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Departamento de Direito
4
AGRADECIMENTOS
Ao Professor António Carlos dos Santos, pela sua disponibilidade, pela partilha de
conhecimentos, e pelo seu interesse.
5
A liberdade de informação não vai ao ponto de autorizar os
atentados à verdade. Uma falsa informação pode colidir com outras
liberdades, com a liberdade da pessoa na sua vida privada ou o interesse
público objectivamente entendido.
(Georges Burdeau)
6
ÍNDICE GERAL
CONCLUSÃO …………..……………………………………………………………...……………..... 25
BIBLIOGRAFIA .……………………………………………………………………...……………….. 26
ANEXOS ………………………………………………………………………………………………... 29
7
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AC Assembleia Constituinte
ASDI Acção Social Democrata Independente
BMJ Boletim do Ministério da Justiça
CC Comissão Constitucional
CDS Centro Democrático Social
CRP Constituição da República Portuguesa
DAC Diário da Assembleia Constituinte
DAR Diário da Assembleia da República
DUDH Declaração Universal dos Direitos do Homem
MDP/CDE Movimento Democrático Português/Comissão Democrática Eleitoral
PCP Partido Comunista Português
PPD Partido Popular Democrático
PS Partido Socialista
TC Tribunal Constitucional
UDP União Democrática Popular
8
INTRODUÇÃO
1
CANOTILHO, José Joaquim Gomes – Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Coimbra:
Almedina, 2003. p. 377.
2
MIRANDA, Jorge – Manual de Direito Constitucional: Direitos Fundamentais. Coimbra: Coimbra Editora,
2000. Vol. 4. p. 7.
3
Ibidem, p. 8.
4
Cf. CANOTILHO, J. J. Gomes; MOREIRA, Vital, anot. – Constituição da República Portuguesa Anotada.
Coimbra: Coimbra Editora, 2007. Vol. 1. p. 572.
10
expressão de opiniões ou ideias, no primeiro caso, e a recolha e transmissão de
informações, no último caso. Estes autores consideram que o regime destes direitos é,
do ponto de vista jurídico-constitucional, principalmente idêntico: ideias, pensamentos e
opiniões são simplesmente expressões semânticas que advêm do significado da
liberdade de expressão. Liberdade cujo âmbito normativo deverá ser o mais vasto
possível, para que englobe ideias, convicções, opiniões, pontos de vista, críticas,
tomadas de posição, juízos de valor sobre qualquer assunto, com qualquer finalidade e
critérios de valoração.
5
Ibidem, p. 572.
6
Cf. MIRANDA, op. cit., p.453.
11
A liberdade de expressão em sentido restrito define-se por exclusão de partes: é
essencialmente liberdade de expressão do pensamento, que se relaciona com a
liberdade de informação e a de comunicação social. Para Morais, a liberdade de
expressão deriva da liberdade de pensamento, “sendo um direito da pessoa, para a
pessoa e dirigido à forma como ela entende a sua realização pessoal e a sua pertença à
sociedade.”7 Também abrange a liberdade negativa de pensamento como um direito ao
silêncio e um direito a não manifestar opiniões, pensamentos ou ideias, exteriormente.
Canotilho e Moreira referem ainda a liberdade de expressão negativa como uma forma
não só de silêncio mas também de não coacção à partilha ou defesa de opiniões
alheias.
Para Morais,8 a liberdade de expressão não implica inteligibilidade9 nem
veracidade10, embora a verdade perante os factos seja relevante nos juízos de
valoração caso haja algum conflito com outros direitos constitucionalmente protegidos.
O âmbito normativo desta norma incide sobre a protecção dos meios de expressão,
havendo uma abertura constitucional (“qualquer outro meio”, conforme o art. 37.º, n.º 1
CRP) no sentido de incluir vários estilos e as novas formas de expressão (blogues, salas
de conversação instantânea, petições electrónicas, etc.).11
7
MORAIS, op. cit., p. 129.
8
Cf. MORAIS, I.; ALMEIDA, José Mário F. de; PINTO, Ricardo L. Leite – Constituição da República
Portuguesa Anotada e comentada. Lisboa: Rei dos Livros, 1983.
9
Estado ou qualidade do que é inteligível/perceptível.
10
Qualidade do que é verdadeiro; fidelidade; exactidão. Depende do que estiver em causa (publicidade
enganosa, por exemplo).
