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Momento de Lucidez

Vilas Kosmos, morro do Juramentinho, Rio de Janeiro, três horas


da manha, ela está no sofá de seu barraco, tentando dormir após um
dia sofrido de “trabalho”.
“.... Tuuuu .... gravidez em adolescentes aumenta
drasticamente ... sinais de puberdade aparecem cada vez mais cedo
nas meninas ...” . Era disso que Keyla – a menina citada acima –
lembrava-se antes de cair no sono ao ver a TV de cinco polegadas da
sala de seu barraco. Keyla pensava enquanto dormia “Eu não vou
terminar assim, eu...”, mas não pode terminar a idéia, pois foi
acordada pelo bicho mais asqueroso do mundo, sua fétida mãe,
viciada em crack e tudo mais que era possível se viciar pela mão dos
traficantes, com um pequeno solavanco do busto a cabeça que a fez
cair no chão e gemer de dor, ela já sabia o que a besta queria... o
crack que Keyla havia comprado após o assalto bem sucedido ao
prédio no dia anterior, a pedra estava dentro de sua calcinha toda
fodida pelos traficantes que não se contentaram só com o dinheiro;
como sempre acontecia depois que seus peitos começaram a crescer
e sua bunda igualmente, o que já fazia seis meses .
— O que você que? – Perguntou Keyla só para irritar mais a
mãe.
— Me da logo sua putinha ou te arrebento toda – E chutou a
menina –.
Keyla sabia o que fazer, já não aquentava mais agora tinha uso para
aquilo. Sua fétida vida passou em sua mente perturbada; lembrou-se
vagamente do hospital a qual freqüentou diversas vezes – todas por
causa do que sua mãe fazia a ela –, do seu braço deslocado,
monstruosamente por sua mãe após joga-lá violentamente no chão e
puxá-lo ao limite, com ela gritando de dor, lembrou-se de ter de
mentir a enfermeira falando que caio da escada; ver sua mãe chorar
falsamente falando a enfermeira como sua filha era irresponsável e
que ficava triste por ela se machucar tão sério, sendo que no fundo
pensava “Sua putinha melhor levantar logo, quero meu crack” . Teve
o relance de quando foi espancada por sua mãe – principalmente
surrada nas costas e pernas, lugares de difícil observação – por ter
fraturado a costela – após um chute da mãe – e ter passado duas
noites no hospital. Lembrou-se de ir dormir ás duas e acordar as cinco
para trabalhar, conseguir comida, não ser estuprada pelos “amigos”
de sua mãe que vêem fazer-lhe uma visita e usufruir de seus
serviços. Voltar ao meio dia fazer o almoço morder um pão velho e
correr das bitucas e dos praguejos de sua besta maternal, para poder
fazer o assalto e se conseguir, um lanche do bondoso senhor do
carrinho de lanches. Foi isso que Keyla pensou, e ela sabia o que
fazer.
Keyla virou o rosto com o puro ódio, puxou o revolver, que
havia roubado dos traficantes, mirou e fez o que tinha que ser feito.
No outro dia num canto pequeno do jornal local abaixo do
resultado do “FlaxFlu” estará a manchete “Garota de 10 anos grávida
de 2 meses, mata a mãe após acesso de loucura causado por uso de
crack, e se suicida em seguida”. Sim Keyla não terminou da maneira
que gostaria, ela simplesmente não vai acontecer. Que a terra lhe
seja leve.

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