Вы находитесь на странице: 1из 49

Comércio Justo e

Finança Ética
Sinergias para o
Desenvolvimento
Comércio Justo e Finança Ética
Sinergias para o Desenvolvimento

Este trabalho representa apenas o ponto de vista dos seus autores


e não pode, em qualquer circunstância, ser considerado a posição oficial
ou um compromisso formal por parte da Comissão Européia.
Índice

Comércio Justo

Definição, objectivos, critérios


História e Organização
Mercado
Certificação e Parcerias
Caso de estudo: o CIDAC na Guiné Bissau

Finança Ética

Definição e objectivos
História
Investimento socialmente responsável em Portugal
Microfinanças em Portugal
Microfinanças nos países em desenvolvimento

Comércio Justo e Finança Ética

As Lojas do Mundo
· Casos de estudo (Itália)

Finanças para o Sul


· Certificados de depósito solidário: Banca Etica/ETIMOS
· Títulos de dívida: Cresud
· Empréstimos solidários: Shared Interest, Oikocredit, Triodos Bank

Referências bibliográficas e internet

2
I
COMÉRCIO JUSTO
Comércio para o Desenvolvimento

3
Definição e Objectivos

Seja em Oaxaca, no México, transformando produtores de café no limiar da sobrevivência numa


força capaz de gerir as colheitas com a ajuda de PCs; em Mombassa, no Quénia, fazendo de
deficientes marginalizados bons artesãos de madeira, que plantam 10 árvores por cada uma que
abatem ou em Phnom Penh, no Camboja, facultando a mulheres sem marido nem qualificações
acesso a formação e a crédito bancário – tudo isto é fruto do Comércio Justo, que dá a estes
cidadãos do Sul geopolítico uma oportunidade digna de acesso aos mercados do Norte.

O Comércio Justo (CJ) é portanto uma forma de comércio social e ambientalmente sustentável,
no contexto das relações entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento. Enquanto o
comércio convencional tem em conta apenas critérios económicos, o CJ rege-se também por
valores éticos que incluem aspectos socioculturais e ecológicos.

O Comércio Justo é uma parceira comercial, baseada no diálogo, transparência e respeito, que
procura maior equidade no comércio internacional. Contribui para o desenvolvimento sustentável
oferecendo melhores condições comerciais e protegendo os direitos de produtores e trabalhadores
marginalizados no Sul. As organizações de Comércio Justo – com o apoio dos consumidores – estão
empenhadas activamente no apoio aos produtores, na sensibilização e nas campanhas em prol de
mudanças nas regras e práticas do comércio internacional convencional.
- Definição internacional (FINE, Dezembro 2001)

À luz deste conceito:

• os camponeses e os pequenos produtores das zonas empobrecidas encontram condições para


viver dignamente do seu trabalho;

• os consumidores obtêm produtos de qualidade, com a garantia de terem sido respeitados os


direitos dos trabalhadores e o meio ambiente;

• é recuperada a ligação entre o produtor e o consumidor;

• demonstra-se que é possível compatibilizar os critérios económicos com os critérios socio-


culturais e ecológicos.

4
Definição e Objectivos

Objectivos do Comércio Justo

• Melhorar as condições de vida dos produtores marginalizados, melhorando o acesso ao


mercado; estimulando o papel activo de produtores e trabalhadores nas suas organizações;
pagando um preço melhor e garantindo continuidade na relação comercial.

• Promover oportunidades de desenvolvimento para produtores desfavorecidos, em particular


mulheres e povos indígenas, e proteger as crianças da exploração durante o processo produtivo.

• Aumentar a consciencialização entre os consumidores relativamente aos efeitos negativos do


comércio internacional nos produtores de modo a que aqueles possam exercer o seu poder
aquisitivo de forma positiva.

• Estabelecer um exemplo de parceria no comércio através do diálogo, transparência e respeito.

• Fazer campanha em prol de mudanças nas regras e práticas do comércio internacional no


sentido de maior equidade.

• Proteger os direitos humanos promovendo a justiça social, as boas práticas ambientais e a


segurança económica.

5
Critérios

Na relação com camponeses e produtores

• é garantido um salário justo pelo seu trabalho;

• os produtores devem aplicar uma parte dos seus lucros na satisfação das necessidades básicas
das suas comunidades: educação, saúde, formação profissional, etc.;

• são estabelecidas relações comerciais de longo prazo, pagando-se parte dos produtos
antecipadamente;

• estas condições permitem às comunidades planear o seu desenvolvimento;

• evita-se a exploração do trabalho infantil;

• promove-se a participação na tomada de decisões e o funcionamento democrático, a


igualdade entre mulheres e homens e ainda a protecção do meio ambiente.

Para os produtores

• salários justos e boas condições de trabalho;

• melhorias do bem-estar social dos trabalhadoras e trabalhadores;

• participação dos trabalhadores e trabalhadoras na tomada de decisões;

• serem abertos e transparentes quanto à sua estrutura e actividades;

• preocupação com as repercussões do comércio na vida das mulheres, homens e crianças e


com a promoção da igualdade de oportunidades para as mulheres;

• protecção dos direitos humanos, dando especial ênfase às crianças, mulheres e povos
indígenas;

• respeito pelo meio ambiente.

6
Critérios

Para as organizações importadoras

• pagar um preço justo pelo trabalho dos produtores; oferecer-lhes pré-financiamento ou


facilitar-lhes o acesso a outras formas de crédito;

• serem transparentes quanto às suas margens;

• reduzir, tanto quanto possível, o número de intermediários;

• trabalhar para garantir um mercado seguro para os produtores;

• proporcionar apoio aos produtores sob a forma de formação, assessoria técnica, investigação
do mercado e/ou desenvolvimento de novos produtos;

• fornecer informação aos produtores sobre os mercados dos seus produtos;

• fornecer informação às lojas sobre os produtos e os produtores;

• serem abertos e transparentes quanto à sua estrutura e actividades;

• trabalhar com os produtores para melhorar, quanto ao seu impacto ambiental, os métodos de
produção, produtos e embalagens;

• quanto ao funcionamento da própria organização importadora, esta deve:


- proteger os direitos humanos, em especial os das crianças, mulherese minorias
- promover a igualdade de oportunidades
- envolver os trabalhadores e trabalhadoras na tomada de decisões.

7
Critérios

Para as lojas

• vender produtos de comércio justo;

• informar o público sobre os seus objectivos, a origem dos produtos, a situação dos produtores
e o comércio em geral;

• participar em campanhas para melhorar a situação dos produtores e para influenciar as políticas
nacionais e internacionais;

• serem abertas e transparentes quanto à sua estrutura e actividades;

• serem servidas por pessoal, seja empregado ou voluntário, comprometido com os objectivos
do comércio justo;

• possibilitar a participação dessas pessoas nas decisões que as afectam.

8
História e Organização

“Comércio e não ajuda” – foi para responder ao apelo dos países do Sul na Conferência das
Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (CNUCED) em 1964 que se começou a
organizar o comércio justo (CJ) na Europa.

Durante a década de 60, várias organizações de solidariedade com os países do sul começaram a
importar artesanato e a vendê-lo na Europa. Quando, em 1969, abre na Holanda a primeira loja
de CJ, já o comércio solidário tinha evoluído no sentido de um comércio para o
desenvolvimento.

Além de importar os produtos, entidades como a Oxfam, a Brod fur die Welt ou a Cáritas
promoviam a formação de organizações locais de comércio alternativo. Objectivos: organização
dos promotores, desenvolvimento de serviços sociais (educação, saúde) e exportação para o
Norte. Em 1973 importa-se pela primeira vez café no circuito de CJ, proveniente de cooperativas
na Guatemala.

Em meados dos anos 80, a venda de produtos de CJ deixa de estar restrita às lojas deste
movimento e chega aos circuitos comerciais convencionais, nomeadamente aos
supermercados. É então que surge a EFTA (1987: European Fair Trade Association) e a IFAT (1989:
International Fair Trade Association). Em 1994 nasce a rede de lojas NEWS! (Network of European
World Shops) e três anos depois a FLO (Federation of Labelling Organisations), que agrega as
organizações de certificação de produtos CJ. Estas quatro estruturas procuram concertar esforços
desde 1997 na plataforma FINE (FLO, IFAT, NEWS! e EFTA).

Portugal está no mapa do comércio justo desde 1999, com a abertura da primeira loja em
Amarante. 2002 assiste ao lançamento oficial do movimento, com a formação da Coordenação
Portuguesa de Comércio Justo (CPCJ). Em 2004 surge a Equação – Associação de Comércio
Justo, para distribuição nacional de produtos do circuito europeu de CJ.

9
História e Organização

Comércio Justo: datas-chave

Fi nal Ano s 40 As ONG Ten Thousand Villages e SERRV (EUA) começam iniciativas de CJ
Final Anos 50 O presidente da Oxfam (Reino Unido) visita Hong-Kong e decide comercializar
artesanato de refugiados chineses
1967 Primeiro importador/distribuidor de CJ: Wereldhandel, depois Fair Trade
Organisatie (Holanda). Os primeiros produtos importados são esculturas de
madeira do Haiti.
1969 Primeira Loja do Mundo em Breukelen (Holanda)
1973 Primeira importação de café segundo princípios de CJ
1984 The first European World Shop’s Conference is held. ONDE? V.news
1987 EFTA (The European Fair Trade Association) is set up
1997 FLO
1999 Primeira Loja do Mundo em Portugal (Amarante)
2002 Coordenação Portuguesa de Comércio Justo
2006 Parlamento Europeu aprova resolução de apoio ao CJ

10
História e Organização

Implementado em vários países europeus desde a década de 60 do século passado, o Comércio


Justo só começou a organizar-se ao nível internacional no decorrer dos anos 80 e 90. Enquanto
movimento descentralizado e horizontal, possui várias plataformas nacionais e internacionais,
articuladas como redes.

EFTA - European Fair Trade Association


Reúne 11 importadores em 9 países. Disponibiliza aos seus membros formação e uma base de
dados sobre fornecedores no Sul, a Fairdata. Desenvolve ainda uma campanha europeia sobre
compra pública ética.

IFAT - International Fair Trade Association


É o Fórum Internacional de organizações de CJ. Junta os grupos de produtores no Sul com as
organizações dedicadas ao comércio justo no Norte. Actua no desenvolvimento do mercado, na
advocacia e na monitorização. Neste ponto, criou o selo de garantia FTO – Fair Trade
Organization, que certifica organizações.

NEWS! (Network of European World Shops)


Rede de 15 associações nacionais de lojas de CJ, representando 15 países. Desenvolve
campanhas europeias de sensibilização.

FLO International (Fairtrade Labelling Organizations International)


Representa 20 iniciativas nacionais de certificação de produtos. A FLO e.V. capacita os produtores
para obterem e manterem os selos de certificação. A FLO-Cert faz a inspecção dos produtores e a
certificação dos produtos. Esta última é independente de qualquer outra estrutura de CJ, seguindo a
norma ISO 65 para organismos certificadores.

FINE
É uma plataforma de reflexão para as quatro entidades anteriores. Gere o Gabinete de Advocacia
do Comércio Justo em Bruxelas, que procura influenciar a agenda política da União Europeia
nesta matéria.

