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Wittgenstein e a natureza da linguagem: tentativa de síntese – por

Marco Antônio Bomfoco

Na ilustração de Sir John Tenniel, Alice conversa com o Gato de Cheshire. (Alice in Wonderland,
Lewis Carroll, 1865.)

Tradicionalmente se divide a evolução do pensamento filosófico de Ludwig Wittgenstein


(Viena, 1889 - Cambridge, 1951) em duas fases. A primeira fase é a da publicação do
Tractatus Logico-Philosophicus, em 1921, e a segunda é a representada pelas
Investigações Filosóficas, obra publicada postumamente em 1953. Pode-se dizer que
estas obras representam duas filosofias diferentes. De qualquer maneira, a preocupação
dominante ou ideia central nas duas épocas é a compreensão dos problemas tradicionais
da filosofia através da linguagem. Wittgenstein valeu-se de duas imagens ou metáforas
que, como veremos a seguir, podem resumir as duas fases do seu pensamento: no
Tractatus predomina a idéia da linguagem como "espelho" do mundo; já nas
Investigações a noção de "jogo" é introduzida para explicar a linguagem como um
conjunto de jogos de linguagem. Portanto, na primeira fase Wittgenstein desenvolveu a
teoria figurativa ou pictórica do significado, enquanto na segunda tratou o significado
como uma função do uso. Ou seja, o significado resulta da prática, do costume ou hábito.
Desse modo, o último pensamento de Wittgenstein deve ser compreendido por contraste
ao pensamento da primeira fase. As concepções de linguagem e lógica desenvolvidas por
G. Frege, B. Russell e mais tarde por G. E. Moore foram as principais influências no
pensamento de Wittgenstein. Apresentamos a seguir algumas observações iniciais sobre
as duas obras mais importantes de Wittgenstein com o objetivo de elaborar um resumo
para uso pessoal que esperamos possa servir aos iniciantes no estudo da filosofia da
linguagem.
A obra de Wittgenstein situa-se dentro do grande movimento filosófico conhecido como
filosofia analítica. A filosofia analítica começou a se configurar entre o final do século XIX
e o início do século XX a partir do estudo do significado desenvolvido por Frege. Nesta
época, deu-se a "virada linguística", ou seja, a revolução filosófica que trouxe a linguagem
para o centro da discussão da filosofia ocidental. Na verdade, a filosofia analítica
preocupa-se principalmente com a análise do significado. Autores como B. Russell e G.
Frege consideravam a linguagem lógica mais adequada do que a linguagem comum para
representar o pensamento. Esses autores desenvolveram estudos fundamentais sobre o
significado. Nesta tradição, pode-se inserir a primeira fase do pensamento de
Wittgenstein. Dentro do movimento analítico, destacou-se até meados dos anos 1950 a
escola do positivismo lógico, que se inspirou no Tractatus de Wittgenstein. Em síntese, no
séc. XX a filosofia ocidental vai dividir-se em duas grandes linhas de investigação que
ainda dominam a filosofia contemporânea, a saber: a filosofia analítica e as várias linhas
abrangidas pela filosofia continental.

Para Wittgenstein, os problemas filosóficos são, na verdade, problemas de linguagem.


Consequentemente, toda filosofia seria uma crítica da linguagem. Desse modo, ele parte
do pressuposto que os problemas da filosofia podem ser solucionados através da
observação de como a linguagem funciona. Numa palavra, os problemas filosóficos
seriam problemas de linguagem. Restava encontrar a linguagem ideal para servir de
modelo de análise. No positivismo dominante da época, supõe-se que as linguagens
científicas, mais precisamente a lógico-matemática ou a científico-natural, constituam-se
na língua perfeita. A linguagem lógico-matemática configura-se, então, no centro da
reflexão filosófica de Wittgenstein. A linguagem comum ou ordinária deveria ficar de fora.
Esta postura antimetafísica está condensada no aforismo que encerra o Tractatus: "sobre
aquilo que não se pode falar, deve-se calar" (n. 7). Nega-se, portanto, a possibilidade de a
linguagem alcançar a metafísica, estabelecendo-se, assim, um claro limite para a
linguagem humana. Nesta perspectiva, os limites do pensamento seriam delineados pelos
limites da linguagem em que era conduzido. Wittgenstein expressa-se assim: "os limites
da minha linguagem significam os limites do meu mundo" (n. 5.6)

Note-se que, em sua primeira fase, Wittgenstein acreditava que fosse possível resolver os
problemas filosóficos. No entanto, na segunda fase, a das Investigações, ele reconheceu
que o objetivo da filosofia não é resolver os problemas, mas descrevê-los para então
dissolvê-los. Descrever já é começar a entender a linguagem. Passamos, desta maneira,
da ordem da explicação para a da descrição dos problemas. O que na sua última filosofia
se constituirá na descrição das práticas linguísticas. O significado é dado, portanto, pelas
circunstâncias. Em suma, a linguagem não tem uma norma como se pensou no Tractatus,
mas um conjunto de normas ou regras. Estas regras flexíveis organizam os jogos que se
instauram à medida que vamos emitindo proposições sobre o mundo na forma de
sentenças. Jogos da linguagem são, portanto, a prática do uso da língua. Wittgenstein
reconheceu, por fim, que uma língua primitiva é um jogo de linguagem.

O objetivo do Tractatus é provar que existe um isomorfismo entre mundo e linguagem.


