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TABA DE CORUMBE – ANO I – Nº 01 – MAIO/2003

Os poetas românticos do século XIX, para fugir do


Classicismo que os limitava em temas e forma,
apegaram-se ao nacionalismo nascente. Este lhes
fornecia a possibilidade de cantar as coisas de sua
aldeia, de seu país, mas, não somente isto, além de
novas inspirações, tinham a infinita possibilidade de
inventar/descobrir as almas dos povos que se
libertavam, suas paisagens físicas e humanas,
quebrando as correntes culturais, forjadas por
aqueles que os subjugavam.

Hoje, mais de cem anos depois, guardadas as


devidas proporções, estamos desesperadamente
apegados à idéia de inventariar poeticamente a
cidade de Mauá – SP. Quatrocentos mil habitantes,
densidade demográfica centro asiática, uma miríade
de fábricas, habitações de todos os tipos, de
casebres a mansões, gentes de todas as partes,
origens e etnias.

Enterrada sob os escombros de progresso do "Milagre Brasileiro", espera por ser


descoberto, como uma "América mítica", uma aldeia indígena, um vilarejo
bucólico, uma "Pilar" abandonada à chuva e aos ventos, um núcleo colonial e
bandeirista. Pessoas e histórias de vida que tornam rico todo aglomerado de
gente, em qualquer parte do mundo.

Precisamos resistir, quixotescamente, a massificação que se impõe de alto para


baixo, de fora para dentro. Rasgar o véu da obscurecência que nos envolve
docemente, "Oswaldianamente", devorar a carne do inimigo e finalmente gritar ao
mundo, romper o silêncio de todas nossas mazelas, misérias e belezas.

Taba de Corumbê.
Mauá – SP - Brasil
da cidade

Danilo Bueno

encruzilhada
de escrita feita de
grafia ilegível

o que se escreveu
para ninguém,
mas tão preciso

entre paredes,
sem ruídos
o canto, seu trabalho

à leitura do vazio
extremo
sepultado contra

o ar (que o conserva
contexto e
exposto) à erva

sem idioma
ou métrica
deixe falar o vento

cantando dentro

Fabiano Calixto

“Somente nos cães pequenos e nos jovens


Encontramos a observação minuciosa.”
Ezra Pound

quantos
tons têm a máquina de moldar, nesta
passagem, nota musicais no vácuo
desta composição?
- me esqueço até do futebol -

outro, entre atritos, tom


foge à fixidez do fora-de – sem
ocultar os sopros brutos que espremem
o ambiente com seu idioma
como a sarna semeia, no cão, o desprezo.

- esse amor, essa alegria -

a água não mata a sede.


nem alaga este antídoto
que guardo comigo à brisa do piano de
dentro.

(todos
os rostos compõem um ícone
ímpar
de único tom).

- quando passas tão bonita


nessa rua banhada de sol –

traços trêfegos na existência


sem veludo da menina – ela,
no desastre de todo dia, trilha
o troco trágico do que a paisagem
lecionou em salmos
e pedradas.

aguardo, mãos no bolso, uma letra


na cabeça, a senha, as portas, os olhos,
como feridas enormes,
abrem-se.
Praça 22 de Novembro

Deise Assumpção

esta composição tinge a cidade


como a nicotina solene
os dentes.
forma prima esquartejada
(o inexorável)
membros espetados
na memória medram

rodoviária
decibéis de cansaço, pressa, espera
concha acústica reescritura
de antigos versos

simples fonte artificial


a mesma água
da genitora aristocrática
aspersão de fé:
não se corrompe a essência
pode o rio se exorcizar

pequenas árvores
seivam as raízes das primitivas
espectros de futuro e passado
compromissando o Paço

velhos bancos
de reclinar o dorso
furtar beijos de namorados
agora duras muretas-nádegas
de envergar o tronco
olhos-inverno contornando arbustos
que às suas costas engendram flores

(sempre umbigo do universo


cruzando sacros os fios da taba)
in the tropical morning

Guilherme Vidotto

de Grieg
a manhã de “peer gynt”

com estribilho

distante
de um trem
de inverno

como agulha - instante de prata


recorta

uma corrente de ar
seca - para quem nota
detrás do bosque
coxins de orvalho

como se pela noite


cristais lunares
se desprendessem

o céu ríspido des/


loca-se
para os copos de leite
para as magnólias
para os lírios da paz

íntimo polar daquela manhã

a neblina rara cada vez mais ra-


refeita se instala como um vulto
que se serve da água que fervilha

na memória da xícara

o pouco sol pálido grava


na gota provisória sobre a pedra
a tempestade
que se apossa devagar da nuvem

somente no vôo
o pássaro
entende o homem e a estrela
da manhã

ainda fresca
a camomila de outro poema
lâmpada de sódio se aproxima

Rua Vitório-Veneto - 1969

Edson Bueno de Camargo

há uma rua que não me sai da cabeça


aquela em que nasci
Rua Vitorio Veneto
Vila Nossa Senhora das Vitórias

não esta que existe agora


via asfaltada, transito
mão de direção
assaltos a mão armada
todos os benefícios da modernidade

a das minhas recordações


era de chão batido
casas velhas rachadas
e reboque caindo

jardins de sempre-vivas, onze-horas,


degraus de cimento vermelho
e portões verdes
(igual o verde da fábrica)

esgotos e águas servidas correndo em valas


galinhas ciscando e cães, soltos

e nós livres como o vento


correndo na poeira
ou chafurdando na lama da chuva
Lembrando o Carnaval

Iracema M. Regis

Um débil lamento
sangra a vastidão
num sambinha de uma nota só

amparado pela cuíca,


o surdo e o tamborim

Foge –
a bateria parou?
chegou a dispersão?

