Вы находитесь на странице: 1из 50

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE PESQUISAS HIDRÁULICAS


DEPARTAMENTO DE OBRAS HIDRÁULICAS

IPH 214 - TRATAMENTO DE ÁGUA


Qualidade das águas naturais
Introdução ao Tratamento de Água para consumo humano
(Pontos 1 e 2)

Profa Carmen Maria Barros de Castro


PONTO 1 - QUALIDADE DA ÁGUA

1.1 A ÁGUA NA NATUREZA


A água é o constituinte inorgânico mais abundante na matéria viva: no homem,
mais de 70% de seu peso é constituída por água, e em certos animais aquáticos esta
proporção pode chegar a 98%. O nosso planeta tem quase ¾ de sua superfície coberta por
água, continuamente movimentada através do ciclo hidrológico (Figura 1), que tem na
irradiação solar a sua principal fonte de energia e na evaporação e precipitação as suas
principais forças condutoras. O escoamento ou deflúvio superficial, o escoamento
subterrâneo ou infiltração e a transpiração são os demais estágios deste ciclo.

Figura 1. 1 – Ciclo hidrológico

O volume de água movimentado através deste ciclo é estimado em


aproximadamente 1370 km3, distribuídos entre mananciais superficiais (rios, lagos e
reservatórios); mananciais subterrâneos (fontes, poços rasos e profundos, galerias de

2
infiltração, drenos) e mananciais meteorológicos (águas de chuva, granizo e neve). Deste
volume mais de 97% é água salgada, não utilizável para agricultura, uso industrial ou
consumo humano. Dos 3% de água doce existente, apenas 0,3% aproximadamente é
aproveitável ou de extração mais fácil, pois a maior parte encontra-se presente na neve,
gelo ou em lençóis subterrâneos situados abaixo de uma profundidade de 800m, tornando-
se inviável ou dificultando o consumo humano. Uma distribuição geral da quantidade de
água na natureza é apresentada no quadro 1.

Quadro 1 - Distribuição da Água na Natureza


LOCAL VOLUME (l012m3) % TOTAL
Área Terrestre
. Lagos l25 0,009
. Lagos Salinos l04 0,008
. Rios l,25 0,000l
. Umidade Terrestre 67 0,005
. Águas Subterrâneas 8350 0,6l
. Áreas Glaciais 29200 2,l4
Subtotal 37800 2,8
Atmosfera (vapor) l3 0,00l
Oceanos l.320.000 97,3
Total Geral l.360.000 l00

O Brasil dispõe de 15% de todo o volume de água doce existente no mundo, ou


3
seja, dos 113 trilhões de m disponíveis para a vida terrestre, 17trilhões estão
concentrados no nosso país. Deste total, 80% distribui-se pela Bacia Amazônica que
engloba 3% do total da população brasileira.

A água quimicamente pura não existe na natureza, pela sua própria condição de
solvente universal pode dissolver uma série de substâncias que vão definir suas
características (qualidade). Também, condições climáticas, geográficas e geológicas, assim

3
como a composição e ocupação do solo são fatores de influência que definem as
características da água e influem no grau de tratamento e nos diversos usos a que ela se
destina.

1.2 O USO DA ÁGUA – A ÁGUA E O HOMEM


Em termos globais, a água disponível é muito superior ao total consumido; estima-
se que o consumo anual mundial de água esteja em torno de 4500 km3, no entanto, o
aumento da população, o desenvolvimento industrial e outras atividades humanas, são
fatores estimulantes do consumo. A distribuição geográfica é também extremamente
desigual e não está de acordo, na maioria dos casos, com a população e as necessidades
prementes. A maior parte do planeta tem déficit de recursos hídricos.

“Caso não ocorram mudanças na gestão mundial dos recursos hídricos, em 2025,
2/3 da população mundial deverá sofrer conseqüências da falta de água”
Conferência HABITAT 2 – Istambul / 1996
Além da má distribuição e das perdas, deve ser considerada também a crescente
degradação dos recursos hídricos como resultado da ação antrópica. Assim, muitas regiões
apresentam problemas relacionados com a água, seja pela sua disponibilidade ou por sua
qualidade ou por ambas.
O homem utiliza a água para os mais diversos fins, que implicam ou na retirada de
água dos cursos d’água, podendo ocorrer perdas entre o que é retirado e o que retorna ao
sistema natural; ou em atividades desenvolvidas no próprio ambiente aquático. Entre os
principais usos da água citam-se: o abastecimento doméstico e industrial, a irrigação, a
dessedentação de animais, a aqüicultura, a preservação da flora e da fauna, a recreação e
o lazer, a harmonia paisagística, a geração de energia elétrica, a navegação e a diluição e
transporte de despejos.
A inter-relação entre o uso da água e a qualidade requerida para a mesma é direta.
Entre os usos relacionados, pode-se afirmar que o uso mais nobre é representado pelo
abastecimento doméstico, que exige a satisfação de certos critérios específicos de
qualidade, enquanto o menos nobre é o da diluição de despejos. Deve-se lembrar que

4
alguns corpos d’água apresentam usos múltiplos, decorrendo daí a necessidade de
satisfazer simultaneamente aos diversos critérios de qualidade. O quadro 2 relaciona de
forma sintética os usos da água aos requisitos mínimos de qualidade correspondentes.

Quadro 2 – Usos da água e seus requisitos de qualidade


USO GERAL USO ESPECÍFICO REQUISITO DE QUALIDADE
Isenta de substâncias químicas e
organismos prejudiciais à saúde.
ABASTECIMENTO DOMÉSTICO Consumo humano, higiene Baixa agressividade e dureza.
pessoal e usos domésticos Esteticamente agradável
(ausência de cor, sabor, odor e
turbidez)
A água não entra em contato com Baixa agressividade e dureza
o produto (refrigeração, caldeiras)

A água é incorporada ao produto


ABATECIMENTO INDUSTRIAL (alimentos, bebidas, remédios) Isenta de substâncias químicas e
organismos prejudiciais à saúde.
Esteticamente agradável
A água entra em contato com o (ausência de cor, sabor e odor).
produto
Variável com o produto.
Hortaliças, produtos ingeridos Isenta de substâncias químicas e
IRRIGAÇÃO crus ou com casca. organismos prejudiciais à saúde
Salinidade controlada

Demais plantações Isenta de substâncias prejudiciais


ao solo e as plantações
Salinidade controlada
DESSENDENTAÇÃO DE Isenta de substâncias químicas e
ANIMAIS organismos prejudiciais à saúde
dos animais
PRESERVAÇÃO DA FLORA E Variável com os requisitos
FAUNA ambientais da flora e da fauna a
preservar
Contato primário (natação, esqui, Isenta de substâncias químicas e
surfe) organismos prejudiciais à saúde
Baixos teores de sólidos em
RECREAÇÃO E LAZER suspensão, óleos e graxas.

Contato secundário (pesca, Aparência agradável


navegação de lazer,...)
Usinas hidrelétricas Baixa agressividade
GERAÇÃO DE ENERGIA
Usinas nucleares ou termelétricas Baixa dureza
TRANSPORTE Baixa presença de material
grosseiro

5
Presença de nutrientes e
qualidade compatível com as
AQUICULTURA exigências das espécies
cultivadas
PAISAGIAMO E MANUTENÇÃO
DA UMIDADE DO AR E DA
ESTABILIDADE DO CLIMA Estética e conforto térmico

1.3 A POLUIÇÃO DAS ÁGUAS


Entende-se por poluição das águas como o processo de adição de substâncias ou
de formas de energia que, direta ou indiretamente, alterem a natureza do corpo d’água de
uma maneira tal que prejudique os legítimos usos que dele são feitos.
A poluição dos recursos hídricos pode ser originada por processos naturais ou
antropogênicos de natureza orgânica ou mineral, radioativa, termal, doméstica ou industrial.
Entre os principais agentes poluidores da água estão relacionados:
 A matéria orgânica provocando consumo de oxigênio, mortandade de peixes, ocorrência
de maus odores e de condições tóxicas, etc,
 O material em suspensão, levando a problemas estéticos, depósitos de lodo, adsorção
de poluentes,
 Os nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo, conduzindo ao crescimento excessivo
de plantas, cuja posterior decomposição irá prejudicar o balanço de oxigênio do corpo
d’água,
 Os microorganismos patogênicos, provocando o surgimento de diversas enfermidades
de veiculação hídrica,
 Os metais pesados, produzindo toxicidade e prejudicando o desenvolvimento da vida
aquática.

 As formas como estes poluentes chegam aos mananciais são variadas,


podendo ocorrer de forma pontual, isto é, concentrada no tempo e espaço ou de forma
difusa, com distribuição de poluentes ao longo do curso de água A origem destes
poluentes é diversa, podendo situar-se tanto no ciclo hidrológico como no próprio
sistema de abastecimento da água.
6
É de fundamental importância, particularmente para a saúde dos consumidores que todo o
sistema de abastecimento de água seja bem projetado, construído, conservado e operado,
em outras palavras, é necessário que várias medidas sejam observadas, para evitar que a
água seja contaminada na captação, no tratamento, na distribuição e na reservação, bem
como nas próprias instalações domiciliares.

O crescimento industrial e populacional desenvolvido de forma concentrada e


desordenada aliado à ausência de planejamento, legislação, fiscalização e controle podem
ser apontadas respectivamente como as principais causas diretas e indiretas para o
crescente aumento dos níveis de poluição. O intenso crescimento populacional observado
nas últimas décadas tem conduzido a um incremento na geração de esgotos e a uma maior
demanda de alimentos, o que por sua vez implica em um crescente consumo de
agrotóxicos e fertilizantes. Esta explosão populacional ocorre fundamentalmente nos países
mais pobres, que não dispõem de infra-estrutura adequada de esgotamento sanitário e de
controle de poluição. A expansão das atividades industriais está intimamente relacionada ao
crescimento populacional. A transformação de matérias-primas em bens de consumo gera
por sua vez grande quantidade de rejeitos, cujo destino final freqüentemente é o ambiente
aquático.

