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» (OLIVRO DE sKO CIPRIANO ‘Selomanis que ests probido em todos os Catslogo da Inquisio, eos mégicos Fingem que o esreveu Salomdo. No Maller Maeficarum, o inguisitor diz que ot nigrominticos usam um vr que chamam de Salomio escrito em lingua arabic, {que oachou Virgo numa cadets de montes da Abia” Atesta-se que 0 lio circulou com forca no século XVI e que continha certas figuras ¢ oragSes que deviam ser recitadas nos se- te primeiros dias de Iua nova, a0 apontar o sol pela manhi, e que © homem, observando estes rituais, se acharia, de stbito, cheio de ALEGENDA A historia do pacto vem de muito longe, jé esté no Livro de J6 da Biblia, em toda a tradigao de textos em que se afrontam 0 bem e 0 mal. A magia se prende a antecedentes possivcs, as hist6rias de Sdo Pedro, aos relatos sobre Simao, o Mago, ea toda uma tendéncia de recuperagio do mitolbgico, dos segredos do ‘mundo pagio, de tudo aquilo que se foi conservando, para sobre- viver & hegemonia do eristianismo, que se tornara a religiéo ofi- cial, ‘Sabemos de inémeras lendas, desde os primeiros tempos do cristianismo, que tratam da alianca do homem com o diabo, sen- do que a de Simio, o Mago", proveniente dos tempos mais anti- gos do assentamento do cristianismo, ¢ que entrow nos livros candnicos do Novo Testamento, € uma das mais difundidas. Simo, 0 Mago, converte-se a0 cristianismo a partir da pregacio de Filipe mas € amaldigoado por Sdo Pedro, por questées de di- aheiro, Capaz de fazer ressuscitar mortos, entrar no fogo sem se queimar, arrancar correntes, mudar sua imagem, ficar invistvel ¢ voar pelo ar. Sio muitas as peripécias daquele que em Roma, na presenga do Imperador Nero, com o atudlio do diabo, tentou ‘oar, segundo se conta, pulando de uma torre alta mas, pelas pa- lavras atribufdas ao Apéstolo Pedro, desabou no chio e se esface- lou, Conduzia sempre consigo uma certa mulher e a fazia passar por Helena de Tréia ou Celene, afirmando que ela era a mate- rializagéo feminina da substdncia universal, 41, Trace da Histéria da Lenda do Fouso de V. Jirmuneki, Leningrad, 1972, indispensivel a estes estuds,e bate preliminar desta peasuisa, Come no xs tradugdo para o portugues, o texto que segui foi sendo treduzido por Bort Sehnaiderman na ocasiso. 42. Ver 0 Nascimento de Helena (Die Geburt der Helena), um extudo do mitélogo Kal Keréni,Zurige, Rhein Veriag, 1945 0 “COMPOSTO” SAO CIPRIANO a E apresentado, na tradi¢ao apécrifa, como mestre doutrina- dor de seitas gnésticas, que tenta compatibilizar cristianismo € paganismo, por meio de uma interpretacéo alegérica de mitos an- tigos e cristios®, : Consta dos Atas Apéerifos dos Apéstolos a disputa entre Pe- dro e Simao ¢ também seqiéacias das chamadas “Clementinas”, romance cristio do século If que descreve, segundo o modelo do romance grego de aventuras, a vida de So Clemente, padre ro- mano ¢, conforme a legenda eclesiéstica, discfpulo ¢ continuador da obra de Sio Pedro. autor das “Clementinas™ se compraz em detalhar 0 es- petéculo que oferecem os diversos episédios dessa luta tenaz que mantém, uns contra outros, sofistas pagos € apéstolos cristios. Nos Atos dos Apéstolos se narra, com gosto, 0 epis6dio de Simao, o Mago: Havin porém nella um homem, por nome Simo, © qual antes tinhe all cexercitado # mig, enganando 40 povo Samariano, dizendo que elle em um |gande homem (..) Elles o stendiam porque com as suas artes mdgicas por muito tempo of havia dementado. Porém depois que creram