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ENREDO DE MENINO DE ENGENHO ( capítulo a capítulo)

O romance, narrado em primeira pessoa, apresenta uma estrutura memorialista, em quarenta capítulos. O tempo flui
cronologicamente: o narrador (Carlinhos) tem quatro anos quando a narrativa começa e doze, quando termina o livro.

1) A mãe do narrador (Clarisse) está morta, assassinada pelo pai no quarto de dormir. Por quê? Ninguém sabia compreender . O
menino, apesar de pequeno, sente o impacto da morte da mãe e a solidão que esta lhe deixa. Então comecei a chorar baixinho para
os travesseiros, um choro abafado de quem tivesse medo de chorar .

2) O pai é levado para o presídio. Era uma pessoa nervosa, um temperamento excitado, para quem a vida só tivera o seu lado
amargo . Num momento de desequilíbrio, matara a esposa com quem sempre discutia. O narrador o recorda com saudade e ternura.
O meu pobre pai, dez anos depois, morria na casa de saúde, liquidado por uma paralisia cerebral .

3) O narrador lembra, com ternura e carinho, a mãe tão precocemente ceifada pelo destino. Recorda as suas carícias, a sua bondade,
a sua brandura. Os criados amavam-na . Era filha de senhor de engenho, mas falava para todos com um tom de voz de quem
pedisse um favor .

A morte de minha mãe me encheu a vida inteira de uma melancolia desesperada. Por que teria sido com ela tão injusto o destino,
injusto com uma criatura em que tudo era tão puro? Esta força arbitrária do destino ia fazer de mim um menino meio cético, meio
atormentado de visões ruins .

4) Um mundo novo espera o narrador. Três dias depois da tragédia, levaram-me para o engenho do meu avô materno. Eu ia ficar
ali morando com ele . Conduzido pelo tio Juca, que viera buscá-lo, encanta-se com tudo que vê: tudo é novidade naquele mundo
novo. A imagem que sempre fizera do engenho era a de um conto de fadas, de um reino fabuloso . À primeira vista, a realidade ia
comprovando a fantasia.

No engenho, é levado para receber a bênção do avô e da preta velha Tia Galdina e ganha uma nova mãe a tia Maria. No dia
seguinte, com o mergulho nas águas frias do poço, o narrador está batizado para a nova vida que vai começar.

5) Aos poucos, o narrador adapta-se ao mundo novo que se abre a sua volta. Levam-no para ver o engenho e ele fica deslumbrado
com o seu mecanismo. Tio Juca vai-lhe explicando todos os detalhes:

- É aqui onde se cozinha o açúcar. Vamos agora para a casa de purgar

6) Os primos chegam para passar as férias na fazenda e o narrador se solta de vez já estava senhor de minha vida nova ;
passeios, banhos proibidos, brincadeiras, sol o dia todo e as recomendações de Tia Maria:

- Você está um negro. Chegou tão alvo, e nem parece gente branca.

7) Ao lado da fada boa e terna que era tia Maria, vivia no engenho uma velha de nome Sinhazinha que tomava conta da casa do
meu avô com um despotismo sem entranhas . Esta velha seria o tormento da minha meninice . Todos a temiam e fugiam dela.
As negras odiavam-na. Os meus primos corriam dela como de um castigo .

8) Este é o capítulo da prima Lili magrinha e branca ; parecia mais de cera, de tão pálida. Tinha a minha idade e uns olhos
azuis e uns cabelos louros até o pescoço . Na verdade a prima Lili parecia mais um anjo do que gente .

- Esta menina não se cria, diziam as negras .

E tal sucedeu com a pobrezinha: um dia, amanheceu vomitando preto e morreu, para desconsolo do narrador, que se afeiçoara a ela
como uma irmã.

9) Com a morte de Lili, o desvelo e os cuidados de tia Maria com o narrador se acentuam. Era tempo das primeiras letras, mas nada
entra na sua cabeça, pois só pensava na liberdade nas patuscadas no mundo lá fora.

- Nunca vi um menino tão rude, dizia asperamente a velha Sinhazinha.