As conseqüências da poluição hídrica podem ser variadas dependendo do tipo de poluente


e se manifestar através de prejuízos ou limitações de suas características ecológicas, como
por exemplo: prejuízos diversos no uso da água; efeitos nocivos à vida aquática;
toxidez; qualidade insatisfatória para água de abastecimento; tratamento mais caro;
prejuízo na alimentação e sobrevivência das comunidades (piscicultura); perda de
valores estéticos e recreativos: formação de lodo (sedimentação); exalação de
gases; mineralização excessiva; eutrofização; corrosividade; redução da penetração
da luz (turvação); origem ou transmissão de doenças.

7
1.4 FORMAS DE IMPUREZAS PRESENTES NA ÁGUA
Durante a circulação da água pela biosfera, processos de lixiviação e dissolução de
rochas e vegetais além de fatores antropogênicos, vão acumulando e/ou transportando
diferentes constituintes que vão conferir à água características próprias que naturalmente
variam de acordo com as situações geológicas e climatológicas locais. Estes diferentes
constituintes genericamente chamados de "impurezas" se distribuem na massa líquida
conforme seu tamanho de partícula entre formas solúveis (dp ≤ l0-3 ), coloidais (l0-3  ≤ dp
≤ 1 ) e suspensos (dp > l), conforme é mostrado na figura 2.

Figura 1.2 – Distribuição das impurezas na água em função de seu tamanho

As impurezas solúveis são aquelas que se apresentam dissociadas, ou seja estão


dissolvidas em água como os sais (cálcio, magnésio, sódio, ferro) e gases como oxigênio,
dióxido de carbono, nitrogênio, sulfídrico, etc...
As partículas ou gotículas muito pequenas dispersas em água como as substâncias
vegetais (corantes), argila, bactérias e vírus são exemplos de impurezas coloidais. Já as

8
partículas relativamente grandes de substâncias que flutuam sobre a água são chamadas
de impurezas em suspensão. Algas, fungos, bactérias inócuas e patogênicas, vermes,
larvas, areia, silte, argila e resíduos industriais e domésticos são os principais exemplos
desta forma de impureza.
No quadro 3 podem ser observados os efeitos diretos ocasionados pela presença de
impurezas em função do estado em que se encontram na água.

Quadro 3 - Efeitos do estado das impurezas sobre a água


Impurezas Estado Efeitos

Areia Suspensão Turbidez


Silte Suspensão Turbidez
Argila Suspensão Turbidez
Bactérias Suspensão Doenças e prejuízo às instalações
Microrganismos Suspensão Turbidez, cheiro e cor
Resíduos industriais Suspensão Poluição
Resíduos domésticos Suspensão Poluição
Corantes vegetais Coloidal Cor, sabor e acidez
Sílica Coloidal Turbidez
Bicarbonatos de cálcio e Dissolvidos Alcalinidade e dureza
magnésio
Carbonatos de cálcio e Dissolvidos Alcalinidade e dureza
magnésio
Sulfatos de cálcio e magnésio Dissolvidos Dureza

Cloretos de cálcio e magnésio Dissolvidos Dureza e corrosividade em caldeiras

Bicarbonato de sódio Dissolvidos Alcalinidade


Carbonato de sódio Dissolvidos Alcalinidade
Sulfatos de sódio Dissolvidos Ação laxativa
Fluoretos de cálcio Dissolvidos Ação sobre os dentes
Cloretos de cálcio Dissolvidos Sabor
Ferro Dissolvidos Sabor, cor
Manganês Dissolvidos Cor
Oxigênio Dissolvidos Corrosividade
Bióxido de carbono Dissolvidos Acidez e corrosividade
Nitrogênio Dissolvidos Nulo

1.5 - A ÁGUA NA VEICULAÇÃO DE DOENÇAS


Dos muitos usos que a água pode ter alguns estão mais intimamente relacionados com
a saúde humana, como por exemplo:
(a) A água utilizada como bebida ou na preparação de alimentos,

9
(b) A água utilizada no asseio corporal ou a que, por razões profissionais ou outras
quaisquer, venha a ter contato direto com a pele ou mucosas do corpo humano: ex.:
trabalhadores agrícolas em cultura por inundações, lavadeiras, atividades recreativas
(lagos, piscinas, etc).
(c) A água empregada na manutenção da higiene do ambiente e, em especial, dos locais,
instalações e utensílios usados no manuseio, preparo e ingestão de alimentos
(domicílio, restaurantes, bares, etc).
(d) A água utilizada na rega de hortaliças ou nos criadouros de moluscos, ostras, mariscos
e mexilhões.
Nos usos citados em (a) e (b) há contato direto entre água e o organismo humano, em
(c) e (d) há principalmente contato indireto. Também em (a) e (d) influi a qualidade, e em (b)
e (c), além da qualidade, é muito importante a quantidade disponível, que em alguns casos
é fator preponderante.
Se a nocividade da água pode resultar de sua má qualidade, a quantidade insuficiente
de água também gera graves problemas de saúde. Segundo a Organização Mundial da
Saúde OMS, aproximadamente um quarto dos leitos existentes em todos os hospitais do
mundo está ocupado por enfermos, cujas doenças são ocasionadas pela água, seja pela
sua escassez ou pela sua qualidade, ou ambas.
A relação entre a qualidade da água e doenças, intuitivamente suspeitada ou admitida
desde a mais remota antigüidade, só ficou comprovada cientificamente a partir de meados
do século XIX com a epidemia de cólera em Londres. (John Snow).
Reconhece-se que o fator quantidade tem tanta ou mais importância que a qualidade,
na prevenção de algumas doenças. A escassez da água, dificultando a limpeza corporal e a
do ambiente, permite a disseminação de enfermidades associadas à falta de higiene.
Assim, a incidência de certas doenças diarreicas, do tipo shigelose, varia inversamente à
quantidade de água disponível "per capita", mesmo que essa água seja de qualidade muito
boa. A tracoma, que ocorre em vastas áreas de zona rural brasileira, tem como uma das
bases de sua profilaxia, o abastecimento d'água no domicílio, em quantidades para permitir
o asseio corporal satisfatório.

10
Também algumas doenças cutâneas e infestações por ectoparasitos, como os piolhos,
podem ser evitadas ou atenuadas onde existe conjugação de bons hábitos higiênicos e
quantidade de água suficiente.

1.5.1 - Principais doenças veiculadas pela água


De acordo com os seus mecanismos de veiculação ou da forma como chegam até ao
homem, as doenças veiculadas pela água podem ser denominadas como doenças de
TRANSMISSÃO HÍDRICA e de ORIGEM HÍDRICA
As primeiras, são aquelas em que a água atua como veículo propriamente dito, do
agente infeccioso, as demais são aquelas decorrentes de certas substâncias denominadas
contaminantes tóxicos contidas na água em teor inadequado.

a) Doenças de transmissão hídrica


 A água é um importante veículo de transmissão de doenças notadamente do aparelho
intestinal. Os microrganismos patogênicos responsáveis por essas doenças atingem a
água com os excretas de pessoas ou de animais infectados.
Entre os principais microrganismos encontrados nas águas contaminadas e as doenças
por eles veiculdas citam-se:
 bactérias: febre tifóide, febres paratifóides, disenteria bacilar, cólera;
 protozoários: amebíase ou disenteria amebiana;
 vermes (helmitos) e larvas: esquistossomose;
 vírus: hepatite infecciosa e poliomielite.
O quadro 4 apresenta os principais tipos de microrganismos associados a doenças de
transmissão hídrica.
A água é imprescindível também, ao ciclo biológico de muitos vetores animados,
responsáveis por graves doenças. Por exemplo, os mosquitos que transmitem a malária e a
febre amarela, têm a fase larvária, obrigatoriamente, em meio aquático. Assim, doenças,
como a malária, indiretamente, estão relacionadas com a água. Neste caso, a água não
atua como veiculo, mas o mosquito transmissor se procria nas coleções de água, e
portanto, ao se estudar a construção de um reservatório de acumulação destinado ao

11
abastecimento de água deve-se investigar as espécies de mosquitos existentes na área de
inundação e vizinhanças, bem como aspectos epidemiológicos relacionados à malária.

Quadro 4 - Principais Doenças de Transmissão Hídrica.


DOENÇA AGENTE OCORRÊNCIA TRANSMISSÃO
INFECCIOSO

Cólera Víbrio comma ocorrendo no Brasil Água contaminada

Febre Tifóide Salmonella freqüente no Brasil água contaminada, leite,


typhosa ostras, insetos

Febre paratifóide Salmonella difundida no mundo igual à febre tifóide


paratyphi

Amebíase Entamoeba difundida no mundo. água contaminada,


histolytica Atinge até 50% da população alimentos crus, moscas,
onde não há saneamento. baratas

Esquistossomose S. mansoni, S. muito difundida no Brasil, água contaminada


haematobium, especialmente no Nordeste
S. japonicum

Ancilostomose Necator água, alimentos crus


americanus e
ancylostomo muito difundida no Brasil
duodenale

Hepatite infecciosa Vírus da Hepatite difundida no mundo água, alimentos


infecciosa

Poliomielite Vírus da difundida no mundo Contágio direto e através da


poliomielite rede de esgoto

b) Doenças de origem hídrica


Os contaminantes tóxicos que dão origem a esta espécie de doença podem ser de
quatro tipos:
 contaminantes naturais de uma água que esteve em contato com formações minerais
venenosas (fluor, arsênio, boro, etc...);
 contaminantes naturais de uma água na qual se desenvolveram determinadas colônias
de microrganismos venenosos (maré vermelha);
 contaminantes introduzidos na água em virtude de certas obras hidráulicas defeituosas
(principalmente tubos metálicos) ou práticas inadequadas no tratamento da água
(chumbo, alumínio);

12
 contaminantes introduzidos nos cursos d'água por certos despejos industriais.

