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1 As informações sobre os episódios da denúncia estão em REIS, João José. Rebelião Escrava no Brasil: A História do Levante dos Malês (1835). São Paulo, Brasili-
ense, 1986., e foram retirados da “Devassa do Levante de Escravos Ocorrido em Salvador em 1835” e nas “Peças Processuais do Levante dos Malês”.
havia forçado os revolto-
sos a improvisar a resis-
tência à repressão armada,
levando-os a agitados des-
locamentos pela cidade.
Deslocando-se já do Pe-
lourinho para a Baixa do
Sapateiro, mataram dois
mulatos e prosseguiram
até a Cidade Baixa. Tenta-
ram abandonar a cidade
em direção a Itapagipe,
mas foram interceptados
em Água de Meninos, a-
inda de madrugada, onde
se deu o confronto final
da revolta de 1835.
Foi uma batalha desi-
gual: rebeldes a pé contra
soldados a cavalo e a in-
fantaria. A luta tornou-se
uma caçada humana. Os
africanos tentavam esca- O artista Rugendas, nesta obra, sintetizou a vida urbana em Salvador. Carregadores de cadeira, mendigos, es-
cravos, libertos, vendedores, padres, senhores e senhoras, na praça da Piedade. (In REIS, João José. Op. Cit.)
par da cavalaria. Muitos
fugiram para o mato e outros morreram afogados, tentando fu-
gir a nado. Pela manhã, contavam-se 19 africanos mortos e ou- “Foi duro para uma sociedade onde a etnia dominante, os
tros 13 prisioneiros feridos. Existe ainda um relato dando con- brancos, continuava predominantemente analfabeta, aceitar
ta que dois grupos de escravos, entre cinco e seis horas da ma- que escravos africanos possuíam meios sofisticados de comu-
nhã, ainda tentaram uma mobilização à luz do dia nas ruas de nicação. Eles teriam de estar na pré-escrita. Mas, pelo con-
Salvador. Um desses grupos, formado por seis escravos, ainda trário, esses papéis revelam, inclusive, que havia entre eles
rumou para Água de Meninos, onde todos foram mortos em pessoas bem instruídas no idioma do Alcorão, pessoas que
minutos. deixaram a marca de sua caligrafia perfeita e gramática lim-
pa. Africanos que, escravos na Bahia, com certeza tinham si-
Os africanos islamizados eram conhecidos como malês, do membros pelo menos de uma intelligentsia africana,
na Bahia, e que chegaram em grande número entre o fim do quando não de classes comerciantes abastadas – posições so-
século XVIII e início do XIX, provenientes da costa do Benin. ciais que lhe permitiram dedicar boa parte de suas vidas ao
Dentre eles, os nagôs eram a maioria (cerca de 30%). Era nagô trabalho intelectual.”(REIS, João José. Op. Cit.)