11
Cf. CANOTILHO; MOREIRA, op. cit., p. 572.
12
Cf. MIRANDA, op .cit., p. 454.
12
direito e aos tribunais” e “todos têm direito (…) à informação e consulta jurídicas”,
respectivamente. Outras referem-se ao direito de acesso dos cidadãos aos dados
informatizados que lhes digam respeito (art. 35º, n.º 1 CRP) e direitos dos peticionários
serem informados em prazo razoável sobre o resultado das suas petições (art. 52.º, n.º
1, 2.ª parte CRP), entre outros. 13
13
Ibidem, p. 455.
14
Cf. MORAIS, op. cit.
15
Cf. PEREIRA, Heloisa Prado; NETO, Renato Avelino de Oliveira – Liberdade de Expressão e de
Informação como direitos fundamentais: uma visão luso-brasileira. Derecho y cambio social. [Em linha]. La
Molina. (2005).
13
liberdade de expressão tem por objecto a expressão, a exteriorização de pensamentos
ou ideias.16
Para autores como Ravaz,17 a liberdade de expressão constitui um direito natural
porque decorre da fala, uma função natural, que propicia ao indivíduo o
desenvolvimento da personalidade e, assim, a sua participação em diversas actividades
sociais. Sem liberdade de expressão, nas suas mais diversas formas, não há
pluralidade, atinge-se a liberdade de pensamento. Alguns autores poderiam argumentar
que nos poderiam retirar a liberdade de falar ou de escrever, mas nunca a liberdade de
pensar. O homem vive em sociedade, e segundo Kant, pensa em comunhão com os
outros. Como tal, o poder que arranca aos homens a liberdade de comunicar
publicamente os seus pensamentos retira-lhes também a liberdade de pensamento.18
16
Cf. PEREIRA; NETO, op. cit.
17
Cf. RAVAZ, Bruno – Liberdade de expressão constitui direito natural. ProScientiae. [Em linha]. (Maio
2003).
18
Cf. KANT, Immanuel – Que significa orientar-se no pensamento (1786). In A paz perpétua e outros
opúsculos. Lisboa: Edições 70, 1992. p. 52.
19
Cf. MENDES, João de Castro – Direitos, Liberdades e Garantias: alguns aspectos gerais. In PEREIRA,
André Gonçalves [et al] – Estudos sobre a Constituição. Lisboa: Petrony, 1977. p. 99.
20
Cf. CAETANO, Marcello – As Constituições Portuguesas. Lisboa: Verbo, 1986. p. 22.
21
MIRANDA, Jorge – As constituições portuguesas: de 1822 ao texto actual da constituição. Lisboa:
Livraria Petrony, 1997. p. 30.
14
1.3.2. Carta Constitucional de 1826
Esta constituição liberal afasta-se do espírito revolucionário que inspirou a
Constituição de 1822 e reconhece, além dos poderes executivo, legislativo e judicial, o
poder moderador do rei, daí que autores como Caetano a definam como sendo
monárquica.22 Ao contrário da Constituição de 1822, a Carta de 1826 começa pela
organização do Estado, e é no último artigo, o 145.º que são enumerados os Direitos
Civis e Políticos, cuja inviolabilidade é garantida pela Carta, tendo igualmente por base a
liberdade, segurança individual e a propriedade.23 Os direitos individuais enumerados no
art. 145.º assentam nos mesmos núcleos jurídicos que a Constituição de 1822, além de
compromissos do Estado.24 Ao relegar os direitos fundamentais para o último artigo, a
Carta concede-lhes menor importância sistemática.25
O art. 145.º, § 3.º, dispõe que “Todos podem comunicar os seus pensamentos por
palavras, escritos, e publicados pela Imprensa sem dependência de Censura, contanto
que hajam de responder pelos abusos, que cometerem no exercício deste direito, nos
casos, e pela forma que a Lei determinar.”26
22
Cf. CAETANO, op. cit., p.31-32.
23
Cf. MENDES, Direitos, Liberdades.., p. 99.
24
O que seriam direitos sociais como a instrução primária gratuita (§30.º). Cf. CAETANO, op. cit., p. 31.
25
Cf. MIRANDA, Jorge – Manual de Direito Constitucional: Preliminares, O Estado e os Sistemas
Constitucionais. 4.ª ed. ver. actual. Coimbra: Coimbra Editora, 1990. Vol. 1. p. 273.
26
MIRANDA, As constituições.., p. 136.
