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Herman Hesse, «O Lobo», in As Mais Belas Histórias, 2ª ed., Cruz Quebrada, Editorial
Notícias, 2004
“O frio abrandara. A oeste, o céu estava enevoado e parecia prometer um nevão.”
Esta frase, além de nos “mostrar o ambiente” e as condições atmosféricas do local onde a
acção está a decorrer, pretende-nos principalmente mostrar de que a história vai agravar-se –
“Vêm aí maus tempos”.
“Não sentia fome, mas sim a dor indistinta e persistente da sua ferida.”
Nesta frase, o narrador pretende-nos mostrar que era tanta a dor que o lobo sentia que já
nem lhe lembrava a dor.
Nesta frase também estão presentes grupos nominais constituídos por NOME+ADJECTIVO:
○ “focinho descaído”
A utilização dos mesmos, juntamente com a descrição da forma como o seu coração batia
(“pesada e dolorosamente”) mostra-nos o estado miserável e lastimável em que o lobo
estava. E como dessa forma sentiu como a morte se lhe aproximava de um modo bastante
assombroso.
“Um abeto solitário de largos ramos atraiu-o; ali se sentou e fitou melancolicamente
a noite cinzenta de neve.”
Esta frase transmite-nos a solidão do próprio lobo, demonstrada pela ideia do ambiente em
que ele estava, principalmente na expressão “noite cinzenta de neve”, em que há um
contraste entre noite, que simboliza a escuridão, as trevas,.. e a neve, que simboliza a
brancura, a inocência, ou seja, aproxima-se a morte de um ser inocente.
“Passou meia hora. Caía agora uma luz vermelho-pálida sobre a neve, estranha e
suave.”
Nesta frase, é à luz que damos especial atenção, pois é “uma luz vermelho-pálida”,
mostrando-nos a diferença entre a luz que nos era descrita no início – uma luz azul. Este
vermelho (sangue) pálido (fraca), mostra uma luz forte - uma vida, que se está a apagar.
Dando-nos assim uma aproximação da morte, utilizando mais uma vez o grupo nominal
NOME+ADJECTIVO.
Nesta frase, está presente o sofrimento do lobo, e como mesmo assim ele se levanta.
E ainda, é de realçar como o narrador descreve a cabeça do lobo – “bela”. Ele descreve a
cabeça do animal contrariamente à imagem que todos têm dele, a de um animal sombrio.
“Era a Lua, gigante e vermelha de sangue, que nascia a sudoeste e subia lentamente
pelo horizonte enevoado. Há semanas que não era tão grande e vermelha.”
Gigante Pequena
Lua
Vermelha
≠ Lua
Clara
Nesta frase, é-nos mostrado um grande contraste: como a lua era no início e como ela está
agora (de pequena passa a gigante e de clara passa a vermelha), aproximando-nos do fim,
preparando-nos para a morte (“vermelha de sangue”).
“Tristemente, o olho do animal desfalecido fixou o baço da Lua, e, mais uma vez, um
fraco uivo rompeu penosa e silenciosamente na noite.”
“O lobo moribundo fora descoberto, dispararam dois tiros sobre ele e ambos
falharam. Então viram que já estava prestes a morrer e caíram-lhe em cima com
paus e cacetes. Ele já não sentiu nada.”
E assim, com o lobo descoberto sem dó nem piedade, dispararam dois tiros e falharam. E
então deram conta que o lobo estava prestes a morrer e mesmo assim não o deixaram sair,
vendo que ele já não estava em condições de roubar nada, em vez disso deram-lhe uma
tareia! O mesmo já não sentiu nada.
“De membros quebrados, carregaram-no montanha abaixo até St. Immer. Riam-se,
gabavam-se, já se deliciavam com a aguardente e o café, cantavam e praguejavam.
Ninguém reparou na beleza da floresta coberta de neve, nem no brilho do planalto,
nem na Lua vermelha pendurada por cima do Chasseral, cuja fraca luz se quebrava
nos canos das espingardas, nos cristais de neve e nos olhos mortiços do lobo
abatido.”