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A REVOLTA DOS MALÊS - 1835

Prof: ASSAID Frente: 02 Aula: 20

A Revolta do Malês explodiu na Bahia, em


1835, quando cerca de duas mil pessoas, entre es-
cravos e libertos, praticamente tomaram a cidade
de Salvador, inclusive atacando quartéis. Nela,
misturavam-se várias nações africanas. A maior
parte, mas não a totalidade, era de origem hauçá
e nagô. Além de tudo, e fundamentalmente, a
maioria dos revoltosos era de muçulmanos, ca-
racterizando outra forma de diversidade na com-
posição social. Eles queriam o fim da escravidão,
da propriedade privada e do monopólio religioso
do catolicismo, que era a religião oficial. A rea-
ção das autoridades foi violentíssima, culminando
com centenas de prisões, deportações e execu-
ções.
No caso da Revolta dos Malês, o início estava
marcado para um domingo, 25 de janeiro, dia da
festa de Nossa Senhora da Guia. A festividade
começava, de fato, já no sábado à noite, quando
uma multidão de devotos reunia-se para rezar e se
divertir. A comemoração fazia parte do ciclo de
festas do Bonfim, então um bairro distante do
centro de Salvador, ainda cheio de roças e hortas.
O movimento havia sido bem planejado. Mas,
no cais do porto, ainda no sábado, havia rumores
e comentários sobre a revolta que eclodiria no dia
seguinte. Um liberto, Domingos Fortunato, ao
chegar em casa, já à noite, contou o que ouviu a
sua mulher, a também liberta Guilhermina. Os
dois denunciaram o movimento aos seus ex-
senhores. Se o ex-senhor de Domingos não deu
muita importância, o mesmo não ocorreu com
Souza Velho, o patrono de Guilhermina. Ela con-
tou a ele que havia escutado a conversa de dois
ou três nagôs. Eles diziam que quando os escra-
vos se dirigissem à fonte para apanhar água, tra-
balho de todos os dias, seriam convocados para
uma revolta.
Acima, dois movimentos grevistas de trabalhadores ocorridos no Brasil: uma
A delação de Guilhermina provavelmente era passeata durante a greve geral de 1917, na República Velha, e uma greve de me-
talúrgicos, em plena ditadura militar, na região do ABC paulista, em 1979. Os
uma prova de lealdade e gratidão pela sua liber- movimentos modernos de trabalhadores ocorrem, quase sempre, em dias de tra-
dade. balho.(in MENDONÇA, Sonia. A Industrialização Brasileira. São Paulo, Moderna, 2000)
Após algumas revistas inúteis, uma patrulha
chegou a uma casa na ladeira da Praça, por volta
de 1 hora da madrugada. Lá, dois africanos libertos, Manoel Calafate e Aprígio, e mais dezenas de outros africanos, davam os úl-
timos retoques na rebelião que deveria iniciar em cerca de três horas. Quando a patrulha chegou à porta do local onde estavam os
africanos reunidos, “ela foi aberta subitamente para dar passagem a um número estimado de 50 a 60 africanos, que saíram ati-
rando, agitando suas espadas, aos gritos de ‘mata-soldado’ e palavras de ordem em língua africana”1.
Os rebeldes seguiram em várias direções, mas o grupo mais expressivo seguiu em direção à Praça do Palácio. Lá, tentaram ti-
rar da cadeia o mestre muçulmano Pacífico Licutã e dar fuga a outros presos africanos. Mas, sob intenso tiroteio, o grupo recuou.
Nessas alturas, o número de rebeldes tinha aumentado consideravelmente, pois vários deles foram despertados no meio da ma-
drugada, avisados da antecipação forçada dos planos. Os insurgentes desceram, então, até a Praça do Teatro (hoje Praça Castro
Alves), onde receberam a adesão de outros grupos de africanos. A partir
daí, os confrontos tornaram-se cada vez mais intensos em vários locais de O termo nagô definia o africano
Salvador, incluindo violentos choques em frente a quartéis. A delação de origem iorubá, na Bahia.

