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AS ORGANIZAÇÕES ESPORTIVAS COMO OLIGARQUIAS:

UMA ANÁLISE TENDO COMO PRISMA


O COMITÊ OLÍMPICO INTERNACIONAL[1]

Otávio Tavares, Doutor – DG/CEFD/UFES

Resumo
O Movimento Olímpico e os Jogos Olímpicos podem ser considerados como uma das mais importantes
ferramentas de globalização dos sentidos e valores do esporte moderno. Neste sentido, o Comitê
Olímpico Internacional (COI) pode ser considerado como um paradigma de organização esportiva. Em
face das pressões por uma gestão mais democráticas das organizações esportivas, este estudo tenta
compreender as origens e as características do como uma oligarquia a partir da teoria de Robert Michels e
discutir os limites e as possibilidades desta estrutura para o processo de democratização das organizações
esportivas de um modo geral.

Introdução
O esporte desenvolveu-se como uma das mais importantes manifestações das sociedades contemporâneas.
É possível dizer que o processo de expansão dos valores e formas que caracterizam a modernidade
ocidental é também o da expansão do esporte moderno (Mandell, 1992). Neste contexto, o Movimento
Olímpico (MO), e particularmente sua versão mais mediática, os Jogos Olímpicos (JO), podem ser
considerados como um importante veículo para a globalização de um conjunto de valores associados à
prática esportiva (Lenk, 1976; Ren, 1997). De fato, o conceito de fair play (jogo limpo), a crença no
esporte como uma prática naturalmente educativa, as idéias de superação da desigualdade social e de
promoção do entendimento e da paz internacional através da competição esportiva estão em grande
medida associados à ideologia do Movimento Olímpico (o olimpismo).

Em face de sua dimensão histórica e alcance global, o Movimento e os Jogos Olímpicos tem se
constituído em uma contínua fonte para estudos de caráter sociológico. Com efeito, diversos autores tem
focalizado desde a origem do MO como um projeto internacionalista ao desenvolvimento do Comitê
Olímpico Internacional (COI) como uma organização transnacional, passando por sua transformação em
lugar de expressão das disputas geopolíticas internacionais enfocando, portanto, o papel sócio-político do
COI para as relações internacionais (Guttmann, 1994; Hill, 1992; Hoberman, 1995; Hobsbawn, 1990;
Kanin, 1982; Krotee, 1988; Macintosh & Hawes, 1992; Nafziger, 1971, p. ex.). Todavia, pouca atenção
tem sido dada à natureza e às características do COI como uma organização política. Do mesmo modo,
são praticamente inéditos em nosso país os estudos destinados a investigar a natureza e lógica das
organizações esportivas como sistemas de poder.

Como já demonstrei (Tavares, 2003), o COI passou por reformas destinadas a introduzir elementos do
jogo democrático em sua direção que, todavia, possuem limites evidentes. Entendendo que a expressão do
MO possui efeitos paradigmáticos para a organização do esporte mundial, parece ser importante que
investiguemos sobre que bases e tradições estas reformas se operam.

A onda democrática; continuidade e mudança


Temos testemunhado que no Brasil e fora dele as organizações esportivas tem estado sujeitas a pressões
de caráter democratizante, destinadas a aumentar sua transparência, gestão responsável[2] e a ampliar o
papel dos atletas no seio da organização. Como afirmou Constantino (1995, p.14), por exemplo:

"A direção do Movimento Olímpico, e isto é também verdade para os clubes, as associações, as
federações desportivas nacionais e internacionais, não pode manter-se numa lógica organizativa em que a
razão de todo o sistema - os atletas - sejam aqueles que menos poderes dispõem na direção da respectiva
atividade".

Embora as razões que levam a este movimento sejam complexas, pode se dizer que estão inseridas na
“grande onda histórica” (Weffort, 1992, p. 85) do avanço internacional da idéia democrática nos últimos
trinta anos do século XX. Esta ‘onda’ implicou, entre outras coisas, num deslocamento tanto do sentido da
idéia de democratização quanto do seu ponto de aplicação. Assim,

“a palavra ‘democrático’ não se aplica somente às instituições governamentais. Lato sensu, aplica-se
também a toda sociedade onde, qualquer que seja o modo de designação dos dirigentes, o exercício do
poder é submetido a certas condições quanto à definição dos objetivos coletivos e quanto à participação
dos membros do grupo em sua definição e execução” (Boudon e Bourricaud, 1993, p. 132).