Os contaminantes de origem mineral incluem o flúor, o selênio, o arsênio e o boro, e,


com exceção do flúor, raramente são encontrados em teores capazes de ocasionar danos.
Os contaminantes naturais ocasionados por colônias de microrganismos venenosos,
como certos tipos de algas, dão à água aspecto repulsivo ao homem, que tem assim uma
defesa natural através dos seus sentidos, não obstante, a mortalidade de gado que ingere
esses contaminantes tem sido verificada.
Os contaminantes introduzidos pela corrosão de tubulações metálicas podem ocasionar
distúrbios. Dos metais empregados nas tubulações, o único de toxidez comprovada e
acumulativa é o chumbo, que pode ocasionar o envenenamento conhecido como
saturnismo. Cobre, zinco e ferro, mesmo em pequenas quantidades, dão à água gosto
metálico característico e são responsáveis por certos distúrbios em determinadas
operações industriais.
O tratamento químico da água para a coagulação, desinfecção e destruição de algas
ou controle da corrosão pode ser uma fonte potencial de contaminação (alumínio, cobre,
cloro, flúor). Outras variedades de contaminantes tóxicas podem provir dos despejos
líquidos industriais. Daí a importância sanitária do controle dos desejos industriais.
Na água de abastecimento, o perigo maior está na possibilidade de que a mesma se tenha
contaminado recentemente por águas residuárias ou por excretos humanos ou de origem
animal. Se a contaminação é recente e para ela contribuíram doentes ou portadores de
doenças infecciosas, organismos patogênicos podem encontrar-se vivos na água e o seu
consumo poderá vir a provocar novos casos.
O quadro 5 apresenta alguns exemplos das conseqüências da presença de certos
contaminantes na água

13
Quadro 5 – Contaminantes x conseqüências
IMPUREZAS CONSEQUÊNCIAS
Flúor Fluorese dentária, quando o teor > l,5 mg/l
Prevenção contra a cárie dentária: 0,6 mg/l > teor <
l,5 mg/l

Nitratos Produzem cianose para teores > 50 mg/l

Fenóis Produzem morte em dose de 1,5 mg/l


Produzem cor, sabor e odor em teores > 0,00l mg/l

Cloretos Produzem sabor em teores acima de l00 mg/l


Produzem influência nociva sobre afecções cardíacas
como hipertensão arterial

Ferro Produz cor e sabor em teores > 0,5 mg/l

odo A sua carência concorre para a existência do bócio

Substâncias Podem produzir grandes malefícios ao


radioativas organismo,sendo as mais perigosas os isótopos (Sr90
e y90) do estrôncio e do ítrio.

Cromo (VI) Produz irritações no organismo humano

Cobre Produz envenenamento para teores > 2 mg/l

Chumbo Produz envenenamento (saturnismo)

Selênio Produz efeito tóxico

Magnésio Produz incrustações nas caldeiras e aumenta o


consumo de sabão

Sulfatos Produzem efeitos laxativos

Sólidos totais Tornam a água inadequada ao consumo

1.5.2 - Profilaxia

14
O perigo da transmissão de doenças infecciosas pela água, refere-se, na prática, às
doenças infecciosas intestinais e portanto, a profilaxia deve necessariamente girar em torno
de medidas como:
 proteção dos mananciais, inclusive medidas de controle de poluição das águas;
 tratamento adequado da água, com operação continuamente satisfatória;
 sistema de distribuição da água bem projetado, construído, mantido e operado. Deve-se
manter a água na rede com pressão adequada;
 controle permanente da qualidade bacteriológica e química da água na rede de
distribuição, ou preferivelmente, na torneira do consumidor;
 solução sanitária para o problema da coleta e da disposição dos esgotos, e, em
particular dos dejetos humanos, tendo sempre como uma das finalidades a proteção do
abastecimento de água potável.
 observar, na zona rural, as medidas indicadas para a proteção dos poços, nascentes e
mananciais de superfície, inclusive a construção de sistemas mais aconselháveis para o
destino satisfatório dos dejetos, evitando a poluição direta da superfície, do solo ou das
coleções líquidas;
 melhoria da qualidade da água suprida às pequenas comunidades, auxiliando-as técnica
e financeiramente a utilizarem métodos simples e pouco dispendiosos de tratamento,
inclusive desinfecção, quando necessário.
 controle do ciclo do agente infeccioso.

Assim, dados os diferentes modos de transmissão das doenças relacionadas à água e


sua profilaxia, torna-se necessário que, a par dos serviços de abastecimento de água,
outros também devam ser executados, tais como: acondicionamento, coleta, transporte,
tratamento e/ou disposição final do lixo; controle de artrópodes, notadamente das moscas
domésticas e das baratas; controle de roedores; saneamento dos alimentos, inclusive
controle dos seus manipuladores. Assim, o abastecimento de água potável, o tratamento e
a disposição adequada dos esgotos (na água e no solo), o tratamento e disposição
adequada dos resíduos sólidos, as melhorias habitacionais, a identificação e eliminação

15
dos criadouros de insetos vetores, a higiene pessoal e doméstica são fatores preventivos
essenciais no controle das doenças clássicas ocasionadas por falta de saneamento básico.

1.6 PADRÕES DE QUALIDADE DA ÁGUA – CARACTERÍSTICAS DA ÁGUA


As impurezas contidas nas águas conferem as mesmas certas características que
podem alterar positiva ou negativamente seu aspecto físico, químico e biológico. Em
decorrência disto, a qualidade da água é definida através de suas características físicas,
químicas e biológicas, avaliadas pela interpretação das análises de parâmetros físicos,
químicos e biológicos. Importante distinção deve ser feita entre as propriedades e as
características das águas naturais. As propriedades constituem-se no que é inerente à
água como fluido e a distingue dos demais fluidos. Já as características diferenciam as
águas naturais entre si, podendo se manifestar em uma ou outra condição. São
propriedades da água: o calor específico, a viscosidade dinâmica, a tensão superficial entre
outras. São características da água: a temperatura (que pode afetar certas propriedades), a
cor, a turbidez entre outras.

1.6.1 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DA ÁGUA – PARÂMETROS DE QUALIDADE

a) Cor
A água pura é incolor. No entanto, devido à presença de substâncias coloridas
dissolvidas (resíduos industriais, compostos de ferro e manganês) e coloidais finamente
dispersas, resultante do contato da água com resíduos orgânicos e extratos vegetais
(folhas, madeiras, taninos, ácidos húmicos) a água adquire cor. As águas superficiais
podem ainda adquirir cor por poluição com águas residuárias altamente coloridas, como os
esgotos provenientes das operações de tingimento da industria têxtil e das operações de
polpação da indústria do papel.
As águas superficiais podem parecer altamente coloridas ou apresentar turvação devido
à matéria corante em suspensão. A cor causada por matéria em suspensão é designada

16
por "cor aparente" e é diferençada da cor devida aos extratos vegetais ou orgânicos que
são coloidais e que constituem a "cor verdadeira". Em análise de água é importante
distinguir entre cor "aparente" e cor "verdadeira", pois parte da "aparente" pode ser
removida por coagulação-floculação-sedimentação, enquanto a cor "verdadeira" é mais
difícil de ser removida pelos processos convencionais.
A cor é determinada por comparação visual da amostra com soluções padrão de
platina-cobalto de concentrações conhecidas, sendo o resultado fornecido em unidades de
cor, também chamadas de unidades Hazen (uH).
Em geral, as águas naturais apresentam teores de cor variando de 0 a 200 unidades
Hazen (uH), sendo que valores superiores a 25 uH usualmente exigem, para sua remoção,
de coagulação química e filtração.
Deve-se observar que a cloração de águas coloridas para finalidades de abastecimento
pode gerar produtos potencialmente cancerígenos (trihalometanos), derivados da
complexação do cloro com a matéria orgânica dissolvida (ácidos húmicos).. Para água
potável, a Portaria 518/2004 estabelece em 15 uH o valor máximo permissível (VMP) como
padrão de aceitação para consumo humano.

b) Turbidez
É uma característica decorrente da presença de substâncias em suspensão (argila
coloidal, areia, silte, limo, lodo) de matéria orgânica e inorgânica finamente dividida em
estado coloidal e de organismos microscópicos que absorvem e dispersam os raios
luminosos em lugar de permitir sua passagem através da água. A turbidez, é portanto, uma
medida da resistência da água a passagem da luz em linha reta. A origem destes materiais
na água pode ser natural como a devida à erosão do solo pelas águas de rolamento e a do
próprio leito do rio, além das contribuições de esgotos domésticos e industriais. Pode ser
causada também por bolhas de ar finamente divididas, fenômeno que ocorre com certa
freqüência em alguns pontos da rede de distribuição ou em instalações domiciliares.

2
A turbidez é utilizada não só como um parâmetro de caracterização de águas brutas
e tratadas, mas também como parâmetro de controle de operação das estações de
tratamento de água.

A determinação da turbidez é feita através de um processo de nefelometria, ou seja,


através de uma fotocélula (turbidímetro) que compara a intensidade de luz dispersa pela
amostra sobre condições definidas, com a intensidade de luz dispersa por uma solução de
referência padrão (polímero de formazina) sobre as mesmas condições. O método dá
resultados em unidades nefelométrica de turbidez (N.T.U.), também denominado por uT. A
turbidez natural das águas está geralmente contida na faixa de 3 a 500 unidades (uT). Para
fins de consumo humano, a turbidez da água potável deve ser inferior a 5 uT.

c) Sabor e odor
Embora sabor e odor sejam sensações distintas e não mensuráveis, usualmente são
referenciadas conjuntamente através de uma conceituação e interação entre ambos. Sua
origem está associada tanto à presença de substâncias químicas ou gases dissolvidos nas
águas naturais, - por vezes utilizados no próprio tratamento, como o cloro - quanto ao
metabolismo de alguns microrganismos, principalmente as algas e cianobactérias. A
importância deste parâmetro está relacionado à significativa possibilidade de rejeição, pela
população abastecida, de água adequada ao consumo e uso de outra fonte de qualidade
duvidosa mas sem odor e sabor. Embora possam existir sabores agradáveis,
freqüentemente considera-se o odor nas águas de consumo sob o ponto de vista negativo.
Efluentes industriais com pequena concentração de fenóis produzirão odor característico
que, por outro lado, não se manifesta quando da presença de metais. Dentre os compostos
responsáveis por conferir sabor e odor às águas de consumo, destacam-se os compostos
orgânicos naturais, como o 2-metilisoborneol (MIB) e geosmina, compostos produzidos
por algas, cianobactérias e actinomicetos, não associados a efeitos deletérios à saúde e
-1
passíveis de serem percebidos a concentrações inferiores a 5,0 ng.L . Além de
naturalmente presentes no ambiente, esses compostos apresentam padrão variável de
ocorrência e difícil remoção com as tecnologias usuais de tratamento, recaindo quase que

3
exclusivamente no emprego de carvão ativado, tornando-se a principal causa de
reclamações de sabor e odor entre os consumidores. A quase totalidade das estações de
tratamento de água do País encontra-se impossibilitada de realizar análises de MIB e
geosmina, direcionando o controle nos microrganismos responsáveis por sua geração.
O padrão de potabilidade vigente exige que a água para consumo humano seja insípida e
completamente inodora. Todavia, mesmo em nível internacional, não há metodologia
estabelecida bem como padrões de qualidade aptos a se inserir na rotina operacional das
estações de tratamento para detecção de odor e sabor nas águas de abastecimento.