Em Portugal, a Coordenação Portuguesa de Comércio Justo (CPCJ) agrega várias organizações


sem fins lucrativos de norte a sul do país, desde associações juvenis a cooperativas de consumo
e a organizações não governamentais de desenvolvimento. A CPCJ é membro da rede europeia
de lojas do mundo (NEWS!) desde 2003. Está sediada na Rua Pinheiro Chagas, 77, 2º esqº 1069-
069 Lisboa.
Os pontos de venda de comércio justo têm crescido, com destaque para as lojas de comércio
justo/Lojas do Mundo. Estas são servidas pelo distribuidor português Equação e pelos
importadores espanhóis Alternativa 3, IDEAS e Intermón Oxfam. Ao nível da grande distribuição,
o papel pioneiro coube à rede Lojas Coop, que após um período experimental de dois anos
lançou em Maio de 2006 uma linha de produtos alimentares presente em 16 lojas geridas por
cooperativas de consumidores. Na mesma ocasião, o hipermercado Auchan de Almada
disponibilizou uma secção de produtos alimentares de comércio justo e solidário.

11
Mercado

Os produtos do sector de Comércio Justo (CJ) na Europa chegam ao consumidor final através de
dois grandes canais: 2.800 Lojas de CJ e 56.700 supermercados – estes graças à certificação de
produtos alimentares. As lojas de CJ vendem, anualmente, mercadoria no valor de €120 milhões.
As lojas de CJ, os supermercados e outros pontos de venda ao público facturam produtos
certificados no valor de €657 milhões (€60 milhões nas lojas). Produtos certificados e não
certificados têm um valor total de mercado superior a €660 milhões, o que representa um
crescimento de 154% entre 2000 e 2005 1.

Organizações importadoras 200


Pontos de venda ao público 78.900
Lojas de comércio justo 2.854
Supermercados 56.700
Outros * 19.300
Postos de trabalho 1.071
Organizações importadoras 851
Lojas de comércio justo 107
Organizações certificadoras 113
Custos Educação e Marketing 18.300
Organizações importadoras 11.400
Lojas de comércio justo 1.700
Organizações certificadoras 5.100
Volume de negócios **
Organizações importadoras 243.300
Lojas de comércio justo 120.000
Organizações certificadoras 597.000
Todos os produtos CJ 660.000

* Organizações locais de economia social, lojas de produtos biológicos, lojas e clientes


institucionais (escolas e administração local).
** Valores anuais em milhares de euros.

1 Fair Trade in Europe 2005. Disponível em www.eftafairtrade.org


12
Certificação e Parcerias

O modelo FLO: certificação de produtos

A FLO atribui um selo de garantia que acompanha os produtos que satisfazem os critérios de
comércio justo (definidos regularmente por um Comité de Padrões). As organizações de
produtores que solicitam a certificação são avaliadas através de um questionário. Caso haja
parecer positivo, recebem uma visita de inspectores. Estes emitem um relatório que é submetido
ao Comité de Certificação. Cabe a este órgão atribuir ou não o selo.
O selo garante que a produção e comercialização do produto que o ostenta cumpriu exigências
sociais, ambientais e de qualidade junto do produtor. Este tem garantido um preço mínimo
acima do preço de mercado e ainda um prémio para investir em aspectos sociais da sua
organização.
Os custos do serviço de certificação são pagos anualmente: custo de inspecção e custo de
certificação – este último multiplica-se pelo número de produtos certificados em cada
organização. Os custos variam ainda consoante o tipo de organização – isolada ou agrupamento
–, o número de trabalhadores e as unidades de transformação do produto. Pretende-se deste
modo que os custos considerem as despesas de funcionamento de cada cliente, bem como o
valor acrescentado do seu produto – e não sejam proporcionais ao volume produzido (critério
que possibilita injustiças).

O modelo IFAT: certificação de organizações

A IFAT atribui um selo de qualidade às organizações suas associadas. Para usar o selo FTO – Fair
Trade Organization é necessário que se cumpram nove critérios ou padrões: benefícios para os
mais pobres; transparência e responsabilização; criação de capacidade; promoção do Comércio
Justo; melhoria da situação das mulheres; recusa da exploração do trabalho infantil; condições
de trabalho dignas; responsabilidade ambiental e pagamento de um preço justo.
Compete ao Subcomité de Registo avaliar as organizações candidatas, que têm de apresentar os
seus estatutos, um mínimo de dois anos de actividade e serem referenciadas por pelo menos um
membro da IFAT. Uma vez credenciada, cada FTO aceita um sistema de verificação com três
componentes:
1 - Auto-avaliação
Seguindo metodologias de auditoria social fornecidas pela IFAT, cada FTO analisa o seu
funcionamento à luz dos critérios de comércio justo, estabelece metas para melhorar – e
comunica o seu diagnóstico à IFAT.
2 - Análise partilhada
Cada FTO partilha o auto-diagnóstico com os seus parceiros comerciais.

13
Certificação e Parcerias

3 - Verificação externa
Uma percentagem de FTOs, seleccionada ao acaso, sujeita a sua auto-avaliação à análise de um
inspector externo independente.

A auto-avaliação e a análise partilhada ocorrem a cada dois anos, enquanto que a verificação
externa é um processo anual.

Parceiros Comerciais

Graças à existência de produtos certificados com os selos FLO, muitas empresas integraram-nos
na sua oferta, nomeadamente nos alimentares. Existem cerca de 500 actores comerciais
certificados pela FLO Cert, entre exportadores, importadores e distribuidores. Empresas como a
Agrofair ou a CaféDirect especializaram-se na colocação de produtos CJ nos supermercados.
Grandes distribuidores como a Auchan, Leclerc ou Spar são parceiros comerciais do comércio
justo, criando nalguns casos as suas próprias linhas de produtos.

Por outro lado, existem organizações especializadas de certificação que seguem os princípios de
CJ. Dois exemplos são a STEP e a Rugmark – nos tapetes – e ainda o Flower Label Program na
floricultura.

Parceiros Financeiros
O comércio justo tem beneficiado do apoio de várias instituições financeiras éticas. A Oikocredit
é uma rede mundial de investidores sediada na Holanda, que financia cooperativas, pequenas e
médias empresas e instituições financeiras, com enfoque particular nos países do Sul e no
microcrédito. Cerca de 10% dos seus empréstimos destinam-se a produtores e importadores de
CJ.
A Shared Interest é uma cooperativa financeira, sediada em Inglaterra, que se especializou no
financiamento de actores de CJ. É membro da IFAT e só concede empréstimos a organizações
certificadas de comércio justo.

O Triodos Bank está presente na Holanda, Bélgica, Reino Unido e Espanha. Financia organizações
certificadas de produtores de comércio justo e/ou de agricultura biológica. Os empréstimos são
indexados aos contratos de exportação.

14
Um caso: o CIDAC na Guiné-Bissau

O CIDAC – Centro de Intervenção para o Desenvolvimento Amílcar Cabral – trabalha na Guiné-


Bissau há 30 anos. Desde 1998 procurou integrar nesse trabalho uma aproximação dos PALOP
aos circuitos europeus de CJ. Foi nesse contexto que convidou Carlos Suarte, da AD (ONG
guineense) para participar na ManiFesta em Amarante, em 1998.

Em parceria com aquela ONG local, realizou em 2001 uma missão com um especialista em
agronomia e Carola Reitjes (IDEAS, Espanha). Objectivos: formação e informação de produtores;
caracterização do tecido produtivo (oportunidades e riscos). Do relatório final emergiram várias
conclusões:

Desconhecimento do funcionamento do mercado (o preço de produtos como o mel, o óleo de


palma ou o peixe seco é definido segundo as necessidades diárias de sobrevivência);
Pouca qualidade dos produtos em termos de apresentação e acondicionamento;
Cajú com pouco valor acrescentado. O processamento local é mínimo, sendo o produto
exportado – Guiné 2ª exportador mundial – a preços baixos, muitas vezes com troca directa por
arroz (mercado controlado pelo Governo, ao qual os produtores têm de vender);
Necessidade de desenvolvimento do mercado local, para conseguir entrar de forma sustentada
no mercado internacional.

Entre 2004 e 2007 decorre um projecto de dinamização do mercado local, com base nas culturas
endémicas: castanha de cajú, mel, óleo de palma. A preocupação estruturante é a utilização
sustentável dos recursos naturais, de modo a garantir a segurança alimentar e a soberania do
conhecimento tradicional sobre sementes endémicas (preservação da biodiversidade). Este
trabalho foi levado a cabo em parceria com a ONG guineense Tuiniguena.

Em 2004-2005 decorreu ainda - financiado pela DG Trade da Comissão Europeia – o projecto


“Fortalecer o comércio sustentável: oportunidades justas para a Guiné-Bissau”, em colaboração
com o INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas. O objectivo geral era avaliar o potencial
de integração de produtos/produtores no circuito de CJ. Nesse sentido, procedeu-se a selecção
de produtos; estudo da fileira comercial; estudo dos modelos organizativos dos produtores;
ideintificação de vias de acesso ao mercado europeu (Cotonou, E.B.A., certificados de origem,
etc.) e apresentação a stakeholders europeus (CTM, Solidarmonde, associações de imigrantes
Guineenses e ONG portuguesas).

Entre 2006 e 2008 decorre, co-financiado pela C.E., o projecto “Capacitação dos tecelões de
Quinhamel, de beneficiários a actores do Desenvolvimento Sustentável”. Pretende integrar um

15
grupo de tecelões reunidos na associação Artiss@l 2no circuito de CJ, introduzindo os seus
produtos na cadeia comercial e promovendo a participação daquela organização na IFAT –
International Federation for Alternative Trade. Esta iniciativa articula-se a volta de dois níveis de
intervenção: um de reforço da instituição e dos seus membros e um outro de melhoria e
adaptação das produções.

Este projecto parte da ideia de que as exigências dos mercados do Norte não podem ser
adoptadas verticalmente e por meras razões de ganho económico, mas sim decorrentes de uma
interiorização desses critérios pela própria organização, de modo participativo (p.e. incorporando
modelos da cultura tradicional na organização). Estrutura-se em quatro grandes momentos:

1. Capacitação da Artiss@l
Formações em: Alfabetização; Gestão de pequeno negócio; Gestão de stock; Comércio
internacional e Comércio Justo; Preparação para a mudança (visitas e intercâmbios de
produtores da sub-região, ligados a iniciativas de Comércio justo - cooperação Sul-Sul);
Cooperativismo; Qualidade e Marketing.

2. Assessoria técnica no terreno em cada ano do projecto, com a organização Deseño para el
Desarollo ( conciliar design com cultura local)
2.1. Missão prévia de 3 semanas: familiarização com cultura e recursos locais
2.2. Desenho da colecção (Espanha)
2.3. Missão de 2 meses: formação técnica e controlo de qualidade

3. Exportação
A IDEAS será importador e distribuidor europeu. A colecção estará disponível em 2007. Este
trabalho de disseminação comercial será feito a expensas dos parceiros implementadores, não
intervindo aqui o financiamento comunitário.

