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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAQÁO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
' religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.
Eis o que neste site Pergunte e
Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
-, controvertidas, elucidando-as do ponto de
W_ vista cristáo a fim de que as dúvidas se
'\ dissipem e a vivencia católica se fortaleca
■** no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.
Pe. Estevio Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR


Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e
oassamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
Sudo da revista teológico - filosófica "Pergunte_ e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de pubhcagao.
A d Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
FILOSOFÍA

CICMCIA <

60UTDINA

MORAL
MICTÓUIA Jo

ANO XIII — N« 155 NOVEMBRO DE 1972


índice

Pág.

DE ENCONTRÓ EM ENCONTRÓ 477

LEMBRE-SE 479

Recuo ? Progresso ? Mal-entendido ?


"PAULO VI PROIBE MULHERES DE SEREM MINISTRAS DE DEUS"?

"NOVAS LEIS DA IGREJA DERRUBAM TABUS DE 800 ANOS :


CASAMENTO !" 480

Há quem debata:
PROSTITUigAO LEGAL? 495

Cristianismo na Rússia:
SUBSERVIÉNCIA PARA NAO MORRER ? 510

Oposicao ao regime:
A "INTELLIGENTZIA" RUSSA CONTESTA 518

LIVROS EM RESENHA 528

NO PRÓXIMO NÚMERO :

A estatura física de Jesús; como era Jesús ? Divorcio lega


lizado .pela Igreja ? Ressurreicáo logo após a morte ? «O
Profeta» de Gibran.

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»

Assinatura anual CrS 30,00


Número avulso de qualquer mes Cr$ 4,00
Volumes encadernados de 1958 e 1959 (prego unitario) CrS 35,00
índice Geral de 1957 a 1964 Cr§ 10,00
índice de qualquer ano Cr$ 3,00

EDITORA LAUDES S. A.
REDACÁO DE PK ADMINISTRADO
Caixa, Postal 2.666 Búa Sao Rafael, 38, ZC-09
ZC-00 20000 Rio de Janeiro (GB)
20000 Rio de Janeiro (GB) Tels.: 268-9981 e 268-2796

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA


DE ENCONTRÓ
EM ENCONTRÓ
"" O mes de novembro inicia-se com um olhar para p Além,
pois se abre com as comemoragóes de Todos os Santos e Finados.
Por que entáo nao propor aquí uma palavra sobre o que
se chama «morte» ?
— Morte ?... Conversa feia e tétrica !
— Longe disso. Se és cristáo, nao há morte para ti, mas
apenas troca de vida. «A morte nao é senáo uma das mentiras
deste mundo», dizia o grande cristáo Louis Veuillot, ao qual
fez eco o P. Sertillanges: «A morte é um simples incidente de
uma vida imortal». Na verdade, a morte é a consumagáo ou
a plenitude do encontró do homem com Deus, encontró que se
vai realizando em etapas cada vez mais pregnantes todos os
días desta nossa caminhada. Dia por día, o cristáo troca de
vida, dizendo Nao ao velho homem e abrindo-se conseqüente-
mente para a nova criatura, nele iniciada pelo Batismo e cons
tantemente alimentada pela Eucaristía. Por isto puderam os
mestres dizer que «somente sao dignos ás viver aqueles que
nao tém medo de morrer» (Th. Roosevelt), ou ainda: «Quem
ensinasse os homens a morrer, ensiná-los-ia a viver». (Mon
taigne) , ou de novo : «A morte é como o verbo que as línguas
germánicas colocam no fím da frase e que a ilumina toda» (A.
Valensin).
No Evangelho, o Senhor Jesús ilustra o que seja a morte,
recorrendo a duas metáforas: o Cristo que nos ocorrerá no
termo desta caminhada terrestre, poderá ser tido como Esposo,
ou seja, como complemento de um amor densamente cultivado,
ou também como ladráo, como intruso que, em plena noite,
assusta e desinstala quem se instalou ou fechou em si mesmo.
É na parábola das dez virgens (cf. Mt 25,1-13) que encon
tramos a primeira imagem. A morte ai é comparada ao en
contró da esposa com o Esposo. Para o cristáo que viva em
atitude de auténtico amor, o Cristo é, sim, o Esposo ; a morte
vem a ser a ruptura de véus e sombras, que cedem á plena
luz e á fruigáo incontestada do TU mais nobre ou do TU divino.
Ou, como diria S. Agostinho: «A morte é a companheira do
amor ; é ela que abre a porta e permite chegarmos Áquele que
amamos». A espasa do Cántico dos Cánticos formula uma de
suas atitudes auando diz : «Eu durmo, mas o meu coraejio
vigía» (Cánt 5,2). Tal é a atitude permanente do cristáo: dorme,

— 477 —
isto é, aceita a realidade e as condicóes da vida temporal, en-
tregando-se fielmente a tudo que seja inerente á sua candieáo
humana, mas guarda sempre viva a perspectiva do encontró
final; jamáis se deixa absorver integralmente pelas lides da
caminfhada, porque nao perde consciéncia de que estas ainda
sao aceno á eternidade.
Em outras passagens bíblicas (ct Mt 25,43; Le 12,39 ;
1 Tes 5,2.4 ; Apc 3,3 ; 16,15), a morte é insinuada como assalto
violento cometido por um ladráo. Esta perspectiva é decorrente
da atitude de instalacáo que o homem tome frente a Deus e
aos outros homens; quem se fecha em si e se acomoda em
urna praga-forte ilusoria, corre o risco de ser desacomodado
e perturbado pela vinda de Cristo no fim de seus dias terrestres.
A morte entáo, em vez de ser.o encontró de dois sorrisos e
plenitude de vida, é decepeáo e fantasma.
Donde se vé que, em última análise, é o próprio homem
quem da o sentido respectivo á sua morte. Quem vive a sede
do Infinito e se encaminha para Ele táo corajosa e sincera
mente quanto possível, terá o Dsm Infinito ; fechará os olhos
do corpo para abrir os do espirito a visáo face-a-face. Mas
quem, embora feito para o Infinito, se feche para Ele, nao
evitará esse Infinito; somente o experimentará como Grande
Surpresa para a qual nao se terá preparado.
«Mas vos, irmáos, nao estáis ñas trevas para que aquele
dia vos surpreenda como um ladráo... Todos vos sois filhos
da luz e filhos do dia. Nao somos filhos da noite nem das tre
vas !» (1 Tes 5,4s).
É na perspectiva destas idéias que apresentamos mais este
número de PR aos nossos leitores. Possa de algum modo con
correr para irradiar luz e contribuir para que caía um pouco
mais do véu que encobre a face da Beleza Infinita, á qual todo
homem aspira S
E. B.

— 478 —
LEMBRE-SE

Se vocé está triste porque perdeu o seu amor,


Lembre-se daquele que nao teve um amor para perder.
Se vocé se decepciono^ com alguma coisa,
Lembre-se daquele cujo nascimento já foi urna decepsao.
Se vocé está cansado de trabalhar,
Lembre-se daquele que, angustiado, perdeu o emprego.
Se vocé reclama de urna comida mal feita,
Lembre-se daquele que morre faminto sem um pedaco de pao.
Se um sonho seu foi desfeito,
Lembre-se daquele que vive num pesadelo constante.
Se vocé anda aborrecido,
Lembre-se daquele que espera um sorriso seu.

Se vocé teve um amor para perder,


Um trabalho para cansar-se,
Um sonho desfeito,
Urna tristeza para sentir.
Urna comida para reclamar,...

Lembre-se de agradecer a Deus!

Porque existem muitos,


Que dariam tudo para ficar no seu lugar.

(Anónimo)

— 479 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
Ano XIII — N* 155 — Novembro de 1972

Recuo ? Progresso ? Mal-entendido ?

"Paulo VI proibe mulheres de serem


ministras de deus"?1
"novas leis da igreja derrubam tabus
de 800 anos: casamento!"8
Em sfntese: O S. Padre Paulo VI, em duas Cartas Apostólicas data
das de 15/VI11/72, reformou os ministerios ecleslais anexos ao sacramento
da Ordem. Foram extintas as Ordens menores do ostlarlado e do exorclstado,
ficando as funcSes de leitor e acólito com os nomes de "ministerio da
Palavra" e "ministerio do altar" respectivamente. Estes dois ministerios
podem ser conferidos a cristSos lelgos, nSo destinados ao presbiterado, e
devem ser entregues aos que se destlnem ás Ordens sacras do dlaconato
e do presbiterado. A primeira tonsura e o subdiaconato foram supressos;
¡mediatamente antes da ordenacSo diaconal, o candidato será asslnalado
por um rito próprlo de entrada no estado clerical; os candidatos cellbatárlos
receberáo a cónsagracao do celibato. Fol nesse contexto que Paulo VI
declarou que as mulheres nao receberlam a Instltuicáo do leltorado e do
acolitado; poderáo, porém, continuar a ler textos bíblicos e exercer outras
funcfies que exerclam na liturgia da Igreja; para tanto, nño terfio titulo Jurí
dico, mas a assistencla do Espirito Santo. A Igreja nSo pretende afastar as
mulheres do servico de evangelizacSo e Instaurado do Reino. Ao contrario,
as mulheres tóm assumldo funcSes cada vez mais vultosas na Igreja. Há
quem pleltele sejam também ordenadas pelo sacramento da Ordem. Todavía
diante desta perspectiva as oplnides se dlvldem : há motivos ponderáveis
para se desejar que o homem e a mulher, excercendo funcSes diversas na
Igreja, se complementem mutuamente. O Espirito de Cristo, que rege a
Igreja, manifestará oportunamente os seus designios, caso as mulheres
devam ser admitidas ao sacramento da Ordem.

1 Mánchete do "Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro) aos 15/IX/72, p. 9.


Note-se que ao lado figurava outra mánchete, do teor segulnte: "Feministas
abrem odio ao homem". Um telegrama de Nova lorque dlzla entSo: "O
odio aos homens é o novo lema do Movlmento de LibertacSo Femlnlna decre
tado pelo seu setor de Nova lorque durante urna reunido da qual partlciparam
cerca de 200 mulheres, jovens em sua maioria".
"Mánchete do jornal "Última Hora" (Rio de Janeiro), aos 14/IX/72.

— 480 —
MULHERES E SERVIDOS NA IGREJA 6

Quanto ao celibato dos presbíteros, nio fo! abolido. Apenes fol con
firmada a norma, promulgada por Paulo VI em 1967, segundo a qual podem
ser admitidos ao dlaconato homens já casados; os diáconos, porém, nio ca
sados ou vlúvos, nao tém autorizado para se casar.

Comentario: O grande público no Brasil foi, em ee-


tembro pp., abalado por noticias ora «sinistras», ora «alvis-
sareiras» : o Papa Paulo VI teria feito restricóes á par-
ticipagáo da mulher nos oficios de culto católicos, entravando
iniciativas e atividades das mulheres já ocorrentes na Igreja.
O mesmo Pontífice teria derrubado tabus de 800 anos «admi-
tindo homens casados para suprir a deficiencia de padres a
partir de Janeiro de 1973» (UH).

— A inquietacáo se deve, em grande parte, á maneira


como as noticias foram transmitidas, pois na verdade nao
houve, da parte da Santa Sé, retrocesso nem desconsideragáo
frente a quem quer que seja.

O que houve, foi apenas a reformulacjío dos ministerios


(servieos prestados as comunidades) da Igreja — tarefa ne-
cessária e muito desejada desde o Concilio do Vaticano n.
Aos 15/VÜI/72, o S. Padre Paulo VI assinou duas «Cartas
Apostólicas» J que regulamentam de novo modo o assunto: no
primeiro desses documentos encontram-se duas linhas, de teor
tranquilo, que infelizmente deram margem a equívocos. Eis
por que, ñas páginas que se seguem, vamos expor algo sobre
a reforma recém-introduzida por Paulo VI no sacramento da.
Ordem e sobre o papel da mulher na Igreja de hoje.

1. Sacramento da Ordem : como era ?

A S. Escritura menciona o ministerio sacerdotal como


algo que provém de Cristo e é praticado pelos Apóstelos: esse
ministerio compreende graus diversos, que, em linha ascen
dente, sao o diaconato, o presbiterado, o episcopado; cf. Flp
1, 1; At 6, 1-6; 1 Tim 4, 14; S, 22; 2 Tim 1, 6. O bispo possui

1A primeira dessas Cartas cometa pelas palavras "Mlnisterla quaedam"


e versa sobre a reforma das Ordens Menores. — A outra se abre com os
termos "Ad pascendum", e trata do diaconato.

— 481 —
é tPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972

á plenitude do sacerdocio cristáo, participando, ao máximo, do


sacerdocio de Cristo. Este é comunicado em grau inferior aos
presbíteros (padres) e aos diáconos. As funcóes de servico
dos diáconos foram sendo desdobradas no decorrer dos tem-
pos. Tiveram assim origem os ministerios (também ditos «Or
dens») dos subdiáconos (destinados a servir aos diáconos),
acólitos (chamados a servir aos subdiáconos na liturgia),
exorcistas (cuja tarefa era conjurar os demonios), leitores
(chamados a ler no culto divino) e ostiarios (encarregados de
abrir e fechar as portas da igreja).
As Ordens inferiores ao diaconato nao sao sacramento
(riáo imprimem caráter na alma), mas sacramentáis (ritos e
fungóes anexas ao sacramento da Ordem). O ostiariado, o lei-
torado, o exorcistado e o acolitado sao ditos «Ordens meno
res». O subdiaconato, embora nao imprima caráter, é classi-
camente tido como «Ordem maior» no Ocidente (nao entre
qs orientáis), pois impóe a obrigagáo do celibato e do Oficio
tíivino. O diaconato, o presbiterado e o episcopado sao Ordens
niaiores e constituem os tres graus propriamente ditos do sa
cramento da Ordem (o qual impóe caráter, ou seja, sinete in-
delével na alma do ministro de Deus).

As Ordens menores sao mencionadas todas pela primeira


vez nos escritos do Papa S. Cornélio (t 253); nao sao admi
nistradas pela imposigáo das máos nem pela invocagáo do Es
pirito Santo,

■ , O ingresso no estado clerical é assinalado pela cerimónia


da tonsura. Esta consiste na raspagem da cabeleira do can
didato. Posteriormente a tonsura veio a ser urna coroa tra
gada na cabega do clérigo e (suscetível de diversas formas. Em
suma, nos últimos sáculos dava-se o seguinte: mediante um
rito denominado «Primeira Tonsura», o aspirante ao sacer
docio tornava-se clérigo. Depois, gradualmente ia recebendo
as Ordens menores (ostiariado, leitorado, exorcistado e aco
litado) como preparagáo para o sacerdocio. A este chegava
finalmente através das Ordens maiores do subdiaconato e do
diaconato.
Acontece, porém, que nos tempos recentes já nao tém
grande sentido certas Ordens menores: o abrir e fechar de
portas da igreja tornou-se funcáo rotineira confiada a um sa-
cristáo ou funcionario da igreja (outrora, quando havia peni
tentes públicos, as portas eram solenemente fechadas em cer-
tos momentos da liturgia por um ministro especialmente or
denado para tanto). A prática do exorcismo maior hoje em

— 482 —
MULHERES E SERVIDOS NA IGREJA

dia é reservada a quem tenha especial delegagáo do hispo e


só se pratica raramente. A tonsura, na medida em que sig
nifica raspagem de cábelos, também carece de significado é
aplicacáo. Daí a necessidade de se reformularem as Ordens
sacerdotais — o que foi feito pelas duas Cartas Apostólicas»
atrás mencionadas, nos seguintes termos: ,.

2. Como fica após a reformulasao ?

Vejamos em primeiro lugar o conteúdo da Carta Apostó


lica «Ministeria quaedam».

2.1. Reforma das Ordens menores

1. As Ordens menores do ostiariado e do exorcistado


seráo extintas a partir de 1* de Janeiro de 1973, visto que se
tornaram pouco usuais em nossos tempos.
2. As Ordens de leitor e acólito permaneceráo todavía
com o nome de ministerios. Sao servicos a ser prestados na
Igreja: ler ñas funcóes litúrgicas e acolitar no culto sagrado.
Donde os nomes respectivos: «ministerio da Palavra» e «mi
nisterio do altar».
Tais ministerios poderSo ser confiados a leigos, ou seja, a
pessoas que nao aspirem á Ordem sacerdotal. Deverao ser
conferidos a todos os aspirantes as Ordens sacras.