que 0 que Philippe Ines ‘anuncava era do reino de Deus, ams baptzando homens e mulheres em nome 4e Jesus Cristo. Bato crev 0 mesmo Simfo, ¢ depois que foi baptzado, andava Unido Philippe (a converte) Falando-se destas seitas gnésticast, aponta-se sempre o ero- tismo mitico presente nas est6rias de Simo, o Mago, o mais anti- go dos gn6sticos e como ingrediente indispensével na est6ria que se faz seguir, no enamoramento de Cipriano (futuro santo), por Tustina (donzela imbativel), herdis de nossa legend. Estio jf aqui elementos importantes para o acompanbamen- to do tema de Sao Cipriano, a conversio, as ligagdes com o diabo, a forca do elemento feminino, a nota sempre erotizada dessas re- lagées. interessante € observar o modo pelo qual estes componen- tes lendétios, pagios, cristios, gnésticos, vio sendo resgatados aqui e ali pela meméria popular, devolvidos & tradigio escrita ¢ 48. Continuando com as informagSes de Jiemunsi 44, Ver o trabalho de Alesis Cpassng, Historia de la Novela; ver ainda Es ‘nkigue et Thorie ds Roman de Mikal Bakdtine, Pari, Gallimard, 1978. (1S uma edigio brasileira pela Hite, 1989.) 45. O episédio integral exh na Bil Sagrada, trad, do Padre Antoni Fi sutiedo,Lisoa, 1855, p 155, Cap. VU. 46, Ver Le miroir dela mage de Kurt Seligman, Pais, Gallimard, 1961 o ® OLIVRO DE skO CIPRIANO culta, ¢ ressurgem penetrando os mais diversos pedacos, num te- ‘ido urdido de tal modo que chega a assustar. Nos folhetos popu. {ares brasileiros, nas estorias e contos, eles aparecem de repeate, ¢ entio o inexplicado se explica®. Surge a “Bela Helena”, por exemplo, na antiga cpoptia do Gilgamesh, nos contos populares ‘em que passa a lenda do passaro de fogo, a exemplo da Historia do Cavalinko Corcunda, como surgiria nas muitas dramatizagses do Fausto, chegando 4 apoteose do segundo Fausto de Goethe. HH sempre uma razio mitica que encoatra lugar na razdo social, tragos de meméria que terminam achando 0 espaco certo nas €st6rias que se contam, nos textos populares/cultos que se criam, Ligam-se a este universo alguns textos que vio formar uma espécie de lastro, onde as coisas se assentam, sustentagio sub- terrinea em que se finca este conjunto mitico-narrativo, Confit. ma Le Goff a evidéncia da circulagio clandestina dos apécrifos Por diversos canais © sobretudo do Apocalipse de Pedro. firme. mente fundado sobre uma visio dualista, que se compraz no lado infernal. Esta visio se encontra nos antigos textos cristaos que ele influenciou, como o De laude Manyri (O Louvor do Mantrio) que {0 atributdo a Sao Cipriano. © Apocalipse de Pedro, por exemplo, & um texto que se atribui a Sdo Pedro, revelador de verdades ocultas e visses, de. senrolando-se a narrativa em torno do tema escatolégico. Os formentos do inferno so mostrados com muitos detalhes, com a indicagdo do suplicio dos homens ¢ das mulheres que abandonam 8 vida de Deus. A redacio etiope se inicia com um percurso apo. saliptico de Jesus, que mostra a Pedro as cenas finais da ressur. reigdo dos mortos, do jutzo, das catdstrofes césmicas, da sepa. ragio dos justos, do mais. Depois, e com grande intensidade, Tepresentam-se 05 tormentos infernais em seu conjunto, Segundo 0s exegetas, o patronato de Pedro se configura tipicamente como: sendo do cristianismo judew-sirfaco, Passamos a saber também da forca do Apocalipse de Paulo, ‘em que 0 santo visita a scdc dos condenados e vé of seus tormen {0s infintos, reconhecendo entre os pecadores bispos, diéconos, Prevaricadores © hereges. Encontra a Virgem Maria cercada de ‘Ver refertocas 2 Beta Helena” no estudo de Ordep Serr, Gilgamesh, Fundagto Cultural do Estado da Bahia, 1985, pp. 148-149. 