4. Disseminação da experiência
- Documentário; - Plataformas de ONG nos PALOP

2 Esta associação de tecelões da etnia Pepel trabalha em proximidade com a Raízes, associação cultural e de
comercialização de produtos tradicionais guineenses, com ênfase no têxtil. Tem no “pano de pente” – pano tradicional
– um dos seus produtos-bandeira. Que comercializa através da sua loja em Bissau e de outros canais locais e regionais.
16
II
A FINANÇA ÉTICA
Finança para o Desenvolvimento

17
Definição e objectivos

A finança ética emerge como um novo modelo de desenvolvimento baseado na ideia de que o
dinheiro pode ser investido de forma socialmente consciente e responsável, i.e., promovendo o
desenvolvimento sustentável da economia local, regional, nacional e global.
A finança ética aparece pois como uma alternativa à ideia tradicional de finança que tem como
ponto de referência a pessoa humana e não o capital, a ideia e não o património, a remuneração
justa do investimento e não a especulação.
Produtos financeiros éticos – fundos de garantia, empréstimos, poupanças e investimentos –
destacam-se dos tradicionais porque oferecem aos investidores uma oportunidade real de
contribuírem activamente para o bem-estar humano.
Ao criar instrumentos financeiros alternativos – vocacionados para o financiamento de projectos
com impacto social, cultural e respeitadores do ambiente, economicamente eficientes e
redutores de desigualdades sociais – a finança ética pode ter um impacto positivo na vida das
pessoas, sobretudo daquelas que muitas vezes são excluídas do acesso ao crédito na banca
tradicional.
A finança ética é, em particular, um instrumento crucial para a promoção do desenvolvimento
sustentável nos países do Sul. Neste contexto, onde o acesso ao crédito é normalmente difícil,
não só pela escassez mas também pela impossibilidade de apresentação de garantias bancárias
exigidas pelas instituições financeiras tradicionais, as actividades económicas locais acabam por
ser afectadas negativamente. Em consequência, muitos daqueles que poderiam ser potenciais
empreendedores nos países do Sul ao serem excluídos do sistema produtivo, acabam por se
revelarem impotentes para quebrar o ciclo de pobreza em que vivem. A finança ética pode
afirmar-se pois como um mecanismo de fortalecimento das comunidades mais desfavorecidas.
A Finança ética associa-se a produtos financeiros específicos, que se regem por princípios
particulares que distinguem, este sistema financeiro, do sistema financeiro formal, bem como
proporcionam soluções alternativas e respondem às necessidades “éticas” dos seus clientes. São
três os aspectos a destacar: os ganhos sociais, a transparência e a confiança.
Os ganhos sociais remetem aos efeitos que a concessão de crédito a determinado projecto
causará sobre a sociedade, e sobre o ambiente, para além das consequências positivas que o
mesmo trará a nível nacional. Digamos que enquanto que a finança tradicional concerne a
maximização dos lucros, a Finança Ética concerne a maximização dos benefícios da sociedade.
A transparência é um dos princípios fundamentais da Finança Ética. Ainda que no sector
bancário seja um conceito comummente observado como obstáculo, para a Finança Ética a
transparência deve velar todas as áreas, as poupanças, os investimentos, e sobretudo as posições
de chefia da empresa.
A transparência visa os investimentos com particular cuidado, pois se forem conhecidos todos os
financiamentos será possível constituir uma bolsa de poupanças responsável. Assim, um cliente
poderá optar por depositar o seu dinheiro numa instituição cujos valores éticos são mais
coerentes com os seus. Ao conhecer exactamente a aplicação das poupanças do banco, o
cliente pode evitar bancos que participam em processos que condena, como a comercialização
de armas, ou a fuga aos impostos, por exemplo. A transparência permite também que os seus
clientes apliquem as suas poupanças, para um sector que lhes interesse, que considerem útil e
responsável, evitando assim investimentos com os quais discorda. Os membros de uma
cooperativa financeira, por seu turno, ao participarem nas decisões estratégicas da corporação,
podem também influenciar a direcção, bem como o destino do seu dinheiro.

18
A apresentação de garantias, por parte do cliente, é quase sempre um imperativo para que os
bancos tradicionais concedam empréstimos. Por norma, aqueles clientes que não reúnem estas
condições são automaticamente excluídos do sector de crédito, independentemente da
validade do seu projecto. A Finança Ética desafia esta barreira ao “atribuir confiança”, ao
emprestar dinheiro àqueles que não têm nada a que se “conceda crédito”. O empréstimo é assim
concedido com base, no conhecimento que se tem do candidato, e na análise extensiva do
projecto proposto para financiamento.

Da finança ética ao microcrédito


– um sistema financeiro para a inclusão social

Mais de três mil milhões de pessoas pobres, que vivem com menos de dois $2 USD/dia, buscam
o acesso a serviços financeiros básicos, que podem representar um elemento crítico no sentido
de minorar o seu estado de pobreza. A maioria das pessoas nos países em desenvolvimento –
que constituem a maioria da população mundial – não goza de acesso a serviços financeiros
formais. Poucos são aqueles que beneficiam de uma conta poupança, de um empréstimo, ou de
formas adequadas para transferirem o seu dinheiro. Aqueles que alcançam o objectivo de abrir
uma conta, são normalmente descriminados.
A falta de acesso a estes serviços financeiros priva os pobres, ou mesmo as pessoas de baixo
rendimento, de tomar as decisões que a maioria das pessoas tomam como garantidas.
Para que um sistema financeiro seja verdadeiramente inclusivo, deverá atender às necessidades
de todos aqueles que possam utilizar os serviços financeiros de forma próspera, isto deveria
implicar os pobres. As pessoas pobres nos países em desenvolvimento, como quaisquer outras
pessoas, precisam de disponibilizar de um vasto leque de serviços financeiros, que sejam
convenientes, flexíveis, e a um preço razoável. Esta observação, ainda que tão simples, tem vindo
a transformar, na última década, a teoria e a prática da microfinança. Um melhor entendimento
das carências do cliente (e do potencial cliente) tem reconduzido o rumo do microcrédito no
sentido da microfinança, e mais recentemente, no sentido de sistemas financeiros inclusivos.
No passado, duas facções caracterizavam a microfinança:
A primeira, focada no crédito a pequenas empresas (ou seja, eram concedidos pequenos
empréstimos que estabelecessem o capital necessário a pequenos empreendedores).
A segunda, remetia a uma abordagem na distribuição de crédito baseada e orientada na
procura.
Neste contexto, um leque limitado de serviços de crédito atraía proporcionalmente um leque
limitado de clientes. Hoje, existe a noção que nem todas as pessoas pobres são
empreendedoras, mas que todas as pessoas pobres precisam de recorrer a uma variedade de
serviços financeiros. O desafio reside em compreender e conhecer esta exigência, no seio de
populações pobres, remotas, em expansão.
Identificar a diversidade de indivíduos excluídos do sistema financeiro formal é um passo
fundamental na construção de um sistema financeiro alternativo, mas sobretudo que inclua
todas as categorias sociais. Pois o excluído não é apenas o pequeno empreendedor, mas o
agricultor que pode precisar de crédito para investir na agricultura, ou que pode necessitar de
um local seguro onde depositar os proventos de uma boa colheita; também o reformado
necessita de um sistema fiável que faça o pagamento correcto da sua pensão; ou os funcionários
fabris que reconhecem o valor de uma boa gestão dos seus salários. Em resumo, estes clientes
são tão diferentes que requerem uma panóplia diversa de serviços financeiros, que atende, a
emergências, a empréstimos de hipotecas, a serviços de depósito de todos os tipos, a métodos
de transferência de fundos, ou a seguros.
O microcrédito hoje, surge como um mecanismo de resposta, um recurso ao alcance de quem
pretende desenvolver um projecto individual ou colectivo na senda da criação de uma

19
actividade rentável; para quem enfrenta obstáculos, que em muitos casos acabam por ser
dissuasores, oferece não só a esperança e independência económica, como também o poder
sobre a sua vida e, em muitos dos casos, a participação activa em prol da sua comunidade.
“Simplificadamente o microcrédito consiste na realização de micro empréstimos financeiros
feitos aos pobres com a finalidade de torná-los auto-empregados.”3

3 Marcelo Roque da Silva, 2002


20
História

A Finança Ética no mundo4


O conceito de Finança Ética conhece a sua primeira origens no Reino Unido. Primeiro, o conceito
surgiu na senda dos valores vitorianos que buscavam melhores condições de emprego baseadas
no desenvolvimento local. Contudo, o seu desenvolvimento consagra-se no século XX,
associado a princípios de preservação ambiental, quando Mercury Provident funda o primeiro
Banco Ético do país. Na década de oitenta consolidaram-se também importantes iniciativas
como os fundos de investimento e a agência de certificação social EIRIS (1983). Na década de
noventa, em 1992, foi fundado o Banco Ético mais representativo do País: o “Co-operative Bank”;
foi concebido o Fórum para o Investimento Responsável nacional; e em 1997, surgiu o principal
fundo de pensões socialmente responsável europeu: o “Universities Superannuation Scheme”
(USS).
Como já foi referido anteriormente, a evolução do conceito de finança ética fez-se aliada a uma
orientação de cariz ambiental, com génese nos movimentos ecologista e pacifista europeus que
se manifestaram ao longo da década de setenta, e cujo trabalho se realizava através da agência
financeira “Kommunalkredit” – que visava o financiamento de organismos públicos que
promoviam melhorias para o ambiente. Os fundos para estes créditos provinham da venda de
títulos ambientais a investidores públicos e privados.
Este foi um processo que desembocou numa nova compreensão da economia e do comércio, o
que conduziu à instituição de um banco alternativo na Alemanha – o GLS Gemeinschaftsbank –
em 1974, destinado a promover projectos que tinham como objectivos, benefícios sociais e
ambientais, e como tal eram excluídos pelo financiamento convencional.
Neste contexto, a experiência Suíça também merece destaque, pois neste estado foi a elevada
consciência ambiental e associativa dos cidadãos que levou à constituição de diferentes bancos
éticos nos anos oitenta, como o Gemeinschaftsbank BCL, ou o Alternative Bank Schweiz (ABS). A par
dos suíços, os alemães fundavam o Oekobank em 1988 – um banco socialmente responsável – e
o BfG ÖkoRent (actualmente SEB ÖkoRent) em 1989 – o primeiro fundo de Investimento
Socialmente Responsável em 1989 – ambos de cariz claramente ambientalista. Enquanto que na
Áustria, somente em 1991, nascia a primeira sociedade de asset management, a TOKOS, que
justificou a primeira revista dirigida ao investidor socialmente responsável, e principalmente
ecológico: a Oeko-Invest.
A partir da década de noventa as administrações começaram a estar mais sensibilizadas e por
isso passaram a favorecer fiscalmente o investimento em parques de energia eólica. Conforme a
divulgação do conceito de Investimento Socialmente Responsável (ISR), surgiam cada vez mais
agências de certificação5, bem como índices de sustentabilidade6.