Em face destes deslocamentos, as reformas institucionais por que tem passado o COI o dotaram de
formas de organização bastante díspares em busca de um ‘clima’ de gestão democrática. De um lado, o
Comitê preservou a cooptação de seus membros individuais. De outro, instituiu eleições diretas para a
composição de sua Comissão de Atletas e aceitou representantes de comitês olímpicos nacionais e de
federações internacionais como seus membros. Em contas finais, em busca de conciliação entre
continuidade e mudança, as reformas do COI o posicionaram ao mesmo tempo além e aquém de outras
organizações esportivas em relação à elementos democráticos formais de gestão.

Não se deve entender, contudo, que se o COI e outros órgão esportivos carecem de uma gestão
democrática, não havia ou não há política dentro deles. Se observarmos o conceito básico de Aristóteles
de que a política nasce da diversidade de interesses, apenas de maneira muito inocente se pode imaginar a
ausência de política no Movimento Olímpico, por exemplo. Como observa Morgan (1996, p. 152),

“a política organizacional nasce quando as pessoas pensam diferentemente e querem agir também
diferentemente. Essa diversidade cria uma tensão que precisa ser resolvida por meio políticos [...] que
baseiam-se nas relações de poder entre os atores envolvidos. Isto envolve tanto conflitos interpessoais
como jogos de poder”.

Assim, como observou Hill (op. cit., p. 12),

“As razões para a contínua lealdade (embora incerta) de potenciais rivais do COI
[FI’s,/ANOC/ASOIF/AIOWF/GAISF][3] são complexas, mas quaisquer que sejam elas, o COI não
permanece no topo da pirâmide sem esforço contínuo. O processo é político. Ele demanda recursos que
são canalizados para o mundo todo pela Solidariedade Olímpica, um entendimento da motivação humana
e a prudente manipulação do poder”.

Todavia, o fato de Coubertin e seus sucessores terem insistido no dogma da separação entre política e
esporte contribuiu para que a política que ocorre em bases correntes, quase sempre fosse invisível à todos,
exceto aos diretamente envolvidos. Por estas e outras razões, incluindo o fato de que a privacidade e o
segredo podem servir para fins políticos, a política interna no COI transformou-se em assunto tabu.
Assim, tornou-se provavelmente muito difícil que alguém assumisse claramente a existência de um
motivo particular para atos do Comitê que se supõem sirvam a causa do Movimento antes de mais nada.

As origens do COI como uma organização não-democrática.

No contexto da transformação dos estados nacionais na forma dominante de organização geopolítica do


final do século XIX, Pierre de Coubertin seria mais um dos diversos intelectuais e políticos que buscam o
desenvolvimento de formas transnacionais de celebração de uma pretensa unidade cultural da
humanidade (Quanz, 1995).

Com efeito, como destacou Hoberman (1995), o estabelecimento do Movimento Olímpico em 1894
coincidiu com a acelerada proliferação de um amplo espectro de organizações internacionais. Entre a
segunda metade do século XIX e o início da Primeira Guerra Mundial (1914), o número de instituições de
caráter internacionalista passa de um número realmente pequeno para algo em torno de duzentas
instituições. O Comitê Olímpico não é de fato mais do que mais uma das diversas organizações e
movimentos internacionalistas de seu tempo. Como quase todos eles, lastreava-se na idéia de uma
organização não ideológica, destinada a promover uma idéia, se organizar em torno de uma elite, e,
principalmente, servir a humanidade em regime de total independência de correntes políticas e de
governos nacionais. Mais do que princípios em comum, porém, o COI guarda semelhança de organização
com estas instituições. Segundo MacAloon (1981), Pierre de Coubertin reproduziu na estrutura do COI os
elementos organizativos básicos que caracterizavam a grande maioria das organizações internacionalistas
do século XIX. Segundo este autor, são encontráveis nos princípios de organização do COI, (1) a seleção
de membros por cooptação; (2) a noção de representatividade reversa[4]; (3) a convicção de uma ação a
serviço de uma ‘idéia’ e para a ‘humanidade’; (4) uma ‘elite moral’ que acontecia de ser também uma
elite econômica e de status também; (5) o perfil de uma associação ‘não política” desproporcionalmente
conservadora; (6) a ênfase nas decisões por consenso ao invés de voto, o que na prática aumenta o poder
do líder; e (7) o cioso controle independente sobre os projetos combinado com o patrocínio de chefes de
estado.