27
MIRANDA, As constituições.., p. 169.
15
1.3.4. Constituição de 1911
Seguindo uma orientação individualista, tal como as restantes constituições o
28
eram, a Constituição de 1911 dá preferência à enumeração dos direitos e garantias
que, de acordo com a tradição liberal, se baseiam na liberdade, segurança individual e
propriedade, inserindo outros princípios de ideologia republicana, como a igualdade
social (nega privilégios de nascimento) e o laicismo (igualdade e liberdade de religião).29
Estabelece o art. 3.º, n.º 13 que «a expressão do pensamento, seja qual for a sua
forma, é completamente livre, sem dependência de caução, censura ou autorização
prévia, mas o abuso deste direito é punível nos casos e pela forma que a lei
determinar.»30
28
Cf. MIRANDA, Manual.., Vol. 4, p. 117.
29
Cf. CAETANO, op. cit., p. 87.
30
MIRANDA, As constituições.., p.211.
31
Cf. CANOTILHO, op. cit., p. 182-183.
32
MIRANDA, As constituições.., p. 270.
33
Cf. CANOTILHO, op. cit., p. 183.
34
Cf. MIRANDA, 1990, op. cit., p. 300.
35
SALAZAR apud MIRANDA, 1990, op. cit., p. 300.
16
para dar asas à criatividade, ambas instigadoras do desenvolvimento das sociedades
humanas.36
Por isso, a liberdade, um dos núcleos das constituições liberais, e portanto a
liberdade de expressão, é uma condição imprescindível para a viabilidade do regime
democrático. O carácter individualista e liberal da liberdade de pensamento evoluiu com
o passar dos séculos e transformou-se ao ponto de corresponder a um direito, não só do
indivíduo isolado, mas também da própria sociedade.37
Segundo Vitória, o desenvolvimento do Estado democrático de Direito está
relacionado com os direitos fundamentais, e neste caso com a liberdade de expressão:
ambos se constroem mutuamente. O conteúdo do Estado constitucional depende dos
valores que este resguarda e varia com os momentos históricos.38
Sabemos já que a liberdade de expressão, tal como os restantes direitos
fundamentais, é um direito que conhece limites, e, se o seu exercício entrar em conflito
com direitos fundamentais de outrem, não pode deixar de sofrer ainda as limitações
exigidas pela necessidade da realização destes.39 Não era o que sucedia em regimes
ditatoriais, como durante a vigência da Constituição de 1933, como já vimos. Segundo
Stuart Mill40, a garantia da opinião individual era fundamental para uma sociedade livre,
e proteger a liberdade de expressão individual não é apenas manifestar-se em favor
dela, mas lutar contra quem a quiser restringir. Para este autor, quem procura limitar a
liberdade dos outros pretende impor ideias e conformar o pensamento.
36
Cf. MENDES, Fátima Abrantes [et al] – Dicionário de Legislação Eleitoral. Lisboa: Comissão Nacional
de Eleições, 1995. Vol. 1.
37
Cf. LIMA, Éfren Paulo Porfírio de Sá – O Moral e Direito à informação jornalística: o segredo de justiça.
Revista da Justiça Federal no Piauí [Em linha].
38
Cf. VITÓRIA, Paulo Renato – Justiça e poder discricionário no Estado democrático de direito: uma
interpretação possível fundada na dignidade. [Em linha]. Porto Alegre: Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2007. Dissertação de mestrado. p.78.
39
MELO, Milena Barbosa de – A liberdade de expressão e de informação nas publicidades comerciais.
Juristas [Em linha].
40
Stuart Mill apud CUNDARI, Paula Casari – Limites da liberdade de expressão: imprensa e judiciário no
Caso Editora Revisão. [Em linha]. Porto Alegre: Faculdade de Comunicação Social da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2006. Tese de doutoramento. p. 13.
17
2. A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E INFORMAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA PORTUGUESA (1976)
41
Após aprovação do mandato dos deputados eleitos, eleita a Mesa, aprovado e votado o Regimento da
AC.
42
Cf. Deputados Oliveira e Silva (PS) e Costa Andrade (PPD), DAC, n.º 39, p. 1089.
43
Cf. Deputado José Augusto Seabra, DAC, n.º 39, de 29/8/1975 apud PINHEIRO, Alexandre Sousa;
FERNANDES, Mário João de Brito – Comentário à IV Revisão Constitucional. Lisboa: Associação
Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, 1999. p. 141.