4 “A situação da Finança Ética na Europa”, Setem, 2005. – Relatório elaborado pela área de Responsabilidade Social das
Empresas e Investimentos Éticos de Economistas sin Fronteras
5 Como as alemãs – Oekom, Suedwind, Imug ou Scoris – ou as suíças – como a Centre Info.
21
É importante destacar o papel fundamental de algumas instituições neste cenário, como foi o
caso, das instituições religiosas na Alemanha, que actuaram enquanto principais interlocutores
institucionais do ISR; da organização Ethos, que se empenhou desde 1997, na promoção de
critérios de ISR para os fundos pensão; de diversos serviços de informação e notícias sobre a
finança ética, que quer na Alemanha, quer na Áustria, se desenvolveram de forma precoce,
contudo bem sucedida, e muito contribuíram para a divulgação desta prática7.
No caso Holandês, os primeiros passos nos trilhos da finança ética remontam à década de
sessenta, com a fundação de dois bancos – o ASN Bank, em 1960, e o Triodos Bank, em 1980 –
ambos orientados para produtos de economia socialmente responsável. Contudo, este mercado
apenas prosperou a partir de 1991.
Na Holanda, o Estado executou um papel muito activo, no âmbito da promoção dos
investimentos ambientalmente sustentáveis, ao atribuir incentivos fiscais à Green Savings and
Investment Plan. A conjuntura holandesa apresenta algumas semelhanças à britânica, na medida
em que, também na Holanda, se registou um forte e inovador “activismo accionista” quando em
1995, os investidores institucionais privados se organizaram na VBDO (Associação de Investidores
para o Desenvolvimento Sustentável), o que estimulou a criação do Fórum Nacional do ISR, em
1998.
Em França, foi o Comité Catholique contre la Faim et pour le Développement (CCFD) – já nascido
com a apoio do Crédit Coopératif nos princípios dos anos oitenta – que inaugurou o ISR, ao
pretender financiar (com parte dos seus fundos mutualistas) projectos empresariais em Países
em Desenvolvimento. Contemporaneamente, nasceu o primeiro fundo de investimento ético,
baseado no respeito pelos direitos humanos. Desde então, o ISR em França evolui associado a
critérios como, a promoção do emprego, a luta contra a exclusão social, com os sindicatos
permanentemente no cerne das actividades, com especial importância quando introduziram,
em 1998, a responsabilidade social, nos fundos de pensão.
As organizações a favor da finança ética e da responsabilidade social de empresa, também em
França progrediram de forma considerável através de: observatórios do comportamento
empresarial8; de serviços de certificação social e ambiental como9; assim como a primeira
certificação dos produtos financeiros solidários criada pela ONG FINANSOL.
Em Espanha, como em Itália, as pequenas instituições de crédito10 desempenhavam a função
análoga à de um banco ético, ao concederem financiamento: a comunidades locais, em zonas
rurais e/ou em desenvolvimento; a micro-empresas; a famílias carenciadas; ou a grupos
tradicionalmente excluídos pelo sistema financeiro convencional. Todavia, a Itália destacava-se

6 Na Alemanha, o NaturAktien Index (NAI), na Suiça, o SAM Sustainability Group, que derivou na formação do índice
financeiro Dow Jones Sustainability Índex, em 1998).
7 Como o www.ecoreporter.de por exemplo, activo em 1999, ou como a feira do investimento sustentável “Dinheiro
Verde”, celebrada pela primeira vez no mesmo ano.

8 Como o Centre Français d'Information sur les Entreprises (CFIE), criado em 1996; como o CSR Europe, constituído em
1997; como o Observatoire sur la Responsabilité Sociale des Entreprises (ORSE), estabelecido em 1999; mas sobretudo
como o Forum pour l'Investissement Responsable (FIR), concretizado em 1999.

9 Como o Arese - actualmente Vigeo - estabelecido em 1997.

10 Estas instituições derivavam, na sua maioria, de cooperativas como as caixas de poupança, por exemplo, e
pertenciam normalmente a entidades locais e/ou públicas.
22
no seio dos países do Sul da Europa, na medida em que nos anos oitenta emergiram numerosas
sociedades, mutualistas e autogeridas (as MAG), estreitamente relacionadas com o movimento
associativo, que se evidenciava no Norte do País. Foi este movimento que influenciou e
estabeleceu os alicerces da Banca Ética italiana – o primeiro banco orientado para os grupos
“economicamente marginalizados”.
Em 1997, em ambos os países, verificou-se uma grande evolução dos fundos de ISR, levada a
cabo por bancos convencionais. Porém, o volume patrimonial alcançado pelos fundos de ISR
italianos (entre os maiores da Europa) desvaloriza os modestos resultados alcançados na
Espanha. Em contrapartida, o número de fundos solidários provenientes de ISR são muito
superiores em Espanha, comparados ao número verificado em Itália.
Em Portugal, como na Grécia, foi aferido, por pesquisas produzidas pelo SiRi Group, em 2003, que
o ISR era então inexistente. Ainda que, se registe que após 1998 – ano em que foi desenvolvido
um projecto europeu para a promoção da micro-finança a nível de desenvolvimento local – um
progresso neste sector, sobretudo através de associações e entidades financeiras, como a ANDC
(Associação Nacional para o Direito ao Crédito), ou como a oikos, que desenvolveu projectos de
microcrédito em alguns países em desenvolvimento.
São consideráveis as discrepâncias na evolução da finança ética em Itália, na Espanha e em
Portugal. No entanto, estas diferenças justificam-se porque, na Itália já existe, desde 1997, uma
agência de certificação social, a Avanzi, bem como uma rede de ISR, a SiRi. Enquanto que
actualmente, nem em Espanha, nem em Portugal, existem ainda agências concretas de
certificação, à excepção do caso de algumas organizações como a ECODES ou os Economistas sin
Fronteras que pontualmente realizam serviços de investigação no âmbito da responsabilidade
social das empresas.
Conquanto, em nenhum dos três países em análise, se considerou o contexto legislativo
favorável à expansão da finança ética. Ainda que em Espanha, ou em Itália se verifique uma
participação pública e política crescente neste campo de acção.

A microfinança e o microcrédito

Desde da década de cinquenta que a microfinança tem vindo a expandir-se, pois se antes este
conceito se limitava a um campo relativamente reduzido baseado no crédito concedido a
pequenas empresas, hoje este conceito evoluiu, no sentido de um enorme desafio que almeja a
construção de um novo sistema financeiro, que visa a inclusão social e abarca um vasto leque de
serviços dirigidos aos mais pobres – créditos, poupanças, transferências de dinheiro, e seguros.
As matrizes das microfinanças não são recentes. Operaram durante séculos, um pouco por todo
o mundo, pequenos grupos informais que se dedicavam à gestão de poupanças e à concessão
de pequenos créditos. Na Europa, no século XV, a Igreja Católica fundou, com sucesso, casas de
penhores que constituíssem alternativas aos credores usurários que predominavam na época.
Também o crédito formal, e as instituições de crédito que os concedem aos pobres, existem há
muitas gerações, oferecendo serviços financeiros àqueles que são tradicionalmente
negligenciados pelos bancos comerciais.

23
O sistema de Fundos de Investimentos Irlandês, existe desde o século XVIII, e constitui um
exemplo inovador e de longa duração. Enquanto que o conceito de cooperativa financeira foi
desenvolvido na Alemanha, com o intuito de incentivar a população rural a quebrar com a
dependência dos credores e a apoiá-la a melhorar o seu bem-estar. O movimento emergiu em
França, em 1865, e no Quebeque, em 1900. Muitas das cooperativas em África, na América
Latina, e na Ásia, encontram as suas raízes neste movimento Europeu. Um outro exemplo
revolucionário leva-nos ao “Indonesian People’s Credit Banks”11 (BPRs), que abriu em 1895 e
transformou-se no maior sistema de micro finança na Indonésia, com cerca de 9 000 sucursais.
No início do século XX, começaram a surgir na América Latina, diferentes formas de poupança e
de crédito, que visavam, modernizar o sector agrícola, mobilizar poupanças que não estivessem
aplicadas, aumentar o investimento através do crédito, combater a opressão feudal gerada pela
dívida. Na maioria dos casos, estes novos bancos para os pobres não eram propriedade dos
próprios pobres, como o foram na Europa, mas sim pelas agências estatais ou por bancos
privados. Ao longo dos anos, estas instituições revelaram-se ineficientes, muitas vezes, corruptas.
Entre 1950 e 1970, os governos, e os doadores, focaram-se na concessão de crédito agrícola a
agricultores pequenos e marginalizados, na esperança de aumentarem a produtividade e
produzirem rendimentos. Contudo, estes esforços veiculados através de instituições estatais de
financiamento, ou em alguns casos via cooperativas agrícolas, basearam-se em empréstimos
concedidos a uma taxa de juro abaixo àquela praticada nos mercados. Estes esquemas
subsidiados eram raramente bem sucedidos. Pois os bancos de desenvolvimento rural eram
incapazes de cobrir os seus custos, face a estas taxas de juro subsidiadas. Os clientes não eram
disciplinados nos pagamentos, pois observavam estes empréstimos como ofertas do governo.
Consequentemente, estas instituições de capital decaíram, e em muitos casos, desapareceram. O
mais grave é que muitos destes fundos nem sempre chegavam aos pobres, uma vez que
usualmente, acabavam nas mãos dos mais influentes.
Entretanto, em 1970 assistia-se ao nascimento do microcrédito. Os programas no Bangladesh, e
no Brasil, começavam a emprestar pequenas quantias de dinheiros a mulheres pobres, mas
empreendedoras. Exemplos de pioneiros neste âmbito foram: o Grameen Bank no Bangladesh,
que começou por ser uma experiência do Professor Muhammad Yunus; a ACCION International,
que começou na América Latina e expandiu-se para os Estados Unidos e para a África; a
Associação de Mulheres Empreendedoras na Índia, que constitui um Banco dirigido por um
Sindicato de Mulheres. Estas instituições persistem com o seu trabalho hoje, e inspiraram
inúmeras outras, que reproduziram o seu sucesso.
Na década de oitenta, os programas de microcrédito melhoraram as suas metodologias, e
desafiaram os conhecimentos convencionais que existiam sobre o financiamento aos pobres.
Em primeiro lugar, muitos programas, quando bem geridos, provaram que as pessoas mais
pobres, especialmente mulheres, pagaram os seus empréstimos de uma forma mais disciplinada,
que a maioria das pessoas que gozam de créditos nos bancos comerciais. Em segundo lugar,
estes programas demonstraram, que os pobres estão dispostos a pagar taxas de juros, que
permitam às instituições de microcrédito serem sustentáveis. Assim as mesmas instituições são
potenciais negócios, que gozam de capacidade para atrair depósitos, empréstimos comerciais e
capitais de investimento. Estas instituições podem alcançar números consideráveis de clientes,

11 Banco de Crédito para o Povo Indonésio.

24
ainda que pobres, sem que estejam limitados a escassas e incertas ofertas de fundos subsidiados
por governos ou agências doadoras. O Banco Rakayat da Indonésia é o exemplo mais
emblemático do que pode acontecer às Agências que se concentram em tributar empréstimos,
e a gerir poupanças. Hoje, este banco apresenta um complexo sistema de sucursais, espalhadas
por inúmeras vilas do país, reunindo hoje mais de 30 milhões de clientes,
Em 1990, a generalidade das agências para o desenvolvimento entendeu que as micro finanças
poderiam ser um estratégia defensável para o combate à pobreza. Assim, as Micro Finanças
disseminaram-se em muitos países, onde múltiplas agências de micro crédito assistem as
necessidades de pequenos empresários, e de famílias mais desfavorecidas. Estas conquistas,
contudo, tendem a concentrar-se em áreas urbanas densamente povoadas.
Ao longo da década de 1990, o termo micro crédito passou a ser substituído por micro finança,
na medida em que este último conceito abarca um leque mais vasto de serviços financeiros
destinados aos pobres – incluindo o crédito, mas também, as poupanças, os seguros, e as
transferências bancárias. Para alcançar um maior número de clientes, as instituições de micro
crédito, bem como as suas redes, começaram a perseguir uma estratégia de comercialização,
que implicava a sua transformação em colectividades com fins lucrativos, para poderem atrair
não só mais capital, mas para se estabelecerem enquanto partes permanentes do sistema
financeiro.