1.6.2 CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS - PARÂMETROS DE QUALIDADE


Os exames químicos visam determinar os teores qualitativos e quantitativos de certas
substâncias, que embora não sejam nocivas até determinados limites, devem ser
conhecidas para aferir a perfeição ou a necessidade dos processos de tratamento, ou
ainda, no caso de uma água desconhecida, alertar sobre a viabilidade de uso da água para
fins domésticos. Entre as principais características químicas devem ser avaliados:

a) pH (potencial de hidrogênio)
Expressa a concentração de ions hidrogênio de uma solução em termos de seu
log negativo: pH = - log H+ ou pH = log l/H+ e representa a intensidade das condições
ácidas ou alcalinas do ambiente aquático.
Na prática, utiliza-se a escala de pH que varia na faixa de 0 a 14 unidades, com o pH = 7
representando a neutralidade

faixa ácida faixa alcalina

0 7 14

O valor do pH influi na distribuição das formas livre e ionizada de diversos compostos


químicos, contribui para um maior ou menor grau de solubilidade das substâncias e pode
definir o potencial de toxicidade de vários elementos. As alterações de pH na água podem
ter origem em fatores naturais como a dissolução de rochas, a fotossíntese e na absorção

4
de gases da atmosfera ou em fatores antropogênicos como o lançamento de despejos
domésticos e industria.

A determinação do pH tem especial importância nas águas de abastecimento, dada a


sua influência no processo de tratamento e no processo de corrosão das estruturas
das instalações hidráulicas. Em águas de abastecimento, valores baixos de pH
podem contribuir para a corrosividade e agressividade da água, enquanto valores
elevados aumentam a possibilidade de incrustações.

Os padrões de potabilidade vigentes não fixam valores de pH para águas potáveis mas
recomendam que, no sistema de distribuição o mesmo seja mantido na faixa de 6,0 a 9,5.
As águas naturais podem apresentar valores de pH bastante variados, dependendo de
suas características de formação, mas de um modo geral para a adequada manutenção da
vida aquática, o pH deve situar-se entre 6 a 9 unidades.

b) Acidez
A acidez das águas pode ser do tipo natural ou mineral. A acidez natural ocorre devido
à presença do ácido carbônico (H2CO3), formado pela reação da água com o dióxido de
carbono (CO2) que pode ter sido absorvido da atmosfera por fenômenos de superfície ou
ser resultado de processos de oxidação biológica da matéria orgânica. O ácido carbônico é
um ácido fraco, que logo após a sua formação (CO2 + H2O -> H2CO3) poderá sofrer
dissociações formando íons, bicarbonato e carbonato responsáveis por outra característica
que é a alcalinidade (ver item seguinte). As formas predominantes destes íons estão
fundamentalmente relacionadas com o pH do meio, como pode ser visto na figura 3. Desta
forma, águas com pH entre 4,5 e 8,0 podem apresentar acidez natural devido à presença
de CO2 na forma de H2CO3. A acidez natural tem pequena significância do ponto de vista
sanitário pois nenhum efeito nocivo é atribuído ao CO2.

5
Figura 1. 3. Relação entre pH e percentual de CO2 "livre"
HCO-3 e CO2-3 (Modificada de Golterman et al, l978).

A acidez mineral ocorre devida principalmente a lançamento de despejos industriais.


Para ilustrar, podemos citar o exemplo da drenagem de minas abandonadas que contém
quantidades significativas de enxofre, sulfetos e piritas. Esses materiais quando expostos
ao ar (condições aeróbicas) são convertidos através da ação de bactérias oxidantes de
enxofre a ácido sulfúrico (H2SO4) e sulfato (SO4), que são drenados até os cursos d'água
próximos a mina. As águas que contém acidez mineral são usualmente tão desagradáveis
que não existem registros de problemas relacionados ao consumo humano. Porém são de
interesse sanitário devido as suas características corrosivas e ao custo envolvido para
remover ou controlar as substâncias que promovam a corrosão. A acidez mineral ocorre em
águas com pH abaixo de 4,5. A acidez da água é expressa em mg/l CaCO3..

c) Alcalinidade
É devida a presença de substâncias comumente encontradas em águas naturais tais
como bicarbonatos, carbonos e hidróxidos. Como visto na figura anterior, a forma
bicarbonatada (HCO-3) irá predominar em águas com pH entre 6,5 e 10,3. A partir de pH

6
10,3 o íon dominante é o carbonato (CO2-3). Em águas não poluídas, onde o pH em geral
não excede a 8,3 a alcalinidade é devida principalmente à presença de bicarbonatos. A
alcalinidade da água é expressa em mg/l CaCO3.

A alcalinidade da água usada para abastecimento público é importante porque afeta


a quantidade de substâncias químicas a serem adicionadas no processo de
coagulação e no controle da corrosão dos sistemas de distribuição.

d) Dureza
Característica conferida à água pela presença de sais de metais alcalino terrosos
(cálcio, magnésio, etc.) e alguns outros metais, em menor intensidade. Quando os
metais estão ligados a carbonatos (CO3) ou bicarbonatos (HCO-3) a dureza é
denominada temporária ou carbonatada, pois pode ser eliminada quase totalmente por
processo de fervura. Quando é devida a sulfatos alcalinos terrosos e cloretos é
denominada permanente ou não-carbonatada porque não é removida por aquecimento.
A soma das duas espécies chama-se de dureza total. Não há evidências de que a dureza
da água cause problemas sanitários, mas em determinadas concentrações, causa um
sabor desagradável e pode ter efeitos laxativos. A dureza da água também reduz a
formação de espuma no processo de lavagem, induzindo a um maior consumo de sabão,
podendo também, provocar incrustações nas tubulações de água quente, caldeirase
aquecedores. Segundo o grau de dureza as águas podem ser classificadas em águas
moles, moderadamente duras, duras e muito duras.

e) Ferro e Manganês
O ferro e manganês são elementos muito abundantes na crosta terrestre e apresentam
comportamento químico semelhante. Nas águas superficiais aparecem nas formas
insolúveis ou oxidadas (Fe3+ e Mn4+) associados a moléculas orgânicas, enquanto nas
águas subterrâneas aparecem em suas formas solúveis ou reduzidas (Fe2+ e Mn2+). Caso a
água contendo as formas reduzidas seja exposta ao ar atmosférico (ex: na torneira do
consumidor), o ferro e o manganês voltam a se oxidar às suas formas insolúveis (Fe3+ e

7
Mn4+), o que pode causar cor na água, além de manchar roupas durante a lavagem.
Embora, nas concentrações normalmente encontradas esses elementos não apresentem
inconvenientes à saúde humana, sendo inclusive essenciais à dieta nutricional, eles podem
apresentar problemas de ordem estética ou prejudicar determinados usos industriais da
água. A dissolução de compostos do solo é a principal causa da presença desses
elementos na água. Assim, águas de determinadas regiões podem apresentar, em função
das características geoquímicas das bacias de drenagem, teores elevados de ferro e
manganês. Altas concentrações podem também ser encontradas em situações de ausência
de oxigênio dissolvido, como p.ex. em águas subterrâneas ou nas camadas mais profundas
dos lagos. Em certas concentrações, podem causar sabor e odor (mas, nessas
concentrações, o consumidor já rejeitou a água, devido à coloração característica da água
conferida pela presença desses elementos .Em termos de tratamento e abastecimento
público de a água a Portaria 518/2004 estabelece em 0,3 mg/L de Fe e em 0,1 mg/L de Mn
o padrão para consumo humano.

f) Matéria Orgânica
A matéria orgânica presente nos corpos d´água e nos esgotos é uma característica de
primordial importância para a qualificação da água, pois é a matéria orgânica, a causadora
do principal problema de poluição das águas: o consumo do oxigênio dissolvido pelos
microorganismos nos seus processos metabólicos de utilização e estabilização dessa
matéria. Os principais componentes orgânicos são os compostos de proteína, os
carboidratos, a gordura e os óleos, além da uréia, surfactantes, fenóis, pesticidas entre
outros. Essa matéria orgânica de origem vegetal ou animal pode estar naturalmente
presente na água ou ser resultado de lançamento de despejos domésticos e/ou industriais,
podendo ainda estar na forma de sólidos em suspensão ou dissolvidos de natureza
biodegradável ou não. Em termos práticos, usualmente não há necessidade de se
caracterizar a matéria orgânica em termos de proteínas, gorduras, carboidratos, etc. Assim,
adotam-se normalmente métodos indiretos para a quantificação da matéria orgânica, ou do
seu potencial poluidor através da medição da demanda (consumo) de oxigênio registrada
no processo de oxidação dessa matéria.

8
g) Oxigênio Dissolvido (OD)
O Oxigênio Dissolvido (OD) é um dos elementos químicos mais importantes na água e
na natureza, devido às várias funções que exerce sobre atividades químicas e bioquímicas.
É fundamental para a respiração da maioria dos organismos aquáticos e sua diminuição
freqüentemente está associada à poluição orgânica da água, onde o consumo de oxigênio
é proporcional a decomposição da matéria orgânica biodegradável através da atividade
bioquímica e ou poluição química (oxidação de certos compostos). A quantidade máxima de
concentração de OD na água é chamada de concentração de saturação (mg/l O2) e
depende da temperatura, salinidade e pressão atmosférica (altitude) do local. O quadro 6
apresenta alguns valores destas concentrações para água doce e do mar, para diferentes
temperaturas e pressão constante de uma atmosfera.

