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MICOTOXINAS*
Carlos Augusto Mallmann1; Paulo Dilkin2; Leandro Zanini Giacomini3; Ricardo Hummes Rauber4.
* Trabalho publicado nos anais da Conferência APINCO de Ciência e Tecnologia Avícolas 2006, p. 213-224
RESUMO
No Brasil, a contaminação média por aflatoxinas no milho, nos últimos 4 anos (2003-2006)
Baseado nisso, muitas empresas lançam mão do uso de adsorventes de micotoxinas, com o
produtos adsorventes no mercado brasileiro apresenta uma grande variedade, porém nem
todos apresentam resultados que comprovem sua eficiência protetora. Para tanto, a tomada
de decisão ao optar por algum produto deve ser fundamentada em resultados de avaliações
avaliações in vitro são baseadas na mimetização das condições que o adsorvente encontra
o adsorvente testado de acordo com a dose determinada. Para uma correta seleção dos mais
1
Prof. Titular, Dr. do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da Universidade Federal de Santa
Maria, Coordenador do Laboratório de Análises Micotoxicológicas (LAMIC). mallmann@lamic.ufsm.br.
Prédio 44, 4º andar, Ala Norte. Santa Maria – RS. CEP: 97.015-001. Fone/Fax: +55 55 3220 8445.
2
Médico Veterinário, Dr., pesquisador LAMIC/UFSM.
3
Médico Veterinário, Msc, Pesquisador LAMIC/UFSM.
4
Médico Veterinário, Mestrando do PPGMV, Pesquisador LAMIC/UFSM.
-1-
critérios: resultados de no mínimo 90 % de capacidade de adsorção (suco gástrico e
intestinal) na avaliação in vitro e nas avaliações in vivo que o grupo de animais intoxicados
fatores (Figura 1), como a umidade, temperatura, presença de Oxigênio, tempo para o
Mallmann
representam um fator cada vez mais decisivo
na solução do problema. Esta gama de fatores demonstra que o controle dos mesmos, no
sentido de prevenção, muitas vezes se torna muito difícil em nossas condições tropicais, por
crescimento fúngico intenso, especialmente pela deficiente aeração forçada da maioria das
-2-
unidades armazenadoras, que mesmo existindo, pelo excesso e má distribuição das
impurezas não são efetivas no controle dos pontos de calor dentro do silo. Esta e muitas
anos, a positividade vem aumentando gradativamente. Isto indica que o desafio por
aflatoxinas que as nossas aves estão sujeitas é ainda maior, mostrando que o controle
Fonte: http://www.lamic.ufsm.br
Figura 2 – Positividade e contaminação médias por aflatoxinas, em amostras enviadas ao
LAMIC.
-3-
Para que se tenha idéia da real importância das micotoxinas na avicultura, são
estabelecidos pelo LAMIC para aves, conforme a idade e o uso dos animais.
prevenir a contaminação dos alimentos por parte dos fungos toxigênicos e controlar o
tóxicos, sem que estes processos promovam a diminuição do valor nutritivo dos alimentos
descontaminados.
Os métodos para controle das micotoxinas podem ser classificados dentro de duas
categorias principais:
-4-
A prevenção da contaminação por fungos toxigênicos e seu crescimento, pode ser
agrícolas, como por exemplo, usando sementes de qualidade e livres de fungos, impedindo
o ataque dos insetos e as enfermidades das plantas. O uso da genética também representa
resistentes a fungos ou danos, tanto mecânico como o causado por insetos representarão no
fisicamente o cereal, pois o dano mecânico está invariavelmente associado a uma rápida
invasão de fungos. Outro fator importante no processo de colheita é a limpeza dos cereais,
pois os resíduos que ficam aderidos ou misturados, normalmente são portadores de espécies
-5-
A contaminação das colheitas pode ser prevenida ou diminuída usando ácidos
fungicidas nos alimentos devem ser efetivas a um pH situado um pouco acima do seu pK.
Em um maior pH, grande parte deste ácido se encontrará sem dissociar, não apresentando
nenhum efeito sobre o crescimento fúngico. Por outro lado, a quantidade de ácido
mesmo, e deve estar distribuído de uma maneira uniforme através de todo volume a tratar.
No entanto, o emprego destes ácidos em sub doses pode levar ao risco de que se produza
variedades, mediante a engenharia genética, capaz de resistir ao ataque dos fungos ou inibir
aflatoxinas. Estas diferenças podem ser por diversos fatores, e o genoma da planta pode
metabólitos específicos por parte da planta, de igual forma que já se demonstrou que alguns
produtos naturais podem reduzir a biossíntese das micotoxinas com melhor eficiência do
-6-
O armazenamento das colheitas tem um papel importante na qualidade físico-
prevenção, porém quando o produto já esta contaminado e vai ser usado como alimento, é
alimentos e em rações.