Em Portugal, o mercado da finança ética continua ainda por emergir. Entre os três instrumentos
de finança ética acima mencionados – ISR, microfinanças e banca ética – é o segundo
instrumento aquele que tem vindo a crescer nos últimos anos.
Em Janeiro de 1988 introduziu-se o conceito de microcrédito em Portugal, pela mão do
programa europeu MECFIN , através de programas de identificação de mecanismos alternativos
de financiamentos de algumas actividades económicas do Terceiro Sector. Este programa tinha
como objectivo permitir que pessoas sem o acesso ao crédito tradicional pudessem obter um
empréstimo no sentido de investirem em pequenas actividades económicas. Esta iniciativa
partiu da Associação Nacional do Direito ao Crédito (ANDC), organizações não governamentais
(ONG) e outros parceiros como a instituição financeira Millennium BCP e associações de
desenvolvimento local (ADL).

25
ISR em Portugal

O primeiro debate público em Portugal sobre Investimento Socialmente Responsável (ISR) teve
lugar em Novembro de 2003 em Lisboa, parte da Conferência Internacional sobre
Responsabilidade Social e Globalização organizada pelo Fórum DC, um projecto de duas ONG
portuguesas, oikos – cooperação e desenvolvimento e Instituto Marquês de Valle Flôr. Foi a
oportunidade para a Fórum DC apresentar um estudo sobre a forma como as instituições
financeiras com actividade no país encaravam o ISR. Das 15 instituições contactadas, 8
responderam ao questionário: ActivoBank 7, Banco Bilbao y Vizcaya Argentina (BBVA), Banco
Espírito Santo (BES), Banco Português de Investimento (BPI), Banco Comercial de Portugal (BCP),
Banco Português de Negócios (BPN), Barclays Bank, Grupo Santander/Totta.
Entre os bancos que responderam, três indicaram que comercializavam já produtos ISR, outros
dois disseram que o fariam caso houvesse mercado, e outros três afirmaram ser uma boa ideia,
mas não havia ainda um mercado em Portugal. Para 63% dos bancos contactados, o melhor
mecanismo para seleccionar um fundo ISR seria avaliação por uma agência de certificação social,
enquanto para outros 25% tudo dependeria das administrações dos bancos. Em relação ao
melhor argumento para começar a vender um fundo ISR, 38 por cento mencionaram a
existência de algum estudo que revelasse o interesse do mercado neste produto financeiro, 38
por cento indicaram estudos de caso e boas práticas evidenciando bons retornos financeiros, e
25 por cento a consciência de que existia uma responsabilidade ética nos investimentos.12
Entre os fundos ISR comercializados em Portugal, encontra-se o Fundo do Consumidor
Responsável Europeu (ERCF) lançado em 2003 pelo Banco Espírito Santo (BES), numa
colaboração entre a Espírito Santo Activos Financeiros (ESAF) e a CONSEUR, a maior associação
de consumidores europeia. Segundo a ESAF, é um fundo com um portfolio misto constituído em
partes iguais por acções e obrigações. Em termos de critérios de exclusão, o ERCF evita
investimentos nas indústrias de tabaco. Em termos de critérios positivos, o ERCF investe em
companhias que respeitam os direitos dos consumidores ou o ambiente.

Embora o panorama do ISR em Portugal seja pobre, existem já algumas organizações que têm
promovido a RSE junto das empresas portuguesas:

RSE Portugal: uma organização sem fins lucrativos que integra uma rede europeia sobre RSE, a
Corporate Social Responsability (CSR) Europe. A missão da RSE Portugal é tornar-se a referência
nacional na área da RSE, promover e publicitar projectos RSE dentro e entre empresas,
desenvolver instrumentos analíticos para a área da RSE e dar maior visibilidade pública às
empresas socialmente responsáveis. Entre os seus associados contam-se o Millenium BCP,
Novartis, Intertek, ou o Grupo Portucel.

12 Ver João José Fernandes, Investimento Socialmente Responsável e Fundos Éticos: Uma Aproximação à Realidade
Portuguesa (Apresentado na Conferência Internacional sobre Responsabilidade Social e Globalização, Dezembro 2003)
26
BCSD Portugal: é a representação nacional do World Business Council for Sustainable
Development (WBCSD), criada em 2001 pelo Grupo Sonae, Grupo Portucel e Cimpor. Entre os
seus maiores objectivos encontram-se promoção de uma plataforma que junte empresas,
sociedade civil e governo em apoio ao desenvolvimento sustentável e o desenvolvimento de
estratégias para melhor comunicar a temática do desenvolvimento sustentável. Entre os seus
membros actuais contam-se a EDP, Águas de Portugal, ABB e GALP.
GRACE: é uma associação sem fins lucrativos criada em 2000 e destinada a promover o
conceito de Cidadania Corporativa e apoiar várias actividades sociais desenvolvidas por
organizações não-governamentais. Entre as suas associadas contam-se a McDonalds, BP, IBM e
Deloitte Consulting.

27
Microfinanças em Portugal

A Associação Nacional do Direito ao Crédito (ANDC), criada em 1998, foi pioneira no


desenvolvimento das actividades de microcrédito em Portugal tendo como grupo alvo um
segmento de pessoas que não teriam o acesso ao crédito tradicional.13 O seu objectivo principal
é lutar contra exclusão social, através de uma solução digna com recurso ao crédito para
beneficiários que nunca teriam essa alternativa na banca tradicional. Impedida de fazer a
intermediação financeira ela própria, a ANDC trabalha desde a sua criação em parceria com
instituições financeiras nacionais, em particular com o grupo Millennium/BCP. O valor dos
empréstimos concedidos é de 5 mil euros, reembolsáveis até 36 prestações mensais constantes
e com uma taxa juro próxima dos 5%. Entre a sua criação e até 5 de Novembro de 2005, o
número de microcrédito concedidos atingiram 349 projectos , tendo sido criados 420 de postos
de trabalho e com o valor total do crédito concedido a chegar aos de 1.5 milhões de euros14. A
nível de concessão do microcrédito, verifica-se na que as mulheres são as que mais beneficiaram
deste produto financeiro (55%). A nível de faixa etária, os beneficiários com idade compreendida
entre 36 e 46 anos são os principais clientes (30,9%), contra os com menos de 26 anos (5,8 %).
É possível verificar que a estratégia da ANDC passa por apoiar e conceder crédito a uma faixa
etária entre os 36 e 46 anos, uma vez que são pessoas que a priori são chefes de agregados
familiares, encontram-se mais desprotegidos, ou seja economicamente e socialmente excluídos
e necessitam a todo custo criar e gerar rendimentos de forma a melhorar as suas condições de
vida, estando dispostos a assumir o risco inerente a um negócio por mais pequeno que ele seja.
No que diz respeito à concessão do microcrédito por nível de escolaridade verifica-se na que
9,5% dos beneficiários são do Ensino Superior/ Universitário e 1,5% dos beneficiários não têm
qualquer instrução escolar. Portanto, a grande parte dos beneficiários concentra-se entre o 1º
Ciclo de e o 12º não de escolaridade. A ANDC privilegia um segmento de pessoas onde constam
mais desempregados, iletrados e desocupados que não encontram resposta no mercado de
trabalho porque não possuem as qualificações desejadas pelos empregadores ou por questões
de idade, ou porque vivem em regiões de baixo dinamismo económico. Para estas pessoas o
começo de um pequeno negócio pode ser um sinónimo de um percurso de integração social e
melhoria das condições de vida.
Em relação as actividades geradoras de rendimentos, verifica-se que os beneficiários preferem
aplicar os fundos do microcrédito em sectores de actividade onde haja retorno rápido do capital
investido e que favoreçam uma gestão simples e autónoma – como o sector da restauração.
Entre as instituições financeiras mais activas na área do microcrédito em Portugal encontra-se o
Millennium/BCP. A sua primeira iniciativa nesta área emerge com a assinatura de um protocolo
com a ANDC em 2000 através do qual o banco responsabiliza-se pela concessão do empréstimo
ao beneficiários da ANDC. Em Novembro de 2005, o Millennium/BCP lançou um rede nacional

13 Para informações sobre ANDC, ver www.microcredito.com


14 Estes e outros dados da ANDC disponíveis em www.microcredito.com
28
de microcrédito tendo como segmento alvo pessoas desempregadas, licenciados, reformados,
domésticas, jovens e proprietários de pequenas empresas, exigindo como condições básicas de
acesso ao crédito a capacidade para gerar um negócio e ser uma pessoa séria.
Existem duas modalidades de crédito: independente (um empréstimo único) e crescimento
(empréstimos faseados). Actualmente, o Millennium/BCP tem realizado um esforço no sentido
de alargar os seus serviços a outros segmentos do mercado que têm mais dificuldades a aceder
ao crédito como a vasta comunidade de imigrantes em Portugal. A proposta do Millennium/BCP
prevê a prestação de serviços de formação em conceitos básicos de gestão e assegurar parcerias
com universidades. O apoio financeiro será dado pela Fundação Calouste Gulbenkian, enquanto
a Cáritas assegurará o contacto com os mais pobres, potenciais clientes de microcrédito. A rede
foi lançada em apenas três espaços Lisboa, Porto e Braga e os créditos serão concedidos a uma
taxa de juro consentânea com o nível de risco.
Para além do Millennium/BCP, duas outras grandes instituições financeiras nacionais têm vindo a
revelar um interesse no mercado do microcrédito: Caixa Geral de Depósitos (CGD) e Banco
Espírito Santo (BES)
A Caixa Geral de Depósitos lançou em Junho de 2005, em parceria com o Serviço Jesuíta para os
Refugiados, um produto financeiro no valor de 250 mil euros e destinado a imigrantes. Este
protocolo tem como objectivo principal promover e facilitar o acesso à empréstimos bancários a
refugiados e imigrantes, um grupo de pessoas com maiores dificuldades económicas e
financeiras. Os empréstimos variam entre 500 e 7500 euros e podem ser reembolsados num
prazo até 36 meses com condições especiais, com uma taxa de juro baixa. O Serviço Jesuíta para
os Refugiados tem a seu cargo apoiar a gestão da linha de financiamento e criar mecanismos de
proximidade junto das comunidades imigrantes. É uma linha de microcrédito que visa apoiar a
criação de auto – emprego, a criação de novos negócios e contribuir para integração social dos
imigrantes.
Em meados de Dezembro de 2005, a CGD voltou a estabelecer dois novos protocolos na área do
microcrédito no valor de 750 mil euros, o primeiro com a Associação Nacional de Jovens
Empresários (ANJE) e o segundo com a ANDC. Com estes dois novos protocolos, a CGD declara o
seu interesse em fomentar o empreendedorismo através de um instrumento de financiamento
destinado a apoiar a cidadãos em situação de exclusão social ou profissional. O protocolo com a
ANJE prevê uma linha de microcrédito de 500 mil euros e um financiamento até 80% das
despesas totais até um prazo de 48 meses. Os beneficiários da ANDC terão acesso aos restantes
250 mil euros e um financiamento até 100% num prazo de 3 anos. A CGD dispõe actualmente de
quatro agências, em Lisboa, Coimbra, Faro e Porto para análise e acompanhamento dos
projectos de microcrédito. Quer a ANDC quer a ANJE ficam responsáveis pela análise,
acompanhamento das propostas e verificação do cumprimento das prestações dos créditos. À
CGD cabe fazer a intermediação financeira, emprestando o dinheiro, aprovando ou recusando
as propostas.
O Banco Espírito Santo (BES) estreou-se no microcrédito em Abril de 2006 com o lançamento do
seu serviço BES Boas Vindas15 e a criação de duas linhas de microcrédito destinadas a promover

15 Conjunto de iniciativas que têm como objectivo principal o apoio às comunidades de imigrantes em processo de
integração na sociedade portuguesa, os novos residentes.

