6% (seis por cento) ao ano." (8)
(grifos meus)

"PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIAPOR TEMPODE SERVIÇO. INEXISTÊNCIA DE


JULGAMENTO EXTRA-PETITA OU ULTRA-PETITA. RECONHECIMENTO DE ATIVIDADE
RURALE CONVERSÃO DE TEMPODE SERVIÇO ESPECIAL PARA COMUM. USO DE EPI.
EMENDA 20/98. JUROS DE MORA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. REMESSA OFICIAL.
1..................................................

2..................................................

3..................................................

4. Até a edição da Lei nº 9.032/95, o exercício da atividade de servente


junto à PERDIGÃO SA e a existência do formulário SB-40, garantem ao autor
o direito de ter o período respectivo convertido, eis que, na época da
prestação do serviço, a atividade era considerada especial, em
conformidade com a legislação vigente.

5. Quanto a notícia sobre o uso de Equipamento de Proteção Individual


(fl. 38), resta pacífico o entendimento de que o uso do EPI não
descaracteriza a nocividade causada ao ser humano, não sendo motivo para
se afastar a conversão do tempode trabalhado para o trabalho especial,
quando não houver prova de sua real efetividade.

6. Ante a documentação acostada aos autos, entendo que merece acolhida o


apelo do autor quanto aos períodos indicados no laudo técnico e SB-40 de
fls. 49/54 (documentos não impugnados pelo INSS), haja vista, que restou
demonstrada a exposição a agentes nocivos de forma potencialmente danosa
à saúde. Entretanto, cabe ressalvar que a conversão de tempo especial
para comum só é permitida até 28/05/1998, em razão da limitação imposta
pela Lei 9.711/98.

7. No caso em tela, até a EC 20/98, o autor possuía direito adquirido à


aposentadoriaproporcional, referente aos 33 anos, 04 meses e 22 dias de
serviço completados até 15/12/1998, correspondente ao percentual de 88%
do salário-de-benefício, restando-lhe ainda, até a DER, 12 meses, além
dos 33 anos necessários à concessão do percentual referido.

8. Cabe a parte autora a aposentadoriaproporcional no percentual de 88%


do salário de benefício, em razão dos 33 anos completados até 15/12/1998,
não cabendo acréscimos em face dos 12 meses restantes, pelo fato do autor
não ter completado a idade mínima de 53 anos, conforme previsto na regra
de transição.

9. A DIB do benefício deve ser a data de entrada do requerimento


(16/08/1999), computando-se à parte autora o benefício da
aposentadoriaproporcional, com o pagamento das parcelas vencidas desde a
data do requerimento administrativo, atualizadas monetariamente e,
acrescidas de juros de mora de 0,5% ao mês, conforme requerido na peça
inicial.

10. O período básico de cálculo deverá conter os trinta e seis salários


de contribuições anteriores a 12/98, corrigidos monetariamente até a data
da entrada do requerimento administrativo.

11. Honorários advocatícios a cargo do INSS, fixados em 10% sobre o valor


da condenação, tendo em vista o entendimento já pacificado neste
Tribunal, em causas símeis.
12. Sentença submetida a reexame necessário a teor da Lei n.º 9.469/97.

13.Recurso Adesivo do INSS improvido.

14.Remessa Oficial e Apelação do Autor Parcialmente Providas." (9)

"PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIAPOR TEMPODE SERVIÇO. CONVERSÃO DE TEMPO


ESPECIAL EM COMUM. POSSIBILIDADE. LEI N.º 8.213/91, ART. 57 §§ 3.º E 5.º.

O segurado que presta serviço em condições especiais, nos termos da


legislação então vigente, e que teria direito por isso á aposentadoria
especial, faz jus ao cômputo do tempo nos moldes previstos á época em que
realizada a atividade. isso se verifica à medida em que se trabalha.
Assim, eventual alteração no regime ocorrida posteriormente, mesmo que
não mais reconheça aquela atividade como especial, não retira do
trabalhador o direito à contagem do tempode serviço na forma anterior,
porque já inserida em seu patrimônio jurídico. É permitida a conversão de
tempode serviço prestado sob condições especiais em comum, para fins de
concessão de aposentadoria.

Recurso provido." (10)

"PREVIDENCIÁRIO. ATIVIDADE INSALUBRE. CONTAGEM DE TEMPO. CONVERSÃO.