Comprometido com o espírito internacionalista de sua organização, Coubertin demonstra grande


preocupação com a construção de uma instituição que fosse independente. Neste sentido, ele empresta
grande ênfase a organização dos comitês olímpicos nacionais mas, principalmente, na cooptação,
organização e atuação dos membros do Comitê.

Tal qual nas organizações que adotara como modelo, é basicamente sobre a idéia de representatividade
reversa dos membros do COI que Coubertin ambiciona construir a independência de sua organização.
Não é surpreendente então que esta concepção esteja presente desde a fundação do Comitê[5]. Desta feita,
em oposição à democracia política, que ele vê como defeituosa ou limitada, o caráter fechado e elitista do
COI garantiria, pela independência de seus membros, uma alternativa de estabilidade. Porém, tão cedo
quanto surge o COI aparecem as críticas a seu modelo de organização, o que leva Coubertin a ter que
explicitar e defender o caráter não-democrático da organização que liderava, aliás de maneira nada
hesitante.

“Nós não somos eleitos. Nós somos auto-recrutados, e nossos mandatos são ilimitados. Existe qualquer
outra coisa que pudesse irritar mais a opinião pública? O público tem visto de maneira crescente o
princípio da eleição se expandir, gradualmente colocando todas as instituições sob seu domínio. Em nosso
caso, estamos infringindo esta regra geral, uma coisa difícil de tolerar, não é mesmo? Bem, nós temos
muito prazer em tomar a responsabilidade por esta irregularidade, e não estamos nem ao menos
preocupados com ela” (2000 [1908], p. 587).

Na verdade, Coubertin tem bastante claro seus objetivos centrais para a política do COI. Ele persegue
dotar as organizações esportivas com os elementos que ele suspeita a democracia política real não possa
dar. Em contraste com o “princípio da delegação que é tão caro para nossas democracias parlamentares e
que, depois de grandes serviços prestados, parece se tornar menos efetivo dia a dia” (ibid. [1929], p.
574), para ele, “Independência e estabilidade [...] são as coisas que tem tornado possível para nós realizar
grandes coisas” (ibid. [1908], p. 588).

Em síntese, coerente à suas proposições, a idéia de independência do Movimento Olímpico se torna


recorrente na obra de Coubertin, ao mesmo tempo que se observa que ‘democracia’ não pode ser
considerado como um valor central para o Movimento. Embora diversas vezes Pierre de Coubertin tenha
se referido aos Jogos como “uma verdadeira democracia da capacidade” (in Donnelly, 1993, p. 415) ou
uma “democracia da juventude” (in Segrave, 1988, p. 154), tais menções, no entanto, devem ser
entendidas em uma perspectiva dualista que combina meritocracia e massificação, uma vez que Coubertin
parecia compreender com bastante propriedade o efeito multiplicador do herói esportivo. O próprio
Coubertin em uma passagem rica de significado afirma:

“Por que eu restabeleci os Jogos Olímpicos? Para enobrecer e reforçar os esportes, para garantir sua
independência e duração, e para permitir-lhes melhor desempenhar o papel educacional que lhes cabe no
mundo moderno. Para a exaltação do atleta individual cuja existência é necessária para a atividade
muscular da coletividade, e as façanhas, para a manutenção da emulação geral” (In IPCC, s.d., p. 15).

Assim, o sentido de democratização no campo do esporte em Coubertin está claramente identificado às


idéias de difusão e massificação da prática esportiva, tendo pouco ou nada a ver com as noções de
disputa, tomada e exercício do poder.

O COI COMO UMA OLIGARQUIA


Fruto de seu ceticismo para com a democracia, medo do conflito e mesmo por intuição, Coubertin
estruturou o COI como uma organização ‘unipartidária’, uma vez que ele parecia entender que ‘seu’
Comitê não possuía as bases para sustentar um conflito interno. É neste contexto e por seu
desenvolvimento histórico que o COI acaba por se aproximar uma organização de tipo oligárquica tal
como estabelecido por Robert Michels (1876-1936).