29
o empreendedorismo social. A linha de financiamento de 750 mil euros e o prazo de reembolso
é de quatro anos.O BES assinou um protocolo de colaboração com 20 câmaras municipais e com
a Casa da Rússia, em que se comprometeu a realizar um conjunto de acções e projectos, com
vista a apoiar e desenvolver a capacidade empreendedora das comunidades de língua russa em
processo de integração na sociedade portuguesa. O BES tem realizado um esforço no sentido de
criar uma rede de apoio local as iniciativas empresariais, através de instrumentos de
financiamentos à criação de pequenos negócios. Este novo serviço constitui uma nova
ferramenta no combate a exclusão social, uma vez que os novos residentes legalizados em
Portugal enfrentam grandes dificuldades no acesso ao crédito tradicional, e o facto de ser
obrigatório trabalharem por conta de outrém ate a obtenção da autorização de residência.
Segundo o BES, 127.000 imigrantes poderão candidatar-se e estarão em condições de obter uma
autorização de residência podendo assim abrir o seu próprio negócio em Portugal. O objectivo
do BES a curto prazo é captar uma linha de 100 mil clientes, dos quais 16 mil serão cidadãos
residentes.
Para além das iniciativas nacionais, o Millennium/BCP e o Montepio Geral têm estado envolvidos
em actividades de microcrédito em países em desenvolvimento, nomeadamente Moçambique e
Cabo Verde.

30
Microfinanças nos países em desenvolvimento

Em Moçambique, o Millennium/BCP esteve na génese em Outubro de 2000 do NovoBanco-


Banco de Microfinança em parceria com outras instituições internacionais e nacionais. O
NovoBanco tem como objectivo providenciar microcréditos a micro, pequenas e médias
empresas e a indíviduos que têm problemas em aceder ao crédito. No final de 2003, o total de
microcréditos providenciados pelo NovoBanco chegou aos 4.6 milhões de euros com taxas de
juro variando entre 5.5%/ mês (em empréstimos de seis meses a dois anos) e 3.2%/mês para
pequenas e médias empresas. Actualmente o banco tem seis agências que cobrem
essencialmente zonas urbanas: Maputo (4), Beira (1) e Nampula (1).
Em Cabo Verde, o Montepio Geral estabeleceu uma parceria estratégica com a Caixa Económica
de Cabo Verde (CECV), um dos maiores bancos comerciais do país e o único a trabalhar na área
do microcrédito. O Montepio Geral tem apoiado o CECV em termos de capacitação na área da
gestão, recursos humanos e estratégias na área das empresas. Os programas de microcrédito são
destinados a apoiar a criação e desenvolvimento de microempresas que beneficiem grupos
sociais com baixo rendimento, em particular mulheres que são chefes de família e que se
dedicam ao comércio ambulante. Outros programas são orientados para a modernização da
agricultura local, das pescas e do artesanato. O CECV tem activos no total de 100 milhões de
dólares e possui 10 agências em quatro ilhas.

Ainda em termos de microcrédito nos países em desenvolvimento, a oikos – cooperação e


desenvolvimento tem apoiado algumas iniciativas nesta área. A disponibilidade de
financiamento é um requisito necessário, mas não suficiente, para que os pobres tenham acesso
ao crédito. Neste sentido, a oikos tem vindo a promover vários instrumentos e iniciativas de
microfinança e economia social, que disponibilizam recursos financeiros às famílias mais pobres
dos países em desenvolvimento. Com estes recursos (microcrédito, capitalização de associações
e cooperativas, constituição de negócios sustentáveis, etc.), tem sido possível quebrar o ciclo da
pobreza de muitos milhares de famílias em países como Angola, Moçambique, Brasil, Peru, etc.
Alguns exemplos de projectos que incluem componentes de microcrédito são:

PROSAM – Programa de Segurança Alimentar em Malange, Angola


A oikos trabalha na província de Malange, em Angola, desde 1991. Desde então, foram realizados
vários programas de ajuda de emergência durante a guerra, reinstalação de populações deslocadas,
reinserção de ex-combatentes e segurança alimentar. Actualmente, a oikos está a implementar, com
apoio da Agência Espanhola de Cooperação Internacional e da Intermón Oxfam (Espanha) e em
parceria com várias ONG e igrejas locais, um Programa de Segurança Alimentar (PROSAM) em 30
aldeias do município de Caculama e Malanje, beneficiando 4.047 famílias, totalizando 18.501 pessoas.
O programa visa contribuir para o reforço da capacidade produtiva e institucional das organizações
locais (instituições parceiras locais e comunidades beneficiárias), com objectivo de criar mecanismos
para a consolidação da sua auto-suficiência alimentar, maior participação nos processos de tomada
de decisões em relação aos problemas que mais os afectam, assim como maior conhecimento sobre
as problemáticas da HIV-SIDA, questão da terra, cidadania e etc.O programa apoia duas modalidades
de crédito: a primeira é direccionada para créditos destinados a actividades agrícolas, sendo
concedidos somente nos períodos referentes ao inicio das épocas agrícolas (Setembro, Outubro e
Abril); a segunda destina-se a créditos para outras actividades de geração de rendimento e são

31
concedidos por períodos intercalares ( 3 em 3 meses) . A implementação do programa de microcrédito
é efectuada através de uma parceria com o Banco Sol. Após longas discussões, em Novembro de 2004
foi assinado um acordo de parceria entre a oikos e o Banco Sol, que visa facilitar a cedência por esta
instituição de recursos financeiros para o desenvolvimento de pequenas acções de geração de
rendimento pelas comunidades. Resultante do acordo, o BANCO SOL compromete-se a disponibilizar
um fundo global anual estimado em USD 60 mil dólares/ano.

Projecto de Segurança Alimentar em Mandimba, Moçambique


Este projecto, a implementar por um período de 3 anos a partir de Junho de 2005, pretende consolidar
os resultados obtidos por uma intervenção anterior, orientada para o incremento da produção
agrícola no distrito de Mandimba, Niassa, em Moçambique (2001-2004). O projecto contribuirá para a
melhoria da segurança alimentar do distrito de Mandimba, garantindo a auto-suficiência alimentar e
o aumento das fontes de rendimento de 5.000 famílias, sendo 2.200 beneficiárias do projecto anterior e
2.500 novas famílias, correspondente a 20 mil pessoas, beneficiárias directas. As acções e os recursos
do projecto organizam-se em torno de quatro resultados: (1) aumento e diversificação da produção;
(2) organização dos produtores em associações; (3) acesso e ligação dos produtores ao mercado; (4)
reforço institucional das estruturas locais. A estratégia do projecto passa pela introdução de novas
opções tecnológicas, pela organização dos camponeses em associações e casas agrárias, pela
articulação dos produtores com a rede comercial e pelo reforço da agro-indústria, para aumento dos
rendimentos das famílias, aumento da capacidade de poupar e investir e ainda da redução de índices
de pobreza existentes no distrito.O projecto conta com uma componente de microcrédito, no âmbito
de uma parceria com a Amoder, ong local especializada em microfinança. A Amoder será
colaboradora directa e terá como principal papel efectuar a concessão de crédito às uniões de
camponeses institucionalizadas, como a união de Issa, Mitande e Mandimba Sede, e aos
comerciantes, para a comercialização de produtos agrícolas, compra e venda de factores de
produção, créditos para investimento na agro-indústria (prensas de óleo, moageiras) e na tracção
animal. O projecto garantirá um fundo operacional para estas actividades e prestará assistência
técnica aos beneficiários do programa de microcrédito na consolidação dos seus empreendimentos.
Projecta-se que a componente de crédito do programa possa vir a contemplar no primeiro ano cerca
de 10 empresários do Distrito de Mandimba, podendo este número crescer com seis novos empresários
anuais. Em três anos prevê-se a possibilidade de beneficiar cerca de 22 pequenos empresários do
distrito. O número de pequenos produtores beneficiários da componente de crédito será estabelecido
após a identificação dos potenciais elementos a serem abrangidos. A componente de crédito tem já
garantido um fundo de 15 mil euros no primeiro ano, devendo este fundo de crédito ter um
crescimento anual de 10 mil euros. Num período de 3 anos o fundo de crédito atingirá assim os 35 mil
euros.

Banco Comunitário de Huayao, Perú


Huayao é uma pequena aldeia do distrito de Tambo, departamento de Ayacucho (Andes), no Peru.
Situada a 3100 metros de altitude, tem 800 habitantes, agrupados em 200 famílias, que vivem da
agricultura, criação de gado, pequenos negócios e trabalho temporário. A violência política das
décadas de 1980 e 1990 marcaram a vida da comunidade, numa zona de influencia da guerrilha
(Sendero Luminoso). Actualmente a comunidade está numa etapa de restabelecimento do seu tecido
social e de reorganização da produção. Contudo, vários são os problemas que a comunidade
enfrenta: fraca capacidade de criação de emprego;baixa produção e produtividade agro-pecuária;
termos de troca comercial injustos e desfavoráveis; reduzida infra-estrutura de processamento e
comercialização; os camponeses não são considerados sujeitos de crédito pela banca comercial por
não apresentarem garantias e se encontrarem em zonas inóspitas e de difícil acesso.fraca
rentabilidade das actividades que realizam; problemas de saúde, educação e habitação.