Todos os que tiverem recebido esses ministerios, deveráo


exercé-los; nao seráo títulos nem meras reminiscencias do pas-
sado.
3. O leitorado e acolitado seráo conferidos por um bispo
ou por um «Superior Maior» de Ordem clerical (Abade bene-
ditino, Provincial...). Ao rito de colagáo desses ministerios
se dará o nome de «Instituicáo», e nao o de «ordenagáo».
4. As funcóes de leitor sao assim explicitadas p3la Carta
«Ministeria quaedam»:

"O Leitor é Instituido para a funcSo que Ihe é próprla:' ler a Palavra de
Deus ñas assemblélas litúrgicas. Por Isso mesmo na Mlssa e nos demals atos
sagrados, competlr-lhe-á fazer as lelturas da S. Escritura (á excecfio, porém,
■tío Evangelho); na falta do salmista, será ele também quem recitará o salmo
.entre as lelturas; ademáis apresentará as IntencSes da oracSo universal dos
fióla, quando nSo houver diácono ou cantor á dlsposIcSo. Cabe-lhe aínda
dirigir o canto e orientar a partielpaeSo do povo fiel e Instruir os fiéis em

— 483 —
8 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 1S5/1972

vista de urna recepcSo digna dos sacramentos. Poderá, além disto, na medida
em que for necessárlq, ocupar-se da preparacSo de outros fiéis, os quals,
por encargo temporario, devem ler a S. Escritura nos atos sagrados" (§ V).

Quanto ao acólito, exercerá as seguintes tarefas, segun


do o mesmo documento:

"O acólito é instituido para ajudar o diácono e para ministrar ao sacer


dote. É sua tarefa, portento: cuidar do servlco do altar, auxiliar o diácono e o
sacerdote nos atos litúrgicos, sobretodo na celebracáo da S. Mlssa; distribuir,
como ministro extraordinario, a S. ComunhSo nos seguintes casos: todas as
vezes qe os ministros de que se trata no can. 845 do Código de Dlrelto Ca
nónico, faltarem ou nao o puderem fazer por motivo de doenca, de idade
avancada ou de exigencias do ministerio pastoral; todas as vezes que o
número dos fiéis que se aproximara da Sagrada Mesa, é tSo elevado que
pos3a vlr a ocasionar urna demora demasiada da Mlssa. Pode-lhe ser con
fiado, aínda, em circunstancias extraordinarias o expor publicamente o SS.
Sacramento á adoracSo dos fiéis e depols fazer a respectiva reposicio; nSo
pode, porém, dar a béncáo ao povo. Na medida em que for necessário, po
derá também cuidar da Instrugáo de outros fiéis que, por um encargo tempo
rario, devem ajudar o diácono ou o sacerdote nos atos litúrgicos — transpor
tando o missal, a cruz, as velas etc., ou exercendo outras funcSes deste
tipo" {§ VI).

5. As Conferencias de Bispos de alguma regiáo, caso o


julguem oportuno, poderáo pedir á Santa Sé a rntrodugáo de
outros ministerios em seus territorios diocesanos: assim poderá
haver o ministerio de catequista, de dispensador das obras de
caridáde, ñe ostiario (ou porteiro), de exorcista...
6. A ordem de subdiácono seja tida como extinta tam
bém a partir de 1« de Janeiro de 1973, ficando doravante as
suas funcóes a cargo dos acólitos. Donde se segué que as
Ordens sacras ou o sacramento da Ordem compreenderáo ape
nas os graus do diaconato, do presbiterado e do episcopado.
7. É neste contexto que a Carta «Ministeria quaedam»
apresenta a passagem: «A instituicáo de leitor e de acólito,
em confiotrmitfoíto dom a veraerável tradicáo da Igreja, é reser
vada aos varees» (§ VII).

Este texto nada inova: segundo o clássico costume da Igre


ja, os ministerios litúrgicos sempre foram destinados aos ho-
mens apenas (com excecáo do caso das diaconisas, de que fa-
laremos á pg. 492). A Igreja reafirmou isto no inciso ácima,
pois últimamente se tém ouvido vozes em favor da participa-
cáo das mulheres ñas Ordens sacras ou nos ministerios eclesi
ásticos; Paulo VI nao julgou oportuno por ora atender a tais
solicitagóes. A rigor, as páginas bíblicas e a teología nao se
opóem a que a mulher exerga ministerio ou servicos até hoje

— 484 —
MULHERES E SERVIDOS NA IGREJA 9

reservados aos homens na Igreja (exporemos mais explícita


mente o assunto 'as pp. 487-494 deste fascículo).
A determinagáo de Paulo VT nao excluí que as mulhe-
res continuem a exercer as fungóes de ler trechos da Biblia,
comentar a S. Missa e dirigir a assembléia dos fiéis..., que
últimamente elas~vém praticando. Poderáo fazé-lo tranquila
mente a convite do pároco ou dos responsáveis pela liturgia
de determinada coiramidade. — A diferenga em relacáo aos
homens é que exerceráo essas fungóes sem instituigáo confe
rida pelo bispo e sem título jurídico — o que nao quer dizer
que nao teráo a assisténcia do Espirito Santo para se desem-
penhar frutuosamente de tais tarefas.

Para evitar qualquer equívoco a propósito, note-se aínda:


A Santa Sé nao pretende vedar o acesso das mulheres a
fungóes de rasponsabilidade na Igreja. Ficam de pé, pois, os en
cargos das Ministras da S. Eucaristía (encarregadas de distri
buir a S. Comunháo), o das Religiosas postas á frente de pa-
róquias (onde dáo todo o atendimento, menos a celebragáo da
Missa, do sacramento da Confissáo e outras fungóes estrita-
mente sacerdotais); existem também mulheres coordenadoras
da catequese em paróquias ou mesmo em dioceses. Algumas
fazem parte do Conselho Pastoral de determinadas dioceses.
Note-se igualmente que nos últimos tempos a Santa Sé tem
mais e mais solicitado a colaboragáo especial de mulheres: hou-
ve-as como observadoras no Concilio do Vaticano II, assim co
mo as há em diversas comissóes internacionais constituidas
pelo Vaticano para atender a assuntos do momento («Justiga
e Paz», Laicato Católico...). Em 1970, o S. Padre houve por
bem declarar Doutoras da Igreja as santas Teresa de Ávila .e
Catarina de Sena, abrindo assim um precedente de todo iné
dito na historia da Igreja. — Alias, o Papa Joáo XXm, em
sua encíclica «Pacem in terris» (1963, n." 41-43), observava
que um dos sinais dos nossos tempos é «a entrada da mulher
na vida pública, entrada mais rápida talvez entre os póvos de
civilizagáo crista, mais lenta, mas sempre de modo ampio, em
meio las outras tradigóes e culturas».

Passemos agora a Carta Apostólica «Ad pascendum»:

2.2. Sobre o diaconato

O diaconato sempre foi tido como ministerio de relevo na


Igreja. Sao Paulo, na carta aos Filipenses, saúda nao só os
bispos, mas também os diáconos (1,1), e a Timoteo descreve

— 485 —
^0 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972

solícitamente as virtudes características do diácono (cf. 1 Tim


3,8-13).
Os diáconos, como diáconos, exerceram fungóes benemé
ritas durante sáculos, servindo tanto ao altar como ao susten
to material de seus irmáos. Na Made Media, porém, foi-se ex-
tinguindo o diaconato permanente; os diáconos eram ordenados
para receber oportunamente o presbiterado. Ora o Concilio
do Vaticano n resolveu restaurar o diaconato como fomcáo per
manente. Já aos 18/VI/1967 Paulo VI publicou normas rela
tivas a tal Ordem, determinando, entre outras coisas, que os
candidatos ao diaconato paderiam ser escolhidos entre homens
casados de bom renome; urna vez ordenado, porém, o diácono
celibatário perdería o direito de se casar; o diácono que enviu-
vasse, deveria abster-se de segundas nupcias. A Carta Apostó
lica «Ad pascendum» de 15/VII/72 vem completar as normas
anteriores nos seguintes termos:

1. Dado que foi extinta a Primeira Tonsura, cria-se um


rito para a admissáo dos candidatos ao estado clerical, ou se-
ja, ao estado dos diáconos e presbíteros.

2. Institui-se, antes da ordenacüo diaconal, um ato pú


blico e ritual obligatorio para os candidatos ao diaconato nao
casados: tal ato litúrgico é «a consagracáo do celibato observa
do por causa do reino dos céus». A Igreja assim intenciona
dar relevo ao celibato dos ministros do altar.
3. O diaconato incardina o candidato (do clero secular)
em determinada diocese. O que quer dizer: ninguém é orde
nado independentemente da benevolencia e da responsabilida-
de de um bispo.
4. O diaconato obriga o candidato ao sacerdocio a cele
brar a Liturgia das Horas (antigamente chamada «Brevia
rio»). Os diáconos permanentes sao incitados a recitar todos
os dias ao menos urna parte da Liturgia das Horas a ser de
terminada pela Conferencia Episcopal.
5. Os diáconos chamados ao sacerdocio nao seráo orde
nados sem ter completado primeiramente o curso de estudos
definido pela Santa Sé.

Quanto aos diáconos permanentes, faráo os estudos teoló


gicos programados pela Conferencia dos Bispos do respectivo
país, levando-se em conta as circunstancias próprias da regiáo.
Tais programas de estudos deveráo receber a aprovagáo da S.
Congregagáo para a Educacáo Católica (Roma).

— 486 —
MULHERES E SERVIDOS NA IGREJA 11

Sao estas as principáis normas emanadas da S. Sé para re-


gulamentar a ordenacáo de diáconos.
As disposigóes das duas Cartas Apostólicas concernentes
respectivamente aos ministerios e ao diaconato entraráo em
vigor a partir de 1.» de Janeiro de 1973.
Como se vé, no documento papal referente ao diaconato
nao se extingue o celibato dos presbíteros que no sáculo XII se
tornou lei universal da Igreja (tabú de 800 anos?). O que se
admite, é que homens já casados recebam o diaconato; o diá
cono, porém, nao casado ou viúvo nao pode casar-se. Nesse
mesmo documento nao há mengáo de ordenacjáo de mulheres,
mas é mantida a praxe tradicional de reservar o sacramento
da Ordem aos homens. Pergunta-se entáo: poderia um dia a
Igreja vir a conferir o diaconato ou o presbiterato ás mulheres?
Tenemos mulheres sacerdotizas ?
A tais perguntas nao se pode dar resposta definitiva, mas
apenas sugerir dados que ajudaráo o leitor a formar seu juízo
sobre o assunto. É o que vamos fazer a seguir.

3. A mulher e a ordenac.ao sacerdotal

1. Nos últimos anos tem sido proposta ás autoridades da


Igreja, com insistencia crescente, a perspectiva de se conferir
a ordenagáo sacerdotal a pessoas do sexo feminino. O Sínodo
Mundial dos Bispos, reunido em Roma nos meses de outubro/
novembro 1971, recebeu peticces favoráveis a essa abertura;
provinham de grupos de senhoras ou de associagóes feminlnas
que encontravam em numerosos livros, opúsculos, artigos e ma-
nifestos a inspiragáo para redigirem a sua argumentacáo.

2. A título de ilustracáo, pode-se citar o seguinte episo


dio: em abril de 1971, os bispos do Canadá estavam reunidos
em Ottawa, realizando a sua assembléia anual, quando simul
táneamente na mesma cidade ocorria um Congresso das mu
lheres da «Canadian Catholic Conference». Esses encontros
possibilitaram um intercambio entre bispos e senhoras sobre
o estatuto da mulher na Igreja: 65 bispos e 60 mulheres par-
ticiparam das conversacóes. Estas terminaram com a apresen-
tacáo de cinco votos aos bispos do Canadá por parte das mu
lheres:
1) Declarassem os bispos, de maneira nítida e sem equí
voco, que as mulheres sao, na Igreja, membros dotados dos
mesmos direitos e das mesmas responsabilidades que os homens.

— 487 —
f12 . - ■ ■ - «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972

" 2) Entregássem ao próximo Sínodo dos Bispos urna peti-


gáo enérgica para que sejam abolidas todas as discriminagóes
-do Direito Canónico e da Tradigáo no tocante aos direitos dos
homeris e das mulheres na Igreja.
3) Consagrassem aos ministerios da Igreja mulheres aptas
, para tais fungóes.
4) Empenhassem seus melhores esforgos para que mu
lheres qualificadas passassem a integrar as diversas comissóes
e organizagóes de trabalho da Igreja.

5) Promulgassem disposigóes práticas para que os pres


bíteros, ñas suas atitudes frente as mulheres, á sexualidade e
ao casamento, reconhegam os direitos e as prerrogativas pró-
prias da mulher.
, Esses votos foram aceites pelos bispos canarienses, que
,se declararan* dispostos a representar tais aspiragóes no Síno
do Mundial dos Bispos em 1971. Apenas um bispo recusou as
mogóes feministas: o bispo auxiliar da eparquía ucraniana de
Toronto, que afirmava ser o lar o lugar próprio da mulher.
Semelhantes movimentós tém-se registrado em países da
Europa setentrional. Seja mencionado añida o Concilio Pasto
ral Holandés. Em Janeiro de 1970 esta assembléia se pronunciou
sobre a seguinte proposigáo: «É importante que a mulher seja,
sem demora, chamada a todas as fungóes eclesiais, desde que
a sua nomeacáo nao acarreto dificuldades. A evolugáo dos fa-
■ tos deveria orientar-ae no sentido de que a mulher possa de-
sempenhar todas as fungóes eclesiais, inclusive a celebragáo
• da Eucaristía». Na votagáo respectiva, registraram-se: 72 vo
tos- favoráveis á proposigáo (incluido o voto do, bispo D. E.
Ernst, de Breda); 12 votos contrarios (entre os quais o de tres
' "bispos e o do Cardeal Alfrink); 24 abstengóes (atitude com-
partilhada por tres bispos).

■ :: 3; E quais seriam as razóes aduzidas em favor da ordena-


r.gao sacerdotal das mulheres?

— Em suma, fazem apelo á nova concepgáo da mulher


que as condigóes sociológicas de nossos tempos vém mais e mais
incutindo. Estamos vivendo a época da emancipagáo da mu
lher; a esta, pois, devem-se atribuir direitos iguais aos dos ho-
mensj por que entáo conservar as discriminagoes no setor das
-fungóes eclesiásticas? Excluir destas a mulher significaría rea
firmar a desconfianga na Igreja em relagáo ao sexo feminino;
•Seria um antifeminismo incompreensível.

— 488 —
MÜLHERES E SERVIDOS NA IGREJA 18

Em termos positivos, há quem aponte para a profunda ca-


pacidade que a mulher tem, áe assimilar e exprimir os valores
religiosos. Nao cometería injustiga o legislador que a quisesse
.impedir de participar intimamente do sacerdocio que Cristo
exerce mediante a -Igreja? Nao estaría defendendo um injus
tificado primado ou monopolio do homem frente á mulher ?

4. A tal argumentagáo autores de nomeada respondem


propondo as seguintes ponderagóes:

. a) A Igreja nao ignora nem menospreza a igualdade de


direitos do homem e da mulher. A Biblia a incute desde a sua
primeira página, quando relata a origem do homem e da mu
lher (cf. Gen 1-2). Foi mesmo a Igreja que, movida pela men-
sagem ido Evangeího, propugnou a dignidade da mulher, vili
pendiada pelo mundo pré-cristáo; de maneira especial, a Igre
ja'inspirou-se ñas páginas de S. Lucas concernentes a María
SS., Isabel, Ana a viúva, Marta e María, as mulheres que acom-
panhavam e sustentavam Jesús em suas viagens missianárias, as
santas mulheres que prantearam Jesús ao carregar a cruz, ás
mulheres «evangelistas» ou portadoras da Boa-Nova da res-
surreicáo para os Apostólos. Sao Paulo, inspirándose nos en-
sinamentos do Mestre, dizia: «Em Cristo nao há nem homem
nem inülher» (Gal 3,28), isto é, em Cristo desaparecen! todas
as discriminacóes legalistas que poderiam vigorar outrora en
tre, o homem e a mulher. É, pois, profundamente cristáo afir
mar que o homem e a mulher gozam dos mesmos direitos fun
damentáis decorrentes da posse da mesma natureza humana;
merecem igualmente todo o respeito que se deve ao ser hu
mano como tal.
Tornados cristáos, o homem e a mulher gozam da mes-
:ma filiacáo divina e da mesma vocagáo á santidade. Por isto
■sao corresponsáveis na Igreja pela estensáo e consumacáo do
Reino de Cristo. O Concilio do Vaticano H o reafirmou recen-
temente em mais de urna passagem (tenha-se em vista, por
exemplo, a Constituigáo «Lumen Gentium» nn. 31-33).
A Igreja também nao ignora a profunda sensibilidade re
ligiosa e a imensa riqueza espiritual da mulher. Toda a histo
ria da Igreja dá testemunho da luz, do amor e da santidade que
ida mulher se irradiaram sobre todo o povo de Deus. Sejam
lembradas de modo especial cartas figuras femininas que orien-
taram ou desencadearam movimentos ou escolas de vida e es-
piritualidade cristas através dos sáculos: S. Brígida, S. Cata-
. riña de Sena, S. Teresa de Ávila, S. Francisca de Chanta], S.
Ángela Merid...

— 489 —
14 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972

Por conseguinte, nao é por desconhecer ou menosprezar


á índole e os predicados valiosos da muiher que a Igreja re
serva o sacramento da Ordem aos homens.
b) Acontece, porém, que a Igreja julga dever encarar a
questáo á luz da Palavra de Deus, que fala através da Escritu
ra e da Tradigáo crista.