1 As informações sobre os episódios da denúncia estão em REIS, João José. Rebelião Escrava no Brasil: A História do Levante dos Malês (1835). São Paulo, Brasili-
ense, 1986., e foram retirados da “Devassa do Levante de Escravos Ocorrido em Salvador em 1835” e nas “Peças Processuais do Levante dos Malês”.
havia forçado os revolto-
sos a improvisar a resis-
tência à repressão armada,
levando-os a agitados des-
locamentos pela cidade.
Deslocando-se já do Pe-
lourinho para a Baixa do
Sapateiro, mataram dois
mulatos e prosseguiram
até a Cidade Baixa. Tenta-
ram abandonar a cidade
em direção a Itapagipe,
mas foram interceptados
em Água de Meninos, a-
inda de madrugada, onde
se deu o confronto final
da revolta de 1835.
Foi uma batalha desi-
gual: rebeldes a pé contra
soldados a cavalo e a in-
fantaria. A luta tornou-se
uma caçada humana. Os
africanos tentavam esca- O artista Rugendas, nesta obra, sintetizou a vida urbana em Salvador. Carregadores de cadeira, mendigos, es-
cravos, libertos, vendedores, padres, senhores e senhoras, na praça da Piedade. (In REIS, João José. Op. Cit.)
par da cavalaria. Muitos
fugiram para o mato e outros morreram afogados, tentando fu-
gir a nado. Pela manhã, contavam-se 19 africanos mortos e ou- “Foi duro para uma sociedade onde a etnia dominante, os
tros 13 prisioneiros feridos. Existe ainda um relato dando con- brancos, continuava predominantemente analfabeta, aceitar
ta que dois grupos de escravos, entre cinco e seis horas da ma- que escravos africanos possuíam meios sofisticados de comu-
nhã, ainda tentaram uma mobilização à luz do dia nas ruas de nicação. Eles teriam de estar na pré-escrita. Mas, pelo con-
Salvador. Um desses grupos, formado por seis escravos, ainda trário, esses papéis revelam, inclusive, que havia entre eles
rumou para Água de Meninos, onde todos foram mortos em pessoas bem instruídas no idioma do Alcorão, pessoas que
minutos. deixaram a marca de sua caligrafia perfeita e gramática lim-
pa. Africanos que, escravos na Bahia, com certeza tinham si-
Os africanos islamizados eram conhecidos como malês, do membros pelo menos de uma intelligentsia africana,
na Bahia, e que chegaram em grande número entre o fim do quando não de classes comerciantes abastadas – posições so-
século XVIII e início do XIX, provenientes da costa do Benin. ciais que lhe permitiram dedicar boa parte de suas vidas ao
Dentre eles, os nagôs eram a maioria (cerca de 30%). Era nagô trabalho intelectual.”(REIS, João José. Op. Cit.)

também a maioria dos rebeldes e dos líderes do movimento (dos


seis líderes identificados com precisão, cinco eram nagôs, sendo
três escravos). Depois deles, os haussás tiveram a participação
mais significativa. Além de nagôs e haussás, havia também os jeje,
os tapa, os mina, dentre outros.
Já se viu que a religião foi um forte ponto de convergência en-
tre eles, e que em sua terra de origem eram nações rivais. Outro
ponto importante a se ressaltar é que, na África, povos como os io-
rubás (nagôs) e os haussás constituíam sociedades complexas e al-
tamente urbanizadas, participando de grandes rotas de comércio.
Pode-se falar até de um grande império iorubá, segundo João Reis,
com inúmeros centros urbanos e uma famosa indústria de metais e
panos.

Que gente era essa escravizada na Bahia? Por que o muçul-


manismo entre escravos? Pois bem, essa é uma história que
começa na África. É que a partir do final do século XVIII, a
área próxima ao golfo do Benin vivia conflitos políticos e ét-
nicos, diretamente relacionados com a expansão do islamis-
mo na região. Isso foi decisivo para que vítimas desses con-
flitos fossem escravizadas e trazidas para a Bahia por essa
época. Eram principalmente iorubás (chamados na Bahia de
nagôs), ewes (chamados jejes) e haussás. Já na primeira me-
tade do século seguinte, promoveram inúmeras revoltas, das
quais a mais importante foi a de 1835. O grande número de
escravos africanos com identidade étnica comum foi muito
importante para a eclosão dessas revoltas, sendo essa identi-
dade uma forma de resistência através de sua cultura.

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