Michels foi um sociólogo alemão que estudou a estrutura organizacional de partidos políticos, sindicatos
e outras organizações sociais situando-se na linha dos formuladores das teorias das elites políticas. A
partir de seus estudos, Michels afirma que democracia e grandes organizações sociais são incompatíveis
uma vez que a despeito de seus ideais e objetivos elas desenvolvem rígidas e permanentes oligarquias
internas. Segundo este autor, a oligarquia surge como uma forma de organização na qual o poder é
dominado por uma elite mesmo na mais idealística de todas as organizações. Ele acreditava que os ideais
e as ideologias servem apenas como uma racionalização para preservar posições de poder dentro de uma
organização social. Michels estudou a interação entre a natureza da organização social e os indivíduos
envolvidos, as tendências psicossociais dos líderes das organizações e de seus filiados, o tamanho, a
complexidade da organização.

Apesar de ser criticado pelo caráter determinístico de suas teorizações, a obra de Michels ainda representa
importante contribuição para o estudo das organizações, sintetizada no que ficou conhecida como ‘Lei de
Ferro da Oligarquia’: “É a organização que dá nascimento a dominação dos eleitos sobre os eleitores, dos
mandatários sobre os mandantes, dos delegados sobre os delegantes. Quem fala em organização fala em
oligarquia” (1968, p. 365).

Não parece ser difícil caracterizar o COI como uma organização burocrática racionalmente organizada.
Isto significa, como a Carta Olímpica[6] e a história comprovam, que o Comitê possui objetivos, interesses
e propósitos bem definidos, padrões claros de atividade e modelos de regulação e controle
funcionalmente relacionados à seus propósitos (Krotee, 1988). Como uma organização deste tipo,
gradativamente o Comitê foi se estruturando e se desenvolvendo em termos muito próximos da teoria
proposta por Michels. Segundo este autor, uma estrutura oligárquica se desenvolve a partir do
entrelaçamento de três causas.

A primeira causa reside na especialização técnica da burocracia e dos corpos dirigentes, cada vez maior à
medida que a organização cresce, o que resulta na impossibilidade técnica e também operacional do
governo direto das organizações e no gradativo afastamento dos interesses entre as bases e os líderes.
Segundo Michels,

“quanto maior e mais ramificado o aparato administrativo da organização, quanto maior o número de seus
membros, quanto mais cheio seus cofres, e quanto mais presença na mídia ela tem, menos eficiente se
torna o controle direto exercido pelas bases e mais seu controle é substituído pelo crescente poder dos
comitês” (op. cit., p. 71).

Da mesma forma que os Jogos Olímpicos passaram de uma curiosidade de fin-de-siècle de alguns
entusiastas liderados por seus 14 membros iniciais a um espetáculo cultural de proporção e atenção
globais, o Comitê Olímpico foi se desenvolvendo como uma organização transnacional[7] obrigada a lidar
com uma miríade de questões e interesses. Pierre de Coubertin era pragmático o suficiente para perceber
que a concentração de atividades nas mãos de uns poucos membros mais ativos é certamente uma
característica comum a muitas organizações, especialmente as de tipo voluntário. Assim, o COI seria um
corpo composto de “três círculos concêntricos: um pequeno núcleo de membros trabalhadores e
dedicados, um berçário de membros de boa vontade suscetíveis de serem educados; e, finalmente, uma
fachada de gente mais ou menos utilizável, cuja presença satisfaria pretensões nacionais, dando prestígio
ao conjunto”. (1997 [1931], p. 28).

Para dar conta disto, o “pequeno núcleo de membros trabalhadores e dedicados” vislumbrado por
Coubertin foi obrigado a evoluir para uma estrutura composta de assembléia geral, diretoria executiva,
presidência e comissões[8], destinados a lidar com as questões financeiras, técnicas, organizacionais e
políticas (internas e externas) cada vez mais complexas, assim como um número cada vez maior de
interlocutores em diversos níveis[9]. Estes fatos negam a possibilidade de igual envolvimento de todos os
membros da organização. Assim, a possibilidade de um governo direto – no caso das organizações
esportivas – pelos atletas, torna-se impraticável.