No mesmo capítulo, uma recordação do flagelo das secas: as rolas (aves) de arribação. Chegavam em bando e a distração de Carlos
e do primo era matá-las a porretada na beira do rio, onde paravam cansadas para beber água depois de longa viagem.

10) O cangaceiro Antônio Silvino faz uma visita de cortesia ao engenho Santa Rosa. Há uma grande expectativa, sobretudo por
parte dos meninos. O famoso cangaceiro chega e é recebido pelo senhor de engenho. A partir daí, entretanto, o narrador demonstra o
seu desencanto: Para mim tinha perdido um bocado de prestígio. Eu fazia outro, arrogante e impetuoso, e aquela fala bamba
viera desmanchar em mim a figura de herói . É que o mito se tornou real, descendo do seu pedestal.
11) Organiza-se um passeio ao sítio do Seu Lucindo, nas proximidades do engenho. No caminho, gente que voltava da feira com
seus quilos de carne. A caravana chega ao sítio e são recebidos com a boa hospitabilidade sertaneja.

À tardinha, voltam para casa, quando os moleques começam a falar de mal-assombrados.

12) O narrador leva a sua primeira surra pelas mãos da velha Sinhazinha. Ficou desolado o dia todo, e à noite, foi dormir pensando
na vingança: Queria vê-la despedaçada entre dois cavalos como a madrasta da História de Trancoso.

13) A cheia do Paraíba chegou devastadora, matando gente e animais, destruindo plantações e casas. A gente do engenho refugia-se
na casa do velho Amâncio, fugido da fúria das águas. A enchente tinha sido arrasadora e as águas chegaram a penetrar na casa
grande. Os prejuízos eram enormes.

- O Coronel este ano não fez duzentos pães de açúcar, dizia o carreiro. Só ficou com cana pra semente .

14) As primeiras letras, enfim, vieram com a bela Judite, mulher do Dr. Figueiredo. Com ela, começam a surgir os primeiros
lampejos do amor. Sonhava com ela de noite, e não gostava dos domingos porque ia ficar longe de seus beijos e abraços .

Depois mandaram-no para uma escolha onde tinha todas as regalias, em meio da miséria geral, por ser o neto do Coronel Zé
Paulino .

15) Paralelamente às letras, começa a iniciação sexual, apesar da pouca idade. Com Zé Guedes, moleque que o levava e buscava na
escola, aprendeu muita coisa ruim . Com o primo Silvino e outros andou fazendo muita porcaria com as cabras e vacas da
fazenda.

- Hoje vamos fazer porcaria no curral, dizia o Silvino .

16) Nas visitas incertas do Coronel José Paulino à sua propriedade, está patente todo o seu poder de senhor de engenho, de patriarca
absoluto daquelas terras. O velho José Paulino gostava, de percorrer a sua propriedade, de andá-la canto por canto, entrar pelas
suas matas, olhar as suas nascentes, saber das precisões do seu povo, dar os seus gritos de chefe, ouvir queixas e implantar a
ordem .

17) A religião no engenho se restringia aos limites do quarto de santos com suas estampas e imagens. O Coronel Zé Paulino não era
um devoto, e mesmo a tia Maria, sempre preocupada com rezas e orações, não era de frequentar igreja e comungar. Na semana
santa, especialmente na Sexta-Feira da Paixão, havia um recolhimento natural em obediência à tradição.

18) neste capítulo, o cabra Chico Pereira está amarrado ao tronco para receber a punição pelo malfeito: A vítima, a mulata Maria
Pia, jogara-lhe a culpa, e o senhor patriarcal, inflexível, ordenara que o moleque assumisse.

- Morro aqui, e não caso. Aquela desgraçada me paga. O Coronel pode me picar de facão.

Convidada a jurar sobre o livro sagrado, a mulata confessa.

- Juro que foi o Dr. Juca quem me fez mal . O culpado era o próprio filho do Coronel.