Ora na Escritura verifica-se que Jesús nao conferiu as mu-


Iheres o mandato que Ele conferiu aos Apostólos, embora o
Senhor tivesse entre os seus seguidores xnulheres dotadas de
elevados predicados. Recentemente a pastora protestante nor
te-americana Elsie Gibson escreveu sobre o ministerio das mu-
lheres ñas comunidades evangélicas dos EE. UU.: formulou
entáo a hipótese de que, entre os setenta discípulos enviados
por Jesús em missáo, havia mulheres; acrescenta mesmo: «Por
que nao haveria, entre eles, casáis destinados a tal tarefa ?»
Esta interrogacáo parece recolocar nos tempos de Cristo as
condicóes vigentes atualmente em algumas comunidades ecle-
siais protestantes. Na verdade, S. Lucas distingue entre as mu
lheres que serviam ou ministravam a Jesús e aos doze com
os seus bens, e os «discípulos», homens que haveriam de rece
bar especial mandato (cf. Le 8,1-3).
Inspirando a certas mulheres que o seguissem, Jesús ma-
nifestou a intencáo de assinalar á muiher urna funcáo no de-
senvolvimento, da Igreja; nao pretendía confinar a muiher nos
termos de sua vida particular de esposa e máe. Parece, porém,
nao menos evidente que Ele quis atribuir á muiher um papel
diverso do que Ele conferiu aos Apostólos, ou seja, urna fungáo
distinta do ministerio sacerdotal.

c) Dirá todavía alguém: Jesús, procedendo como proce-


deu, nao fez senáo adaptar-se á mentalidade do seu tempo;
deixou de atribuir as mulheres urna funcáo que naquela épo
ca teria suscitado incompreensáo, visto que os judeus nao eram
prontos a aceitar a pregacáo de urna muiher. — É difícil crer
que, neste particular, Jesús se tenha adaptado simplesmente
aos costumes da sua gente: de maneira geral, o Senhor nao
receava contrariar os preconceitos e os hábitos que lhe pare-
cessem falhos; assim Ele se opds aos homens que, em nome
das leis israelitas, queriam condenar a muiher adúltera (cf. Jo
8,3-11); defendeu María de Betania que o ungiu, mas foi cri
ticada (cf. Jo 12, 7s); louvou a pecadora aroependida que mos-
trou mais amor do que Simáo o fariseu (cf. Le 7,36-50); fez
da muiher samaritana a sua mensageira junto aos homens da
aldeia (cf. Jo 4, 39-42); quando ressuscitou, manifestou-se pri-

— 490 —
MULHERES E SERVICOS NA IGREJA 15

meiramente a María Madalena antes de aparecer aos Apostó


los e confiou & mulher o encargo de anunciar a Boa-Nova aos
Apostólos (cf. Jo 20,11-18). Jesús sabia que o testemunho de
María Madalena e de suas companheiras haveria de ser tido
como desvario (cf. Le 24,11); todavía conscientemente esco-
lheu a mulher para urna funcáo que haveria de ser comemo-
rada no Evangelho através dos seculos. — Estes dados levam
a crer ¡que Jesús, rompendo com preconceitos momentáneos,
quis assinalar á mulher nao um papel secundario, mas urna
fttncáo essencial na instauragáo do g»u reino. Tal funcáo, pc¿
rém, nao é o ministerio sacerdotal. Foi aos Apostólos que Jesús
confiou a sua missáo e as suas facuidades: «Foi-me dado todo
o poder no céu e na térra. Ide, pois, e ensinai todas as nagóes,
batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo;
ensinai-as a cumprir tudo quanto vos tsnho mandado. E eu es-
tarei convosco até a consumacáo dos sáculos» (cf. Mt 28,18-20).
O papel atribuido ás mulheres por ocasiáo da ressurreicáo de
Cristo nao pode ser invocado para diminuir a forca destas pa-
lavras de Cristo aos Apostólos: María Madalena foi encarre-
gada de transmitir a mensagem aos Apostólos — o que leva
a crer que estes constituiam a autoridade responsável por ex
celencia.
d) Autoridade responsável... Esta expressáo deve ser,
antes do mais, tida como sinónima de «servigo humilde e desa
pegado de egoísmo». Nao se fale, pois, de superioridade dos
homens em relacáo ás mulheres na edificacáo da Igreja; mas
fale-se de oomptementariedade... complementariedade que su-
póe diversidade de funcóes.

Essa complementariedade é necessária: os Apostólos tive


ram que receber a mensagem transmitida pelas mulheres, a
fim de tornar-se, por sua vez, testemunhas da ressurreicáo;
as mulheres tiveram que comunicar a mensagem aos Apóstelos
para que fosse difundida com autoridade. Isto bem pode signi
ficar que o ministerio sacerdotal dos homens terá sempre ne-
cessidade da mulher para cumprir a sua missáo e que a mu
lher precisará sempre do ministerio dos presbíteros exerddo
em nome de Cristo. Todo prurrido de vá gloria masculina se
dissipa, desde que se tenha presente tal fato: as mulheres, mais
fiéis a Cristo durante a sua Paixáo, mais capazes de acolher
o Ressuscitado, foram escolhidas em primeiro lugar para di
fundir a Boa-Nova, Este fato ilustra a condicáo permanente
do desenvolvimento da Igreja: dentro da mesma natureza hu
mana fundamental do varáo e da mulher, há diversidade de

— 491 —
16 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 165/1972

dons (naturais e sobrenaturais) que, devidamente respeitados,


se devem exercer em complementariedade harmoniosa.
O designio de Cristo que assim se depreeride das páginas
do Evangelho, nao parece ser mera concessáo feita & menta
lidade dos antigos pouco favoráyel a mulher, como notamos;
Cristo contradisse a essa mentalidade sempre que julgoa opor
tuno fazé-lo.
e) A Tradigáo constante da Ignsja compreendeu as inten-
góes de Cristo no sentido ácima. Ela atribuiu as mulheres fun-
góes ou ministerios que tiveram o nome de «diaconias»; donde
se derivou o nome de «mulheres diaconisas». Tais fungóes eram:

— a instrueáo religiosa, a preparagáo dos catecúmenos


para o batismo;
— a visita as mulheres enfermas, a quem as diaconisas
levavam a S. Comunháo e impunham as máos;
— a assisténda as mulheres durante o batismo, a acolhi-
da das mulheres as portas do templo sagrado; o papel de intér^
mediárias entre as demais mulheres e o bispo que se encon-
trassem em coloquio;
— o canto litúrgico.

As diaconisas, alias, só foram instituidas ñas comunidades


cristas do Oriente; nao as houve nem no Egito nem no Ociden-
te. Tal instituigáo foi desaparecendo do cenário da Igreja a paf¿
tír do sáculo V, pois a sua fungáo principal, que era a de pres-r
tar assisténda ao batismo das mulheres, deixou de ssr necessá-
ria (o batismo foi sendo administrado por infusáo da águá so
bre a pele da crianga, e nao mais por imersáo dentro da água)V
Os autores notam que o diaconato das mulheres na anti-
güidade poderla ser equiparado as Ordens menores dadas, du
rante sáculos, aos candidatos masculinos (porteiro, leitor,
exordsta, acólito). Nao equivaleria ao diaconato, que constituí
o primeiro grau do sacramento da Ordem. Os documentos da
Igreja antiga faziam questáo de distinguir claramente as fun-
góes das diaconisas das do ministerio sacerdotal. Assim, por
exemplo, rezam as «Constituigóes Apostólicas» (séc. IV):

"A dlaconisa nSo abencoa, nem realiza algo do que fazem os presbí
teros e os diáconos; mas vigía as portas e asslste aos presbíteros quando
batlzam por motivos de conveniencia" ("Epitome Constltutlonum Apostólica-
ruin" 19,5; ed. Funk, p. 84).

Em conseqüéncia de quanto acaba de ser dito, conduem


bons autores: pbde-se hoje pensar em atribuir as mulheres-nuy

— 492 —
MULHERES E SERVICOS NA IGREJA 17,

merosas e importantes fungóes na vida da Igreja; o sacramen


to da Ordem, porém, fíca reservado aos homens.
5. Em última análise, é á autoridade da Igreja que com
pete dirimir as dúvidas nesse setor. Desde que o Espirito faga
ver á Igreja outras vias e perspectivas que nao as tradicionais
hesite campo, é céfto que o Sumo Pontífice modificará as de-
terminagóes que até agora vigoraram na Igreja e foram recen*
temente confirmadas pelas Cartas Apostólicas de 15/vm/72.

Bibliografía:

J. Galot, "L'acesso della donna al mlnlsteri della Chlesa", em "La Clvllta


Cattollca" 123/2926, 20/V/1972, pp. 317-329.
P. R. Morettl, "II sacerdozlo e la donna", em "Consacrazlone e Ser
virlo" XX, malo 1971, pp. 265-275. • - *
R. van Eyden, "La femme dans les fonctlons llturglques", em "Conct-
llum" n? 72, pp. 53-76.

E. Gossmann, "La femme-prétre?", ern "Conclllum" n? 34, pp. 103112.


J. Petare, "La femme et le minlstére dans l'Église", em "Conclllum"
n? 34, pp. 113-123. •
J. Sonnemans, "Vers l'ordlnatlon des femmes?", em "Splrllus" 1966.
pp. 403-422.
■ ' ■ H. van der Meer, "Prlestertum der Frau ". Freiburg |/Br. 1963.
"La femme et le sacerdoce", em IDOC Internacional rr? 20 (15/111/1970^
pp. 49-60.

APÉNDICE

Em confirmagáo do que acaba de ser exposto, traduzimos


e transcrevemos aqui a palavra do jornal do Vaticano «L'Osser-
vatore Romano» (ed. francesa de 13/X/1972, p. 12):

ESCLARECIMENTOS A RESPEITO DO MOTU PROPRIO


"MINISTERIA QUAEDAM"

Apresentando aos leitores as duas recentes Cartas Apos


tólicas "Ministeria quaedam" e "Ad pascendum",... certos
órgaos da imprensa de diversos países publicaram comentarios
desfavoráveis á norma n° Vil do Motu proprio "Minlsteria
quaedam", ou seja, á norma que reserva aos homens a insti-
tuigao de Leitor e de Acólito.

' — 493 —
18 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972

A propósito convém observar que o Motu Proprio "Minls-


teria quaedam" abriu aos leigos o acesso desses ministerios
que eram outrora, como Ordens menores, reservados aos clé
rigos. Quanto ao exercício, por parte das mulheres, de certas
funcdes na liturgia, o Motu Proprio nao tencionou inovar coisa
alguma, mas manteve-se fiel ás normas vigentes até agora.
De resto, nao teria sido oportuno antecipar ou julgar desde
]á o que poderá ser decidido ulteriormente depois do estudo
da participagao das mulheres na vida comunitaria da Igreja;
tal estudo foi desejado por alguns Bispos no decorrer do
Sínodo de 1971.
é por isto... que nada impede que as mulheres continuem
a ser encarregadas de leituras públicas durante as celebracóes
litúrgicas, como, alias, elas já fazem desde alguns anos, con
forme as disposicSes da "Instituigao Geral do novo Missal
Romano" promulgada aos 3 de abril de 1969. Nao ó, pois,
necessárlo para esse sen/ico estabelecer urna investidura for
mal e canónica da parte do Bispo.
Da mesma forma, em virtude das normas vigentes, os
Bispos tém sempre a faculdade de pedir á Santa Sé urna auto-
rlzagáo para que as mulheres possam, na qualidade de mi
nistros extraordinarios, distribuir a Santa Comunhao.
Eis o sentido muito preciso da norma n<? Vil do Motu
Proprio "Minlsteria quaedam".

— 494 —
Há quem debata:

prostituido legal?

Em sfnteae: A prostltulcfio ou a entrega que a mulher faz de si em


troca de dinhelro, vem-se alastrando no mundo Inteiro. Assume mésmo for
mas cada vez mals requintadas, que atlngem até pessoas de nivel social um
tanto elevado. A vista do fenómeno, há quem se Ihe mostré indiferente ou
mesmo quem julgue dever pleitear a sua oflclalizacfio e regulamenfacfio por
parte dos governos clvls.
Na verdade, a prostitulcfio é urna aberracfio: em nfio poucos casos
supSe carencia afetlva da jovem na infancia ou na adolescencia; supfie, em
outros casos, baixo nivel económico, transformacSes soclals, decadencia
moral... O sexo é Inseparável do amor, que ele pode exprimir depois que
o amor se tenha identificado e concretlzado num contrato de vida a dols;
sexo sem amor ou fora do amor conjugal Já nfio é humano, mas algo de
cegó e degradante.
Por isto a conscléncla crista preconiza o combate ás causas do fenó
meno da prostltulcfio: haja elevagfio do nivel cultural e proflsslonal da
mulher a flm de que ela possa trabalhar e, conseqüentemente, ganhar seu
pfio com honestldade. Haja respelto, ordem e dignldade ñas familias. Inten-
siflque-se o combate & miseria e aos tugurios ou ás favelas.
As prostitutas slo recuperávels para a socledade, desde que se Ihe*
dlspensem benevolencia e paciencia. Procurem os assistentes socials com-
preatider a psicología de tais pessoas, a flm de ajudá-las a se firmaren)
huma vida semelhante á das outras mulheres; ó preciso dizer-lhes eloqüente-
mente que elas tem valores e que podem ocupar lugar valioso no con»
junto da socledade.

Comentario: Vai-se difundindo cada vez mais o fenómeno


da prostituicáo. Numerosos inquéritos sobre a realidade e a
vida das pessoas atingidas pelo fenómeno tem suscitado co
mentarios e estudos diversos sobre o assunto. Há mesmo quem
pleiteie a legalizacáo ou o reconhecimento dos prostíbulos e da
profissáo respectiva.
Ñas páginas que se seguem, procuraremos desenvolver
algumas reflexóes sobre a problemática assim esboeada1.

10 leitor compreenderá que nfio será posslvel evitar certas constata-


cSes realistas, sem as quals a abordagem do assunto poderla ser tlda como
slmplórla ou Inútil.
A propósito Já publicamos um artigo em PR 64/1963, pp. 165-172.

— 495 _
20 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» .156/1972 ., •-

1. De que se trata propriamente ?

1. A palavra «prostituir» vem do verbo latino «prostítue--


re», que significa «colocar diante, expor»; déla se deriva «pros
tituta (s)» para designar as cortesas de Roma que se coloca-
vam á entrada das casas de devassidáo.
Existem muitas definigóes de «prostituigáo» tanto no Dl-
reitp como na Moral. Pode-se dizer que é a «entrega de si me-
diatite pagamento»; é úma das formas mais impressioriantes
de relacionamento sexual fora do matrimonio, pois é movida,
antes do mais, pela perspectiva de ganhar dinheiro. Deve-se
dizer,-porém, que a responsabilidade da prostituigáo nao recaí
apenas (e nem sempre em primeiro lugar) sobre a muiheí,
mas; sim, também -sobre aqueles que exploram á mulher, co-
)nb sejam os chamados «proxenetas». Este nome, difícil de sé
definhy designa a pessoa que

■••• ' — favorece ou defende a.prostituigáo de outrem;


— reparte os rendimentos da prostituigáo alheia;
,", ■ — coabita com quem habitualmente se entrega á prosr
". .'-.• tituigáo;
1 — entrava a agáo preventiva contra a prostituicáo ou a
reeducagáo ,de quem desta precise.
L>..'.\ i; r:,3 -';•.«■■• .•■;'...
2. As formas que a prostituicáo assume, tém-se multiplU
caído: éxistem as mulheres que se colocam nás calcadas das rúas,
a,espera do «cliente», fazendo ó possível para atraí-lo, como
também há as" que se encontram em albergues e motéis
como serventes; há as que, vivendo em nivel cultural um pou-
co superior, constituem um pequeño «estudio», tém seus te
lefones e sua «agenda» com nomes e enderegos de clientes «ha
bitúes»; há as que vivem em equipe com outras, servindo-se
de;urna intermediaria, cuja fungáo é enviar-lhes o cliente que
tenha escolhido tal ou tal mulher por causa da fotografía res
pectiva. - -•.
Além das «profissionais» (de modesto e de elevado estilo),
existem as ocasionáis, que procuram dissimular a sua vida pri
vada, tentando nao se diferenciar das outras mulheres. Nao
poucas délas contam com um homem que as sustenta habitual;
mente, pagando-lhe as despesas e compensando-se do séu mo
do. Nao raro a mulher senté necessidade de um tal homem,
que a apoie, sustente e defenda ñas «complicagóes» da vida:
ela o ama e o teme ao mesmo tempo; esse homem «sustenta
dor» a protege, mas também pode chegar a espancá-la.

— 496 —
PROSTITUIDO LEGAL? ._ 21

. Observa o Dr. Petiziol:

"Ela (a prostituta) senté a necessldade de ser explorada e humllhada.