Revigora-se na S. Raimundo Nonato


Dança na S. Judas Tadeu
Evolui na Barão de Mauá
Sapateia toda a Sr. do Bonfim

Na S. Gerônimo –
palco da Marquês de Sapucaí
o amolador de facas,
tesouras e alicates sopra
veementemente
a sua velha gaita de fole.
Necrópole

Adriana Bechelli

tenho tremor
minhas mãos suam
e ao redor uma névoa
pairando no ar

olhos,
e nos meus olhos
choro
uma sensação de perda
(lembrança)

perto de mim
cemitério
asas de um anjo
voam e não se limitam...
passante

Jorge de Barros

eu passo a passos ininterruptos


ruptos absurdos
cruzando com outros passos
esticando minha existência
não olho os lados
apenas passo

não vejo os olhos pisoteados


do indigente que como as flores
aguardam sempre
serenamente
a borboleta ausente

ignoro os gestos
entre outros gestos
do pregador de pulmões ávidos
que grita impávido
sua corneta apocalíptica

recuso o passe
que me oferecem
com um muxoxo
pois tenho pressa e não tenho troco
evito as pausas

não me questionem
não me perturbem
pois vou pra longe
tudo é urgente
eu não completo, eu não contemplo
apenas passo
Amém índios.

Macário Ohana Vangélis

Casas são roupas


que cobrem as roupas
que cobrem a pele.
Coloridas prisões, albergues,
ilusão de posse,
ideal do pobre.
Círculo centrífugo vicioso, armadilha
que um dia nos morderá.

E eis nossa própria matilha!...

Casas são dívidas eternas.


Eternas divisas da taba.

Negócio é curtir uns tapas e as estradas


Que o terno de pinho
É certeza de oráculo.
Santa Lídia

Sarah Helena

Porta aberta
sigo a fada

seguem comigo
passos leves
fosforescências
cimento branco e calmo
sentar e abrir o vinho
“To be or not to be”

caminho em busca
do sono do meu amigo
tantas camas de pedra
me perco
(triste não ter onde chorar)

nomes em porcelana
tão frio
caminho cabisbaixa

sai a lua
surpreendida
entre fantasmas
que olham a vista
no gramado...
cidade menina

Corrita Melão

corpo caulim
opulente
revestida num tímido verde
entre argamassa

seios serranos
insinuantes,
produzindo seiva-vida

mãos suaves
- serpente arrasta
o indesejável –
divide Cidade Menina

surgem mansardas
entrelaçadas
nos cachos

volúpia
sensação
da rolimã
deslizando
por entre suas negras
coxas roliças

prospera pequenina
silhueta de grande mulher.
Cascata

Cleide Borges

marca
o silêncio de alguns
e dor de outros

paz imposta
num gramado
íngreme

subida às visitas
pupilas de adeus

a capela inspira
conforto
a fé abalada

abrigos serenos
dialogam

lote 2
quadra C

platéia em flores
dos poros exalam
um coro de amor

brota a vigília
néctar de saudade
cala a sintaxe
arbocíclica

Cecília Camargo

altiva
senhora de si
suas vestes
marcam o tempo

cobre-se de verde
mescla-se de rosa-carmim
muda para castanho
traveste-se de branco

testemunha
o nascente, o poente
e a brisa
que passa ligeira

cada vez que se cobre


ou recobre
traduz o tempo

sua passagem
sombra
ar fresco

alheia às buzinas
e ao corre-corre
acha graça
dos pequenos perdidos
à sua volta
Meu Poema da Praça

Aristides Theodoro

Meu poema da praça


é feito apenas de lembranças
de pântano, riachinho,
chácara, pássaros.
Mais tarde “pedreiros em construção”,
cavalos soltos pelas ruas,
luzes, jardins japoneses,
sons, fonte luminosa,
concha acústica, namorados,
poetas fazendo e dizendo versos,
rádio-patrulha, policiais mal humorados,
camelôs, putas, bêbados,
desocupados e “otas cositas mas”.

II

Mauá hoje não é a mesma.


A praça também não
está bem diferente: cheirando óleo diesel
suor seco nas camisas azuis dos motoristas
embora existam árvores novas
vicejando nos jardins.
Novos prédios, lojas, Shopping suntuoso
Mesmo assim a praça para mim
não é a mesma.
O tempo passou e levou
a minha primeira Praça 22 de Novembro.
É isto aí, os velhos vivem de saudades.

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