19) Uma traquinagem de criança e um ato de heroísmo eis a síntese deste capítulo. O primo Silvino, querendo provocar um
desastre, coloca uma pedra enorme na linha de trem para vê-lo tombar. O narrador imagina a cena terrível com gente morta e ferida
e, num gesto heróico, atira-se diante do trem e rola a pedra dos trilhos.

20) Pelo engenho, corria o boato de que um lobisomem estava aparecendo na Mata do Rolo. Diziam que ele comia fígado de
menino e que tomava banho com sangue de criança de peito . Seria José Cutia?

Além do lobisomem, outros duendes da superstição popular povoaram a infância do narrador: o zumbi, as caiporas, as burras-de-
padre etc. Um mundo inteiro de duendes em carne e osso vivia para mim .

21) A velha Totonha com suas histórias fabulosas encantam o narrador. Quando passava pelo engenho era um festa. Suas histórias,
sempre de reis e rainhas comoviam. Ela sabia como ninguém contar uma história. Mas o que fazia a velha Totonha mais curiosa
era a cor local que ela punha nos seus descritivos (...) Os rios e as florestas por onde andavam os seus personagens se pareciam
muito com o Paraíba e a Mata do Rolo. O seu Barba Azul era um senhor de engenho de Pernambuco .

22) A senzala do Santa Rosa não desaparecera com a abolição. Ela continuava pregada à casa-grande, com suas negras parindo,
as boas amas-de-leite e os bons cabras do eito e as boas cabras do cifo . Apesar de terem sido alforriados, muitos ficaram no
engenho. Aí estava a velha Galdina, doente e alquebrada, Generosa, que mandava na cozinha da casa-grande e a demoníaca Maria
Gorda.
23) Tal como um monarca, o senhor de engenho, sentado no seu trono, ia ouvindo as queixas e pedidos dos seus súditos.
Chegavam sempre de chapéu na mão com um Deus guarde a Vossa Senhoria. Queriam terras para botar roçados, lugar para
fazer casas, remédio para os meninos, carta para deixar gente no hospital. Alguns vinham fazer queixa dos vizinhos .

24) Mais um passeio. Agora é ao engenho do Oiteiro. Saem cedo e vão de carro-de-boi. Destaca-se aqui a habilidade do carreiro
Miguel Targino na condução dos bois. Por onde passa, a comitiva é recebida com festejos e cortesia. Destaca-se em cada lugar a
hospitalidade e gentileza do povo simples e humilde. Tia Maria, a senhora do Santa Rosa, retribui a tudo com simpatia.

25) Este capítulo é o retrato de um menino triste e solitário que cultivava o hábito de aprisionar canários: o narrador. A morte trágica
da mãe o marcou profundamente e, apesar das brincadeiras e traquinagens com os moleques, era um menino melancólico que
buscava sempre a solidão.

26) Aqui entram mais contadores de histórias os mestres de ofício dos quais o narrador se tornou amigo. É através deles que ele
fica conhecendo o Capitão Quincas Vieira, irmão mais novo do Coronel Zé Paulino, que morreu brigando. O irmão mais moço do
meu avô passava para a galeria dos meus heróis .

27) Um antigo sonho do narrador se realiza: ganhou um lindo Carneiro para montaria. Chamava-se Jasmim. Entretinha-se com ele
boa parte do tempo e, com isso, os canários ganharam a liberdade. Nos seus passeios com Jasmim, na solidão do entardecer, a
melancolia de sempre, arrastava-me aos pensamentos de melancólico .

28) Da história triste do Santa Fé e seu senhor decadente O Coronel Lula de Holanda, surgiu um dos grandes romances de José
Lins: Fogo Morto. O Santa Fé é um engenho em decadência, símbolo de um mundo que está prestes a ruir. Em vão, o Coronel Lula
tenta manter a fachada com seu cabriolé. Um pouco mais e o Santa Fé estará de fogo morto.

29) A doença tira a liberdade do narrador por um bom espaço de tempo. Era o puxado, uma moléstia horrível que me deixava sem
fôlego, com o peito chiando, como se houvesse pintos sofrendo dentro de mim . Amargou, por causa do puxado, muitos dias de
solidão e de cama.

