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Carlos Biasotti

O Crime de Extorsão e a Tentativa


(Doutrina e Jurisprudência)

2a. ed.

2022
São Paulo, Brasil
O Autor

Carlos Biasotti foi advogado criminalista, presidente da


Acrimesp (Associação dos Advogados Criminalistas do Estado de
São Paulo) e membro efetivo de diversas entidades (OAB, AASP,
IASP, ADESG, UBE, IBCCrim, Sociedade Brasileira de Criminologia,
Associação Americana de Juristas, Academia Brasileira de Direito
Criminal, Academia Brasileira de Arte, Cultura e História, etc.).

Premiado pelo Instituto dos Advogados de São Paulo, no


concurso O Melhor Arrazoado Forense, realizado em 1982, é autor
de Lições Práticas de Processo Penal, O Crime da Pedra, Tributo
aos Advogados Criminalistas, Advocacia Criminal (Teoria e
Prática), Da Prova, Da Pena, Direito Ambiental, O Cão na
Literatura, etc., além de numerosos artigos jurídicos publicados em
jornais e revistas.

Juiz do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo


(nomeado pelo critério do quinto constitucional, classe dos
advogados), desde 30.8.1996, foi promovido, por merecimento, em
14.4.2004, ao cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça.

Condecorações e títulos honoríficos: Colar do Mérito Judiciário


(instituído e conferido pelo Poder Judiciário do Estado de São
Paulo); medalha cívica da Ordem dos Nobres Cavaleiros de São
Paulo; medalha cultural “Brasil 500 anos”; medalha “Prof. Dr.
Antonio Chaves”, etc.
O Crime de Extorsão e a Tentativa
(Doutrina e Jurisprudência)
Carlos Biasotti

O Crime de Extorsão e a Tentativa


(Doutrina e Jurisprudência)

2a. ed.

2022
São Paulo, Brasil
Índice

I. Nótula....................................................................................11
II. O Crime de Extorsão e a Tentativa.....................................13
III. Ementas................................................................................21
IV. Casos Especiais.....................................................................53
Nótula

Entre os crimes contra o patrimônio, trata o Código Penal


da extorsão, que define por estas palavras:
“Art. 158. Constranger alguém, mediante violência ou
grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem
indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou
deixar de fazer alguma coisa:
Pena — reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa”.
É o tema deste caderninho, em que se acham reunidas
ementas de votos que proferi na 2a. Instância da Justiça
Criminal (Tribunal de Alçada Criminal e Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo).
12

Lembrou-me versar também, ainda que brevemente, a


rude questão da tentativa nos crimes de extorsão.
O livrinho, por seu conteúdo, talvez interesse a algum
estudioso ou aplicador do Direito Penal; eis a razão por que o
tirei à luz, e muito de grado lho ofereço, amável e paciente
leitor!

O Autor
O Crime de Extorsão e a Tentativa

I. Das infinitas questões que se disputam perante a barra


da Justiça Criminal, poucas apresentam mais dificuldade que a
tentativa de extorsão: art. 158 do Código Penal. (1)
Contra expressiva corrente doutrinária, admitem-na
autores de boa nota, considerando tal crime de natureza
material, isto é, não se aperfeiçoa sem a efetiva lesão do bem
jurídico.
Os que a não reconhecem, porém, esses alegam que a
tentativa é incompatível com a extorsão, delito formal, ou de
consumação antecipada.
Valem-se também da letra da Súmula nº 96 do Colendo
Superior Tribunal de Justiça, que reza: “O crime de extorsão
consuma-se independentemente da obtenção da vantagem
indevida”.
Mas, afirmar de modo absoluto que repugna à extorsão a
figura do “conatus” não é senão afastar-se da verdadeira exegese
do texto legal e aplicá-lo em franco desacordo com os preceitos
da Justiça, a qual manda evitar sempre a imoderação no castigo:
“Interpretatio aequior, et benignior, summenda est”. É de
preferir a interpretação mais equitativa e mais benigna.
___________________
(1) Art. 158 do Código Penal:
“Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o
intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a
fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa:
Pena — reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa.
14

II. A interpretação que atende à hipótese da tentativa no


crime de extorsão é a que, a nosso aviso, leva primazia entre os
penalistas.
Nélson Hungria, o Pontífice Máximo do Direito Penal
pátrio, escreveu, com efeito, em sua monumental obra:

“Apesar de se tratar de crime formal, a extorsão admite


tentativa, pois não se perfaz unico actu, apresentando-se
um iter a ser percorrido. Assim, toda vez que deixa de
ocorrer a pretendida ação, tolerância ou omissão da
vítima, não obstante a idoneidade do meio de coação, ou,
no caso de extorsão mediante sequestro, deixa este, já em
execução, de se ultimar (por circunstância alheia à
vontade do agente), não se pode reconhecer senão a
tentativa” (Comentários ao Código Penal, 1980, vol. VII,
p. 77).

E logo abaixo:

“Há que se identificar a tentativa punível ainda no caso,


não muito infrequente, em que a vítima, vencendo o
temor incutido, comunica a ameaça à polícia, e
esta predispõe as coisas de modo a surpreender o
extorsionário no ato de se apoderar da coisa
fingidamente consignada ou quando se apresenta no
lugar indicado para recebê-la” (ibidem).
15

Doutrina é esta em que conspiram graves autores:

“Ocorre (tentativa de extorsão) quando o sujeito passivo,


não obstante constrangido pelo autor por intermédio da
violência física ou moral, não realiza a conduta positiva
ou negativa pretendida, por circunstâncias alheias à
vontade do autor” (Damásio E. de Jesus, Código Penal
Anotado, 18a. ed., p. 610).

Pelo mesmo teor, o insigne Heleno Cláudio Fragoso:

“Não se exige, para a consumação, que o agente tenha


conseguido o proveito que pretendia. O crime se consuma
com resultado do constrangimento, isto é, com a ação ou
omissão que a vítima é constrangida a fazer, omitir ou
tolerar que se faça e por isso pode-se dizer que, em
relação ao patrimônio, este é crime de perigo” (Lições de
Direito Penal, Parte Especial, 11a. ed., vol. I, p. 217).

Ainda:

“Como no constrangimento ilegal, a tentativa é aqui


perfeitamente admissível, configurando-se quando,
apesar do emprego de meio idôneo, não consegue o
agente que a vítima faça, tolere que se faça ou deixe
de fazer alguma coisa” (ibidem).
16

Afigura-se esta interpretação mais conforme ao direito e


à razão. Na real verdade, como quer que “interpretar, no
sentido jurídico, é procurar o pensamento contido na lei, a
significação das palavras, o alcance do texto, a explicação
da frase. Interpretar é descobrir a vontade da lei” (Vicente de
Azevedo, Apostilas de Direito Judiciário Penal, 1952, vol. I,
p. 56), não entra em dúvida que a todas se avantaja a
interpretação que deu ao texto legal seu próprio autor: Nélson
Hungria, que não somente foi o principal colaborador e artífice
do Código Penal de 1940, mas também seu exegeta supremo.

Na lição desses conspícuos autores é que nossas Cortes de


Justiça têm assentado sua jurisprudência:

a) “O crime de extorsão comporta a figura da tentativa,


em consonância com a doutrina, visto que a ação
delituosa foi tempestivamente atalhada em sua
execução, de maneira a permanecer a conduta
incriminada aquém da meta optata” (Rev. Tribs.,
vol. 623, p. 313; rel. Emeric Levai);

b) “O enquadramento da extorsão entre os crimes


formais não impede que se reconheça a possibilidade
da tentativa. A extorsão é delito plurissubsistente,
isto é, que se preenche com a realização de vários
atos. Destarte, a atividade criminosa é perfeitamente
cindível: tem um iter criminis e, portanto, pode
sofrer interrupção” (Rev. Tribs., vol. 572, p. 356; rel.
Silva Franco);
17

c) “Embora seja crime formal, a extorsão admite a


tentativa, porque não se perfaz com um só ato: exige
um iter criminis que o agente deve percorrer. Ocorre
a tentativa quando não se verifique qualquer dos
efeitos imediatos à coação (fazer, tolerar ou deixar a
vítima que se faça alguma coisa que resulte ou possa
resultar em prejuízo seu ou de outrem)” (Rev. Tribs.,
vol. 555, p. 374; rel. Dirceu de Mello; apud Alberto
Silva Franco et alii, Código Penal e sua Interpretação
Jurisprudencial, 6a. ed., vol. I, t. II, pp. 2.574-2.575);

d) “Se a vítima da ameaça suportou um estado de


constrangimento, não entregando o dinheiro exigido
pelo réu por convocado o concurso da polícia, tem-se
caracterizado o crime de extorsão na forma tentada,
eis que o agente só não conseguiu seu desiderato por
circunstâncias alheias à sua vontade” (Rev. Tribs.,
vol. 799, p. 602; rel. Ricardo Dip).

A não ser assim, a figura penal da extorsão (art. 158) não


representaria mais que supérflua reduplicação do crime de
constrangimento ilegal (art. 146).
18

III. Pela suma autoridade que lhe reconhecem os cultores da


Ciência de Carrara, quer-se transcrita aqui a perspícua e
definitiva lição que, acerca do ponto, ministrou Damásio E. de
Jesus:

“Para nós, consuma-se a extorsão com a conduta


da vítima.

Diz-se o crime consumado quando nele se reúnem


todos os elementos de sua definição legal (CP, art. 14, I).
A consumação exige que, presente o elemento subjetivo, o
sujeito concretize todos os elementos objetivos do tipo,
havendo perfeita adequação entre o fato concreto e o
modelo legal. O iter criminis da extorsão apresenta os
seguintes elementos, que consubstanciam três momentos
típicos relevantes: 1º) conduta de constranger o sujeito
passivo mediante violência ou grave ameaça; 2º)
comportamento da vítima, fazendo, tolerando que se faça
ou deixando de fazer alguma coisa; 3º) intuito de
obtenção da indevida vantagem econômica.

A obtenção da vantagem indevida é dispensável,


uma vez que se encontra no âmbito da intenção do agente
(com o intuito de). Por isso o crime se diz formal ou de
consumação antecipada. Os outros elementos, entretanto,
de ordem objetiva, referentes ao comportamento do
sujeito ativo e à conduta da vítima, são imprescindíveis
à consumação. Se o agente, com o elemento subjetivo
próprio, constrange o sujeito passivo mediante violência
19

física ou grave ameaça, e este porém não atende à


coação, não se pode afirmar, para fins de consumação,
que no crime se reúnem todos os elementos de sua
definição legal. Está faltando a elementar alternativa
fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma
coisa.
O crime formal antecipa a consumação ao
momento típico imediatamente anterior à produção do
resultado visado pelo agente. Considerando os três
momentos típicos da extorsão, consuma-se quando da
concretização do segundo, i.e., com a conduta da vítima.
A adotar-se a tese de que a extorsão atinge a
consumação com o simples constrangimento, ter-se-á de
aceitar a consequência lógica de aplicá-la aos crimes que
apresentam a mesma construção típica. Em outros
termos, consumar-se-iam com o ato executório do sujeito
ativo todos os crimes em que a conduta do agente
é seguida de comportamento coativo da vítima.
Assim, consumar-se-ia o constrangimento ilegal com
a violência ou grave ameaça (CP, art. 146). E como o
constrangimento ilegal é um crime subsidiário, o
princípio incidiria sobre todos os delitos em que
ele constitui meio de execução. Em face disso, v.g., o
atentado violento ao pudor, na hipótese de o
constrangimento visar a que a vítima pratique ato
libidinoso, atingiria o momento consumativo com a
simples violência ou grave ameaça” (Novíssimas
Questões Criminais, 2a. ed., pp. 21-22).
20

Enfim, o asserto de que a extorsão não conhece tentativa


(porque delito formal ou de consumação antecipada) não consta
da lei; tampouco o professam os mais reputados mestres de
Direito Penal, como Damásio E. de Jesus, Heleno Cláudio
Fragoso e aquele “che sovra gli altri com’aquila vola”: (2)
Nélson Hungria.

Damásio E. de Jesus
(Autor eminente e muito louvado
por sua ciência e doutrina).

____________________
(2) Dante, Inferno, IV, 96.
Ementário Forense
(Votos que, em matéria criminal, proferiu o Desembargador
Carlos Biasotti, do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
Veja a íntegra dos votos no Portal do Tribunal de Justiça:
www.tjsp.jus.br).

• Extorsão
(Art. 158 e segs. do Cód. Penal)

Voto nº 2164

Apelação Criminal nº 1.181.409/3


Art. 158, § 1º, do Cód. Penal

— Na prova do crime e de sua autoria tem a palavra da vítima grande peso e


alcance: pode justificar solução condenatória da lide penal, se em harmonia
com os mais elementos do processo.
— Comete o delito de extorsão quem exige dinheiro da vítima para guardar
segredo cuja divulgação lhe seria a ruína (art. 158 do Cód. Penal).
— Desde que nos autos triunfe dúvida invencível acerca da culpabilidade do
acusado, será força absolvê-lo por amor do princípio de nomeada universal do
“in dubio pro reo”.
22
Voto nº 1734

Apelação Criminal nº 1.159.289/8


Art. 5º da Lei nº 9.296/96 (interceptação telefônica);
art. 158, § 1º, do Cód. Penal (extorsão qualificada)

— A interceptação ilícita da comunicação telefônica, vista a certa luz, é o


aniquilamento do mais nobre dos atributos do homem: a palavra.
— Apenas decisão fundamentada de Juiz fortemente esclarecido quanto aos fatos,
e em obséquio a relevante interesse de ordem pública, poderá legitimar a
drástica medida de interceptação de comunicação telefônica para provar
em investigação criminal e em instrução processual penal (art. 5º da Lei
nº 9.296/96).
—“Laconismo da sentença não acarreta nulidade” (Rev. Forense, vol. 110,
p. 226).
— Conforme o sistema do Código de Processo Penal, “nenhum ato será declarado
nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa”
(art. 563).
— A ninguém é lícito negar o que a evidência mostra.
— Embora crime formal, admite a extorsão tentativa, se o sujeito passivo, apesar
de constrangido, não realiza a conduta pretendida pelo agente. Esta doutrina
professam os penalistas de melhor nota: Nélson Hungria, Comentários ao
Código Penal, 1980, vol. VII, p. 77); Heleno Cláudio Fragoso, Lições de Direito
Penal, Parte Especial, 11a. ed., vol. I, p. 217; Damásio E. de Jesus, Código
Penal Anotado, 8a. ed., p. 534, etc.
— Interpretar “é descobrir a vontade da lei” (Vicente de Azevedo, Apostilas de
Direito Judiciário Penal, 1952, vol. I, p. 56).
— Para o Juiz que a profere, a sentença é sempre um monumento; a que prima
pelo rigor da lógica jurídica, pela rara discrição e boa doutrina, esta se diz que
foi aberta em bronze.
23
Voto nº 550

Revisão Criminal no 306.688/5


Art. 158 do Cód. Penal;
Art. 621, nº I, do Cód. Proc. Penal

— As palavras da vítima, quando seguras e verossímeis, longe de significar o ponto


frágil da prova, acrescentam-lhe peso e vigor. Grande parte nos terríveis
sucessos, quem mais que a vítima estará capacitado a descrevê-los? É ela a
que reúne melhores condições para reproduzi-los com fidelidade e revelar
espontaneamente seu autor.
— Contrária à evidência dos autos é somente a sentença que não tem base alguma
na prova neles produzida.
— Cumpre pena em regime fechado autor de extorsão, a quem a gravidade da
espécie delituosa faz presumir perigoso.

Voto nº 594

Apelação Criminal nº 1.068.615/1


Art. 158 do Cód. Penal; Súmula nº 96 do STJ;
art. 71 do Cód. Penal

— Para a realização do tipo do art. 158 do Cód. Penal, não faz ao caso eventual
obtenção da vantagem indevida, a qual já pertence para seu exaurimento. “O
crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem
indevida” (Súmula nº 96 do STJ).
— A figura da continuidade delitiva, prevista no art. 71 do Cód. Penal, pressupõe
as “mesmas relações e oportunidades”, ou “a utilização de ocasiões nascidas
da primitiva situação”, sua pedra-de-toque (cf. Damásio E. de Jesus, Código
Penal Anotado, 5a. ed., p. 198).
— O regime prisional fechado é o que unicamente convém ao autor de crime de
suma gravidade, como o de extorsão, o qual, do mesmo passo que produz funda
comoção no organismo social, revela extrema vileza de caráter em quem o
pratica.
24
Voto nº 617

Apelação Criminal nº 1.065.353/3


Art. 158 do Cód. Penal;
Súmula nº 96 do STJ

— Não carece de fundamentação a sentença que, patenteando os motivos


do convencimento do Magistrado, rende ensejo ao réu de impugná-la
amplamente.
— A gravidade da ameaça, no crime de extorsão, deve inferir-se das circunstâncias
pessoais da vítima. Se esta recorreu à proteção do Estado, comunicando o fato à
Polícia, há forte indício de que a intimidação foi séria e eficaz.
—“O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da
vantagem indevida” (Súmula nº 96 do STJ).
— Há geral consenso em derredor do termo prisão: o pior lugar do mundo, antes
do cemitério!
—“A pena-retributiva jamais corrigiu alguém” (Nélson Hungria, Comentários ao
Código Penal, 1980, 6a. ed., vol. I, t. I, p. 14).
— Tratando-se de réu primário e de bons antecedentes, condenado por extorsão,
não é defeso ao Juiz, tendo consideração aos graves e notórios malefícios do
regime recluso, deferir-lhe o benefício do semiaberto.

Voto nº 1672

“Habeas Corpus” nº 349.294/1


Art. 159, § 1º, 1a. parte, do Cód. Penal;
art. 2º, nº II, da Lei nº 8.072/90

— Segundo doutrina tradicional consagrada por todos os Tribunais de Justiça do


País, excede ao âmbito estreito do “habeas corpus” a apreciação da falta de
justa causa para a ação penal que dependa de aprofundado exame de provas, o
que se admite apenas na via ordinária da instrução criminal.
— No intuito de preservar a incolumidade pública, a lei penal pôs timbre sempre
em denegar o benefício da liberdade provisória aos acusados da prática de
crimes hediondos, ainda que, por presunção “juris et de jure”, possam contar-
-se entre os inocentes (art. 5º, nº LVII, da Const. Fed.; art. 2º, nº II, da Lei
nº 8.072/90).
25
Voto nº 323

Apelação Criminal nº 1.049.093/1


Art. 158 do Cód. Penal;
art. 5º, ns. X e XI, da Const. Fed.

— A menos se demonstre cumpridamente que foi obra de violência ou arbítrio, a


confissão, ainda quando produzida na fase do inquérito policial, tem o cunho de
prova excelente (“regina probationum”), porque não é o lugar onde se presta
que a acredita, senão o poder de convencimento que encerra.
— A gravação sigilosa de conversa telefônica por um dos interlocutores não
constitui meio ilícito de obtenção de prova e, portanto, não incide na censura
do Direito nem afronta os incisos X e XI do art. 5º da Constituição Federal.
— Há mera tentativa de extorsão quando a vítima, à medida que pratica o ato
exigido, comunica-o à Polícia, que prende o sujeito ativo antes que obtenha o
proveito injusto.

Voto nº 1667

Apelação Criminal nº 1.151.659/8


Arts. 157, § 2º, ns. I e II, e 158, § 1º, do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

— A confissão judicial do réu tem valor absoluto como meio de prova; pela
presunção de sua autenticidade, pode autorizar a edição de decreto
condenatório.
— Constitui a majorante do inc. I do § 2º do art. 157 do Cód. Penal a ameaça com
arma desmuniciada, se a vítima o ignorava, porque instrumento apto a intimidá-
-la e, pois, render-lhe o ânimo.
— Crimes da mesma espécie, o roubo e a extorsão, quando praticados nas
circunstâncias do art. 71 do Cód. Penal, configuram continuidade delitiva,
não concurso material de infrações. É desse número, portanto, o caso de
delinquentes que, após consumar o roubo, “forçam a vítima a acompanhá-los
à caixa eletrônica para sacar o dinheiro” (cf. Rev. Tribs., vol. 765, p. 572).
26
Voto nº 648

Apelação Criminal nº 1.074.127/6


Art. 158 do Cód. Penal;
art. 33 do Cód. Penal

—“A extorsão, delito formal, atinge a consumação com a conduta típica


imediatamente anterior à produção do resultado visado pelo sujeito”
(Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 5a. ed., p. 512).
— Não há proibição legal de que o Juiz conceda ao condenado não-reincidente a
pena inferior a 8 anos o benefício do regime semiaberto; o Código Penal, o que
veda às expressas é que se conceda ele ao réu condenado a pena superior a
8 anos (não importando se primário), ou ao reincidente, cuja pena seja superior
a 4 anos.
—“A pena-retributiva jamais corrigiu alguém” (Nélson Hungria, Comentários ao
Código Penal, 1980, 6a. ed., vol. I, t. I, p. 14).
— O cárcere: o pior lugar do mundo, antes do cemitério!

Voto nº 10.266

Apelação Criminal nº 993.08.012618-6


Arts. 158 e 14, nº II, do Cód. Penal;
art. 386, nº II, do Cód. Proc. Penal

— Reputa-se de bom quilate – e, pois, merece preservada dos tiros da crítica –


a sentença que, forte nas declarações da vítima, no testemunho policial e em
gravações telefônicas, decreta a condenação de autor de crime de extorsão
(art. 158 do Cód. Penal).
— Embora crime formal, admite a extorsão tentativa, se o sujeito passivo, apesar
de constrangido, não realiza a conduta pretendida pelo agente. Esta doutrina
professam os penalistas de melhor nota: Nélson Hungria, Comentários ao
Código Penal, 1980, vol. VII, p. 77; Heleno Cláudio Fragoso, Lições de Direito
Penal, Parte Especial, 11a. ed., vol. I, p. 217; Damásio E. de Jesus, Código
Penal Anotado, 18a. ed., p. 610, etc.
— Se o agente, contudo, entra na posse (ainda que efêmera), do dinheiro exigido à
vítima, reputa-se consumada a extorsão, pois obtivera vantagem indevida
mediante grave ameaça.
27
Voto nº 3834

Apelação Criminal nº 1.309.051/3


Arts. 158, § 1º, e 14, nº II, do Cód. Penal

— É réu de crime de extorsão (art. 158 do Cód. Penal) o sujeito que constrange
mulher casada a entregar-lhe dinheiro, senão revelaria a terceiros fatos e fotos
impublicáveis de sua vida privada.
— Embora crime formal, admite a extorsão tentativa, se o sujeito passivo, apesar
de constrangido, não realiza a conduta pretendida pelo agente. Esta é a
doutrina que professam os penalistas de melhor nota, v.g.: Nélson Hungria,
Comentários ao Código Penal, 1980, vol. VII, p. 77; Heleno Cláudio Fragoso,
Lições de Direito Penal, Parte Especial, 11a. ed., vol. I, p. 217, e Damásio E. de
Jesus, Código Penal Anotado, 9a. ed., p. 554.
—“A adotar-se a tese de que a extorsão atinge a consumação com o simples
constrangimento, ter-se-á de aceitar a consequência lógica de aplicá-la aos
crimes que apresentam a mesma construção típica. (…) Assim, consumar-se-
-ia o constrangimento ilegal com a violência ou grave ameaça (CP art. 146)”
(Damásio E. de Jesus, Novíssimas Questões Criminais, 2a. ed., p. 22).
— Os estigmas que se imprimem na alma dificilmente pode o tempo remediar. É
que, segundo aquilo de célebre autor, “acabando tudo com a morte, só a
desonra não acaba, porque o labéu ainda vive mais do que quem o padece”
(Matias Aires, Reflexões sobre a Vaidade dos Homens, 1752, p. 42).
28
Voto nº 2388

Apelação Criminal nº 1.208.541/8


Art. 158, § 1º, do Cód. Penal

— Desde a mais alta antiguidade, teve-se a confissão pela rainha das provas
(“regina probationum”), porque repugna à natureza afirme alguém contra si
fato que não saiba verdadeiro.
—“A confissão do delito vale não pelo lugar onde é prestada, mas pela força de
convencimento que nela se contém” (STF; Rev. Trim. Jurisp., vol. 95, p. 564;
rel. Min. Cordeiro Guerra).
— Embora crime formal, admite a extorsão tentativa, se o sujeito passivo, apesar
de constrangido, não realiza a conduta pretendida pelo agente. Esta doutrina
professam os penalistas de melhor nota: Nélson Hungria, Comentários ao
Código Penal, 1980, vol. VII, p. 77; Heleno Cláudio Fragoso, Lições de Direito
Penal, Parte Especial, 11a. ed., vol. I, p. 217; Damásio E. de Jesus, Código
Penal Anotado, 8a. ed., p. 534, etc.
— Se o agente, contudo, entra na posse (ainda que efêmera) do dinheiro exigido
à vítima, reputa-se consumada a extorsão, pois obtivera vantagem indevida
mediante grave ameaça.

Voto nº 10.144

Apelação Criminal nº 1.064.252-3/0-00


Arts. 158, § 1º, e 14, nº II, do Cód. Penal;
art. 386, ns. IV e VI, do Cód. Proc. Penal

— Embora crime formal, admite a extorsão tentativa, se o sujeito passivo, apesar


de constrangido, não realiza a conduta pretendida pelo agente. Esta doutrina
professam os penalistas de melhor nota: Nélson Hungria, Comentários ao
Código Penal, 1980, vol. VII, p. 77; Heleno Cláudio Fragoso, Lições de Direito
Penal, Parte Especial, 11a. ed., vol. I, p. 217; Damásio E. de Jesus, Código
Penal Anotado, 18a. ed., p. 610, etc.
— Interpretar “é descobrir a vontade da lei” (Vicente de Azevedo, Apostilas de
Direito Judiciário Penal, 1952, vol. I, p. 56).
— O regime fechado, no início, é o que unicamente se aproposita ao autor de
extorsão qualificada (crime da última graveza e abjeção), que argui em quem o
pratica entranhada rebeldia à disciplina social (art. 158, § 1º, do Cód. Penal).
29
Voto nº 10.782

Apelação Criminal nº 990.08.008156-0


Arts. 158, § 1º , e 157, § 2º, ns. I, II e V, do Cód. Penal;
arts. 71 e 72 do Cód. Penal

— A palavra da vítima, se não contestada com firmeza pela prova dos autos, pode
ensejar a condenação de autor de roubo, uma vez que, protagonista do fato
delituoso, é a principal interessada na realização de justiça.
— A confissão, máxime a prestada em Juízo, vale como prova do fato e de sua
autoria, se não ilidida por elementos de convicção firmes e idôneos. Donde a
antiga parêmia: “A confissão judicial é das melhores provas; quem confessa,
contra si profere a sentença” (apud Cândido Mendes de Almeida, Auxiliar
Jurídico, 1985, t. II, p. 530).
— Crimes da mesma espécie, o roubo e a extorsão, quando praticados nas
circunstâncias do art. 71 do Cód. Penal, configuram continuidade delitiva,
não concurso material de infrações. É desse número, portanto, o caso de
delinquentes que, após consumar o roubo, “forçam a vítima a acompanhá-los
à caixa eletrônica para sacar o dinheiro” (cf. Rev. Tribs., vol. 765, p. 572).
— O regime fechado, no início, é o que unicamente se aproposita ao autor de
roubo (crime da última graveza e abjeção), que argui em quem o pratica
entranhada rebeldia à disciplina social.
30
Voto nº 9759

Apelação Criminal nº 884.194-3/2-00


Art. 158, § 1º, do Cód. Penal;
art. 157 do Cód. Proc. Penal

—“O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova” (art. 157 do
Cód. Proc. Penal).
—“O juiz criminal é, assim, restituído à sua própria consciência” (Francisco
Campos, Exposição de Motivos do Código de Processo Penal, nº VII).
— Na prova do crime e de sua autoria tem a palavra da vítima grande peso e
alcance: pode justificar solução condenatória da lide penal, se em harmonia
com os mais elementos do processo.
— Não carece de fundamentação a sentença que, patenteando os motivos
do convencimento do Magistrado, rende ensejo ao réu de impugná-la
amplamente.
— A gravidade da ameaça, no crime de extorsão, deve inferir-se das circunstâncias
pessoais da vítima. Se esta recorreu à proteção do Estado, comunicando o fato à
Polícia, há forte indício de que a intimidação foi séria e eficaz.
—“O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da
vantagem indevida” (Súmula nº 96 do STJ).
31
Voto nº 10.300

Apelação Criminal nº 993.08.022141-3


Arts. 158, § 1º, e 14, nº II, do Cód. Penal;
arts. 12 e 16 da Lei nº 6.368/76;
arts. 202 e 384, parág. único, do Cód. Proc. Penal;
arts. 28, 33 e 40, nº VI, da Lei nº 11.343/06

— A inidoneidade das testemunhas não se presume; ao arguente impõe-se


demonstrar, além de toda a controvérsia, que faltaram à verdade ou caíram em
erro de informação. É que, na busca da verdade real – alma e escopo do
processo –, “toda pessoa poderá ser testemunha” (art. 202 do Cód. Proc.
Penal).
— A desclassificação do crime do art. 33 da Lei nº 11.343/06 para o tipo do art. 28
não se mostra atendível, se o réu trazia consigo, em pacotes apreendidos pela
Polícia, considerável quantidade de substância entorpecente, pois tal
circunstância revela que o tóxico se destinava ao comércio ilícito, e não ao uso
próprio.
— Reputa-se de bom quilate – e, pois, merece preservada dos tiros da crítica –
a sentença que, forte nas declarações da vítima e no testemunho policial,
decreta a condenação de autor de crime de extorsão (art. 158 do Cód. Penal).
— Embora crime formal, admite a extorsão tentativa, se o sujeito passivo, apesar
de constrangido, não realiza a conduta pretendida pelo agente. Esta doutrina
professam os penalistas de melhor nota: Nélson Hungria, Comentários ao
Código Penal, 1980, vol. VII, p. 77; Heleno Cláudio Fragoso, Lições de Direito
Penal, Parte Especial, 11a. ed., vol. I, p. 217; Damásio E. de Jesus, Código
Penal Anotado, 18a. ed., p. 610, etc.).
32
Voto nº 10.930

Apelação Criminal nº 993.07.036483-1


Arts. 158, § 1º, e art. 14, nº II, do Cód. Penal;
arts. 386, nº III, do Cód. Proc. Penal

— Desde a mais alta antiguidade, teve-se a confissão pela rainha das provas
(“regina probationum”), porque repugna à natureza afirme alguém contra si
fato que não saiba verdadeiro.
—“A confissão do delito vale não pelo lugar onde é prestada, mas pela força de
convencimento que nela se contém” (STF; Rev. Trim. Jurisp., vol. 95, p. 564;
rel. Min. Cordeiro Guerra).
— Reputa-se de bom quilate – e, pois, merece preservada dos tiros da crítica –
a sentença que, forte nas declarações da vítima, no testemunho policial e em
gravações telefônicas, decreta a condenação de autor de crime de extorsão
(art. 158 do Cód. Penal).
— Embora crime formal, admite a extorsão tentativa, se o sujeito passivo, apesar
de constrangido, não realiza a conduta pretendida pelo agente. Esta doutrina
professam os penalistas de melhor nota: Nélson Hungria, Comentários ao
Código Penal, 1980, vol. VII, p. 77; Heleno Cláudio Fragoso, Lições de Direito
Penal, Parte Especial, 11a. ed., vol. I, p. 217; Damásio E. de Jesus, Código
Penal Anotado, 18a. ed., p. 610, etc.
— Se o agente, contudo, entra na posse (ainda que efêmera), do dinheiro exigido à
vítima, reputa-se consumada a extorsão, pois obtivera vantagem indevida
mediante grave ameaça.
— Interpretar “é descobrir a vontade da lei” (Vicente de Azevedo, Apostilas de
Direito Judiciário Penal, 1952, vol. I, p. 56).
— O regime fechado, no início, é o que unicamente se aproposita ao autor de
extorsão qualificada (crime da última graveza e abjeção), que argui em quem o
pratica entranhada rebeldia à disciplina social (art. 158, § 1º, do Cód. Penal).
33
Voto nº 11.089

Apelação Criminal nº 990.08.091820-6


Art. 158 do Cód. Penal

— Reputa-se de bom quilate – e, pois, merece preservada dos tiros da crítica –


a sentença que, forte nas declarações da vítima e no testemunho de pessoas
idôneas, decreta a condenação de autor de crime de extorsão
(art. 158 do Cód. Penal).
—“A gravidade da ameaça deve ser apurada em cada caso, atendendo às
condições do fato e às personalidades do agente e da vítima” (JTACrimSP,
vol. 68, p. 273; apud Celso Delmanto, Código Penal Comentado, 5a. ed.,
p. 331).
— O regime fechado, no início, é o que unicamente se aproposita ao autor de
extorsão qualificada (crime da última graveza e abjeção), que argui em quem
o pratica entranhada rebeldia à disciplina social (art. 158 do Cód. Penal).

Voto nº 12.114

Apelação Criminal nº 993.06.056579-6


Arts. 157, § 2º, ns. I e II; 159, “caput”, e 69 do Cód. Penal;
Súmula nº 231 do STJ

—“A flagrância é talvez a mais eloquente prova da autoria de um crime” (Hélio


Tornaghi, Curso de Processo Penal, 1980, vol. II, p. 33).
— A palavra da vítima é a pedra angular do edifício probatório: se em harmonia
com os mais elementos dos autos justifica a procedência da pretensão punitiva
e a condenação do réu.
—“No sequestro, desde que a privação da liberdade de locomoção constitua meio
ou elemento de outro crime, perde o sequestro a sua autonomia e é absorvido
por este crime” (Rev. Tribs., vol. 491, p. 275; rel. Hoeppner Dutra).
34
Voto nº 11.414

Apelação Criminal nº 993.07.095590-2


Arts. 158, § 1º; 26 e 71 do Cód. Penal;
art. 19 da Lei nº 6.368/76

— Embora viciado em drogas, não tem jus o réu à redução de penas do parág.
único do art. 26 do Cód. Penal, se o laudo médico-legal o considerou
absolutamente imputável.
— A confissão judicial do réu tem valor absoluto como meio de prova; pela
presunção de sua autenticidade, pode autorizar a edição de decreto
condenatório.
— Crimes da mesma espécie, o roubo e a extorsão, quando praticados nas
circunstâncias do art. 71 do Cód. Penal, configuram continuidade delitiva,
não concurso material de infrações. É desse número, portanto, o caso de
delinquentes que, após consumar o roubo, “forçam a vítima a acompanhá-los
à caixa eletrônica para sacar o dinheiro” (cf. Rev. Tribs., vol. 765,
p. 572; rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro).
— O regime prisional fechado é o que justamente convém ao condenado pela
prática de roubo, ainda que primário e de bons antecedentes. A natureza do
crime (que a sociedade ostensivamente aborrece) e a índole de quem o comete
(infensa aos padrões éticos normais) são as que o recomendam.
35
Voto nº 11.422

Apelação Criminal nº 993.07.033932-2


Arts. 159, § 1º; 214, “caput”, e 288, parág. único, do Cód. Penal;
art. 386 do Cód. Proc. Penal;
arts. 1º, ns. V e VI, e 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90

— É cabível o recurso de apelação, contra sentença absolutória, com o fim


exclusivo de modificar-lhe o fundamento legal (cf. José Frederico Marques,
Elementos de Direito Processual Penal, 2a. ed., vol. IV, p. 312; Millennium
Editora).
— A palavra da vítima passa por excelente meio de prova e autoriza decreto
condenatório, se em conformidade com outros elementos de convicção reunidos
no processado.
—“A palavra da vítima em sede de crime contra os costumes, por conseguinte,
representa elemento de suma valia e significativa importância” (Fernando de
Almeida Pedroso, Prova Penal, 2a. ed., p. 79).
— O autor de extorsão mediante sequestro (art. 159 do Cód. Penal), crime da
classe dos hediondos, deve cumprir sua pena sob o regime inicial fechado, por
expressa disposição do art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90.
— Em bom direito, é princípio inconcusso que, sem a certeza da materialidade e
da autoria da infração penal, ninguém pode ser condenado. Esta é a regra de
ouro de todo o julgador.
— Dúvida, em Direito Penal, é o outro nome da falta de prova, o que obriga
à absolvição, conforme aquilo do venerável prolóquio: “In dubio pro reo”.
36
Voto nº 8272

“Habeas Corpus” nº 1.055.043-3/6-00


Arts. 159, § 1º, e 69 do Cód. Penal;
arts. 310, 312 e 648, nº I, do Cód. Proc. Penal;
art. 5º, nº LXVII, da Const. Fed.

— Matéria de alta indagação, como a que entende com a autoria do fato ou com o
elemento moral do crime (dolo), é insuscetível de exame em processo de
“habeas corpus”, de rito sumaríssimo; apenas tem lugar na instância ordinária,
com observância da regra do contraditório. Trancamento de ação penal por
falta de justa causa unicamente se admite quando comprovada, ao primeiro
súbito de vista, a atipicidade do fato imputado ao réu, ou a sua inocência (art.
648, nº I, do Cód. Proc. Penal).
—“Exame de provas em habeas corpus é cabível desde que simples, não
contraditória e que não deixe alternativa à convicção do julgador” (STF; HC;
rel. Min. Clóvis Ramalhete; DJU 18.9.81, p. 9.157).
— Não tem jus à liberdade provisória o autor de extorsão, pela falta de requisito
intrínseco: inocorrência de hipótese que autorize a prisão preventiva (art. 310,
parág. único, do Cód. Proc. Penal).
— A natureza e a gravidade do crime de extorsão mediante sequestro impedem se
outorgue a seu autor, ainda que primário e de bons antecedentes, o benefício
da liberdade provisória. A defesa dos direitos e interesses da sociedade é que
reclama a segregação, até a decisão final de mérito, daquele que violou
profundamente a ordem jurídica (art. 159, § 1º, do Cód. Penal).
— Liberdade provisória (art. 310 do Cód. Proc. Penal), em obséquio ao princípio
da hierarquia das Instâncias, deve o réu primeiro requerer ao Juiz da causa,
cuja decisão estará sujeita a reexame pelo Tribunal. Pretender conheça dele
diretamente o Tribunal é subverter princípio basilar do sistema judiciário.
—“Torna-se insuscetível de conhecimento o habeas corpus em cujo âmbito o
impetrante não indique qualquer ato concreto que revele, por parte da
autoridade apontada como coatora, a prática de comportamento abusivo ou
de conduta revestida de ilicitude” (STF; HC nº 72.888-0; rel. Min. Celso de
Mello; DJU 29.3.96, p. 9.345).
37
Voto nº 2482

Apelação Criminal nº 1.219.425/6


Art. 159, § 1º, do Cód. Penal;
art. 5º, nº LXIII, da Const. Fed.

— O réu que é inocente declara-o desde logo, movido da própria razão natural, que
ordena a todo o indivíduo se defenda de injusta acusação; quem se refugia no
silêncio, embora direito seu previsto na Constituição da República (art. 5º, nº
LXIII), esse dá a conhecer que não tinha que responder à acusação, por
verdadeira. Donde o prestígio do venerável brocardo “qui tacet, consentire
videtur” (quem cala, consente).
—“Quando grosseiramente inverossímil, a defesa do réu é mais um indício de
sua culpabilidade” (Nélson Hungria, in Jurisprudência, vol. 13, p. 236).
— Se primário o autor do crime de extorsão mediante sequestro (art. 159 do Cód.
Penal), não repugna ao nosso direito fixar-lhe a pena mínima, por amor dos
princípios que regem a política criminal; pois, ainda em seu grau mínimo,
a pena cominada ao delito é já em extremo acerba, de tal arte que somente
concorrendo circunstâncias excepcionais se lhe justifica a exasperação.

Voto nº 5275

Apelação Criminal nº 1.398.223/1


Art. 89 da Lei nº 9.099/95;
art. 146 do Cód. Penal

— Segundo a melhor exegese do art. 89 da Lei nº 9.099/95, não faz jus


ao benefício da suspensão condicional do processo o réu que esteja
respondendo a outros feitos criminais ou tenha maus antecedentes.
— Incorre na censura da lei, por violação do art. 146 do Cód. Penal, o agente de
segurança de supermercado que, sob alegação de que produtos adquiridos pelo
consumidor não haviam passado pela caixa registradora, obriga-o –
atribuindo-se a condição de policial (e, pois, ameaçadoramente) – a
acompanhá-lo do estacionamento de veículos ao interior do estabelecimento
comercial, onde, com grande estrépito e perante a curiosidade popular, esvazia-
-lhe o carrinho de compras, sem no entanto nada apurar de anormal ou ilícito.
38
Voto nº 405

“Habeas Corpus” nº 305.970/4


Art. 158, § 1º, do Cód. Penal;
art. 41 do Cód. Proc. Penal

— O rigor formal que se requer da denúncia é em obséquio ao pleno exercício do


direito de defesa. Ora, no caso, o réu não somente articulou, por seu patrono,
defesa integral, senão que – e aqui bate o ponto – pôde fazê-lo com
inexcedível proficiência. Pelo que, não incorreu a denúncia na clássica censura
de ineptidão.
—“A imprecisão da denúncia deixa de acarretar nulidade, quando os elementos
que a instruem suprem as suas deficiências” (Rev. Forense, vol. 118, p. 557).
— Não merece impugnado o depoimento só porque foi a vítima quem o prestou; é
ela a que está em melhores condições de discorrer do fato delituoso, visto sua
protagonista. As palavras da vítima, por conseguinte, devem ser recebidas por
expressão da verdade, que só a prova de que foi obra da mentira e da malícia
pode ilidir. Não desconvém notar que “a verdade é mais frequente na boca dos
homens que a mentira” (apud Antonio Dellepiane, Nova Teoria da Prova,
1958, p. 140; trad. Érico Maciel).
—“Comete o crime de extorsão quem, mediante violência ou grave ameaça,
constrange alguém a entregar-lhe dinheiro do qual se apodera, ainda que sob
pretexto de que o numerário lhe é devido” (Rev. Forense, vol. 175, p. 328).
39
Voto nº 4883

Revisão Criminal nº 436.378/4


Arts. 157, § 2º, ns. I e II, e 159, “caput”, do Cód. Penal;
art. 621, nº I, do Cód. Proc. Penal

—“A palavra da vítima é a viga mestra da estrutura probatória, e a sua


acusação, firme e segura, em consonância com as demais provas, autoriza a
condenação” (Rev. Tribs., vol. 750, p. 682).
— Diz-se consumado o roubo se o agente, ainda que por breve lapso de tempo, tem
a posse desvigiada da coisa subtraída à vítima mediante violência ou grave
ameaça.
— Incorre nas penas do art. 159 do Cód. Penal (extorsão mediante sequestro) o
sujeito que priva outrem da faculdade de locomoção, com o intuito de obter
vantagem como condição ou preço do resgate.
— É questão vencida que, em sede de revisão criminal, toca ao peticionário provar,
com firmeza, que a sentença condenatória contraveio à realidade dos autos. Na
forma do art. 156 do Cód. Proc. Penal, pertence-lhe o ônus da prova.
— Contrária à evidência é só aquela decisão que de todo se afasta das provas
coligidas nos autos.
40
Voto nº 6505

“Habeas Corpus” nº 873.317-3/0-00


Arts. 288, parág. único; 159, § 1º, e 157 do Cód. Penal;
arts. 310, parág. único, e 648, nº I, do Cód. Proc. Penal;
art. 5º, nº LVII, da Const. Fed.

— Na esfera do “habeas corpus”, onde todas as alegações devem estar cabalmente


comprovadas, não se admite exame aprofundado de matéria de fato. Por isso,
pedido de trancamento de ação penal por falta de justa causa (art. 648, nº I, do
Cód. Proc. Penal) somente se defere quando demonstrada, além de toda a
dúvida, a ilegitimidade da coação.
— Presente o “fumus boni juris”, ou justa causa para a ação penal, é defeso
atalhar o curso do processo, visto constitui o meio regular “para a averiguação
do crime e da autoria e para o julgamento da ilicitude e da culpabilidade”
(Hélio Tornaghi, Curso de Processo Penal, 1980, vol. I, p. 3).
— Não tem jus à liberdade provisória o autor de extorsão, pela falta de requisito
intrínseco: inocorrência de hipótese que autorize a prisão preventiva (art. 310,
parág. único, do Cód. Proc. Penal).
— A natureza e a gravidade do crime de extorsão mediante sequestro impedem se
outorgue a seu autor, ainda que primário e de bons antecedentes, o benefício da
liberdade provisória. A defesa dos direitos e interesses da sociedade é
que reclama a segregação, até a decisão final de mérito, daquele que violou
profundamente a ordem jurídica (art. 159, § 1º, do Cód. Penal).
41
Voto nº 6517

“Habeas Corpus” nº 879.668-3/4-00


Arts. 157, § 2º, ns. I, II e V; 148 e 158, § 1º, do Cód. Penal;
Súmula nº 52 do STJ

— Inscreve-se entre os mais estimáveis direitos do réu preso o de ser processado,


rigorosamente, nos prazos previstos em lei. É que, privado da liberdade – bem
preciosíssimo do homem –, não parecera lícito agravar-lhe o sofrimento,
dilatando os dias de sua permanência no cárcere.
— É inteligência consolidada em todos os Tribunais de Justiça do País que
somente o excesso de prazo injustificado constitui constrangimento ilegal, não
a demora decorrente da ausência de testemunhas, se intimadas na forma da lei,
pois não está nas mãos de Juiz, ainda o mais diligente, prevenir motivos de
força maior que obstam à realização do ato processual.
—“Encerrada a instrução criminal, fica superada a alegação de constrangimento
por excesso de prazo” (Súmula nº 52 do STJ).
— Não tem jus à liberdade provisória o autor de extorsão, pela falta de requisito
intrínseco: inocorrência de hipótese que autorize a prisão preventiva (art. 310,
parág. único, do Cód. Proc. Penal).
— A natureza e a gravidade do crime de extorsão impedem se outorgue a seu
autor, ainda que primário e de bons antecedentes, o benefício da liberdade
provisória. A defesa dos direitos e interesses da sociedade é que reclama
a segregação, até a decisão final de mérito, daquele que violou profundamente
a ordem jurídica (art. 158, § 1º, do Cód. Penal).
42
Voto nº 7694

Apelação Criminal nº 409.651-3/3-00

Arts. 157, § 2º, ns. I e II, e 159 do Cód. Penal;


arts. 10, “caput”, e 10, § 2º, da Lei nº 9.437/97;
art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90; art. 5º, nº XLIII, da Const. Fed.

— Desde que acorde com os mais elementos de prova dos autos, a confissão
policial constitui prova idônea de autoria delituosa e justifica edição de decreto
condenatório.
— A palavra da vítima passa por excelente meio de prova e autoriza decreto
condenatório, se em conformidade com os outros elementos de convicção
reunidos no processado.
—“Quando grosseiramente inverossímil, a defesa do réu é mais um indício de
sua culpabilidade” (Nélson Hungria, in Jurisprudência, vol. 13, p. 236).
— A apreensão da “res furtiva” em poder de terceiro que lhe não saiba justificar a
posse, constitui indício veemente de autoria de crime, pois, segundo o aforismo
jurídico, a coisa, onde quer que esteja, é de seu dono (“res ubicumque est sui
domini est”).
—“Responde por roubos em concurso formal o sujeito que, num só contexto de
fato, pratica violência ou grave ameaça contra várias pessoas, produzindo
multiplicidade de violações possessórias” (Damásio E. de Jesus, Código Penal
Anotado, 17a. ed., p. 588).
— O reconhecimento de concurso material entre os tipos previstos no art. 10,
“caput”, e 10, § 2º, da Lei nº 9.437/97 repugna à dogmática jurídica, por ferir de
frente o princípio da consunção: o delito mais grave absorve o menor (“major
absorbet minorem”).
—“A pena para crime considerado hediondo deve ser cumprida em regime
integralmente fechado” (STJ; rel. Min. José Arnaldo; in Revista do Superior
Tribunal de Justiça, vol. 105, p. 403).
43
Voto nº 8173

“Habeas Corpus” nº 1.057.176-3/7-00


Art. 158 do Cód. Penal;
arts. 310, parág. único, 312 e 648, nº I, do Cód. Proc. Penal;
arts. 5º, nº LVII, e 93, nº IX, da Const. Fed.

— Não entra em dúvida que, a despeito do princípio da presunção de inocência,


consagrado na Constituição da República (art. 5º, nº LVII), subsiste a
providência da prisão preventiva, quando conspiram os requisitos legais do art.
312 do Código de Processo Penal: garantia da ordem pública, conveniência da
instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, desde que
comprovada a materialidade da infração penal e veementes indícios de sua
autoria.
— Não requer o despacho de prisão preventiva o mesmo rigor que deve encerrar a
decisão definitiva de condenação. É o escólio de Damásio E. de Jesus ao
art. 312 do Cód. Proc. Penal: “A prisão preventiva exige prova bastante da
existência do crime e indícios suficientes de autoria. Não é necessária a
mesma certeza que deve ter o juiz para a condenação do réu” (cf. Código de
Processo Penal Anotado, 21a. ed., p. 246).
— Não tem jus à liberdade provisória o autor de extorsão, pela falta de requisito
intrínseco: inocorrência de hipótese que autorize a prisão preventiva (art. 310,
parág. único, do Cód. Proc. Penal).
— Matéria de alta indagação, como a que entende com a autoria do fato ou com
o elemento moral do crime (dolo), é insuscetível de exame em processo de
“habeas corpus”, de rito sumaríssimo; apenas tem lugar na instância ordinária,
com observância da regra do contraditório. Trancamento de ação penal
por falta de justa causa unicamente se admite quando comprovada,
ao primeiro súbito de vista, a atipicidade do fato imputado ao réu, ou a sua
inocência (art. 648, nº I, do Cód. Proc. Penal).
—“Exame de provas em habeas corpus é cabível desde que simples, não
contraditória e que não deixa alternativa à convicção do julgador” (STF; HC;
rel. Min. Clóvis Ramalhete; DJU 18.9.81, p. 9.157).
44
Voto nº 4883

Revisão Criminal nº 436.378/4


Arts. 157, § 2º, ns. I e II, e 159, “caput”, do Cód. Penal;
art. 621, nº I, do Cód. Proc. Penal

—“A palavra da vítima é a viga mestra da estrutura probatória, e a sua


acusação, firme e segura, em consonância com as demais provas, autoriza
a condenação” (Rev. Tribs., vol. 750, p. 682).
— Diz-se consumado o roubo se o agente, ainda que por breve lapso de tempo, tem
a posse desvigiada da coisa subtraída à vítima mediante violência ou grave
ameaça.
— Incorre nas penas do art. 159 do Cód. Penal (extorsão mediante sequestro) o
sujeito que priva outrem da faculdade de locomoção, com o intuito de obter
vantagem como condição ou preço do resgate.
— É questão vencida que, em sede de revisão criminal, toca ao peticionário provar,
com firmeza, que a sentença condenatória contraveio à realidade dos autos. Na
forma do art. 156 do Cód. Proc. Penal, pertence-lhe o ônus da prova.
— Contrária à evidência é só aquela decisão que de todo se afasta das provas
coligidas nos autos.
45
Voto nº 6505

“Habeas Corpus” nº 873.317-3/0-00


Arts. 157, 159, § 1º, e 288 do Cód. Penal;
arts. 310 e 648, nº I, do Cód. Proc. Penal

— Na esfera do “habeas corpus”, onde todas as alegações devem estar cabalmente


comprovadas, não se admite exame aprofundado de matéria de fato. Por isso,
pedido de trancamento de ação penal por falta de justa causa (art. 648, nº I, do
Cód. Proc. Penal) somente se defere quando demonstrada, além de toda a
dúvida, a ilegitimidade da coação.
— Presente o “fumus boni juris”, ou justa causa para a ação penal, é defeso
atalhar o curso do processo, visto constitui o meio regular “para a averiguação
do crime e da autoria e para o julgamento da ilicitude e da culpabilidade”
(Hélio Tornaghi, Curso de Processo Penal, 1980, vol. I, p. 3).
— Não tem jus à liberdade provisória o autor de extorsão, pela falta de requisito
intrínseco: inocorrência de hipótese que autorize a prisão preventiva (art. 310,
parág. único, do Cód. Proc. Penal).
— A natureza e a gravidade do crime de extorsão mediante sequestro impedem se
outorgue a seu autor, ainda que primário e de bons antecedentes, o benefício da
liberdade provisória. A defesa dos direitos e interesses da sociedade é
que reclama a segregação, até a decisão final de mérito, daquele que violou
profundamente a ordem jurídica (art. 159, § 1º, do Cód. Penal).
46
Voto nº 6517

“Habeas Corpus” nº 879.668-3/4-00


Arts. 157, § 2º, ns. I, II e V; 148 e 158, § 1º, do Cód. Penal;
Súmula nº 52 do STJ

— Inscreve-se entre os mais estimáveis direitos do réu preso o de ser processado,


rigorosamente, nos prazos previstos em lei. É que, privado da liberdade – bem
preciosíssimo do homem –, não parecera lícito agravar-lhe o sofrimento,
dilatando os dias de sua permanência no cárcere.
— É inteligência consolidada em todos os Tribunais de Justiça do País que
somente o excesso de prazo injustificado constitui constrangimento ilegal, não
a demora decorrente da ausência de testemunhas, se intimadas na forma da lei,
pois não está nas mãos de Juiz, ainda o mais diligente, prevenir motivos de
força maior que obstam à realização do ato processual.
—“Encerrada a instrução criminal, fica superada a alegação de constrangimento
por excesso de prazo” (Súmula nº 52 do STJ).
— Não tem jus à liberdade provisória o autor de extorsão, pela falta de requisito
intrínseco: inocorrência de hipótese que autorize a prisão preventiva (art. 310,
parág. único, do Cód. Proc. Penal).
— A natureza e a gravidade do crime de extorsão impedem se outorgue a seu
autor, ainda que primário e de bons antecedentes, o benefício da liberdade
provisória. A defesa dos direitos e interesses da sociedade é que reclama a
segregação, até a decisão final de mérito, daquele que violou profundamente a
ordem jurídica (art. 158, § 1º, do Cód. Penal).
47
Voto nº 7694

Apelação Criminal nº 409.651-3/3-00


Arts. 157, § 2º, ns. I e II, e 159 do Cód. Penal;
arts. 10, “caput”, e 10, § 2º, da Lei nº 9.437/97

— Desde que acorde com os mais elementos de prova dos autos, a confissão
policial constitui prova idônea de autoria delituosa e justifica edição de decreto
condenatório.
— A palavra da vítima passa por excelente meio de prova e autoriza decreto
condenatório, se em conformidade com os outros elementos de convicção
reunidos no processado.
—“Quando grosseiramente inverossímil, a defesa do réu é mais um indício
de sua culpabilidade” (Nélson Hungria, in Jurisprudência, vol. 13, p. 236).
— A apreensão da “res furtiva” em poder de terceiro que lhe não saiba justificar a
posse, constitui indício veemente de autoria de crime, pois, segundo o aforismo
jurídico, a coisa, onde quer que esteja, é de seu dono (“res ubicumque est sui
domini est”).
—“Responde por roubos em concurso formal o sujeito que, num só contexto de
fato, pratica violência ou grave ameaça contra várias pessoas, produzindo
multiplicidade de violações possessórias” (Damásio E. de Jesus, Código Penal
Anotado, 17a. ed., p. 588).
— O reconhecimento de concurso material entre os tipos previstos no art. 10,
“caput”, e 10, § 2º, da Lei nº 9.437/97 repugna à dogmática jurídica, por ferir de
frente o princípio da consunção: o delito mais grave absorve o menor (“major
absorbet minorem”).
—“A pena para crime considerado hediondo deve ser cumprida em regime
integralmente fechado” (STJ; rel. Min. José Arnaldo; in Revista do Superior
Tribunal de Justiça, vol. 105, p. 403).
48
Voto nº 7173

“Habeas Corpus” nº 958.669-3/4-00


Arts. 12 e 18, nº III, da Lei nº 6.368/76;
arts. 310 e 798, § 4º, Cód. Proc. Penal

— Inscreve-se entre os mais estimáveis direitos do réu preso o de ser processado,


rigorosamente, nos prazos previstos em lei. É que, privado da liberdade – bem
preciosíssimo do homem –, não parecera lícito agravar-lhe o sofrimento,
dilatando os dias de sua permanência no cárcere.
—“Não se configura coação ilegal quando o excesso de prazo na formação da
culpa decorre de incidentes processuais não imputáveis ao juiz do processo
ou ao Ministério Público” (Jurisp. do STJ, vol. 8, p. 236)
—“Encerrada a instrução criminal, fica superada a alegação de constrangimento
por excesso de prazo” (Súmula nº 52 do STJ).
— É inteligência consolidada em todos os Tribunais de Justiça do País que
somente o excesso de prazo injustificado constitui constrangimento ilegal,
não a demora decorrente da instauração de incidente de verificação de
dependência toxicológica, requerida pela defesa do réu, que tem o caráter
de força maior, motivo de suspensão do curso dos prazos (art. 898, § 4º, do Cód.
Proc. Penal).
— Por expressa disposição legal, não tem direito a liberdade provisória quem
é acusado de tráfico de entorpecentes, crime do número dos “hediondos”
(art. 2º, nº II, da Lei nº 8.072/90).
49
Voto nº 9146

Embargos de Declaração nº 409.651-3/5-01


Arts. 157, § 2º, ns I e II, e 159 do Cód. Penal;
arts. 563 e 619 do Cód. Proc. Penal;
art. 10, § 2º, da Lei nº 9.437/97;
art. 5º, nº XLIII, da Const. Fed.

— Tem lá seu valor a confissão do réu na Polícia, máxime se feita em presença de


curador e ajustada aos mais elementos de prova dos autos.
—“A confissão do delito vale não pelo lugar em que é prestada, mas pela força de
convencimento que nela se contém” (STF; Rev. Trim. Jurisp., vol. 95, p. 564;
rel. Min. Cordeiro Guerra).
— A arguição de nulidade por falta de apreciação de teses da Defesa não
prevalece contra a sentença, cuja conclusão se mostre com elas inconciliável. É
que a sentença precisa ser lida como discurso lógico (STF; Resp nº 47.474/RS;
6a. Turma; rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro; DJU 24.10.94, p. 28.790).
— Os embargos de declaração destinam-se apenas a corrigir “ambiguidade,
obscuridade, contradição ou omissão” (art. 619 do Cód. Proc. Penal); falece-
-lhes o caráter infringente ou modificativo do julgado. É impossível, pois, em
seu âmbito, versar o mérito da causa.
—“Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a
acusação ou para a defesa” (art. 563 do Cód. Proc. Penal).
— Os embargos de declaração não têm caráter infringente; não se prestam, pois, a
obter modificação do mérito do julgado.
50
Voto nº 9709

Apelação Criminal nº 404.169-3/7-00


Arts. 148, “caput”, 157, § 2º, ns. I, II e V, e 158, § 1º, do Cód. Penal;
art. 386, nº III, do Cód. Proc. Penal;
art. 1.196 do Cód. Civil

— A confissão judicial do réu tem valor absoluto como meio de prova; pela
presunção de sua autenticidade, pode autorizar a edição de decreto
condenatório.
— Particular importância têm as palavras da vítima, nos casos de roubo. Sujeito
principalíssimo do evento delituoso, suas palavras unicamente serão
desacreditadas, quando se demonstrar, por modo inequívoco e pleno, que as
contaminou erro ou malícia, uma vez se presume o seu interesse de incriminar
apenas aquele que lhe infligiu o mal injusto e grave.
—“No sequestro, desde que a privação da liberdade de locomoção constitua meio
ou elemento de outro crime, perde o sequestro a sua autonomia e é absorvido
por este crime” (Rev. Tribs., vol. 491, p. 275; rel. Hoeppner Dutra).
— Crimes da mesma espécie, o roubo e a extorsão, quando praticados nas
circunstâncias do art. 71 do Cód. Penal, configuram continuidade delitiva,
não concurso material de infrações. É desse número, portanto, o caso de
delinquentes que, após consumar o roubo, “forçam a vítima a acompanhá-los
à caixa eletrônica para sacar o dinheiro” (cf. Rev. Tribs., vol. 765, p. 572).
— O regime fechado, no início, é o que unicamente se aproposita ao autor de
roubo (crime da última graveza e abjeção), que argui em quem o pratica
entranhada rebeldia à disciplina social.
51
Voto nº 11.341

Apelação Criminal nº 990.08.120282-4


Art. 159, § 1º, do Cód. Penal;
arts. 202 e 226, nº II, do Cód. Proc. Penal;
art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90

— Desde que acorde com os mais elementos de prova dos autos, a confissão
policial constitui prova idônea de autoria delituosa e justifica edição de decreto
condenatório.
— A palavra da vítima passa por excelente meio de prova e autoriza decreto
condenatório, se em conformidade com os outros elementos de convicção
reunidos no processado.
—“Quando grosseiramente inverossímil, a defesa do réu é mais um indício
de sua culpabilidade” (Nélson Hungria, in Jurisprudência, vol. 13, p. 236).
— Vale o depoimento pelo grau de veracidade que encerra. Com respeito aos
policiais, há decisão histórica do Pretório Excelso: “A simples condição de
policial não torna a testemunha impedida ou suspeita” (HC nº 51.577; DJU
7.12.73, p. 9.372; apud Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal Anotado,
23a. ed., p. 185).
— O autor de extorsão mediante sequestro (art. 159 do Cód. Penal), crime da
classe dos hediondos, deve cumprir sua pena sob o regime inicial fechado, por
expressa disposição do art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90.
Casos Especiais

Alguns casos, por suas particulares circunstâncias,


pareceram-me dignos de pormenorizada notícia; vão, por
isso, reproduzidos com o próprio voto.
PODER JUDICIÁRIO

1
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA CÂMARA — SEÇÃO CRIMINAL

Apelação Criminal nº 993.04.024219-3


Comarca: São Paulo
Apelantes: KTA, LB, LCA, BJCN e
Ministério Público
Apelados: Os mesmos

Voto nº 11.125
Relator

— Que melhor prova da autoria do crime que a confissão?!


A lição é de R. Garraud: “parece uma prova superior
a todas as outras. Habemus confitentem reum: a
culpabilidade está estabelecida, não falta senão aplicar
a lei” (Compêndio de Direito Criminal, 1915, vol. II,
p. 208; trad. A.T. de Menezes).

— A inidoneidade das testemunhas não se presume; ao


arguente impõe-se demonstrar, além de toda a
controvérsia, que faltaram à verdade ou caíram em erro
de informação. É que, na busca da verdade real – alma
e escopo do processo –, “toda pessoa poderá ser
testemunha” (art. 202 do Cód. Proc. Penal).
56

— Vale o depoimento pelo grau de veracidade que encerra.


Com respeito aos policiais, há decisão histórica
do Pretório Excelso: “A simples condição de policial
não torna a testemunha impedida ou suspeita” (HC
nº 51.577; DJU 7.12.73, p. 9.372; apud Damásio E. de
Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 22a. ed.,
p. 187).

— Não há desmerecer o valor da palavra da vítima; ao revés,


sua condição de protagonista do evento delituoso é a que
a credencia, sobre todos, a discorrer das circunstâncias
dele.

— Tão só em casos excepcionais, de manifesta contravenção


da verdade sabida, será lícito opor restrições ao teor de
suas palavras. No geral, a palavra da vítima é a primeira
luz que afugenta as sombras sob que se pretende abrigar
a impunidade.

— Muita vez, o silêncio do acusado é a mais clara das


explicações.

— A Lei nº 11.464, de 28.3.2007, atenuou o rigor da Lei dos


Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/90), no que respeita
à progressão no regime prisional de cumprimento de
pena. Se o sentenciado primário tiver dela descontado
já 2/5 – ou 3/5, se reincidente – e conspiram os mais
requisitos legais, faz jus ao benefício (art. 2º, § 2º).

— O autor de extorsão mediante sequestro (art. 159 do


Cód. Penal), crime da classe dos hediondos, deve
cumprir sua pena sob o regime inicial fechado, por força
do preceito do art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90.

1. Da r. sentença que proferiu o MM. Juízo de Direito da 30a. Vara


Criminal da Comarca da Capital, condenando-os a cumprir, no
regime integralmente fechado, a pena de 8 anos de reclusão, por
infração do art. 159, “caput”, do Cód. Penal (extorsão mediante
sequestro), apelaram os réus para este Egrégio Tribunal, no intuito
de reformá-la, o que fez também o ilustre representante do
Ministério Público.
57

I — BJCN e LB, nas razões de apelação de fls. 438/445,


subscritas por diligente e culto patrono, alegam que o conjunto
probatório, frágil e precário, não se afigurava poderoso a lastrear
condenação; pelo que, era força absolvê-los por insuficiência de
prova.

II — KTA e LCA, assistidos de competente advogado, afirmam,


em esmerada peça forense, que os elementos de convicção reunidos
no processado não eram suficientes para autorizar a procedência da
denúncia.

Acrescentam que forte e invencível dúvida os abrigava do rigor


da lei.

Assim, por amor ao princípio que rege os casos duvidosos (“in


dubio pro reo”), não havia senão expedir-lhes decreto absolutório
(fls. 498/505).

III — A douta Promotoria de Justiça, em extenso e percuciente


arrazoado, argumenta que a prova dos autos ensejava a condenação
dos réus também pelo crime de roubo qualificado pelo emprego de
armas e concurso de pessoas (art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód.
Penal). É o que requer à colenda Câmara; se lhe fosse outro, porém,
o entendimento, encarecia a exasperação da pena infligida aos réus
(fls. 401/406).

As partes adversaram os recursos (fls. 434/437, 470/476 e


508/515).

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em firme e incisivo


parecer do Dr. José Eduardo Diniz Rosa, opina pela conversão do
julgamento em diligência, para intimar o digno Assistente da
Acusação (fls. 517/519).
58

Acolhida a proposta da douta Procuradoria-Geral de Justiça


(fls. 520/530), diligenciou-se por intimar o Dr. Luciano Stephan,
advogado do Assistente do Ministério Público. Tudo debalde, porém,
que o referido profissional não foi encontrado em nenhum de seus
endereços (fls. 549/558).

É o relatório.

2. O órgão do Ministério Público deu denúncia contra os réus


porque, no dia 9 de junho de 2003, pelas 20h20, na Rua Francisco
Inácio Solano (Cantinho do Céu), nesta Capital, obrando em
concurso e unidade de propósitos, mediante grave ameaça exercida
com emprego de arma de fogo, subtraíram para si a quantia de
R$ 80,00, em espécie, pertencente ao “Mercado Paraguai”, de
propriedade de Norberto Martinez.

Reza ainda a denúncia que, entre os dias 9 e 10 de junho de


2003, no mesmo local, mediante grave ameaça exercida com
emprego de arma de fogo, sequestraram Norberto Martinez, com o
fim de obter para si o pagamento da importância de R$ 90.000,00,
como preço do resgate.

É dos autos que o veículo “VW/Gol”, ocupado por quatro


indivíduos, parou defronte do estabelecimento da vítima; dele
desceram três, arma de fogo em punho; entraram no estabelecimento,
renderam a vítima e arrastaram-na até ao veículo.

Neste ínterim, consta que terceiro indivíduo se apoderou do


dinheiro da caixa registradora.

A vítima, como se recusasse a entrar no veículo, os malfeitores


agrediram-na e efetuaram dois disparos de arma de fogo para o chão.

Em seguida, levaram-na, à fina força, até um cativeiro, onde


permaneceu amarrada, o rosto embuçado. Ali percebeu a vítima que,
pelas vozes, havia seis pessoas; delas, uma era mulher.
59

Em curso a empreitada criminosa, os réus mantiveram


contacto, por telefone, com a família da vítima e exigiram-lhe, como
preço do resgate, a quantia de R$ 90.000,00, que depois reduziram a
R$ 70.000,00.

A Polícia, à qual a família da vítima comunicara os fatos,


entrou a diligenciar, rastreando as ligações.

No dia seguinte – i.e., 10.6.2003 –, como a vítima já não


ouvisse vozes no local, começou a retirar as amarras e o capuz.
Percebeu, então, que o sujeito responsável por sua guarda – BJCN
– dormia e roncava como um perdido, tendo entre as mãos duas
armas de fogo.

A vítima, num rasgo de ousadia e desespero, pegou de um tijolo


(que lhe deparou o acaso) e deu com ele, por três vezes, na calota
craniana de Benedito, deixando-o desacordado. Ato contínuo,
rompeu em desabalada fuga, levando consigo as armas da sentinela
adormecida.

Tanto que recobrou a liberdade, o refém avisou a família e a


Polícia. Os sequestradores, esses voltaram a ligar para a família da
vítima, ameaçando de morte seus membros, se lhes não devolvessem
as armas de fogo tomadas ao guarda.

Ao rastrear os telefonemas, verificaram os policiais que os


sequestradores se achavam próximos do Pronto Socorro Maria
Antonieta, e para aí se deslocaram.

Foi assim que puderam deitar a mão aos réus BJCN,


AMCS e FJDC, que ocupavam o veículo “VW/Fusca”, placa
BRM-0534/SP; pouco depois, recebiam voz de prisão os mais
integrantes do grupo de criminosos: KTA, LB e LCA, na posse do
automóvel “GM/Monza”, vermelho, placa BPX-0577/SP.
60

Instaurada a “persecutio criminis in judicio”, tramitou o


processo na forma da lei; por fim, a r. sentença de fls. 364/388 julgou
parcialmente procedente a denúncia para, reconhecido crime único,
decretar a condenação dos réus-apelantes, por infração do art. 159,
“caput”, do Código Penal (extorsão mediante sequestro) e, com
fundamento no art. 386, nº III, do Código de Processo Penal, absolvê-
-los da imputação de roubo (art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal).

Os réus FJDC e AMCS a r. sentença absolveu-os por falta de


prova das acusações de roubo e extorsão.

As partes, inconformadas com a decisão de mérito proferida


nos autos da ação penal, apelaram para esta colenda Corte de
Justiça, terçando por sua reforma.

3. A prova dos autos, densa e copiosa, infunde no ânimo de todo


aquele que os versar com mão diligente, que os réus-apelantes
sequestraram o dono do estabelecimento comercial “Mercado
Paraguai”, Norberto Martinez, com o fim de obter vantagem como
preço de resgate.

As palavras da vítima, seguras e minuciosas, persuadem que


o réu BJCN – a quem reconheceu com absoluta certeza
(fl. 15) – foi um dos que perpetraram a ação criminosa descrita
na denúncia: era “o indivíduo que estava no cativeiro” (fl. 179).

O próprio réu o admitiu em seu interrogatório judicial.


É certo que, muito de estudo, afadigou-se por eximir de culpa os
corréus; preferiu chamar à coautoria dois indivíduos, dos quais não
mencionou mais que os prenomes: “Marcos” e “Abiel” (fl. 154).

Foi-lhe debalde, porém, o desforço para afetar a condição de


bode expiatório, que toma sobre si as culpas alheias; a Polícia,
atuando com eficiência no caso, dirigiu-se às imediações de um
pronto-socorro, donde um extorsionário fazia as ligações telefônicas.
61

Aí o policial militar Luiz Fernando de Oliveira logrou deter os


ocupantes de um veículo “Monza”: os réus K e LC, em cujo bolso
apreendeu um papel manuscrito, no qual constava o número do
telefone do supermercado, a mesma linha da qual se utilizavam os
sequestradores para comunicar suas exigências à família da vítima
(fl. 185).

O testemunho desse policial deparou confirmação nas palavras


dos colegas Luiz Carlos de Moura e Odair Santos Lima (fls. 187/190).

É dos autos também que, ao ser preso, o réu Benedito delatou


os comparsas, “com exceção de Francisco” (fls. 187/188).

À derradeira, circunstância houve mui digna de registro e foi


que a vítima reconheceu pela voz o corréu K; eis suas palavras
formais: “(…) a voz do acusado Kleber lhe foi inconfundível, uma
vez que o conhece há muito tempo” (fl. 15).

Pelo mesmo teor, o depoimento de Alessandro Nascimento


Martinez, filho da vítima: “(…) por volta da meia-noite, o depoente
atendeu a um telefonema dos sequestradores, sendo certo que
reconheceu a voz como do acusado Kleber, porquanto o mesmo é
vizinho antigo e já falou com ele por algumas vezes” (fl. 13).

Em resumo: a prova dos autos, ao contrário do que alega a


combativa Defesa, autorizava a prolação de sentença condenatória.

4. Em bem da procedência da denúncia conspiravam os seguintes


elementos de convicção: confissão de réu, declarações da vítima e
prova testemunhal idônea.

Em Juízo, com efeito, o réu BJCN, incumbido da vigilância do


cativeiro, admitiu haver concorrido para o sequestro (fl. 154).

Ora, que melhor prova que a confissão?!


62
Afirmou-o R. Garraud em passo notável:

“A confissão que o acusado faz em justiça, isto é, quando


ele não pode desconhecer as consequências graves das
suas declarações, parece uma prova superior a todas as
outras. Habemus confitentem reum: a culpabilidade está
estabelecida, não falta senão aplicar a lei” (Compêndio de
Direito Criminal, 1915, vol. II, p. 208; trad. A.T. de Menezes).

Este foi sempre o ensinamento da Doutrina:

“A confissão judicial, por presumir-se livre dos vícios de


inteligência e vontade, tem um valor absoluto, servindo
como base condenatória, ainda que seja o único elemento
incriminador” (Camargo Aranha, Da Prova no Processo
Penal, 3a. ed., p. 92).

Passa o mesmo na esfera pretoriana:

“A confissão judicial tem valor absoluto e, ainda que seja o


único elemento de prova, serve como base à condenação, só
podendo ser recusada em circunstâncias especialíssimas,
ou seja, naquelas em que se lhe evidencie a insinceridade,
ou quando tiver prova veemente em contrário” (Rev. Tribs.,
vol. 744, p. 573; rel. Nélson Fonseca).

5. A restrição oposta aos testemunhos dos policiais, ainda que


deduzida com brilho, não arrasta ao convencimento.

A crítica irrogada ao testemunho policial não colhe, “data


venia”: nem por ter sido prestado por policiais o testemunho decai
de sua importância.

Com efeito, a inidoneidade dos testemunhos não se presume;


haverá o arguente de demonstrá-la; toca-lhe provar que o depoente
faltou com a verdade ou caiu em erro de informação. É que, na busca
da verdade real – alma e escopo do processo –, “toda pessoa
poderá ser testemunha” (art. 202 do Cód. Proc. Penal).
63
A testemunha, ainda que policial, depõe sob compromisso;
pelo que, em faltando à verdade, incorrerá nas penas da lei.

Ora, não provou o apelante, objetivamente, que as testemunhas,


em cujas palavras se louvou o órgão da Acusação, careciam de carta
de crença.

Vale o depoimento pelo grau de veracidade que encerra.

Com respeito aos policiais, há decisão histórica do Pretório


Excelso: “A simples condição de policial não torna a testemunha
impedida ou suspeita” (HC nº 51.577; DJU 7.12.73, p. 9.372; apud
Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 23a. ed.,
p. 185).

6. Assim, comprovada a culpa dos réus por prova direta e robusta,


em que avulta o depoimento da vítima, de grande peso e valor, não
havia senão decretar a procedência da pretensão ministerial.

Depondo a vítima com firmeza, já estava decretada a sorte dos


réus, porque em extremo valiosas suas palavras na apuração do fato
criminoso e de seus autores.

Esta é a opinião que professam nossos Tribunais de Justiça:

“A palavra da vítima é a viga-mestra da estrutura probatória,


e a sua acusação, firme e segura, em consonância com as
demais provas, autoriza a condenação” (Rev. Tribs., vol. 750,
p. 682).

Constituída sobretudo pelo depoimento da vítima e confissão


de corréu, a prova era idônea e suficiente para a condenação.

7. O primeiro indício que se elevou dos autos, poderoso a abafar


os protestos de inocência dos réus, foi o silêncio a que se restituíram
na fase do inquérito (fls. 15/16).
64
À exceção de B (réu confesso), os demais acusados, como nada
respondessem à autoridade policial a respeito da grave imputação de
que eram arguidos, nisso mesmo deram a conhecer sua culpa. É que
ninguém deixa de repelir com todas as forças injusta acusação,
notadamente se da gravidade da que aos réus desfechou o órgão do
Ministério Público.

Segundo aquilo do jurisconsulto Paulo, no Digesto (50, 17,


142): quem cala não confessa, mas também não nega (“qui tacet non
utique fatetur, sed tamen verum est non negare”).

O ven. acórdão, abaixo reproduzido por sua ementa, bem o


persuade:

“Embora a opção pelo silêncio derive de previsão


constitucional, ela não inviabiliza o convencimento judicial
no sentido desfavorável ao réu, pois a reação normal
do inocente é proclamar, com insistência e ênfase, a sua
inocência, não reservar-se para prestar esclarecimentos
apenas em Juízo” (RJTACrimSP, vol. 30, p. 30; rel. Renato
Nalini).

Ainda:

“Muito embora o silêncio do interrogando seja uma faculdade


procedimental, é difícil acreditar que alguém, preso e
acusado de delito grave, mantenha-se calado só para fazer
uso de uma prerrogativa constitucional” (RJTACrimSP, vol.
36, p. 325; rel. José Habice).

Em face de tudo o que levo exposto não se afigura atendível,


“data venia”, o pedido de absolvição formulado pelos réus.

8. Não só os réus, também a digna Promotoria de Justiça


desfechou crítica à r. sentença, notando-a de errônea por haver
desconsiderado um dos capítulos da acusação, o que respeitava ao
crime de roubo.
65
É que, na concepção de seu douto prolator, não houve na
espécie dos autos senão crime único.

Ao expor as razões de seu convencimento, fê-lo o ilustre


Magistrado por esta substância:

“Os agentes invadiram o estabelecimento comercial da vítima,


munidos de arma de fogo, com a intenção de sequestrar a
vítima, com a finalidade de obter vantagem como condição
de resgate. Na ocasião, aproveitaram para subtrair pequena
quantia em dinheiro. O dinheiro subtraído pode ser
considerado parte da vantagem pretendida, inserindo-se
essa conduta no contexto da ação principal, qual seja, a
de sequestrar a vítima”.

E logo a seguir:

“Importa aqui perquirir a finalidade dos agentes, em


obediência à teoria finalista da ação, adotada na nova parte
geral do Código Penal” (fls. 385/386).

Embora documento do zelo e do talento do ilustre Promotor de


Justiça que as subscreveu, as razões de apelação do Ministério
Público – elaboradas no intento de alcançar a modificação da
sentença de Primeiro Grau, em ordem a que se reconhecesse, no
caso sujeito, hipótese “de roubo em concurso com extorsão
mediante sequestro” (fl. 404) – não se afiguram dignas de acolher,
“data venia".

Resistem-lhes os fundamentos da sentença impugnada,


sólidos, jurídicos e lógicos.

Deveras, como exarou o MM. Juiz, era o desígnio de sequestrar


a vítima o que associou os réus na prática do crime. Estivesse-lhes no
ânimo apenas perpetrar um roubo, não teriam levado consigo o
proprietário do estabelecimento comercial; tampouco lhe teriam
preparado cativeiro; ainda: porque os agentes eram numerosos, não
se satisfariam com pequena importância em dinheiro, se o que se
propunham era roubar o supermercado.
66

A subtração do dinheiro (R$ 80,00) à caixa registradora deve


entender-se como “parte da vantagem pretendida, inserindo-se essa
conduta no contexto da ação principal”, consoante palavras formais
da sentença.

Donde a conclusão a que veio seu eminente prolator:

“Sob esse prisma, forçoso reconhecer que se caracterizou


somente o crime de sequestro, ficando o roubo absorvido por
esse, face ao princípio da consunção” (fl. 386).

À vista do que levo expendido, será bem confirmar, por seus


próprios e jurídicos fundamentos, a r. sentença que proferiu o
distinto e culto Magistrado Dr. Djalma Rubens Lofrano Filho,
condenando os réus-apelantes por extorsão mediante sequestro e
absolvendo-os da imputação de roubo.

Fixadas no mínimo legal, com estrita observância da lei e das


circunstâncias do caso, as penas estão corretas e não admitem
modificação.

O regime integralmente fechado era o que respondia à vontade


da lei, em se tratando de crime hediondo (art. 2º, § 1º, da Lei
nº 8.072/90).

Vem a ponto notar, porém, que a Lei nº 11.464, de 28.3.2007,


atenuou o rigor da Lei dos Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/90), no
que respeita à progressão no regime prisional de cumprimento de
pena. Se o sentenciado primário tiver dela descontado já 2/5 – ou
3/5, se reincidente – e conspiram os mais requisitos legais, faz jus
ao benefício (art. 2º, § 2º).

Nesse pouco, é força modificar a parte dispositiva da r.


sentença.
67

9. Pelo exposto, dou provimento parcial ao recurso da Defesa


para fixar aos réus o regime fechado, no início, mantida no mais a
r. sentença de Primeiro Grau; ao da Acusação nego provimento.

São Paulo, 9 de junho de 2009


Des. Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

2
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA CÂMARA — SEÇÃO CRIMINAL

Apelação Criminal nº 990.08.008156-0


Comarca: São Paulo
Apelante: Ministério Público
Apelado: OS

Voto nº 10.782
Relator

— A palavra da vítima, se não contestada com firmeza pela


prova dos autos, pode ensejar a condenação de autor de
roubo, uma vez que, protagonista do fato delituoso, é a
principal interessada na realização de justiça.

— A confissão, máxime a prestada em Juízo, vale como


prova do fato e de sua autoria, se não ilidida por
elementos de convicção firmes e idôneos. Donde a antiga
parêmia: “A confissão judicial é das melhores provas;
quem confessa, contra si profere a sentença” (apud
Cândido Mendes de Almeida, Auxiliar Jurídico, 1985,
t. II, p. 530).
69

— Crimes da mesma espécie, o roubo e a extorsão, quando


praticados nas circunstâncias do art. 71 do Cód. Penal,
configuram continuidade delitiva, não concurso material
de infrações. É desse número, portanto, o caso de
delinquentes que, após consumar o roubo, “forçam a
vítima a acompanhá-los à caixa eletrônica para sacar
o dinheiro” (cf. Rev. Tribs., vol. 765, p. 572).

— O regime fechado, no início, é o que unicamente se


aproposita ao autor de roubo (crime da última graveza e
abjeção), que argui em quem o pratica entranhada
rebeldia à disciplina social.

1. Da r. sentença que proferiu o MM. Juízo de Direito da 18a. Vara


Criminal da Comarca da Capital, condenando MBF à pena de 13
anos, 9 meses e 9 dias de reclusão e 35 dias-multa, e AAS à pena de
11 anos, 7 meses e 6 dias de reclusão e 29 dias-multa, ambos em
regime fechado, por infração do art. 157, § 2º, ns. I, II e V, conjugado
com o art. 158, § 1º, na forma do art. 69, do Código Penal, os réus
interpuseram recurso de Apelação para este Egrégio Tribunal, no
intuito de reformá-la.

Afirmam, nas razões de apelação de fls. 229/245, subscritas


por dedicada e competente Procuradora do Estado (Dra. Renata
Carolina Casimiro Braga), que o conjunto probatório não se afigurava
idôneo para autorizar-lhes a condenação.

Acentuam mais que, no caso, não houve concurso material,


senão crime único, absorvida a extorsão pelo roubo; pleiteiam que,
ao menos, afastado o concurso material de crimes e reconhecido o
concurso formal, sejam-lhes reduzidas as penas.

Requerem, finalmente, que, a confirmar-se o decreto de


condenação pelo crime de extorsão, seja afastada a qualificadora
do § 1º, por incaracterizada, e fixado o regime semiaberto para o
cumprimento da pena.
70

A douta Promotoria de Justiça respondeu ao recurso,


refutando-lhe os argumentos; propugnou, ao mesmo tempo, a
manutenção da r. sentença apelada (fls. 257/265).

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em firme e


abalizado parecer do Dr. Lázaro Roberto de Camargo Barros, opina
pelo improvimento do recurso (fls. 271/276).

É o relatório.

2. A Justiça Pública encetou processo contra os réus porque, em


15.2.2007, pelas 20h, na Rua Min. Romeiro Neto, nesta Capital,
obrando em concurso e unidade de propósitos com o adolescente
RAB, mediante grave ameaça exercida com o emprego de arma de
fogo, subtraíram para si um veículo “Fiat/Idea”, placa FDS 1904/São
Paulo-SP, R$ 170,00 em dinheiro e objetos diversos, pertencentes
a José Roberto Batista, a quem mantiveram em seu poder,
restringindo-lhe a liberdade.

Reza a denúncia que, nas mesmas condições de tempo e lugar


e idêntico “modus operandi”, os réus com o intuito de obter indevida
vantagem econômica, constrangeram a vítima José Roberto Batista
a efetuar um saque em caixa eletrônica bancária, no valor de
R$ 800,00.

Instaurada a persecução criminal, transcorreu o processo nos


termos da lei; ao cabo, a r. sentença de fls. 172/178 decretou a
condenação dos réus, os quais, inconformados com o êxito adverso da
causa-crime, comparecem perante esta augusta Corte de Justiça,
na expectativa de absolvição.

3. Em que pese aos esforços hercúleos de sua patrona por


desviar-lhes da cabeça o gládio da Justiça, o complexo probatório
revelou, inequivocamente, a responsabilidade criminal dos réus na
prática do roubo descrito na denúncia.
71

Exame do processado, ainda que pela rama, evidencia terem


sido os autores do roubo descrito na denúncia.

Com efeito, a vítima, cujas palavras passam por expressão da


verdade, não apenas narrou, com precisão, os dolorosos transes que
viveu, senão ainda indicou, sem hesitar, os réus como aos autores do
roubo (fl. 136/167).

Ao contrário do que alega a competente defensora, as


declarações da vítima, quando inspiram credibilidade – como no
caso –, têm força de artigo de fé e justificam o decreto de
condenação.

Este, com efeito, é o magistério da Jurisprudência:

“Em sede do delito de roubo a palavra da vítima merece


crédito porquanto, incidindo sobre o proceder de
desconhecido, não teria ela proveito em mentir e até
poderia incorrer no crime de denunciação caluniosa”
(RJTACrimSP, vol. 32, p. 282; rel. Penteado Navarro).

Os depoimentos harmônicos e verossímeis da vítima e


testemunha (fl. 138) induzem à inequívoca certeza de que os
apelantes foram os que arremeteram contra o patrimônio da vítima.

Em seus interrogatórios em Juízo admitiram, sem salvas nem


rodeios, a prática da infração penal (fls. 89 e 91).

Com suas palavras concordam as mais provas dos autos,


máxime as declarações precisas e verossímeis da vítima e
testemunha.

A confissão espontânea dos réus já bastava a justificar a


procedência da denúncia.
72

Feita em Juízo, tem a confissão o caráter de verdade


inconcussa, pois se presume isenta dos vícios que a podiam
contaminar; chamam-lhe os juristas, com assaz de razão, rainha das
provas (“regina probationum”).

Esta é a opinião comum de graves autores:

“A confissão judicial, por presumir-se livre dos vícios de


inteligência e vontade, tem um valor absoluto, servindo
como base condenatória, ainda que seja o único elemento
incriminador” (Camargo Aranha, Da Prova no Processo
Penal, 3a. ed., p. 92).

Doutrina é esta que professam nossos Tribunais:

“A confissão judicial tem valor absoluto e, ainda que seja o


único elemento de prova, serve como base à condenação, só
podendo ser recusada em circunstâncias especialíssimas,
ou seja, naquelas em que se lhe evidencie a insinceridade,
ou quando tiver prova veemente em contrário” (Rev. Tribs.,
vol. 744, p. 573; rel. Nélson Fonseca).

A condenação dos réus, portanto, era o resultado lógico


necessário do exame dos autos, além de obra de justiça.

4. Não só roubo, também extorsão os réus praticaram contra a


vítima, com exigir-lhe efetuar saque em caixa eletrônica bancária.

A extorsão contemporânea ao roubo, prestigiosa corrente


jurisprudencial não a considera delito autônomo senão hipótese de
crime continuado.

Tal exegese é a que professa o Colendo Superior Tribunal de


Justiça:
73

“O roubo e a extorsão, quando cometidos no mesmo contexto


de tempo, espaço e modo de execução, evidenciam
pluralidade de delitos aproximados, pois projetam dois
resultados definidos em tipos legais distintos. Tidos como
crimes da mesma espécie (pertencentes à mesma categoria),
mas que no entanto não se confundem com crimes idênticos
(previstos no mesmo dispositivo legal), configuram a
continuidade delitiva, pois satisfazem a definição do
art. 71 do Cód. Penal” (Rev. Tribs., vol. 765, p. 567; rel.
Min. Vicente Cernicchiaro).

Ainda:

“No caso dos autos, após consumado o roubo, os delinquentes


forçaram a vítima a acompanhá-los à caixa eletrônica para
sacar o dinheiro. Não aconteceu, dada a intervenção da
polícia. Ainda que se dê como consumado o delito, urge,
como fez o ven. acórdão reconhecer a continuidade delitiva.

Crime da mesma espécie não é crime definido no mesmo


dispositivo de lei. Como dito, o Código, nesse caso, define
como crimes idênticos (id., ib., p. 572).

Destarte, autores de crime continuado, acresço, nos termos do


art. 71 do Código Penal, 1/6 à pena de um só dos crimes perpetrados
pelos réus (roubo triplamente qualificado) – 6 anos de reclusão e
15 dias-multa para AAS, e 7 anos, 1 mês e 15 dias de reclusão e 18
dias-multa para MBF, segundo o estalão dosimétrico da r. sentença
(fls. 176/177) –, o que perfaz 7 anos e 17 dias de reclusão e 17 dias-
-multa, e 8 anos, 3 meses e 22 dias de reclusão, e 21 dias-multa,
respectivamente. No cálculo da pena pecuniária tomei em
consideração o preceito do art. 72 do referido estatuto.

O regime fechado era o que unicamente se apropositava à


espécie delituosa (da última graveza e abjeção) e à personalidade
dos réus, sujeitos visceralmente rebeldes à disciplina social.
74

5. Pelo exposto, dou provimento parcial aos recursos dos réus


para, reconhecida a continuidade delitiva entre os crimes de roubo e
extorsão, reduzir-lhes as penas a 7 anos e 17 dias de reclusão e
17 dias-multa (para AAS), e 8 anos, 3 meses e 22 dias de reclusão,
e 21 dias-multa (para MBF), mantida no mais a r. sentença de
Primeiro Grau.

São Paulo, 21 de outubro de 2008


Des. Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

3
TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA CÂMARA

Apelação Criminal nº 1.159.289/8


Comarca: Santos
Apelantes: AASF e
Ministério Público
Apelados: Os mesmos

Voto nº 1754
Relator Sorteado

Declaração de Voto (vencido, em parte)

— A interceptação ilícita de comunicação telefônica, vista a


certa luz, é o aniquilamento do mais nobre dos atributos
do homem: a palavra.

— Apenas decisão fundamentada de Juiz fortemente


esclarecido quanto aos fatos, e em obséquio a relevante
interesse de ordem pública, poderá legitimar a drástica
medida de interceptação de comunicação telefônica
para provar em investigação criminal e em instrução
processual penal (art. 5º da Lei nº 9.296/96).
76

— “Laconismo da sentença não acarreta nulidade” (Rev.


Forense, vol. 110, p. 226).

— Conforme o sistema do Código de Processo Penal,


“nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não
resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa”
(art. 563).

— A ninguém é lícito negar o que a evidência mostra.

— Embora crime formal, admite a extorsão tentativa, se o


sujeito passivo, apesar de constrangido, não realiza a
conduta pretendida pelo agente. Esta doutrina
professam os penalistas de melhor nota: (Nélson
Hungria, Comentários ao Código Penal, 1980, vol. VII,
p. 77; Heleno Cláudio Fragoso, Lições de Direito Penal,
Parte Especial, 11a. ed., vol. I, p. 217; Damásio E. de
Jesus, Código Penal Anotado, 8a. ed., p. 534, etc.).

— Interpretar “é descobrir a vontade da lei” (Vicente de


Azevedo, Apostilas de Direito Judiciário Penal, 1952,
vol. I, p. 56).

— Para o Juiz que a profere, a sentença é sempre um


monumento; a que prima pelo rigor da lógica jurídica,
pela rara discrição e boa doutrina, esta se diz que foi
aberta em bronze.

Ainda que os votos dos eminentes Juízes Geraldo Lucena e


Décio Barretti concordassem, no mais, com o meu obscuro voto, dele
entretanto discreparam na parte relativa ao recurso interposto pelo
Ministério Público.
77

Com efeito, enquanto o meu negava provimento a ambos os


recursos, os votos daqueles ilustres Juízes davam-no à apelação da
Promotoria de Justiça para reconhecer, no caso, crime consumado
de extorsão na forma continuada e, em consequência, exasperar as
penas do réu.

Embora tivesse em muito os argumentos expendidos por Suas


Excelências, não me persuadi, “data venia”, do desacerto de meu
voto, pelo que o declaro como o proferi:

1. Da r. sentença que proferiu o MM. Juízo de Direito da 2a. Vara


Criminal da Comarca de Santos, condenando AASF à pena de 6 anos,
2 meses e 20 dias de reclusão, para cumprimento sob o regime
fechado, no início, além de 88 dias-multa, no valor mínimo legal, por
infração do art. 158, § 1º, combinado com o art. 14, nº II, do Código
Penal, apelam para este Egrégio Tribunal, com o propósito de
reformá-la:

I — o réu, que, em longas e substanciosas razões (fls. 911/936),


elaboradas por talentoso e competente advogado, argui, prelimi-
narmente:

a) ilicitude da prova obtida mediante interceptação telefônica,


uma vez que a r. decisão que a autorizou carecera de fundamentação
jurídica;

b) negativa de vigência da Lei Federal nº 9.296/96 (art. 6º,


§ 2º), porque o resultado da diligência de interceptação telefônica
remetido ao Juízo não se acompanhara de auto circunstanciado;

c) nulidade da r. sentença por cerceamento de defesa, visto


não se pronunciara seu digno prolator acerca de matéria suscitada
nas alegações finais.

No mérito, argumentou com a precariedade da prova,


porquanto:
78

d) faleceriam nos autos elementos de certeza de que tentara


exigir das vítimas vantagens econômicas;

e) não se configurara a grave ameaça, elementar do crime por


que foi condenado;

f) desde 1982, manteria relacionamento com a vítima;

g) teria a vítima conhecimento das filmagens pornográficas;

h) apenas a certeza, que fora ausente nos autos, poderia


justificar-lhe a condenação.

Pelo que, esperava ser absolvido, na trilha do art. 386, nº VI, do


Código de Processo Penal; e

II — a Promotoria de Justiça, que, em primoroso arrazoado (fls.


939/955), exaltou os predicados da r. sentença, a qual decidira com
acerto a espécie dos autos; ter-se-ia equivocado, contudo, em dois
pontos, a saber:

a) ao reconhecer crime único de extorsão, quando na verdade


houvera crime continuado (art. 71, parág. único, do Cód. Penal),
pois que cinco as vítimas;

b) houve por tentado o crime, em vez de consumado.

Apresentaram as partes contrarrazões de apelação (fls.


956/985 e 990/996).

A Assistente do Ministério Público, por insignes e doutos


patronos, contrariou a pretensão da digna Defesa: após análise, por
menor, da prova dos autos, e firme na Doutrina e na Jurisprudência,
propugnou a confirmação da r. sentença de Primeiro Grau (fls.
1003/1018).
79
A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em detido, avisado
e sólido parecer do Dr. Antonio Sérgio Bentivegna, opina pelo
provimento parcial do recurso do Ministério Público, a fim de
que se reconheça o crime consumado, improvendo-se o do réu
(fls. 1030/1039).

É o relatório.

2. A Justiça Pública meteu em processo o réu porque, pelos


meses de maio de 1996 a julho de 1998, na Rua Mato Grosso, na
cidade de Santos, obrando em concurso e unidade de intuitos com
IMCSC, constrangeu as vítimas WC, AOC, AWC, AC e DC, mediante
grave ameaça e com o escopo de obter para si indevida vantagem
econômica, a fazer-lhe entrega de dinheiro.

O réu, descreve a denúncia, pôs em execução plano que


consistiu em ameaçar, por telefone, as vítimas de que revelaria
às pessoas (do circuito social que frequentavam) fotocópias e
fotografias com a imagem de AOC, em posição de concúbito com ele.

Tiveram princípio esses fatos, segundo a denúncia, no ano de


1993, em que o réu procurou a vítima A e anunciou que por ela se
apaixonara. Ainda: cevando ocultos desígnios, assinalou encontros
com a vítima em logradouros públicos, onde se compraziam em
amplexos e beijos lascivos.

Tais cenas de colóquios íntimos, blandícias e volúpia, terceira


pessoa as registrava com máquina fotográfica, sem que a vítima A o
soubesse.

De posse das fotos, e ameaçando exibi-las ao marido, o réu


obrigara A a manter com ele, frequentemente, comércio carnal. Não
raro essas torpezas de alcova eram filmadas, como ocorreu certa
feita, pelos idos de 1996, com a participação da corré I.
80

O réu, nos termos da denúncia, passou a exigir da vítima A


dinheiro, sob pena de, não o fazendo, remeter aquelas fotos
licenciosas e da última depravação de costumes ao marido, aos
filhos, à parentela e aos amigos.

No entanto, como a vítima resistisse à especulação extorsiva


do réu A, foi a corré I quem tomou a si a incumbência de efetuar os
contactos telefônicos. Ligou para a vítima WC, marido de Alzira, ao
qual revelou que sua mulher mantivera ligações sexuais com Alípio, o
que tudo ele poderia confirmar por fita de videocassete. À notícia
repugnante ajuntou a advertência de que estivesse com o olho
aberto, porque A era sujeito perigoso e insolente, que já enfrentara a
tiros a Polícia.

Depois desse telefonema – continua a denúncia –, entrou


Alípio a ameaçar a família de Alzira: mataria todos os seus membros
e arruinaria as carreiras profissionais das vítimas Ady, Adriana e
Déborah, às quais fizera ligações dizendo-lhes que teriam de resolver
o “negócio”.

Em razão disso, mudou de endereço a família e trocou o


número dos telefones; a vítima Alzira foi obrigada a mais: para
cobrar a paz de espírito e pôr-se a bom recado, foi-lhe mister abalar
do País; demorou na Holanda vários meses.

Em que pese, todavia, às excepcionais providências que deram


as vítimas, Alípio continuou a molestá-las em seus novos endereços e
telefones, o que forçou Wanderley a recorrer à Polícia.

O Ministério Público denunciou o réu nas sanções do art. 158,


§ 1º, por 5 vezes, combinado com o art. 71, do Código Penal.

Após regular tramitação do processo, a r. sentença de fls.


868/883, condenou os réus por infração do art. 158, § 1º, combinado
com o art. 14, nº II, do referido estatuto.

As partes, no entanto, inconformadas, apelaram.


81

Eis a gênese do processo-crime que, deitando já a 6 alentados


volumes, num total de 1.085 folhas, será submetido a julgamento por
esta colenda Corte de Justiça.

3. O apelo do réu, cujas razões apresentou o combativo e culto


advogado Dr. Eugênio Carlo Balliano Malavasi, leva ao fito de,
preliminarmente, obter a decretação da nulidade da r. decisão
que autorizou a escuta telefônica, visto lhe faltara adequada
fundamentação. A escuta telefônica, houve-a por prova ilícita.

A interceptação telefônica, vista a certa luz, é o aniquilamento


da palavra; é ato de império sobre o mais nobre dos atributos do
homem: a palavra, “maravilha que só não espanta” – como
escreveu um de nossos clássicos – “por ser comum a todos
os homens” (Silvério Gomes Pimenta, in Discursos Acadêmicos, vol.
5º, p. 65).

Rainha do Universo chamou-lhe Quintiliano (apud J.A. César


Salgado, A Excelência da Palavra, 1962, p. 7).

E o conspícuo César Salgado, em discurso de rara beleza e


originalidade, sustentou que “Deus, antes de formar os céus e a
terra, criou a palavra”, pois manifestara sua vontade “naquela
expressão de suma eloquência: Fiat lux” (op. cit., p. 5).

Portanto, é a este dom mimoso de Deus que profana e viola


quem intercepta a conversação telefônica; e, uma vez que a palavra é
a expressão do pensamento, rompera-se a última intimidade da
pessoa humana.

E aquele que penetra o sacrário da consciência alheia não é só


indiscreto e bisbilhoteiro, senão também delinquente.

Onde estará o libelo, o breve contra os que, escutando


conversas telefônicas, invadem o foro íntimo do indivíduo?
82

Está na Lei nº 9.296, de 24.7.96, que, em seu art. 10 pune, com


reclusão de 2 a 4 anos, quem realizar interceptação de comunicações
telefônicas, sem autorização judicial.

4. Apenas por decisão fundamentada de Juiz fortemente


esclarecido quanto aos fatos, e em obséquio a relevante interesse de
ordem pública, portanto, é que se poderá legitimar a drástica medida
de interceptação de comunicação telefônica “para provar em
investigação criminal e em instrução processual penal”.

Doutrina é essa que ven. aresto do Colendo Superior Tribunal


de Justiça consubstanciou:

“O legislador brasileiro mostrou-se cauteloso. Adotou o


sistema de verificação prévia, ou seja, nenhuma
interceptação será lícita se o Juiz não a autorizar. Além
disso, fixou as hipóteses de consentimento judicial: quando
houver indícios razoáveis da autoria ou participação em
infração penal; a prova não puder ser feita por outros meios
disponíveis; o fato investigado constituir infração punida
com pena de reclusão” (Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, in
Boletim IBCCrim, nº 47, p. 3).

No caso de que se trata, atendeu o nobre Magistrado às


preditas cautelas e normas legais, primeiro que autorizasse a
interceptação telefônica?

Ninguém de boa-fé o negará!

Em verdade, no r. despacho de fl. 806 consignou Sua


Excelência:

“II — Presentes os pressupostos legais do art. 4º da Lei


nº 9.296/96, conforme concretamente relatado no pedido de
fls. 2/3, bem como exsurge dos documentos de fls. 4/9, defiro o
pedido de extensão telefônica da linha (013) 235-2644, em
nome de AASF, pelo período de 15 dias, a ser instalada nas
dependências da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de
83
Santos, sob a responsabilidade direta da d. autoridade
policial requerente, respeitado o sigilo”.

Ora, dispõe o art. 4º da Lei nº 9.296/96 que:

“O pedido de interceptação de comunicação telefônica conterá


a demonstração de que a sua realização é necessária à
apuração de infração penal, com indicação dos meios a
serem empregados”.

A autoridade policial, como se colhe do ofício de fls. 11 e 12,


deu as razões por que representava ao MM. Juízo de Direito lhe
passasse ordem para a quebra do sigilo telefônico da linha instalada
na residência do apelante:

a) havia coisa de dois anos, WC e sua família vinham


“recebendo telefonemas de ameaças” de AASF, “motivados por um
relacionamento amoroso de A e a esposa de W, gravado numa fita
de vídeo mostrando as relações íntimas dos dois”;

b) durante esse tempo, “as ameaças causaram transtorno a


toda a família da vítima”;

c) o réu já possuía antecedente desse tipo de extorsão sexual;

d) “com diversos antecedentes criminais, por agressão,


tentativa de homicídio contra policiais e calúnia”, Alípio levava a
efeito extorquir a vítima e seus familiares;

e) o réu estava “vivendo de extorsão sexual”.

Tais ponderações da autoridade policial da Delegacia de


Investigações Gerais de Santos capacitaram o douto Juiz de Direito
a deferir-lhe a pretensão, que assentava em bom fundamento:
as eloquentes declarações da vítima WC (fls. 8/10). Fê-lo pelo r.
despacho de fl. 806, que obedeceu aos preceitos que o regem e
dotaram de eficácia jurídica.
84

Mas, a dar-se o caso que ponha alguém a tacha de lacônico


ao r. despacho que autorizou a interceptação de comunicação
telefônica, então é responder-lhe que a brevidade não nulifica o ato
judicial, se contém o bastante para guardá-lo da eiva do arbítrio.

Ora, a decisão que franqueou à Polícia a realização de


diligências especiais, em ordem a apurar fatos criminosos graves,
não apenas ressaltou que, no particular, conspiravam “os
pressupostos legais do art. 4º da Lei nº 9.296/96” – i.e.,
demonstração da necessidade da providência e indicação dos meios
a serem empregados –, senão ainda tomou em conta o fato
“concretamente relatado no pedido de fls. 2/3” e “os documentos
de fls. 4/9” (fl. 806).

Vem aqui a talho, portanto, ven. aresto do Colendo Supremo


Tribunal Federal:

“Laconismo da sentença não acarreta nulidade” (Rev.


Forense, vol. 110, p. 226; rel. Min. Orosimbo Nonato).

Não só para a sentença, para todas as decisões aproveita o


princípio.

Rejeito, por isso, a preliminar de nulidade da r. decisão que


autorizou a quebra do sigilo telefônico.

5. Também a questão preliminar de nulidade do processo, por


se não ter acompanhado de auto circunstanciado a diligência de
interceptação, carece de procedência.

O alvo a que visa o dispositivo legal, encarecendo a elaboração


de auto circunstanciado – art. 6º, § 2º, da Lei nº 9.296/96 –, é
promover o registro ou memória do fato, como elemento de prova;
põe a mira, do mesmo passo, em preservar-lhe o cunho autêntico ou
genuíno, como corolário do princípio da imaculação da prova, que
deve sempre ficar ao salvo dos vícios que a podem inquinar, como o
erro e a fraude.
85
No caso, contudo, o laudo pericial – que excede a 100 folhas
(fls. 157/277) – não apenas supriu a falta do auto circunstanciado,
mas também se lhe avantajou, pois, quanto ao objeto da diligência,
fez as vezes de instrumento “ad perpetuam rei memoriam”.

Destarte, a ausência de auto circunstanciado, com o resumo


das operações realizadas, não malferiu a prova, cuja autenticidade a
própria combativa Defesa não pôde arguir nem infirmar.

6. Conforme o sistema do Código de Processo Penal, “nenhum


ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para
a acusação ou para a defesa” (art. 563).

O prejuízo não se presume: cumpre demonstrado acima de


dúvida por aquele que o alegar. No caso, pela Defesa (que se não
desempenhou, aliás, de seu ônus).

Tão só quando pertence para a substância do ato é que


a inobservância da forma lhe importa nulidade. O auto
circunstanciado, todavia, era, com respeito à diligência a que se
procedeu (interceptação de comunicações telefônicas), meramente
acidental ou acessório. Votar-lhe primazia sobre o caráter intrínseco
do ato levado a efeito – gravação das conversas telefônicas,
verdadeiro “corpus delicti” – seria subverter a razão lógica e
antepor a forma à substância, desconchavo desmarcado, contra que
se costuma acautelar o intérprete da Lei.

Daqui a lição de Francisco Campos, no pórtico do Código de


Processo Penal:

“O projeto não deixa respiradouro para o frívolo curialismo,


que se compraz em espiolhar nulidades. É consagrado o
princípio geral de que nenhuma nulidade ocorre se não há
prejuízo para a acusação ou para a defesa.

Não será declarada a nulidade de nenhum ato


processual, quando este não haja influído concretamente na
decisão da causa ou na apuração da verdade substancial.
86
Somente em casos excepcionais é declarada insanável a
nulidade.

Fora desses casos, ninguém pode invocar direito à


irredutível subsistência da nulidade” (Exposição de Motivos
do Código de Processo Penal, nº XVII).

Não tem lugar, pois, a afirmação de que houve negativa de


vigência da Lei Federal nº 9.296/96 (art. 6º, § 2º).

7. A terceira e última preliminar suscitada pela Defesa do


apelante versa a nulidade da r. sentença, que não se pronunciara
sobre matéria exposta em alegações finais: o nobre Magistrado não
teria analisado “a parte da transcrição das conversações entre AC
e A” (fl. 918).

Tal omissão – acrescenta – implicou sério gravame ao


princípio da ampla defesa.

A causa é que da leitura daquele tópico da gravação poder-


-se-ia deduzir argumento de relevo em prol do acusado, i.e., “não
demonstrou nenhuma intenção em praticar o tipo penal em
apreço” (fl. 922).

Ainda aqui, “data venia”, não acho razão ao competente e


esforçado causídico.

Ao rejeitar os embargos de declaração, opostos à r. sentença


com este mesmo intento, assinalou seu digno prolator que “a prova
foi analisada em todo o seu contexto”, com menção de “todos os
pontos importantes ao deslinde da causa” (fl. 898).

Anotou mais Sua Excelência que o trecho da gravação que fez


objeto dos embargos declaratórios “não apresenta relevância que a
Defesa busca ressaltar” (ibidem).

De feito – prosseguiu –, no encontro que, orientada pela


Polícia, a vítima Alice manteve com o réu, no Shopping Center de
87
Santos, esse lhe entregara “o número de sua conta bancária,
extraído de um pedaço de sua requisição de cheques. Este fato
evidencia o constrangimento, com intuito de obtenção de vantagem
econômica indevida” (ibidem).

Essas firmes razões bastavam a repudiar a prejudicial


reagitada nesta sede recursal.

Deveras, carece do relevo que lhe a Defesa pretende conferir;


pois, ao revés do que alega seu culto e solícito patrono, os
argumentos apresentados em prol do réu analisou-os que farte a
r. sentença de fls. 868/883; a todos refutou, bem que, em relação
a alguns, possa tê-lo feito por maneira sucinta.

Essa, a que se pudera chamar concisão da sentença – o que


apenas admito, não concedo – não na haveria de desmerecer nem
anular.

A verdadeira doutrina a respeito do assunto vem exposta em


ven. acórdão do colendo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo:

“O fato de o julgador não se ter dedicado a rebater cada uma


das teses da defesa não enseja a nulidade do julgado, pois
este não está obrigado a se debruçar sobre cada uma das
teses defensivas ou acusatórias trazidas aos autos quando
encontra motivo suficiente para fundar a decisão naquilo
que entenda pertinente. O que se impõe é a consideração da
causa, demonstrando-se as razões do decisum” (Rev. Tribs.,
vol. 743, p. 609).

As preliminares, que apropositada e destramente a ilustrada


Defesa levantou, não lograram prevalecer na espécie em julgamento,
pelo que as rejeito.

8. A apelação do réu põe a mira na reforma da sentença que o


condenou por extorsão, para que seja absolvido por insuficiência de
prova.
88

Mas, impossível coisa é esperar a absolvição num processo em


que, a despeito do esforço ingente da Defesa para atenuar o vigor das
provas – e isso em trabalho profissional de alto esmero –, elas
encerraram tal força de convencimento, que não apenas pareceram
suficientes para justificar o edito condenatório, senão que tocaram a
meta da certeza irrefutável ou da evidência. E a ninguém é lícito
negar o que a evidência mostra (cf. Bento de Faria, Código de
Processo Penal, 1960, vol. II, p. 131).

9. Patenteiam os autos que o apelante pôs em execução o plano


de extorquir dinheiro da vítima AC, após subjugar-lhe o ânimo
mediante ações infamantes e ignóbeis.

Primeiro, simulou estar por ela apaixonado, o que lhe rendia


ocasião de tratá-la com intimidade e obter-lhe favores sensuais:
abraços, beijos e o congresso venéreo. As cenas voluptuosas e de sexo
explícito foram filmadas, sem que a vítima o soubesse. Ao depois,
na posse desse material obsceno e pornográfico, o apelante entrou
a ameaçar a vítima e seus familiares, que lhe dessem indevida
vantagem econômica, aliás divulgaria “urbi et orbi” as fotos
licenciosas.

A tal extremo chegou a audácia do réu, que ameaçava de


morte, por telefone, a família da vítima, obrigando-a a mudar de
terra: passou a residir em Bragança Paulista; também o número do
telefone foi-lhe mister substituir, na vã expectativa de cobrar a paz e
o sossego.

Certa feita, a corré IMCSC foi a que, em nome do apelante,


ligou para o consultório de WC (marido da vítima Alzira) e narrou-
-lhe o relacionamento amoroso da mulher com o réu; o caráter
violento deste e os riscos a que ele (Wanderley) estava sujeito e toda
família; as consequências danosas que lhes adviriam e à profissão
dos filhos, se não atendessem às determinações do réu.

Já não suportando tais ameaças, e temendo pela segurança


própria e da família, WC levou os fatos ao conhecimento da Polícia.
89

Tomadas por termos suas declarações, serviram a instaurar a


persecução criminal contra o réu (fls. 8/10).

Pelo depoimento de WC esteve a mais prova oral, abundante e


firme:

a) AOC. Confirmou as declarações do marido e narrou a


odisseia que viveu, obra de sua imprudência e malícia do réu. Expôs
as circunstâncias de seus contactos amorosos com o réu e as insídias
que este empregou para aniquilar-lhe a vontade, sob ameaças
permanentes, e alcançar seu cúpido intento: praticar extorsão (fls.
267/270; 2º vol.).

b) AWC. Filho de Alzira, afirmou, na fase de instrução criminal,


que a corré Izildinha lhe dera um telefonema, ocasião em que o
inteirou das particularidades graves do relacionamento de sua mãe
com o réu. Transmitiu-lhe a exigência do réu Alípio: que sua mãe se
encontrasse com ele para liquidar “o negócio”, do contrário “iria
implodir a família” (fls. 271/272; 2º vol.).

c) ACLM. Filha da vítima, narrou que o irmão Ady e a mãe


receberam inúmeros telefonemas ameaçadores do réu, nos quais
fazia exigência de dinheiro e se jactava de possuir fotografias de
sexo, com que procurava influir no ânimo da família, para obter
vantagem econômica.

Disse ainda que o réu nem ao menos a poupara na


maternidade. Com efeito, já prestes a dar à luz, o réu molestava-a por
telefone (fls. 273/275; 2º vol.).

d) DCAO. Também filha da vítima e Juíza de Direito, relatou


que, no dia de seu casamento, recebeu telefonema da corré
Izildinha, instando com ela para que sua mãe entrasse em contacto
com o réu, no caso que não quisesse ter uma surpresa.

Vários telefonemas dele recebeu, sempre com a exigência de


que a mãe devia resolver o “negócio”. Ameaçou-a de que faria a ela e
à irmã o mesmo que fizera à mãe.
90

Certa ocasião, declarou a testemunha, telefonou-lhe o réu para


indagar se havia gostado da surpresa. Pôde verificar então que, no
pára-brisa do carro de sua mãe havia uns papéis: eram fotografias da
mãe a praticar sexo oral com o réu.

Tais telefonemas (do réu e de sua parceira Izildinha),informou


a testemunha que não armavam senão a constranger-lhe a família à
satisfação da indevida vantagem econômica (fls. 276/278; 2º vol.).

Para abonar a acusação formal posta contra o apelante esses


depoimentos bastavam. Outros mais, porém, se lhes acresceram,
todos de grande peso e alcance, como o do Dr. Alexandre Galante
Alencar Aranha, Delegado de Polícia, o qual, inquirido na fase de
instrução do processo (fls. 279/282), esclareceu que o procurara a
vítima WC para dizer que o réu lhe estava extorquindo dinheiro, sob
a ameaça de divulgar fotos de relações sexuais que a vítima Alzira
mantivera com ele.

Informou aquela autoridade que, deferida a quebra do sigilo


telefônico do réu e persuadido de que estava ele a praticar extorsão
especulativa – como já o fizera pelos idos de 1994 –, determinou
consigo visitar-lhe o apartamento onde residia. Aí apreendeu “fitas
e fotografias de cenas de sexo do réu com a vítima” (fl. 280) e, “em
cima da geladeira, um revólver municiado” (ibidem).

A testemunha Arminda Moreira Marques, secretária de WC,


trouxe também aos autos subsídios de valor incontestável, que
confirmam o assédio intenso do réu à pessoa da vítima Alzira:
deixara-lhe “algumas fotografias pornográficas, mandando que
entregasse a Alzira” (fl. 288).

O mesmo declarou Adaílton Francisco Dantas: atendera a um


telefonema no qual, após ofender de palavras Alzira, Alípio afirmava
possuir “documentos e queria arrasar a família, pois ia mostrá-los
a todo mundo” (fl. 291).
91

De igual passo, comprovaram os fatos que a denúncia imputou


ao réu os depoimentos de Carlos Alberto Cid Costas, Gaetano
Vergine, Maria Lúcia da Silva Santos e Fabiana Barbosa dos Santos
(fls. 297/302).

Enfim, as provas do fato criminoso carregado ao apelante são


tantas e tão numerosas, que pretender negá-lo o mesmo fora
que dizer que se não vê à hora do Sol a pino! Têm a natureza da
própria evidência, que “traz em si mesma a luz que força o nosso
assentimento” (Carneiro Ribeiro, Tréplica, 1923, p. 59).

10. Os elementos de prova dos autos evidenciam que a ação do réu


configurou o crime definido e punido pelo art. 158 do Código Penal
(extorsão).

Da leitura atenta do processado colhe-se que o réu venceu a


resistência de AC, com o fito de obter indevida vantagem econômica.

O meio de execução de seu intuito criminoso foi constrangê-la,


mediante a ameaça de que divulgaria fotografias suas, obtidas “in
ipsis rebus venereis”, se não realizasse a conduta pretendida,
convém a saber: o depósito mensal da quantia de R$ 501,00 na conta
bancária do réu.

Em tais casos, a jurisprudência dos Tribunais sempre


reconheceu hipótese de violação do art. 158 do Código Penal:

“Configura o crime de extorsão a conduta do agente que,


enviando a uma mulher casada cópias de fotografia dela
tirada, quando nua em encontro amoroso que haviam
mantido, dela exige o pagamento de importância em
dinheiro sob ameaça de, caso não atendido, revelar o segredo
íntimo de sua vida amorosa, enviando as fotos ao seu
marido, aos filhos e às pessoas do seu meio social”
(RJDTACrimSP, vol. 12, p. 82; rel. Ribeiro Machado).
92

11. Os argumentos da mui digna Defesa foram expostos com


grande bravura; mas, tenteados e avaliados bem, vê-se que não
procedem.

Em seu apelo, pretende o réu que não haveria certeza de que


tentara exigir da vítima indevida vantagem econômica. Afirmação é
essa, contudo, que afronta a prova dos autos. Na real verdade, mais
de um depoimento esclarece que o motivo determinante dos
telefonemas ameaçadores do réu à vítima encerrava o propósito de
obtenção de vantagem econômica indevida.

Assim, as palavras de AWC, que escusariam outras mais: era


exigência de Alípio que Alzira liquidasse o “negócio”, senão “iria
implodir a família” (fls. 271/272; 2º vol.). Isto mesmo referiu DCAO
(fls. 276/278; 2º vol.).

Aliás (e aqui bate o ponto), até um documento – parte de


requisição de folha de cheque, do qual constava o número de sua
conta bancária – o réu entregara à vítima. Salta aos olhos sua
finalidade: possibilitar à vítima efetuar-lhe os depósitos bancários
mensais.

Também a alegação de que não ficou a ameaça comprovada


falta substrato em que se apoie.

Das declarações de pessoas idôneas constou que o réu e sua


comparsa Izildinha ameaçaram a vítima, e mais: que eram graves
tais ameaças. E tanto o eram, que o marido da vítima (WC) não teve
mão em si que não levasse os fatos ao conhecimento da Polícia. Com
que dor o fizesse, facilmente haverão de imaginar aqueles cujo
sangue ainda não perdeu o caminho do rosto!

A circunstância de que, desde os idos de 1982, o réu mantinha


relacionamento com a vítima, não no exime da condição de sujeito
ativo do crime de extorsão. Isto de entreter alguém laços com outro
– ainda que de amizade (sentimento nobre que, certamente, não
podia ser o que entre réu e vítima havia) – não serve de carta de
imunidade contra delitos, máxime os da última gravidade.
93

Outro argumento, que a laboriosa Defesa trouxe ao terreiro da


discussão, foi o do conhecimento que teria a vítima das filmagens
pornográficas.

Dou – “gratia argumentandi” – que ela de fato o soubesse.


Que importa isso à tipificação do crime? Nada! É que, ainda soubesse
a vítima das torpes filmagens e nelas consentisse, não se segue que,
por força, houvesse de concordar com sua divulgação: segredos de
alcova, revelá-los, o mesmo fora que acarretar-lhe a desgraça e a
ruína!

A certeza, que segundo o réu não se achara estampada nos


autos, essa é a que neles triunfa arrebatadora.

As provas de sua responsabilidade criminal, por empregar a


fórmula exigida pelo direito romano, são mais claras que a luz
meridiana: “probationes luce meridiana clariores”.

O que vir nestas palavras tropos de linguagem, primeiro que a


expressão da verdade, então é deitar os olhos aos múltiplos
depoimentos entranhados nos autos e na transcrição das falas
telefônicas, que o haverão de logo desenganar.

12. O crime de extorsão imputado ao réu considerou-o a r.


sentença único e tentado.

A douta Promotoria de Justiça, porém, não esteve por esta


conclusão e, em excelentes razões apresentadas pela Dra. Tânia
Maria Alves de Camargo Silva, encarece a modificação do decreto
condenatório para o efeito de ser condenado o réu por crime
consumado, em forma continuada, porque 5 as vítimas (fls. 939/955).

A r. sentença apelada, contudo, que não é somente peça


jurídica referta de erudição, mas também obra de inteligência e raro
aviso, merece prevalecer porquanto seu prolator – o distinto e culto
Juiz Dr. Manoel Luiz Ribeiro – disse pontualmente o direito e
dirimiu a contento a controvérsia entretida nos autos.
94

Forte na lição de Nélson Hungria, Sua Excelência houve por


configurada a tentativa de extorsão. Não há negar-lhe foros de boa
razão e juridicidade.

Deveras, em seus monumentais Comentários, discorreu por


este feitio aquele sumo pontífice e glória do Direito Penal:

“Apesar de se tratar de crime formal, a extorsão admite


tentativa, pois não se perfaz unico actu, apresentando-se um
iter a ser percorrido. Assim, toda vez que deixa de ocorrer a
pretendida ação, tolerância ou omissão da vítima, não
obstante a idoneidade do meio de coação, ou, no caso de
extorsão mediante sequestro, deixa este, já em execução, de
se ultimar (por circunstância alheia à vontade do agente),
não se pode reconhecer senão a tentativa” (Comentários ao
Código Penal, 1980, vol. VII, p. 77).

E logo abaixo:

“Há que se identificar a tentativa punível ainda no caso, não


muito infrequente, em que a vítima, vencendo o temor
incutido, comunica a ameaça à polícia, e esta predispõe as
coisas de modo a surpreender o extorsionário no ato de se
apoderar da coisa fingidamente consignada ou quando se
apresenta no lugar indicado para recebê-la” (ibidem).

Doutrina é esta em que conspiram penalistas de grande


suposição:

“Ocorre tentativa de extorsão quando o sujeito passivo, não


obstante constrangido pelo autor por intermédio da
violência física ou moral, não realiza a conduta positiva ou
negativa pretendida, por circunstâncias alheias à vontade
do autor” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 8a.
ed., p. 534).
95

Pelo mesmo teor, o insigne Heleno Cláudio Fragoso:

“Não se exige, para a consumação, que o agente tenha


conseguido o proveito que pretendia. O crime se consuma
com resultado do constrangimento, isto é, com a ação ou
omissão que a vítima é constrangida a fazer, omitir ou
tolerar que se faça e por isso pode-se dizer que, em relação ao
patrimônio, este é crime de perigo” (Lições de Direito Penal,
Parte Especial, 11a. ed., vol. I, p. 217).

Ainda:

“Como no constrangimento ilegal, a tentativa é aqui


perfeitamente admissível, configurando-se quando, apesar
do emprego de meio idôneo, não consegue o agente que a
vítima faça, tolere que se faça ou deixa de fazer alguma
coisa” (ibidem).

Afigura-se esta interpretação mais conforme ao direito e à


razão. Na real verdade, como quer que “interpretar, no sentido
jurídico, é procurar o pensamento contido na lei, a significação
das palavras, o alcance do texto, a explicação da frase. Interpretar
é descobrir a vontade da lei” (Vicente de Azevedo, Apostilas de
Direito Judiciário Penal, 1952, vol. I, p. 56), não entra em dúvida
que a todas se avantaja a interpretação que deu ao texto legal seu
próprio autor: Nélson Hungria, que não somente lhe foi o principal
colaborador e artífice, mas também o supremo exegeta do Código
Penal de 1940.

Na lição desses conspícuos autores é que nossas Cortes de


Justiça têm assentado sua jurisprudência:

a) “O crime de extorsão comporta a figura da tentativa, em


consonância com a doutrina, visto que a ação delituosa
foi tempestivamente atalhada em sua execução, de
maneira a permanecer a conduta incriminada aquém
da meta optata” (Rev. Tribs., vol. 623, p. 313; rel. Emeric
Levai);
96
b) “O enquadramento da extorsão entre os crimes formais
não impede que se reconheça a possibilidade da
tentativa. A extorsão é delito plurissubsistente, isto é, que
se preenche com a realização de vários atos. Destarte, a
atividade criminosa é perfeitamente cindível: tem um
iter criminis e, portanto, pode sofrer interrupção” (Rev.
Tribs., vol. 572, p. 356; rel. Silva Franco);

c) “Embora seja crime formal, a extorsão admite a tentativa,


porque não se perfaz com um só ato: exige um iter
criminis que o agente deve percorrer. Ocorre a tentativa
quando não se verifique qualquer dos efeitos imediatos à
coação (fazer, tolerar ou deixar a vítima que se faça
alguma coisa que resulte ou possa resultar em prejuízo
seu ou de outrem)” (Rev. Tribs., vol. 555, p. 374; rel. Dirceu
de Mello; apud Alberto Silva Franco et alii, Código Penal
e sua Interpretação Jurisprudencial, 6a. ed., vol. I, t. II,
pp. 2.574-2.575).

A não ser assim, a figura penal da extorsão (art. 158) não


representaria mais que supérflua reduplicação do crime de
constrangimento ilegal (art. 146).

No caso, a despeito das ameaças de divulgação de fotografias,


a vítima não atendeu às mensagens de ordem do réu, isto é, não
aquiesceu na solicitação de dinheiro (ou indevida vantagem
econômica); numa palavra: repeliu-lhe o constrangimento; houve,
portanto, interrupção do processo executório do crime de extorsão.

Donde o acerto do ilustre Juiz de Primeira Instância ao


reconhecer, no caso, crime tentado.

Sobre tentado, foi único o delito cometido pelo réu.

Conquanto dirigisse ameaças a Alzira e a toda a família, o


escopo a que o réu visava, como anotou com rara perspicácia o digno
Magistrado, era “atingir um só ganho patrimonial, extraído do
patrimônio do casal Wanderley e Alzira” (fl. 872).
97
Arrematou Sua Excelência:

“Em momento algum o réu exigiu vantagem econômica dos


filhos de Alzira, Déborah, Adriana e Ady. Na verdade,
buscava atemorizá-los, com a promessa de revelação dos
filmes e fotografias escandalosas envolvendo sua mãe, para
que estes, de alguma forma, influíssem na decisão de
Alzira, ou de seu marido, em efetuar-lhe o pagamento da
importância mensal reclamada” (ibidem).

13. O crime único e tentado de extorsão foi cometido pelo réu com
a cooperação dolosa de IMCSC; incide, pois, a causa de aumento de
pena do § 1º do art. 158 do Código Penal.

A pena está correta: a pena-base foi fixada ao réu além do


mínimo legal à conta de seus maus antecedentes, cujos principais
aspectos a r. sentença estigmatizou com ferro em brasa: “condenado
por crime de lesão corporal dolosa; apresenta baixo caráter e
personalidade totalmente corrompida; má índole e ausência de
senso mínimo de moralidade”; jactava-se “de haver filmado cenas
de sexo com aproximadamente 80 mulheres”; chegou ao cúmulo de,
“numa das fitas, marcar Izildinha, sua comparsa, nas nádegas,
com um ferro quente, como se faz com o gado”; para perseguir seus
abjetos desígnios, procurou “Adriana na maternidade, deixando de
respeitar seu estado puerperal”, e também a “Magistrada Déborah,
em seu local de trabalho, mostrando, inclusive, destemor e absoluto
desrespeito pelas autoridades constituídas” (fls. 881/882).

Daqui por que lhe foi estabelecida a pena-base de 7 anos de


reclusão e 100 dias-multa, exasperada, pelo concurso de agentes, em
1/3, o que perfez 9 anos e 4 meses de reclusão e 133 dias-multa,
no valor mínimo legal.

Em razão da tentativa, a r. sentença diminuiu-lhe as penas de


1/3, adotado o critério do “iter criminis” percorrido, que tocou as
raias da consumação, concretizando-as em 6 anos, 2 meses e 20 dias
de reclusão e 88 dias-multa, no valor mínimo, por infração do
art. 158, § 1º, combinado com o art. 14, nº II, do Código Penal.
98

O regime prisional, era de necessidade lhe estipulasse a r.


sentença o fechado, ou considerasse a natureza da infração penal,
que se conta entre as mais graves, ou atendesse às circunstâncias
da personalidade do réu, que deixa no espírito de todos penosa
impressão.

Para o Juiz que a profere, a sentença é sempre um


monumento; a do Dr. Manoel Luiz Ribeiro, pelo rigor da lógica
jurídica, por sua rara discrição e boa doutrina, dir-se-ia aberta no
bronze!

Merece confirmada, pois, em sua inteireza.

14. Pelo exposto, rejeitadas as preliminares, nego provimento aos


recursos.

São Paulo, 25 de novembro de 1999


Carlos Biasotti
Relator Sorteado
Trabalhos Jurídicos e Literários de
Carlos Biasotti

1. A Sustentação Oral nos Tribunais: Teoria e Prática;


2. Adauto Suannes: Brasão da Magistratura Paulista;
3. Advocacia: Grandezas e Misérias;
4. Antecedentes Criminais (Doutrina e Jurisprudência);
5. Apartes e Respostas Originais;
6. Apelação em Liberdade (Doutrina e Jurisprudência);
7. Apropriação Indébita (Doutrina e Jurisprudência);
8. Arma de Fogo (Doutrina e Jurisprudência);
9. Cartas do Juiz Eliézer Rosa (1a. Parte);
10. Citação do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
11. Crime Continuado (Doutrina e Jurisprudência);
12. Crimes contra a Honra (Doutrina e Jurisprudência);
13. Crimes de Trânsito (Doutrina e Jurisprudência);
14. Da Confissão do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
15. Da Presunção de Inocência (Doutrina e Jurisprudência);
16. Da Prisão (Doutrina e Jurisprudência);
17. Da Prova (Doutrina e Jurisprudência);
18. Da Vírgula (Doutrina, Casos Notáveis, Curiosidades, etc.);
19. Denúncia (Doutrina e Jurisprudência);
20. Direito Ambiental (Doutrina e Jurisprudência);
21. Direito de Autor (Doutrina e Jurisprudência);
22. Direito de Defesa (Doutrina e Jurisprudência);
23. Do Roubo (Doutrina e Jurisprudência);
24. Estelionato (Doutrina e Jurisprudência);
25. Furto (Doutrina e Jurisprudência);
26. “Habeas Corpus” (Doutrina e Jurisprudência);
27. Legítima Defesa (Doutrina e Jurisprudência);
28. Liberdade Provisória (Doutrina e Jurisprudência);
29. Mandado de Segurança (Doutrina e Jurisprudência);
30. O Cão na Literatura;
31. O Crime da Pedra (Defesa Criminal em Verso);
32. O Crime de Extorsão e a Tentativa (Doutrina e Jurisprudência);
33. O Erro. O Erro Judiciário. O Erro na Literatura (Lapsos e
Enganos);
34. O Silêncio do Réu. Interpretação (Doutrina e Jurisprudência);
35. Os 80 Anos do Príncipe dos Poetas Brasileiros;
36. Princípio da Insignificância (Doutrina e Jurisprudência);
37. “Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?”;
38. Tópicos de Gramática (Verbos abundantes no particípio;
pronúncias e construções viciosas; fraseologia latina, etc.);
39. Tóxicos (Doutrina e Jurisprudência);
40. Tribunal do Júri (Doutrina e Jurisprudência);
41. Absolvição do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
42. Tributo aos Advogados Criminalistas (Coletânea de Escritos
Jurídicos); Millennium Editora Ltda.;
43. Advocacia Criminal (Teoria e Prática); Millennium Editora Ltda.;
44. Cartas do Juiz Eliézer Rosa (2a. Parte);
45. Contravenções Penais (Doutrina e Jurisprudência);
46. Crimes contra os Costumes (Doutrina e Jurisprudência);
47. Revisão Criminal (Doutrina e Jurisprudência);
48. Nélson Hungria (Súmula da Vida e da Obra);
49. Ação Penal (Doutrina e Jurisprudência);
50. Crimes de Falsidade (Doutrina e Jurisprudência);
51. Álibi (Doutrina e Jurisprudência);
52. Da Sentença (Doutrina e Jurisprudência);
53. Fraseologia Latina;
54. Da Pena (Doutrina e Jurisprudência);
55. Ilícito Civil e Ilícito Penal (Doutrina e Jurisprudência);
56. Regime Prisional (Doutrina e Jurisprudência);
57. Alimentos (Doutrina e Jurisprudência);
58. Estado de Necessidade (Doutrina e Jurisprudência);
59. Receptação (Doutrina e Jurisprudência);
60. Inquérito Policial. Indiciamento (Doutrina e Jurisprudência);
61. A Palavra da Vítima e seu Valor em Juízo;
62. A Linguagem do Advogado;
63. Memorando aos Colegas da Advocacia e da Magistratura;
64. Código de Defesa do Consumidor (Casos Especiais em Matéria
Criminal);
65. Crime de Dano (Doutrina e Jurisprudência);
66. Nulidade Processual (Doutrina e Jurisprudência);
67. Da Coação no Direito Penal (Doutrina e Jurisprudência);
68. Violação de Domicílio (Doutrina e Jurisprudência);
69. Indenização (Doutrina e Jurisprudência);
70. Desistência Voluntária (Doutrina e Jurisprudência);
71. A Embriaguez e o Direito Penal (Doutrina e Jurisprudência).
www.scribd.com/Biasotti
O Crime de Extorsão e a Tentativa Carlos Biasotti

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