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Em tempo real
Trata-se de uma pesquisa de uma instalação que faça convergir certos problemas
relacionados ao conceito de tempo real com certas questões trazidas pela questão da
performance e do corpo. O artista se encontra em seu ateliê, deitado em uma rede, lendo
Em busca do tempo perdido. Esta imagem é projetada na sala de projeção ao vivo, em
tempo real. Ao artista, não resta outra opção senão a de ler o livro, tarefa que ele
realizará durante o tempo da exposição (lembramos que o livro contém 7 tomos e requer
pelo menos 4 semanas para ser lido). Em algum lugar da cena, há um espelho que
permite que os visitantes se vejam inseridos na mesma, tal como o rei e a rainha no
quadro “Las Meninas” de Velásquez. O que me interessa aqui é explorar a dimensão
intermediária, fractal, que existe em vários elementos da instalação, contaminados que
eles estão pela “ubiquidade” do tempo real, que, como no tempo proustiano, mistura
presente e passado em um tempo processual como no fenômeno da paramnésia (“déjà
vu”). Onde estou, aqui ou lá? O que é um corpo, um lugar, um momento, quando eles
não se encontrem ancorados no “padecimento” imediato do que ocorre.
A farmácia do sonho
Com base nos esboços de uma estética da voluptuosidade elaborada por Friedrich
Schlegel, principalmente em sua novela Lucinde, buscaremos traçar a partir da figura
feminina e fescenina, nas iluminações da pintura simbolista de Gustave Moreau e na
literatura e poesia simbolistas (Nerval, Baudelaire, Laforgue), o ideal do sonho de uma
onipotência da mulher. Ainda, no domínio da literatura, veremos a influência dessa
Farmácia do Sonho na poesia surrealista de André Breton. Caminharemos através da
obra de Moreau no que podemos denominar de êxtase da cor, cuja paleta terá um papel
determinante na pintura de seus principais discípulos na Modernidade (Marquet,
Rouault, Matisse). No Brasil, destacaremos a sua presença de forma singular na obra de
Darcílio Lima e Edson Dantas.
Este trabalho procura investigar na obra de Carlos Heitor Cony, Pilatos, quais as formas
de representação do corpo criadas pelo autor. Os modos de se dizer o órgão masculino,
encontrados pelo autor, têm início na escolha do nome do pênis do narrador – Herodes –
e se prolongam nas imagens produzidas através da palavra-corpo que monta uma
narrativa despreocupada com a obscenidade de suas imagens. Herodes é o corpo-pedaço
que se aventura com seu dono despojado de falo pela narrativa. Ao destacar uma escrita
escandalosa que fala do corpo e coloca no seu centro um pênis, num período marcado
pelo regime militar, Carlos Heitor Cony coloca à prova os limites do bom gosto e da
inteligência em literatura com uma escrita obscena e escrachada que experimenta a
liberdade de quem se propõe a falar o corpo de mãos lavadas.
Leitura de obras de Hélio Oiticica sob o ponto de vista da performance. Interessa ver
como em diversos trabalhos, e não apenas nas performances propriamente ditas, a partir
dos anos 60, esteve envolvido o corpo como participante ativo da proposta artística. Nos
penetráveis, bólides, cosmococas e em diversas outras intervenções estéticas, põe-se em
cena não só o corpo do artista, mas também o do espectador. É com esses corpos
performáticos que se sustentam a arte e a vida, ou seja, o Projeto Hélio Oiticica. Serão
feitas referências filosóficas a Merleau-Ponty, Derrida e Jean-Luc Nancy.
O início do século XXI viu surgir, nos cinemas e no vídeo, diferentes filmes onde o
atrativo principal parecia localizar-se no espetáculo da ruína do corpo. A procura
crescente, ao redor do globo, por produções deste tipo, levando em conta suas
características comuns, propiciou até mesmo a criação de um termo específico para
designá-las, o torture-porn. Por envolver imagens extremas e a transgressão do espaço
que delimita atos e afetos moralmente aceitáveis e privilegiados, este fenômeno
contemporâneo é passível de ser analisado a partir do que Deleuze denominou imagem-
pulsão. Este regime de imagens aponta para afetos degenerados capazes de desarticular
o modo pelo qual nos relacionamos com o corpo e suas representações. A crueldade
apresentada na ficção permitiria um acesso imediato à crueza do real, atrelado a um
amargo e visceral elogio ao sensível.
Tendo como fio condutor as palavras lógos (discurso) e soma (corpo), examinarei o
famoso Elogio a Helena de Górgias, discutindo a inserção deste discurso nos corpora
das obras do período clássico grego e a demarcação entre um texto filosófico e um
literário. Por comparação, tratarei, também, do Elogio a Helena de Isócrates, que nos
permite ver a presença desta famosa personagem feminina no coração do debate sobre
os domínios da filosofia, da retórica e da sofística
Este trabalho tem como proposta duplificar o alcance de um ensaio escrito pelo autor
para a obra Imemorial da artista plástica Rosângela Rennó. Como forma de abordagem
da instalação, as legendas produzidas no ensaio procuravam pensar o desafio que a
artista impôs sobre as possibilidades da manutenção do sujeito, do corpo, da identidade
e da identificação e do discurso, ao manipular fotografias 3x4 de arquivo público. Neste
trabalho, o objetivo é entender o canal de acesso que as legendas instauram como
discurso performativo, utilizando as concepções sobre o performativo que Jonathan
Culler oferece, ao observar a aderência e o desvio da linguagem diante das imagens dos
rostos anônimos da obra de Rennó.
O século XVIII interessou-se mais por Ofélia do que por Hamlet, que foi representada
em imagens do que o herói infeliz pelo qual morreu. Muitos críticos questionavam o
motivo da escolha de Shakespeare, outros tentavam sustentar sua pureza feminina
contra a evidência de sua loucura. Gaston Bachelard, no século XX, chegou a chamar
complexo de Ofélia à relação da imagem com as águas. Podemos compará-la à Moema
de Victor Meirelles. Interpretações não faltam, mas o que nos cabe perguntar hoje é
pelos motivos trágicos para matar uma mulher. O que há de comum no suicídio das
mulheres na tragédia grega, na tragédia shakespeariana e nas artes visuais? O que é uma
mulher morta? Por que deve aparecer morta, a que tipo de espetáculo serve? A história
da pintura não é pornográfica, mas necrofílica. Ofélia é seu emblema e sua prova.
Aquilo que podemos hoje, invertendo uma das mais correntes leituras da história da arte
atual, a de Aby Warburg, chamar de antininfa.
O presente trabalho busca ler alguém em e por alguém, segundo uma autobiografia não
pessoal. Nesse sentido, sua escrita destaca uma noção de performance criada pela leitura
da obra Orlando de Virgínia Woolf, conforme um afeto de tipo filosófico e de
imposição artística. Assim, o que se busca fazer entender é a interface admitida entre
performance e leitura, dispondo de um dispositivo denominado leitor — como se fosse
admissível tomar os olhos de Orlando e fazê-los meus.