Quadro 6 - Concentração de OD na água


TEMPERATURA (°C) 0 10 20 30
DOCE (mg/L) l4,6 ll,3 9,2 7,6
SALINA (mg/L) ll,3 9,0 7,4 6,l

O nível de oxigênio dissolvido é utilizado como parâmetro indicador da capacidade


receptora dos cursos de água em relação aos esgotos orgânicos, servindo para o
gerenciamento dos níveis mínimos de tratamento para manutenção das condições
aeróbicas em cursos d'água.

h) Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO)


É definida como a quantidade de oxigênio dissolvido na água, necessária para oxidação
bioquímica das substâncias orgânicas presentes na água, ou seja, é a quantidade de O2
requerida pelas bactérias para estabilizar a matéria orgânica "decomponível"
(biodegradável).
Na prática, a DBO é medida em um período de 5 dias, que corresponde a um consumo de
60 a 70% do total de oxigênio utilizado na biodegradação da matéria orgânica. A DBO

9
retrata, de uma forma indireta, o teor de matéria orgânica nos esgotos ou no corpo d´água,
sendo, portanto, uma indicação do potencial do consumo do oxigênio dissolvido. É,
portanto, um parâmetro de fundamental importância na caracterização do grau de poluição
de um corpo d’água, sendo freqüentemente utilizado na caracterização de águas
residuárias brutas e tratadas e na caracterização de corpos d’água. Não são monitoradas
nas estações de tratamento de água, pois as águas naturais utilizadas para abastecimento
apresentam comumente DBO inferior a 5,0 mg.L-1

Em águas naturais não poluídas a concentração de DBO é baixa, em torno de 1 a 10


mg/L, enquanto nos esgotos domésticos é da ordem de 200 a 300 mg/L, podendo
chegar a valores muito altos em efluentes industriais como os de laticínios,
cervejarias ou frigoríficos.

i) Demanda Química de Oxigênio (DQO)


O teste de DQO é largamente empregado como meio de medir o grau de poluição de
despejos domésticos e industriais. A DQO permite avaliar o efluente em termos de
quantidade total de oxigênio requerido para oxidação completa (até Co2 e H2O) de toda a
matéria (biodegradável, pouco e não biodegradável). Como resultado, os valores de DQO
são maiores ou no máximo iguais aos de DBO. A diferença entre a DBO e a DQO constitui
uma indicação das matérias orgânicas pouco ou não biodegradáveis. A principal vantagem
deste teste é o curto tempo exigido para seu desenvolvimento (cerca de 3 horas).

DQO  DBO
DQO = DBO + Matéria Orgânica não biodegradável

10
j) Grupo nitrogênio
Os compostos de nitrogênio são de grande interesse devido a importância do nitrogênio
nos processos vitais de todas as plantas e animais, sendo um dos mais importantes
nutrientes para o crescimento de algas e macrófitas (plantas aquáticas superiores). Na
biosfera, o nitrogênio alterna-se, dentro do seu ciclo, entre várias formas e estados de
oxidação, no meio aquático o nitrogênio pode ser encontrado nas formas de: a) nitrogênio
molecular; b) nitrogênio orgânico (N2); c) amônia (NH3)-, d) nitrito (NO-2), e) nitrato (NO-3).

j.1) Nitrogênio molecular (N2): fração que escapa diretamente para a atmosfera

j.2) Nitrogênio orgânico: No esgoto doméstico, o nitrogênio orgânico está principalmente


na forma de proteína. O crescimento no teor do nitrogênio orgânico é indício da poluição da
água com esgoto ou resíduo industrial.

j.3) Nitrogênio amoniacal: Considera-se como nitrogênio amoniacal, aquela fração de


nitrogênio como íon amônio no equilíbrio: NH4+  NH3 + H+. O nitrogênio amoniacal está
presente naturalmente nas águas superficiais e esgotos. A concentração de amônia nas
águas varia de menos de 10 mg/l em algumas águas naturais, superficiais e profundas,
a mais de 30 mg/l em águas residuárias.

j.4) Nitrito (NO2-): O nitrito, junto com o nitrato, constitui o nitrogênio total oxidado e pode
entrar nos sistemas de abastecimento público como conseqüência do uso como inibidor de
corrosão em águas de processos industriais. Sua concentração em águas superficiais ou
profundas sempre é inferior a 0,1 mg/l. Nos sistemas de distribuição de águas podem
aparecer devido à redução de nitratos de ferro, zinco e chumbo dos condutos. Em solução
acidificada, pode reagir para formar nitrosaminas muitas das quais são conhecidas como
carcinogênicos

j.5) Nitrato (NO3-): A presença de nitrato na água é uma indicação da última etapa da
oxidação da matéria nitrogenada. Ele pode indicar poluição com resíduos animais, antes da

11
poluição vegetal, uma vez que os ácidos animais são mais ricos em nitrogênio que os
vegetais, além da decomposição animal ser mais fácil. As águas de chuva carregam uma
quantidade considerável de nitrogênio nítrico (NO3) da atmosfera. As águas superficiais de
boa qualidade são em geral, pobres em nitratos em face deste ânion ser facilmente
absorvido pela vegetação em crescimento, embora atinja altos níveis em águas de
profundidade. Em quantidades excessivas, ele contribui para o desenvolvimento em
crianças da doença conhecida como metahemoglobinemia (cianose), quando se usa tal
água para preparação de alimentos. O limite de 10 mg/l de nitratos como nitrogênio é
imposto em águas de consumo para evitar tal distúrbio. O nitrato é encontrado em
pequenas quantidades em esgotos domésticos frescos.
A análise das formas de nitrogênio predominantes em um curso d’ água permite verificar
o grau de estabilização da matéria nitrogenada na água fornecendo indicações sobre o
estágio da poluição ocasionada pelo lançamento de esgotos nesse curso d’água. Assim, se
a forma orgânica ou amoniacal for predominante, a poluição é recente e, se predominar
nitrato a poluição é mais antiga, em outras palavras, o grau de estabilização da matéria
nitrogenada na água, pode indicar a “idade” de ocorrência da poluição orgânica. podendo
indicar a "idade" de ocorrência da poluição orgânica.

l) Fósforo (Fosfatos)
O fósforo na água apresenta-se principalmente na forma de fosfatos (PO4)- e sua
presença está relacionada a processos de ocorrências naturais como lixiviação de rochas
minerais, processos de degradação, chuva e carreamento do solo, ou a processos de
origem antropogênica como o lançamento de resíduos industriais, agrícolas e domésticos.
Os compostos de fósforo são essenciais para todas as formas de vida e são considerados
os nutrientes mais facilmente controláveis para limitar o crescimento de plantas objetáveis.
As principais fontes de fosfato na água são o solo, detergentes, fertilizantes, despejos
industriais e efluentes domésticos. Alta concentração de fosfatos na água está associada
com o processo de eutrofização de lagos e represas, provocando o desenvolvimento de
algas ou outras plantas aquáticas desagradáveis. Em águas naturais não poluídas as
concentrações de fósforo situam-se na faixa de 0,01 a 0,05 mg/L.

12
m) Cloretos
Ocorrem em águas naturais com variadas concentrações. Na maioria dos corpos d'água,
o seu conteúdo é normalmente pequeno quando comparado a outros componentes
principais. Por isto, um aumento considerável em águas superficiais pode estar relacionado
com poluição de industrias ou esgotos domésticos. Deve ser notado, que o cloreto é um
constituinte natural das fezes e urina. O aumento de sua concentração pode servir como
um dos sinais de poluição fecal. Sua presença torna-se objetável quando acima de 250 mg/l
devido ao gosto salino (cloreto de sódio), porém teores até l000 mg/l de cálcio e magnésio
podem não dar gosto.

n) Micropoluentes inorgânicos e orgânicos


São considerados como micropoluentes aqueles elementos e compostos químicos que,
mesmo em baixas concentrações, conferem à água característica de toxicidade, tornando-a
imprópria para grande parte dos usos. Entre esses, têm especial destaque os
micropoluentes inorgânicos como os metais pesados: arsênio, cádmio, cromo, chumbo,
mercúrio e prata. A presença de metais na água apresenta efeitos diversos que vão
desde efeitos benéficos, passando por efeitos incômodos e indo até efeitos perigosamente
tóxicos. Alguns metais são essenciais (ex.: cobre), outros podem afetar adversamente os
consumidores (chumbo, cádmio, mercúrio, cromo). Alguns metais podem ser benéficos ou
tóxicos, dependendo de suas concentrações (ferro, manganês, zinco). Vários destes metais
se concentram na cadeia alimentar, resultando num grande perigo para os organismos
situados nos degraus superiores. Além dos metais pesados, há outros micropoluentes
inorgânicos de importância em termos de saúde pública, como o cianeto e o flúor entre
outros. A origem natural desses micropoluentes em ambientes aquáticos é de menor
importância, entretanto, várias outras atividades de origem antropogênica como os
despejos industriais, as atividades mineradoras e de garimpo e a agricultura podem ser
responsáveis pela presença dessas substâncias nos corpos d’água em concentrações
capazes de comprometer o equilíbrio do ambiente aquático e/ou de prejudicar o consumo
humano. Entre os micropluentes orgânicos destacam-se os defensivos agrícolas, alguns

13
tipos de detergentes e um grande número de produtos químicos sintéticos de uso industrial.
Além de sua difícil biodegradabilidade, muitos desses compostos apresentam
características carcinogênicas, mutagênicas (atuam sob as células reprodutoras) ou até
mesmo teratogênicas (geração de fetos com graves deficiências físicas).

1.6.3. Características biológicas (bacteriológicas) da água


Entre o material em suspensão na água inclui-se a "parte viva" ou seja, os organismos
presentes que também constituem impurezas e que conforme sua natureza têm grande
significado para os sistemas de abastecimento de água. A diversidade de espécies no
meio aquático depende de condições físicas e químicas que propiciam a sobrevivência dos
organismos. Entre os organismos de maior interesse em relação ao abastecimento de água
incluem-se as algas (verdes, azuis e diatomáceas) do reino vegetal e as bactérias, vírus,
protozoários e vermes do reino animal. Alguns desses organismos, como certas algas, são
responsáveis pela ocorrência de sabor e odor desagradáveis, ou por distúrbios em filtros e
outras partes do sistema de abastecimento. Outros, como bactérias, vírus e protozoários
são patogênicos, podendo, portanto, provocar doenças e até mesmo ser a causa de
epidemias, o que é particularmente importante no caso de águas de abastecimento.
No entanto, a determinação individual da eventual presença de patogênicos em uma
amostra d’ água é extremamente difícil, complexa e cara. Desta forma, a avaliação da
qualidade bacteriológica das águas é feita através da pesquisa de microorganismos
indicadores de contaminação fecal. Os organismos mais comumente utilizados com tal
finalidade são as bactérias do grupo coliforme.