44
Deputado José Luís Nunes, DAC, n.º 39, p. 1094.
18
2.1.2. Texto inicial
Na Constituição de 1976 foi dada, na opinião de Mendes,45 uma cuidadosa
atenção à pessoa, o que se verifica no extenso leque de direitos que a Constituição lhe
reconhece. A parte I da CRP, Direitos e deveres fundamentais, demonstra uma
classificação dos mesmos que é bipartida: direitos, liberdades e garantias; direitos
económicos, sociais e culturais. Jorge Miranda46 opina que esta bipartição revela a ideia
de que a Constituição procura manter-se fidedigna aos direitos, liberdades e garantias
conquistadas no século XIX e enriquecidas na linha liberal no século XX, na linha
personalista, e procurou acrescentar direitos próprios deste século, que traduzem
aspirações de igualdade social e económica, que significam uma intervenção do Estado
na vida social para realizar dos interesses das pessoas de todas as condições, de todas
as classes. Estabelece o art. 37.º do texto inicial da Constituição que:
O n.º 1, in fine, refere ainda que o direito de expressão não pode ser sujeito a
impedimentos nem a discriminações. “Sem impedimentos” não pode significar sem
limites, visto que, se o exercício do direito pode dar lugar a infracções (previstas no n.º
3), é porque há limites ao direito. “Sem discriminações” não elimina o alcance das
excepções previstas na Constituição, plasmadas no art. 270.º, aditado na revisão
constitucional de 1982. Mas dentro dos limites expressos ou implícitos do direito, não
pode haver obstáculos ao seu exercício e todos gozam dele em pé de igualdade. Na
falta de cláusulas de restrição dos direitos referidos, é necessário harmonizar o direito
com outros direitos com eles colidentes como a dignidade da pessoa humana, os
direitos à integridade moral, bom nome e reputação, à privacidade, à palavra e à
imagem, etc. (art. 26.º, nº1).48
45
Cf. MENDES, Direitos, Liberdades..
46
Cf. MIRANDA, Jorge apud MENDES, Direitos, Liberdades.., p. 95.
47
MIRANDA, As constituições.., p.431.
48
Cf. CANOTILHO; MOREIRA, op. cit., p. 573.
19
O n.º 2 consagra ainda a proibição da censura, pois a censura nega a liberdade
de expressão (e também de informação). Esta epígrafe não sofreu quaisquer alterações
ao longo das setes revisões constitucionais. Proíbe-se a censura num sentido amplo,
abrangendo tanto a censura prévia à expressão originária, como a censura posterior da
difusão ou divulgação. A proibição da censura não foi colocada no art. 38.º sobre a
liberdade de imprensa pois desta forma a proibição constitucional é de âmbito geral,
aplica-se a toda e qualquer forma de informação e expressão e não apenas à que
ocorre nos meios de comunicação social. Esta proibição vale perante o Estado e demais
entidades ou poderes em posição de impedir a expressão ou divulgação de informação
ou ideias (art. 18.º, n.º 1 CRP).49
Do n.º 3 verifica-se que existem limites ao exercício de livremente exprimir e
divulgar o pensamento, pelo que tal infracção pode conduzir a punição criminal. Limites
esses que pretendem salvaguardar os direitos ou interesses constitucionalmente
protegidos, tão importantes que gozam de protecção penal.50
O n.º 4 deste artigo consagra, desde logo, um direito à expressão, incluído no
direito de expressão anteriormente referido, mais precisamente, na sua dimensão
positiva que aflora num direito de resposta. Mas, de uma maneira geral, este direito de
expressão não inclui um direito de acesso aos órgãos de comunicação social. Hoje,
mais do que em 1976, com os novos meios tecnológicos (como a Internet), é
virtualmente possível que todos divulguem e difundam o seu pensamento, informações
e opiniões. Este direito de resposta é um instrumento de defesa das pessoas contra
opiniões ou imputações de carácter pessoal ofensivo ou prejudicial, ou contra notícias
ou referências pessoais inverídicas ou inexactas. O direito de resposta é elemento
constituinte do direito de expressão e de informação em geral, independentemente do
seu suporte ou veículo e da forma de exercício. Como um direito geral exerce-se através
dos meios de comunicação social e de viva voz (assembleias, reuniões, etc.), com
igualdade e eficácia, ou seja, existe uma equivalência comunicacional entre a resposta e
a informação ou opinião que a gerou. O direito de resposta, tal como a liberdade de
expressão e informação, não é exclusivamente pessoal, estende-se às pessoas
colectivas, podendo ser essencial à sua acção colectiva (sindicatos, partidos políticos).51
49
Ibidem, p. 574.
