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O tipo está contido no art. 149 do Código Penal, com a redação dada pela Lei nº
10.803, de 11 de dezembro de 2003: reduzir alguém à condição análoga à de escravo,
quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a
condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção
em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto.
A norma protege o status libertatis da pessoa, ou seja, seu estado de ser humano livre,
em toda a sua plenitude. Não exclusivamente a liberdade de ir e vir, mas a condição e a
qualidade do humano ser, ele mesmo, o único senhor de si mesmo. O escravo, sabe-se, era
absolutamente dominado por seu senhor, destituído da liberdade de dirigir a própria vida.
O ser humano é livre, por sua própria natureza, e o Direito protege-o contra as ações
que se voltam contra esse estado de liberdade.
Sujeitos desse crime podem ser quaisquer pessoas, sem distinção de qualquer natureza.
Ainda quando o ser humano seja incapaz de entender ou de se determinar, será ele sujeito passivo
desse crime, porque ainda nesse estado pode ser tratado como coisa.
22.2 TIPICIDADE
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Manual de direito penal: parte especial. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2003. v.2, p. 192.
2 – Direito Penal II – Ney Moura Teles
22.2.1.1 Conduta
Com a nova redação do art. 149, dada pela Lei nº 10.803, de 11 de dezembro de 2003,
as dificuldades ficam minimizadas, senão que desaparecem.
razão de dívida contraída pela vítima com o seu empregador ou preposto. Realiza-se por
meio de violência, grave ameaça, outro meio que atinge a capacidade de resistência da
vítima, e também através de fraude. Cuida aqui a norma das práticas impostas por
fazendeiros da Amazônia que, após compelirem seus empregados a adquirirem gêneros de
primeira necessidade em armazéns do próprio estabelecimento agropecuário ou de
prepostos seus, coloca-os em situação de devedores para, ao depois, exigirem sua
permanência até liquidação da dívida.
Não basta, porém, para se reconhecer a tipicidade do fato que o agente empregue um
dos meios executórios referidos. É indispensável que, através de um deles, a vítima seja
colocada numa situação de absoluta submissão aos desejos do agente. Aí passa a
experimentar uma condição semelhante à do escravo histórico, que não tinha
personalidade, que era uma coisa e como tal tratado, objeto de contrato de alienação ou de
empréstimo, desrespeitado no seu direito de ir e de vir, no direito de ter sua integridade
física e moral intocados, enfim, sem qualquer possibilidade de se autodeterminar.
Não há supressão da liberdade jurídica da vítima, que a conserva, mas sem qualquer
eficácia, em face da realidade fática que prevalece.
Não será plágio, por isso, a simples conduta do agente que submete a vítima a
trabalho forçado, jornada exaustiva ou condições de trabalho degradantes, ou a que
restringe sua liberdade locomotora, sem que, com qualquer dessas condutas resulte a
redução do status libertatis da vítima, com sua conversão ao estado análogo ao de escravo.
Poderá haver outro delito, como adiante comentado.
É crime doloso. O agente atua com consciência de que está submetendo a vítima, e com
vontade de violentar o seu estado de liberdade pessoal, convertendo-o em estado análogo ao do
escravo. Não prevê o tipo qualquer outro elemento subjetivo, exceto quando o agente restringe a
liberdade de locomoção da vítima, caso em que tal deve se dar por motivo da dívida por ela
contraída com o empregador ou preposto.
4 – Direito Penal II – Ney Moura Teles
É um crime permanente. Consuma-se depois de um certo tempo após a vítima ter sido
colocada sob o poder do agente, na condição análoga à do escravo, protraindo-se, todavia, no
tempo.
Essas duas formas típicas elevam, à categoria de delito autônomo, condutas que, na
verdade, seriam formas de participação no delito principal, incidindo, assim, sobre os
comportamentos de pessoas a serviço do agente do crime de plágio, geralmente
empregados, pistoleiros, guardas, que contribuem para a manutenção da vítima na
condição análoga à de escravo. Penso que é indispensável que a vítima esteja sendo vítima
do crime de plágio praticado por outra pessoa, para que se reconheça a tipicidade da
conduta do que para ele contribui.
Assim, se o trabalhador não está sendo vítima do crime do art. 149, caput, e alguém
cerceia o uso de meio de transporte para retê-lo no local de trabalho, ou mantém vigilância
ostensiva, ou apodera-se de seus documentos, com o fim de impedir sua saída, o delito será
outro: constrangimento ilegal, ameaça, seqüestro ou cárcere privado.
Redução à Condição Análoga à de Escravo - 5
do processo penal.