Ele (o sustentador), movido pela Imaturldade, senté a'tendencia a se pre|u*
dicara si' mesmo e a ser Iludido. A prostituta aceita com certo prazer a tira
nía «jo seu homem, que a Insulta e espanca. O relacionamento que se estabe-
lece entre os dols, toma-se posslvel pelo fato de que a agressividade sádica
do sustentador encontra um terreno extremamente favorável ñas tendencias
masoqulstas da prostituta... De outra parte, a HusSo de estar sendo prote
gida facilita a tendencia déla a se sacrificar pelo seu sustentador... Estar
protegido significa sentlr-se amado. Na prostituta, urna tal sltüacSo enche" o
seu vazlo .afetlvo" (extraído da revista francesa "Ecclesia" n? 280, julho-agosto
1972, p. 28).

" Saberse qué há verdadeiras redes de proxenetas, prosti


tutas; intermediarias, donos de albergues e hoteis, que exploram
á prostituigáp, fazendo déla um comercio altamente lucrativo;
müitos adquiriram, por esta via, elevadas quantias. O Rio de
Janeiro é urna das cidades do mundo mais adiantadas em prós-
tituicáo, que ai se pratica nao somente em zonas mal freqüen-
tadas, mas também em bairros finos: cinco orgañizacóes, com
apartamentos, fichários, telefones, «madamés» na chefia res
pectiva, fundonam eficazmente na «Cidade Maravilhosa». Em
Hamburgo (Alemanha), existe o «Eros-Center», onde residen)
e funcionam 136 prostitutas, proporcionando ao proprietárió
da empresa ganhos notorios. Em 1948 (verdade é que já há
muito), Kinsey afirmava que 69% da populagáo masculina
branca dos EE. UU. recorría as prostitutas; mas acrescenta-
ya: «Um grande número desses machos só teve urna ou duas
experiencias (com mulher) e nao mais do que 15 a 20% den-
tre eles só tiveram tais relagóes cinco vezes, ao máximo, por
ano, no decorrer de cinco anos de sua vida» (extraído de «Ecle-
sia» n.« citado, p. ¿9).
•3. Entre as causas que motivam e favorecem a prosti-
tuicáo, podem-se apontar:

a) Fatores socio-económicos

Sabe-se que a prostituigáo se alastra quando as popula-


coes crescem mais rápidamente do qoie as oportunidades de
empregoou de ganha-páo. Sabe-se também que é dais classes
pobres- quenprocede o maior número de prostitutas e que se en-
Ixegam ao vicio mais fácilmente as operarlas nao qualifícádas
do que as qualificadas. -:
Observa-se outrossim que a prostituigáo é estimulada pe
los grandes desequilibrios sociais, como sao

— 497 —
22 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972

— as guerras, com as suas bruscas transformacóes eco


nómicas (inflagáo, penuria de víveres e 'habitagóes...) e so-
ciais (destacamento de populagóes);
— as rápidas mudangas de estnituras e valores tradido-
nais (como se deram no Japáo, por exemplo, após a guerra
de 1939-45),.

Grande número de prostitutas vem de familias destroca


das pelos flagelos públicos; provém principalmente dos lares
onde faltou o pai e onde a instrucáo se tornou muito precaria
ou mesmo nula.
Muitas vezes, jovens que deixam o torráo natal e a vida
rural para ir ao encalco de emprego ñas grandes cidades, se
véem vitimas da miseria e, na impossibilidade de sobreviver
honestamente, passam a ganhar o pao pela prática do vicio.
Da mesma forma, numerosas jovens do campo, passandq a vi-
ver ñas cidades, fácilmente se deixam arrastar pelo caminho
da devassidáo.
Pode-se apontar aqui no Brasil também como fator de
prostituigáo a falta de legislacáo social para a categoría de
empregadas domésticas. Estas, deixando o interior para tra-
balhar ñas grandes cidades sem garantía jurídica, sao muitas
vezes sujeitag a exploracáo desumana.
As novas modalidades da prostituicáo — de estilo requin
tado ou de tipo ocasional — devem-se as «exigencias» da so-
ciedade de consumo: pessoas que trabalham, qiierem comple
tar a sua receita mediante a entrega de si mesmas; outras, sub-
jugadas pelos padrees de vida de certos ambientes, nao resls-
tem aos atrativos do dinheiro, que lhes permitirá comprar rou-
pa nova, adornos, e prover-se de certo conforto; também as
máes solteiras precisam de atender, por meios extraordinarios,
ao sustento de seu(s) filho(s). O uso da pilula e de outros an-
ticoncepcionais abre o caminho fácil a esse tipo de receituário
económico.

b) Fatores psicológicos

Verifíca-se 'haver estnituras psicológicas que predispSem


urna mulher á prostituigáo: devem-se geralmente a carénelas
afetivas que marquem a infancia e a adolescencia da pessoa.
As neuroses e o alcoolismo também desempenham papel
importante no desenvolvimento do vicio. Em bom número de
casos, trata-se de mulheres oligofrénicas.

— 498 —
PROSTITUIQAO LEGAL? 23

Sao essas causas psicológicas que explicam a persistencia


do fenómeno da prostituigáo. Esta nem sempre desaparece
quando a mulher é promovida j a tendencia ao vicio da prosti
tuigáo se adapta fácilmente a novas situagóes; consegue am-
bientar-se ñas estrutaras e ñas formas da sociedado que evo-
lui. Consegue também adaptar-se á acáo da policía e á evolu-
gáo dos seus métodos (nos países em que há repressáo poli
cial) ; a policia pode desmantelar, por certo tempo, a rede da
prostituigáo; mas esta se desloca e reaparece em outra parte
sob novas formas.

Vejamos agora o novo enfoque do problema que se poe


por parte de quem preconiza a

2. Legitímaselo e oficializac.ao da prost¡fuie.ao

Nao faltam vozes, na opiniáo pública, que se mostram


condescendentes para com o fenómeno da prostituigáo, chegan-
do a apontar motivos para torná-lo publicamente legal.

Quais seriam tais motivos?

1) Pode-se comegar por verificar que, para nao poucos


homens e mulheres, a prostituigáo ainda é urna «saida» cómo
da. Além das razóes económicas que inspiram essa «simpatía»,
existem os que julgam que a prostituigáo é urna «necessidade
sedal», necessidade táo antiga quanto o mundo e que é inútil
procurar erradicar.1

De resto — há quem o diga — é inevitável haver urna


categoría de mulheres sacrificadas... sacrificadas para que as
legitimas esposas possam viver tranquilas; enquanto houver
prostíbulos, estará afastada, para multas esposas, a ameaga de
que /seus maridos levem vida dupla ou tenham «duplo lar». Com
efeito; eis o que escreve urna leitora da revista francesa «Elle»
(28/K/1970):

"Se eu tlvesse que me ausentar durante algum tempo, se meu marido


tlvesse que ficar só durante meses, eu preferirla que freqOentasse um desses
estabeleclmentos (prostíbulos) a ve-lo ladeado de urna 'amlgulnha'. Eu nSo
terla ciumes por sabé-lo ñas casas de tolerancia, pols nestas nSo há amor,
mas outra colsa" (testemunho extraído de "Ecclesla" rfl citado, p. 29).

•Há quem observe que Já em 600 a.C. o legislador Sólon, de Ate


nas, regulamentava a prostltulc&o.

— 499 —
24 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972

Em conseqüéncia, a tais pessoas parece normal, se nao


imperioso, que se legalize a prostítuigáo, criando-se oficialmen
te as casas de tolerancia. Assim se removería o quadro triste e
humilhante das prostitutas de rúa: estando estas encerradas
em estabelecimentos próprios, ficaria oculto algo que nao .de-
ve ser debatido publicamente; a prostituigáo continuaria a exis
tir sem inquietar ostensivamente a- vida da sodedade. Na vef-
dade, querer remover o fenómeno da prostituigáo significaría
revolver urna ordem de coisas estabelecida e perturbar a «traii-
qüilidade» pública. ■ :<
Tornou-se porta-voz desse modo de pensar o deputado-
-prefeito de Nice (Franga), Dr. Jacques Médecin, que aos 24
de marco de 1970, em um debate sobre o turismo, manifestou
o desejo de poder «reunir todas essas damas em um vasto con
junta predial. «Elas ai poderiam adquirir seu apartamento ou
seu estudio; tornar-se-iam proprietárias e poderiam entregar
le livremente>ao seu mister como profissionais organizadas. Elas
nao ocupariam mais as calcadas... Como prefeito dacidade»,
dizia o Dr. Jacques Médecin, «pensó sempre no equilibrio do
meu orgamento, e sei que toda transagáo deve sempre estar
sujeita a taxas».
Sabe-se, alias, que o Dr. Jacques Médecin, desde 1968, en-
trou em contato com os prefeitos de outras grandes cidades li-
toráneas da Franga, para tentar regulamentar a «nova prq-
fissáo». . ...
2) A posigáo de Jacques Médecin encontrou eco na Cá
mara dos Deputados da Franga, onde o deputado Dr. Claude
Peyret, arauto dos interesses sanitarios e sociais da nagáo, pas-
sou a propugnar a causa da regulamentagáo: todas as casas de
prostítuigáo, ditas «Clínicas sexuais», seriam administradas pe
los governos municipais, que nelas colocariam os servigos de
médicos e os prestimos de assistentes sociais. Desta forma se
obteriam
— urna solugáo para a recrudescencia das dcengas ve
néreas, as quais os médicos dariam toda a atengáo;
— um dique para a criminalidade. Os atentados ao pudor,
as violagóes da honra da mulher e os crimes sexuais, cujo nú
mero vai crescendo, seriam coñudos mediante a intervtengáb
legisladora do Estado nesse setor;
— um meio para suprimir o mister de proxeneta e de pro
curar readaptar as mulheres que nao tenham «a. prostituigáo
no sangue». . -••.-'

— 500 —
¿ PROSTITUICAO LEGAL? 25

' O debate assim aberto-na Franga nao sé confina-a este


país apenas. Encontro'u eco nos EE. UU.,1 na Grá-Bretanha, na
Dinamarca e alhures; no Brasil, a questáo já tem sido levanta
da (ef. PR 64/1963, pp. 165-172). É lógico, pois, que pergun-
temos: .. ,. .....

3. Sim ou Nao á oficializa$ao ? ; ;

Antes do mais, faz-se mister analisar serenamente as


razóes aduzidas em favor. .'C

3.1. Sim?

a) As doencas venéreas estáo realmente emrecrudescén-


cio, afetando todos os países desenvolvidos: já foram declara
dos 150 milhóes de casos de blenorragia, e 30 ou 35 milhoes
de casos de sífilis no mundo. '-"...
Todavía procurar a solugáo para este mal na oficializar
Cao da prostituigáo seria simplesmente iludirle e contornar
a problema. Este requer solugáo muito mais profunda e real,
ou seja, o despertar da consciéncia, na sociedade, de que os
desmandos eróticos ou a liberdade sexual fora do matrimonio,
longe de ser benéficos ou toleráveis, sao causa de desgragas
físicas e psíquicas para os individuos e as familias. Se nao to
car neste ponto fundamental- será inútil qualquer programa
de saneamento físico, psíquico ou social. Ademáis pode-se per-
guntar se nao se menosprezariam a medicina e os médicos casó
sé quísessé fazé-los servir, em- casas de prostituicáo, a ínstií
tucionalizacáo e perpetuagáo de umaprática que é aviltameri*
to da mulher e alienagáo da dignidade humana. •
Note-se o seguinte: em 1935, o Dr. Bizard, médico-chefe
do Dispensario Policial de París, declarou que um só prostí
bulo em París, aberto oficialmente para os trabalhadores do
norte da África, era freqüentado aos sábados e domingos por
cerca de 1.600 clientes, que iam procurar entre dez e quinze
mulheres válidas. Donde se segué que cada urna dessas mulher
res era atingida por quarenta ou cinqüenta visitantes em cada
um desses días. — Que dizer do estado de saúde de tais mu
lheres?
b) A criminalidade, longe de ser contida, seria favorecida
pala oficializagáo da prostituigáo. Os prostíbulos fomehtam

'Nos EE.UU da América, o Conselho Municipal de Virginia Clty


(Nevada) deu estatuto legal á prostltulcáo em 12/XII/1970. !

— 501 —
26 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 155/1972

o menosprezo dos valores humanos e concorrem para fomen


tar o desequilibrio psíquico, donde procedem os mais variados
crimes.
Sao freqüentemente verificados no Brasil suicidios de
prostitutas, que se langam sob os trens, cortam veias dos pul
sos ou derramam gasolina no corpo, para se qossimar vivas.
Isto se explica pelo fato de que a prostituta é urna pessoa ina
daptada (carente de afeto desde o lar) que, mediante o exer-
cício da prostituigáo, ainda mais inaptada as torna; a vida vem
a ser-lhe intolerável, pois nao lhe oferece a realizagáo de si
mesma.

c) Os atentados ao pudor, as violagóes da honra feminina


e os crimes sexuais nao sao funcóes da existencia ou náo-exis-
tencia de casas de tolerancia. Na Franca, ande tais estabele-
cimentos sao oficialmente proibidos, o número de tais atenta
dos deveria estar em aumento constante; ora as estatísticas
revelam que em 1970 houve diminuicáo em relagáo a 1969: 2572,
em vez de 3699. Na Alemanha, onde as casas de tolerancia
tém existencia legal, os atentados ao pudor e maltas congéneres
sáú, ao menos, táo numerosos quanto na Franca. As motiva-
goes que levam um homem a tais desmandos nao sao as mes-
mas que levam a procurar urna prostituta.

d) A profissáo de proxeneta nao se extinguiría com a ofí-


ciallzagáo da prostituigáo. Com efeito, pergunta-se: quem.re-
crutaria as prostitutas para as casas do Estado? Até 1946,
guando na Franga foi abolida a prostituigáo oficial, havia
sessenta proxenetas autorizados pela policía com o nome de
«placeurs» (colocadores).

e) A readaptagáo social das prostitutas recolhidas em


casas de tolerancia estatais seria utópica. Nao se deve supor
que haja «sangue de prostitutas» ou que a prostituigáo decorra
de elementos congénitos em certas mulheres e ausentes em
outras. As mulheres que se prostítuem, sao, em geral, recupe-
ráveis para a sociedade; todavía só podem ser readaptadas á
vida normal caso deixem o ambiente de prostituigáo que as con
diciona para o vicio.

Passemos, pois, á consideragáo de

3.2. A reposta crista

A cansciéncia crista, perante a prostítuigáo, instituciona


lizada ou nao, nao pode senáo tomar atitude de repulsa pe-

— 502 —
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PROSTITUICAO LEGAL? 27

remptória, todavía sem nutrir ádio au aversáo ás vítimas


desse mal.

E por qué?

1. a separagáo entre sexo e amor (amor entendido no


sentido conjugal) é incompreensível para o cristáo. O sexo, na
medida em que significa entrega corpórea, nao é senáo a ex-
pressáo derradeira e definitiva do amor; por isto deve ser pre
cedido pelo surto e crescimento do amor entre duas pessoas
que tendem a se complementar mutuamente no plano espiritual,
afetivo e também no plano biológico, corpóreo. Por isto qual-
quer relagáo sexual fora do casamento vem a ser urna aber-
ragáo.

2. Muito mais repelente, porém, é o comercio do sexo


que se chama «prostituigáo». Esta nao pode deixar de signifi
car degradagáo, bestializacáo do ser humano, pois subordina
as expressóes mais nobres do ser humano (que sao as do amor)
ao dinheiro e á especulagáo comercial; a pessoa humana se
torna assim mercadoria.
A psicología ensina que a prostituigáo é inegavelmente o
mais sorrateiro dos atentados á dignidad© humana. As pessoas
que se lhe entregam — geralmente pessoas pobres, desampa
radas fácilmente sao levadas a se sentir táo diferentes do
comum dos moríais que chegam a ter nojo do seu tipo de vida.
Quem retirasse a máscara de muita «filha do prazer», desoobri-
-la-ia frustrada e profundamente triste por nao ser senáo urna
coisa entre os bragos de qualquer desconhecido.
Muito significativo é o testemunho de Simone de Beauvoir,
a insuspeita escritora francesa:

"A prostituta ó um bode expiatorio: o homem langa sobre ela a sua


torpeza e a renega. Quer esteja sob a tutela de um estatuto legal e da
vigilancia policial, quer trabalhe na clandestlnldade, em todo e qualquer caso
é tratada como parla...
A prostituta nao lem os direltos de urna pessoa; nela se encontram si
multáneamente todas as Imagens da escravatura femlnlna" (extraído de "Deu-
xléme sexe").

Escravatura... Sim. A mulher se vende, deixando-se


agenciar pelas leis do dinheiro e nao raro pelos interesses de
um grande senhor, de tal modo que já se tem falado do «trá
fico de múlheres brancas*.

— 503 —
28 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972 .

' ■ Gilbért Cesbron,nb seu livro «Ce que je crois», observa


o seguinte:

"A dlgnldade da pessoa humana ó una e Indivlsfvel...