50
Ibidem, p. 575.
51
Ibidem, p. 573, 575, 576.
20
2.2. A DUDH e a Liberdade de Expressão
A DUDH consagra a liberdade de expressão no art. 19.º: “Todo o indivíduo tem
direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser
inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de
fronteira, informações e ideias por qualquer meio de expressão.”52
Os direitos fundamentais e, por conseguinte, a liberdade de expressão, devem
ser interpretados e integrados de harmonia com a DUDH, nos termos do art. 16.º, n.º 2
da CRP, impregnando a CRP dos princípios e valores da DUDH, sendo esta uma fonte
importante da CRP nesta matéria.53 Pela DUDH verifica-se como a liberdade de
expressão é fundamental, como base de um Estado democrático.54
52
DECLARAÇÃO Universal dos Direitos do Homem. In Constituição da República Portuguesa: de acordo
com a Revisão de 2005. Lisboa: Quid Juris, 2006.
53
Cf. MIRANDA, Manual.., Vol. 4, p. 148.
54
LIMA, op. cit.
55
Foi também com esta revisão que surgiu o Tribunal Constitucional.
56
MIRANDA, As constituições.., p. 555.
21
aditamentos foram encarados como um reforço constitucional da liberdade de expressão
e de informação no sentido actual e activo.57
No n.º 3 foi alterada a expressão “lei geral” para “princípios gerais de direito
criminal”. Esta alteração visou explicitar, em termos mais perfeitos do ponto de vista
técnico, que submeter as infracções previstas no “regime de punição da lei geral” (cfr. o
texto inicial) é submetê-las aos “princípios gerais de direito criminal”, o que está
relacionado com a tutela criminal dos abusos à liberdade de expressão. Mas não é
apenas esta tutela criminal e as sanções criminais as únicas admitidas quanto a, por
exemplo, sanções disciplinares.58 Um acórdão da Comissão Constitucional vai mais
longe:
[…]a expressão Lei Geral (…) não é, nem necessariamente, nem apenas, o
Código Penal. Antes será a lei cujo conteúdo revista a característica de
generalidade; que não discrimine determinada ou determinadas opiniões; que
vise, e na medida em que vise a protecção de um bem ou valor que, na
situação se revele preponderante; e que respeite (e se adeqúe) aos princípios
gerais do direito penal, entendendo-se por tais, não só os princípios jurídico-
constitucionais penais, mas ainda aqueles que presidem à teoria geral das
59
infracções e das penas que consta do Código Penal.
57
Cf. Deputado Jorge Miranda (ASDI), DIÁRIO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA, 2.ª legislatura, 2.ª
sessão legislativa, 1.ª série, n.º 103, de 16-6-1981, p. 4241.
58
Cf. Acórdão 11/85, BMJ, (S)-15, apud LOPES, op. cit., p. 287.
59
Acórdão da CC de 8 de Janeiro de 1980; BMJ n.º294, p. 153 apud MORAIS, op. cit., p. 83.
60
CANOTILHO; MOREIRA, op. cit., p. 576.
61
Deputado Vital Moreira (PCP), DAR, 2.ª legislatura, 2.ª sessão legislativa, suplemento ao n.º 6, reunião
de 15-9-1981, p. 70(60).
22
de alterações à Constituição, por violar limites materiais da revisão constitucional, e
direitos fundamentais consagrados na DUDH e na Constituição, de acordo com Jorge
Miranda.62
62
Cf. Deputado Jorge Miranda (ASDI), DAR, 2.ª legislatura, 2.ª sessão legislativa, suplemento ao n.º 6,
reunião de 15-9-1981, p. 70(61).
63
MIRANDA, As constituições.., p. 753.
64
Contra-ordenação.
65
Cf. PINHEIRO, Alexandre Sousa; FERNANDES, Mário João de Brito – Comentário à IV Revisão
Constitucional. Lisboa: Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, 1999. p. 140-142, 548-
551.
