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Na ilustração de Sir John Tenniel, Alice conversa com o Gato de Cheshire. (Alice in Wonderland,
Lewis Carroll, 1865.)
Note-se que, em sua primeira fase, Wittgenstein acreditava que fosse possível resolver os
problemas filosóficos. No entanto, na segunda fase, a das Investigações, ele reconheceu
que o objetivo da filosofia não é resolver os problemas, mas descrevê-los para então
dissolvê-los. Descrever já é começar a entender a linguagem. Passamos, desta maneira,
da ordem da explicação para a da descrição dos problemas. O que na sua última filosofia
se constituirá na descrição das práticas linguísticas. O significado é dado, portanto, pelas
circunstâncias. Em suma, a linguagem não tem uma norma como se pensou no Tractatus,
mas um conjunto de normas ou regras. Estas regras flexíveis organizam os jogos que se
instauram à medida que vamos emitindo proposições sobre o mundo na forma de
sentenças. Jogos da linguagem são, portanto, a prática do uso da língua. Wittgenstein
reconheceu, por fim, que uma língua primitiva é um jogo de linguagem.
É importante observar agora que a diferença entre as duas filosofias de Wittgenstein não
assume na realidade esta separação tão clara. Já na introdução do Tractatus B. Russell
observou que Wittgenstein havia encontrado um modo de dizer muitas coisas sobre aquilo
que, segundo Wittgenstein, nada se poderia dizer! O chamado "inexprimível" ou o mistério
acaba por se exprimir no Tractatus. Muito significativamente percebe-se que o conflito
entre o mundo interior e o mundo exterior está presente na sua primeira obra. Na
verdade, a ideia que aquilo que pode ser dito pela linguagem faz parte do discurso
científico, restando para a ética ou a crença religiosa a categoria de nonsense, não se
manteve em pé nem mesmo dentro da argumentação do Tractatus. Mais adiante,
Wittgenstein assumiu que existe um sujeito empírico que pode ser alcançado pela
linguagem e um sujeito metafísico que só pode ser alcançado pela mística. Aprendemos
com Wittgenstein que a linguagem não pode ser tratada como um fóssil, de forma
normativa, mas deve ser vista como uma forma de vida. Afinal, não se procura mais
entender a linguagem para desvendar seu significado, mas, ao contrário, procura-se
investigar o seu uso. E isto se dá através das formas pelas quais afirmamos, declaramos,
pedimos, oramos, agradecemos, imprecamos, saudamos, interrogamos, negamos, etc.