4, indspensive estudo de Jcquet le Got, La Naissance du Pura eB ed, Rio, 6/,p. 165. 2. Ver “Apocaia Cristiane, Apocrife", Enciclopedia dle Religion oI BR $1926, “Apocais di Peto", pp. S0BSI0, “Apocalsi di Paul” pp siosi, (0*COMPOSTO” SAO CIPRIANO s anjos. Este texto terd influido muito sobre as lteraturas “cultas” e populares, a excmplo da mengio da viagem de Paulo ao Tnferno, na Divina Comédia. ‘Aproveito aqui para abrir um paréntese, pela necessidade de situar 0 conceito de apécrfo. Entende-se, em geral, por apécrifo uma obra ou fato sem autenticidade de autoria ou cuja autes dade nfo se aprovou Em definigfescomrente sgific também aquilo que ¢ oculto, escondido, encoberto, restrto a consciéncia de alguns. Entre os catslicos o nome designa os escritos de assun- to sagrado, ndo incluidos pela Igreja no cénone das escrituras auténticas. Podem ser também obras de literatura lendéria reli giosanio assumida pela Igreja. Na époce pré-rist nos prime tes tempos do etieniamo ea chamads tober age Ce ificado oculto, acessivel apenas aos eleitos, a de A pig esos t detain deer como sion nicos, ncivos ou falsos liga-se luta da Igreja contra as correntes, de oposigio dentro do cristianismo; assim as chamadas heresias, que continham com freqiiéncia idéias sociais avancadas. Encon- tra-se que nos concfios universais do século XIV foram estabele- cidos livros candnicos ¢ néo-candnicos ea primeira relagéo dos li- vos recusados teria sido composta em Bizancio no século V. Na base dos apécrifos crstdos estariam lendas ¢tradigdes de culturas, mais antigas, greco-romana, hebraica e de outros povos orientais. Basicamente, a legenda que nos chegou aponta para o ter- rio apécrifo mas remete para o “martirolégio” e para a tra- digéo narrativa do folelore e do conto popular. Hé uma narrativa, virtual do martirio que emerge e também a aglutinagao de textos, escrtos ¢ de legendas anteriores, que se vio transformando em oralidade © gerando novos textos escritos. Curtius® nos lembra ue, 20 lado dos hinos da Igreja, se foi desenvolvendo o primitivo epos ctistéo biblico, produto artistico de literatos que deve sua origem 20 afi de adaptar a forma do ¢pos pagio aos temas da historia sagrada. No conjunto da literatura crista primitiva®, al- ‘guns fragmentos se teriam perdido e outros se conservado com ie ds Mar 2 Ver “aps or a Courant Enh es chen, esi, 08 1 9 SD" Apoiypen in ryt se for ona Petanva Totem, em pp. 6 SI, Ver aie de Kasei n Enka Lda Sac, Mowos, A Enid Sovin Gv pp. 35258 (rn BS) 52. Lita Furpen) Edad Mata Latina de E.R. Cori, Meso, Fonde de Caters Bono 55,20 3. Vera Littone Cine Pine de yin Pas, Rider Cl, 1262319, TUCCUT To RSP EC NN _L_ Le TT ERE: “ OLIVRO DE sKo CIPRIANO modificagées. O grego cra a lingua em que se construiu esta lite- ratura, assim como teriam sido em grego os primeiros relatos da legenda de Sio Cipriano. Depois, estas est6rias passaram ao la~ tim, compondo-se em novos textos. Esto na Parologia™ algumas referéncias & obra de Sio Cipriano de Antioquia nos termos se~ Buintes: “estas coisas que existem em latim nio sfo tio devidas 30 momento quanto se relacionam ao contexto grego”. Quanto famosa Confissdo, diz-se que 0 texto remete a0 momento grego, sendo no texto latino muita coisa retirada e acrescentada ¢ aber. +ando muitas vezes por falta de sentido, fato ¢ que estamos pisando, desde