23
segundo caso, é garantida a sujeição aos princípios gerais de Direito criminal ou do
ilícito de mera ordenação social o que veda a existência de um regime especial de
crimes de liberdade de imprensa.66
António Reis, deputado do PS, salientou que esta alteração permite que a
legislação mantenha a tendência para a descriminalização de infracções penais
menores em matéria de liberdade de expressão, que passarão a ser abarcadas pelo
ilícito de mera ordenação social, e uma desgovernamentalização na aplicação de
coimas no exercício do poder sancionatório por uma entidade pública, a Alta Autoridade
para a Comunicação Social. Contudo, Moreira da Silva, deputado do PSD, esclareceu
que esta, como entidade administrativa, está sujeita à apreciação judicial. 67
66
Cf. MIRANDA; MEDEIROS, op. cit., p. 430-431.
67
Cf. DAR, 7.ª legislatura, 2.ª sessão legislativa, 1.ª série, n.º 95, de 16-7-1997, p. 3416 e 3422.
68
Uma restrição está relacionada com o direito em si, afecta-o, comprime-o, funda-se em razões
específicas, amputa-lhe faculdades que a priori estariam nele compreendidas. Cf. MIRANDA, Manual..,
Vol. 4.
69
CANOTILHO, J. J. Gomes; Moreira, Vital – Fundamentos da Constituição. Coimbra: Coimbra Editora,
1991. p. 120-122.
24
3. A INTERPRETAÇÃO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO E INFORMAÇÃO PELO
TRIBUNAL CONSTITUCIONAL
3.1. Acórdão n.º 113/97 de 05 de Fevereiro de 1997, referente à liberdade de
expressão nos meios de comunicação social.
O referido acórdão tem como partes o Licenciado Antero da Silva Resende e o
requerente Vicente Jorge Lopes Gomes (assistente editorial), postula uma fiscalização
concreta para determinar a constitucionalidade ou inconstitucionalidade da norma
positivada no Código Penal (art. 164.º n.º1 do Código Penal de 1982, actualmente sendo
o artigo 180º do respectivo Codex) nomeadamente o dolo eventual que segundo a
doutrina verifica-se quando o agente prevê a possibilidade de a sua conduta efectivar
uma consequência ilícita e tal previsão não determinar a abster-se dela, constitui deste
modo uma forma qualificada de culpa como elemento subjectivo intrínseco ao crime de
difamação (por difamação compreende-se a atribuição a outrem, mesmo sob a forma de
suspeita, de um facto ou de um juízo de valor, ofensivos à reputação e à honra do
visado, sendo a este crime atribuída uma sanção punitiva, com a excepção
nomeadamente entre outras aquando comprovada a realização de interesses legítimos
ou quando se provar a veracidade dos factos imputados sobre terceiros).
O assistente editorial considera a norma inconstitucional, pois acredita que o dolo
eventual vai contra a Liberdade de expressão e informação (art. 37.º, n.º1 da CRP), de
imprensa (art. 38.º, n.ºs 1 e 2), de opinião, do direito de participação na vida pública (art.
48.º, n.º 1 da CRP), que se contemplam legitimamente na ordem jurídica sem limitações
ou censuras, assim como também oprime injustificadamente a Convenção Europeia dos
Direitos Humanos (art. 10.º, n.ºs 1 e 2 da CEDH). Embora, o mesmo, tivesse
consciência do resultado das suas expressões (dolo eventual) alega que a adjectivação
atribuída ao ofendido não possui potencialidades para colidirem com o direito ao seu
bom nome assim como com a sua reputação (art. 26.º n.º 1 da CRP).
Antero Resende faz alusão a que o dolo eventual foi efectivado pelas expressões
escritas por Vicente Gomes, sendo este constitucional pois o mesmo encontra-se
inserido no leque variado das delimitações à liberdade de expressão e informação,
afirma que a este direito lhe é incluída a previsão de infracções no seu exercício que se
submetem aos princípios gerais do direito criminal (art. 37.º n.º3 da CRP), como também
se encontra em consonância com a força jurídica das leis restritivas positivadas na
Constituição (art. 18.º da CRP) e com o direito ao bom nome e à dignidade da pessoa
humana (art. 26.º, n.ºs 1, 2 e 3), o direito à integridade pessoal (art. 25.º n.º 1 da CRP)
25
nomeadamente no que confere à componente moral foi afectada através de enxovalho
público, assim como também às leis de direito internacional de conteúdo de liberdade de
expressão lhes são incluídas certas delimitações.