-7-
A F.A.O. instituiu uma série de critérios para determinar se o processo de
- Destruir todos os esporos e micélios fúngicos para que não possam, em condições
toxina T-2, comprovado pela diminuição de lesões orais em animais de laboratório, porém
fúngicos como de micotoxina, sendo esta redução dependente da espécie fúngica e tipo de
toxina.
amendoim tem sido extremamente usados por industrias que beneficiam este produto para
reduzir os níveis de aflatoxinas, já que estes grãos estão destinados a consumo humano.
Mas esta não tem sido a forma mais eficiente de detoxificação, pois os produtos que não
-8-
tem evidência visível do prejuízo ocasionando por fungo podem ainda assim conter
destes, tem sido avaliada para o problema de aflatoxina desde de 1960. A degradação de
aflatoxinas também pode ocorrer, durante o processamento de alimentos e também pelo uso
de aditivos, os quais são compostos relativamente seguros em certos níveis utilizados. Esta
classe de micotoxinas tem sido a mais estudada pelos diferentes métodos de detoxificação.
em alimentos e rações, que podem interagir entre si, influindo na sua toxicidade, sendo este
contaminado com deoxinivalenol e zearalenona mostraram resultados onde após 7-9 dias de
-9-
fermentação o DON foi estável ao processo. Do conteúdo inicial de zearalenona, 69% foi
O sistema ideal para detoxificar as rações animais deve levar em consideração não
somente a redução das micotoxinas, mas também que a substância empregada não houvesse
produtos de degradação tóxica nem, tampouco, reduzir o valor nutritivo dos alimentos
alimentação animal, o emprego de argilas selecionadas e processadas está sendo a cada dia
mais utilizado para o seqüestro das micotoxinas, com o objetivo de reduzir a absorção das
Do ponto de vista técnico, são considerados 2 os critérios para que um produto seja
Entretanto, para que um produto seja liberado para comercialização no Brasil, este deve ser
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devidamente registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
O registro somente é obtido após a realização de uma avaliação in vivo do produto que
in vivo como in vitro devem ser realizadas em laboratório credenciado pelo MAPA.
capacidade que tal produto tem de adsorver as micotoxinas presentes em um meio líquido e
situações que não estão presentes em ensaios com solução hidroalcoólica, como variações
Unidos), Lemke et al. (2001), sob a coordenação de T.D. Phillips, descrevem uma série de
uma das metodologias avaliadas foi baseada na mimetização das condições que o
- 11 -
Girona (1994), desenvolveu uma metodologia de avaliação in vitro de adsorventes
Lemke et al. (2001). Estas metodologias apresentam características distintas com relação ao
estudos in vitro.
tradicionais e os que utilizam os sucos do TGI. Geralmente ocorre uma menor taxa de
adsorção as avaliações com estes sucos. Isto ocorre, pois muitas argilas perdem parte da sua
capacidade adsortiva quando entram em contato com o pH destes sucos e pela presença de
outras substâncias, como enzimas, que não estão presentes nas metodologias tradicionais.
Esta diminuição na adsorção sob tais condições ocorre devido a características geológicas
destas argilas. Sua dissolução no TGI é lenta e, muitas vezes, incompleta (Ruby et al.,
1993).
influenciado por variáveis que estão presentes no TGI como o pH do meio, que varia de 1,3
(suco gástrico) a 6,0 (suco intestinal). Algumas reações químicas podem ser catalizadas
pelo adsorvente quando em solução hidroalcoólica, o que não ocorre em testes que utilizam
produtos, baseada nas metodologias aceitas em todo o mundo. Os métodos que utilizam
suco gástrico e intestinal representam da melhor forma possível o meio a que o adsorvente
- 12 -
será submetido no organismo animal. Nesta metodologia, são preparadas duas soluções:
suco gástrico, com pH 2,0 e suco intestinal, com pH 6,0. Ambos estão descritos na
Chile, Colômbia, Cuba, Espanha, Hungria, Itália, México, Paquistão, Peru, Republica
Dominicana e USA), além dos produzidos neste País e de acordo com os resultados obtidos
animal.
experimental própria para testes realizados com aves e uma unidade experimental para
- 13 -
UFSM. Para ambas espécies animais o laboratório possui um protocolo experimental
ganho de peso, conversão alimentar, consumo e peso relativo de órgãos. O período mínimo
utilizado para testes com aves é de 21 dias e suínos 28 dias. O laboratório define como
critério para aprovação de um adsorvente testado in vivo, utilizando-se aves ou suínos, que
De acordo com os critérios descritos acima, onde um produto, para ser aprovado
deve apresentar adsorção igual ou superior a 90%, até o ano de 2005, apenas 52,48% dos
satisfatório, que o produto deva ter comportamento similar nos dois compartimentos do
sistema digestório.