Embora as relações desenvolvidas nos últimos anos entre o COI e os diversos atores do Movimento
Olímpico[10] deixem em aberto uma definição exata do que seriam ‘as bases’ do Comitê Olímpico
Internacional, os atletas nunca foram considerados como tal uma vez que o objetivo do Comitê sempre
foi servi-los e nunca agregá-los. Assim, o mínimo que pode ser dito é que durante praticamente toda a
história do COI, eles não foram interlocutores importantes.

A segunda causa reside no que Michels chama de “dependência psicossocial das massas”. A incapacidade
de dominar os assuntos relativos a administração, sua anomia e, também, seu desinteresse geral em
participar da administração. Tal como Tocqueville, Michels observa que “embora cresça ocasionalmente,
a maioria realmente tem prazer em encontrar pessoas que se disponham a trabalhar por seus interesses”
(op. cit., p. 88).

Esta parece ser uma características especialmente marcante no que se refere aos atletas. Enquanto que
federações internacionais e comitês olímpicos nacionais conseguiram se organizar em associações e
confederações de maneira a participar mais intensamente da direção do COI, aqueles que são “a razão de
todo o sistema” tiveram sua participação ampliada por uma indução de caráter externo, fruto da intenção
de se ‘democratizar’ o Comitê e não como produto de sua própria organização e demandas. Como
comprovei em outro estudo (Tavares, op. cit.), embora a idéia de maior poder para os atletas seja aceita
em tese por quase todos eles, há um caráter delegativo nesta demanda, um número bastante elevado de
dúvidas sobre suas possibilidades de realização, a percepção do esporte competitivo como uma atividade
absorvente o suficiente impedi-los de se envolverem em questões político-administrativas e, por fim, um
certo ceticismo em relação a democracia como a forma mais eficiente de administração de uma
organização esportiva.

A terceira causa reside nas próprias qualidades das lideranças. Para Michels as lideranças oligárquicas
bem sucedidas estariam baseadas em líderes com convicção firme, força de idéias, capacidade de oratória,
orgulho, força moral e extrema dedicação. Certamente estes atributos tem caracterizado a liderança
olímpica, especialmente em seus três presidentes de mandato mais longevos (Pierre de Coubertin, 1896-
1925; Avery Brundage, 1952-1972; Juan A. Samaranch, 1980-2001) e parecem se tornar maiores, como
prediz Michels, à medida que a adulação e a noção de indispensabilidade aumentam após anos de
mandatos acumulados e se espalham também entre os membros do COI[11].

Por fim, segundo a teoria de Michels, mesmo as ações recentes para incorporar membros mais jovens,
menos socialmente conspícuos e que possuam ligações mais evidentes e diretas com o esporte não
alteram fundamentalmente nem a estrutura nem a característica destas elites. Para ele, ao contrário de
haver uma ‘circulação das elites’ como proposto por Pareto, “na maioria dos casos não há simplesmente a
substituição de um grupo de elite por outro mas um contínuo processo de mistura/combinação, os velhos
elementos incessantemente atraindo, absorvendo e assimilando os novos” (Michels, ibid., p. 343).

Como conclusão
A teoria de Michels parece bastante adequada para o estudo de uma organização ‘unipartidária’ como o
COI. Contudo, é preciso se realçar que se estruturalmente o Comitê pode ser adequadamente
compreendido como uma oligarquia, três observações devem ser feitas. Em primeiro lugar é importante
reconhecer que nunca esteve entre os objetivos do COI possibilitar o auto-governo aos atletas de alto
nível. Em segundo lugar, e uma das conseqüências centrais da teoria de Michels, a eventual configuração
de um divórcio estrutural de interesses entre as elites dirigentes e as bases, não é auto-evidente para o
caso do COI, uma vez que nem são bastante conhecidos quem são exatamente as bases do COI nem sua
opinião a respeito dos rumos que a instituição deveria tomar. E em terceiro lugar, deve ser admitido que,
como outras organizações ‘oligárquicas’, o COI desempenhou um papel fundamental para o
desenvolvimento, internacionalização e da massificação do esporte moderno.

Na verdade, apenas um exercício de futurologia pode dizer se as reformas do COI vão modificar
verdadeiramente a estrutura de poder oligárquico que caracteriza o Comitê e quanto. Todavia, se alguma
conclusão pode ser tirada deste estudo, ou seja, se há algo de paradigmático nas reformas do COI que
possam apontar para um futuro desenvolvimento da gestão das organizações esportivas no Brasil, ela
encaminha-se para a evidência que as demandas por um clima mais democrático na direção das
organizações esportivas deve necessariamente equilibrar-se entre os vetores da continuidade e da
mudança.