£ preciso que extirpemos de nos, a todo momento, todo e qualquer
vestiglo-de racismo... Por exemplo, recusar e combater a prostltulcáo sob
todas as suas formas, em lugar de subscrever ao folclore.qué a toma fami
liar. .. Pois também a prostltulcfio repousa sobre um tipo de racismo: haverla
düas ragas de mulheres — a raca a que pertence a senhora sua mfie, e"á
raca da p..." ' v

3. A prostituigáo pode ser tida também como urna re


quintada forma de alienasSo. Dizem com razáo bons sociólogos
que a sociedade de hoje está, a mais de um titulo, alienada,- isto
é, dependente: o dinheiro, o facilitarismo, o comodismo fazem
que o homem de hoje multas vezes vilipendie os valores mais
característicamente humanos. A prostituigáo da mulher pode
ser, pois, encarada como sinal ou símbolo da prostituicáo'do
mundo: «Cada vez que um homem ou urna mulher, no casa
mento ou fora do casamento, se comporta como objeto, cada
vez que os vínculos da amizade cedem á cobiga, ao dinheiro,
ás facilidades, aos hábitos, há prostituigáo» (J. Sullivan, «Car
je t'aime, ó éternité!»).

A prostituicáo da mulher nao é, pois, um problema de rúa,


de casa, de zona apenas; é um problema de civilizagáo e dos
valores do espirito. Urna civilizagáo nao tarda a se degradar
desde que ela perca o respeito á mulher. É, sim, na mulher qué
residem as primeiras reservas de energía da sociedade; é a
mulher que forma ou plasma os primordios e principios do ho
mem; é da mulher, em grande parte, que depende o surto, o
nutrimento e a corroboragáo dos valores que superem o atra-
tivo do dinheiro e do materialismo. Tais valores entram em
xeque desde que se conculque a dignidade da mulher.

4. Compreende-se que a Igreja, mais de urna vez, tenha


feito ouvir a sua palavra a respeito da prostituigáo. >
• O Concilio do Vaticano n, por exempló, na sua Constituir
gao sobre a Igreja no mundo moderno, observou o seguinte:

"Tudo o que ofende a dignidade humana, como as condlgSes infra-hu-


manas de vida,... a prostltulcfio, o mercado de mulheres e jovens e tambóm
as condlcOes degradantes de trabalho,... todas estas prátlcas e outras seme-
Ihantes sfio dignas de censura. Enquanto elas degradam a cMllzacSo huma
na desonram mais os que se comportam desta manelra do que aqueles .que
padecem tais Injurias. E contradlzem sobremanera á honra do Criador"

<n? 27)< - 504 -


PROSTITUICAO LEGAL? 2?

OS. Padre Paulo VI, em 1966, recebeu os membros da


FAI (Federagáo Abolicionista Internacional) \ aos quais apr*-
gantou a prostituicáo como sendo a forma mais degradante da
escravátura moderna:

"A I uta na quaí vos" émpenhastes, deve nSo sementé. nSo diminuir., o
seu esforco, mas prossegul-lo e Intenslflcá-lo de todos os modos; trata-se
dé esforcos de formacSo e educacSo para que cada um compreenda-a par
te de responsabllldade que Ihe toca nesta dolorosa situacáo... ' ■■
■ De resto, tais esforgos encontram naturalmente prdfunda ressonáncla
nos nossos contemporáneos, pols estSo na linha das conquistas que a nossa
época reivindica com certo garbo... . ,'
Em que época foram os homens, mals do que hoje, senstoelr» aos diret-
tos e á dlgnldade da pessoa humana? Em que época houve mais vozes a
protestar contra a opressSo, a tomar a defesa dos fracos, a reivindicar a
autonomía da pessoa humana, a condenar a exptoracSo do homem pelo
homem? Mas em que setor tal exploracáo é mais evidente e mals revoltante
do que nesse indigno comercio que, com dlrelto, podemos considerar como
a forma mals degradante da escravátura moderna e o opróbrlo da socledade?"
("L'Osservatore Romano", 13/V/1966).

Dé resto, nao nos podemos furtar a transcrever outróssim


o depoimento do Frof, Si Hamza Boubakeur, Reitor do Instituto
Mugulmano de París:

"A prostitulcio só pode existir e proliferer numa socledade desajustada,


mal organizada, na qual a pessoa humana é despojada do seu valor Intrín
seco e da sua vocacüo primordial. A questio, portante, se coloca nestes ter
mos : 'Será favorável ou contrario a urna socledade o fato de que, por sua
pésslma organlzacSo, suas lnjusticas e por causa do primado atribuido ao
dlnhelro, ela dé orlgem e desenvoltura á prostituIcSo, a ponto de obrigar á
mulher a fazer de suas Inclinares sexuais naturais um comercio?" (extraído
de "Ecclesla", n? citado na bibliografía, pp. 32s).

EStas observacóes e interrrogagóes dispensam qualquer


comentario. O fato, porém, cada vez mais flagrante da prosr
tituicáo langa ,de maneira pungente a pergunta:

4. Que fazer díante do mal ?

É utópico pretender chegar á total extincáo do doloroso


fenómeno da prostituigáo. Isto contudo nao impede que se to-
mem medidas de profilaxia e saneamento. As sugestóes que ora
se seguem, nao pretendem esgotar o assurato, mas apenas inci
tar á reflexáo.

1 Essa entldade, com sede em Qenebra (Suica), se empenha pela extln-


cao da regulamentacSo ou oficializacSo da prostitulcfio.

— 505 —
30 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 156/1972

1. Como medidas de prevengáo contra a prostituigáo, pa-


recem merecer consideragáo:

a) A promsocáo intelectual e pwrfissional da mulhar. O


feminismo exagerado é, sem dúvida, fonte de serios problemas
para a própría mulher e para a sociedade. Existe, porém, urna
auténtica ascensáo da mulher. Muitas e muitas das prostitutas
no Brasil sao analfabetas ou, ao menos, desprovidas de qual-
quer formagáo profissional; sabem que, com a sua falta de pre
paro profissional, só poderiam ganhar a vida como domésticas.
Nao aceitam, porém, este ganha-páo, pois aspiram ao conforto
e iks diversóes — metas que nao atingiriam mediante o traba-
lho honesto. Em conseqüéncia, entregam-se á prostituigáo, que
é para elas manancial altamente lucrativo e até as obriga a
manter urna certa aparéncia de bsm-estar económico e social.
No afá de lucrar, há prostitutas que atendem diariamente a
trinta ou mais homens; isto, além de Ihes tirar todo pudor físi
co e moral, inutiliza-as para a vida sexual normal, pois as
embrutece e insensibiliza, transformando-as em meros instru
mentos físicos do prazer alhelo.

b) Renovada atenea© á infancia e a adolescencia abando


nadas ou semi-a'bandonaJdas. Tem-se verificado que, no Brasil,
50% das prostitutas sao menores entre 18 a 21 anos de idade.
É indispensável que a familia oferega aos filhos um am-
bjente moralmente sadio, organizado, que conté com a presenga
assídua da genitora (a mulher que trabalha fora de casa, cuide
de nao deixar totalmente os filhos sem a sua assisténcia).
Os abrigos de menores sejam regidos por normas de boa
disciplina e amizade; em caso contrario, transformam-se em
viveiros de futuras meretrizes.

c) Assisténcia á máe solteira» O desamparo em que esta


se vé, leva-a muitas vezes a ruina moral.

d) Urbanizacáo planejada, que evite cortigos, favelas, po-


róes superpovoados, onde se instaura a promiscuidade de cos-
tumes.

e) Reerguimento moral da sociedade em geiral. Também


os homens sao responsáveis pelas chagas da prostituicáo: uns,
porque impelidos pela procura íde prazer libidinoso; outros,
porque incitados pela cobiga da exploragáo comercial e do lu
cro material.

— 506 —
PHOSTITPICAO LEGAL?

Nao há dúvida também de que a imprensa escrita, falada


e tefevissonada, p<grfm como os espetáculos do cinema e do tea
tro, desviados da sua auténtica finalidade, desempenham papel
de relevo na perversáo da infancia e da adolescencia.
- 2. A prostituta é recuperável para o convivio normal da
sociedade. Todavía o caminho da reeducacao é lento e exige
grande paciencia ¿tos assistentes sociais. Geralmente a prosti
tuta é profundamente descrente dos homens e da sociedade;
ademáis acostumou-se a ganhar muito dinheiro sem trabalhar
— o que a torna instalada ou acomodada.
Deve-se observar, porém, que muitas estáo profundamen
te oonstrangidas e traumatizadas no seu tipo de vida; deseja-
riam abandoná-lo caso o pudessem, todavía nao o conseguem
sem o auxilio benévolo e verdadeiramente altruista da socie
dade. Já existem casas de recuperasáo para tais pessoas, em
que se lhes procura mostrar que elas tém seu lugar na socieda
de; desperte-se-lhes a consciéncia dos valores que nelas existam
latentes. Tais atitudes compensaráo a carencia afetiva e os
traumas profundos de que foram vítimas muitas e muitas pros
titutas na infancia ou na adolescencia. Tidas como pessoas sem
valor, elas se desvalorizaran! conscientemente; poderáo, porém,
reaver-se caso se convengam de que tém valor e chances á se-
melhanca de outras mulheres.
A guisa de conclusáo e apéndice, publicamos a seguir o
depoimento de Micheline, que (durante dezoito anos se entregou
á prostituicáp e finalmente conseguiu recuperar-se. Ninguém
mais indicado do que tal pessoa para falar sobre a psicología da
prostituta.

APÉNDICE: «UM FOSSO SE ABRIU»

"Como ajudar urna prostituta a salr do fosso? £ preciso dar-lhe a saber


que, quando ela o qulser, ela o poderá e nSo estará sozinha ent&o. é mlster,
porém, nao dourar a pllula (pols logo a mulher desanimarla); salba ela que
nfio fol rejeltada por todos e que h¿ pessoas que nela acredltam, prontas para
ajudá-la a recomecar na vida a partir da estaca zero; tornem-na consciente
de que será longo, difícil, mas possfvel.

Utópico

6 utópico e Insensato erar que em qualquer momento se pode pedir a


urna mulher: 'Retirare, val trabalhar... I' NSo é posslvel. Eu mesma eu nfio
acredltava ñas prostitutas, nSo acredltava em mim. Lembro-me de que a

— 507 —
32 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972

principio cpnslderava como pessoas graciosamente iluminadas as assistentes


socials que me dizlam que eu poderla llvrar-me da situagáo.
- Um fosso abrlu-se entre a prostituta e as outras mulheres. Temos tam-
bém nos um código de honra. Pols desprezamos todos aqueles que vém ter
conosco, que multas vezes nos pedem horrores e que dáo gargathadas ao
ver-nos envoltas na salada. Desprezamos também essas mulheres que riem
ao ver-nos na calcada em atitude de sofrlmento, mulheres que multas vezes
tém amantes para o seu prazer... Por que desojáis que sejamos tentadas
a nos reunir a elas?
' Trabalhar duramente por um día Intelro a flm de ganhar o que ganha*
mos em qulnze minutos ao prostituir-nos,... cozlnhar com pouco dlnhelro,.'...
n9o comprar aqullo que desejamos, nem mesmo aqullo de que precisamos...
Por que, em nome de qué, em nome de que ética urna mulher aceitarla tais
sacrificios? Em nome de que entraríamos em urna sociedade que de antemSo
nos rejeita e nao eré em nos? ■ ■. ¡
Nao é posslvel pedir a urna prostituta que faga todos essea esforgos
para llbertar-se do fosso, desde que ela nao tenha o desejo profundo de.p
fazer. Todavía haverá um momento em que ela há de querer mudar; en.tSo é
que a sociedade Ihe deverá estar presente.
Quando urna mulher concebe o desojo de delxar a prostltuigSo, ela nSo
sabe realmente o que procura; ela quer apenas mudar, quer retomar um
lugar'na sociedade. A partir desse momento, ela se encontrará a bragos com
mil diflculdades que ela Irá descobrindo aos poucos e que multas vezes'Ihe
parecerSo Insuperáveis. -
Fazer um orgamento é multo difícil para urna mulher que tertha o
costume de gastar sem contar. É esta, crelo, a malor diflculdade ou, ao me
nos, urna das (numeras diflculdades. : :
A seguir, depois que alguém tem urna lacuna de treze anos em sua
vida, reconhecamos que os lugares que Ihe s3o oferecldos süo os mals Incó
modos e os menos remunerados; dal as recaldas todas. '
'. O mals duro, para mlm, fol acostumar-me a um horario de trabalho, a
úm salarlo de miseria. Eu nio sabia como haverla de dangar... Quando
trabalhava, quería voltar ao prostíbulo. Pensava: que estou eu a fazéf aquí"?
Perco o meu tempo; no prostíbulo já teria ganho tanto dinhelro... Mas,
quando voltava ao prostíbulo, este nSo era a mesma coisa que antes; eu
sofría, e o dlnhelro nada conseguía; entáo eu gastava tudo, e. bem depressa 1
A prostituta pensa que tudo se compra. Quando de repente ela nSo tem
mals dlnhelro, sente-se perdida.

. ' No seu verdadetro lugar ;

Só aos poucos a prostituta recoloca as coisas no seu lugar certo, le


vando em conta o Indispensávei e o vital. É o que é Indispensávei a urna
prostituta, nada tem que ver com o Indispensávei a outra mulher. Multas
vezes a prostituta que está num prostíbulo, é empolgada por-déséjós que
depois Ihe parecerSo fúteis. Lembro-me de ter gasto um reembolso da Segu-
canga Social (que me era Indispensávei para vlver I) em produtos de maqui-
lagem e em urna copiosa refelcio. Apertel o cinto durante duas semanas.
NSo pude prosseguir; recaí. •

— 508 —
PROSTITUICAO LEGAL ? ■ ■••■■• 33

Mas eu nfio sabia entáo que, desde o meu prlmelro ensato na fábrica
(donde eu logo tentel escapar, julgando que eu tlnha a chance de nao ■per.
obrigada a flcar lá a vida Intelra), eu dera um passo decisivo e hada, poste
riormente, voltaria a ser como fora. Mlnhas amigas da calcada levaram-me a
mal esse ensalo na fábrica. Para elas, aparentemente esse passo equivalía
a decadencia.
- Agora, porém, compreendo que eu representava para elas urna espe
rance, e que mlnha volta á prostltulcfio era urna desfeita.

(a) Mlcheilne
*•»■;•. ' ' (18 anos de prostltuIgSb)'

Bibliografía:

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rizonte 1966.
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Rio de Janeiro 1966.
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Rio de Janeiro.
Felipe de Miranda Rosa, "Patología Social". Zahar Editores, Rio de Ja
neiro 1966. ■
. Nelson Hungría, "Comentarlos. ao Código", vol. VIII, 3» ed.
Revista "Realldade", SSo Paulo, julho 1968. •
> . Revista VEccIesla" rfl 280, ]ulllet-aoút 1972: "Le polnt sur la prostltu-
tlpn" par Alaln Sorel e André Merlaud, pp. 18-47.

— 509 —
Cristianismo na Rússia:

subserviéncia para nao morrer?

Em elntese: Os cristfios na Rússia constltuem a Igreja ortodoxa russa


cismática (separada de Roma); apenas pequeños grupos de católicos e
protestantes subslstem naquele país. A Igreja russa, para nao perecer por
completo, tem-se submetldo ao governo soviético, com detrimento para o
testemunho crlstáo. Em conseqüéncla, o escritor Alexander Solschenlzyn
dlrlqiu urna carta de protesto enérgico e positivo ao Patriarca de Moscou,
carta que, publicada em Paris aos 30/111/72* val retransmitida com alguns
comentarios.

Coment&rio: Os cristáos na Rússia aderiram oficialmente


ao cisma proclamado por Miguel Cerulário, patriarca de Cons-
tantinopla, em 1054. Constituem urna «Igreja» separada de Ro
ma, dita «ortodoxa» e governada por ura Sínodo, á frente do
qual está o Patriarca de Moscou. Existem na Rússia contem
poránea, além dos cristáos «ortodoxos», pequeños grupos de
católicos e protestantes.
Após arevolugáo de 1917, a Igreja russa sofreu dura per-
séguicáo. As instituigSes cristas que ainda subsistem, estáo sú
bitas a severo controle por parte do Estado; este serve-se dos
elementos religiosos para promover interesses políticos, tanto
no ámbito nacional como no internacional. Registra-se, porem,
nítida resistencia da «intelligentzia» (ou dos intelectuais) russa
aos procedimentos do governo, como se verá no artigo seguinte
deste fascículo.
Vai a seguir, transcrita urna expressáo dessa resistencia.
É urna carta do escritor Alexander Isaevic Solschenizyn ao Pa
triarca Pimen, de Moscou, em que levanta veemente protesto
contra a «docilidade» com que as autoridades ortodoxas russas
se submetem ao governo. Esta carta foi transmitida de mso
em máo dentro da Uniáo Soviética e publicada pelo jornal
«Russkaja mysl», dos emigrantes russos residentes em París,
aos 30 de margo de 1972. O texto constituí urna das pegas mais
importantes do «Samizdat» ou da documentagáo que clandes
tinamente passa da Rússia para o estrangeiro.