30) O narrador penetra no quarto do tio Juca e na sua intimidade: uma coleção de mulheres nuas, de postais em todas as posições
da obscenidade . O tio ao surpreendê-lo, fica muito bravo. Aquilo não era coisa pra menino.

31) A descrição de um incêndio de largas proporções faz brotar de todos os cantos a solidariedade do sertanejo. Mais uma vez
sobressai aqui a figura do avô, com sua autoridade e com seus gritos de ordem para conter o fogo que ia devastando o canavial.

32) Um exército de homens miseráveis e esfarrapados trabalham no eito: estavam na limpa do partido da várzea . Às vezes eu
ficava por lá, entretido com o bate-boca dos cabras . Muitos desfilam pelo capítulo uns com suas virtudes, outros com seus
defeitos. Em todos, um ponto comum: a vida de servidão, a miséria, a degradação.

33) Após a ceia, o Coronel Zé Paulino gostava de contar seus casos de escravos a senhores de engenho, antes e depois da abolição.
As ruindades do Major Ursulino com os negros sempre se destacam nas suas histórias. Gostava também de relembrar a visita de
Dom Pedro ao Pilar e tinha grande orgulho de sua casta branca e nobre.

35) O amor desperta forte no coração do narrador que possuía então cerca de oito anos. Era Maria Clara, uma prima civilizada do
Recife, que estava ali com a família para passar férias. A paixão é violenta: os passeios, o beijo, as lágrimas da partida e a decepção:
a prima parte sem demonstrar nenhuma tristeza.

35) A loucura solitária e miserável do pai remete o narrador a doentes e a maus presságios que o deprimem. Teme que a doença do
pai seja hereditária. O seu puxado atormenta-o e os cuidados o aprisionam: a minha vida ia ficando como a dos meus canários
prisioneiros .

Por outro lado, a sexualidade precoce encontra na negra Luísa uma comparsa das minhas depravações antecipadas ; Só pensava
nos meus retiros lúbricos com o meu anjo mau, nas masturbações gostosas com a negra Luísa.

36) O casamento da tia Maria foi digno da opulência e grandeza do senhor de Engenho do Santa Rosa. Atraiu gente de toda a
redondeza e do Recife. É com tristeza que tudo é descrito pelo narrador que perde a sua segunda mãe: E pela estrada molhada das
chuvas de fim de junho, lá se fora a segunda mãe que eu perdia . Até mesmo o Jasmim, o carneiro montaria, fora-se nessa,
servindo de almoço e jantar, juntamente com outros, aos inúmeros convidados.

37) - Você, no mês que entra, vai para o colégio . Arranjavam-se os preparativos, e, com o casamento de tia Maria, vivia a
desejar o dia da minha partida. Já estava grandinho (cerca de doze anos) e não sabia quase nada. Sabia ruindades, puxava demais
pelo meu sexo, era um menino prodígio da porcaria .

Lá fora, a chuva caía fazendo crescer as plantações: os pés de milho crescendo, a cana acamando na várzea, o gado gordo e as
vacas parindo .

38) Uma briga entre dois negros se encerra com a morte de um deles que deixou mulher e cinco filhos órfãos. Levam preso o
assassino, mas a alma do morto continuou pairando pelo engenho sob a forma de assombração.
39) Tinha uns doze anos quando conheci uma mulher, como homem . E, com ela, apanhou doença-do-mundo a qual ia operando
nele uma transformação: o menino de calça curta ia ficando na curva do tempo e dali, precocemente, ia brotando um rapazinho de
sexualidade exacerbada. Recorriam ao colégio como a uma casa de correção :

- Lá ele endireita .

40) Enfim chega a época de o depravado menino ir para o colégio. Uma outra vida ia começar para mim. - Colégio amansa
menino .

Tudo ia ficando para trás com o trem em movimento. Todo esse movimento me vencia a saudade dos meus campos, dos meus
pastos .