1.6.3.1 O grupo coliforme


No grupo dos coliformes encontram-se os coliformes totais (CT), constituído de bactérias
isoladas em amostras de água e solos poluídos e não poluídos e os coliformes fecais (CF)
constituídos por bactérias habitantes normais dos intestinos dos animais de sangue quente.
O grupo coliforme é constituído de dois grandes gêneros: o gênero Escherichia e o gênero
Aerobacter. Entre as várias espécies que constituem o gênero Escherichia, a Escherichia
coli é a espécie mais importante, pois constitui 95% dos coliformes presentes nas fezes. A

14
presença de E. coli, então não oferece dúvida sobre a origem fecal da contaminação. É
importante observar que, esses microorganismos não são patogênicos, mas a sua
presença na água dá uma indicação segura da contaminação da mesma por fezes
humanas ou de animais e, portanto, da sua potencialidade para transmitir doenças, tendo
em vista que a maior parte das doenças associadas com a água é transmitida por via feco-
oral, i.e, os organismos patogênicos são eliminados pelas fezes, atingem o ambiente
aquático e voltam a contaminar as pessoas que se abastecem indevidamente dessa água.
Resumidamente, as principais razões para a utilização do grupo coliforme como
indicadores de contaminação são que:
 Os coliformes apresentam-se em grande quantidade (em média, cada indivíduo
elimina de 1010 a 1011 células por dia) apenas nas fezes dos animais de sangue
quente. Assim a sua presença deve ser encarada como um sinal de alerta, indicando
a possibilidade de haver uma poluição e/ou contaminação fecal, principalmente
quando ocorrem variações bruscas do número de coliformes numa determinada
água.
 Os coliformes apresentam resistência aproximadamente similar à maioria das
bactérias patogênicas
 As técnicas bacteriológicas para a detecção de coliformes são rápidas e econômicas.

A determinação de coliformes pode ser realizada para coliformes totais (CT) e/ou
fecais (CF). Usualmente só uma pequena parte dos totais não representam
contaminação fecal, geralmente seu aumento indica maior poluição fecal. O teste de
fecais indica realmente contaminação por fezes, mas em algumas estações de pequeno
porte às vezes só o teste de coliformes totais é facilmente executável, servindo no
acompanhamento do tratamento da água de abastecimento. A portaria de padrões de
potabilidade do Ministério da Saúde especifica valores para coliformes totais e fecais. O
número de coliformes é expresso pelo denominado "número mais provável" (N.M.P.)
que é obtido através de estudos estatísticos e representa a quantidade mais provável de
coliformes existentes em 100ml de água da amostra.

15
O exame de coliformes é recomendado para o controle de sistemas de
abastecimento de água, e, em particular, da eficiência do tratamento, podendo ser
complementado por outros testes microbiológicos.

1.7 - Utilização dos parâmetros de qualidade


Para avaliar-se a qualidade de uma água através da interpretação de suas diferentes
características é necessário selecionar-se adequadamente os parâmetros que possam
traduzir de forma ampla a qualidade da mesma e ao mesmo tempo reconhecer-se as
conseqüências da presença dessas impurezas sobre o uso da água. No quadro 7 é
mostrada a forma predominante das impurezas encontradas na água. O quadro 8
apresenta uma relação dos principais parâmetros a serem analisados nas águas
destinadas ao abastecimento público.
Quadro 7 - Forma física preponderante representada pelos parâmetros de qualidade
Característica Parâmetro Sólidos em Sólidos Gases
suspensão dissolvidos dissolvidos
Cor X
Parâmetros físicos Turbidez X
Sabor e Cor X X X
pH X X
Alcalinidade X
Acidez X X
Dureza X
Ferro e manganês X X
Cloretos X
Parâmetros químicos Nitrogênio X X
Fósforo X X
Oxigênio dissolvido X
Matéria orgânica X X
Metais pesados X X
Micropoluentes orgânicos X
Organismos indicadores X
Parâmetros biológicos Algas X
Bactérias X

16
Quadro 8 - Principais parâmetros a serem investigados numa análise de água
Águas para abastecimento Águas Corpos
Característica Parâmetro residuárias receptores
Água Água Bruta Tratada Rio Lago
superficial subterrânea
Bruta Tratada Bruta Tratada
Cor X X X(1) X X X
Parâmetros Turbidez X X X X X X
físicos Sabor e odor X X X X
Temperatura X X X X X
PH X X X X X X X
Alcalinidade X X X
Acidez X X
Dureza X X
Ferro X X X X
Parâmetros Cloretos X X
químicos Nitrogênio X X X X X X X X
Fósforo X X X
O.D X(2) X
M. orgânica X X X
Micropl. Inorg. X X X X X X X X
(diversos)3
Micrpol. Orgân. X X X X X X X X
(diversos)3
Org indicadores X X X X X X X
Parâmetros Algas (diversas) X X(2) X
biológicos Bactérias decomp. X(2)
(diversas)
Notas
(1) Causada por Fe e Mn; (2) Durante o tratamento, para controle do processo; (3) Devem ser analisados
aqueles que possuírem alguma justificativa, devido ao uso e ocupação do solo na bacia hidrográfica

1.8 Requisitos e Padrões de qualidade


Os requisitos de qualidade de uma água devem estar associados aos usos
pretendidos para essa água. Se um corpo d'água é de uso múltiplo, a qualidade das
suas águas deverá ser ta! que possa atender aos requisitos dos diversos usos
previstos. Porém, além dos requisitos de qualidade, é necessário estabelecer-se
também padrões de qualidade, embasados em um suporte legal. Os padrões devem ser
cumpridos, por força de legislação, pelas entidades envolvidas com a água a ser
utilizada. Da mesma forma que os requisitos de qualidade, os padrões também são
função do uso previsto para a água. Em termos práticos, há três tipos de padrão de
interesse para a qualidade da água. São eles:
 Padrões de lançamento no corpo d’água
17
 Padrões de qualidade do corpo d’água
 Padrões de qualidade para uso específico - Padrões de Potabilidade

1.8.1 Padrões de lançamento e de qualidade do corpo d’água


Devido aos diversos tipos e graus de poluição que um curso d'água venha a
adquirir e aos seus diferentes usos, faz-se necessário preservar a sua qualidade para
que se possa atender as necessidades da comunidade que dele faz uso.
As condições e padrões de qualidade de água necessários ao atendimento dos
usos preponderantes são determinados pelo Ministério do Meio Ambiente através de
resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) que dispõe sobre a
classificação dos corpos d´ água e estabelece as condições padrões de lançamento de
efluentes. A resolução atualmente vigente é a Resolução no 357 de 17/03/2005.
Para efeito desta Resolução as águas do Território Nacional são divididas em
águas doces, salobras e salinas segundo a seguinte definição:
I - águas doces: águas com salinidade igual ou inferior a 0,05%,
II - águas salobras: águas com salinidade superior a 0,05% e inferior a 3%,
III - águas salinas: águas com salinidade igual ou superior a 3%.

As águas doces, salobras e salinas são classificadas, segundo sua qualidade


requerida para os seus usos preponderantes, em treze classes de qualidade. Desta
forma os cursos de água doce podem ser classificados em: classe especial, classe l,
classe 2, classe 3 e classe 4; as águas salinas são classificadas em classe especial,
classe 1, classe 2 e classe 3 e as salobras em classe especial, classe 1, classe 2 e
classe 3. A cada uma dessas classes corresponde uma determinada qualidade a ser
mantida no corpo d’água, qualidade esta, expressa na forma de padrões, através da
referida Resolução CONAMA.
Além dos padrões de qualidade dos corpos d’água, a Resolução CONAMA
apresenta também, os padrões para o lançamento de efluentes nos corpos d’água.
Esses padrões estão interrelacionados, no sentido de que um efluente, além de
satisfazer os padrões de lançamento, deve proporcionar condições tais no corpo

18
receptor, de forma que a qualidade do mesmo se enquadre dentro dos padrões para
corpos receptores, não prejudicando o seu uso preponderante.

Resumidamente, os principais usos relativos a águas doces de acordo com sua classe,
são:
Classe Especial: águas destinadas
a) ao abastecimento para consumo humano, com desinfecção;
b) à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas;
b) à preservação dos ambientes aquáticos.

Classe 1: águas que podem ser destinadas:


a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento simplificado;
b) à proteção das comunidades aquáticas;
c) à recreação de contato primário: natação, esqui aquático, mergulho;
d) à irrigação de hortaliças e frutas que são consumidas cruas e de frutas que se
desenvolvem rentes ao solo e que sejam ingeridas sem remoção de película;
e) à proteção das comunidades aquáticas em terras indígenas.

Classe 2: águas que podem ser destinadas:


a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional;
b) à proteção das comunidades aquáticas;
c) à recreação de contato primário: natação, esqui aquático, mergulho;
d) à irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de esporte e
lazer, com os quais o público possa a vir a ter contato direto;
e) à aqüicultura e à atividade de pesca.

Classe 3: águas que podem ser destinadas:


a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convenciona ou avançado;
b)à irrigação de culturas arbórea, cerealíferas; e forrageiras;
c) à pesca amadora;

19
d) à recreação de contato secundário;
e) à dessedentação de animais.

Classe 4 águas que podem ser destinadas:


a) à navegação;
b) à harmonia paisagística.

Obs: A classe especial pressupõe os usos mais nobres e a classe 4 os menos nobres. A
maioria das águas doces se encontram entre classe 1 e classe 4. Cada classe deve se
encontrar dentro dos limites estabelecidos para cada parâmetro, senão fugirá da classe.
Um aumento de classe, entre 1 e 4, corresponde à água com pior qualidade, usualmente
mais poluída.

1.8.2 - Classificação das águas para consumo humano - Padrões de Potabilidade


De uma rnaneira geral a qualidade da água destinada ao consumo depende não só
das condições do manancial de origem, mas também e principalmente das condições de
preparação e de distribuição dessa água (processo de tratamento, sistema de
fornecimento de água, etc).
Portanto, há necessidade e conveniência dos órgãos competentes estabelecerem os
limites gerais aceitáveis para as impurezas contidas nas águas, de acordo com o fim a
que as mesmas se destinam.
No caso da água destinada ao consumo doméstico são fixados os denominados
"padrões de potabilidade".