32
Entre 1998 e 1999 a oikos, em parceria com a COPROFAM (ONG local), implementa um pequeno
projecto de desenvolvimento comunitário, com as seguintes componentes: criação de pequenos
ruminantes, cultivo de ervas aromáticas (orégão) construção de um centro de promoção da educação
infantil (PRONOEI), e constituição dum pequeno banco comunitário (“Banquito Comunal de Huayao”).
O objectivo da constituição deste banco comunitário foi permitir que mulheres e homens de Huayao
passem a dispor de um capital mínimo de investimento, necessário para melhorar a rentabilidade das
suas principais actividades. Além disso, pretendeu-se criar uma cultura de poupança e investimento e
uma capacidade de gestão de fundos.
Em Julho de 1999, o projecto outorgou um empréstimo de 3.5 mil novos soles (cerca de mil euros, ao
câmbio da época). Com este fundo o banco comunitário inicia as suas acções, outorgando nove
créditos, dos quais sete foram para mulheres. No ano seguinte, após uma primeira avaliação, o
projecto aumentou o fundo de crédito para 7 mil novos soles (cerca de 2 mil euros). A intervenção
directa da oikos e do parceiro local (COPROFAM) foi concluída em finais de 1999, início de 2000.
Em meados de 2003, a oikos encomendou uma auditoria externa ao “Banquito Comunal de Huayao”
(BCH), a fim de averiguar a evolução do mesmo e os resultados obtidos. Os resultados são
extraordinariamente positivos, evidenciando que os camponeses pobres podem ser bons gestores. Até
ao dia 15 de Julho de 2003, o BCH tinha gerado uma margem de lucro bruta de 22.284,80 soles
(15.228,80 como capital actual e 7.056,00 de despesas durante os 4 anos), esta quantidade foi gerada
a partir de um capital inicial de 9.560 novos soles (7 mil novos soles do empréstimo do projecto, 1.6 mil
novos soles dos sócios e 900 soles de poupanças da comunidade). Os indicadores de avaliação são os
seguintes:
Taxa de morosidade 6,4%
Rotação da carteira 2,80 x
Capitalização 104,0%
Custos administrativos 8% (em 4 anos)

RASME – Rede Angolana de Apoio ao Sector Microempresarial


Finalmente para o microcrédito seja correctamente aplicado, a oikos incide também no nível da
“utilização”. O uso dos instrumentos de microcrédito está relacionado com dois aspectos: a
capacidade dos indivíduos e/ou famílias aplicarem os recursos de forma segura, efectiva e eficiente e a
capacidade institucional e de gestão das organizações promotoras do microcrédito.A oikos apoiou,
por isso, a constituição da RASME – Rede Angolana de Apoio ao Sector Microempresarial. A RASME é
uma rede constituída para influenciar as políticas públicas com relevância para o desenvolvimento do
sector micro-empresarial e para a capacitação e reforço institucional das organizações sociais que
actuam na área do desenvolvimento da micro-finança e das micro-empresas. A RASME foi constituída
pela ADRA, CARE, DW - Development Workshop, oikos e SNV. Entre 2003 e 2004 o representante da
oikos em Angola presidiu à rede e, actualmente, integra o conselho directivo da mesma. A RASME é
membro da SAMCAF – Southern Africa Microfinance and Entreprise Capacity Ecement Facility.

Os objectivos da RASME são os seguintes:


- Facilitar a capacitação de todos os intervenientes do Sector Micro – Empresarial (Implementadores,
Bancos, Micro – Empresários e Doadores)
- Influenciar políticas favoráveis para o desenvolvimento do Sector Micro – Empresarial
- Divulgar e promover as melhores práticas do Sector – Empresarial
- Contribuir para a padronização melhores práticas do Sector Micro – Empresarial
- Reforçar as sinergias e fazer ligações com as organizações – membro

33
III
Comércio Justo e Finança Ética
Sinergias para o Desenvolvimento

34
As Lojas do Mundo

Finança ética através das Lojas do Mundo

Quais são os custos associados a uma Loja do Mundo?


As organizações que gerem Lojas do Mundo – lojas de comércio justo – investem os seus
recursos no sentido de:
• adquirir a loja para garantir transacções regulares;
• gerir desequilíbrios monetários e financeiros;
• pagar salários, fornecedores e armazenagem;
• proporcionar formação aos seus voluntários;
• investir directamente em projectos no Sul.

Como financiar uma Loja do Mundo?


As organizações gestoras de Lojas do Mundo obtém fundos de várias fontes:
• Lucros das vendas de produtos e de serviços
• Financiamento de bancos
• Capital social e quotas dos seus membros
• Poupanças sociais (apenas no caso de cooperativas)

Em acréscimo, as lojas de CJ beneficiam da contribuição do trabalho de voluntários, que


portanto é um serviço sem custos.
Os lucros das vendas, que resultam da diferença entre custos e receitas, são um excelente meio
para garantir o autofinanciamento da loja. Para uma organização sem fins lucrativos – o modelo
mais frequente de gestão de uma LM – a obtenção do lucro é somente um meio e não um fim
em si mesmo. Muitas vezes encoraja o crescimento e assegura sustentabilidade económica, mas
frequentemente tem um valor marginal.
O financiamento bancário exige garantias e implica elevadas comissões e taxas de juro. Uma
alternativa, sobretudo para as organizações cooperativas – e ainda por explorar em Portugal –, é
o recurso a instituições financeiras éticas, como o Triodos Bank (Holanda e Espanha), a Shared
Interest (Reino Unido) ou a Banca Etica (Itália). Este tipo de instituições tende a não exigir
garantias materiais, mas cobra despesas que são maiores daquelas em que incorre um banco
tradicional.
Angariar capital social ou poupanças junto dos membros proporciona maiores oportunidades
financeiras, com resultados muito diversos.

O que é o capital social?


O capital social é a soma monetária dada pelos membros para iniciar uma organização comercial
e para manter/expandir as suas actividades. Adquirir o capital, no caso de uma cooperativa,
significa tornar-se co-proprietário e membro da mesma.

Constituir o capital social


Aumentar os seus títulos de capital é uma forma de as cooperativas se fortalecerem – algo de
crucial para um tipo de organização que frequentemente enferma de fraca capitalização e
escasso pagamento de quotas. Trata-se também de um financiamento a custo zero, dado que

35
estes títulos de capital não proporcionam quaisquer taxas de juro aos subscritores. E como este
capital não se encontra indexado a nenhum prazo para retorno, permite que as cooperativas o
utilizem para investimentos de médio e longo prazo.
Tornar-se membro de uma organização gestora duma LM significa tomar parte nas suas
actividades sociais e decisões estratégicas, através de encontros entre os membros e outros
momentos de participação. Partilhar os riscos da organização aumenta a consciência e o
envolvimento dos membros no sentido de uma gestão mais eficiente.

Recuperar o capital investido


Um cooperador pode recuperar o capital investido numa cooperativa abandonando a
organização. Também é possível a transferência de quaotas para outro cooperador, desde que
tal não colida com os estatutos ou com o regulamento interno.

O que são as poupanças sociais?


Poupanças sociais são quantias entregues à cooperativa pelos seus membros enquanto
depósitos.

Angariar poupanças sociais


Uma cooperativa pode angariar poupanças dos seus apenas se tal estiver previsto nos estatutos.
Optar por investir o dinheiro numa cooperativa de comércio justo implica conhecoimento da
forma como tais fundos vão ser utilizados, isto é, implica transparência.
As cooperativas podem investir as poupanças dos seus membros de diversas formas:
directamente, através de projectos de cooperação internacional apoiando paíse no Sul ou
indirectamente, através de importadores que prefinanciam produtos de comércio justo.

36
Casos de Estudo - Itália

Cooperativa Mandacarù

Fundada em 1989, no ano seguinte abria em Trento a sua primeira Loja do Mundo. Em 1992 celebra
uma parceria com a cooperativa CTM – MAG, que lhe permite angariar poupanças. As poupanças
recolhidas pela CTM – MAG são utilizadas para desenvolver a CTM e o Comércio Justo em Itália.
Actualmente, a Mandacarù tem 10 Lojas do Mundo, mais de 300 voluntários e um volume de
negócios de €1.45 milhão. É ainda a maior organização italiana a trabalhar com finança ética em
prol do CJ, com 1750 membros, mais de 800 clientes e €4.3 milhões recolhidos entre capital social e
poupanças. As taxas de juro para os membros variam entre 0.25% e 1.9%, consoante o número de
títulos de capital social detidos pelos membros: quanto maior a titularização, maior é a remuneração
pelos depósitos.
Os títulos de capital social e as poupanças recolhidos pela Mandacarù são utilizados para desenvolver
e fortalecer o comércio justo. Tal sucede através de três formas de investimento:
Made in Dignity: pré-financiando produtores, fundo de préfinanciamento dos produtores, para
compra de materiais básicos (matérias primas, sementes)
Courageous Capital: capital e poupanças para fortalecer a riqueza e sos investimentos
Banquito: empréstimos aos produtores (p.e. para aquisição de maquinaria)

37
Coopera tiva Ac tiv idade s / Pr odu to s To tal (e uro ) *
Investments made in the cooperative
Mandacarù (property and equipment) and 1,217,171
warehouse stock
Made in dignity, banquito,
Ctm Altromercato 1,783,894
courageous capital
Cresud Banquito 194,114
Courageous capital, liquidity
CGM Finance Foundation 1,145,234
management
Enghera Cooperative Courageous capital 8,220
Dritte Weltladen Twigga Cooperative Courageous capital 15,494
* Dados de 2003

Cooperativa Dritte
Weltladen Twigga
0.36%

Consorzio CGM Mandacaru'


Finance 27.89%

Cooperativa 26.24%
Enghera
0.19%

Cresud
4.45%

Ctm Altromercato
40.88%

CTM Altromercato

A CTM Altromercato é uma organização de comércio justo financiada sobretudo por


empréstimos sociais. Em Setembro de 2004, 38 membros colectivos (cooperativas) angariaram
capital social e poupanças, assegurando os recursos necessários para assegurar o
préfinanciamento aos produtores no Sul (um dos critérios do comércio justo). Ao subscrever um
título de capital ou uma caderneta de poupança CTM, qualquer cidadão pode participar no
desenvolvimento de países no Sul. É um investimento baseado na confiança e com impacto na
realidade social no Sul.

Capital social Capital social

Membro Loja do Mundo CTM Produtores no


individual (cooperativas) Altromercato Sul
(fundação)
Poupanças Poupanças

38
Os membros da CTM-Altromercato captaram em 2003 mais de €12 milhões, dos quais cerca de
€6 milhões foram transferidos para a Fundação CTM Altromercato. As cooperativas Mandacarù e
Chico Mendes foram as que mais fundos recolheram. Perante estes dados, a Fundação CTM
Altromercato é o segundo maior operador italiano de Finança Ética, logo atrás da Banca
Popolare Etica (que captou em 2003 fundos no valor de €300 milhões).
A remuneração dos depósitos é calculada com base no rácio entre os títulos de capital e as
poupanças subscritos, traduzido numa taxa de juro entre 2,5% and 5,7% (dados de 2004). Um
bónus de 0,5% é atribuído a associações e cooperativas que realizem: capital social equivalente a
pelo menos 20% do volume de negócios; poupanças equivalentes a pelo menos o dobro do
capital social; investimentos na Fundação – em títulos de capital ou poupanças – equivalentes a
pelo menos 20% do seu capital social.

As actividades de finança ética do CTM Altromercato desenvolvem-se através de parcerias com:


Microcredit Coop (membro da Fundação CTM)
Procura desenvolver serviços financeiros para garantir um crescimento sustentado do comércio
justo. Capta capital de risco para que a Fundação possa emitir fundos de garantia e préfinanciar
os produtores. Em áreas onde ainda não existem Lojas do Mundo, a cooperativa possibilita aos
membros subscrever cadernetas de poupança.
Cooperativa MAG4 (membro da Fundação CTM)
Concede empréstimos aos membros da Fundação e disponibiliza formação em microcrédito.
CGM Finance
Instrumento financeiro do Consorzio Gino Mattarelli, que garante liquidez, através de hipotecas
para compra de espaços comercial para Lojas do Mundo.
Cresud
Instituição de crédito especializada em empréstimos a organizações de microcrédito e a
produtores no Sul, em particular parceiros do CTM Altromercato.