- 14 -
% Adsorção % Adsorção
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
1
1
4
4
7
7
10
10
13
13
16
16
19
22 19
25 22
28 25
31
28
34
31
37
34
40
37
43
40
46
49 43
52 46
55 49
58
52
61
55
64
58
67
61
70
64
73
76 67
79 70
82 73
88
79
91
82
94
85
97
88
100
91
103
106 94
109 97
112 100
115
103
118
106
121
109
124
112
127
115
130
133 118
136 121
139 124
Produto
Produto
142
127
145
130
148
133
151
136
154
139
157
160 142
163 145
166 148
169
151
172
154
175
157
178
160
181
163
184
166
187
190 169
193 172
196 175
199
178
202
181
205
184
208
187
211
190
214
217 193
220 196
223 199
226
202
229
205
232
208
235
211
238
214
241
244 217
247 220
250 223
253 226
- 15 -
Figura 3 – Percentual de adsorção in vitro de Aflatoxina B1 em pH 2,0 de 228 produtos
4.2. Avaliações in vivo
próprio LAMIC, o que facilita a avaliação dos produtos. Neste sistema, foram testados mais
produtos testados in vivo apresentaram adsorção igual ou superior a 90% nas avaliações in
vitro realizadas, também, no LAMIC. A Tabela 2 apresenta o resultado dos testes in vivo de
prduto B apresentou 91% de adsorção no mesmo teste. Fica claro que um resultado
satisfatório na avaliação in vitro não é suficiente para que um produto comprove sua
aficácia, sendo necessária a comprovação através do teste in vivo. Isto ocorre devido ao fato
de que, mesmo reproduzindo as condições do meio, através dos sucos do TGI, o teste in
vitro é apenas uma simulação. Quando ingerido pelo animal, juntamente com os
componentes da dieta, o adsorvente pode ter sua ação dificultada por um ou mais destes
componentes, que não estão presentes nos ensaios in vitro (Lemke et al., 2001). O teste in
vivo é muito importante para o controle de qualidade de produção do adsorvente por isso é
Tabela 2 – Peso médio de aves intoxicadas com aflatoxinas, com e sem a adição de
Adsorvente A Adsorvente B
1
T n Peso Médio (g) CV (%)2 Peso Médio (g) CV (%)2
1 48 695,88c 5,69 697,75b 8,94
c b
2 48 681,56 6,70 674,37 7,71
3 48 517,81a 11,34 506,34a 15,22
4 48 562,38b 10,87 501,00a 13,11
Total 192 587,92 15,40 595,33 18,83
- 16 -
1
T1 - ração controle; T2 - 0,5% de adsorvente; T3 - 2,8 ppm de aflatoxina; T4 - 2,8 ppm
de aflatoxina + 0,5% de adsorvente.
2
CV = Coeficiente de variação.
a-c
Médias na coluna, seguidas por letras diferentes diferem estatisticamente pelo teste de
Tukey (p<0,05).
Pelos resultados apresentados na Figura 2, fica evidente que a maioria das rações
consumidas pelas aves de corte no Brasil apresente contaminação por aflatoxinas ou outras
micotoxinas. Este fato, aliado à média relativamente alta de contaminação dos grãos de
milho, e aos níveis máximos de aflatoxinas para aves (Tabela 1), mostra a real importância
destas micotoxinas na produção de aves em nosso país. Para prevenir maiores danos
causados pela aflatoxicose nas aves, estima-se que cerca de 68% das rações produzidas para
tomarmos como média uma inclusão de 0,25% (2,5 kg/Ton), estamos falando de
Pelo risco deterimnado pela faixa etária das aves e considerando os problemas
inclusão de adsorvente em 100% das rações para fase inicial. Em rações para fase de
adsorvente, sendo este utilizado, desta forma, em consonância com as normas técnicas de
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utilização de um produto, quando este for definitivamente necessário na dieta. Com isto,
Pelo montante consumido, não é surpresa que haja uma grande variedade deste tipo
de produtos oferecidos em nosso país, havendo espaço para alguns produtos com eficácia
não comprovada. Por isso, torna-se de extrema importância a exigência, por parte das
funcione. Estas “provas”, nada mais são, do que os resultados das avaliações in vitro,
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6. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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EDDS, G.T. Acute aflatoxicosis: a review. J. Am. Vet. Med. Assoc., v. 162, n. 4, p. 304-
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LEMKE, S. L.; OTTINGER, S. E.; MAYURA, K.; AKE, C.L.; PIMPUKDEE, K.; WANG,
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SCUSSEL, V.M. Micotoxinas em alimentos. Ed. Insular. Florianópolis, SC. 144p. 1998.
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