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As minhas Memórias de Cabeceiras!

Barragens e miragens
Valerá a pena, na mira de produzir mais um
Os pontos de encontro punhado de megawatts, submergir terras
de cultivo, destruir vegetação ribeirinha,
ameaçar todo o ecossistema do rio através
na Praça da República da eutrofização, apagar testemunhos da
nossa herança cultural, violentar a paisagem
Gostava imenso de recuar ao número um (pilas), nove (arco de caneca), vinte e com bulldozers, camiões e cabos de alta
tensão, e demais consequências?
setenta e um anos e dois (dois pratinhos), trinta e três (anos de Cristo), Paulo Pinto*
conservar os nove que oitenta e oito (as mamas delas), noventa (o mais
José Luciano O Sr. Leng Hong, delegado do Partido Comunista Chinês ao
então possuía, ouvindo o velhinho), etc. E o que é certo, é que se passavam, congresso de Espinho, deve ter-se sentido em casa: a unanimidade,
Gonçalves Basto*
sino do Mosteiro de São sem dar por isso, muitas horas, cujas despesas eram a encenação, a aclamação do grande líder. O nosso primeiro-
(Bombarral) Miguel de Refojos, em diminutas, baseando-se nuns copos tintos ou ministro é um homem cada vez mais previsível: sabe-se que fala
Cabeceiras de Basto, que se dizia ter sido adquirido brancos, bem como rodadas de cerveja. sempre por volta das 20 horas, que desvaloriza todas as crises e
em Mafra, já por uma soma assinalável para a época. Noutra sala, junto ao balcão de atendimento, juntava- que se irrita solenemente com as críticas, todas as críticas. Também
Quem o badalava naquela altura, anunciando a morte se diferente grupo, quase sempre constituído por se sabe que se prepara para ganhar as eleições para, na semana
de alguém ou alertando para o horário das Missas, Amílcar Augusto Viana, Doutor Agostinho Montinho, seguinte, anunciar dezenas de medidas económicas e sociais
era o velho «Revolta», que um dia me convidou a Américo Bastos, Bernardino Gustavo Pereira Leite duríssimas que negará furiosamente até ao dia do sufrágio. Não
acompanhá-lo, subindo ambos a custo, os inúmeros Bastos, Mamede de Carvalho Mendes, Padre Manuel está em causa a necessidade de medidas impopulares, mas sim
degraus de pedra, que davam acesso ao cimo do de Araújo e muitas mais figuras. Curiosamente, na sala – como de costume – a poeira que nos lançam para os olhos.
campanário e a pedir-me que tivesse cuidado com as que dava acesso à rua, ali permaneciam dois O Governo tem um projecto para a nossa região: construir
cordas depositadas no chão, ligadas ao badalo do inseparáveis amigos, Doutor Juca Montinho e Severino barragens. Fridão, Daivões, Padroselos, Gouvães, eis os topónimos
respectivo sino, as quais, enroladas numa perna, Leitão, os quais, geralmente, se mantinham calados. que irão pôr as terras de Basto no mapa do aproveitamento
podiam projectar, o mais distraído, a setenta e tal metros Na esplanada, era o local predilecto da figura da hidroeléctrico nacional. Assim está previsto e, tudo o indica, assim
de altura, se por acaso, o sino estivesse a tocar. Ele imprensa, António Ferreira de Sousa (funcionário será. Quem percebe disto são os engenheiros e, como se sabe,
judicial), cunhado dos referidos irmãos Fidalgos, bem um deles chefia o Governo.
mesmo prendia as cordas a pregos resistentes na
As barragens têm sido, de há muito, das obras públicas de maior
parede e só as puxava com o desvio do corpo, sempre como, o Senhor Morais (Chefe da Conservação de
envergadura e mais acarinhadas pelos governantes. Algumas
com muito cuidado. Estradas), Doutor Ferreira Leite (Médico), Doutor
barragens foram anunciadas como verdadeiras receitas
E por falar em sino, certo dia perguntaram ao meu Falcão (Advogado), Francisco Mendes, tio de milagrosas para regiões e países: a de Assuão, no Egipto, e a das
saudoso pai, qual era o instrumento de cordas, que Mamede Mendes e outro rol de amigos. Três Gargantas, na China, são talvez os exemplos mundiais mais
sabia tocar, cuja resposta imediata foi sino! Relativamente ao café do fundo pertencente à Pensão destacados, mas o nosso Alqueva também poderia figurar na lista.
