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Felipe Noronha1, 2, Gabriel Queiroz2, 3, Afonso Leal Francisco4 & Irene Garay2,5
1
Mestrando do Programa de Pós Graduação em Geografia – UFRJ,
2
Laboratório de Gestão da Biodiversidade, IB – UFRJ, 3Aluno de Iniciação
Científica em Ciências Biológicas – UFRJ, 4Analista Ambiental do IBAMA,
5
Professora Adjunto do Instituto de Biologia - UFRJ
email para correspondência: noronha@biologia.ufrj.br
Eixo temático: Fauna e Flora.
Introdução
Os efeitos dos impactos antrópicos passados e presentes sobre a Floresta
Atlântica se expressam na redução das florestas originais e na sua fragmentação. Os
estudos sobre fragmentação consideram em geral os efeitos de borda como único
fator de perturbação dos remanescentes florestais (CAMARGO & KAPOS, 1995;
VIANA & TABANEZ, 1996; DIDHAM & LAWTON, 1999). Porém, quando os
fragmentos estão submetidos a atividades extrativistas e de visitação, caminhos e
trilhas são abertos podendo provocar distintos graus de alteração nos processos
ecológicos no interior destes fragmentos, ocasionando forte impacto sob a sua
integridade.
Assim, em pesquisas que visam avaliar o estado de fragmentos, é necessário
caracterizar as modificações do funcionamento e da estrutura dos componentes
bióticos e abióticos destes ecossistemas, afim de associá-las ao grau de conservação
dos remanescentes e às formas de uso (GARAY, 2001). Para isso, se faz necessária a
elaboração de indicadores devido à complexidade dos sistemas florestais.
Dentro dessa perspectiva, a caracterização das formas de húmus e a estrutura
e composição da mesofauna, por estarem associados ao subsistema de
decomposição, podem se tornar indicadores de alterações antrópicas dos
remanescentes florestais. Em particular, podem representar uma ferramenta de
avaliação do impacto de trilhas sobre estes componentes do ecossistema,
possibilitando inferir o grau de integridade de fragmentos e seu conseqüente manejo.
Objetivos
O objetivo geral do presente trabalho é determinar indicadores do grau de
perturbação de remanescentes florestais, com vistas a contribuir para o planejamento
ambiental integrado da região, em distintas escalas (entre fragmentos e no interior dos
fragmentos).
Os objetivos específicos são: i) caracterizar as modificações das camadas
húmicas (topo do solo) e da mesofauna edáfica em fragmentos de Floresta Atlântica
de Tabuleiros e ii) caracterizar o efeito das trilhas e das áreas do entorno sobre estes
componentes do subsistema de decomposição a fim de avaliar o grau de integridade
dos remanescentes e propor indicadores desta perturbação.
Metodologia
Caracterização da área de estudo
O estudo foi conduzido no município de Sooretama, norte do Espírito Santo, a
19o24’20’’ de latitude Sul e 40o04’05’’ de longitude Oeste. O clima quente e úmido da região
corresponde, segundo a classificação de Köppen, ao grupo AWI. Apresenta acentuada
variação sazonal dos índices pluviométricos e uma relativa estabilidade da
temperatura média mensal e da umidade relativa do ar, que é de 83% em média
(figura 1a e 1b).
A B
(mm) (oC)
(mm) (oC)
350 pp2000 pp= 1430mm 175
350 pp1975-2000 pp= 1200mm 175
t2000 t med.= 23oC
t1975-2000 t med.= 23oC
300 150 300 150
150 75 150 75
100 50 100 50
50 25 50 25
- - 0 -
J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D
Amostragem
Com o intuito de avaliar o efeito das atividades antrópicas e das vias de
passagem nos fragmentos sobre a estrutura dos húmus florestais e sobre a
mesofauna associada foram amostradas três situações conformando um transecto: 1)
área de floresta aparentemente preservada (MATA), 2) área que contorna as trilhas
(BORDA) e 3) trilhas internas (TRILHA). Na REBIO Sooretama foi amostrada apenas
área de floresta.
Para as áreas de floresta (MATA) foram demarcadas quatro parcelas de 20m x
20m em cada sítio de estudo. Foram coletadas três amostras por parcela perfazendo
um total de doze amostras por sítio. Para as áreas de borda de trilha foram
demarcadas seis parcelas de 10m x 10m distantes 50m das trilhas. Foram coletadas
duas amostras por parcela, totalizando 12 amostras por fragmento. Com relação às
trilhas foram escolhidos seis trechos em cada fragmento, ao longo dos quais foram
demarcados e coletados dois pontos amostrais, somando um total de doze amostras
por sítio. As coletas foram realizadas no ano 2000.