Esta obra foi considerada por B. Russell como um acontecimento de suma importância no
mundo filosófico. Em sua argumentação, Wittgenstein tentou provar que o mundo dos

fatos é a própria linguagem. Nos termos de Wittgenstein, "o


mundo é a totalidade dos fatos" (Tractatus, n. 1.1). Assim sendo, a estrutura do mundo é
a estrutura da linguagem. Daí vem a metáfora do espelho. A linguagem espelha o mundo,
e o mundo espelha a linguagem. No Tractatus, a essência da linguagem é a sua estrutura
lógica ou "forma lógica", na tradição de Frege e Russell. Busca-se, assim, o que está por
detrás da linguagem. É o que Wittgenstein quer dizer quando afirma que o sentido do
mundo tem de residir fora dele (Tractatus, n. 6.41). Por outro lado, nas Investigações
Wittgenstein compreende que não existe uma linguagem ideal, ou única, que seria a
imagem da realidade, mas "linguagens", isto é, conjuntos de práticas linguísticas que ele
passa a chamar de jogos de linguagem. Ao mesmo tempo Wittgenstein reconhece que a
estrutura lógica da linguagem pode ser visível na sua superfície. É claro que agora não se
trata mais de procurar o que está por detrás da linguagem, já que o que há está à nossa
vista, revelando-se, enfim, no uso da linguagem, nos hábitos das comunidades
linguísticas. O trabalho de Wittgenstein ultrapassa a filosofia e a lógica e adentra a
psicologia. Na realidade, a argumentação de Wittgenstein torna-se antifundacionista. Ou
seja, opõe-se às posições essencialistas que predominavam na filosofia. Isto significa que
o sábio austríaco passou a atacar a chamada "linguagem privada", ou "mentalês" como
esta passou a ser denominada no final do século XX. Não haveria, portanto, uma
natureza humana comum. De certa forma, sua versão superou autores como Descartes,
Rousseau e a tradição empirista. No entanto, Witgenstein não se posiciona explicitamente
em relação ao problema tradicional mente-corpo. Parece que para ele a questão estaria
mal colocada, além de ser talvez irrespondível. É certo que não se interessava pelo modo
tradicional de discutir o problema, como observou Joachim Schulte. De qualquer forma,
Wittgenstein nunca foi um behaviorista, e isso ele disse explicitamente, nem mesmo um
behaviorista lógico.

É importante observar agora que a diferença entre as duas filosofias de Wittgenstein não
assume na realidade esta separação tão clara. Já na introdução do Tractatus B. Russell
observou que Wittgenstein havia encontrado um modo de dizer muitas coisas sobre aquilo
que, segundo Wittgenstein, nada se poderia dizer! O chamado "inexprimível" ou o mistério
acaba por se exprimir no Tractatus. Muito significativamente percebe-se que o conflito
entre o mundo interior e o mundo exterior está presente na sua primeira obra. Na
verdade, a ideia que aquilo que pode ser dito pela linguagem faz parte do discurso
científico, restando para a ética ou a crença religiosa a categoria de nonsense, não se
manteve em pé nem mesmo dentro da argumentação do Tractatus. Mais adiante,
Wittgenstein assumiu que existe um sujeito empírico que pode ser alcançado pela
linguagem e um sujeito metafísico que só pode ser alcançado pela mística. Aprendemos
com Wittgenstein que a linguagem não pode ser tratada como um fóssil, de forma
normativa, mas deve ser vista como uma forma de vida. Afinal, não se procura mais
entender a linguagem para desvendar seu significado, mas, ao contrário, procura-se
investigar o seu uso. E isto se dá através das formas pelas quais afirmamos, declaramos,
pedimos, oramos, agradecemos, imprecamos, saudamos, interrogamos, negamos, etc.

Após as Investigações, o empirismo radical que considerava os problemas clássicos da


moral e da filosofia como sem sentido porque inexprimíveis pela única linguagem dita
autêntica, como dissemos, a da ciência, perde sua razão de ser. Deve-se, por
conseguinte, separar-se a esfera do pensamento e a esfera da vida imediata. Wittgenstein
reconheceu o que chamou de "graves erros" do Tractatus. A sua primeira posição era
errônea. Seja como for, ao aproximar-se cada vez mais da mística acabou por
surpreender seu protetor B. Russell, um agnóstico. Não há dúvida que a honestidade
intelectual de Wittgenstein é uma das fontes do encanto da sua personalidade e do seu
estilo filosófico.
Marco Antônio Bomfoco
Bibliografia básica

KENNY, Anthony. An Illustrated Brief History of Western Philosophy. Oxford: Blackwell,


2007.

RUSSELL, Bertrand. Introducción al Tractatus. In: WITTGENSTEIN, L. Tractatus Logico-


Philosophicus. Madrid: Alianza Editorial, 2007.

SPIERLING, Volker. Kleine Geschichte der Philosophie. München: Piper, 2006.

SCHULTE, Joachim. Experience & Expression. Wittgenstein's Philosophy of Psychology.


Oxford: Clarendon, 1995.

WITTGENSTEIN, Ludwig. Philosophical Investigations. Disponível em:


http://www.scribd.com/doc/2916793/Ludwig-Wittgenstein-Philosophical-Investigations

Marcadores: A. Kenny, B. Russell, empirismo lógico, filosofia da linguagem, G. E. Moore,


G. Frege, J. Schulte, jogos de linguagem, L. Wittgenstein, metafísica, mística, teoria do
conhecimento, V. Spierling

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