Carlinhos levava para o colégio um corpo sacudido pelas paixões de homem feito e uma alma mais velha do que o corpo . Era o
oposto de Sérgio, em O Ateneu, que entrava no internato de cabelos grandes e com uma alma de anjo cheirando a virgindade.

ESTILO DE ÉPOCA/LINGUAGEM

A construção de Menino de Engenho apresenta muitos aspectos do estilo de época modernista.

1) Como se pôde ver pelo enredo apresentado, o romance se apóia na cultura brasileira. Aí está um engenho-de-açúcar típico do
Nordeste que constitui o microcosmo da construção do romance. Em torno dele giram costumes, crendices, superstições que
refletem bem a nossa cultura.

Esse nacionalismo , essa atmosfera bem brasileira é, como se sabe, própria do modernismo.

2) Pode-se vislumbrar no romance uma certa postura engajada, embora predomine no livro a idéia de evocação de uma infância
marcada pela magia e o encanto da vida no engenho Santa Rosa. Não obstante, o autor expõe a miséria degradante em que vivia o
povo e mesmo, em alguns momentos, o mandonismo e a prepotência do Coronel Zé Paulino. É visível no romance a separação em
castas, em que negros e trabalhadores vivem num regime de escravidão.

3) O folclore nordestino está bem representado pela velha Totonha com suas histórias fabulosas e mesmo com o cangaceiro Antônio
Silvino e seu bando. Nele fala alto a alma brasileira com sua maneira de ser e suas peculiaridades. Curioso observar que o estilo do
autor reflete bem a espontaneidade desses contadores nordestinos.

4) A linguagem, perpassada de termos regionais, retrata bem a realidade do mundo enfocado e evocado pelo autor. Como é comum
no Modernismo, são freqüentes termos e construções próprios da linguagem oral:

- Sai daí, menino severgonho. Vou dizer ao Coronel.

Me deixou em cima da cama com a barriga rachando, e danou-se

Ela botou pra cima de mim os estragos que os outros fez .

Entra pra dentro, Carlinhos .

Entretanto, não há abuso no registro dessas construções deturpadas da língua oral. Quanto aos regionalismos, são tantos, que o autor
chegou a organizar um glossário que costuma acompanhar o romance.

Por outro lado, o processo narrativo de José Lins, marcado pela espontaneidade, reproduz bem a oralidade dos contadores e
cantadores populares do folclore nordestino, como a velha Totonha. Daí, a quase total escassez de diálogo no romance.

PERSONAGENS

As personagens já ficaram apresentadas ao longo do enredo. Aqui, entretanto, segue uma síntese de suas características:

1) Carlinhos. É o narrador do romance. Órfão aos quatro anos, tornou-se um menino melancólico, solitário e bastante introspectivo.
De sexualidade exacerbada, mantém, aos doze anos, a sua primeira relação sexual, contraindo doença-do-mundo - a popular
gonorréia.

2) Coronel Zé Paulino. É o todo-poderoso senhor de engenho o patriarca absoluto da região. Era uma espécie de prefeito -
administrava pessoalmente, dando ordens e fazendo a justiça que ditava a sua consciência de homem bom e generoso.

3) Tia Maria. Irmã da mãe de Carlinhos (Clarisse), torna-se para este a sua segunda mãe. Querida e estimada por todos pela sua
bondade e simpatia, era chamada carinhosamente de Maria Menina.

4) Velha Totonha. É uma senhora que, de tempos em tempos, passa pelo engenho contando histórias para as crianças, sempre
adaptando os enredos à cor locar. Representa bem o folclore ambulante dos contadores de histórias.
5) Antônio Silvino. Representa o cangaceiro sempre temido e respeitado pelo povo, em virtude de seu senso de justiça, tirando dos
ricos e protegendo os fracos. Compõe bem a paisagem nordestina.

6) Tio Juca. Não chega a representar um papel de destaque no romance. Por ser filho do senhor de engenho, fazia e desfazia
(sobretudo sexo com as mulatas), mas não era punido. De certa forma, representa o papel de pai de Carlinhos.