Em cada ponto de amostragem foram realizadas duas amostras contíguas
delimitadas por meio de um quadrado metálico de 25cm de lado (Figura 3a): a primeira
para o estudo dos húmus e a segunda para a obtenção da mesofauna. As camadas de
folhiço e o primeiro horizonte orgânico-mineral Ai (0 -2 cm) foram retirados do interior
do quadro (GARAY et al., 1995). Para o estudo da mesofauna edáfica foram coletadas
separadamente as camadas de folhiço (L e F) e os primeiros centímetros do solo.
(a) (b)
Figura 3: (a) – quadrado metálico com 25cm de lado utilizado na coleta das amostras.
(b) – extrator do tipo Berlese-Tulgreen.
Análises Estatísticas
No caso dos dados das camadas de folhiço e da estimativa das propriedades
químicas do horizonte Ai, as diferenças entre as áreas de mata e as trilhas dos
fragmentos foram testadas utilizando-se o teste t de Student. Na comparação entre as
áreas de mata da REBIO e dos fragmentos utilizou-se o teste ANOVA seguido do post
hoc test Tukey a 5%. Os dados foram normalizados por meio do cálculo da raiz
quadrada dos dados brutos. No caso da mesofauna, em virtude da distribuição
agregada dos animais do solo, a análise estatística utilizada para os dados de
densidade de grupos foi o Kruskal-Wallis. Para a riqueza utilizou-se o teste ANOVA.
Todas as análises estatísticas foram calculadas no programa Statistica 6.0.
Resultados e discussão
Estoque de folhiço
Em relação ao estoque de matéria orgânica para as áreas de mata, os maiores
valores foram obtidos para o fragmento Pasto Novo (5,1 t/ha), seguido da REBIO
Sooretama com 4,5 t/ha e do fragmento Bionativa com 2,1 t/ha (tabela 1). Neste
fragmento, o acúmulo corresponde à metade do estimado para a REBIO. A
comparação entre esses dois sítios evidencia diferença significativa (F= 5,26 e p=
0,01). Na comparação entre a REBIO Sooretama e o fragmento Pasto Novo não se
observa diferença significativa.
Tabela 1: Estoque de matéria orgânica (t ha-1) das áreas de mata e das trilhas dos
sítios de estudo. Média (erro padrão); mata vs. trilha: º: α > 0,05; *: 0,05>α >0,01; **:
0,01>α > 0,001; ***: α < 0,001. Testes feitos com dados normalizados. n= 12.
REBIO ANOVA
t/ha Pasto Novo Bionativa
Sooretama matas
F= 5,26
áreas de mata 4,5 (0,5) 5,1 (0,9) 2,1 (0,3)
p= 0,01
trilhas internas − 0,7 (0,1) 0,7 (0,1) −
F = 13,05
C/N 11,3 (0,3) 13,0 (0,3) 11,2 (0,2)
p < 0,001
ª F = 13,22
BT 12,7 (1,1) 7,4 (0,7) 7,1 (0,6)
p < 0,001
F = 45,38
SB (%) 62,5 (1,6) 33,1 (2,9) 45,5 (1,4)
p < 0,001
ª
unidade de quantificação deste parâmetro: cmolc Kg-1.
Tabela 3: Características químicas do horizonte Ai nas áreas de mata e nas trilhas dos
fragmentos. Média (erro padrão). “m x t”: Teste t de Student entre as áreas de mata e
trilhas: º: α > 0,05; *: 0,05 >α> 0,01; **: 0,01 >α> 0,001; ***: α < 0,001. Testes
realizados com dados normalizados. n= 12.
Pasto Novo Bionativa
mata trilha mxt mata trilha mxt
C (%) 5,5 (0,9) 2,4 (0,1) ** 3,5 (0,3) 3,0 (0,5) º
N (%) 0,41 (0,06) 0,18 (0,01) *** 0,31 (0,02) 0,21 (0,03) *
ª
BT 7,4 (0,7) 2,5 (0,1) *** 7,1 (0,6) 4,6 (0,9) *
Mesofauna edáfica
De maneira geral, existe um gradiente de diminuição da riqueza que vai desde
as áreas de mata até as trilhas; as bordas apresentam características intermediárias
(Tabela 4). As áreas de mata apresentam riquezas similares na REBIO e no fragmento
Pasto Novo; entretanto, os valores mais baixos correspondem ao fragmento Bionativa.