— 510 —
CARTA DE SOLSCHENIZYN 85

Alexander Solscheni^yn é Premio Nobel de literatura. Pu-


blicou na Rússia a narrativa «Um dia na vida de Iva Denisovic».
Cristáó convicto, recusou-se a aceitar, entre outras diretrizes
do Partido, a de escrever Deus com d minúsculo. Em con-
seqüéncia, nao p&de mais publicar em sua patria. As suas pro-
dücóes ulteriores foram-dadas a lume no Ocidente europeu;
dessas obras merecem destaque os romances «Agosto 1914» e
«Na órbita do inferno».
O testemunho dado por Solschenizyn na carta aqui pu
blicada é o de um cristáo plenamente consciente de suas res
ponsabilidades. O autor confessa-se membro fiel da Igreja or
todoxa russa, que ele julga ser a herdeira das melhores tradi-
Cóes russas e o baluarte dos valores moráis da nagáo. Rejeita,
porém, os compromissos com o Estado ateu, concorrendo assim
para revigorar o ánimo dos cristáos e dos grupos de cidadáos
que na Rússia sofrem a pressáo do Estado.
O texto abaixo fala eloqüentemente a quem o leia com
atencáo.

«A Pimen, Patriarca de todas as Rússias.

Santidade,

O assunto de que trata esta carta pesa como urna pedra se


pulcral sobre todos os fiéis ortodoxos em que aínda exista urna cen-
teina de vida, e dilacera-lhes o coracao. Todos o sabem; gritaram-no
em voz forte, e, nao obstante, todos de novo se. calaram resignada-
mente. A essa grande pedra sepulcral bastáva que sobreviesse um
pequeño seixo para derrubar ó muro do silencio. O pequeño seixo
que deu o último impulso, foi para mim a vossa mensagem que ouvi
na noite dé Natal.
Tocou-me dolorosamente a passagem em que Vos falastes dos fi
lhos. (talvez pela primeira vez se fale deles a partir de tao elevada
cátedra nos últimos cinqOenta anos). Exortastes os genitores a in
culcar nos filhos, juntamente com o amor á patria, também o amor á
Igreja (sem dúvida, também á própria fé?}, e Ihes pedistes que forta-
lecessem esse amor com o seu exemplo. Ao perceber esse apelo,
veio-me á memoria a minha primeira infancia, na qua! presencie! mul
tas celebracóes litúrgicas; tornaram-se tao vivas e puras as impres-
s5es que entáo colhi que nenhuma pedra de mó e nenhuma teoría
¡amáis conseguiram destruí-las.
Mas .que significa esse apelo? Por que dirigir esta exortacáo
tao justa apenas aos emigrados russos? Por que somente os filhos des-

— 511 —
36 «PERGUNTE E BESPONDEREMOS> 155/1972

tes hdo de ser educados na fé crista? Por que só do rebanho qué está
longe acauteláis para que distinga calúnias e mentiras e se fortale¿a;
na verdade e na ¡ustica? E nos nao precisaríamos de as reconhecer"
também? E aos nossos filhos devenios ou nao devemos inculcar ó
amor á Igreja? * É verdade que Cristo mandou ir á procura da ove I ha
perdida quandó as outras noventa e nove estejam em segurancá.
Mas, quando as noventa e nove estao dispersas, nao se deveráo de
dicar a elas os primeiros cuidados?

Cristianismo agonizante?

Por que é que, quando desejo mandar batizar o meu filho na


Igreja, devo apresentar o meu passaporte? Em virtude de que exigen
cias canónicas o Patriarcado de Moscou precisa de registrar os que
foram batizados? 3 i maravilhosa a forca de animo desses genitores e q
sua inconsciente resistencia, em virtule das quais suportam o ^adas-
Iramento fraicoeiro, cadastramento que fará sofram perseguicoes no
seu posto de trabalho e sejam publicamente escarnecidos pelos
ignorantes.
Mas com o batismo esgotam-se as possibilidad«s de ter coragem
moral; com o batismo das enancas termina a parHcipacáo dos filhos
na vida da Igreja; ficam totalmente fechadas para essas enancas as
vias de acesso á educacSo da fé; nao Ihes é permitida a partidpacao
ativa ñas celebracóes litúrgicas; as vezes nem podem receber a
Comunháo ou mesmo estar simplesmente presentes na lgre¡a.a N6s
defraudamos os nossos filhos privando-os da experiencia irrepetível
e angélicamente pura de freqüentar os oficios litúrgicos; tal expe-
riSncía nao pode ser suprida em idade adulta; multas veces mesmo
os adultos nao estao em condicSes de compreender o que perdéram.
Nao é reconhecido o direito de se continuar a fé dos país; também
n8o é reconhecido o direito dos país, de educar os filhos segundo

«Desde 1918 é prolblda na UniSo Soviética qualquer forma organi


zada de Instrucflo religiosa de crianzas, mesmo que se]a de carater pri
vado.
'Desde 1960, para se batizar urna crlanca na Rússla Soviética, é pre
ciso que os dols genitores déem o consentlmento. As listas de atos da Igreja-
com os respectivos registros tSm de ser enviadas ás autoridades estatals.
Soischenlzyn mandou batizar seus filhos com qulnze meses de Idade.
*A populacSo dos tres aos dezolto anos de Idade é vedada a partid-;
pacSo atlva na conflgurasSo da vida da Igreja. Tém-se verificado também
novas e novas tentativas de atestar as crlancas até da partlcipasfio passlva
das celebracOes litúrgicas.

— 512 —
CARTA DE SOLSCHENIZYN 37

as suas próprias conviccoes. E vos, chefes da Igreja, vos adaptáis a


esse estado de coisas e o fomentáis, descobrindo um auténtico ¿¡nal
da liberdade de profissáo religiosa no falo de que somos abrigados
a entregar os nossos filhos ¡ndefesos nao em maos neutras, mas ao
dominio da propaganda ateísta mais primitiva e desonesta;... no
fato de que os adolescentes, subtraidos ao Cristianismo para nao
serem por ele contaminados, nao tém opcáo para se educar moral-
mente senao escolher entre o manual do propagandista agitador e
o Código Penal.
• : Já perdemos os últimos cinqüenta anos. Nao digo que libertemos
o presente; mas, o futuro do nosso país, como havemos de salvá-lo?
... Esse futuro que. será plasmado pelas enancas de hoje? Em última
análise, o verdadeiro e profundo destino do nosso país depende
desta alternativa : radicar-se-á definitivamente na consciSncia do
povo a eqüldade da forsa ou será que as consciencias se purificarao
do. ofuscamento e de novo resplandecerá a forca da eqüidade? Sq-
beremos restaurar em nos ao menos alguns traeos do Cristianismo ou
haveremos de perderlos por completo e nos entregaremos aos cál
culos da consevacao de nos mesmos e do utilitarismo ?

Conformismo na Igreja ?

■ O estudo da historia russa dos últimos sáculos nos confirma na


cónsciSncia de que esta tena transcorrido de maneira incomparavel-
mente mais humana e harmoniosa, se a Igreja nao tivesse renunciado
á sua autonomía própria e o povo tivesse escutado a sua voz, como,
por exemplo, na Polonia. Infelizmente entre nos isto nao se dá. Infe
lizmente temos perdido e perdemos sempre mais a luminosa atmos
fera moral crista na qual durante um milenio se formaram nossos
costumes, nosso modo de viver, a nossa visáo do mundo, o nosso
folclore, até mesmo a denominacSo de nossa gente Krestjanín1. Es
tamos perdendo os últimos restos e características de um povo cristao.
Isto tudo nao deve constituir a preocupacáo principal do patriarca
russo ? A Igreja russa exprime os seus pontos de vista indignados
desde que ha ¡a algum mal na África ou no Extremo Oriente; somente
sobré os males internos do nosso país é que ela absolutamente nada
diz3. Por que é que da suprema autoridad» eclesiástica nos che-

10 autor se apolava na palavra Krestjanln, que hoje na Rússla signi


fica "campones", mas etimológicamente se deriva de Chrlstlantn, crfstfio.
•■""• '0 patriarcado de Moscou toma parte Intensa na "luta em prol da
paz" e professa sem reserva os objetivos da política externa soviética, no
Vletnam, no próximo Oriente e nos países em desenvolvlmento. Ao con-
trérlo.-.nao há a mínima crítica á realídade soviética por parte das autoridades
eclesiásticas.ortodoxas da Rússla. - - •

— 513 —
J8 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972

gam encíclicas táo Iradidonalmente tranquilas ? Por que é que


todos os documentos eclesiásticos sao táo otimistas como se fossém
publicados em meio ao povo mais cristáo da térra? Depois de tantas
encíclicas tranquilas, nao chegará talvez um dia infeliz em que riño
haverá mais necessidade de as escrever? Pois nao hovera mais a
quem as dirigir, visto que> estará extinto o rebanho inteiro, ficanao
apenas a chancelaria do Patriarcado. ^

Já se pas&aram seis anos desde que dois estimados sacerdóteí/


Jakunin e Eschliman, dirigiram famosa carta * ao Vosso predecessor
e, medíante o seu exemplo, demonstraran) que a pura chama da. fé
crista em nossa patria aínda nao se extinguiu. Com muitos e persua
sivos exemplos puseram em evidencia a sujeicSo voluntaria — que
chega á autodestruicáo —, á qual foi levada a Igreja russa; pediram
igualmente que se Ihes indicasse o que em sua carta nao correspón-
desse a verdade. Eis, porém, que cada urna de suas palavras era
verídica; nenhuma das autoridades eclesiásticas tentou refuta-loj. E
como Ihes responderam ? — Da maneira mais simples « grosseira :
condenaram-nos por haver dito a verdade; suspenderam-nos da
celebracao do culto divino. E Vas, Patriarca, até hoje nao corrigistes
este erro.

Também a terrível carta dos dóze fiéis de V¡atká ficou sem res-
posta; apenas foram sufocados os seus autores8. E o destemido
arcebispo Ermogen de Kaluga foi relegado para um mosteiro, onde
até ho¡e permanece. Por qué ? — Porque, aínda que tarde, se ínsur-
giu contra o ateísmo amargurado, nao permitindo que as igrejas fos-
sem fechadas e as imagens e os livros litúrgicos incendiados — falos
estes que ocorreram antes de 1964 em outras dioceses8.

Já se passaram seis anos desde que tais coisas foram proclama


das em alta voz; e que foi que mudou? Para cada ¡greja ainda aberta

■ Em novembro de 1965 os dols sacerdotes dlrlgiram-se ao patriarca


AtekslJ e protestaram contra o que eles Julgavam ser dependencia servil do
seqüentemente separacfio da Igreja e do Estado de acordó com a Cons-
patrlarcado de Moscou em relacao ao governo soviético. Pediram con-
tltlcáo soviética e o Direito Canónico.
'Essa carta, asslnada por doze fiéis, foi redigida por B. V. Talan-
tov em junho de 1966 e dirigida ao Patriarca de Moscou para denunciar
arbitrariedades no fechamento de Igrejas. Talantov morreu no carcere em
Janeiro de 1971.
• O arcebispo Ermogen (Golubev) foi o único prelado que abertamente
reslstlu a perseguido religiosa desencadeada por Chruschtschov. Desde no
vembro de 1965, vive no mosteiro de Zlrovicy, perto de Minsk.

— 514 —
CARTA DE SOLSCHENIZYN 39

ao culto, existem vinte que foram lesadas ou destruidas e outras vinte


se acham em ruinas ou profanadas. Nao há espetáculo mais dilace
rador do que aqueles esqueletos, refugios de pássaros de cemitério *.
Quantos sao os povoados na Rússia, dos quais a mais próxima igreja
dista cem ou duzentos quilómetros? Completamente destituidas de
yjrejas ficaram as nossas regioes sétentrionais, que desde a antigOÍ-
dade sao o berso do estilo russo e, a quanto parece, constituem a
mais genuína esperanca do futuro russo. Qualqxier tentativa de restaurar
a cnais modesta capelinha é, conforme as leis unilaterais da separacao3,
vedada aos fiéis atuantes, aos oferentes e aos autores de testamen
tos. Quanto ao toque de sinos, nem ousamos pedir seja concedido.
Mas por que foi a Rússia despojada da sua antiga beleza, e da
sua melhor voz? Mas por ,que apenas falar de ¡grejas ? Entre nos
é ¡mpossível encontrar urna Biblia. A Biblia é-nos trazida de fora,
como outrora os nossos pregadores no-la traziam para a regiáo
do Indiglrka B.
Já se passaram seis anos, e a Igreja conseguiu obter a mínima
concessáo? Como dantes, o Soviet para questoes religiosas tem em
maos secretamente todos os distritos eclesiásticos, nomeia os pres
bíteros e bispos (até mesmo as pessoas mais .escandalosas a fim
de que seja mais fácil zombetear e atacar a Igreja).
A Igreja é dirigida de modo ditatorial pelos ateus. Coisa nunca
vista em 2.000 anos I Aos ateus é confiado também todo o controle
das financas da Igreja e o uso das ofertas, isto é, daqueles centavos
doados por maos devotas. De outro lado, porém, com gestos gene
rosos sao doados a fundos estranhos até cinco milhoes de rublos4,
enquanto os pobres sao atestados das portas das igrejas e urna
paróquia pobre nao tem meios para restaurar o seu teto que se ache
em mau estado. Os sacerdotes nao gozam de direito algum ñas suas
igrejasB; só Ihes é permitido, por ora, o exercício do culto divino j
e ¡sto apenas no interior da igreja. Desde que queiram transpor o
limiar da igreja para visitar um doente ou ir ao cemitério, devem
pedir a autorizacáo da administracao soviética.

1 Segundo Informales de fonte ocidental, o número de Igrejas e cá


pelas em 1917 era de 70.000; hoje aínda há 10.000 santuarios ortodo
xos abertos na Rússia.
'Trata-so da leí que separa a Igreja e o Estado e se tornou base de
toda a campanha antl-rellglosa da Rússia.
1 Rio e bacía homónima da Slbórla do Norte.
'O patriarcado de Moscou gasta anualmente mllhoes de rublos para
o "Fundo soviético de paz" e outras Institulgóes da "luta em prol da paz".
'Desde 1961, estSo os sacerdotes afastados da dlrecSo administra
tiva e económica das Igrejas; essa funcáo está a cargo de Conselhos com-
postos de lelgos, manipulados pelas autoridades estatals.

— 515 —
40 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972

O sacrificio vence -:.ü


.1 -ii

Quais sao os argumentos que podem convencer de que a des-


truicao plane¡ado da alma e do corpo da Igreja «mpreendida pelos
áteus é o melhor modo de conservar a Igreja em vida ? E con
servó-la para quem? Certamente nao para Cristo. E conservá-la como?
Com a mentira? Mas depois da mentira com que máos se há de cele
brar a Eucaristía ? . •;r.-;i
Santidade, nao desprezeis a minha indigna voz. Talvez nem
mesmo de sete em sete anos chegue aos vossos ouvidos semelhante
voz. Nao nos deixeis supor, nao nos facais crer que, para os bispos
da Igreja russa, a autoridade terrestre tem mais valor do que a auto-
ridade celeste e que a responsabilidade pelas coisas da térra é mais
terrível do que a responsabilidade diante de Deus.
Nem diante dos homens e menos ainda na oracáo é-nos lícito
proceder como se os vínculos exteriores fossem mais fortes do; que
o nosso espirito. Também no ¡nido da historia, a luta nao fpi fácil
para o Cristianismo; nao obstante, ele resistiu e prosperou. E mos-
trou-nos o caminho : o sacrificio. Aquele que é despojado de todas
as posibilidades meteríais, é sempre vitorioso através do saaifício.
Bem sabemos que muitos dos nossos sacerdotes e fiéis foram chamados
a padecer o mesmo martirio dos primeiros séculos do Cristianismo.
. Outrora os cristaos eram aHrados aos leoes; hoje se sofre á perda
apenas dos bens. Nestes días em que Vos vos prostrais de ¡oelhós
diante da cruz que se ergue no centro da igr«ja *, perguntaj' ao
Senhor: qual poderia ser a finalidade de vosso servico a um povo
que perdeu já'.quase por completo o espirito do Cristianismo e o estilo
cristao ?

(a) Alejander Solschenizyn


Quaresma, domingo da adoracao da Santa Cruz
12 de marco de 1972» . ■

'No 3? domingo da Quaresma, segundo o rito bizantino, a cruz é solé-


nemente levada ao centro da igreja e exposta a veneracáo dos fiéis.

