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Só o que o jovem atleta consegue ver desse homem são os seus sapatos, que
notadamente são de diferentes modelos, apesar de terem a mesma cor. De repente,
assustado, Dan Millman (Scott Mechlowicz), o protagonista dessa história, acorda
suado e assustado. Acabara de ter um incômodo pesadelo...
Esse início de história nada mais é do que o prenúncio de que estamos diante de um
somatório de fatos e acontecimentos que certamente poderiam mudar a vida de alguém.
Ainda mais quando Millman conhece Sócrates (o veterano Nick Nolte, em mais uma
bela interpretação), atendente de um posto de gasolina, que calça os sapatos vistos pelo
jovem em seu sonho.
E o que os une além do sonho que levou Dan ao encontro de Sócrates? A princípio nada
parece ser comum entre os universos em que ambos vivem. O jovem demonstra estar
deslumbrado com as vantagens materiais que o mundo pode lhe dar por ser um atleta de
ponta. É o que fica claro quando diz a Sócrates que tem tudo o que precisa, de mulheres
a notas altas, de dinheiro farto a muitos amigos e, principalmente sucesso tanto na
escola quanto no esporte.
Nesse momento, querendo comprovar o quanto é bem sucedido e preparado para vencer
na vida, Millman lança um desafio a Sócrates. Diz o ginasta para o enigmático
atendente do posto de gasolina que qualquer pergunta pode a ele ser dirigida. Ele está
pronto para responder sem qualquer problema. Está tão resoluto e seguro que acredita
saber todas as respostas, não importando nem mesmo quais serão as perguntas a ele
direcionadas.
Afinal de contas, jovem e forte, fazendo sucesso com as garotas, tendo ótimos
resultados na escola, cotado para ganhar campeonatos e tornar-se atleta olímpico,
contando com amigos e tendo dinheiro no banco, o que poderia fazer com que ele fosse
infeliz?
O que faz, no entanto, com que ele não consiga dormir a noite? Se tudo é tão lindo e
maravilhoso, o que motiva não só a insônia que o atinge, mas também um sentimento de
vazio que por tantas vezes toma conta de seu corpo?
“Tire o lixo de sua mente”, diz a ele Sócrates. Aprenda a perceber e saborear o mundo
que está ao seu redor. Amplifique os seus sentidos. Foque mas não perca a capacidade
de ampliar o seu olhar e perceber tudo o que existe no mundo. Não há momentos
perdidos em nossas vidas. Cada experiência pode e deve ser percebida como única e
excepcional. Sempre há algo acontecendo. O que existe de mais importante na vida é
esse momento, o agora...
E o que fazemos em relação a isso? Absolutamente nada, ou seja, na maior parte do
tempo vivemos mecanicamente, como se desprezássemos o fato de que essa experiência
e cada minuto que passou jamais irão nos ser novamente concedidos. Vivemos
atormentados com o passado ou com o futuro. Assombrados pelos erros ou pecados que
cometemos. Assustados com o que está por vir e que, obviamente, desconhecemos e por
isso tememos. E, com isso, deixamos de viver o agora com toda a força, vibração e
energia que deveríamos dedicar a cada uma dessas experiências tão valiosas que se
colocam diante de nós.
Dan Millman não pareceu entender bem o que lhe dizia esse tão estranho tutor com o
qual deparara num posto de gasolina. Sócrates, a quem ele chamara de filósofo de loja
de conveniências, não parecia dizer coisa com coisa e, além disso, como poderia se
contentar em viver como atendente de um posto de gasolina (ao que o sábio lhe
respondia, “servir é o mais nobre de todos os propósitos”).
É através de uma pequena tragédia pessoal que Millman consegue ganhar tempo real
para reavaliar o que Sócrates estava a lhe dizer em todas as ocasiões em que haviam se
encontrado. Um acidente de moto o coloca na cama, com uma das pernas estraçalhada e
sem perspectivas (ao menos por parte dos médicos especialistas) de retornar ao esporte
que tanto amava. O que fazer? Como superar tamanha dor e sofrimento?
História real, estrelada no cinema pelo veterano e competentíssimo astro Nick Nolte,
"Poder além da vida" tem muitas lições para dividir conosco. Assistir ao filme sem se
emocionar e envolver com a história de um egocêntrico jovem campeão de ginástica
olímpica que não valoriza nada e ninguém além dele mesmo e que, ao entrar em contato
com Sócrates, atendente e mecânico de um posto de gasolina nas proximidades do
campus universitário em que Dan Millman (o campeão que só pensa em si mesmo), se
vê intrigado, literalmente em xeque e subitamente desprovido de todas as certezas que o
acompanhavam até então pode ser uma experiência riquíssima para os espectadores.
Mas não deve tal experiência se resumir somente a assistir. Devemos pensar e repensar
cada uma das valiosas pérolas existentes no filme. Sócrates atua como um autêntico
filósofo a constantemente desafiar a lógica e a obviedade que parece ser parte do
cotidiano de Millman e também dos espectadores. E é justamente nesse ponto que
reside a grande riqueza do filme, ou seja, sua capacidade de nos fazer abrir os olhos, de
observar tudo o que está ao nosso redor, de valorizar as relações que estabelecemos com
tudo e com todos.
2 - A maioria das pessoas atualmente se preocupa em saber cada vez mais, mais e
mais... Acumulam conhecimento para fazer frente a desafios imediatos e não parecem
dispostas a pensar com profundidade as informações que adquirem... Se elas resolvem
os problemas, por que se preocupar com as mesmas? A primeira grande realização de
um “guerreiro da paz” é descobrir e ser humilde o suficiente para admitir que não sabe,
que precisa aprender... O caminho a ser trilhado não admite arrogância ou prepotência,
exige desprendimento e disciplina, cobra concentração e fé. Não basta ter conhecimento
é preciso agir com sabedoria, ou seja, é necessário atingir a capacidade de processar,
refletir, comparar, pesar, analisar e finalmente entender as informações para que se faça
o uso inteligente daquilo que se conhece.
3 - “Poder além da vida” é um filme que harmoniza não apenas com a filosofia. Deve
ser visto também como uma produção que ressalta a necessidade do contato humano,
em particular daqueles que celebram as verdadeiras amizades e, principalmente das que
colocam em contato as pessoas mais jovens e as mais velhas. Há ensinamentos a serem
dados a partir das duas pontas e possibilidades reais de crescimento nesses encontros,
porém, para que isso se efetive, temos que estar dispostos a ouvir não apenas com os
nossos ouvidos, mas também com o coração e a mente. Devemos igualmente nos
mostrar preparados para dividir, partilhar, sem qualquer constrangimento, preconceito
ou intolerância, mesmo que em determinados momentos as distâncias que separam as
gerações pareçam ser tão grandes que tornam o diálogo muito confuso. Há ganhos de
valor incalculável nesses encontros, não podemos abrir mão deles...