Estes resultados acompanham o grau de perturbação dos fragmentos no que
concerne tanto à vegetação arbórea como as características dos húmus.
No que diz respeito às densidades nas áreas de mata, as maiores diferenças
se observam quando se consideram separadamente os insetos sociais e os outros
grupos: tanto Formicidae como Isoptera mostram uma diminuição de densidade nos
fragmentos Pasto Novo e Bionativa. Estas diferenças são ainda mais acentuadas
quando se consideram as bordas das trilhas e as próprias trilhas. Estes resultados
evidenciam que sítios próximos às trilhas podem apresentar um grau de impacto
importante (Tabela 5). Os grupos de mesofauna não sociais, que englobam um
número muito diversificado de fauna, mantêm densidades similares entre as áreas de
mata, borda e trilha. Porém, para interpretar estes dados é necessário considerar um
certo detalhamento destes grupos.
Tabela 4. Riqueza acumulada e média das áreas de mata, borda de trilha e trilha dos
sítios. Média (erro padrão); ANOVA: comparação das três situações internas dos
fragmentos. º: α > 0,05; *: 0,05>α >0,01; **: 0,01>α > 0,001; ***: α < 0,001. n= 12.
REBIO
Pasto Novo Bionativa
Sooretama
riqueza média / amostra
áreas de mata 23 22 19
borda de trilha − 19 21
trilhas internas − 14 14
Tabela 5: Densidade total (ind./m2) dos grupos sociais e não sociais nas áreas de
mata, bordas de trilha e trilhas internas dos sítios de estudo. n= 12.
REBIO
Pasto Novo Bionativa
Sooretama
grupos sociais (Formicideae e Isoptera)
trilhas internas − 30 20
(ind./ m2)
150 1000
100
500
50
0 0
PSE ARA CHI DIP SYM DIU ISO COL (L) THY TRI LEP HOM HET DPT COL
** * º *** º *** º º * *** º º * º **
250 m ata
FRAGMENTO PASTO NOVO m ata FRAGMENTO PASTO NOVO
borda 2000 borda
200 trilha
trilha
1500
150
(ind./m2)
(ind./m2)
1000
100
50 500
0 0
PSE ARA CHI DIP SYM DIU ISO COL (L) THY TRI LEP HOM HET DPT COL
*** *** * *** ** *** *** º º
* *** *** ** ** *
75
(ind./m2)
750
(ind./m2)
50 500
25
250
0
0
PSE ARA CHI DIP SYM DIU ISO COL (L) THY
TRI LEP HOM HET DPT COL
*** * ** * * º ** * *** *** *
** * * º
Conclusões
Nossos resultados permitem evidenciar modificações significativas nas
características quantitativas e qualitativas das camadas húmicas e da mesofauna
edáfica, tanto no interior dos fragmentos como entre fragmentos. No entanto, os
impactos parecem ser maiores quando consideramos o efeito das trilhas e das bordas
de trilhas em relação às áreas de mata no interior dos fragmentos.
Em virtude das respostas observadas nos componentes do subsistema de
decomposição aos impactos causados pela atividade antrópica, é válido propor o uso
da mesofauna edáfica como indicador dessa perturbação.
A constatação de que trilhas e bordas de trilhas constituem hábitats fortemente
alterados revela a importância de um manejo adequado de trilhas com vistas à
sustentabilidade funcional e conservação da biodiversidade nos remanescentes de Floresta
Atlântica.
Referências Bibliográficas
AGAREZ, F.; GARAY, I. & VICENS, R. S. A floresta em pé: heterogeneidade de
fragmentos e conservação. In: GARAY, I. & RIZZINI, C. M. (Org.). A Floresta
Atlântica de Tabuleiros: diversidade funcional da cobertura arbórea. 2. ed.
Petrópolis: Vozes, 2004, p. 27-34.
GARAY, I.; KINDEL, A. & JESUS, R. M. Diversity of humus forms in the Atlantic Forest
ecosystems (Brazil): The Table-land Atlantic Forest. Acta Oecologica, v. 16, p. 553-
570, 1995.
KINDEL, A. & GARAY, I. Humus forms in ecosystems of the Atlantic Forest, Brazil.
Geoderma, v. 108, p. 101-118, 2002.