7) Lula de Holanda. Embora ocupe pouco espaço, o Coronel Lula é uma personagem relevante, pois representa o senhor de
engenho decadente que teima em manter a fachada aristocrática.

8) Sinhazinha. Embora não fosse a dona da casa (era cunhada do Coronel), mandava e desmandava no governo da casa-grande. Era
odiada por todos por seu rigor e carranquice, e pode ser identificada com as madrastas ruins dos contos populares.

9) Negras. Restos do tempo de escravidão, destacam-se a negra Generosa, dona da cozinha, a vovó Galdina, que vivia entrevada
numa cama.

PROBLEMÁTICA APRESENTADA

Como sugere o título, Menino de engenho pode ser analisado de duas perspectivas: a realidade do mundo rural do engenho e a
educação, nesse contexto, do menino de engenho. Aliás, essa era a intenção expressa do autor. José Lins desejava, como ele mesmo
confessou, traçar a biografia de seu avô, o velho José Lins, que era para ele o tipo representativo do senhor de engenho,
expressão legítima do patriarcalismo rural da região açucareira do Nordeste .

Por outro lado, no prefácio do romance Usina, a propósito dos livros do ciclo da cana-de-açúcar, o romancista declarou: Comecei
querendo apenas escrever umas memórias que fossem as de todos os meninos criados nas casas-grandes dos engenhos
nordestinos .

Assim, destacam-se aqui esses dois aspectos básicos da obra.

1) O engenho, na sua estrutura sócio-econômica, envolve todo um mundo social que gira ao seu redor: as mais diversas castas estão
aí representadas, desde o senhor de engenho até o moleque da bagaceira.

Sua estrutura econômica centra-se evidentemente na figura do senhor de engenho que exerce, nos seus domínios, uma autoridade
absoluta e avassaladora. Ali ele é o patriarca que assoma como senhor absoluto de gente e de coisas. Ao seu redor gira toda uma
população a desempenhar o papel de uma vassalagem que cheira a escravidão. A todos o senhor de engenho, a um tempo, ordena e
protege. Eis alguns trechos sobre o Coronel Zé Paulino - protótipo dessa realidade abrangente:

Herdara o Santa Rosa pequeno, e fizera dele um reino, rompendo os seus limites pela compra de propriedades anexas .

Tinha para mais de quatro mil almas debaixo de sua proteção. Senhor feudal ele foi, mas os seus párias não traziam a servidão
como um ultraje .

O mundo evocado em Menino de engenho, pois, é o latifúndio do engenho de açúcar em todo o seu esplendor e opulência. Em torno
dele, evidentemente, gira todo um mundo social, quase sempre de penúria e miséria, representado por trabalhadores do eito,
moleques da bagaceira, negros das moendas, negras da cozinha o das senzalas e até mesmo pela prostituição.

2) Dentro desse contexto agrário-rural, o menino de engenho cresce solto, na ampla liberdade do latifúndio. Não existe na casa
grande uma preocupação em pôr limites, e a criança vai crescendo livremente, à solta, sem nenhum policiamento e sem os freios até
mesmo da religião, praticamente inexistente no mundo do engenho.

Dessa forma, Carlinhos tem precocemente a sua sexualidade exacerbada pois vivia em contato direto com o mundo de porcarias ,
à solta com os moleques depravados da bagaceira, a ver livremente o sexo do gado no curral da fazenda. As masturbações
precoces são inevitáveis, e o sexo, estimulado pela negra Luísa, que se torna para ele uma verdadeira professora de iniciação sexual,
aflora em toda sua intensidade. Precocemente, aos doze anos de idade, o menino de engenho conhece a sua primeira mulher e
contrai doença-do-mundo a gonorréia. Esse fato, contudo, não o deprecia ou humilha; ao contrário, a gonorréia era, no mundo
do engenho, uma espécie de atestado de virilidade adiantada.

Assim, libertino e depravado, ele vai para a escola. Lá certamente ele endireitaria , pois esta é vista como uma casa de
correção :

- Colégio amansa menino

O período de colégio interno e todas as agruras vividas por Carlos de Melo são narradas na obra Doidinho.
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