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WEFFORT, F. Qual Democracia? São Paulo: Cia. das Letras, 1992.

Endereço do autor:
otavares@uol.com.br

tecnologia de apresentação: data-show


[1]
Este trabalho é uma adaptação de parte dos tópicos, conceitos, teorias e argumentos desenvolvidos em
minha tese de doutorado defendida em fevereiro de 2003 junto ao PPGEF/UGF (Rio de Janeiro) com o
título, “Esporte, Movimento Olímpico e Democracia: O atleta como mediador”.
[2]
Expressão em Português que tenta traduzir o conceito de ‘accountability’, isto é, a idéia que os
membros de qualquer órgão executivo são responsáveis pelos fatos ocorridos em sua gestão. Me parece
sintomático que durante muito tempo não tivéssemos termo correspondente para esta expressão na língua
portuguêsa.
[3]
FI’s (Federações Internacionais); ANOC (Associação dos Comitês Olímpicos Nacionais); ASOIF
(Associação das Federações Internacionais de Esportes Olímpicos de Verão); AIOWF (Associação das
Federações Internacionais de Esportes Olímpicos de Inverno); GAISF (Associação Geral das Federações
Esportivas Internacionais).
[4]
Segundo este conceito, os membros do COI são representantes do Movimento Olímpico em seus países
e não representantes dos países junto ao Comitê Olímpico Internacional.
[5]
Em texto do segundo Boletim do COI, de outubro de 1894, intitulado “Le caractère de notre
enterprise” [O caráter de nosso empreendimento] (MÜLLER, op. cit., p. 661-663), onde já apresenta as
principais características da organização do Movimento Olímpico, Coubertin se refere aos membros do
COI como “nossos representantes, nossos correspondentes estrangeiros”.
[6]
A Carta Olímpica é a codificação dos “Princípios Fundamentais” e regulamentos adotados pelo Comitê
Olímpico Internacional (COI). Ela é o estatuto que governa o COI e a organização e operação do
Movimento Olímpico além de estipular as condições para a celebração dos Jogos Olímpicos. A este
respito confira-se: <http://www.olympic.org/uk/organization/missions/charter_uk.asp>.
[7]
Para uma definição do COI como uma organização transnacional veja: MACINTOSH, Donald &
HAWES, Michael. The IOC and the World of Interdependence. in: Olympika: The International Journal
of Olympic Studies. Vol. I, 1992, p. 29 – 45.
[8]
Pelas regras atuais o COI possui 115 membros, a partir da seguinte estratificação: 70 membros
individuais, 15 atletas ativos; 15 presidentes de Federações Internacionais; 15 presidentes de Comitês
Olímpicos Nacionais ou organizações continentais (Carta Olímpica, Regra 20). O COI conta com 25
comissões, sendo 21 permanentes e 4 temporárias. Fonte:
<http://www.olympic.org/uk/organization/commissions>, acessado em 03 set. 2001.
[9]
É importante destacar que o desenvolvimento desta estrutura burocrática torna-se mais forte a partir do
anos Samaranch na presidência, quando os contratos de patrocínio e seção de direitos de marca e imagem,
tornam o COI financeiramente apto para um crescimento burocrático vertiginoso.
[10]
Entre novos e velhos atores do Movimento Olímpico podem ser listados, as Federações Internacionais,
os Comitês Olímpicos Nacionais, as Federações e órgãos esportivos regionais, os patrocinadores, as
mídias, e mesmo os atletas.
[11]
Não parece ser coincidência que Coubertin tenha adotado uma divisa que Norbert Müller acredita “dá
sua completa característica” (2000, p. 249), “enxergar longe, falar francamente, agir firmemente [Voir
loin, Parler franc, Agir ferme]. Avery Brundage, por seu turno, ficou conhecido por seu estilo personalista,
autoritário e idiossincrático de gestão do COI. Já Samaranch, embora tenha conduzido o COI com
elevado senso político e diplomático, foi por outro lado, o primeiro presidente do COI em tempo integral,
sendo o primeiro que se mudou para viver em Lausanne de modo a dirigir o COI pessoal e integralmente.

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