Como o meu espírito ainda está em franco movimento, Cabeceirense, outro conjunto de pessoas ali se reunia, O regime salazarista construiu muitas, grandes e pequenas, na
com solidez de raciocínio, recordo-me de tantas nomeadamente, o extraordinário homem do cinema, metrópole e no Ultramar.
pessoas que conheci na Praça da República, que é Ilídio dos Santos, António Manuel Pereira Ramos, Parecem-me existir dois argumentos de peso a favor das barragens
impossível enumerar, mas de certeza que foram Benedito Gonçalves Serra, muitos funcionários do no Tâmega e nos seus afluentes: a produção de energia eléctrica
milhares, durante o período de permanência na minha Tribunal e de outras repartições públicas. Quanto à utilizando um recurso renovável e «limpo», e o potencial turístico.
terra natal até 1961 e para quem nasceu no ano de Pensão Cabeceirense, propriamente dita, um grupo Já a criação de emprego local será seguramente diminuta, e o
1929, a percentagem de pessoas é bastante elevada, de amigos, quinzenalmente, ali se encontravam para movimento acrescido só se fará sentir durante as obras. As
cuja maior parte, já não pertence ao número dos vivos. almoçar, constituído pelo Acipreste Francisco Xavier barragens, como motor do desenvolvimento local, são uma
E foi na Praça da República, principalmente no café de Almeida Barreto, Tenente Bernardo, Albininho da miragem, uma ilusão em que os autarcas por vezes embarcam e
do meio, onde convivi de perto, aos fins de semana, Castanheira, Engenheiro de Aradela, Domingos da qual querem convencer os cidadãos. Contudo, sendo o vale tão
com muitos Cabeceirenses, a jogar o Quino, numa Medeiros, o Médico Doutor Camilo, o Zéquinha Melo estreito e encaixado, as albufeiras não terão dimensão para atrair
sala perto da cozinha, ouvindo-se a água do rio, que e ainda um idoso muito simpático, que não me recorda grandemente os turistas (e a qualidade da água, pelo menos no rio
o nome, que então se encontrava hospedado na Tâmega, dificilmente permitirá o uso por banhistas). Quanto à
por debaixo deslizava suavemente e das pessoas que
energia, por respeitável que seja o argumento, o contributo de todas
aderiam ao popular jogo, me recordo de algumas, tais Pensão Venâncio, julgo que de apelido Barroso.
estas barragens reunidas para a produção eléctrica nacional não
como, Zé Pote, os irmãos Fidalgos (António, Manuel Quem se deslocava ao dito café do fundo, propriedade
irá além de 1% (previsões do próprio Governo) e será rapidamente
e Paulino), Armindo Leitão, Augusto Carteiro, do casal formado por Arnaldo de Moura Coutinho e absorvido pelo crescimento do consumo. De facto, o potencial
Augusto Teixeira, Chico Polícia, Fernando Guerreiro Glória de Magalhães Vaz Coutinho, era o meu saudoso hidroeléctrico do País está já em grande parte aproveitado.
da Silva e tantos outros, cuja lista nunca mais acabava. pai, o Candidinho do Barrosão, para beber a sua Valerá a pena, na mira de produzir mais um punhado de megawatts,
É de notar, que o autor desta crónica, tinha muita tacinha de vinho verde e que na sua opinião, ajudava submergir terras de cultivo, destruir vegetação ribeirinha, ameaçar
sorte no preenchimento dos cartões, cobrindo os a «mudar a água às azeitonas». Também se deslocavam todo o ecossistema do rio através da eutrofização, apagar
respectivos números com feijões e que saíam do saco, à Praça da República, duas figuras que muito admirei, testemunhos da nossa herança cultural, violentar a paisagem com
por alguém seleccionado. Era dado um nome a cada as quais residiam em Bucos, Custódio Henriques Brás bulldozers, camiões e cabos de alta tensão, e demais
pedra que o pregoeiro tirava, dando alguns exemplos, e o Professor José Paula Casalta. Bons *Colaborador
tempos! consequências? Esta política barragista, tão do agrado de
engenheiros da EDP e empreiteiros, está a condenar os últimos
verdadeiros rios de Portugal (o Sabor, o Paiva, o Tua, o Côa, o
O QUE OS OLHOS MORTAIS NÃO ENXERGAM Tâmega…) a uma morte lenta. É isto que queremos?