Os padrões de potabilidade indicam as condições que a água deve preencher


para poder servir e ser utilizada como bebida, e para outros fins domésticos, isto
é, para que seja considerada uma água potável.

Assim, os padrões de potabilidade ou de água potável são as quantidades limites


que, com relação aos diversos elementos, podem ser toleradas nas águas de

20
abastecimento, quantidades estas fixadas, geralmente por decretos, regulamentos ou
especificações. Podem ser estabelecidos, exigidos, adotados ou recomendados pelos
diferentes organismos relacionados à saúde pública (poder públicos, órgãos
internacionais, instituições técnicas), usualmente com pouca variação nas faixas dos
valores limites toleráveis.

No Brasil, os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e


vigilância da qualidade da água para consumo humano são estabelecidos pelo
o
Ministério da Saúde através da Portaria n 518 de 25 de março de 2004
(www.anvisa.gov.br).

21
Ponto 2 - Introdução ao tratamento de água

2.1 Breve histórico


Desde os tempos mais remotos, o homem se viu confrontado com questões de sobrevivência e a
água de qualidade adequada e em quantidade suficiente para atender não só a necessidades mais
prementes, mas também como forma de proteção à saúde e desenvolvimento econômico é uma
dessas questões que ainda desafiam a engenhosidade dos seres humanos.
Os primeiros registros sobre instruções de controle de fluxo de água com finalidades de
irrigação e abastecimento são anteriores à era cristã. Em documentos datados de 2000 a.C já se
encontravam orientações para o acondicionamento da água em vasos de cobre, ou sobre sua
exposição ao sol, e ainda, para o uso de areia e cascalho para filtração da água. A canalização da
água para os múltiplos usos já existia, por exemplo, no Antigo Egito e na Mesopotâmia.
Na formação das aglomerações humanas, uma das primeiras preocupações era de
estabelecer uma rede para a circulação da água, assim, inicialmente, as povoações se
localizavam nas proximidades de fontes abastecedoras, mas com o crescimento das
populações e conseqüente transformação dos povoados em cidades, as reservas tornaram-se
escassas ou insuficientes e inevitavelmente expostas à contaminação. Já se reconhecia a
importância de se manter saudáveis as populações, necessitando para isso, dispor de
canalizações para o abastecimento de água e esgotamento sanitário.
No período colonial as questões relativas ao abastecimento de água e evacuação dos
dejetos ficavam sob encargo dos indivíduos, ou seja, eram de natureza privada ou familiar.
Somente no século XVII surgem as primeiras grandes obras de intervenção ambiental, buscando
principalmente eliminação de pântanos e áreas úmidas através de obras de aterramento e
drenagem, construção de diques, canais e ancoradouros. A partir do século XVIII, o abastecimento
público passa a ser feito através de aquedutos e a distribuição à população por meio de chafarizes
e fontes próprias, mas a remoção de dejetos e de lixo continua sendo executada de forma
individual pelas famílias.
No Brasil, as questões relacionadas à água, em particular, e ao saneamento de forma
geral, sempre estiveram relacionadas a mudanças políticas e/ou aos ciclos econômicos
estabelecidos ao longo da nossa História.O primeiro aqueduto brasileiro foi construído no bairro
da Lapa, no Rio de Janeiro em 1723 e a partir daí foi adotado como modelo por outras cidades
do país. No entanto, a oferta de água ainda não era satisfatória, grande parte da população

22
continuava a utilizar as fontes centrais e a água era transportada por escravos ou comprada
dos pipeiros. Além disso, a população mais carente era obrigada a realizar longos
deslocamentos por falta de chafarizes próximos, ou por serem estes comercializados por
companhias particulares. Entre o final do Império e o início da Primeira República, os serviços
de água e esgoto estavam sob o encargo do Estado, porém executados por intermédio de
concessão à iniciativa privada, mas ainda atendendo, apenas, uma pequena parcela da
população concentrada nos centros urbanos e de forma bastante insatisfatória.
Em 1920 surgem as primeiras instituições públicas que aperfeiçoam os serviços
sanitários de água e esgoto. No que diz respeito aos recursos hídricos, em 1934 deu-se a
aprovação do importante Decreto que instituiu o Código de Águas ainda vigente no país. Este
tinha, como objetivo geral, estabelecer regras de controle federal para o aproveitamento dos
recursos hídricos através da formulação de princípios que podem ser considerados um dos
primeiros instrumentos de controle do uso de recursos hídricos no país e a base para a gestão
pública do setor de saneamento, sobretudo no que se refere à água para abastecimento
público.

2.2 Importância sanitária e econômica de um sistema de abastecimento


A implantação ou melhoria de serviços de abastecimento de água traz como resultado
uma rápida e sensível melhoria na saúde e condições de vida de uma cidade. Desta forma, a
importância de um sistema de abastecimento de água pode ser avaliada através de aspectos
sanitários, sociais e econômicos. No que diz respeito aos aspectos sanitários e sociais, um
sistema de abastecimento visa fundamentalmente, ao:
 Controle e prevenção de doenças de veiculação hídrica;
 Favorecimento e implantação de hábitos higiênicos na população e adoção de práticas de
limpeza pública;
 Estímulo a práticas desportivas;
 Uso de dispositivos de engenharia que melhorem o conforto e garantam segurança, como a
implantação de sistemas de esgotos sanitários, os aparelhos de condicionamento térmico e
os de combate a incêndios;
 Aumento da esperança de vida da população.
Sob o aspecto econômico, a existência de um sistema de abastecimento se traduz em:
 Aumento da vida média pela redução da mortalidade;

23
 Aumento da vida produtiva
 Garantia de desenvolvimento industrial e incentivo à indústria turística.

2.3 Sistema de abastecimento de água


Um sistema de abastecimento de água caracteriza-se pela retirada da água da natureza,
adequação de sua qualidade, transporte e fornecimento à população em quantidade compatível
com suas necessidades. Conceitualmente, é constituído por um conjunto de obras, equipamentos
e serviços destinados a produzir e distribuir água potável para fins de consumo seja doméstico,
público ou industrial.
O sistema de abastecimento de água pode ser executado através de uma:
 Solução coletiva  aplicada em áreas urbanas e áreas rurais com população mais
concentrada, onde se inclui também a solução alternativa de abastecimento de água definida
como aquela modalidade de abastecimento coletivo de água distinta do sistema de
abastecimento de água, incluindo, entre outras, fonte, poço comunitário, distribuição por veículo
transportador e instalações condominiais.
 Solução individual  aplicada, normalmente, em áreas rurais de população dispersa.
A adoção de uma solução coletiva para o abastecimento de água é mais interessante,
pois permite não só maior controle sobre a qualidade da água consumida, como também facilita
a proteção do manancial abastecedor e a supervisão e manutenção das unidades instaladas.
A elaboração de um projeto de abastecimento de água exige um amplo estudo dos dados e
características da comunidade a ser abastecida, para que se possa levantar as soluções
alternativas possíveis e estabelecer um cotejo técnico-econômico viável. Estes estudos
preliminares devem considerar, entre outras:
 as características dos mananciais;
 o número de habitantes a ser abastecido no período previsto;
 as variações de demanda;
 as condições climáticas locais;
 as atividades econômicas da cidade;
 as características sócio-culturais da população.

24
Qualquer que seja a solução escolhida, ela deverá fornecer água em quantidade suficiente
à prevista no projeto e com qualidade atual e futura condizente com o tratamento proposto,
atendendo os padrões de potabilidade vigentes.

2.4 Partes constituintes de um sistema público de abastecimento


Os sistemas de abastecimento de água constituem-se de unidades de captação,
adução, tratamento, reservação e distribição:

Manancial  Captação  Tratamento  Reservação  Distribuição

Captação: conjunto de equipamentos e instalações projetados para a tomada de água do


manancial. As obras de captação variam conforme as condições locais, hidrológicas, topográficas
ou hidrogeológicas (para as águas subterrâneas). É a primeira unidade do sistema de
abastecimento de água, e sua concepção deve considerar que não são admissíveis interrupções
em seu funcionamento, para não comprometer as demais unidades do sistema e garantir água em
quantidade suficiente para atender o consumo.

Adução: transporte da água desde a captação até a comunidade a ser abastecida, sem
distribuição ao longo da rede, passando pelo tratamento e reservação, se necessário. As adutoras
podem ser de água bruta (transporta a água bruta até a Estação de Tratamento) ou de água
tratada (transporta água da ETA aos reservatórios de distribuição).

Tratamento: eliminação de impurezas e/ou correção de propriedades inadequadas ao uso da


água, implicando em instalações específicas apropriadas (estações de tratamento de água - ETA).

Reservação: unidade destinada ao armazenamento de água para absorver as variações do


consumo, manter a pressão adequada na rede, promover a continuidade do abastecimento no
caso de paralisação da produção de água e garantir uma reserva estratégica para consumos
emergenciais, como incêndios.

25
Distribuição: condução da água através de tubulações, formando uma rede que leva água aos
diversos pontos de consumo na comunidade (com distribuição ao longo das canalizações). A
rede de distribuição é a estrutura mais integrada à realidade urbana, e a mais dispendiosa.

2.5 Cálculo da demanda de água


O volume de água necessário para abastecer uma cidade dependerá fundamentalmente de
suas características econômicas, sócio-culturais e climáticas, enquanto o consumo médio por
habitante (consumo per capta) dependerá dos usos diversos a que se destinará a água: doméstico
ou domiciliar; público; comercial e industrial.
O valor do consumo médio per capta (q) é obtido dividindo-se o volume total de água
distribuída durante um ano (vazão anual) pelo número de habitantes beneficiados. Em geral o
consumo per capta é expresso em litros por habitante por dia (L/hab.dia).
No entanto, a vazão de água distribuída para uma cidade não é constante. São
observadas variações, às vezes bastante significativas, que podem ser mensais (o consumo é
maior nos meses mais quentes), diárias, horárias ou instantâneas (para atender usos
emergenciais como grandes incêndios). No projeto do sistema de abastecimento são
consideradas as variações diárias e as variações horárias:
a) Variações diárias: é utilizado o coeficiente do dia de maior consumo (k 1), que é obtido da
relação entre o maior consumo diário verificado no ano e a vazão média anual. O valor
usualmente adotado no Brasil está entre 1,2 a 1,5.