cedo, o territério da re- criagdo, da tradugio cultural, ¢ assim vai a est6ria se consolidan- do, do sublegttimo a0 permitido, daquilo que o povo conta a0 que contaram os doutores da Igreja ou sobre isso escreveram. Bem interessante € que a est6ria passa também a ser posta na boca do Pr6prio mértir, como documento, servindo para abonar o que de- le se vairelatando, Assim € que vamos encontrar estas narrativas nas Atas dos Mértres e dos Santos da Igreja® cuja edigéo mais corrente € de Antuérpia, 1760, sendo imposstvelfixar a data dos relatos. A trama se faz cada vez mais iresistvel para os martirologis- tas, contando com alguns componentes que sio t6picos usual Ligam-se 4 de Sdo Cipriano as estérias do tipo “velhote-moci. aha", combinagao atraente, sendo considerada uma das “obras- rimas” do género, Creio que uma das razées desse prazer de narrar 6, como se verd adiante, ndo 56 0 jogo entre Deus e 0 bo, pecado e converséo, mas cada lance do préprio martirio, a presenga de outro t6pico, 0 ordalio, em scus detalhes de sacrificio tortura, © fato € que, ao longo dos séculos, deseavolve-se 0 mesmo gosto de contar ¢ a estoria vai sendo repetida por uns e por ou tros, por exegetas, comentaristas, verbetistas, teGricos que nunca se contentam em apenas falar da existéncia do santo. Enquanto vio tentando oferecer os dados fundamentais para provar sua cxistinca, se deixam levar pelo sabor da fabula, pelo faseinio que seria aproveitado com tanto félego pelo drama espanhol, Come- sando em Mira de Améscua com o Escravo do Deménio, 0 tema teria desenvolvimento magistral no Magico Prodigioso de Cal- deron de la Barca, 54, Pavotoga, Curss Conipietus, Paris, 184, I 278, 38. Ver Acta Sanctorum Septembris, Anuerpine, 1750 ‘$6. Ver El Mégico Prodigoso de Calderén del Barca, Obras, Madrid, Rea! (O“CoMPOSTO" sho CIPRIANO ra ‘imy sionante como Cipriano, através de Calderén, nos remste Unamente pra o Fa, ¢ cme alo dem ‘canga af tio grande forca que supera tudo mais em dramaticida- de. A condigao de infeliz (el desdichado), de posto A margem lhe d4a grandeza da fala ¢ das dores: ‘Bu sou, pois sabé-do queres, ‘Um epiogo, um assombro De ventura edesditas ‘Que unas percoe outras chore ©) ‘Aates quero obstinado Sou na magia que alcango 0 registo poderoso Dester obes: ina 8 inka oO VIDA DE S. CYPRIANO” ExTRAfDA DO FLOS SANCTORUM OU VIDA DE TODOS 0S SANTOS as yey celebre Opin) + Cyprian (namin o Felice pare dsingire do etre Cpt # bio de Crag) naces em Anlaci suada ene a Sy Arb per teeta oemo de Peni, Sn tn erode copa oezas, vendo que a natueza © dotara dos talents propos para conciat ae tinal dos homens estore presen das as dranaden frendo-o instr em toda a sienia do saci qu we fereciam aoe oon, de modo aque ninguem, come ce inh Bo profundoconbesiment dx profanaemistros do aro getiiamo. ‘Hage de tts annot fer ele oma vag 4 pat Dayfonia pra spender atl uri¢ mteic macnn do ypeone Chale Esai pve cp de preg om eon tempo ge he concedio para conhecresepir a verdad, sumentou Cyprano sua alicia ¢ 4 tua iigudade, quando se Seu intciramente a0 exo da magica, para conse: thir por meio desta ate, um estreitocomerco com oe demenio praticando 40 ‘Reamo lempo uma vids impure absoltamenteccandalana ‘Academia Espatota, 165, p 178.Os trechostranscritos foram traduidos por J PR. . 57, Estou reprodusindo aqui a narratva de “Vida de Sio Cipriano” a partic 2 edicho portuguesa da Ed, Univeral, ¢ que se fez corrente em muitos livros ra

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