— 516 —
if; /; yÑerii'rriesmo úma . :"e atíastéce as máquinas qúe-^.'|
v<; ¿ompánhia que há'60'arios ^^abrem novas estradas^J;'^.^/1
' vernacpmpanhandoio- ' *' ,^/^Massüa . i''\ "\^fi
1 '«.pfpgrcsso, presente em todo- /responsabilidade^aior é ,'. ^
• ^.o país (com cerca "de 3500 - \ com gente. \ , t <? •••■
<f pbsttis de servi?b), naX ...''; Seu pessoal.é treinado-', t
u indústna'(corh^maisi de 300',., de acordó com.Wmódernas^'.;
^^■prpdütós)/;rio';carnr3o.>i: /c'': técnicas administrativas?;'''$c-p¿

g js\ v."Chegóü%á''. - - ■,.-.•'grande-


íJ\ Ti»n«í»'arnn«7Aníro *Y*\m be IlhlE DOuC lEZCf i
i • i1 * **
Oposi$ao ao regime:

a "intelligentzia" russa contesta

Em símese: Homens de letras, clónelas e técnica na Rússia Soviética :


vfim protestando enérgicamente contra a falta de llberdade e a violadlo dos ;
dlreltos mals elementares do homem naquele país. O "náo-conformlsmo' co- ;
meeou quando em 1956 Chruschtschov Inlclou o processo de destallnlza»
efio; entño os Intelectuals do país, sem recelo, foram mostrando os abu
sos do regime stallnlsta. Em 1965, deu-se novo surto de rigor Ideológico,
dlante do qual a "Intelligentzia" russa nfio cedeu. Urna organlzacáo clan-
destina dita "Samlzdat" envía para o estrangelro noticias e documentos re
lativos á pressSo do governo soviético sobre a mentalidade dos seus cl-
dadfios O governo russo, em conseqOSncla, tem procurado desenvolver
urna política Interna "equilibrada", nfio permltlndo a restallnlzacfio do país,
mas também nfio abrlndo mSo do controle dos acontecimientos naclonals.
O náo-conformlsmo dos Intelectuals causa serlo embaraco ás autoridades go-
vernamentals, pols estas preclsam dos dentistas e técnicos para promo
ver o progresso Industrial e económico do país; os dentistas, porém, ale-
gam que, sem llberdade para realizar Intercambio com o estrangelro, nfio
Ihes é posslvel pesquisar e trabalhar; embora esses homens de oposl-
efio dlvlrjam entre si quanto á forma de govemo ideal que a resistencia
deverla Instaurar na Rússia, estáo unánimes ao pleitear auténtica demo-
cratlzacfio do país. Todavía por ora nfio se véem Indicios de que as
autoridades soviéticas se tenham disposto a atender a tal reivindicedlo.
Em apéndice a este artigo, léem-se depolmentos sobre os proces-
sos aplicados, ñas Clínicas de psiquiatría da Rússia Soviética, aos clda-
dfios que de algum modo se oponham a orlentacáo Ideológica do regime vi
gente.

Comentario: Sabe-se que existe atualmente na Rússia so


viética um forte nao-conformismo frente aos rumos totalita
rios e anti-religiosos do governo do país. Especialmente digno
de nota é o fato de que boa parte dos intelectuais russos (es
critores e dentistas), representando a chamada «intelligentzia»,
nao aceitam a pressáo governamental. Parece de importancia
reconstituir o curso e as manifestagóes dessa resistencia, a fim
de apreciarmos o significado dos diversos casos de oposicáo de
que vem falando a imprensa no Brasil e no estrangeiro.

— 518 —
«INTELLIGENTZIA» RUSSA CONTESTA 48

1. Surto e desenvolvimento da resistencia

Os inicios do náo-conformismo na Rússia soviética situam-


-se nos tempos da destalinizagáo desencadeada por Nikita
Chruschtschov ou, mais precisamente, na época da vigésima
Converigao do Partido Comunista em 1956. A ocasiáo sócio-
psicológica para o despertar de um movimento de oposigáo na
Rússia foi a condenagáo oficial do stalinismo; milhares de pes-
soas que voltaram entáo dos campos de concentragáo, narra-
ram os horrores da perseguigao que haviam sofrido; tais re
latos repercutiram com especial veeméncia nos escritores e li
teratos russos, os quais, em virtude do abrandamento do re-
gime, perderam o receio de explanar o assunto. Ademáis a no
va geracáo, posterior a Stalin-, comegou a manifestar-se com
mais espirito critico e destemor do que os antepassados. A obra
literaria que melhor expós ao público o terror do regime stali-
nista, é o romance de Alexandre Solschenizyn: «Um dia na vida
de Iva Denisovic». Foi publicado em 1962 sob a tutela de A. T.
Tuardovskij, redator-chefe da revista «Novij Mir». A fim de
vencer a resistencia levantada contra a publicagáo de tal obra,
foi preciso que os interessados enviassem o respectivo manus
crito a Chruschtschov; foi o Chefe de Estado mesmo quem
autorizou a impressáo do livro. O romance de Solschenizyn
logrou éxito sensacional: em poucas horas haviam sido vendi
dos 100.000 exemplares — o que nao impediu que, depois da
deposigáo de Chruschtechov, tenha sido proibida a venda de
tal livro.
As tendencias democratizantes suscitadas por Chruscht-
chov despertaram nos intelectuais soviéticos a esperanga de
abertura para os valores humanos propriamente ditos. Con-
tudo essas esperangas se dissiparam quando em 1965 se deu o
fim áo período de destalinizacáo e comegaram a vigorar novas
medidas repressivas. Como expressáo da nova atitude do go-
verno, pode-se citar a condenagáo do crítico literario A. Sin-
javskij e do tradutor J. Daniel em fevereiro de 1966.
Longe de se intimidar com a repressáo, os homens de le
tras do país desencadearam urna onda de protestos enderega-
dos a magistrados e dirigentes tanto do governo como do Par
tido; eram assinados nao somente por conhecidas personali
dades do mundo das letras da Rússia, mas também por grupos
de escritores e artistas, que condenavam veementemente as pri-
meiras manifestagóes de urna restalinizagáo do país. Esses pro
testos recorriam a argumentos de ordem jurídica contra institui-
góes soviéticas e magistrados. Os cientistas e técnicos russos so-

— 519 —
44 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972 ,

lidarizaram-se com a onda de contestagá»; em Janeiro de 1968,


quando foram condenados os intelectuais A. Ginsburg, J. Ga-
lanskov, A. Dobrovol'skij e V. Laschkova, 45% dos signata
rios de veemente protesto contra tal ato eram cultores das
ciencias naturais. A crítica ao governo foi assumindo novos
matizes: económico, social, político, ideológico, etc.
A cúpula do Partido Comunista Russo, julgando perigosa
a onda contestataria, houve por bem apertar o cerco aos opo
sitores mediante duras medidas: exclusáo da corporagáo pro-
fissional ou do Partido, perda ou ameaga de penda do empre-
go, «expurgo» das redacoes de revistas, internacáo em clini
cas psiquiátricas...
Sobrevieram o movimento revolucionario da Tchecoslová-
quia e as agitagóes de estudantes na Polonia em 1968, que pro-
vocaram recrudescencia da opressáo na Rússia:. aos 17/XÜ/70,
o jornal «Pravda» atacou o dentista A. Amalrik, que em no-
vembro anterior fora condenado a tres anos de prisáo. Aos
18/in e 24/X de 1971, o jornal «Izvestija» dio Governo criti-
cou a «Amnesty International», órgáo destinado a atender a
presos políticos, por causa dos relatónos que tal sociedade pu-
blicou sobre a intemacáo forgada de pessoas sadias em clinicas
psiquiátricas.
Nem por isto se calaram as vozes dos intelectuais. Espa-
Ihou-se urna literatura espuria datilografada e policopiada sem
autorizagáo do governo, apresentando poesías, narragóes, en-
saios políticos, pegas de teatro, memorias... literatura essa
que tomou o nome de «Samizdat» (editora própria). Na pri
mavera de 1968, constituiu-se um Servigo de Noticias da Opo-
sigáo com o nome de «Crónica da Atualidade», que de dois em
dois meses passou a disseminar informagóes sobre prisóes e
processos judiciários na Rússia. Em junho de 1968, foi propa
gado o «memorándum» do físico atomista A. Sacharov com o
título «Pensamentos sobre o progresso, a coexistencia pacifica
e a liberdade espiritual». Em novembro de 1970 fundou-se o
Comité para a Defesa dos Direitos Humanos por iniciativa dos
físicos A. Sacharov, V. Chalice e A. N. Tverdochlebov. Todos
estes fatos atestam o vigor do náo-conformismo dos dentistas
e técnicos soviéticos.
Além dos intelectuais soviéticos propriamente ditos, há
cristáos que protestam na Rússia, seja contra a política reli
giosa do governo, que quer utilizar a Igreja (ortodoxa, nao
unida a Roma) em favor de seus interesses, saja contra as pró-
prias autoridades edesiásticas ortodoxas, que se conformaram

— 520 —
tINTELLIGENTZIA» RUSSA CONTESTA 45

com a opressáo governamental. Também as populacóes nao


russas (ucranianos, tátaros da Criméia e outras) que se acham
sob o regime soviético, exercem resistencia contra os processos
de coagáo do governo.

2. As ¡déias mentoras da resistencia

Pergunta-se agora: quais seriam os principios inspirado


res e os objetivos da oposigáo ao governo?
As diversas tendencias podem resumir-se sob tres
ítens: há os resistentes que professam auténtico marsdsmo-
-leninismo (1), os que abracam urna «Ideología crista» (2), e
os que adotam urna füosiofia liberal (3) •
1) Os auténticos marxistas-leninistas julgam que o gover
no deteriorou a ideología dos fundadores e mentores do Parti
do e exigem a volta aos principios respectivos. Em conseqüén-
cia, propugnam tolerancia para com os cidadáos que diver-
gem da ideologia instaurada no país, tolerancia apregoada pe
la Constitruicáo Soviética.
2) Os resistentes de «ideología crista» desejam a aplica-
cáo da «moral crista» na vida pública. Tal expressáo nao signi
fica urna filosofía religiosa ou eclesiástica, mas urna «doutrina
política» diferente.
3) Os liberáis preconizam a instauragáo, na Rússia So
viética, de urna democracia de tipo ocidental.
Ao lado dessas grandes direcóes da resistencia, registram-
-se outras, de índole mais nacionalista ou mais crista-eclesiás
tica. Pode-ss dizer, porém, que um denominador comum move
as diversas correntes da oposigáo: a aspiragáo a que se instau
re no país o respeito aos direitos humanos — em particular,
o respeito á liberdade de expressáo, como também ao direito
de procurar, receber e transmitir informagóes e idéias sem
o entrave das fronteiras nacionais. Os escritores ou a «intelli-
gentria» literaria propugnam outrossim veracidade, justiga e
legalidade.
Vé-se, pois, que a oposigáo nao pratica urna estrategia
definida e única. O que une os oponentes entre si, é a cons-
ciéncia de que o sistema precisa de reforma; nao pretendem,
porém, ser revolucionarios ou subversivos. Ao contrario,
quando respondem a processos jurídicos, os oponentes do go
verno rejeitam enérgicamente a acusagáo de estarem exercen-

— 521 —
46 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972

do atividades antÍH9oviéticas; apelam para a Constituigáo do


pais e para os direitos que teóricamente lhes sao reconheddos.
Perante os juízes chegam a citar, de memoria, os textos de
leis e de artigos da Constituigáo que favorecem a liberdade e
que evidendam a ilegalidade das perseguigóes, dos métodos
policiais e dos julgamentos a que sao submetidos.

Na verdade, reza o artigo 125 da Constituicáo da Uniáo


Soviética:

"Em conformidade com os Interesses dos trabalhadores e para corrobo


rar a ordem socialista, as leis garantem aos cldadSos da URSS
a) a liberdade de palavra;
b) a liberdade de Imprensa;
c) a liberdade de assocíac6es e assemblélas;
d) a liberdade de desfiles e demonstrac8es ñas mas".

Pode-se, por fim, levantar a questáo: será que os protes


tos contra as constantes violagóes da legalidade por parte do
governo nao significam, em última análise, a rejeicáo do sis
tema soviético como tal (sistema sob o qual se praticam tais
injusticas) ? O «Programa dos Demócratas» publicado no Od-
dente em 1969 insinúa claramente a condenagáo do próprio
regime soviético. Este texto, alias, representaya o modo de
pensar político de pessoas procedentes das mais diversas ca
rnadas sociais e das mais diferentes convicgóes filosóficas! ma
terialistas e idealistas, ateus e crentes, sodalistas e natío-
nalistas... •
A intuigáo de que, em última análise, o protesto antigo-
vernamental significa repulsa do próprio sovietismo preocupa
seriamente os dirigentes do país. Verdade é que a oposicáfo
ainda nao constituí perigo direto para a subsisténda do regi
me, pois este ainda conta com a solidariedade da grande massa
de camponeses e operarios do país.

Vejamos agora

3. A otitude atual do governo soviético

Desde 1971, o Partido Comunista da Rússia (ou, ao me


nos, a ala predominante do mesmo) tem-se oposto la onda de
restalinizagáo. Na 24». Convengáo do Partido (abril de 1971),
Breznev pronunciou-se contra os dois extrems: rastalinizagáo
e destalinizagáo. Ao mesmo tempo, recomendou o prinrípitt do

— 522 —
«INTELLIGENTZIA» RUSSA CONTESTA 47

«realismo socialista» e, indiretamente, urna politizacáo da lite


ratura. Ameagou de «desprezo por parte da sociedade» aque
les que ousassem «caluniar a realidade soviética». Assim o go-
verno, frente ao náo-conformismo, procura caminhar entre «,di-
reita» e «esquerda»; continua, porém, a exercer controle ideo
lógico sobre os acontecimentos do país.
A resistencia, pelo fato de partir dos intelectuais (inclu
sive dos dentistas), causa especiáis apreensóes ao governo so
viético. Este precisa dos pesquisadores e técnicos para prosse-
guir a industrializagáo e prover a economía do país. Os inte
lectuais, porém, julgam nao poder trabalhar ñas condigóes
que o govemo lhes oferece. Em margo de 1970, os tres den
tistas A. Sacharov, V. F. Turcin e Z. V. Medvedev dirigiram
um apelo programático e moderado á cúpula do Partido Comu
nista; nesse documento acusavam o sistema vigente de ser res-
ponsável pela estagnagáo económica do país e pelo recuo da
técnica nacional comparada á dos paises industrializados do
Oddente. Lembravam que, sem liberdade de informagáo, dis-
cussáo e pensamento, sem contatos internacionais e sem sus-
pensáo da censura, se tornam impossíveis os progressos da
dénda e da técnica. Um boletim publicado em favor dos direi-
tbs humanos dizia: «O progresso científico e industrial exige
elevado grau de liberdade criativa, a qual nao pode ser sepa
rada das outras formas de liberdade do homem».
Tal atitude dos intelectuais coloca o governo soviético
diante de importante alternativa:
ou proceder com toda a severidade contra os intelec
tuais (cientistas, técnicos e escritores) da oposigáo — o que
redundaría em diminuigáo do ritmo de progresso industrial do
país e incapaddade de fazer concorréncia aos demais povos
prodütores,
— ou permitir cautelosa e gradativa abertura do sistema
político e social da Russia na diregáo de auna democratízagáo
do país..

Leve-se em conta aínda que a insuficiencia da produgáo


e do reabastecimento da populagáo poderia agravar a insatis-
fagáo existente em certos setores do povo. As agitagóes dos
operarios da Polonia em dezembro de 1970 serviram de sinal
e alarme para os regimes soviéticos.
Por ora a resposta do governo russo aos intelectuais (com
bate ao estalinismo, sem suspensáo, porém, de controle e cen
sura) nao logrou satisfazer aos oponentes: ao contrario, tem

— 523 —
48 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 156/1972

acirrado a resisténtía. Eis por que o governo soviético leva a


serio a oposigáo. Esta parece que só recuará diante de autén
tica democratizagáo do país. Por enquanto, porém, nao se véem
sinais de ponderável abrandamento do regime instaurado na
URSS.

As noticias deste artigo foram colhldas numa resentía devlda a L.S.


Maslov e, com o titulo "Nonkonformismus In der Sowjetunlon"» publicada
em "Herder Korrespondenz" H. 2, Februar 1972, pp, pp. 66-69.
O mesmo periódico "Herder Korrespondenz" apresenta ou'tras noticias
concernentes á contestado pratlcada por intelectuals russos. Vejam-se os
números de fevereiro 1S68, p. 98; malo 1968, pp. 210-212. 244; junho
1968, pp 263-265; novembro 1968, p. 545; agosto 1970, pp. 370-374;
Janeiro 1971, p. 53; agosto 1971, pp. 374-378.
Merece atencSo também o estudo de André Martín, em "Études" no
vembro 1971, pp. 483-514, publicado com o titulo "Enterres vivants...".

APÉNDICE

Á guisa de complemento e ilustragáo de quanto acabamos


de dizer, váo transcritos aqui alguns documentos fornecidos pe
lo «Samizdat» concernentes as Clínicas psiquiátricas em que os
«carrascos de avental branco» se encarregam de punir as pes-
soas recalcitrantes á ideología do regime soviético.