3) Cooperativa Chico Mendes

Fundada em 1990 por um grupo de estudantes em homenagem ao sindicalista brasileiro assassinado


por defender os pequenos produtores e a floresta amazónica, abriu a sua primeira Loja do Mundo em
1992, na cidade de Milão. Desde 1994 que capta as poupanças de membros. Actualmente com 10
Lojas do Mundo, 2.253 membros – dos quais 450 investem as suas poupanças na cooperativa – 14
profissionais, 27 colaboradores e cerca de 120 voluntários, com um volume de negócios de €3 milhões
e um capital social de €757 mil e aproximadadmente €2.2 milhões em poupanças captadas. Pratica
taxas de juro entre 1% e 3%, consoante o número de títulos de capital social detidos pelos membros:
quanto maior a titularização, maior é a remuneração pelos depósitos.

39
Dados de 2003:

CGM finance
Aplicações de capital ( € ) 0.07%
Coop. CAES P a r t e c i p a z i o n i

0.07% Coop Enghera


0.02%
Ctm Altromercato 103,290
Coop. Nibai
Cresud 15,000 0.07%
Banca popolare 12,032
mag_4
etica 0.07%
mag_4 542 Banca popolare
Chico Mendes
Coop. Nibai 516 etica
82.49%
1.59%
Coop. CAES 516 Cresud
CGM finance 516 1.98%
Coop Enghera 155 Ctm
Altromercato
Chico Mendes 624,703 13.64%

Depósitos poupanças (€)


Chico Mendes
I m p i e g h i

Chico Mendes 348,887 16.20%

CTM Altromercato 720,030 CGM Finance


mag_4 22,998 45.96%
Coop. Nibai 22,488 CTM
Coop. Enghera 9,229 Altromercato
33.42%
Cresud 40,583
CGM Finance 990,000
Cresud
1.88%
mag_4
Coop. Enghera 1.07%
Coop. Nibai
0.43%
1.04%

40
Finanças para o Sul

Finança ética através de instituições de microfinança

Certificados de depósito solidários: Banca Etica / ETIMOS


As garantias bancárias são uma forma de cobertura para riscos inerentes ao crédito, nomeadamente
para compensar possíveis prejuízos de correntes da impossibilidade de pagar o empréstimo. No caso
de empréstimos concedidos em países no Sul, a incerteza de variáveis macroeconómicas, a
instabilidade política e as ameaças ambientais explicam a vontade dos intermediários financeiros de
assegurar cobertura independente, recorrendo por exemplo a fundos de garantia de crédito
internacionais16 ou a garantias de terceiros.
Desde o final de Outubro de 2002,os clientes que pretendam ver o seu dinheiro investido em projectos
de cooperação e desenvolvimento no Sul podem subscrever certificados de depósito solidário na
Banca Popolare Etica. Estes títulos são depois utilizados pelo ETIMOS em créditos garantidos. O cliente
pode mesmo “adoptar” um projecto específico e assim comprometer-se no desenvolvimento de
determinada comunidade no Sul, bem como concordar que o do empréstimo não seja reposto em
situações de emergência (guerra, catástrofes naturais).
As aplicações nos certificados de depósito solidário que beneficiam organizações financiadas
pelo ETIMOS constituem um tipo de finança ética baseada na confiança na ETIMOS e nos
parceiros no Sul, uma responsabilidade partilhada e uma oportunidade para estar envolvido
numa iniciativa inovadora e de grande valor social.
Este tipo de projectos surgiram em resposta a dois tipos de necessidades: à vontade estratégica
da própria ETIMOS em alargar o acesso ao crédito a pessoas incapazes de fornecer garantias
materiais, bem como aos crescentes pedidos dos clientes da Banca Ética no sentido de
trabalharem mais activamente com a cooperação internacional. Em 2003, a Banca Popolare Etica
captou €470 mil em certificados de depósito solidário.

Títulos de dívida: CreSud


Títulos de dívida são um tipo de empréstimo de longo prazo, que um investidor emite para uma
empresa, reembolsado a taxas de juro préestabelecidos. Os títulos de dívida emitidos pelo
CredSud valem €800 mi e expiram no final de 2007. Trata-se de títulos com um montante
mínimo de €5 mil e com uma taxa de juro de 2.75%.
Subscrever títulos do Cresud é uma forma de desenvolver a microfinança, uma oportunidade de
investir eticamente e de apoiar o auto-desenvolvimento dos paíoses do Sul.

16 For further information, please see “Rural credit guarantee funds: best practices, international experiences and the
case of the nena region”, Laura Viganò, Giuffrè 2002.
41
42
Empréstimos éticos: Shared Interest

A Shared Interest é uma cooperativa financeira, sediada em Inglaterra, que se especializou no


financiamento de actores de CJ. Tem 8 mil membros que investiram em títulos no valor de €30
milhões. É membro da IFAT e só concede empréstimos a organizações certificadas de comércio
justo, através da Clearing House. Em 2004 havia 365 organizações de produtores a receber
pagamentos no valor de cerca de €28.5 milhões.
Esta instituição financeira ética concede crédito através da Clearing House, um sistema de
financiamento de importadores para permitir aos produtores receber pré-financiamento. Assim,
quando um importador faz uma encomenda ao produtor, a SI concede um adiantamento de
50% do valor da mercadoria, debitando o respectivo valor da conta do importador - designado
crédito “pré-expedição”. Logo que o débito é confirmado, a SI envia ao produtor os restantes
50%. Quando a mercadoria chega, o importador tem um período de crédito/carência -
designado crédito “pós-expedição” – que lhe permite pagar a dívida - valor recebido mais juros -
somente depois de vender a mercadoria.
A SI também disponibiliza ainda aos produtores crédito, dando-lhes um adiantamento que pode
chegar até 80% do valor total da encomenda. Se o importador pagar 50% dessa verba através da
SI, o produtor pode aceder a mais um crédito equivalente a 30%.

A Oikocredit é uma rede mundial de investidores sediada na Holanda, que financia cooperativas,
pequenas e médias empresas e instituições financeiras, com enfoque particular nos países do Sul
e no microcrédito. Cerca de 10% dos seus empréstimos destinam-se a produtores e
importadores de CJ.

O Triodos Bank está presente na Holanda, Bélgica, Reino Unido e Espanha. Financia organizações
certificadas de produtores de comércio justo e/ou de agricultura biológica. Os empréstimos são
indexados aos contratos de exportação.

43
COMÉRCIO JUSTO
Bibliografia

Comércio Justo Perguntas & Respostas Lisboa, CIDAC, 2001

Fair Trade in Europe 2005 Amsterdão, EFTA, 2006

Researches on the impact of Fair Trade Amsterdão, EFTA, 2006

Malhotra, Kamal Making global trade work for people Sterling, Earthscan, 2003

Redfern, Andy e Snedker, Paul Creating market opportunities for small entreprises: experiences
of the fair trade movement Genebra, ILO, 2002

Watkins, Kevin Rigged Rules And Double Standards Londres, Oxfam, 2002

Watkins, Kevin Trade, Globalisation and Poverty Reduction Washington, Oxfam, 2002

44
Links

EFTA www.eftafairtrade.org
Fair Trade Federation www.faitradefederation.org
Fair Trade Resource Network www.fairtraderesource.org
FLO www.fairtrade.net
IFAT www.ifat.org
NEWS! www.worldshops.org
Transfair USA www.transfairusa.org

Portugal

Coordenação Portuguesa de Comércio Justo www.comerciojusto.pt


AJP www.ajpaz.org.pt
Alternativa www.alternativa.comercio-justo.org
ARCA www.arca-algarve.org
CIDAC www.cidac.pt
Cores do Globo www.coresdoglobo.org
Equação www.equacao.comercio-justo.org
Mó de Vida www.modevida.com
oikos www.oikos.pt
Planeta Sul www.latitude0.net
Reviravolta http://reviravolta.comercio-justo.org

45
FINANÇA ÉTICA
Bibliografia

ALSINA, O. (2002): “La Banca Ética: Mucho más que dinero” FETS, Ed. Icaria
AVANZI SRI RESEARCH, SIRI GROUP: “Green, social and ethical funds in Europe 2004”.
DEL RÍO, N. (2003): “Rescata tu dinero. Finanzas solidarias y transformación social”, Madrid.
Dossier Ethical Finance in England, 2004. (memorando)
Dossier Ethical Finance in Holland, 2004.(memorando)
Dossier Ethical Finance in Italy, 2004.
Dossier Ethical Finance in Portugal, 2004.
EUROSIF: “Socially Responsible Investment among European Institutional Investors 2003 Report”.
FORO NANTIK LUM DE MICROFINANZAS (2005): “El Microcrédito en España, hoy: principales
magnitudes 2004”, Obra Social “la Caixa”.
GUTIÉRREZ NIETO, B: “El microcrédito. Análisis del caso español”, UNED, 2003.
MERCER INVESTMENT CONSULTING y EUROSIF RESEARCH: “European Pension Fund Managers
Guide 2002”.
MICROFINANCE CENTRE FOR CENTRAL AND EASTERN EUROPE AND THE NEW INDEPENDENT
STATES, MFC: “MFC-Overview of the Microfinance Industry in the ECA Region in 2003”, Dezembro
de 2004.
MICROFINANZA SRL: “FINANCING FOR DEVELOPMENT - ANALYSIS OF EUROPEAN BEST
PRACTICES”. 2004.
SETEM, 2005: “Finanzas éticas: la otra cara de la moneda”.
THE NEW ECONOMICS FOUNDATION: “Una perspectiva general del sector Microfinanciero en
Europa Occidental”, Agosto de 2004.

46
OUTRAS FONTES DE CONSULTA

www.gemeinschaftsbank.de www.febea.org
www.ethicalmoney.org www.cultura.no
www.ethicalinvestment.org.uk www.jak.se
www.eiris.org www.ekobanken.se
www.eurosif.org www.bas-info.ch
www.sricompass.org www.gemeinschaftsbank.ch
www.dti.gov.uk www.finansol.org
www.vbdo.nl www.mercator.be
www.avanzi-sri.org www.fig-igf.org
www.cnmv.es www.tise.com.pl
www.europapress www.microfinance.lu
www.deputati.it www.adie.org
www.uksif.org www.alterfin.be
www.sozialbank.de www.microcredito.com.pt
www.triodos.es cigales.asso.fr
www.merkurbank.dk www.cordaid.nl
www.eko-osuusraha.fi www.credal.be
www.alsace.banquepopulaire.fr www.creditosud.it
www.credit-cooperatif.fr www.blueorchard.ch
www.lanef.com www.etika.lu
www.inaise.org www.etimos.it
www.triodos.es obrasocial.caixacatalunya.es
www.triodos.co.uk www.swwb.org
www.asnbank.nl www.novib.org
www.co-operativebank.co.uk www.oikocredit.org
www.unity.uk.com www.planetfinance.org
www.bancaetica.com www.sidi.fr

47

Вам также может понравиться