APOSENTADORIA.

A Lei n.º 9.711/98, bem como o Decreto n.º 3.048/99 resguardam o direito
dos segurados à conversão do tempode serviço especial prestado sob a
vigência da legislação anterior, in casu, o Decreto 53.831/64 até
14/10/1996. Precedentes desta Corte.

Recurso especial não conhecido." (11)

Há, portanto, de ser perquirido se à época em que realizada a atividade laborativa, era a
mesma considerada insalubre. Nesse passo, há de ser observado o quadro a que se refere o
art. 2.º do Decreto n.º 53.831/64, que expõe uma relação de atividades insalubres, penosas e
perigosas, classificando as atividades profissionais segundo agentes nocivos e fornecendo
respaldo ao Judiciário no que concerne a prerrogativa de decidir acerca da natureza especial
ou não do trabalho desempenhado pelo autor.

Nesse sentido, verifica-se que a atividade de frentista de 1975 a 1976 era considerada de
natureza especial, em virtude do contato direto com gasolina (cód. 1.2.11 do anexo do
decreto 53.831/64 e do anexo IV do decreto 2.172/97).

Por outro lado, a atividade exercida como faxineiro não se encontra elencada no rol das
atividades especiais, não tendo a parte autora juntado documento que efetivamente
comprovasse ser a referida atividade insalubre. Inclusive, o documento acostado aos autos
(fls.28/29) foi elaborado sem a presença do INSS, conforme exige a lei, razão pela qual este
período laborado como faxineiro não pode ser considerado como insalubre.
Todavia, apesar do reconhecimento da atividade ruralsomente a partir de 1967, bem como
da atividade insalubre somente exercida na condição de frentista, a somatória do período a
ser averbado, com o devidamente registrado em carteira e a respectiva conversão da
atividade especial exercida, além dos recolhimentos individuais comprovados, todos estes
elementos somam mais de trinta anos de serviço, o que autoriza a concessão do benefício
da aposentadoriaproporcional por tempode serviço, pois que também foi cumprida a
carência exigida.

Cumpre finalmente esclarecer que as parcelas vencidas do benefício serão monetariamente


atualizadas em função da legislação de regência (art.1º, II, da Portaria DFSJ/SP n.º 92, de
23/10/2001 – DOE de 1º/11/2001, Caderno 1 –Parte II, pág. 02/04), observada a Súmula n.º
8 deste Tribunal, incidindo sobre tais parcelas atualizadas juros de mora de meio por cento
ao mês, a partir da citação, de forma decrescente para as parcelas posteriores a tal ato
processual e de forma globalizada para as anteriores.

Os honorários advocatícios foram fixados abaixo dos limites fixados pela jurisprudência da
Turma, mas não podem ser alterados à míngua de recurso da parte, não se prestando a
remessa oficial a prejudicar a autarquia.

Diante do exposto, por meu voto, dá-se parcial provimento à apelação do INSS e à
remessa oficial para reconhecer a atividade ruralexercida pelo autor somente no período de
01/01/67 a 31/12/74, bem como para declarar como atividade especial somente o trabalho
exercido na condição de frentista (01/01/75 a 31/07/76), concedendo ao autor o benefício
da aposentadoriaproporcional por tempode serviço, a ser calculado na forma prevista no
art. 53, inciso II da Lei n.º 8.213/91.

É o voto.

VALÉRIA NUNES
Juíza Federal Convocada (Relatora)

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIAPOR TEMPODE SERVIÇO. ATIVIDADE


RURAL. ATIVIDADE URBANA COMUM E ESPECIAL. RECONHECIMENTO DE
TEMPODE SERVIÇO. CONVERSÃO DE ATIVIDADE EXERCIDA EM CONDIÇÕES
ESPECIAIS. CÔMPUTO DE TEMPO TOTAL. CONCESSÃO DO BENEFÍCIO.
CARÊNCIA CUMPRIDA. REQUISITOS LEGAIS PREENCHIDOS.

I - A atividade de rurícola sem registro em CTPS resulta comprovada se a parte autora


apresentar razoável início de prova material respaldada por depoimentos testemunhais
idôneos. Inviável o reconhecimento de todo o período exposto na exordial em face da
ausência de provas.
II – O período de trabalho rural, anteriormente à vigência da Lei n.º 8.213/91, deve ser
computado para efeito de tempode serviço, mas não pode ser considerado para efeito de
carência (Lei n.º 8.213/91, art. 55 § 2.º), uma vez que à época o recolhimento das
contribuições previdenciárias não era compulsório, mas facultativo.