1) Diz, por exemplo, a «Crónica» de junho 1970:

«Os cidodñoi nao integrado» no» quadroi da política soviética sSo ínter-
nado» com oí doenle» mentáis e moscno com loucot furiosos. Se nao cedem a le
recusam a renunciar oí suas convicfSes, sao submefidos a verdadeira» torturas fí-
sicasi tn¡etam-se-lhes doses macísas de aminatina e de sulfaslna, que causafn choques
depressivos e graves reacSes no plano físico. A sulfasina faz subir a temperatura
a 4O'¡ provoca extremo enfraqueeiraonto, reumatismo ñas articulacSes, violentas dores
de cobija e dores nos lugares em que as InjojSoi foram dadas. Habllualmenle, essas
¡njocSes sao aplicadas em casos extremos, ou ie|a, nos pacientes de laucura furiosa.
As in]e(8es intramusculares de aminasina... provocam dolorosos abcessos, que 4 pre
ciso eliminar com bisturí mediante !nterven;5es cl/urajcas.
Quando o 'enfermo' nao é dócil, os enfermeiros o onvolvem, da cabe;a aos
pos, com faixas molhadas e as apertam tanto que o infeliz nao consegue respirar.
Quando as foixas comeqom a secar, as dores se lornam instiportdveis. Um enfer-
meiro controla o pulso do prisioneiro para afrouxar o aperto antes que o paciente
sucumba.
A guisa de represalia, os internados recalcitrantes sao amarrados ao lelto
¿'urania- tris diai consecutivos. Nenhum cuidado sanitario Ihes e ministrado. O
infeliz nao tem o direíto de ir aos banheiros e fica jazendo nos seus excrementos».

2) VlaitBmir Guerchoun refere-se as condigóes de vida na


Clínica-Penitenciaria de Orel. Tal prisioneiro, nascido em 1930,

— 524 —
«INTELLIGENTZIA» RUSSA CONTESTA 49

era pedreiro; foi detído por causa de panfletos publicados em


París pelo Comité dos Direitos do Homem e encontrados em
poder de Vladimir. Este cidadáo nao negou haver assinado
outros apelos contra a injustiga dirigidos a Organismos inter-
nacionais defensores dos Direitos do Homem. O Instituto
Serbsky" diágnosticou nesse- cidadáo urna «esquizofrenia cró
nica»; pelo que foi internado em Clínica Psiquiátrica, onde es-
creveu o seu jornal, de que váo extraídos aqui alguns trechos:
9 de mar(0. Declarom-nos que as carta» doravante só («rao despachada*
dual vetes por mis. É exatamente o mesrao que se dá na prísáo de Boutyrka.
No dia 27 de fevereiro, chegou um combólo regular proveniente de Boutyrkaj as
celas (do prisioneiros) estao superloladasi há memo sele, olio pessoas em cada
cela de 16 x 17 m'j o que redunda em 2 m* por pessaa. Alias, essa é a
norma. Nao há como mexer-se. Só é possível circular nos corredores em caso de
extrema necessidadei ir ao WC, apanhar prodgtot farmacéuticos da enfermarla,
fumar ñas retiradas. As retiradas aquí sao urna auténtica cloaca (qualro buracas
e dúos torneiras para 54 pessoas} ¡ lembram muito os retiradas das eslacSes fer
roviarias, no pior sentido da palavra. Menos da melade de todos os doentes tra-
balham na confeceáo de redes — trabalho este que carece, por completo, de dina
mismo. Passeio: urna hora em pequeños patios, muilo menores do que em Boe-
tyrka. Ñas cetas, nao há um biombo i só se pode oscrevjr sentado no <hao diante
das camas. A luz é deficiente.
10 de marco. Comunicaram-nos que serao confiscados todos os lápit e es-
ferográficas, as quais só nos serao fornecidos para necessidades precisast escrever car
tas... Aos poucos, «ludo entra em ordem>, e essa ordem será semelhante a de
Tcherniakhovsk, mas multiplicada ulteriormente peta tradicáo da Cintra! de Orel.
Como nos tratam? — A mínima frase imprudente dita ao medico ou a enfer
mera pode servir de pretexto a que prescrevam urna serie de ¡njecSes de amina-
tina. De resto, as vezes essas in¡ec.3es sao prescritas sem pretexto algum, segundo
o bel-prazer ou o capricho arbitrario do médico. O Chefe da seccao é um ocu
lista... O segur.do médico é um otorrinolaringologistai o terceiro, um clínico ge-
ral. Parece que o Oirelor da Clínica, o tenente-coronel Barychnikov 6 ele mesmo
candidato ao asilo. É realmente por puro acaso que é o Diretor deste hospital,
como ele foi anteriormente Diretor do Hospital para tuberculosos... É preciso dizer
que, antes da nossa chegada, este hospital se destinava a tuberculosos e Bary-
chnikov ¡á era o respectivo Diretor. A especialidade desse lugar-tenente é a ci-
rurgia. A chegada de nosso comboio proveniente de Boutyrka (60 pessoas), prescre-
veram o mesmo tratamenta para todos, sem excec.ao e sem exame terapéutico. A
mim, por exemplo, tiraram a pressao arterial, mas nao o fizeram aos outros. A
maioria-doj que chegaram, comecou a receber aminasina por for;a, sob forma de
InjecSes. Minguen se interessava pelo seu coracao, pelo seu ffgado ou por suas
doencas eventuais, visto que estes órgaos nao se relacionan) com a psiquiatría. So-
ment(« duas pesoas nao foram tratadas com aminasina; traziam contra-indicacSes
assinaladas em suas fichas aínda no Instituto Derbsky. Um desses pacientes sofría de
grave doenca de ffgado, conseqüíneio de golpes recebidos em Boutyrka, golpes que
exigirán intervencao eirírgica no Instituto Sylifosovsky.
11 da marc.o, da manhá. — ... A oxperiencia me convence- cada vez mais
de que o queixar-se de determinado remedio só tone para que Ihe aumentem a
dose desse remedio ou receilem um medicamento suplementar. Isto \a aconteceu
De noite, das 7 ás 6 h 30 rain, temos o direito de ocupar o refortorio. A
turma escreve cartas, ¡oga dominó, xadrez. Barulho infernal, tohu-bohu que fere os

— 525 —
50 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972

ouvídetl At carias que etcrevo, lornam-se eslranhat. Comparen) ai cartat que escrevt
era Boulyrka com at que envió daqvi e corapreenderSo quol é a minha vida aqui
e como aluam os remedios prescritos... Kozilch, ouvindo minhai advertencias a res-
peilo da sua rosponsabilidade Irenlo as arbitrariedades..., ameajou-me de me
transferir para unta cela de doentes gravemente afeladoi. Alias, ¡á live o prazér
de tal vizinhanca e raesmo por bástanlo tempo, durante molí d« um mSs. Fol preci
samente quando eles luntavam, mediante injecSes, fazer que eu renuncios!» a minha
greve de tome, mas nao o conseguirán), se bem que viver em meio a estes daentet,
ao mesmo lempo que recebem injecSes, é absolutamente indetcrillvel I So suspendí
a minha greve em fins de Janeiro, quando me declararan) que iam suprimir ai
minhas visitas.. .
Na Clínica, muitos sao os que soirem dos denles, mas nao sao levados ao
dentista. Ot enfermeiros se contentatn com dar-lhes calmantes, aconselhando-lhes que
comam com cuidado. Zombam de nos chamando nottat celas supervoadas. «saletas»
a ameacando de repreensáo os quo ousem chama.la» «celas». A ultima moda táo
os sufixos de ternura: omínasela, ele, ote,. . . Aqui zombeteiami as «saletas», as
«¡n¡e;Sezinhas», as «análises de pequeños excrementos»!
19, sexta-feira. — Acabam de colocar em nosta cela um doente gravemente
enfermo, que sofre de critet nolurnas de epilepsia. Desde a primeira noite, ele mo-
Ihou a sua cama. O cheiro fica, pois o cotchoo está embebido, e apenas troca
ran) o tensol».

Estes depoimentos sao suficientemente eloqüentes para


ilustrar a situacáo de pressionamento político na URSS, con
tra a qual reage a «intelligentzia» do país. Foram colhidos,
entre muitos outros, no interessante artigo de «Études» da
autoría de André Martin, citado na bibliografía da p. 524
deste fascículo.

Estéváo Bettencoiirt O.S.B.

— 526 —
renovacao 1973

Para que nio se interrompam as assinaturas, pedimos aos


nossos leitores que fagam suas renovagoes aínda este ano:
a) Enviem cheque pagável no Rio de Janeiro em nome
da Editora Laudes, no valor de Cr$ 30,00, ao endereco se-
guinte: Rúa Sao Rafael, 38, 20000 RIO (GB) ZC-03.
b) Se possível, juntem ao cheque o recorte de seu en
dereco, cortado do envelope de PR. Isso facilitará a localiza-
gao de suas fichas para o lancamento da renovacSo.

Amigo, vocé observou que, á diferenca do ocorrído em


outros anos, o prego da assinatura de PR em 1973 nio foi
aumentado: serio Cr$ 30,00, como em 1972. Maniéremos o
prego, apesar dos aumentos de salarios e outros, previstos
para o setor gráfico.
Seja este gesto um veemente apelo aos nossos leitores
para que procurem difundir PR! Se cada assinante obtiver
um novo assinante (um, no mínimo!), teremos duplicado o cír
culo de leitores da revista. Estaremos entio compensados do
nosso esforgo.
Amigo, nao deixe, pois, de mostrar PR a seus amigos e
faca que ao menos um assine o periódico. Esperamos multo
mate de vocé, pois vocé compreende o valor de ajudar todos
os hbmens a pensar um pouco mals.
Aoroveite também o ensejo de Natal para presentear seus
familiares e conhecidos com assinaturas de PR. Vocé estará
dando um presente que o tornará presente aos seus durante
o ano inteiro.
E, se vocé tiver alguma observagáo ou sugestio a fazer-
-nos, nio hesite em no-la enviar quanto antes. Desejamos ser
vir, e servir bem.

Gratos
Redacio e admlnistracio de PR

— 527 —
62 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972

EXTRAÍDO DA 1MPRENSA

«DOM EUGINIO ELOGIA MONGE BENEDITINO

O Cardeal-Areebispo do Rio de Janeiro, Dom Eugenio Sales, olo-


gíou o monge benediHno Dom EsfévSo Bettencourt pela sua firmeza
na doutrina católica e pela orientasáo que imprime na publleacáo
«Pergunte e Responderemos».
«O Pastor da Arquídiooese, disse Dom Eugenio, respon&ável pela
orientasáo doutrínária dos católicos da Guanabara, toma publicó seo
apoio a Dom Estévéto pela sua constante fidelidade aos ensinamentos
da Igreja».
(«O Globo», 17/X/72, pág. 2)

livros em resentía
Léxico bíblico-Iftórglco, pelo Pe. Frederico Dattler, SVD. — Edi
tora Vozes, Petrópolis 1972, 160 x 230 mm, 168 pp.
Eis em língua portuguesa, mais um Dicionário que vem facilitar e
enriquecerTenSmento de vocábulos bíblicos. Est^ porém,. difere dos
queja conhecemos pelo fato de escolher seus verbetes e orientar suaa
«posicóes em funcáo da liturgia: trate-se de palavras que interessam
aí culto sagrado, desenvolvidas de modo a facilitar a compreensao da
Kturgfe da Igrejk. Asshn, por exemplo, ao abordar os termos «Morte»
bu «Além-túimllo», um Dicionário Bíblico exporta a doutrina da S Escri
tura crineernente a esses (temas ; ao contrario, o Léxico bíbhco-liturgico,
nos verbetes correspondentes, aborda ritos e costumes^funerários (é claro,
norém que estes, a seu moa», póem o feitor em contato com as crencas
e verdades teológicas que os judeus e os antigos cristáos professavam).
Dignos de nota, entre outros, sao os verbetes "Jesús Cristo, Mana
SS OracSo, Magia e Superstisáo...". O autor coloca ante os olnos do
leitór ampio panorama de textos bíblicos atinentes ao assunto, devida-
mente classificados. O novo Dicionário será muito útil aos cnstaos que
desejem ter urna oragáo mais nutrida e aprofundada.

. Seréis batlzados no Espirito Santo, por Haroldo J. RahnvS.J.


e María J. R. Lamego — Edicóes Loyola, Sao Paulo 1972, 140x210mm,
257 pp.
•' Este livro constituí um dos compendios básicos do movimento pen-
tecostal católico, a respeito do qual já foi publicado um artigo em PB
149/1972, pp. 230-238. Esse movimento parte da premissa de qae o
Espirito Santo se manifesta especialmente aos fiéis que lhte sao dóceis,
comunicando-lhes nova visáo da realidade e do plano de Deus», suavidade
e paz interiores ; pode mesmo dotá-los do dom (carisma) de línf»»8
raras óu estranhas para louvar a Deus e tesítemunhar a asao do Espirito

— 528 —
perante a assembléia dos irmáos; os fiéis carismáticos poden» até realizar
curas maravilhosas.

O livro em foco expóe os fundamentos bíblicos e teológicos^ dessa


especial atencáo ao Espirito Santo: mostra que a atitude de docilidade
ao Espirito se verificou intensamente na Igreja antiga; ora é perene
a missáo do Espirito no Corpo Místico de Cristo era vista da sántíficacáo
dos fiéis; portante aínda hoje o Espirito há de agir era todo cristáo que
O procure sinceramente. Quanto ao "batismo no Espirito Santo", nao
constituí um-novo~ sacramento, .mas, sim, o conhecimento experimental do
que o Espirito está realizando no intimo do cristáo: "O que acontece no
momento em que as pessoas sao batizadas no Espirito, varía muito. Urna
pessoa que orou pela vinda do Espirito, sentiu como que urna córrante
elétrica passar por ela. Outra sentiu-se penetrada de 'um estranho calor'.
Muitos sentem simplesmente urna paz profunda e muita alegría. Mas o
mais importante nao sao as sensacóes físicas ou emocóes que a pessoa
experimenta quando é batizada no Espirito. É urna transformacáo que
se opera "pela vivencia do Espirito Santo em nos de urna maneiva nova.
É urna nova especie <de contato com o Senhor" (p. 94).

O movimento de Pentecostés pretende assim restaurar emnossos


dias a experiencia, as grasas e o fervor que marcaram os primeiros
criatáos. O pentecostalísmo contribuiría para renovar a Igreja em nossos
tempos, despertando eficazmente os fiéis católicos para a interioridade, a
oracáo tranquila e a ac.fio apostólica.

Os autores do livro procuram expor claramente o seu pensamento, de


modo a dissipar mal-entendidos: desejam guardar plena fidelidade á dou-
trina da S. Igreja, evitar o sentimentalismo superficial, como tambcm o
sectarismo que divide. Citam copiosamente nao só textos bíblicos, mas
também documentos do Concilio do Vaticano II e do S. Padre Paulo VI;
o livro abre-se com urna Carta-Imprimatur de D. Antonio de Siqueira,
arcebispo de Campiñas. No fim da obra encontram-se roteiros para se
realizar a "experiencia" do Espirito Santo em comunidade durante um
día, dois ou tres dias, assim como urna coletánea de oracóes ao Espirito.
A rigor, nada se pode objetar contra a doutrina do livro em foco
e os encontros "para orar no Espirito Santo", que se vém multiplicando
no Brasil. Bons frutos tém sido oBtidos por tal movimento; murtas pes
soas reencontram assim o valor da oracáa, do recolhimento, da caridade
fraterna, da generosidade... Todavía será sempre necessário vigiar para
que o pentecostalismo nao degenere em religiosidade subjetivista, senti
mental, alienada por pretensas visees, curas, línguas estranhas, euforia
vazia etc. Nao há dúvida, o ser humano deve ir a Deus com toda a sua
8ensib"iiidade; é preciso, porém, que esta 5eja sempre subordinada á
razao e á fé e nunca as sobrepuje. A pedra de toque do movimento será
a fidelidade á Igreja e a conservacáo da comunháo humilde e fraterna
com todo o povo de Deus.
E. B.
MELBOURNE - AUSTRALIA
18 a 25 de fevereiro de 1973

A CREDÍBRlS TU
RISMO, sucessora de Camillo •
Kahn, o¿gulh"a-se de ter organizado
com fetal éxito, peregrirtacoesj>os Con;
gressóV EücarYsticos' áé tóüÑÍCH, BOM-
BAIM e BÓGOTÁVe a|orá,4stá organizando '"'i
urna ab.40.° CoñgresSo Éucaristico que terá a
Assisténclá Espiritual de D. Esteváo Bitten-
courtO. S. B.,.e qué visitará: Papeete, Nandi,
Aucktand, Melbourne, Sidñéy, Hong Kon'g,
Teherán, Térra Santa, Roma e Paris. Vocé
podérá participar deste ato de fé crista
com tudo financiado a longo prazo e
com as facilidades que o Grupo
■ Uniáo de Bancos pode Ihe , ■-
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