O TC posteriormente por deliberação unânime elaborada pelo colectivo de sete
juízes, não julga inconstitucional a norma (art. 180.º do Código Penal). Fundamenta-se
em preceitos constitucionais positivados na CRP (nomeadamente os art. 37.º, n.º 3 e art.
18.º), em normas consagradas no Código Penal (art. 180.º), assim como em regras
expressas quer na Convenção Europeia dos Direitos do Homem (art. 10.º, n.º2 CEDH))
quer no Pacto Internacional Direitos Civis e Políticos (art.19.º, n.º3 PIDCP). É de
salientar que este acórdão não põe, de modo algum, em causa o âmago da Liberdade
de expressão, ou seja, a permuta legitima de ideias e pensamentos concordantes ou
discordantes, nem como a dita liberdade ser um direito fundamental num Estado
democrático, mas sim questiona o nec plus ultra que consubstancia o limite onde
termina a liberdade de expressão e começa o insulto pessoal e/ou a ofensa à
integridade moral, assim como evidencia a ponderação na proporção e na adequação
das palavras utilizadas, sob qualquer forma, tendo em vista ao fim a que se destinam.
27
CONCLUSÃO
28
BIBLIOGRAFIA
CAETANO, Marcello – As Constituições Portuguesas. 6.ª ed. rev. actual. Lisboa: Verbo,
1986. 157 p.
MENDES, Fátima Abrantes [et al] – Dicionário de Legislação Eleitoral. Lisboa: Comissão
Nacional de Eleições, 1995. Vol. 1. ISBN 972-96544-4-1.
29
MIRANDA, Jorge – Manual de Direito Constitucional: Preliminares, O Estado e os
Sistemas Constitucionais. 4.ª ed. rev. e actual. Coimbra: Coimbra Editora, 1990. 401 p.
Vol. 1. ISBN 972-32-0419-3.
MORAIS, Isaltino; ALMEIDA, José Mário F. de; PINTO, Ricardo L. Leite, anot. –
Constituição da República Portuguesa Anotada e Comentada. Lisboa: Rei dos Livros,
1983. 616 p.
Fontes Legislativas
31
ANEXOS
1.3.1.1. CDS
Nos termos do art. 12.º, “constituem direitos e liberdades individuais do cidadão português
(…) a liberdade de opinião e de expressão do pensamento.”70
1.3.1.2. MDP/CDE
De acordo com o art. 44.º deste projecto de constituição:
1.3.1.3. PCP
O art. 49.º, sobre a Liberdade de expressão e direito à informação, dispõe que:
1.3.1.4. PPD
O art. 20.º dispõe que:
70
Cf. DAC, 1.ª legislatura, 1.ª sessão legislativa, suplemento ao n.º 16, de 24-7-1975, p. 358(3).
71
Cf. DAC, 1.ª legislatura, 1.ª sessão legislativa, suplemento ao n.º 16, de 24-7-1975, p. 358(27).
72
Cf. DAC, 1.ª legislatura, 1.ª sessão legislativa, suplemento ao n.º 16, de 24-7-1975, p. 358(44).
32
O art. 21.º determina que:
1.3.1.5. PS
O art. 20.º afirma que:
1. É garantida a liberdade de associação […]
2. A lei reguladora deste direito apenas poderá fazer depender a constituição ou
funcionamento da associação da obrigatoriedade de fazer inscrever num registo de
associações a denominação, o local da sede e a identificação dos corpos sociais que a
dirijam e de depositar um exemplar dos respectivos estatutos, os quais deverão ser
aprovados em assembleia geral ou congresso dos associados, garantindo, na vida interna,
a liberdade de expressão e de crítica e ainda a eleição, por sufrágio direito e secreto de
todos os associados, dos corpos ou quadros sociais.[…]74
1.3.1.6. UDP
O art. 20.º deste projecto de constituição dispõe que “os cidadãos gozam de liberdade de
associação, de expressão, de reunião, de concentração e de manifestação públicas.”75
73
Cf. DAC, 1.ª legislatura, 1.ª sessão legislativa, suplemento ao n.º 16, de 24-7-1975, p. 358(72).
74
Cf. DAC, 1.ª legislatura, 1.ª sessão legislativa, suplemento ao n.º 16, de 24-7-1975, p. 358(57).
75
Cf. DAC, 1.ª legislatura, 1.ª sessão legislativa, suplemento ao n.º 16, de 24-7-1975, p. 358(93).
33