Claro que as necessidades energéticas são reais, e que é vital
(CAPÍTULO XLVIII) desenvolver as fontes renováveis e não poluentes. A evolução da
Neste capítulo vou fazer uma um pedaço de chão que trabalharam e que dele são deslocados tecnologia permite hoje uma variedade de apostas, do solar à
pequena abordagem sobre a para um lar, fica sempre uma metade do outro lado a gritar biomassa, do eólico à energia das ondas, a maioria delas com
chamada terceira idade, bem pela outra metade. O busílis gira em volta de um reduzido impacto ambiental. O modelo de produção também conta:
como os desaires que a mesma individualismo que mais tarde terá de ser pago com a em vez de grandes investimentos que agridem a Natureza, pagos
Albino Antunes* desencadeia. desilusão. Digo isto, porque nos tempos que correm, os por todos nós mas que ficarão propriedade das grandes empresas
Embora eu particularmente, só considere terceira idade ou lugares ou pelo menos as sedes das freguesias, têm e dos senhores da finança, interessaria muito mais apoiar a micro-
fim de ciclo, para aquelas pessoas que deixam de exercer possibilidades de ter um mini lar para aqueles que já não produção local e doméstica, que reduza a pressão sobre as redes
qualquer actividade por velhice excessiva, ou doença arrastarem o seu físico não sejam retirados das suas raízes eléctricas e reduza o desperdício energético. Será isto impossível?
enquadrada na velhice e que já não tenham um físico em e possam contemplar o seu pedaço de chão até se libertarem Ou falarão os grandes interesses mais alto? A meu ver, o nosso
condições de criar vigor. Entre estes existem ainda os que do físico. No entanto, é bom que se vão desapegando dos interesse, dos Portugueses e dos que aqui neste torrão vivem, tem
vivem em terras de alguém e os que vivem em terras de bens que adquiriram, pois na matéria nada é eterno. pouco a ver com estas barragens.
*Colaborador
ninguém. Considero os que vivem em terras de alguém Todos queremos viver muitos anos e isso é bom enquanto o
aqueles que vivem nas aldeias e pequenas vilas rurais, onde nosso físico nos consegue acompanhar. Quero dizer, que só
têm um pedaço de chão e a ele estão ligados com amor. interessa vivermos muitos anos, enquanto o nosso físico e A titulo informativo e para que os caros leitores deixem de temer a morte, digo-
Temos depois os que vivem em terras de ninguém. Para o espírito trabalharem em simbiose. É penoso quando o vos que já estive fora do corpo por motivo de uma explosão. Vi o meu corpo
estes, que são os que vivem nas cidades, o arranque para espírito lhe apetece ir até além e o físico fica aquém. caído no chão, inerte no meio da fumaça. Eu ao lado a vê-lo. O fumo não me
um lar torna-se menos doloroso, porque cidades são cidades E a morte! Todos temos medo da morte. Medo daquela que impediu a visão, vi sempre o corpo até à altura em que o fumo desapareceu e eu
onde o contraste pouco difere. Mas para aqueles que têm nos liberta da dor e de um corpo cadavérico que nos faz fui atraído novamente ao corpo e me levantei. Neste pequeno tempo de separação,
prisioneiros e tristes. Tememos a morte porque apercebi-me que o corpo não era nada, não pensava, não tinha acção. O espírito
desconhecemos a liberdade e a leveza que ela nos via, pensava e sentia emoções. O corpo só voltou a ter vida quando eu (espírito)
proporciona. A morte é liberdade o nascimento na matéria é entrei nele não por querer, mas porque fui atraído para ele depois da fumaça ter
prisão, trabalho e desilusão, no entanto não devemos desaparecido. O corpo não sentia dores, eu (espírito) também não, as dores só
provocar a morte, devemos primar pela vida corpórea até apareceram quando corpo e espírito ficaram unidos.
ao fim, porque viemos à matéria com um fim, portanto não Face ao exposto, a morte não é problema, o grande problema é a doença,
devemos interromper esse percurso. Deus deu-nos a vida principalmente quando já não nos deixa alternativas e se prolonga. Todos queremos
por um determinado período, porquanto não devemos viver mais tempo, o prémio é o sofrimento.
interrompe-la, mas também não há interesse em a prolongar Para evitarmos um fim de ciclo muito doloroso, devemos de nos mexer enquanto
quando o físico já não corresponde às exigências da matéria. houver forças, o resto deixamos com o Alto.
Refiro-me aqui aos corpos que estão ligados às máquinas No próximo capítulo vou falar sobre a actual aflição da humanidade, tanto no
sem vigor nem perspectivas de reactivar. campo material como no campo espiritual. *Colaborador
Os textos de Opinião reproduzidos são exclusivamente da responsabilidade dos seus autores, não vinculando o Jornal “ O Basto”.
20 de Março de 2009 17

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