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Suplementação de Creatina: da ergogenia a terapêutica.

Dr. Lucas Caseri Câmara *

Uma substância orgânica encontrada na carne vermelha denominada “creatina” (ácido


acético α-metil guanidina) foi descoberta pelo cientista francês Michel Eugene Chevreul
em 1832. Após quinze anos (1847), Justus Von Liebg observou que animais selvagens
(raposas) apresentavam aproximadamente dez vezes mais conteúdo de creatina em sua
musculatura quando comparadas a animais domesticados, sugerindo que esta substância
poderia contribuir de alguma forma para a maior capacidade física dos animais
selvagens.

Atualmente, sabemos que a creatina é uma amina nitrogenada, que pode ser encontrada
naturalmente em maiores concentrações nas carnes (vaca e porco) e nos peixes (atum,
arenque, e salmão).
Em dietas balanceadas, utilizadas por indivíduos ativos fisicamente (1-2g de proteína
por kilo de peso corporal), podem ser obtidas aproximadamente 50% das necessidades
de creatina. O restante é endógenamente sintetizado pelos rins, fígado e pâncreas,
através dos aminoácidos glicina, arginina e metionina.
Mais de 90% da creatina em humanos é encontrada na musculatura esquelética, e o
restante se distribui na musculatura lisa (coração), nas células sanguíneas (série branca e
vermelha), nos testículos (espermatozóides), e na retina.
Para um homem de 70 kilos, a concentração máxima encontrada na musculatura
esquelética é de, aproximadamente, 160 Mmol/kg (120g). Estes valores podem se
alterar segundo a idade, nível de condicionamento físico, tipo de fibras musculares
predominantes, níveis hormonais e doenças associadas.
Padronizando as características das diferentes populações utilizadas em estudos prévios,
observa-se que maiores concentrações intramusculares estão relacionadas a maior
capacidade de geração de força muscular e resistência em esforços de alta intensidade e
curta duração.
A creatina encontra-se na musculatura esquelética principalmente (65%) sob a forma de
creatina fosfato (CP), e o restante (35%) na forma de creatina livre, e juntas constituem
a geração de energia do Sistema P-Cr. Este sistema pode gerar grandes quantidades de
energia em um curto espaço de tempo (muito potente), porém, a duração desta energia é
muito curta. Assim, a energia necessária para suprir exercícios máximos com duração
até 10 segundos, provém em mais de 94% deste sistema. Em exercícios com duração
aproximada de um minuto, essa contribuição cai para 50%.
Diversos estudos documentaram que a utilização da creatina como recurso ergogênico
aumenta a força muscular e a capacidade de exercício, e deve ser associada aos esforços
curtos e de alta intensidade (como por exemplo, provas de velocidade no atletismo e
natação, e musculação).
Essa melhora no desempenho esportivo não foi observada em atletas participantes de
provas de longa duração, possivelmente pela baixa contribuição energética do Sistema
P-Cr em relação à duração destas provas.
A partir do início dos estudos científicos avaliando a contribuição da creatina no
aumento do desempenho esportivo surgiram alguns mitos em relação a sua
suplementação, como “todo peso ganho é devido à retenção hídrica”, “a utilização
crônica tem efeitos desconhecidos”, “a suplementação causa sobrecarga renal”, “há
ocorrência de desidratação, cãibras e distúrbios hidroeletrolíticos”, “formulações mais
recentes são melhores e causam menores efeitos colaterais”, e por fim, “seu uso é ilegal
ou não ético”.
Para orientação e esclarecimentos sobre o tema, a Sociedade Internacional de Nutrição
Esportiva lançou um posicionamento em agosto de 2007 sobre a suplementação de
Creatina.
Nesta publicação, os autores documentaram efeitos positivos da utilização deste
suplemento.