III – O período de trabalho como rurícola somente poderá ser considerado para efeito de
carência (Lei n.º 8.213/91) se o segurado comprovar o recolhimento das contribuições
previdenciárias facultativas.

III- É de natureza especial a atividade do segurado que trabalhou em contato direto com
gasolina (cód. 1.2.11 do anexo do decreto 53.831/64) de 1975 a 1976, entendimento
cristalizado pela Súmula 212 do STF, sendo aplicável ao exame da matéria a legislação
vigente quando da efetiva realização do trabalho insalubre.

IV – A Lei n.º 9.711/98 (art.28), bem como o Decreto regulamentador n.º 3.048/99 (art.70 §
único) resguardam o direito adquirido dos segurados de terem convertido o tempode
serviço especial prestado sob o império da legislação anterior em comum até 28/05/98,
observados, para fins de enquadramento, os Decretos então em vigor à época da prestação
do serviço.

V - As novas exigência impostas pelos arts 57 e 58 da Lei n.º 9.032/95 só podem valer para
o futuro, ante o princípio da irretroatividade da lei mais gravosa e também em obediência
ao aforismo "tempus regit actum".

VI - Cumprido o período de carência em face do período devidamente registrado como


trabalhador urbano em CTPS (Lei n.º 8.213/91, art.142), somado aos recolhimentos como
contribuinte individual comprovados nos autos.

VI– A ausência de recolhimento das contribuições previdenciárias do trabalhador urbano


com registro em CTPS é irrelevante, sobretudo porque a obrigação de arrecadar as
contribuições, descontando-as da remuneração do empregado é do empregador.

VII- A parte autora faz jus à concessão do benefício de aposentadoriaproporcional por


tempode serviço, uma vez demonstrado o implemento dos requisitos legais.

VIII – Apelação e remessa oficial parcialmente providas.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, ACORDAM
os integrantes da 2ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade,
em dar parcial provimento à remessa oficial e à apelação do INSS, na conformidade da Ata
de Julgamento e nos termos do voto da Juíza Federal Convocada Relatora.
São Paulo, 16 de setembro de 2002. (Data do julgamento)

VALÉRIA NUNES
Juíza Federal Convocada (Relatora)

NOTAS

1. TRF 5ª Região, AC n.º 9605290561/RN, Rel. Juiz Nereu Santos, 3ª Turma, j.:
29/10/1998, DJU : 20/11/1998 pág : 1060)
2. EDRESP 256846/SP, STJ, 5ª Turma, Relator Ministro José Arnaldo da Fonseca, j.
22/05/2001, v. u., DJ 13/08/2001, pág. 210.
3. RESP n.º 232746/RS, STJ, 5ª Turma, Relator Ministro Jorge Scartezzini, j.02/12/99,
v. u DJ 14/02/2000, pág. 67.
4. Daniel Machado da Rocha e outro in "Comentários à Lei de Benefícios da
Previdência Social", Livraria do Advogado Editora, Porto Alegre, 2000, pág. 213.
5. Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro Interpretada, Ed. Saraiva, 2ª edição,
1996, pág. 178.
6. "Isenção e Subvenção Distinção entre os institutos – irretroatividade da lei – direito
adquirido", RT-508, págs. 49/62.
7. "A irretroatividade das leis e o direito adquirido", Ed. RT, 1982, 3ª edição,
págs.232/233.
8. AC n.º 3800033993-9/98/MG, TRF 1ª Região, Primeira Turma, Relator Juiz
Antonio Savio de Oliveira Chaves, j. 24/04/2001, DJ 16/07/2001, pág.35.
9. AC n.º 384103, TRF 4ª Região, Quinta Turma, Relator Juiz Marcos Roberto Araújo
dos Santos, j. 25/06/2001, v. u., DJ 11/07/2001, pág.373.
10. STJ, REsp. n.º 425.660, Relator Ministro Felix Fischer, 5ª Turma, ,j. 11/06/2002,
v.u., DJ 05/08/2002, pág. 407.

11. STJ, Resp. n.º 313.089, Relator Ministro Fernando Gonçalves, 6.ª Turma, j.
16/05/2002, v. u., DJ 10/06/2002.

Вам также может понравиться