1,2  k1 1,5

b) Variações horárias: é utilizado o coeficiente da hora de maior consumo (k 2), que é a


relação entre a maior vazão horária observada e a vazão média horária do mesmo dia.
Durante um dia a variação horária é bastante significativa, observando-se um consumo
maior nos horários próximos das refeições e diminuindo no início da madrugada. O valor
usualmente adotado no Brasil está em torno de 1,5 a 2,0.

1,5  k2 2,0

26
O coeficiente (k1) é utilizado como reforço para cálculos de projeto em todas as unidades
do sistema, enquanto (k2) é adotado como reforço apenas para a rede de distribuição.

Desta forma, podemos calcular a demanda de água distribuída através da fórmula:

P.q.k1.k2
Q( L / s ) 
86400

P = população (hab)
q = consumo (taxa) per capta (l/hab.dia)
k1 = coeficiente do dia de maior consumo
k2 = coeficiente da hora de maior consumo

E a vazão de água aduzida a ETA para tratamento é estimada através da fórmula:

P.q.k1
Q( L / s )   qETA  Qs
86400

Onde:
qETA = percentual de água retido na ETA para consumo próprio
Qs = vazão singular

2.6 Processos de tratamento


O tratamento de água tem por finalidade a eliminação de impurezas e/ou correção de
propriedades inadequadas ao uso da água. A água a ser utilizada para o abastecimento público
deve ter sua qualidade ajustada de forma a:
 atender os padrões de potabilidade exigidos pelo Ministério da Saúde e aceitos
internacionalmente;
 prevenir o aparecimento de doenças de veiculação hídrica, protegendo a saúde da
população;
 tornar a água adequada a serviços domésticos;
 prevenir o aparecimento de cáries dentárias, através da fluoretação;

27
 proteger o sistema de abastecimento de água, principalmente tubulações e órgãos
acessórios da rede de distribuição, dos efeitos danosos da corrosão e da deposição de
partículas no interior das tubulações.
O tratamento da água pode ser parcial ou completo, dependendo da análise prévia de suas
características físicas, químicas e biológicas. Os mananciais subterrâneos, não poluídos,
geralmente não necessitam de tratamento completo, o que ocorre diferentemente para os
mananciais superficiais que normalmente carreiam maior quantidade de matérias em
suspensão, estando sujeitos a maior contaminação. O tratamento da água também poderá ser
executado de forma individual ou domiciliar ou ser efetuado numa Estação de Tratamento de
Água (ETA).

2.7 Tratamento completo ou convencional


As águas de mananciais superficiais destinadas ao abastecimento público normalmente são
submetidas a um tratamento completo ou convencional constituído por etapas de:
 Clarificação: conjunto de processos destinados à remoção das impurezas presentes na água.
 Desinfecção: para eliminação dos microrganismos que provocam doenças
Os processos que constituem as etapas citadas são:

COAGULAÇÃO  FLOCULAÇÃO  SEDIMENTAÇÃO  FILTRAÇÃO  DESINFECÇÃO


(1) (2) (3) (4) (5)

Os processos de (1) até (4) são partes da etapa de clarificação e se adaptam bem a
remoção de impurezas de águas superficiais. Tanto as águas superficiais quanto as
subterrâneas já clarificadas, devem passar pelo processo de desinfecção, como medida básica
de proteção e prevenção de transmissão de doenças e controle da saúde pública. Atualmente,
os sistemas públicos também são obrigados a fazer a fluoretação da água para prevenção de
cáries. A figura 2.1 representa uma Estação de Tratamento de Água (ETA) do tipo
convencional.

28
Fig. 2.1- Estação convencional esquemática

2.7.1 Coagulação
Processo de adição de um coagulante, geralmente sulfato de alumínio ou sulfato ferroso, com a
finalidade de transformar desestabilizar as partículas de impurezas presentes na água, permitindo
que posteriormente elas se aglutinem, formando flocos passíveis de serem removidos com maior
facilidade e rapidez pelos processos subseqüentes. Para efetivação deste processo são adotadas
unidades de mistura rápida do tipo hidráulico ou do tipo mecânico. A adição e dispersão do
coagulante à água exigem um tempo de mistura muito pequeno, da ordem de 1 a 20 s e uma
elevada intensidade de mistura.

Fig. 2.2 - Misturador rápido hidráulico – calha Parshall

29
2.7.1 Floculação
Processo onde se dá o contato entre as partículas já desestabilizadas na etapa anterior, permitindo
a sua agregação e conseqüente formação dos flocos. Esta parte deve ser bem conduzida, pois é
da boa formação dos flocos, que devem ser do tamanho de uma cabeça de alfinete, que
dependerá a eficiência e melhores condições de funcionamento das outras fases do tratamento; a
velocidade de escoamento por exemplo, não poderá ser menor que 10 cm/s e nem maior que 30
cm/s, pois no primeiro caso poderá haver deposição do floco e no segundo poderá quebrar o floco
já formado. As unidades de mistura adotadas para promover a floculação são denominadas de
mistura lenta constituídas por sistemas hidráulicos (canais de mistura) como os floculadores de
fluxo horizontal ou vertical ou por sistemas mecânicos como os agitadores de paletas de eixo
vertical ou horizontal. O tempo de mistura lenta é de 20 a 80 minutos e o gradiente de mistura(G)
fica entre 10 a 100 s-1.

Fig 2.3 - Floculador hidráulico de chicanas

2.7.2 Sedimentação ou Decantação


Processo de separação das impurezas sólidas, em forma de flocos, da água pela ação da
gravidade, ou seja, é um processo dinâmico de separação das partículas suspensas na água e sua
deposição no fundo dos tanques ou bacias de sedimentação (decantadores). Estes tanques
podem ser do tipo convencional ou de baixa taxa ou de alta taxa com escoamento laminar. O
decantador convencional (tanque de forma geralmente retangular de fluxo horizontal) é o tipo mais
adotado. Nestes tanques o tempo de passagem do fluxo de água é de 2 a 3 horas.

30
Fig. 2.4 - Decantador convencional

2.7.3 Filtração
Processo de passagem da água por um meio granular (geralmente areia), com o objetivo de
reter as partículas residuais, que não foram removidas na fase anterior de sedimentação,
normalmente é utilizado após a coagulação-sedimentação. Os filtros podem ser lentos (adução
direta da água bruta) ou rápidos (após coagulo-floculação e sedimentação), de camada simples
(areia) ou dupla (areia + antracito), de fluxo descendente (por gravidade) ou ascendente.

Fig 2.5 - Filtro rápido

31
2.7.4 Desinfecção
Processo que emprega agente físico ou químico (desinfectante) com a finalidade de eliminar
organismos patogênicos que possam transmitir doenças através da água. No Brasil o agente
desinfectante mais empregado é o cloro, quer seja na forma gasosa (cloro gasoso), granular
(hipoclorito de cálcio) ou líquida (hipoclorito de sódio). Sua importância está diretamente ligada ao
combate das infecções hídricas.

2.7.5 Fluoretação
Etapa adicional que se integra ao tratamento após o processo convencional. Consiste na
aplicação de flúor na água já tratada e tem função de combater a incidência de cárie dentária,
principalmente entre crianças e adolescentes. A concentração eficaz e ideal está em torno de 1,0
mg/L, não produzindo efeito em concentrações baixas enquanto que concentrações altas podem
causar problemas físicos como fluorose dentária e complicações ósseas.
Em uma ETA convencional o processo de coagulação com mistura rápida leva em torno de 1
minuto, enquanto a floculação com mistura lenta leva em torno de 30 a 40 minutos, a sedimentação
gira em torno de 1 a 4 horas e a filtração 20 minutos. Todo o processo, juntamente com correções
de pH, fluoretação, etc. leva de 3 a 5 horas. Na figura abaixo é mostrada a seqüência do tratamento
convencional.

Fig 2.7 - Seqüência do tratamento clássico ou convencional

2.7.6 Tratamentos complementares


Além dos processos básicos descritos acima, existem tratamentos complementares e
avançados para correção ou redução de acidez, alcalinidade, sabor e odor, que podem ser

32
adotados pelas ETA´s de forma sistemática ou eventual, dependendo das características da água
bruta e sua adequação aos padrões de potabilidade e exigências do consumidor.
De uma forma ampla, os principais processos de tratamento, com os respectivos objetivos, são
apresentados no quadro a seguir:

Processos de tratamento de água


Processos Objetivos
Clarificação Remoção de turbidez, microrganismos e alguns
metais pesados
Desinfecção Remoção de microrganismos patogênicos
Fluoretação Prevenção à carie dentária
Controle de corrosão e incrustação Acondicionar a água, de tal maneira a evitar efeitos
corrosivos ou incrustantes
Abrandamento Redução da dureza
Adsorção Remoção de contaminantes orgânicos e inorgânicos,
controle de sabor e odor
Aeração Remoção de Fe e Mn
Membranas Remoção de contaminantes orgânicos e inorgânicos
Troca iônica Remoção de contaminantes inorgânicos

Entre os métodos de tratamento adotados a nível domiciliar, citam-se: a fervura, a


sedimentação simples, a filtração lenta e a desinfecção.

2.8 Qualidade da água tratada


A qualidade da água produzida em uma ETA deve ser acompanhada ao longo de cada
processo do tratamento. Desde a entrada da água bruta até a saída para os reservatórios e
distribuição devem ser realizados exames físicos, químicos e bacteriológicos que permitam
atestar a eficiência operacional das unidades de tratamento. Antes da filtração e após as
etapas de coagulação, floculação e sedimentação, a turbidez já deverá estar reduzida em 90%
do seu valor bruto, porém somente o processo de desinfecção dará garantia de distribuição de
água não sujeita a transmissão de doenças.
A água distribuída pelos sistemas públicos de abastecimento deverá atender aos padrões
de potabilidade vigentes, expressos atualmente na Portaria 518 de 25/03/2004 do Ministério da
Saúde, que estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância
da qualidade da água para consumo humano.

33
34
35

Вам также может понравиться