“A creatina monohidratada é o suplemento mais estudado, e clinicamente mais


significativo para aumentar o volume muscular e a capacidade de exercício em
esforços de altas intensidades”

“sua suplementação aguda ou crônica não é apenas segura e sem detrimentos à saúde,
mas também contribui para tratamento de algumas doenças”

“seu uso é permitido pelos comitês internacionais esportivos, e seu uso é preferível a
utilização de drogas sabidamente nocivas (esteróides anabólicos)”

Segundo Kreider e cols. (2003), que revisaram mais de 300 estudos sobre o tema,
afirmam que em 70% deles os efeitos foram positivos e promoveram melhora do
desempenho esportivo. Observaram aumentos de 5-15% na capacidade de potência
máxima, força e velocidade; 1-5% no trabalho realizado em contrações máximas; 5-
15% no desempenho de sprints repetitivos; e aumento de 1-2 kg de massa magra. Muito
embora as alterações possam parecer pequenas, os autores ressaltam que os indivíduos
estudados eram atletas, onde pequenas melhoras podem ser altamente significantes nos
resultados esportivos.
O protocolo de suplementação sugerido como mais adequado pela Sociedade
Internacional de Nutrição Esportiva, utiliza uma fase de saturação (0,3g/kg/dia, por 3 a5
dias, divididos em 4-5 doses, adicionados de carboidratos), e uma fase de manutenção
(3-5g/dia).
Alguns autores (Persky 2000,Williams 2001) afirmam que não é necessário fazer
interrupções ou pausas durante a utilização continuada, pois apesar da síntese endógena
ficar inibida com uso crônico, esta função se restabelece, normalmente, em 4 semanas.
A utilização da suplementação de creatina com funções terapêuticas já foi pesquisada
por diversos autores em doenças como Artrite, Polimiosite, Parkinson, Alzheimer,
Hungtinton, Mc Ardle, Atrofia girata, Esclerose múltipla, Sarcopenia, Miastenia gravis,
Insuficiência cardíaca, Infarto do miocárdio, Acidente vascular encefálico, Doença
pulmonar obstrutiva crônica, imobilizações e pós-operatórios ortopédicos. Sua melhor
contribuição ocorre nas doenças em que atrofias musculares estão associadas, e nas
doenças onde a síntese de creatina ou a ressíntese de ATP estão prejudicadas.
Em resumo, a utilização da creatina monohidratada como suplemento é considerada,
segundo a literatura científica, segura e eficaz, podendo contribuir de forma
significativa no desempenho esportivo e também como adjuvante terapêutico no
tratamento de doenças.

Referências:

Kreider RB. Effects of creatine supplementation on performance and


training adaptations. Mol Cell Biochem. 2003 Feb;244(1-2):89-94.
Branch JD. Effect of creatine supplementation on body composition and
performance: a meta-analysis. Int J Sport Nutr Exerc Metab. 2003
Jun;13(2):198-226.

Tarnopolsky MA. Potential benefits of creatine monohydrate


supplementation in the elderly. Curr Opin Clin Nutr Metab Care. 2000
Nov;3(6):497-502.

Gualano B, Ugrinowitsch C, Novaes RB, Artioli GG, Shimizu MH,


Seguro AC, Harris RC, Lancha AH Jr. Effects of creatine
supplementation on renal function: a randomized, double-blind, placebo-
controlled clinical trial. Eur J Appl Physiol. 2008 May;103(1):33-40.

Kley RA, Tarnopolsky MA, Vorgerd M. Creatine treatment in muscle


disorders: a meta-analysis of randomised controlled trials. J Neurol
Neurosurg Psychiatry. 2008 Apr;79(4):366-7.

Wyss M, Kaddurah-Daouk R. Creatine and Creatinine Metabolism.


Physiol Rev 80: 1107–1213, 2000.

Persky AM, Brazeau GA. Clinical Pharmacology of the Dietary


Supplement Creatine Monohydrate. Pharmacol Rev 53:161–176, 2001

Williams MH. Creatina. Ed. Manole. 1999.

Boford TH, Kreider RB, ET AL. International Society of Sports Nutrition


position stand: creatine supplementation and exercise. Journal of the
International Society of Sports Nutrition 2007, 4:6

* Médico, especializado em Fisiologia do Exercício (CECAFI-USP/CEFE-UNIFESP).


Pós graduando em Medicina Física e Reabilitação (DMR-HCFMUSP). Mestrando pela
Fisiopatologia Experimental – FMUSP.

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