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Atualmente, sabemos que a creatina é uma amina nitrogenada, que pode ser encontrada
naturalmente em maiores concentrações nas carnes (vaca e porco) e nos peixes (atum,
arenque, e salmão).
Em dietas balanceadas, utilizadas por indivíduos ativos fisicamente (1-2g de proteína
por kilo de peso corporal), podem ser obtidas aproximadamente 50% das necessidades
de creatina. O restante é endógenamente sintetizado pelos rins, fígado e pâncreas,
através dos aminoácidos glicina, arginina e metionina.
Mais de 90% da creatina em humanos é encontrada na musculatura esquelética, e o
restante se distribui na musculatura lisa (coração), nas células sanguíneas (série branca e
vermelha), nos testículos (espermatozóides), e na retina.
Para um homem de 70 kilos, a concentração máxima encontrada na musculatura
esquelética é de, aproximadamente, 160 Mmol/kg (120g). Estes valores podem se
alterar segundo a idade, nível de condicionamento físico, tipo de fibras musculares
predominantes, níveis hormonais e doenças associadas.
Padronizando as características das diferentes populações utilizadas em estudos prévios,
observa-se que maiores concentrações intramusculares estão relacionadas a maior
capacidade de geração de força muscular e resistência em esforços de alta intensidade e
curta duração.
A creatina encontra-se na musculatura esquelética principalmente (65%) sob a forma de
creatina fosfato (CP), e o restante (35%) na forma de creatina livre, e juntas constituem
a geração de energia do Sistema P-Cr. Este sistema pode gerar grandes quantidades de
energia em um curto espaço de tempo (muito potente), porém, a duração desta energia é
muito curta. Assim, a energia necessária para suprir exercícios máximos com duração
até 10 segundos, provém em mais de 94% deste sistema. Em exercícios com duração
aproximada de um minuto, essa contribuição cai para 50%.
Diversos estudos documentaram que a utilização da creatina como recurso ergogênico
aumenta a força muscular e a capacidade de exercício, e deve ser associada aos esforços
curtos e de alta intensidade (como por exemplo, provas de velocidade no atletismo e
natação, e musculação).
Essa melhora no desempenho esportivo não foi observada em atletas participantes de
provas de longa duração, possivelmente pela baixa contribuição energética do Sistema
P-Cr em relação à duração destas provas.
A partir do início dos estudos científicos avaliando a contribuição da creatina no
aumento do desempenho esportivo surgiram alguns mitos em relação a sua
suplementação, como “todo peso ganho é devido à retenção hídrica”, “a utilização
crônica tem efeitos desconhecidos”, “a suplementação causa sobrecarga renal”, “há
ocorrência de desidratação, cãibras e distúrbios hidroeletrolíticos”, “formulações mais
recentes são melhores e causam menores efeitos colaterais”, e por fim, “seu uso é ilegal
ou não ético”.
Para orientação e esclarecimentos sobre o tema, a Sociedade Internacional de Nutrição
Esportiva lançou um posicionamento em agosto de 2007 sobre a suplementação de
Creatina.
Nesta publicação, os autores documentaram efeitos positivos da utilização deste
suplemento.
“sua suplementação aguda ou crônica não é apenas segura e sem detrimentos à saúde,
mas também contribui para tratamento de algumas doenças”
“seu uso é permitido pelos comitês internacionais esportivos, e seu uso é preferível a
utilização de drogas sabidamente nocivas (esteróides anabólicos)”
Segundo Kreider e cols. (2003), que revisaram mais de 300 estudos sobre o tema,
afirmam que em 70% deles os efeitos foram positivos e promoveram melhora do
desempenho esportivo. Observaram aumentos de 5-15% na capacidade de potência
máxima, força e velocidade; 1-5% no trabalho realizado em contrações máximas; 5-
15% no desempenho de sprints repetitivos; e aumento de 1-2 kg de massa magra. Muito
embora as alterações possam parecer pequenas, os autores ressaltam que os indivíduos
estudados eram atletas, onde pequenas melhoras podem ser altamente significantes nos
resultados esportivos.
O protocolo de suplementação sugerido como mais adequado pela Sociedade
Internacional de Nutrição Esportiva, utiliza uma fase de saturação (0,3g/kg/dia, por 3 a5
dias, divididos em 4-5 doses, adicionados de carboidratos), e uma fase de manutenção
(3-5g/dia).
Alguns autores (Persky 2000,Williams 2001) afirmam que não é necessário fazer
interrupções ou pausas durante a utilização continuada, pois apesar da síntese endógena
ficar inibida com uso crônico, esta função se restabelece, normalmente, em 4 semanas.
A utilização da suplementação de creatina com funções terapêuticas já foi pesquisada
por diversos autores em doenças como Artrite, Polimiosite, Parkinson, Alzheimer,
Hungtinton, Mc Ardle, Atrofia girata, Esclerose múltipla, Sarcopenia, Miastenia gravis,
Insuficiência cardíaca, Infarto do miocárdio, Acidente vascular encefálico, Doença
pulmonar obstrutiva crônica, imobilizações e pós-operatórios ortopédicos. Sua melhor
contribuição ocorre nas doenças em que atrofias musculares estão associadas, e nas
doenças onde a síntese de creatina ou a ressíntese de ATP estão prejudicadas.
Em resumo, a utilização da creatina monohidratada como suplemento é considerada,
segundo a literatura científica, segura e eficaz, podendo contribuir de forma
significativa no desempenho esportivo e também como adjuvante terapêutico no
tratamento de doenças.
Referências: