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Boas Prácticas em

Para uma construção


de Sistemas Financeiros
Inclusivos
Boas Prácticas em Microfinanças:
Para uma construção de
Sistemas Financeiros Inclusivos

Este trabalho representa apenas o ponto de vista dos seus autores


e não pode, em qualquer circunstância, ser considerado a posição oficial
ou um compromisso formal por parte da Comissão Européia.
Índice

1. Introdução

1.1 Perfil e Tendência da Microfinança


1.1.1 Uma breve história da Microfinança
1.1.2 A Microfinança na Actualidade

2. Enquadramento do Sistema Financeiro Inclusivo

2.1. Clientes Pobres com Baixos Rendimentos


2.1.1 Características dos Clientes da Microfinança
2.1.2 Como é que as Pessoas Pobres Utilizam os Serviços Financeiros

2.2. Fornecedores de Serviços Financeiros: O Nível Micro


2.2.1 A Paisagem dos Fornecedores de Serviços Financeiros

2.3 Infra-estrutura Financeira: Boas Prácticas ao Nível Meso


2.3.1. Sistemas de Pagamento
2.3.2 Transparência e Infra-estrutura de Informação
2.3.3 Formação
2.3.4 Redes e Associações

2.4 Governo: O Nível Macro

3. Financiadores

3.1 Agências e Fundações Internacionais de Doadores


3.2 Investidores Internacionais
3.3 Mercados Nacionais de Financiamento

4. Conclusão

4.1 Á procura de um sistema financeiro inclusivo


4.2 Boas Práticas para doadores que apoiem a microfinança
4.2.1 O papel dos doadores na construção de sistemas financeiros inclusivos
4.2.2 Assegurar a Eficiência dos doadores

Lista de Quadros:

Quadro 1: Prós e Contras dos Diferentes Fornecedores de Serviços Financeiros

2
1. INTRODUÇÃO

Mais de 3 mil milhões de pessoas pobres que vivem com menos de 2 dólares por dia, procuram aceder a
serviços financeiros básicos que podem ser um elemento fundamental para o alívio da pobreza. A maioria
das pessoas no mundo em desenvolvimento, isto é, a maioria da população mundial, não tem acesso a
serviços financeiros formais. Muito poucas beneficiam de contas de poupança, empréstimos ou formas
práticas de transferir dinheiro. Os que conseguem abrir uma conta bancária são muitas vezes confrontados
com serviços de pouca qualidade.

A microfinança tornou-se progressivamente mais popular como uma resposta concreta às necessidades
destas pessoas. Mostrou que as pessoas pobres são clientes viáveis, criou um conjunto de instituições fortes
que passaram a concentrar os seus interesses sobre as economias destas pessoas e começou a atrair o
interesse de investidores privados. Esta publicação não tem como objectivo mostrar novos resultados ou
descobertas sobre a microfinança. O seu principal objectivo é o de disseminar os fundamentos chave para a
construção de sistemas económicos inclusivos, bem como o estado da arte e as boas práticas relacionadas
com os instrumentos financeiros disponíveis para aqueles cidadãos que desejam colocar as suas poupanças
e investimentos na indústria da microfinança.

Estas poupanças éticas e investimentos ainda se encontram numa fase inicial. Contudo, podem contribuir
para alguns dos principais desafios enfrentados pelos serviços financeiros destinados aos mais
desfavorecidos:

1. Multiplicação dos serviços financeiros de qualidade para chegarem a um maior número de


pessoas (escala);
2. Chegar a pessoas mais desfavorecidas e mais distantes (profundidade); e
3. Baixar os custos tanto para os clientes como para os fornecedores dos serviços financeiros
(custo).

A publicação apresenta os elementos chave para um sistema financeiro inclusivo.

3
4
1.1 Perfil e Tendências da Microfinança

Mais de 3 biliões de pessoas pobres que vivem com menos de 2 dólares por dia, procuram aceder a serviços
básicos que podem ser um elemento fundamental para o alívio da pobreza. A maioria das pessoas no mundo
em desenvolvimento – isto, a maioria da população mundial – não tem acesso a serviços financeiros formais.
Muito poucas beneficiam de contas de poupança, empréstimos ou formas convenientes de transferir
dinheiro. Os que conseguem abrir uma conta bancária são muitas vezes confrontados com serviços de pouca
qualidade.

A falta de acesso a serviços financeiros impede as pessoas pobres e com baixos rendimentos de tomarem
certas decisões quotidianas que a maioria das pessoas têm como garantidas. Com base numa publicação
recente 1 do CGAP – Consultative Group to Assist the Poor2 , iremos resumir o perfil e as tendências actuais
da indústria da microfinança.

1.1.1 Uma breve história da Microfinança

Ao longo da última década, a microfinança evoluiu e expandiu-se rapidamente do campo relativamente


restrito do microcrédito para o conceito mais lato de microfinanças (que inclui um conjunto de serviços
financeiros para as pessoas pobres, incluindo poupanças, tranferências de dinheiro e seguros) para o enorme
desafio da construção de sistemas financeiros inclusivos.

As ideias e as aspirações por detrás da microfinança não são novas. Durante séculos existiram poupanças
informais e grupos de crédito em todo o mundo, desde o Gana ao México, à Índia e um pouco por todo o
mundo. Na Europa, desde o século XV, a Igreja Católica fundou as casas de penhores como um sistema
alternativo aos usurários. Ao longo do século XV estas lojas de penhores espalharam-se por todas as áreas
urbanas da Europa. As instituições formais de crédito e de poupanças para os pobres também existiram
durante séculos, oferecendo serviços financeiros a clientes a quem tradicionalmente eram negados pelos
bancos comerciais.

O sistema irlandês Loan Fund que começou no início de 1700, é um dos primeiros exemplos. Em torno de
1840, este sistema tinha cerca de 300 fundos em toda a Irlanda. Em 1800, a Europa assistiu à emergência de
um maior número de poupanças e de instituições de crédito formais que trabalhavam, sobretudo, com os
agricultores mais desfavorecidos e com os pobres das cidades.

As cooperativas financeiras desenvolveram-se na Alemanha. Tinham como objectivo ajudar a população rural
a libertar-se da dependência dos usurários e a melhorarem o seu bem-estar. O movimento surgiu em França
em 1865 e no Quebec em 1900. Muitas das actuais cooperativas financeiras em África, América Latina e Ásia
encontram as suas raízes neste movimento Europeu. Outro dos exemplos mais antigos é do Indonesian
People’s Credit Banks (BPRs) que começou em 1895 e se tornou no maior sistema de microfinança na
Indonésia com quase 9.000 filiais.

No início do século XX, começaram a surgir variantes sobre o tema das poupanças e do crédito na América
Latina e em outros locais. Estas intervenções financeiras no mundo rural tinham como objectivo modernizar
o sector agrícola, mobilizarem poupanças que estavam “paradas”, aumentarem o investimento através do

1
CGAP (2006), Access for All. Building Inclusive Financial Systems.
2
CGAP é um consórcio de multidoadores dedicado ao avanço da microfinança. A sua página web pode ser
encontrada em http://www.cgap.org
5
crédito e reduzirem as relações feudais opressivas que eram reforçadas através do endividamento. Na
maioria dos casos, estes novos bancos para os pobres não eram propriedade dos próprios pobres, como
acontecia na Europa, mas das agências do governo ou de bancos privados. Ao longo dos anos, estas
instituições tornaram-se ineficientes e, em alguns casos, corruptas.

Entre 1950 e 1970, os governos e os doadores concentraram-se na atribuição de crédito agrícola a pequenos
agricultores e a agricultores marginalizados na esperança de aumentarem a sua produtividade e os seus
rendimentos. Estes esforços para aumentarem o acesso ao crédito agrícola utilizavam instituições financeiras
para o desenvolvimento da propriedade do estado ou cooperativas de agricultores em alguns casos, para
fazerem empréstimos a clientes com taxas de juro mais baixas do que as praticadas nos mercados
financeiros formais. Estes esquemas subsidiados raramente eram bem sucedidos. Os bancos de
desenvolvimento agrícola não eram capazes de cobrir os seus custos com as taxas de juro que praticavam. Os
clientes tinham pouca disciplina no pagamento dos seus empréstimos porque os viam como ofertas ao
governo.

Consequentemente, o capital de base destas instituições foi sendo delapidado e, em alguns casos,
desapareceu. Pior de tudo, estes fundos nem sempre chegavam aos pobres acabando, muitas vezes, nas
mãos de agricultores mais influentes ou melhor posicionados.

Entretanto, os anos 70 viram o nascimento do microcrédito. Programas no Bangladesh, Brasil e em alguns


outros países começaram a emprestar dinheiro a mulheres economicamente mais desfavorecidas que
queriam iniciar a sua própria empresa. As primeiras experiências de microcrédito para empresas basearam-
se em empréstimos prestados por grupos de solidariedade, nos quais cada membro do grupo garantia o
pagamento a todos os membros. Exemplos dos primeiros pioneiros incluíam o Grameen Bank no
Bangladesh, que começou como uma experiência com o Prof. Muhammad Yunus; ACCION International, que
começou na América Latina e que depois se estendeu aos Estados Unidos da América e a África; e a Self-
Employed Women’s Association Bank na Índia, banco da propriedade do sindicato das mulheres. Estas
instituições continuam a ter sucesso ainda hoje e têm sido fonte de inspiração para a criação de muitas
outras.

Nos anos 80, os programas de microcrédito através do mundo melhoraram as suas metodologias iniciais e
desafiaram o conhecimento convencional sobre o financiamento aos pobres. Em primeiro lugar, os
programas bem geridos mostraram que as pessoas pobres, em particular as mulheres, pagavam os seus
empréstimos mais atempadamente do que as pessoas com mais posses o faziam aos bancos comerciais. Em
segundo lugar, demonstraram que as pessoas pobres querem e conseguem pagar as taxas de juro que
permitem às instituições de microfinança (IMF) cobrir os seus custos. As IMF que conseguem cobrir os seus
custos podem vir a tornar-se negócios viáveis que atraem depósitos, empréstimos comerciais e
investimento de capital. Podem conseguir chegar a um grande número de clientes pobres sem se limitarem
a pequenos e inconstantes fundos subvencionados pelos governos e agências de doadores. O Bank Rakayat
Indonesia (BRI) é um óptimo exemplo do que pode acontecer quando as IMF se concentram na recolha de
empréstimos e na cobertura de custos. As filiais lançadas pelo BRI em aldeias assiste mais de 30 milhões de
clientes com baixos rendimentos.

Os anos 90 assistiram ao crescente entusiasmo entre as agências de desenvolvimento internacionais e as


redes na promoção da microfinança como uma estratégia para aliviar a pobreza. A microfinança floresceu em

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muitos países onde muitas IMF conseguiram responder às necessidades de micro-empresários e dos
agregados familiares mais pobres. Contudo, estes ganhos tenderam a concentrar-se em zonas urbanas e em
áreas rurais densamente povoadas.

No início dos anos 90, o termo “microfinança” começou a substituir o termo “microcrédito”, referindo-se a
um conjunto de serviços financeiros para os pobres, incluindo o crédito, poupanças, seguros e transferências
monetárias. Para conseguirem chegar a um maior número de clientes pobres, as IMF e as suas redes
começaram a perseguir uma estratégia de comercialização, transformando-se em empresas com fins
lucrativos que conseguiam atrair mais capital e tornarem-se em actores permanentes do sistema financeiro.
O elemento central na história recente da microfinança é a ênfase colocada na criação e no crescimento de
instituições fortes (contrariando a tendência para a canalização de crédito para grupos específicos).

1.1.2 A Microfinança na actualidade

A microfinança conseguiu feitos extraordinários nos últimos 30 anos. Mostrou que as pessoas pobres são
clientes viáveis, criou um conjunto forte de instituições que concentram os seus serviços sobre as
economias das pessoas pobres e começou a atrair o interesse de investidores privados. Mas apesar do que
foi conseguido, ainda existe um longo caminho a percorrer para alargar o acesso a este sistema de
financiamento a todos os que precisam dele. São três os principais desafios que definem a fronteira dos
serviços financeiros destinados aos pobres:

1. Multiplicar os Scalling up os serviços financeiros de qualidade para chegarem a um maior número


de pssoas (escala);
2. Chegar a pessoas mais desfavorecidas e mais distantes (profundidade); e
3. Baixar os custos tanto para os clientes como para os fornecedores dos serviços financeiros
(custo).

A questão é: Como superamos estes desafios? A resposta: Fazendo com que os serviços financeiros para os
pobres façam parte do sistema financeiro dominante de cada país.

Com o intuito de conhecer a dimensão do mercado, a CGAP analisou recentemente um vasto grupo de
instituições financeiras com o objectivo de chegar a clientes fora do âmbito de actuação dos bancos
comerciais tradicionais. Estas instituições – estatais para o desenvolvimento, agrícolas e caixas económicas
postais; mutualidades; outros bancos de poupança; bancos comunitários de baixo capital e/ou bancos
agrícolas; e especializadas em IMF de todos os tipos – partilham a característica comum da double bottom
line. Têm como objectivo servir os mercados mais pobres, mas também cobrir os seus custos e torná-los em
lucro. O estudo conduzido pela CGAP mostrou um número surpreendente de 750 milhões de contas de
poupança e de empréstimos no total.

Este grande número de contas não é sinónimo de que o trabalho está concluído e de que os sistemas
financeiros já são eficazes com os pobres. Pelo contrário, ajustados ao número de contas inactivas e ao
número de pessoas com múltiplas contas, os 750 milhões de contas podem ser traduzidos em, no máximo,
cerca de 500 milhões de clientes activos que constituem apenas uma fracção do mercado potencial de 3 mil
milhões de pessoas pobres.

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Para além disso, a qualidade dos serviços em algumas destas instituições não é o melhor, sobretudo quando
toca a chegar às necessidades dos clientes pobres e de baixos rendimentos. Quando falamos de acesso não
se trata apenas de ter uma conta no banco. Trata-se também das vantagens e da segurança da conta e se
estes serviços são taxados de forma justa, respondem às necessidades dos clientes e são oferecidos por
uma instituição sólida que continuará a acompanhar os seus clientes e a ajudá-los a gerirem as suas vidas
financeiras. Muitas destas instituições não conseguem prestar serviços financeiros de qualidade a todos, mas
representam uma oportunidade potencial para chegarem a um grande número de clientes pobres. Um
grande número de contas

Um grande número de contas estão muito concentradas, tanto geograficamente como no tipo de
instituições que as oferece. Os bancos da propriedade do Estado, incluindo os bancos postais, são
responsáveis por quase três quartos de todas as contas. Entretanto, 84 por cento de todas as contas estão
concentradas na Ásia e mais de metade destas contas estão em dois países – a China e a Índia.

No geral, as IMF, as cooperativas financeiras, os bancos agrícolas são as instituições que se têm dedicado a
servir os clientes mais pobres e de baixos rendimentos com serviços financeiros de elevada qualidade e
acessíveis.

2 Enquadramento dos Sistemas Financeiros Inclusivos

Para a coligação da CGAP, o grande número de pessoas excluídas apenas conseguirá ter acesso a serviços
financeiros apenas se estes serviços destinados aos pobres se integrarem nos três níveis do sistema
financeiro: micro, meso e macro. Em última análise, a integração no sistema financeiro poderia abrir
mercados financeiros para a maioria das pessoas a viver em países em desenvolvimento, incluindo os
clientes pobres e geograficamente mais distantes.

Clientes. Pobres e clientes com baixos rendimentos estão no centro do sistema financeiro. A sua procura de
serviços financeiros orienta as acções dos que se encontram em todos os outros níveis.

Micro. A espinha dorsal dos sistemas financeiros continua a ser os fornecedores de serviços financeiros a
retalho que oferecem serviços directamente aos pobres e aos clientes com baixos rendimentos. Estes
fornecedores de serviços que se encontram no nível micro do sistema vão desde os emprestadores de
dinheiro informais ou clubes de poupanças aos bancos comerciais e incluem todas as entidades que se
encontram neste sistema.

Meso. Este nível inclui a infra-estrutura e o conjunto de serviços necessários para reduzirem os custos de
transacções, aumentar o seu alcance, construir competências e promover a transparência entre os
fornecedores de serviços financeiros. Inclui um vasto conjunto de actores e de actividades, como os
auditores, agências de rating, redes de profissionais, sindicatos, agências de crédito, sistemas de
transferências e de pagamentos, fornecedores de serviços técnicos e formadores. Estas entidades podem
transcender as fronteiras nacionais e incluem organizações regionais ou globais.

8
Macro. É necessário um enquadramento legislativo e político apropriado para permitir o florescimento de
um sistema de microfinança sustentável. Os bancos centrais, os ministérios, as finanças e outras entidades
governamentais nacionais, são os principais participantes neste nível macro.

Apesar de, até ao momento, a microfinança depender muito dos fundos internacionais de doação, o ênfase
dos sistemas financeiros que trabalham para os pobres é o de construírem mercados nacionais, onde muitos
fornecedores de serviços financeiros (fortes e viáveis) competem pelo negócio dos clientes pobres e de
baixos rendimentos. Estes fornecedores de serviços financeiros obteriam idealmente financiamento de
fontes de financiamento nacionais, como a partir de depósitos públicos ou de investimentos através do
mercado de capitais. Enquanto muitos foram bem sucedidos em conseguirem recursos nacionais, existiu e
continuará a existir um papel para os fundos internacionais para alargarem o acesso aos serviços financeiros.
De facto, os fundos internacionais podem ajudar ao arranque e ao acelerar do processo de construção dos
sistemas financeiros nacionais em todos os níveis do sistema financeiro – micro, meso e macro –.

2.1 Clientes Pobres e com Baixos Rendimentos

Para que um sistema financeiro seja efectivamente inclusivo deverá responder a todas as necessidades de
quem utiliza os serviços financeiros de forma frutífera, incluindo os pobres. As pessoas pobres nos países
em desenvolvimento, como qualquer pessoa, precisam de ter acesso a um conjunto de serviços financeiros
que sejam práticos, flexíveis e com preços razoáveis. Esta simples constatação transformou o pensamento e
a prática da microfinança nos últimos dez anos. Um melhor conhecimento das necessidades do cliente (e do
cliente potencial) originou a mudança do microcrédito para a microfinança e, mais recentemente, para os
sistemas financeiros inclusivos.

No passado, eram duas as características da microfinança: (1) um enfoque no crédito às micro empresas
(pequenos empréstimos que iam de encontro às necessidades de capital dos empresários); e (2) uma
abordagem que se concentrava mais na atribuição de crédito que era, em muito, dirigida aos fornecedores.
Assim, um reduzido leque de serviços, atraía um reduzido número de clientes. Hoje, existe um crescente
reconhecimento de que nem todas as pessoas pobres são necessariamente empreendedores, mas todas as
pessoas pobres necessitam e utilizam um conjunto de serviços financeiros. O desafio é o de conhecer e
chegar a esta procura entre as populações mais pobres e distantes.

Reconhecer a diversidade de pessoas que são excluídas dos serviços financeiros (não apenas os micro
empresários) tem grandes implicações na construção de um sistema financeiro inclusivo. Os agricultores
podem precisar de um crédito para investir nas suas plantações, mas também precisam de um local seguro
onde possam depositar as suas poupanças resultantes das colheitas para utilizarem quando chegam os
tempos mais difíceis. Os reformados precisam de um sistema de confiança para receberem as suas pensões.
Os operários precisam de ajuda para gerirem os seus salários todos os meses. Em resumo, a diferentes
clientes exigem diferentes serviços financeiros. Estes serviços vão desde empréstimos para responder a
uma emergência ou à hipoteca de uma casa, ao crédito pessoal, aos serviços de depósito de todos os tipos,
métodos de transferência de dinheiro e seguros.

9
2.1.1 Características dos clientes da Microfinança

Os potenciais clientes dos produtos da microfinança vão muito para além dos micro-empreendedores,
incluindo qualquer pessoa que esteja excluída do acesso aos serviços financeiros formais – por vezes
mencionados como estando fora do sistema bancário e financeiro. Estes clientes potenciais incluem, por
exemplo, agricultores, operários fabris e reformados, entre outros. Estão entre as pessoas muito pobres e as
que são vulneráveis e menos pobres. Apesar de pouco se conhecer sobre este potencial universo de
clientes, o número de agregados familiares excluídos é, seguramente, enorme, mesmo nos países
desenvolvidos.

Apesar de tudo, existe mais informação sobre os actuais clientes da microfinança. Os clientes típicos da
microfinança são trabalhadores independentes, muitas vezes com empresas próprias. Nas zonas rurais, são
pequenos agricultores e outras pessoas envolvidas em actividades de pequena produção, como na
transformação de alimentos e pequeno comércio. Em áreas urbanas, a população alcançada é, muitas vezes,
diferente e inclui não apenas vendedores de rua, como empregados de lojas, fornecedores de serviços,
artesãos, etc. Em alguns casos, existem diferenças regionais entre os clientes. Na América Latina e na África
de Leste, o enfoque da microfinança tradicional está em primeiro lugar, nos empresários (empreendedores)
urbanos e próximos das cidades, na sua maioria comerciantes. No Sul da Ásia, muitos programas
concentram-se sobre as mulheres nas zonas rurais, que começam a trabalhar na criação dos seus próprios
meios de subsistência.

Em anos recentes, tem existido muito debate sobre o nível de pobreza dos clientes da microfinança,
nomeadamente sobre as medidas padrão relativas à pobreza, como a linha de pobreza ou sobre quem vive
com menos de um a dois dólares por dia. Este debate tomou várias formas.

Em primeiro lugar, existe a questão moral sobre como chegar aos mais pobres – não deveria a microfinança
ser vista como uma actividade vocacionada para o alívio da pobreza, cujo público alvo seriam os mais pobres?
Muitos dos activistas e organizações não governamentais (ONG) no Sul da Ásia têm esta abordagem. A
segunda dimensão é a questão das políticas públicas. Uma vez que os subsídios dos doadores têm um papel
importante no financiamento da microfinança, não deveriam as autoridades exigir que os fundos públicos se
destinassem a quem mais deles necessita? A maioria dos clientes da microfinança parece estar entre as
pessoas que vivem abaixo da linha do limiar da pobreza. Os clientes do microcrédito não são as pessoas que
têm poucos recursos ou os agregados familiares, que constituem os 10 por cento dos agregados mais
pobres, mas também não são os que estão em melhor situação financeira. A maioria dos clientes encontra-
se na categoria dos “moderadamente pobres” (os que se estão entre os 50 por cento dos agregados
familiares abaixo da linha da pobreza). Contudo, alguns agregados familiares extremamente pobres, bem
como os vulneráveis, que não são considerados pobres (os que se encontram apenas um pouco acima da
linha do limiar da pobreza, correndo o risco de a passarem). Os extremamente pobres são definidos como
sendo os agregados familiares que se encontram entre os 10 e os 50 por cento dos agregados abaixo da
linha do limiar da pobreza e os vulneráveis, mas não pobres, são os que estão acima da linha da pobreza mas
em risco de se tornarem pobres.

Fazer chegar os serviços financeiros a um maior número de pessoas pobres e que vivem em zonas remotas
do planeta, do que as que já são actualmente abrangidas, representa um desafio para a comunidade da
microfinança. Chegar aos muito pobres nem sempre é fácil – e é particularmente difícil de o fazer de modo
10
sustentável. A concentração dos actuais clientes em torno da linha do limiar da pobreza, sugere que é
necessário introduzir inovações para que os serviços financeiros respondam melhor às necessidades de uma
leque mais vasto de potenciais clientes, que vão dos mais pobres aos considerados vulneráveis não pobres.

2.1.2 Como é que as Pessoas Pobres Utilizam os Serviços Financeiros

As pessoas pobres precisam de um conjunto de serviços financeiros, muitos dos quais conseguem através
de fontes informais. Precisam de muitos tipos de serviços para conseguirem resolver um vasto conjunto de
problemas económicos em diferentes momentos. A publicação da CGAP cita o livro de Stuart Rutherford,
The Poor and Their Money, que aponta três principais categorias de acontecimentos que exigem uma maior
quantidade de dinheiro do que o disponível em casa ou no bolso: eventos de ciclos de vida, necessidades de
emergência e oportunidades de investimento.

Eventos de ciclo de vida incluem aqueles que ocorrem normalmente uma vez na vida (nascimento,
casamento, morte) ou acidentes recorrentes (mensalidades da escola, férias como o Natal, tempos de
colheitas) que todos os agregados enfrentam.

Emergências incluem crises pessoais como a doença ou danos, a morte de um chefe de família ou a perda
de emprego e o roubo. Muitas emergências estão completamente fora do controle do agregado familiar,
como a guerra, as cheias, os fogos, os ciclones e, no caso dos habitantes de bairros clandestinos, a destruição
das suas casas por parte das autoridades. Todas estas emergências criam uma necessidade súbita de
dinheiro.

Oportunidades de investir em negócios, terras ou espólio do agregado familiar também surgem


ocasionalmente. Os investimentos em negócios são apenas um dos muitos investimentos das pessoas
pobres. Também querem investir em artigos dispendiosos que tornam a sua vida mais confortável –
melhores telhados, melhor mobília, um ventilador, uma televisão. Claro que estes investimentos envolvem
dinheiro.

Os clientes pobres precisam mais do que crédito. Hoje, o crédito da microfinança (o crédito necessário para
dar resposta aos custos correntes de um pequeno negócio) é o principal produto oferecido pelas IMF mais
especializadas. Para conseguirem dar resposta às suas várias necessidades, os clientes adaptam o micro-
crédito a muitas utilizações. Na maioria das vezes esta adaptação está longe de ser perfeita. Assim, para
responder às necessidades financeiras exigidas pelos eventos dos ciclos de vida, emergências e
oportunidades, é necessário mais do que o micro-crédito. As pessoas pobres precisam de um conjunto de
opções, do crédito (para além do financiamento às empresas), às poupanças, a serviços de transferências
monetárias e a seguros sob várias formas.

2.2 Fornecedores de Serviços Financeiros: O Nível Micro

Num sistema financeiro inclusivo, são necessários vários fornecedores de serviços financeiros para irem ao
encontro das diferentes necessidades dos clientes pobres. Nenhum tipo de fornecedor de serviços
financeiros consegue fazê-lo individualmente; é necessário um conjunto de fornecedores. Infelizmente, a
ausência de instituições retalhistas fortes e competentes continua a representar o maior entrave para alargar
os serviços financeiros a um maior número de pessoas pobres.

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Os potenciais fornecedores de serviços estão entre os informais e os formais. O seu grau de formalidade
depende da sofisticação da sua estrutura organizacional e da sua governança, bem como do grau de
supervisão por parte dos governos. Por exemplo, os fornecedores muito informais têm organizações mais
simples (se é que as têm) e não são supervisionados por uma entidade do governo e as instituições formais
são a imagem espelhada. No fim do nível informal do spectrum, existem agiotas, clubes comunitários de
poupanças, colectores de depósitos, comerciantes entre outros. Os bancos privados e públicos são os mais
formais. O nível intermédio é habitado pelas instituições mutualistas, organizações não governamentais
(ONG) e instituições não-bancárias. De notar que nem todas as instituições alinham perfeitamente ao longo
do continuum. Algumas cooperativas maiores em África e noutros locais funcionam como instituições
financeiras regulamentadas, ONG gigantes no Bangladesh servem milhões de clientes e são relativamente
formais e alguns bancos agrícolas em países como o Gana ou as Filipinas são pequenos e de alguma maneira
informais, apesar de poderem ser regulamentados na teoria (se não na prática)

Nos últimos 25 anos, a microfinança envolveu um enorme movimento, de fornecedores informais a formais.
IMF especializadas conseguiram mostrar que os pobres podem fazer parte do sistema bancário. Hoje, as
instituições formais estão a absorver rapidamente as lições sobre como fazerem pequenas transacções
bancárias. Muitos dos novos agentes da microfinança, como os bancos comerciais, têm grandes redes de
filiais, distribuição de serviços através de máquinas de multibanco e a capacidade de fazerem investimentos
significativos em tecnologias que poderiam aproximar os serviços financeiros dos clientes pobres. Cada vez
mais, estão a surgir ligações entre os diferentes tipos de fornecedores de serviços, oferecendo um conjunto
considerável de oportunidades para alargar o acesso aos serviços financeiros.

2.2.1 A Paisagem dos Fornecedores de Serviços Financeiros3

No seu estudo sobre o fornecimento de serviços financeiros formais às pessoas pobres, a CGAP identificou
os seguintes tipos de instituições financeiras que trabalhavam com clientes de baixos rendimentos: Estas
instituições – estatais, de desenvolvimento e agrícolas, e caixas económicas postais; mutualidades; outros
bancos de poupança; bancos comunitários de baixo capital e/ou bancos agrícolas; e especializadas em IMF de
todos os tipos – partilham a característica comum da double bottom line.

IMF especializadas – incluindo ONG, institutições não-bancárias, bancos comerciais especializados em


microfinança e programas de microfinança de bancos comerciais – são responsáveis por cerca de 18 por
cento dos 750 milhões de contas de poupança e empréstimo. As cooperativas financeiras são responsáveis
por 5 por cento. Instituições financeiras estatais, incluindo caixas económicas postais de poupança, dominam
o cenário, com cerca de três quartos das contas. Observando apenas o crédito, as IMF são responsáveis por
33 por cento dos empréstimos (57 por cento se excluirmos a China e a Índia).

Os fornecedores de serviços também variam consoante a região ou o país. Por exemplo, os bancos e as
instituições financeiras não-bancárias têm maior alcance na América Latina do que em outras regiões; as
cooperativas de crédito e de poupança dominam a África Ocidental e Central; e os bancos comunitários (em
particular os bancos agrícolas) são dominantes em alguns países como o Gana, a Indonésia e as Filipinas.

3
Esta secção foi retirada do capítulo da autoria de Christen, Rosenberg e Jayadeva, “Financial Institutions with a
‘Double Bottom Line’: Implications for the Future of Microfinance.” A informação foi recolhida na publicação do CGAP
“Access for All. Building Inclusive Financial Systems”, já citada.

12
Segundo a investigação da CGAP, o tipo de instituições financeiras (como as ONG, os bancos agrícolas ou as
cooperativas financeiras) é menos importante para chegar aos clientes mais pobres e distantes do que
outros factores, como a localização geográfica das filiais e a sua missão institucional.

Nenhum fornecedor de serviços financeiros consegue responder individualmente a todas as necessidades


de todos aqueles que se encontram excluídos do sistema de financiamento tradicional. O quadro 2 mostra
que cada tipo de fornecedor de serviços tem pontos fortes e fracos quando pensamos em construir um
sistema financeiro inclusivo.

Os serviços financeiros ao nível do retalho são os blocos sobre os quais poderá ser construído o resto do
sistema financeiro. Trabalhando individualmente e em parceria, é possível que continuem a inovar ao mesmo
tempo que oferecem às pessoas pobres serviços financeiros que são cada vez mais económicos, práticos e
seguros.

Quadro 1 Prós e Contras dos Diferentes Fornecedores de Serviços Financeiros

Fornecedor de Serviços Exemplos Pontos Fortes Pontos Fracos

Informal Emprestadores  Prático e rápido  Alguns são inseguros e instáveis


ROSCAs  Próximo dos clientes  Alcance limitado das operações
ASCAs  Operações de baixo custo  Rígidos (clubes)
(ROSCAs e ASCAs)  Caros (emprestadores)
 Acessível aos pobres e às
pessoas mais distantes
Member-owned SHGs  Locais  Desafios da governança (risco de
FSAs  Operações de baixo custo captura pelas redes de
CVECAs emprestadores, dominação pelos
Cooperativas  Acessível aos pobres e às gestores)
Financeiras pessoas mais distantes  Em muitos países, falta de
 Os lucros são utilizados supervisão financeira efectiva
para o benefício dos  Operações limitadas aos membros
próprios membros  Oferta limitada de produtos
ONG Redes de Filiações  Conhecimento dos  Muito dependente dos doadores
Internationais clientes pobres  Alcance limitado dos serviços:
ONG nacionais  Direccionados para as limitado ou poupanças não-
missões sociais voluntárias
 Mais disponíveis e  Pequena escala (à excepção do Sul
capazes para tomarem da Ásia)
riscos e para trabalharem  Operações de elevado custo em

na fronteira muitos casos (com importantes


excepções)
Instituições Financeiras  Vasto conjunto de  A motivação do lucro pode diluir a
Formais serviços missão social
 Grande infra-estrutura de  Dificuldade em chegar a clientes
infraestruturas de filiais e muito pobres e remotos
pontos de venda  Muitas vezes os produtos não vão ao
 Capital próprio encontro das necessidades dos
 Recursos para investirem pobres
em tecnologia e inovação

13
Nota: ROSCAs = Poupanças rotativas e associações de crédito(rotating savings and credit associations); ASCAs = Associações
de acumulação de poupanças e associações de crédito (accumulating savings and credit associations);
CVECAs = Caixas de Poupanças e de Crédito Auto-geridas; FSAs = Associações de Serviços Financeiros; SHGs = grupos de
auto-ajuda; ONG = organizações não-governamentais; NBFIs = instituições financeiras não-bancárias

Fonte: CGAP (2006), Access for All.

2.3 Infra-estrutura Financeira: Boas Práticas ao Nível Meso

Os sistemas financeiros inclusivos incluem mais do que apenas os clientes e os que os servem
directamente. As instituições financeiras não conseguem operar num vacuum. Assentam numa infra-
estrutura financeira bem oleada, ou “arquitectura”, e numa rede de outros fornecedores de serviços. Este é
chamado o nível meso e é, talvez, a componente menos entendida do sistema financeiro no seio da
comunidade da microfinança. Vai desde os sistemas de infra-estruturas financeiras aos sistemas que
promovem a transparência sobre o desempenho das instituições financeiras, fornecedores de serviços
técnicos que oferecem serviços de formação e consultoria e associações de profissionais e redes. Para o
funcionamento do sistema financeiro como um todo e em particular para o alargamento do acesso aos
serviços financeiros às pessoas pobres é decisiva a existência de um nível meso efectivo.

 A infra-estrutura financeira diz respeito aos pagamentos e sistemas de verificação e monitorização


que permitem aos fundos fluírem entre as instituições financeiras e que facilitam processos de
transacção rápidos, precisos e seguros. As instituições que trabalham com clientes pobres
precisam de chegar a estes sistemas para que os seus clientes possam movimentar o seu dinheiro
no país e/ou fora do país.

 Os sistemas de informação para a transparência servem vários propósitos. A informação detalhada


sobre o seu desempenho permite aos gestores tomarem decisões sobre como melhorarem as
suas operações. Esta informação também ajuda os investidores a pesarem os riscos e os retornos
nas suas decisões de financiamento. Por fim, a informação sobre os clientes reduz o risco e baixa os
custos.

 Os serviços técnicos de apoio, quando disponíveis através de consultores internacionais ou locais e


centros de formação, oferecem consultoria, formação e sistemas de apoio que complementam e
melhoram os conhecimentos das instituições de financiamento sobre problemas técnicos
específicos e constróiem conhecimento ao nível do país, região ou globo. Estes fornecedores de
serviços também dão credibilidade aos serviços financeiros direccionados para as pessoas pobres
ao aumentarem o profissionalismo no campo de intervenção.

 Associações de negócios e redes permitem às instituições defenderem colectivamente mudanças


políticas e partilhar custos da estrutura financeira e dos serviços.

2.3.1 Sistemas de Pagamento

Sistemas de pagamento seguros, eficientes e de confiança são decisivos para um funcionamento efectivo do
sistema financeiro. Os sistemas de pagamentos permitem a transferência de dinheiro entre as instituições
14
financeiras que participam neste processo, normalmente os bancos. Os instrumentos de pagamento
incluem dinheiro, cheques, traveler checks, vales postais, cartões de débito e de crédito, transferências on-
line e caixas de multibanco – em resumo, a maioria do tipo de instrumentos que quem vive nos países
industrializados tem como garantidos.

Em muitos países, o sistema de pagamentos pertence aos bancos de topo, restringindo o acesso a bancos
mais pequenos e outros actores. De facto, as instituições financeiras que estão próximas dos pobres (como
os bancos comunitários e agrícolas, cooperativas de crédito e de poupança) e organizações não
governamentais (ONG), nem sempre têm acesso aos sistemas de pagamento dos seus países. Mas as
famílias pobres são, muitas vezes, móveis. Um professor que recebe o seu cheque numa zona rural pode
querer levantar as suas poupanças quando viaja para a capital. Um micro empresário pode preferir fazer o
pagamento de um empréstimo numa localidade diferente da de onde fez originalmente o empréstimo. As
instituições que apenas podem oferecer transacções num local fixo estão em desvantagem.

Porque as instituições financeiras que servem os pobres têm muitas vezes falta de acesso a sistemas de
pagamento directos, precisam de operar através de bancos públicos e privados. Cada vez mais as IMF estão a
encontrar novas formas de alianças para levarem os serviços financeiros mais perto dos agregados familiares
pobres.

2.3.2 Transparência e Infra-estrutura de Informação

Quando falamos de transparência financeira, falamos da produção, teste, disseminação e utilização da


informação relacionada com a performance financeira das IMF. Começando pela recolha e transmissão de
informação por parte das IMF, a sequência estende-se à verificação da informação, à sua análise, comparação
e avaliação da performance descrita por aquela informação e finalmente à supervisão da IMF para assegurar
que está de acordo com os padrões aplicáveis. Os primeiros passos: gestão dos sistemas de informação (GSI)
e controle interno são da responsabilidade da própria IMF; os restantes estão a cargo de entidades externas.
Os auditores externos apenas verificam a informação apresentada pelos relatórios financeiros produzidos
pelas IMF. Os serviços de avaliação analisam e avaliam ou medem aquele desempenho utilizando, por vezes,
as bases de dados da indústria para comparar as IMF com instituições semelhantes. Os supervisores são as
autoridades, normalmente governamentais, responsáveis pelo assegurar de um desempenho aceitável.

 Sistemas de informação (por vezes referidos como sistemas de gestão de informação ou SGI)
ajudam as instituições financeiras a reunirem e a transmitirem, de tempos a tempos, informação
precisa e útil. O SGI está na base do spectrum da transparência e a qualidade de informação, nesta
fase (nível), afecta todos os outros níveis.

 Controle interno e auditorias externas ajudam a verificar a qualidade, integridade e precisão da


informação transmitida pelas instituições financeiras.

 Medição da Performance possibilita aos gestores e aos actores externos, como os supervisores
dos bancos, investidores ou clientes, monitorizar a performance das instituições financeiras através
do tempo.

 Benchmarking compara os resultados da performance com os de instituições semelhantes, por


exemplo, comparando a performance entre as instituições em diferentes regiões ou em

15
diferentes níveis de desenvolvimento, de maneira a que os gestores e outros possam saber qual o
nível de uma instituição em relação aos seus pares.

 Standards de desempenho são normas absolutas a que as instituições financeiras procuram


chegar. Estes standards podem evoluir do benchmarking, mas são diferentes do benchmarking
porque se referem a um alvo absoluto.

 Ratings representa a classificação de uma instituição de acordo com o risco. Esta classificação
baseia-se numa metodologia estandartizada, incluindo uma análise quantitativa e qualitativa. Estas
classificações são normalmente utilizadas por investidores relativamente pouco informados em
decisões sobre se financiarem ou não uma instituição financeira.

 Os corpos supervisores e os investidores utilizam toda a informação incluida no spectrum, para


determinar o grau de risco que uma instituição financeira apresenta aos aforradores e ao sistema
financeiro como um todo.

 Fornecedores relacionados aos serviços de transparência. A transparência e os seus benefícios


dependem da disponibilidade de um conjunto de serviços e ferramentas relacionadas, que vão do
software de informação de confiança aos auditores de grande qualidade e às agências de rating, aos
gabinetes de crédito, que recolhem o histórico do crédito dos clientes. Infelizmente, estes serviços
não estão uniformemente disponíveis para muitas instituições financeiras nos países em
desenvolvimento.

Metodologias de Avaliação da Transparência Financeira e da Microfinança4

A transparência é fundamental para construir sistemas financeiros integrados que atinjam uma escala
significativa. Pode melhorar o desempenho das instituições financeiras. A informação certa ajuda os gestores
a identificar as áreas que devem ser melhoradas e a tomarem decisões para melhorarem as suas instituições.
A informação disponibilizada gratuitamente também ajuda os gestores a compararem-se com os seus pares,
dando-lhes fortes incentivos para encorajar o seu desempenho.

A transparência também atrai os financiadores. Informação precisa e padronizada permite aos investidores
privados e aos doadores públicos tomarem decisões informadas sobre os fundos. Por sua vez, a maior
participação de investidores dá os recursos para financiar um crescimento mais rápido dos serviços
financeiros para as camadas populacionais mais pobres.

Neste sentido, a avaliação do desempenho das instituições que trabalham em microfinança, antes da tomada
de decisão de um investimento, é considerada uma boa prática, tanto no caso dos doadores públicos como
no caso dos investidores privados.

As avaliações são avaliações holísticas do desempenho financeiro e global das IMF. As redes de microfinança
oferecem as avaliações como uma ferramenta de gestão para os seus filiados. Da mesma maneira, os
doadores e os investidores utilizam estas avaliações para tomarem as suas decisões sobre se financiarem
uma IMF. Por vezes, as avaliações incluem benchmarking – comparações do desempenho das instituições

4
Esta secção inspira-se na nota do relatório do CGAP sobre “Focus on Financial Transparency”. Disponível em:
http://www.cgap.org/docs/FocusNote_22.html
16
com as suas pares, definidas pela sua dimensão, idade, metodologia, clientela ou região de intervenção e
podem emitir uma classificação quantitativa.

Os serviços de rating que cobrem o créditos públicos de risco, como a Standard and Poor's ou a Moody's
Investor Services, avaliam e publicam a probabilidade da quantidade de tempo necessária para a amortização –
ou seja, a capacidade e a vontade de um emprestador pagar o seu empréstimo. As suas metodologias têm
em conta o risco de crédito, evidenciando a adequabilidade do capital, a estrutura do passivo, a liquidez, a
qualidade da carteira de títulos e outros factores externos que afectam a capacidade de endividamento. Estas
agências de rating concedem ratings de risco em termos de crédito não aos que pedem empréstimos mas
sim a instrumentos de dívida pública ou privada e definem ratings diferentes consoante se trate de dívida a
curto ou a longo prazo.

As agências de rating da microfinança não funcionam necessariamente deste modo. Podem determinar
uma escala de avaliação ou de gradação para indicarem a qualidade financeira ou geral de uma instituição.
Contudo, os avaliadores da microfinança não dão avaliações do risco de crédito que vão para além de uma
avaliação geral sobre a capacidade de amortização de uma IMF e nem sempre tornam públicas as suas
avaliações, com ou sem consentimento das IMF, para serem utilizados pelos investidores.

O panorama do rating e da avaliação da microfinança está a mudar muito rapidamente. Um conjunto de


agências de avaliação de IMF estão a formar alianças com agências comerciais de rating com o objectivo de
oferecerem produtos de avaliação do risco de crédito. A PlaNet Finance está actualmente a criar um produto
de avaliação do risco de crédito para as IMF com a ajuda da Fitch, uma agência de rating internacional. A
MicroRate está criar uma joint venture com a GRC, uma agência de rating sul- africana, que poderá ter como
resultado um novo produto nesta área.

As agências de rating comerciais tradicionais também se estão a lançar neste mercado. A Pacific Credit
Rating, no Panamá, desenvolveu uma escala de rating para as MFI. A Apoyo Associados disponibiliza uma
classificação do risco de crédito das IMF que actuam no Peru. A CRISIL, a primeira agência de rating na Índia, já
classificou várias IMF.

Comparação das Metodologias de Avaliação da Microfinança

Algumas das mais conhecidas metodologias de avaliação da microfinança foram desenvolvidas por
instituições privadas para avaliarem qualquer tipo de IMF em nome de um qualquer tipo de cliente. Outras
metodologias foram desenvolvidas com propósitos internos, para serem utilizadas na própria instituição ou
na sua rede. Esta secção descreve cinco das mais conhecidas metodologias: CAMEL (ACCION), PEARLS
(WOCCU), GIRAFE (Planet Rating) e as metodologias da Micro-Rate e M-CRIL.

ACCION CAMEL. Fundada em 1961, a ACCION International tem como objectivo reduzir a pobreza na
América do Norte e do Sul atribuindo pequenos empréstimos através das suas filiais em 15 países da
América Latina, 4 países africanos e em 29 cidades dos EUA. A ACCION aconselha as suas filiais em áreas
como a metodologia do crédito, planeamento de negócios, gestão financeira e marketing. A sua sede situa-
se no Massachusetts.

Os reguladores bancários da América do Norte adoptaram a metodologia CAMEL original para avaliarem as
instituições comerciais de empréstimo norte-americanas. Com base nessa metodologia, a ACCION
desenvolveu o seu próprio instrumento em 1993 para avaliar o desempenho da IMF. A ACCION utilizou a sua

17
versão do CAMEL com IMF que são, ou planeiam ser, parte da sua rede. Mais recentemente, a ACCION
ensinou a sua versão do CAMEL aos supervisores bancários e à banca de desenvolvimento. Até agora, a
ACCION utilizou a CAMEL sobretudo como uma ferramenta de avaliação e gestão interna. A CAMEL é
considerada como um mapa para as IMF que pretendem obter uma licença como intermediários financeiros
formais. A ACCION utilizou o seu CAMEL aproximadamente durante 50 anos em toda a América Latina à
excepção de exercícios isolados em África e na Índia.

A ACCION CAMEL disponibiliza um guia técnico em (http://www.accion.org/pubs/main.asp) e apartir do


Projecto sobre as Boas Práticas em Microempresas, no site da USAID
(http://www.mip.org/pubs/mbp/camel.htm).

WOCCU PEARLS. The World Council of Credit Unions (WOCCU), com sede em Madison, no Wisconsin, é uma
organização sem fins lucrativos que promove o desenvolvimento de cooperativas financeiras. Tem mais de
36,000 cooperativas de crédito (ou uniões de crédito) que servem 108 milhões de membros em 91 países.
Apesar de a WOCCU não lidar exclusivamente com a microfinança, três quintos das suas uniões de crédito
encontram-se em países em desenvolvimento e muitas destas estão serviço de números consideráveis de
clientes pobres.

A WOCCU disponibiliza um guia técnico na sua página web, http://www.wocc.org.

GIRAFE da PlaNet Rating. PlaNet Rating é uma filial da PlaNet Finance, uma organização sem fins lucrativos
internacional com sede em Paris cujo objectivo é o de utilizar o potencial da Internet para promover a
microfinança. A PlaNet Finance utiliza a Internet tanto como plataforma para oferecer os seus serviços às IMF,
ONG e outros accionistas, como uma ferramenta que permite à sua rede de especialistas trabalharem em
conjunto em todo o mundo.

A PlaNet Rating oferece quatro serviços de base: ratings (através da metodologia de avaliação e de
classificação da GIRAFE), disseminação de ratings na Internet (caso a IMF e o doador estiverem de acordo),
formação na metodologia e benchmarks da GIRAFE e consultadoria para as instituições APEX (grosso).

Apesar do seu nome, a PlaNet Rating não avalia, actualmente, o risco de crédito das IMF, mas apenas
disponibiliza esta informação aos investidores. Recentemente iniciou, contudo, um projecto piloto para
alinhar a sua metodologia com a da Fitch, uma das principais agências internacionais de rating.

Até à data a PlaNet Rating realizou mais 30 ratings em 10 países. Os seus principais clientes são doadores (a
agência estatal para o desenvolvimento francesa, o Banco Nacional para o Desenvolvimento do Brasil),
investidores privados (Blue Orchard, Financial Bank), ONG internacionais (sobretudo a CARE e a VITA) e as
próprias IMF.

A PlaNet Ratins disponibiliza no seu site um resumo da metodologia GIRAFE :


http://www.planetfinance.org/fr/rating/index.htm.

MicroRate. A MicroRate, uma sociedade anónima de responsabilidade limitada, é a organização mais antiga
que foi formada com o objectivo específico de avaliar o desempenho das IMF. Sediada em Washington D.C.,
foi formada em 1996 com fundos da Swiss International Development Agency. Os seus principais clientes
são as agências de doadores, as IMF e os investidores privados. A maioria das suas avaliações foram
requisitadas por agências de doadores como parte das duas decisões de financiamento, apesar do número
crescente de IMF que têm demonstrado interesse em pagar, elas próprias, por uma avaliação – um forte sinal
18
de que acreditam que a avaliação é um instrumento útil para melhorar as suas intervenções ou para
fortalecer a sua atractividade aos financiadores externos. A MicroRate fez mais de 70 avaliações até ao
momento, a maioria delas na América Latina.

Apesar do seu nome a MicroRate não oferece ratings reais, mas disponibiliza os argumentos para uma
opinião sobre a credibilidade das IMF. A MicroRate também oferece comparações entre os pares industriais
com base em dados de benchmark reunidos para 30 das principais IMF da América Latina. Estes dados
reportam aos últimos cinco anos e são semestrais. Como procura o reconhecimento legal nas regiões onde
actua, a MicroRate colabora com a agência internacional de rating, a GCR, no desenvolvimento de um sistema
de classificação para as IMF.

A descrição das suas áreas de intervenção está disponível na sua página web em http://www.microrate.com.

M-CRIL. A Micro-Credit Ratings and Guarantees India Ltd (M-CRIL) é uma sociedade anónima de
responsabilidade limitada e uma filial da EDA Rural Systems, uma consultora em desenvolvimento sediada
em Gurgaon, Índia. Estabelecida em 1998, M-CRIL desenvolve IMF ratings, bem como estudos analíticos
especializados no sector da microfinança e é a única agência de rating em microfinança que existe na Ásia. Os
seus principais clientes são IMF, empresas de investimento privado e doadores.

A Fundação Ford apoiou o desenvolvimento inicial e a testagem da metodologia M-CRIL. Para além dos 14
estudos em IMF para desenvolverem a sua metodologia, a M-CRIL avaliou cerca de 90 IMF até à data,
sobretudo a Sul da Ásia. Estas IMF incluem ONG, instituições financeiras não-bancárias, cooperativas bancárias
urbanas e sociedades cooperativas. A M-CRIL reuniu a informação sobre estas avaliações numa base de dados
que é utilizada para analisar o desempenho da microfinança a Sul da Ásia no Relatório M-CRIL, 2000.

A descrição dos símbolos de rating e uma amostra dos relatórios de rating das IMF está disponível na página
web da M-CRIL http://www.edarural.com/m-cril.html.

Desafios Chave Enfrentados pelas Avaliações em Microfinança

As avaliações em microfinança podem contribuir para aumentar a transparência na microfinança. Contudo,


vários são os desafios que merecem atenção: melhorar a informação, padronizar os indicadores e as
definições, aumentar a frequência das avaliações e reduzir os seus custos.

• Melhorar a informação. As avaliações em microfinança começam com a informação fornecida pelas IMF
nos seus relatórios financeiros e registos operativos. Contudo, esta informação nem sempre é correcta
ou completa. A indústria tem muito trabalho pela frente no desenvolvimento de sistemas de
informação apropriados e de confiança, bem como no reforço do controlo e das auditorias internas. As
auditorias externas das IMF necessitam de melhorias drásticas: são poucas as auditorias de IMF que
incluem testes suficientes para assegurarem que a informação publicada nos relatórios está correcta.

• Padronização dos indicadores e das suas definições. Actualmente oito organizações de avaliação
utilizam mais de 170 indicadores para avaliarem as IMF. Entre 32 indicadores com definições que são
partilhadas por mais de uma agência de avaliação, apenas cinco são definidos da mesma forma por mais
do que uma agência de avaliação, apenas cinco são definidos da mesma maneira por mais do que dois
avaliadores. Apenas existem definições uniformizadas para o balanço médio dos empréstimos,

19
eficiência operativa, receitas ajustadas sobre os activos, receitas ajustadas sobre o património líquido e
receitas sobre os activos médios.

• Aumentar a frequência dos relatórios. Os activos das IMF tendem a ser de curto prazo, com
empréstimos a três meses. Porque os micro empréstimos não são, tipicamente, segurados, os
pagamentos destes empréstimos podem ser muito mais voláteis nas IMF do que nos bancos
comerciais. Assim, a posição financeira das IMF pode deteriorar-se seriamente no espaço de um ou dois
meses. À luz destes factos, os intervalos de tempo em que são apresentados os relatórios das IMF –
trimestrais, semestrais ou mesmo num espaço de um ano, não são suficientes. Esta característica
dificulta a monitorização efectiva das IMF. Contudo, esta situação está a mudar lentamente. A Cyrano-
LACIF, um fundo de investimentos privado para as IMF da América Latina e a Dexia Asset Management
(Dexiam), uma empresa europeia de gestão, fazem da produção de relatórios mensais sobre
indicadores financeiros chave uma das condições fundamentais para a atribuição de fundos. Ao mesmo
tempo, algumas redes como a ACCION e a Small Enterprise Education Promotion (SEEP) introduziram
sistemas de produção de relatórios de baixo custo para complementarem as avaliações periódicas.

• Redução dos custos de avaliação. As avaliações das IMF são muito dispendiosas. O custo de avaliar o
risco de uma IMF de acordo com os melhores padrões, é estimado, pela ACCION, MicroRate e PlaNet
Finance, entre os 5,000 e os 25,000 dólares americanos (o valor mais baixo representa o custo praticada
para uma re-avaliação do risco da empresa e o valor mais elevado é o praticado numa primeira avaliação
em África). O custo cobre a equipa de avaliação, incluindo os salários, as despesas de viagens, a gestão,
apoio administrativo, etc. O desafio para as agências é o de repensar os seus sistemas de avaliação,
reduzindo os custos sem que tal seja equivalente a reduzir os padrões de qualidade. Algumas das novas
ferramentas disponíveis para este processo poderão reduzir os seus custos: as plataformas da Internet
podem reduzir os custos permitindo às IMF apresentarem os seus relatórios e aos analistas
comunicarem mais frequente e mais facilmente. Actualmente, os sites de classificação do risco em
microfinança funcionam mais como plataformas promocionais do que como ferramentas operativas. As
alianças estratégicas poderiam reduzir os custos de avaliação na medida em que as agências colaborem
entre si ou se fundam com outras. A colaboração com as empresas de auditoria locais também podem
baixar os custos, desde que a qualidade da avaliação possa ser protegida. A construção da capacitação
regional é uma outra opção importante.

2.3.3 Formação

A formação técnica e capacitação continuam a ser os serviços mais necessários no nível meso na maioria dos
mercados da microfinança. As instituições financeiras assentam num conjunto de fornecedores de serviços
técnicos que oferecem formação especializada informação e consultadorias no local às equipas, em áreas
como o planeamento estratégico e como a implementação de sistemas de incentivo para os empregados.
As instituições financeiras que precisam deste apoio podem ser divididas em duas categorias, cada uma das
quais com as suas necessidades técnicas: IMF especializadas, muitas vezes ONG, que podem precisar de
encorajar a sua gestão financeira e outras competências operativas; e bancos existentes (comerciais, caixas
económicas postais, etc.) que tipicamente têm que ajustar os seus sistemas, procedimentos e
competências das equipas para introduzirem produtos para clientes pobres.

Os serviços técnicos de apoio envolvem um conjunto de tópicos, incluindo o seguinte:


20
 Gestão Financeira

 Planeamento Estratégico de Negócios

 Formação de Pessoal de Terreno e


Projecção

 Microfinança Especializada

 Pesquisa de Mercado

 Tecnologia de Crédito

 Desenvolvimento de Novos Produtos

 Transformação das ONG

 Gestão do Risco

 Instituições Regulamentadas

 Mapeamento do Processo de Negócios

 Soluções de Tecnologias de Informação

 Branding/Marketing

 Formação/Gestão de Recursos
Humanos

 Custos e Preços

 Sistemas de Incentivo ao Emprego

21
2.3.4 Redes e Associações

Nas últimas décadas surgiu um conjunto de conjunto de redes e associações internacionais, regionais e nacionais
especializadas no mundo da microfinança. Estas redes e associações representam um contributo importante para
o nível meso, ao fornecerem serviços directamente aos seus membros ou facilitarem-lhes o acesso a estes
serviços. Também dão uma voz colectiva aos fornecedores de serviços financeiros que servem os pobres. Na
generalidade, as “redes” ou “organizações de serviços em rede” dizem respeito a organizações globais ou
regionais voluntárias de instituições financeiras afiliadas.

O termo “associação” é sinónimo de uma organização membro de base, a maioria das vezes a nível nacional, mas
também existem associações regionais e globais. Estas redes e associações oferecem muitos benefícios aos
seus filiados e/ou membros: desde o oferecerem uma plataforma conjunta de defesa de uma causa comum, à
atribuição de oportunidades de aprendizagem, à promoção de standards.

Foram identificadas cinco categorias principais de redes de serviços que podem ser oferecidos pelas redes
internacionais ou regionais ou pelas associações de âmbito nacional:

 Política de defesa, à semelhança do lobbying político e do diálogo político com os governos ou com os
corpos internacionais – esta função pode catalizar uma rede de âmbito nacional;

 Disseminação de informação, incluindo investigação, trabalho em rede e publicações / documentação;

 Capacitação, oferta de serviços técnicos, incluindo cursos de formação e assistência técnica;

 Monitorização do desempenho, como a recolha de dados sobre a indústria, auto-regulação e o


desenvolvimento de benchmarks e padrões nacionais de desempenho; e

 Intermediação financeira, incluindo o papel instituições financeiras de segundo grau (serviços a


grosso) e de distribuição de subsídios.

2.4 Governos: O Nível Macro

O papel do governo na construção de sistemas financeiros integrados é uma questão controversa. Sobre este
tema coexistem várias perspectivas e muitas delas em rápida evolução. Deveriam os governos serem envolvidos
na microfinança? Deveriam os próprios governos atribuir crédito directo a quem dele necessita? Ou deveriam os
governos afastarem-se o mais possível da atribuição de microcréditos, deixando este terreno ao cuidado do
sector privado – como tem ocorrido, com sucesso, nos mercados da microfinança na Bolívia e no Bangladesh?

Um consenso emergente defende que, de facto, os governos têm um papel importante em assegurar políticas
favoráveis nas quais a microfinança possa florescer. Um bom ambiente político possibilita a coexistência e a
concorrência de um conjunto de fornecedores de serviços financeiros pela oferta de serviços de maior qualidade
e com custos mais baixos e a um maior número de clientes pobres.
22
Nos últimos anos, os governos têm-se interessado cada vez mais pelo tema da microfinança dirigida aos mais
pobres. O maior interesse por parte dos governos na microfinança traz oportunidades e riscos. Por um lado, os
governos bem informados podem implementar políticas que encorajem a emergência de instituições financeiras
permanentes e sustentáveis para servirem os pobres. Ao limite, poderiam, inclusivamente, eliminar as políticas
que bloqueiam o desenvolvimento da microfinança. Por outro lado, a crescente atenção sobre este tema
também aumenta os riscos da sua politização.

Muitos governos pensam que o microcrédito é sinónimo de dar dinheiro às pessoas pobres. O perigo de um
excessivo envolvimento por parte dos governos nas questões da microfinança é o de que os critérios políticos,
em vez de critérios rigorosos administrativos, poderiam dar lugar a decisões sobre quem recebe o crédito e
onde se devem localizar as filiais destas operações. E o cerne da atenção política continua a ser, em grande parte,
os enmpréstimos, em vez de se concentrar sobre o conjunto de serviços financeiros que as populações mais
pobres necessitam.

Os governos envolvem-se tipicamente nos sistemas financeiros em, pelo menos, três maneiras:

 DIstribuem serviços financeiros directa ou indirectamente, muitas vezes ao atribuirem crédito a grupos
preferenciais ou canalizando recursos para as instituições financeiras, muitas vezes através de acordos (em
qualquer dos casos, a maioria destes fundos chega através de doadores internacionais). Os governos não são
o melhor exemplo na atribuição directa de crédito, apesar de os bancos da propriedade do governo (por
exemplo, as caixas económicas postais) serem bem sucedidos na mobilização das poupanças ou na
transferência de dinheiro.

 Os governos definem políticas que afectam o sistema financeiro. Estas políticas incluem o assegurar da
estabilidade macro-económica, a liberalização das taxas de juro e o estabelecimento da regulamentação e
supervisão bancária que tornam a microfinança possível.

Os governos têm um papel importante na definição de políticas que permitam o aparecimento e florescimento
de serviços financeiros sustentáveis para os pobres. Existem, pelo menos, três tipos de políticas que os governos
precisam de assegurar:

o A estabilidade macro-económica,

o Taxas de juro liberalizadas, e

o Práticas apropriadas de regulamentação e de supervisão dos bancos.

 Podem promover de forma pró-activa a integração oferecendo incentivos fiscais ou exigindo que as
instituições financeiras sirvam os clientes mais pobres ou com baixos rendimentos. Existem muito menos
experiências conclusivas nesta terceira dimensão, sobretudo nos países em desenvolvimento.

Segundo a investigação da CGAP, nos últimos dez anos, uma das questões mais importantes sobre as políticas
relacionadas com a microfinança, tem sido a discussão em torno de como tratar da melhor forma a
regulamentação e supervisão da microfinança. Á medida que a microfinança amadurece irá, muito

23
provavelmente, migrar para instituições que são licenciadas e supervisionadas pelos bancos centrais e por outras
autoridades financeiras. Na maioria dos países, esta mudança requer o ajuste das regulamentações bancárias
existentes.

A maioria das pessoas pensam em “regulamentações prudenciais” quando (e se) pensarem sobre a
regulamentação das instituições financeiras. A regulação prudencial tem como objectivo assegurar a solidez
financeira das instituições regulamentadas para prevenir a instabilidade geral do sistema e proteger clientes que
aí depositam o seu dinheiro de o perderem. Quando uma instituição que aceita depósitos colapsa, não podendo
pagar a quem aí deposita o seu dinheiro, a confiança pública pode ser afectada e desencadear o levantamento do
dinheiro depositado. Exemplos de regulação prudencial incluem normas de adequação do capital (em caso de
crise, será que a instituição financeira tem património liquido suficiente?) e as reservas e liquidez (será que tem
dinheiro suficiente em caixa para poder responder a um levantamento em massa por parte dos seus clientes?).
Contudo, a regulação prudencial pouco significa sem uma supervisão efectiva igualmente prudencial.

A supervisão envolve a monitorização com o objectivo de verificar a conformidade com as regulações prudenciais
e tomar as medidas necessárias para apoiar a solvência de uma instituição regulamentada quando a conformidade
àquelas regulações se torna duvidosa. A regulação prudencial e a supervisão são, geralmente, complexas, dificeis,
dispendiosas e invasivas. Exigem uma autoridade financeira especializada para a implementarem.

Para as instituições financeiras que recolhem depósitos ao público (estando assim, geralmente, sujeitas à
regulação prudencial), existe a necessidade de adaptar algumas regulamentações bancárias padrão para que se
apliquem à microfinança.

Os governos deveriam aplicar regulações prudenciais mais pesadas apenas quando o sistema financeiro e o
dinheiro dos depositantes se encontra potencialmente em risco. Caso contrário, as normas não pridenciais e as
abordagens reguladoras deveriam ser suficientes.

As regulações não prudenciais incluem medidas como o registo com alguma autoridade com propósitos de
transparência, manter contas adequadas, prevenir a fraude e os crimes financeiros e os vários tipos de medidas
de protecção dos consumidores.

As instituições especializadas em micro-crédito que não aceitam depósitos (retalho) não deveriam estar sujeitas
à regulação prudencial. Alguns países, particular nos países do antigo regime comunista, proibem as instituições
não bancárias não autorizadas, de emprestarem dinheiro. Esta restrição é desnecessária, podendo bloquear a
experiência com o microcrédito. Nestes casos, as reformas que sujeitam quem oferece microcredito à regulação
não prudencial, pode ser um meio relativamente simples e eficaz de libertar o desenvolvimento do micro
empréstimo em larga escala, como se observa na Bósnia e em Marrocos.

O custo e a dificuldade uma supervisão prudencial efectiva, em particular nas instituições mais pequenas, é um
assunto politico particularmente espinhoso. As autoridades supervisoras têm, tipicamente, poucos recursos à sua
disposição. As autoridades utilizam o capital minimo exigido– o capital mais baixo para obter a autorização – para
racionalizar o número de instituições financeiras que exigem supervisão.

Muitos dos proponentes à microfinança são da opinião que o capital minimo necessário deveria ser muito mais

24
baixo no caso das instituições que ajudam os pobres. Outros são da opinião que o capital minimo deveria limitar
as instituições autorizadas a um conjunto que os supervisores poderiam monitorizar de forma realista. Uma
sueprvisão pouco eficaz pode ser pior do que nenhuma supervisão, porque os clientes pobres (e não só)
poderão ser induzidos num falso sentimento de segurança.

3 Financiadores

A construção de sistemas financeiros inclusivos não ocorrerá automaticamente. O dinheiro e o apoio técnico são
ingredientes chave, apesar de a receita exigir menos dinheiro e muito mais apoio técnico do que se costuma
acreditar.

Os últimos anos têm visto uma explosão do número e do tipo de fontes de financiamento internacional para a
microfinança. Para além da comunidade de doadores tradicional, um conjunto de investidores socialmente
motivados entrou no mercado da microfinança. Também tem vindo a ser dada mais atenção às fontes de
financiamento nacionais.

Num mundo ideal com sistemas financeiros inclusivos, os mercados financeiros nacionais forneceria o maior
parte dos fundos para a microfinança. Os fornecedores de serviços financeiros apoiar-se-iam em poupanças do
público, empréstimos do sector dos bancos comerciais, emissão de obrigações, e mercados nacionais de acções.
Quantidades limitadas de finança internacional complementariam o mercado nacional de funding.

No mundo real, as IMF mais especializadas ainda estão longe de se integrarem nos mercados nacionais. Alguns
fornecedores de serviços financeiros como as caixas económicas postais já actuam nos mercados financeiros
nacionais (em especial no caso das poupanças), como o fazem também alguns dos principais fornecedores
especializados em microfinança. Mas até ao momento, os subsídios internacionais têm desempenhado um
enorme papel no arranque e no fortalecimento da microfinança.

As agências internacionais de doadores injectaram bolsas e subsidiaram empréstimos para implementarem o


desenvolvimento e o crescimento da microfinança—dando importantes contribuições em todos os três níveis
do sistema financeiro: micro, meso e macro.

À medida que a microfinança evoluiu do estado em que quase só concedia crédito para a formação de micro-
empresas, para se concentrar em tornar os sistemas financeiros mais inclusivos, os doadores públicos precisam
de se re-einventar a si próprios à medida que definem para si um papel mais construtivo. A questão fundamental
é como utilizar melhor os subsídios para estimular, sobretudo, as entidades privadas para servirem as pessoas
pobres com serviços financeiros de qualidade, mais rapidamente do que o fariam por si próprias.

O panorama das opções de financiamento em microfinança é muito dinâmico e complexo. Os financiadores


existentes estão entre os que têm como missão principal uma missão social para aliviar a pobreza (agências
internacionais de doadores e fundações), e entre os que têm motivações mais comerciais (investidores
comerciais e mercados nacionais de capital), entre outros. Existem importantes diferenças em cada categoria. Por
exemplo, alguns investidores socialmente responsáveis são mais “sociais” e outros mais “comerciais.”

25
O maior desafio para que os financiadores avancem nos seus investimentos é o de identificar as suas forças por
forma a concentrarem-se nos segmentos em que estão melhor posicionados para actuarem – baseado nos seus
objectivos, os tipos de instrumentos financeiros que oferecem, a sua estrutura de custos, as suas forças técnicas
internas e a sua vontade de arriscar.

3.1 Agências e Fundações Internacionais de Doadores

Neste capítulo, o termo “doador” envolve um conjunto de agências internacionais de desenvolvimento (por
vezes também denominadas como parceiros internacionais de desenvolvimento) que incluem os seguintes:

 Doadores bilaterais – as agências de ajuda governamentais dos países industriais

 Bancos e organizações de desenvolvimento multilaterais – agências da propriedade dos governos do


mundo industrial e em desenvolvimento, como o Banco Mundial, os bancos regionais de desenvolvimento e
as agências das Nações Unidas como o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) ou o
Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (IFAD).

 Fundações – instituições privadas sem fins lucrativos através das quais é investida e distribuída a riqueza
privada para fins públicos e/ou de caridade, como a Fundação Ford, Argidius ou o Open Society Institute (OSI).

Estima-se que estes doadores gastem entre 800 milhões a mil milhões de dólares por ano em microfinança e
projectos de crédito. Segundo um estudo recente da CGAP sobre membros doadores, o Banco Mundial, o Banco
Asiático para o Desenvolvimento, Banco Inter-Americano para o Desenvolvimento e a Comissão Europeia, estão
entre os maiores financiadores públicos da microfinança. Segundo a informação contida nesse relatório, só estes
quatro doadores têm uma carteira de títulos (portfolio) em microfinança (valor acumulado) no valo de 1.8 mil
milhões de dólares no final de 2003.

As agências de doadores apoiam a microfinança utilizando um conjunto de instrumentos. Os instrumentos a


disposição dos doadores incluem o apoio politico, a assistência técnica (apoio de especialistas que oferecem
consultoria técnica), bolsas, empréstimos (que podem ser oferecidos com taxas de juro subvencionadas ou
comerciais, quasi-acção (usualmente empréstimos a baixo juro que podem ser convertidos em participações
accionistas), investimentos accionistas em instituições que podem vender acções e garantias. São utilizadas
diferentes combinações destes instrumentos para um conjunto de diferentes projectos, incluindo os seguintes:

 Financiar a carteira de títulos de empréstimo das instituições financeiras;

 dar apoio técnico às instituições financeiras e aos governos (muitos vezes denominado capacitação);

 melhorar a capacidade das instituições financeiras para acederem aos mercados de capital nacional
através da ajuda no estabelecimento de parcerias e de garantias;

 construir o conjunto de competências dos fornecedores de serviços técnicos, como as empresas de


consultoria locais ou formação; e

 apoio das operações das redes e associações.


26
Os doadores mais efectivos em microfinança são os que podem financiar directamente as organizações privadas
nos países em desenvolvimento. Infelizmente, muitos doadores, em particular os bancos de de
desenvolvimento multilateral, são capazes de trabalhar apenas com os governos, muitas vezes com pequenos
empréstimos. Este instrumento pode ser válido para as tradicionais actividades de ajuda, como a construção de
estradas, hospitais e escolas, mas é menos adequado para apoiar o sistema financeiro no domínio do sector
privado. A maioria dos governos não têm um bom historial quando se trata de oferecer serviços financeiros.

IMF na área do retalho (nível micro) podem ser financiadas directa ou indirectamente pelos doadores ou através
de instituições de financiamento a grosso (apex). Estes canais indirectos são muitas vezes montados com a
intenção de canalizarem de forma mais eficiente os fundos e, por vezes, o apoio técnico a múltiplas instituições
financeiras. Outros canais comummente utilizados para os fundos são as componentes de crédito de projectos
multisectoriais.

Tornar a ajuda mais efectiva. As boas notícias é que o interesse dos doadores em construir sistemas financeiros
inclusivos têm trabalhado muito para terem uma posição comum sobre como fazer a coisa certa. Em 1995, as
agências de donor codificaram orientações de boas práticas para o apoio às IMF. Estas agências produziram
recentemente orientações actualizadas sob o título Building Inclusive Financial Systems: Donor Guidelines on Good
Practice in Microfinance. 5 Este documento, disponibilizado e co-produzido pelo CGAP, contém lições aprendidas
e orientações operacionais para os doadores e para outros que estão a trabalhar ao nível da microfinança.

A má notícia é a de que os doadores não aplicam de forma consistente estes princípios de boas práticas. Uma
grande parte do dinheiro que gastam não é efectiva, tanto porque acaba por ficar preso a mecanismos de
financiamento pautados pelo insucesso e muitas vezes complicados, ou porque vai para parceiros que raramente
são obrigados a demonstrar a sua performance. Em alguns casos, programas pobremente concebidos atrasaram
o desenvolvimento dos sistemas financeiros inclusivos ao distorcerem os mercados e ao deslocarem as
iniciativas comerciais nacionais com dinheiro barato ou gratuito. Muitas vezes os doadores encontram
dificuldades em aderir às boas práticas pelo modo como funcionam. As agências de desenvolvimento poderiam
ter um impacto muito maior (mesmo com os actuais níveis de custos) alinhando as suas operações com as boas
práticas e limitando a sua intervenção às áreas em que são especializados individualmente e como grupo.

Posicionando o financiamento dos doadores. O papel dos doadores no futuro irá mudar à medida que o
progresso em direcção aos sistemas financeiros inclusivos ganha impulso. A dependência do financiamento dos
doadores irá diminuir em termos relativos à medida que os mercados amadurecem. Os doadores precisarão de
encontrar modos de complementar – e não de substituir - o capital privado nacional e doméstico.

Os subsídios dos doadores serão necessários a todos os níveis do sistema financeiro. O sector privado por si não
conseguirá responder aos desafios colocados pela expansão e pelo aprofundamento do sistema financeiro ou,
pelo menos, não o fará tão rapidamente quanto o necessário para alcançar os benefícios de desenvolvimento
urgentemente necessários. Num curto espaço de tempo, os investidores puramente comerciais poderão achar o

5
CGAP, Building Inclusive Financial Systems: Donor Guidelines on Good Practice in Microfinance;
Disponível em: http://www.cgap.org/docs/donorguidelines.pdf

27
custo de fornecimento de serviços financeiros demasiado elevado ou a taxa de retorno demasiado baixa, ou o
risco demasiado elevado. Os doadores são necessários para promoverem a inovação a investigação e o
desenvolvimento de novos produtos ou tecnologias; melhorar a infra-estrutura financeira; encorajar o aumento
da transparência sobre o desempenho e a competição entre os fornecedores de serviços retalho; e a construção
de competências financeiras a todos os níveis. Os doadores também podem influenciar as políticas financeiras
nacionais e internacionais que possibilita, sistemas financeiros inclusivos emergir e serem bem sucedidos.

Finalmente os doadores deveriam estar preparados para terem mais riscos do que os actores privados, porque
podem absorver mais facilmente as perdas que podem ocorrer. Um apetite maior pelo risco significa que os
doadores deveriam concentrar-se nas instituições de financiamento que os investidores comerciais ou
RESUMO DOS PRINCÍPIOS CHAVE DA MICROFINANÇA
socialmente
Estes princípios foramresponsáveis
desenvolvidosdeveriam evitar.
e apoiados pela CGAP e pelos seus 28 membros donors, e
posteriormente defendidos pelos representantes do Grupo dos Oito, no Encontro do G8, em 10 de Junho de
2004, em Sea Island, Georgia,EUA.

1. As pessoas pobres precisam de uma variedade de serviços financeiros, não apenas


empréstimos.
Para além do crédito, querem poupanças, seguros e serviços de transferência de dinheiro.
2. A microfinança é uma ferramenta poderosa para lutar contra a pobreza.
Os agregados pobres utilizam os serviços financeiros para aumentarem os seus rendimentos
mensais, construir o seu espólio e protegerem-se contra choques exteriores.
3. A microfinança significa construir sistemas financeiros para servir os pobres.
A microfinança apenas conseguirá o seu potencial completo ser for integrada no sistema financeiro
dominante do país.
4. A microfinança pode pagar-se a si própria e terá que o fazer se quiser chegar a um vasto
número de pessoas.
A não ser que os fornecedores da microfinança cobrem o suficiente para cobrir os seus custos,
estarão sempre limitados pelo parco e incerto fornecimento de subsídios por parte dos doadores e
dos governos.
5. A microfinança é sobre construir instituições locais permanentes que podem atrair depósitos
nacionais, reciclá-los em empréstimos e fornecer outros serviços financeiros.
6. O microcrédito nem sempre é a resposta.
Outro tipo de apoios poderão funcionar melhor para as pessoas que são tão pobres que não têm
qualquer rendimento ou formas de pagar os seus empréstimos.
7. Os tectos de taxas de juro afectam as pessoas pobres ao tornar-lhes mais difícil o acesso ao
crédito. Fazer muitos empréstimos pequenos custa mais do que fazer grandes empréstimos.
Os tectos dos juros impede as IMF de cobrirem os seus custos, e desta forma impede-as de
fornecer crédito aos pobres.
8. O trabalho do governo é o permitir a existência de serviços financeiros e não o de atribuí-los
directamente.
Os governos quase nunca podem fazer um bom trabalho ao emprestar dinheiro, mas podem
construir um ambiente político de apoio.
9. Os fundos de doadores deveriam complementar o capital privado e não competir com ele.
Os subsídios de doadores deveriam apoiar a implementação de uma instituição e apoiá-la até ao
ponto onde possa recorrer a fontes de financiamento privadas, como os depósitos.
10. O entrave principal é a falta de instituições fortes e de gestores.
Os doadores deveriam concentrar o seu apoio na construção de competências.
11. A microfinança funciona melhor quando mede – e mostra – o seu desempenho.
Os relatórios não apenas ajudam os accionistas a avaliarem os seus custos e benefícios, mas
também a melhorar o seu desenvolvimento. As IMF precisam de produzir relatórios precisos e
comparáveis que relatem o seu desempenho financeiro (por exemplo, o pagamento de
empréstimos e a recuperação dos custos) bem como o seu desempenho social (por exemplo,
número e grau de pobreza dos clientes a serem servidos).

Source: http://www.cgap.org/docs/donorguidelines.pdf

28
3.2 Investidores Internacionais

O investimento internacional em microfinança está a aumentar. Os investidores internacionais socialmente


orientados incluem os investidores públicos (os braços financeiros das agências de desenvolvimento bilateral e
multilateral, normalmente conhecidas como instituições internacionais de financiamento ou IIF), que têm uma
abordagem mais comercial do que os doadores, e os fundos privados de muitos tipos. Estes fundos poderiam
aumentar potencialmente a atribuição de financiamentos onde o doador já não é necessário, mas em que os
financiamentos comerciais ainda não estão disponíveis. Em conjunto, os fundos privados e IIF colocaram 1.2 mil
milhões de dólares em títulos de dívida, património líquido e garantias em cerca de 500 IMF especializadas e
cooperativas. É provável que, a curto prazo, os investidores internacionais poderão somar a este número cerca de
650 milhões de dólares 6.

A criação de mais de 50 fundos ao longo dos últimos anos captou a atenção da comunidade da microfinança e
reflecte o aparecimento do entusiasmo para a microfinança. Os investidores privados chegam-nos sob várias
formas e dimensões:

• Fundos de investimentos independentes especializados em microfinança: Profund, AfriCap.

• Fundos associados e criados por redes de microfinança: ACCION Investments (ACCION Global
Bridge Fund, ACCION Latin America Bridge Fund, ACCION Gateway Fund), Opportunity International,
Développement International Desjardins (Investment Fund for International Development
[FONIDI], the Partnership Fund, and the Guarantee Fund) e Internationale Micro Investitionen
Aktiengesellschaft (IMI-AG).

• Fundos criados por investidores privados socialmente responsáveis: Gray Ghost, Unitus,
Andromeda, Triodos, Oikocredit, responsibility e Société d’Investissement et de Développement
International (SIDI).

O crescimento substancial de investimentos internacionais em microfinança tem sido sinónimo tanto de


benefícios, como de perturbações. Em primeiro lugar estes fundos dão-nos um vasto conjunto de instrumentos
financeiros capazes de irem ao encontro das necessidades financeiras sobre IMF. Apesar de ter sido
relativamente difícil para as IMF obter no passado participações accionistas, alguns fundos começam a
providenciar acções. Isto é importante, porque os investidores internacionais podem ter um impacto positivo na
governança e na gestão das IMF quando se tornam parcialmente proprietários desses fundos. Para além de dívida
e participações accionistas, outros instrumentos oferecidos por estes investidores incluem quasi-acções

6
Ivatury e Abrams, “The Market for Microfinance Foreign Investment: Opportunities and
Challenges,” citado por CGAP (2006), Access for All.

29
(empréstimos com taxas de juro baixas a médio e longo prazo destinados a serem pagos através dos lucros, e
que podem eventualmente serem transformados em participações accionistas); compra de títulos, certificados
de depósito e outros instrumentos; e garantias de modo a que as instituições financeiras possam obter
empréstimos junto dos bancos nacionais, emitir títulos ou flutuar acções na bolsa.

A maioria do investimento internacional (em torno dos 90 por cento) chega directa ou indirectamente dos
fundos públicos. Muitos dos fundos privados obtém o seu financiamento através dos IIFs. Mas a abordagem tanto
dos IIFs como dos fundos privados é muito adversa ao risco. Tal reflecte-se no elevado nível de concentração dos
investimentos, tanto geograficamente como no tipo de instrumentos oferecidos (ver figura 11). Cerca de 87 por
cento dos fundos vão para duas regiões, a Europa e a Ásia Central (IIF) e a América Latina (fundos privados). A
concentração pode ser ainda maior, na medida em que os fundos privados e os IIF competem por um pequeno
grupo de instituições financeiras fortes e regulamentadas.

Por exemplo, cerca de um terço de todos os fundos privados financiaram o Banco Solidario no Equador e o
Confianza no Peru, e um terço dos IIF investiram dívida e acções num conjunto de instituições ProCredit na
Europa de Leste, nos Balcã e na Ásia Central.

A elevada concentração de financiamento levanta dúvidas sobre se existem oportunidades de mercado


suficientes para apoiar tantos fundos pequenos. Alguns observadores prevêm um aumento da consolidação à
medida que os mercados dos fundos amadurece e os subsídios para o estabelecimento de fundos seca.

Outro nível de concentração é a dos instrumentos utilizados. A maioria do dinheiro é oferecido como um
empréstimo em moeda estrangeira, o que poderia colocar problemas às instituições que poderiam não saber
como gerir os riscos associados ao câmbio da moeda estrangeira. Dois exemplos de entidades emprestadoras
internacionais que desenvolveram os seus próprios mecanismos para mitigarem estes riscos, são os do Triodos
Bank e do Oikocredit. O Triodos combina empréstimos em moeda local com swap de divisas a taxa fixa sempre
que estas estão disponíveis (por exemplo, a Indonésia, a Índia, África do Sul, Brasil e México) e, quando não estão
disponíveis incorporam aquele risco no preço do empréstimo. Oikocredit montou um Local Currency Risk Fund
(LCRF), que é como o seguro que protege os seus empréstimos contra flutuações nas taxas cambiais. LCRF utiliza
bolsas de doadores para assegurar aos emprestadores que o retorno sobre os empréstimos em moeda forte
não caia para além de um limite pré-definido.

Todos os investidores internacionais em microfinança têm uma coisa em comum: estão dispostos a aceitarem
um retorno mais modesto sobre os seus investimentos em troca dos retornos sociais gerados pela microfinança.
Ainda que os serviços financeiros destinados aos pobres sejam atractivos para os investidores com missões
sociais, o mesmo pode não acontecer com os chamados investidores puramente comerciais, apenas
interessados nos lucros. Quanto maior for o ênfase nos retornos sociais, maior será o risco financeiro que os
investidores devem estar dispostos a assumir. Os doadores devem reduzir a sua ligação com aquelas IMF que
financiarem nos últimos anos e encorajá-las a desenvolver laços com os mercados de capital domésticos. Isto
significa que devem dar prioridade à próxima geração de instituições fortes, oferecendo capital inicial e apoio no
desenvolvimento ou transformação destas novas estrelas.

30
3.3 Mercados Nacionais de Financiamento

Integrar a microfinança nos mercados nacionais é o objectivo último para a construção de um sistemas
financeiros inclusivos. O financiamento nacional têm, pelo menos, três vantagens. Em primeiro lugar a
disponibilidade de serviços de depósitos financeiros (uma fonte de financiamento nacional) é muito valorizada
pelas pessoas pobres ou com baixos rendimentos. Em segundo lugar, o financiamento nacional ajuda as
instituições financeiras a evitar o risco das operações cambiais. Em terceiro, é mais provável que seja proveniente
de fontes comercialmente motivadas, ou seja, não será dinheiro que teria sido utilizado com outros propósitos
sociais ou de desenvolvimento se a instituição financeira não o tivesse captado.

A maioria dos sistemas financeiros nacionais têm excesso de liquidez – os bancos têm sido suficientemente
razoáveis na mobilização de fontes, na maioria de clientes corporativos, institucionais ou abastados. De facto,
muitas instituições financeiras que servem as pessoas pobres e com baixos recursos, como os grandes bancos
de poupança, ou, caixas económicas postais, e outros bancos comunitários e cooperativas já se apoiam nos
mercados nacionais, em particular no que diz respeito aos depósitos.

O grande número de contas de poupança entre estas instituições, alude ao potencial para a mobilização dos
depósitos em grande escala entre os clientes pobres e com baixos rendimentos. Para além das poupanças,
outras fontes potenciais de financing nacional para a microfinança incluem dívida dos bancos comerciais,
certificados de aforro e títulos, bem como acções de indíviduos ou fundos a nível doméstico, e a flutuação de
acções no mercado de valores (embora estas fontes domésticas de acções ainda não se tenha materializado).

A maioria das IMF especializadas não se aproveitaram, tanto quando podiam, da grande oportunidade
apresentada pelos mercados nacionais de financiamento. Muitas preferem os investidores estrangeiros. Num
estudo recente da CGAP/MIX, as IMF e as cooperativas citavam melhores termos e condições, em particular taxas
de juro nominal aparentemente mais baratas, como as principais razões para preferirem o investimento
estrangeiro às fontes nacionais. Na medida em que muitos dos investidores internacionais incorporam subsídios
de algum tipo no seu funding, esta preferência não é supreendente. Muitas vezes, as instituições financeiras
sobre-estimam o valor relativamente baixo da dívida externa, contudo, porque acabam por não ter em conta o
risco das operações cambiais. Outro problema com a dívida internacional, em particular quando é subsidiada, é o
de que pode baixar os incentivos para a mobilização de depósitos.

São várias as IMF que começam a aceder às fontes de financiamento nacionais. As IMF regulamentadas
começaram a focar-se nos recursos nacionais de fundos e funcionam como verdadeiros intermediários
financeiros. Muitas viraram-se para a mobilização para os depósitos, o que tem muitos benefícios. Em primeiro
lugar, permite às instituições financeiras ir melhor ao encontro das necessidades dos clientes pobres (e outros)
ao oferecer um conjunto mais vasto de serviços. Também pode baixar os custos globais of financiamento e
diversificar as fontes dos fundos. As poupanças, mesmo as pequenas poupanças, são normalmente
relativamente mais estáveis ao longo do tempo e podem ser de maior confiança do que os doadores ou do que
outros financiadores que podem mudar as suas estratégias ou decidir não financiar os projectos.

No Peru, à medida que os bancos comerciais entraram no mercado, as IMF regulamentadas procuraram modos
de reduzir os seus custos para serem concorrenciais. Para o fazerem, viraram-se gradualmente para os depósitos,
31
em vez de pedirem emprestado para financiar o seu crescimento. Entre 1997 e 2003, os depósitos como uma
percentagem dos activos totais aumentou de 40 por cento para 62 por cento entre 11 IMF Peruanas. 7

Contudo, muitas instituições financeiras descobriram que a mobilização das poupanças nem sempre é fácil,
particularmente entre os clientes pobres. Os custos elevados (em especial para as contas pequenas), as
competências especializadas necessárias, riscos de liquidez e de exposição em tempo de crise, quando os
clientes poderiam acorrer em massa ao banco para levantarem as suas poupanças, foram muitas vezes
responsáveis pela quebra dos entusiasmo na mobilização dos clientes para os depósitos. Os bancos acharam
difícil equilibrar as necessidades dos clients em termos de lugares seguros, convenientes e accessíveis para
manter o seu dinheiro com os seus próprios requisitos em termos de viabilidade financeira. Dadas as opções
formais existentes na maioria dos países em desenvolvimento, os clientes maos pobres podem bem preferir
esconder o seu dinheiro debaixo do colchão do que depositá-lo numa conta bancária. O desafio para as
instituições financeiras regulamentadas que servem os clientes pobres é o de construir um “business case” para
os depósitos. As instituições financeiras precisam de ver muitos benefícios no seu investimento no
conhecimento do mercado, product mix, sistemas e marketing necessário, para oferecerem serviços de
depósitos aos clientes pobres e com baixos rendimentos.

As IMF sem regulamentação são mais numerosas do que as que são regulamentadas. Têm poucas opções para
além da dívida externa porque não estão legalmente autorizadas a mobilizarem poupanças. Muitas vezes também
têm estruturas de propriedade pouco claras o que levanta questões sobre quem é accountable para o banco no
caso de insolvência. Os bancos nacionais não estão, geralmente dispostos a emprestar-lhes para além de um ratio
de 1 para 1 em termos de dívida/acção, e muitas vezes exigem uma garantia formal como uma hipoteca sobre
uma propriedade. 8

A carteira de títulos de empréstimo é o único activo de muitas IMF convecionais. Alguns bancos aceitaram estes
carteira de títulos como garantias, o que poderia ser um sinal de abertura aos empréstimos nacionais para
algumas IMF. A verdade é que a qualidade da carteira de títulos na microfinança é bastante boa e pode ser
suficiente para assegurar uma garantia.9 Os parceiros internacionais poderiam ajudar ao reforçar as competencies
das numerosas pequenas IMF, apresentado-as aos bancos nacionais, aumentando a credibilidade dos seus
parceiros domésticos, aumentando a governança e oferecendo garantias.

Algumas das principais IMF (na sua maioria regulamentadas, mas nem todas) utilizaram instrumentos de díívida
nos mercados de capital locais. Por exemplo, a Compartamos no México, o Mibanco no Peru e o Women’s World
Banking (WWB) Cali, na Colombia, colocaram acções nos seus mercados nacionais, baseadas, em parte, nas
avaliações emitidas por grandes agências de rating, como a Standard & Poor’s, Fitch e a Moody’s. BancoSol, o
pioneiro da microfinança a transformar-se num banco, inscreveu-se na bolsa da Bolívia e emitiu o equivalente a 3
milhões de dólares em acções desde 1997. Na Europa de Leste, os bancos de microfinança ProCredit também
estão a crescer no mercado nacional de capitais.

7
Ivatury e Abrams, “The Market for Microfinance Foreign Investment: Opportunities and Challenges,” citado por CGAP (2006),
Access for All.
8
Ibidem.
9
Gibbons e Meehan, “Financing Microfinance for Poverty Reduction,” citado por CGAP (2006), Access for All.
32
No lado das acções, são poucas as IMF classificadas nos seus mercados nacionais. E os resultados têm sido mistos.
Algumas evidências do BancoSol na Bolívia, mostram que estas acções podem ser vendidas a desconto se
comparadas com aquelas dos bancos bolivianos mainstream, o que se significa que o mercado doméstico pode
não valorizar a microfinança seriamente. Simultaneamente, os primeiros investidores em microfinança mostram
preocupação sobre a possível diluição da missão social, no caso de ser permitido uma maior propriedade de cariz
comercial neste tipo de mercado financeiro.

Porque é que, até ao momento, são poucas as IMF especializadas a emitirem títulos e a conseguirem património
líquido nas suas bolsas nacionais? E porque é que ainda são em menor número as que o fizeram numa base
puramente comercial, sem o benefício de uma garantia por parte de uma IFI? Será que aparecerm muitas outras
que conseguirão responder a esta potencial fonte de fundos? Ainda existem algumas dificuldadees, mesmo na
América Latina, uma das regiões mais avançadas em termos da emissão de títúlos de microfinança. Em primeiro
lugar, os obstáculos regulamentares em alguns países, como o Peru, impedem o acesso por parte de alguns
tipos de instituições financeiras. Em segundo lugar, os mercados de capitais nem sempre estão familiarizados
com a microfinança e os investidores podem achá-los demasiado arriscados. Em terceiro lugar os custos de
emissão de um título são relativamente elevados e as pequenas exigências financeiras de muitas entidades
especializadas em microfinança podem não justificar estes custos. 10

Na maioria dos países em desenvolvimento, os mercados de capitais estão tão pouco desenvolvidos que não
conseguem apoiar grandes financiamentos para além da mobilização para o depósito de dinheiro. A falta de
concorrência e a ineficiência no sector da banca é sinónimo de que os fundos são caros quando estão disponíveis.
A maioria destes fundos é de curto prazo e poucos mercados podem emitir tal financiamento de longo prazo.
Muito trabalho continua por ser feito para construir e sedimentar um mercado de financiamento nacional e criar
um sistema financeiro realmente inclusivo.

4. Conclusões e Desafios para o Futuro


4.1 À procura de um sistema financeiro inclusivo

Mais de 3 mil milhões de pessoas pobres que vivem com menos de 2 dólares por dia, procuram aceder a serviços
financeiros básicos que podem ser um elemento fundamental para o alívio da pobreza. A maioria das pessoas no
mundo em desenvolvimento, isto é, a maioria da população mundial, não tem acesso a serviços financeiros
formais. Muito poucas beneficiam de contas de poupança, empréstimos ou formas práticas de transferir dinheiro.
A falta de acesso a serviços financeiros impede os pobres e as pessoas com menos recursos económicos de
tomarem decisões diárias que a maioria das pessoas tem como garantidas.

10
Portocarrero Maisch e Soria, Cómo deberían financiarse las IMF, 54. Citado por CGAP (2006), Access for All.

33
A microfinança obteve resultados extraordinários nos últimos 30 anos, conseguindo mostrar que as pessoas
pobres são clientes viáveis. Simultaneamente criou um número de instituições que se especializaram em
serviços financeiros para as pessoas pobres e começou a atrair o interesse de investidores privados. Mas apesar
destes resultados, ainda existe um longo caminho a percorrer para fazer chegar estes serviços a todos os que
deles necessitam. São três os maiores desafios que definem as fronteiras dos serviços financeiros para os mais
pobres:

1. Multiplicação dos serviços financeiros de qualidade para chegarem a um maior número de pessoas
(escala);

2. Chegar a pessoas mais desfavorecidas e mais distantes (profundidade); e


3. Baixar os custos tanto para os clientes como para os fornecedores dos serviços financeiros (custo).

A questão que se coloca é a seguinte: Como superar estes desafios? A resposta: Fazendo dos serviços
financeiros para os pobres parte do sistema financeiro dominante. Este enorme número de pessoas que se
encontram excluídas do sistema financeiro tradicional, apenas conseguirá fazer parte dele caso os serviços
financeiros que lhe são destinados sejam integrados em todos os três níveis do sistema financeiro: micro, meso
e macro.

Micro. A espinha dorsal dos sistemas financeiros continua a ser os fornecedores de serviços financeiros
a retalho que oferecem serviços directamente aos pobres e aos clientes com baixos rendimentos. Estes
fornecedores de serviços que se encontram no nível micro do sistema vão desde os emprestadores de
dinheiro informais ou clubes de poupanças aos bancos comerciais e incluem todas as entidades que se
encontram neste sistema.

Meso. Este nível inclui a infra-estrutura e o conjunto de serviços necessários para reduzirem os custos
de transacções, aumentar o seu alcance, construir competências e promover a transparência entre os
fornecedores de serviços financeiros. Inclui um vasto conjunto de actores e de actividades, como os
auditores, agências de rating, redes de profissionais, sindicatos, agências de crédito, sistemas de
transferências e de pagamentos, fornecedores de serviços técnicos e formadores. Estas entidades
podem transcender as fronteiras nacionais e incluem organizações regionais ou globais.

Macro. É necessário um enquadramento legislativo e político apropriado para permitir o florescimento


de um sistema de microfinança sustentável. Os bancos centrais, os ministérios, as finanças e outras
entidades governamentais nacionais, são os principais participantes neste nível macro.

No quadro de sistema financeiro integrado e inclusivo, a qualidade e a transparência adquirem uma grande
importância. A transparência é fundamental para a construção de sistemas financeiros inclusivos que atinjam uma
dimensão significativa. Pode promover o desempenho das instituições financeiras. A informação correcta ajuda
os gestores a identificar as áreas que precisam de ser melhoradas e a tomarem melhores decisões para
melhorarem as suas instituições. A informação que é disponibilizada gratuitamente também possibilita aos
34
gestores compararem-se entre si, dando-lhes forte incentivos para desenvolver a sua actuação. A transparência
também atrai financiadores. A informação precisa e padronizada possibilita aos investidores privados e aos
doadores públicos tomarem decisões informadas. A maior participação dos investidores, por sua vez, dá os
recursos para financiar o maior e mais rápido crescimento dos serviços financeiros destinados aos mais pobres.

As boas práticas aplicam sistematicamente o denominado “espectro da transparência”, a integração progressiva


dos seguintes elementos:

 Sistemas de informação (também conhecidos como sistemas de gestão de informação ou SGI) ajudam
as instituições a reunir e a relatar periodicamente, dados precisos e úteis. O SGI é a base para o espectro
da transparência e a qualidade de informação neste nível afecta todos os restantes.

 Controle interno e auditorias externas ajudam a verificar a qualidade e a precisão da informação


fornecida pelas instituições financeiras.

 Avaliação do desempenho permite aos gestores e aos actores externos, como os supervisores
bancários, investidores ou clientes, monitorizarem o desempenho das instituições financeiras ao longo
do tempo.

 Benchmarking compara os resultados do desempenho entre instituições, por exemplo, comparando o


desempenho entre as instituições de diferentes regiões ou com níveis de desenvolvimento
diferenciados, por forma a que os gestores e outros possam saber em que ponto é que uma instituição
se encontra relativamente aos seus pares.

 Padrões de desempenho são normas absolutas que as instituições financeiras procuram atingir. Estes
padrões podem derivar do benchmarking, mas são diferentes porque se referem a um target absoluto.

 Ratings são avaliações independentes de crédito ou risco institucional de uma instituição financeira
baseada numa metodologia standartizada, incluindo análise quantitativa e qualitativa. São muitas vezes
utilizados por investidores pouco informados em decisões sobre se financiar uma instituição financeira.

 Corpos Supervisores e investidores utilizam toda a informação contida no espectro para determinar o
grau de risco que uma instituição financeira apresenta para quem nela deseja depositar o seu dinheiro e
para o sistema financeiro como um todo.

 Fornecedores de serviços relacionados com a transparência. A transparência e os seus benefícios


dependem da disponibilidade de um conjunto de serviços e ferramentas relacionados, desde o
software com informação de confiança aos auditores de elevada qualidade e às agências de rating, aos
bureaus de crédito que capturam as histórias de crédito dos clientes. Infelizmente estes serviços não
estão disponíveis de forma uniforme para muitas das instituições financeiras dos países em
desenvolvimento.

Em conjunto com a transparência, como uma boa pratica voluntária por parte do sector, os governos deveriam
complementar e possibilitar o desenvolvimento do papel da microfinança. Tipicamente os governos envolvem-
se nos sistemas financeiros de três maneiras:

35
1) Atribuem serviços financeiros directa e indirectamente, muitas das vezes ao subsidiarem grupos
preferidos ou canalizando recursos para instituições financeiras através de acordos (em qualquer dos
casos, a maioria destes fundos chegam através de doadores internacionais). Os governos não são bons
ao oferecerem crédito directamente às pessoas pobres, apesar de os bancos estatais, por exemplo, as
caixas postais, poderem ter bons resultados na mobilização de poupanças ou de transferência de
dinheiro.

2) Desenvolvem políticas que afectam o sistema financeiro. Estas políticas incluem a garantia da
estabilidade da macro-economia, a liberalização das taxas de juro e o estabelecimento de regulações
bancárias e o supervisionamento que tornam possíveis os projectos de microfinança viáveis.

Os governos têm um importante papel no estabelecimento de politicas que permitam o


desenvolvimento de serviços financeiros sustentáveis dirigidos aos pobres. Existem pelo menos três
tipos de politicas que os governos precisam de desenvolver:

o Estabilidade macroeconomica,

o Taxas de juro liberalizadas e

o Regulações bancárias apropriadas e práticas de supervisão.

3) Podem promover de forma pro-activa a inclusão ao oferecerem incentivos fiscais ou ao exigirem às


instituições financeiras que sirvam os pobres ou as pessoas de baixos recursos económicos. Existem
muito menos experiências conclusivas sobre esta terceira dimensão, em particular nos países em
desenvolvimento.

Uma das questões políticas em microfinança que tem sido discutida nos últimos dez anos tem sido a de como
melhor abordar a regulação e a supervisão em microfinança. Á medida que a microfinança amadurece, irá
provavelmente evoluir para instituições que estão licenciadas e supervisionadas pelo banco central e por outras
autoridades financeiras. Na maioria dos países esta mudança pede algumas adaptações em relação às regulações
bancárias existentes.

A maioria das pessoas pensam em “regulação prudencial” apenas e quando pensam sobre a regulação das
instituições financeiras. A regulação prudencial tem como objectivo assegurar a solidez financeira das instituições
reguladas para impedir que uma instabilidade do sistema financeiro em geral e proteger os aforradores de
qualquer perda dos seu dinheiro.

A supervisão envolve a monitorização com o objectivo de verificar o cumprimento das regulações prudenciais e
com a tomada de medidas para garantir a solvência de uma instituição autorizada quando se verifica que aquele
cumprimento é duvidoso. A regulação prudencial e a supervisão são, geralmente, complexas, difíceis,
dispendiosas e invasivas. Necessitam de uma autoridade financeira especializada para a sua implementação.

É necessário ajustar algumas regulações bancárias para acomodar a microfinança. Os governos deveriam aplicar
regulações prudencias mais duras apenas quando os sistemas financeiros e os depositantes de dinheiro

36
enfrentarem um risco potencial. De outra forma, as normas não prudenciais e as abordagens reguladoras
deveriam ser suficientes.

As regulações não-prudenciais incluem medidas como o registo junto de alguma autoridade por motivos de
transparência, a manutenção de contas adequadas, a prevenção de fraude e os crimes financeiros e vários tipos
de medidas de protecção de consumidores.

As instituições especializadas em micro-crédito que não aceitam depósitos a retalho não deveriam estar sujeitas
às regulações prudenciais. Alguns países (em particular os que pertenciam aos antigos regimes comunistas)
proibem os bancos sem licença (incluindo aos ONG) de emprestar dinheiro. Esta restrição é desnecessária e pode
desencorajar as experiência em microcrédito.

O custo e a dificuldade de efectuar uma supervisão prudencial efectiva, em particular nas instituições mais
pequenas, é um tema político particularmente delicado. As autoridades supervisoras têm poucos recursos à sua
disposição. As autoridades utilizam o mínimo de capital necessário– o mínimo de capital necessário para a
obtenção de uma licença – para racionalizar o número de instituições financeiras que exigem supervisão.

Muitos proponentes da microfinança são da opinião que o capital mínimo deveria ser muito menor para as
instituições financeiras que servem os mais pobres. Outros são da opinião que o capital mínimo deveria limitar as
instituições com licença a número que os supervisores pudessem efectivamente acompanhar. A supervisão
ineficaz pode ter consequências piores do que a ausência de qualquer supervisão, porque os clientes pobres ( e
outros) poderiam ser induzidos num falso sentido de segurança.

A construção de sistemas financeiros inclusivos não acontecerá automaticamente. O dinheiro e o apoio técnico
são ingredientes chave, apesar de a receita pedir muito menos dinheiro e muito mais apoio técnico do que se
acredita.

Os últimos anos presenciaram a explosão de um grande número e de vários tipos de fontes de financiamento
para a microfinança. Para além da comunidade tradicional de doadores, surgiu um conjunto de investidores
socialmente motivados. Também se tem vindo a dar mais atenção às fontes nacionais de financiamento.

Num mundo ideal com um sistema financeiro inclusivo, os mercados financeiros nacionais nos países em
desenvolvimento conseguiriam suprir as necessidades do financiamento na microfinança. Os fornecedores de
serviços financeiros apoiar-se-iam nas poupanças públicas, nos empréstimos dos bancos comerciais, nos títulos e
nas bolsas nacionais. Quantidades limitadas de financiamento internacionais complementariam o mercado de
financiamento nacional.

No mundo real, a maioria das IMF estão longe de integrarem os mercados nacionais. Alguns fornecedores de
serviços financeiros, como as poupanças estatais e as caixas postais já entraram já fazem parte dos mercados
financeiros nacionais (em especial no caso das poupanças), como também fazem alguns fornecedores
especializados no campo da microfinança. Mas até agora, os subsídios internacionais tiveram um grande papel na
introdução e no reforço da microfinança.

37
As agências internacionais de doadores injectaram subsídios e subsidiaram empréstimos para ajudarem ao
desenvolvimento e ao crescimento da microfinança – fazendo contribuições significativas em todos os níveis do
sistema financeiro discutido até ao momento: micro, meso e macro.

Á medida que a microfinança evoluiu de um estádio em que apenas atribuía crédito às micro-empresas para um
outro estádio em que se passou a focar sobre os sistemas financeiros mais inclusivos, os doadores públicos
precisam de se reinventar a si próprios à medida que definem um papel mais construtivo. A questão
fundamental é a de como utilizar melhor os subsídios para estimular (sobretudo) as entidades privadas a
servirem as pessoas pobres com serviços financeiros de qualidade mais rapidamente do que se o fizessem por si
próprios.

O panorama das opções de financiamento em microfinança é altamente dinâmico e complicado. Os financiadores


existentes vão dos que têm uma missão social, em primeiro lugar, para aliviar a pobreza (as agências
internacionais de doadores e fundações) aos que têm motivações mais comerciais (os investidores comerciais e
os mercados domésticos nacionais) e muitas opções pelo meio. Existem importantes diferenças entre cada
categoria. Por exemplo, alguns investidores socialmente responsáveis são mais ‘sociais’ e outros mais
‘comerciais’.

O maior desafio para os financiadores desenvolverem o seu trabalho é o de identificar as suas forças relativas por
forma a se focarem nos segmentos que poderão server melhor – com base nos seus objectivos, nos tipos de
instrumentos de financiamento que oferecem, na sua estrutura de custos, nas suas forças técnicas internas e na
sua vontade de arriscar.

4.2 Boas Práticas para doadores que apoiam a Microfinança

4.2.1 O Papel dos Doadores na Construção de Sistemas Financeiros Inclusivos

A comunidade de doadores dispende cerca de 800 milhões de dólares a mil milhões de dólares por ano em
microfinança. Os doadores valorizam a microfinança sobretudo porque o acesso a serviços financeiros pelos mais
desfavorecidos pode contribuir para a redução da pobreza e para a concretização das Metas para o
Desenvolvimento do Milénio (MDM), no ano de 2015. As MDM estabelecem objectivos de desenvolvimento
concretos, relacionados com múltiplas dimensões da pobreza, incluindo rendimento, saúde, educação, bem
como a melhoria do sistema de desenvolvimento internacional.

O compromisso da aplicação de boas práticas em microfinança é assumido pelo mais alto nível de países e
agências doadoras. Em Junho de 2004, o Grupo dos Oito (G8) aprovou os “Princípios-Chave da Microfinança”
numa reunião de Chefes de Estado em Sea Island, Geórgia (v. Parte I). Estes princípios foram delineados pela
CGAP, um consórcio de 28 doadores públicos e privados, que é uma instituição de compensação para a
microfinança. Em 2005 foi também aprovado um conjunto de “linhas de orientação” de forma a transferir os
Princípios-Chave para uma orientação operacional concreta destinada aos funcionários dos doadores. As Linhas de
Orientação para as Boas Práticas em Microfinança para Doadores constroem este compromisso de alto nível com
a boa prática e a harmonização entre doadores.

38
Os doadores precisam de reconhecer que desempenham apenas um papel de suporte e que são os seus
parceiros no terreno que levam a cabo, de facto, os serviços financeiros. No mínimo, As Linhas de Orientação para
Doadores pretendem compelir os doadores a uma espécie de juramento de Hipócrates para “não causar dano”.

À medida que a microfinança evolui e se torna mais complexa, os doadores enfrentam um desafio ainda maior:
atingir o profissionalismo e aplicar as boas práticas. Eles devem criar parcerias com um conjunto mais alargado de
actores aos níveis micro, meso e macro, e permitir a parceiros públicos e privados o desempenho das suas
funções apropriadas.

Micro-nível: Promover Instituições Grossistas

Os doadores têm uma longa história de concessão de crédito a grupos específicos. Ajudaram também à criação
de instituições individuais de microfinança, principalmente (mas não exclusivamente), Organizações de
Microcrédito Não Governamentais. No entanto, o leque de instituições financeiras com potencial para ajudar aos
mais desfavorecidos é muito mais abrangente que as ONG e inclui bancos comerciais privados e estatais e outros
intermediários não bancários como as companhias financeiras ou de seguros. Para além do mais, as instituições
não financeiras são, muitas vezes, importantes fornecedores de serviços financeiros.

Apesar de existir um acordo generalizado, entre doadores, de que deveriam ser apoiadas muitos mais
instituições, existe algum debate sobre se os doadores devem ou não seleccionar e apoiar instituições
promissoras numa base individual, ou se devem oferecer uma mais alargada criação de competências e outros
serviços de forma competitiva a uma série de instituições. Alguns doadores perseguem ambos os objectivos. Em
qualquer dos casos, os doadores não devem inundar o mercado. Deve ser promovida a especialização entre
instituições financeiras e o apoio à colaboração, ao mesmo tempo que a competição (ou pelo menos deve ser
evitado um comportamento anti-competividade).

Linhas de Orientação Operacionais

 Identificar instituições que partilham a mesmo visão que o doador;

 Adaptar o financiamento à fase de desenvolvimento institucional de uma instituição financeira

 Não tomar decisões estratégicas e operacionais sobre a actividade de fornecer serviços financeiros.
O apoio a instituições financeiras deve ser orientado pela procura e devem ser os gestores das
instituições em causa a tomar a liderança, não os doadores.

 Apoiar progressivamente instituições financeiras para intermediar fundos comerciais e/ou depósitos
(quando permitido por lei) sem substituir a participação local e os mercados de empréstimo. No
entanto, deve ser evitado o encorajamento às ONG para se transformarem em instituições financeiras
formais, a não ser que tenham o potencial suficiente para o fazer. Os doadores devem analisar os custos
e os benefícios dessa transformação, de forma a determinar a apropriação do apoio a este processo
longo e árduo.

 Não intervir nas políticas de preços das instituições financeiras.

39
 Analisar cuidadosamente as instituições financeiras, examinando factores como a visão, a missão, a
estratégia, a estrutura de propriedade, a administração, a capacidade de recursos humanos, a qualidade
dos serviços, o alcance, o desempenho financeiro e a carteira.

 Prestar especial atenção às questões de administração, tais como a composição do conselho de


administração, gestão de risco, responsabilidade do fiduciário, transparência e possíveis conflitos de
interesse. Assegurar controlos e equilíbrios apropriados entre a administração e o conselho de
administração e confirmar a existência de comités chave (auditoria, compensação, investimento).

 Utilizar financiamento baseado no desempenho.

• Aplicar contratos baseados no desempenho com metas de desempenho acordadas (incluindo as


estratégias de saída dos doadores).

• Incluir um núcleo de indicadores para determinar o desempenho (alcance geral, alcance aos mais
desfavorecidos, qualidade da carteira, produtividade/sustentabilidade, eficiência). Evitar sobrecarregar as
instituições financeiras com demasiados indicadores.

• Exigir relatórios financeiros regulares. Assegurar que os requisitos de reporte sejam harmonizados
com os necessários pela administração e os órgãos de gestão, outros fundos e supervisores.

• Ligar a renovação ou continuação do apoio à concretização de metas de desempenho significativas


e claras.

• Estar preparado para sair das instituições que não tenham o desempenho acordado.

• Cumprir as obrigações do doador estabelecidas no contrato (padrões de financiamento previsíveis,


desembolso atempado, respostas rápidas aos relatórios).

 Construir estratégias de saída que definam o período da relação, nos contratos, desde o início de um
projecto, incluindo a período de tempo para atingir a sustentabilidade financeira.

 Quando os métodos de custo-benefício para medir o desempenho social estiveram estabelecidos, e


quando o desempenho social é um objectivo chave para o doador em causa, deve incluir-se a
monitorização do desempenho social no sistema de avaliação do desempenho.

 Apoiar as melhorias na eficiência (procedimentos eficientes, introdução de novas tecnologias, etc.),


nas estruturas de administração e aprender a reduzir os custos para os clientes mais desfavorecidos.
Os doadores devem apoiar o desenvolvimento de ferramentas e instrumentos padronizados para
projecções financeiras e desenvolvimento de produtos.

 Assumir riscos estudados em instituições promissoras mas que ainda não provaram a sua
capacidade, com potencial para atingir um grande número de clientes ainda não abrangidos. Deve
permitir-se os financiadores comerciais e privados apoiar as instituições mais fortes com capacidade
para absorver investimentos à taxa de mercado.

40
 Realizar empréstimos a instituições financeiras a taxas comerciais ou quase comerciais, para evitar
enfraquecer incentivos à mobilização de depósitos ou explorar outras fontes de capital local. Os
empréstimos devem ser taxados às taxas mais baixas para apoiar as instituições financeiras a ajudar as
regiões escassamente povoadas ou populações de difícil acesso.

 Criar instrumentos de estrutura de garantia (garantias a bancos nacionais) com incentivos à criação de
ligações permanentes entre as duas partes.

 Fornecer empréstimos e garantias apenas quando as instituições financeiras não são capazes de
atrair capital adequado e apropriado dos mercados locais ou internacionais, ou para preencher falhas
no financiamento a médio e longo prazo (põe exemplo, quando os financiamentos a médio e longo
prazo não estão disponíveis do mercado doméstico).

 Diminuir gradualmente as doações e empréstimos subsidiados à medida que os mercados comerciais


nacionais e/ou internacionais e detentores de poupança domésticos se tornem fontes viáveis de capital
para a instituição financeira.

 Promover ligações potenciais entre diferentes tipos de fornecedores de serviços financeiros para
aumentar o alcance.

Meso-nível: Apoio a Infra-estruturas Industriais

O meso-nível refere-se à infra-estrutura global do sistema financiamento. Esta infra-estrutura pode facilitar ou
obstruir a emergência de intermediários financeiros. A disponibilidade limitada ou a falta de conhecimento
especializado entre os departamentos de crédito, as agências de avaliação, os auditores, os sistemas de
pagamentos e outros serviços podem constranger seriamente a capacidade das instituições financeiras
grossistas para expandirem os seus serviços aos clientes mais desfavorecidos. Uma área emergente da infra-
estrutura é o acesso aos mercados financeiros e de capital internacionais e domésticos, como por exemplo,
fundos de investimento, emissão de títulos, securitização, etc.

Qualquer que seja a sua intervenção, o apoio do doador deve enfatizar a propriedade local para garantir a
existência continuada do serviço, após a fase de apoio. O apoio do doador ao nível meso deve pretender estender
estes serviços ao sector de microfinança, para os incluir na corrente geral, em vez de os marginalizar.

Linhas de Orientação Operacionais

 Cumprir com as normas para serviços de desenvolvimento de negócios do “Blue Book”, no apoio aos
fornecedores de serviços privados para estimular a evolução do mercado, bem como com as Linhas de
Orientação para a Microfinança, as Definições de Termos Financeiros, Rácios e Ajustamentos Seleccionados,
ao promover o aumento da transparência e fluxos de informação de melhor qualidade. 11.

11
Os serviços de desenvolvimento de negócios referem-se a um grande leque de serviços utilizados pelos empresários para ajudá-los a
atingir a eficiência e a expandir o seu negócio. O “Blue Book”, Business Development Services for Small Enterprises: Guiding
Principles for Donor Intervention, foi elaborado em 2001 pela Comité de Agências de Doadores para o Desenvolvimento de Pequenas
41
 Trabalhar com fornecedores de serviços existentes, incluído as organizações do sistema geral, aos níveis
nacional, regional e global, para construir a capacidade para oferecer serviços baseados no mercado e
orientados para a procura. Deve evitar-se criar estruturas de apoio separadas que não correspondam aos
nível da actividade grossista.

 Fundar e criar instituições apex obriga a uma análise financeira e operacional rigorosa da apex e dos
potenciais receptores dos fundos, um foco estratégico rigoroso, uma pressão de desembolso minimizada,
um independência política e um desembolso baseado no desempenho.

 Considerar entre os fornecedores de serviços ao meso-nível, a assistência técnica ao desenvolvimento


organizacional e institucional, bem como ao desenvolvimento apropriado do produto.

 Apoiar a investigação e desenvolvimento de tecnologia para pontos de serviço, mecanismos de


transferência e pagamentos, departamentos de crédito, etc. Deve tentar evitar-se desenvolver software que
já exista. Em vez disso, deve colaborar-se na criação de modelos de gestão de informação.

 Preencher insuficiências nos recursos humanos através de programas de formação, disseminação de


padrões e partilha de tecnologia. Para assegurar a capacidade de longo termo, os doadores devem
igualmente promover a integração da microfinança nos currículos da educação tradicional.

 Apoiar redes de associações internacionais e nacionais como meio de criação de competências e de


visibilidade de múltiplas instituições financeiras, bem como de disseminar o conhecimento sobre
microfinança. Aplicar uma avaliação rigorosa e um financiamento baseado no desempenho que são aplicados
às instituições financeiras grossistas. Deve instituir-se, no apoio dos doadores, a demonstração de que os
membros valorizam os serviços de rede (como por exemplo, a partilha de custos e outros meios de serviços
de apoio em rede).

 Facilitar o financiamento de redes globais ou inter-países ou de programas que reflictam os diferentes


níveis de sistemas financeiros (micro, meso e macro). Procurar ligações entre essas redes e outras
associações a um nível nacional.

 Desenvolver indicadores de desempenho para fornecedores de serviços ao nível meso, para medir o
sucesso e o impacto a este nível.

 Encorajar padrões de financiamento, desenvolvendo relatórios e auditorias estandardizadas.

Macro-nível: Adoptar um ambiente tendente à criação de políticas e assegurar o papel adequado do governo

Linhas de Orientação Operacionais

 Apoiar a liberalização da taxa de juro através da educação e argumentação, quer directamente como
trabalhando com redes de influência. Apoiar métodos alternativos de protecção ao consumo, tais como

Empresas do Banco Mundial, destinado a doadores no apoio aos fornecedores de serviços privados para estimular o desenvolvimento
do mercado.
42
medidas de promoção da transparência nos custos de empréstimo cobrados ao cliente, educação para o
consumo e mecanismos de reclamação.

 Melhoria dos quadros de políticas existentes e dialogar (por exemplo com PRSPs, reformas do sector
financeiro) para promover a legitimidade de sistemas financeiros inclusivos.

 Não se deve apoiar directamente o fornecimento de serviços por um governo, carteiras com participação
maioritária do governo, crédito direccionado, garantias para pedido de empréstimo, ou subsídios
operacionais. Nalguns casos, pode ser feita uma excepção a governos para fornecer financiamento, subsídios
ou garantias para boa gestão das instituições financeiras que não sejam capazes de obter financiamento
suficiente nos mercados de capitais locais, especialmente as que são destinadas a populações de difícil
acesso.

 Apoiar instituições financeiras directamente, e não através de entidades governamentais. Quando isto
não for possível, como o caso dos bancos multilaterais para o desenvolvimento, deve assegurar-se os
procedimentos correctos e formas de controlo, para minimizar a interferência política, bem como deve
assegurar-se os princípios da boa prática contidos nestas linhas de orientação.

 Encorajar a adaptação dos quadros legais e de políticas para que reduzam as barreiras à entrada no
mercado, no sentido de aumentar a competição e, em última análise, de melhorar a qualidade dos serviços
disponíveis às pessoas desfavorecidas.

 Ajudar os governos a ajustar os quadros regulativos e de supervisão sem pressionar a uma legislação
prematura e restritiva. (“Não se apressem a legislar”). Antes de recomendar uma regulação administrativa,
devemos assegurarmo-nos de que é mesmo necessário proteger a segurança das poupanças, de que há
uma massa crítica de instituições grossistas abrangidas por esta regulação, e de que existe capacidade de
supervisão.

 Nos casos em que as instituições não bancárias, como as ONG, necessitam de autorizam legal explícita para
fazer empréstimos, devem promover-se alterações legislativas que permitam a instituições de crédito a
emprestar sem licenças administrativas ou supervisão.

 Criação de competências dos funcionários da administração nos ministérios das finanças e bancos centrais
(incluindo competências de supervisão). Da mesma forma, deve comprometer-se os membros do
parlamento em assuntos chave (como por exemplo, os preços de recuperação de custos), no sentido de
influenciar a tomada de decisão política.

 Apoiar melhorias no quadro legal que regula as garantias, tributação e registo de forma transparente e
obrigatória.

 Promover o desenvolvimento de estatísticas socioeconómicas pelo governo ou outras entidades relevantes


para facilitar a elaboração de pesquisas de mercado pelas instituições financeiras.

43
4.2.2 Assegurar a Eficiência dos Doadores

A eficiência depende, em última análise, da capacidade dos doadores em responder às necessidades dos vários
actores no seio do sector financeiro numa base de orientação para a procura e de forma cooperante, evitando, ao
mesmo tempo, as iniciativas de sobrefinanciamento do sector privado ou distorcer os mercados. Em qualquer
país, tal significa que se deve ter uma visão geral das inisciativas existentes antes de avançar para a duplicação,
trabalhando contra os interesses de outros. Significa também identificar e fazer melhorias na vantagem
comparativa de cada agência e colaborar com as que têm forças complementares.

A Microfinance Donor Peer Reviews, levada a cabo de Maio de 2002 a Novembro de 2003, examinou o modus
operandi de 17 agências bilaterais e multilaterais, segundo cinco elementos da eficiência dos doadores: (1)
clareza estratégica e coerência, (2) fortes competências dos funcionários, (3) responsabilização pelos resultados,
(4) gestão de conhecimento relevante, (5) instrumentos adequados.

Estes elementos ajudam a delinear a capacidade individual de uma agência para aplicar a boa prática às suas
operações de microfinança, bem como para atingir um maior impacto nas vidas das pessoas desfavorecidas. É
essencial para a eficiência do doador em microfinança, atingir um mínimo de desempenho em cada um dos cinco
elementos, bem como, certamente, para outras áreas de desenvolvimento.

 Clareza estratégica e coerência. A coerência da visão sobre microfinança de uma agência, e a relação
entre essa visão e os padrões aceites de boa prática, afecta a qualidade da implementação e os
resultados. Estratégias fortes não são suficientes, sendo que a administração e os funcionários tem que
interiorizar essas estratégias para serem eficientes.

 Fortes competências dos funcionários. Pessoal com conhecimento técnico em microfinança sólido é
uma pré-condição para a qualidade das operações em microfinança. Uma estratégia eficaz é estabelecer
pontos técnicos fortes (individuais ou equipas de técnicos especialistas) que priorizem a disseminação
de boas práticas entre colegas que não sejam especialistas em microfinança, quer nas sedes como no
terreno. Funcionários que lidem com programas de microfinança e que não tenham conhecimento
específico nesta área, devem ter um conhecimento técnico básico.

 Responsabilização pelos resultados. A transparência no desempenho dos programas em microfinança


é essencial para a eficiência do apoio. As agências só podem tomar decisões se devem ou não
continuar, expandir, terminar ou replicar um programa, se tiverem na posse de informação precisa.
Dependendo da estratégia e missão e uma agência doadora, a responsabilização inclui uma avaliação
geral do desempenho financeiro e social da sua carteira de microfinança, de forma regular.

 Gestão de conhecimento. Quando a gestão de conhecimento capacita as agências a aprender maus


sobre si próprias e sobre a experiência de outros, contribui fortemente para a sua eficiência. Um
financiamento adicional à produção de conhecimento e sua disseminação pode ter um grande impacto
na eficiência do apoio e deve ser incorporado nos projectos e programas individuais.

 Instrumentos adequados. Dependendo do conhecimento e da estratégia de uma agência, os doadores


devem gerir de forma flexível um vasto conjunto de instrumentos de financiamento e trabalhar

44
directamente com actores do sector privado e da sociedade civil. os doadores devem colaborar em
apoiar as estratégias governamentais para o desenvolvimento do sector financeiro, tornando a ajuda
mais coerente e fácil de gerir para ministérios, departamentos, bancos e para a sociedade civil.

Vantagem Comparativa, Harmonização e Colaboração

Criar sistemas financeiros que se aplicam às pessoas mais desfavorecidas – ou seja, a maior parte da população
mundial – é uma tarefa desencorajadora. Os compromissos de doadores essenciais incluem trabalhar com
diversos tipos de intermediários financeiros ao micro-nível (bancos, cooperativas, sistemas postais), ajudando a
construir a infra-estrutura da indústria no meso-nível e entrando no diálogo político com os governos e outros
stakeholders ao macro-nível. No entanto, nem todas as agências podem, ou devem, trabalhar a todos os níveis.

Os doadores devem identificar a vantagem comparativa na promoção de serviços financeiros para as pessoas
desfavorecidas. A partir do momento em que as agências doadoras identificam a sua respectiva vantagem
comparativa, podem evoluir a partir das forças de umas e outras e formar alianças para harmonizar a sua
abordagem colectiva. A colaboração permite uma aplicação mais consistente dos padrões de boa prática, um mais
alargado conjunto de instrumentos de financiamento e de parceiros, e custos de transacção reduzidos para
parceiros, doadores e governo.

Questões de Fronteira

A comunidade de doadores e o mundo da microfinança mais alargado aprenderam muito ao longo das últimas
décadas sobre as melhores formas de apoiar a emergência dos sistemas financeiros inclusivos. No entanto,
existem muitas questões de fronteira que continuam por resolver:

 Estender os financiamentos rurais (especialmente agrícola) a áreas escassamente povoadas

 Expandir serviços como microseguros, leasing e remessas a clientes desfavorecidos

 Melhorar a medição e monitorização do desempenho social

 Definir os limites mais baixos da microfinança viável e empregar outras intervenções, incluindo doações,
se forem mais adequadas

 Desenvolver estratégias replicáveis para desbloquear mercados de capital nacionais para a microfinança.

 Identificar o papel dos doadores relativamente à equidade internacional e aos fundos de empréstimo

 Encontrar formas eficientes e sustentáveis de combinar serviços de desenvolvimento não financeiros


com serviços financeiros.

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