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TANGARÁ DA SERRA – MT
2007
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TANGARÁ DA SERRA – MT
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TANGARÁ DA SERRA – MT
2007
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RESUMO
Este trabalho buscou discutir os processos que envolvem a formação de conceitos e suas
relações com a aprendizagem formal da língua materna. Baseou-se nas reflexões teóricas
sobre as variações de códigos lingüísticos e o desempenho cognitivo do educando. Procurou-
se destacar a importância da escola e da família no desenvolvimento lingüístico do aluno, no
que se refere às competências comunicativas buscando apresentar o papel da interação social
nesse processo, com ênfase na prática da formação de conceitos, desde o início do
desenvolvimento lingüístico até a formação de um aluno com pensamento crítico, para que
este possa estar preparado em lidar com mostras lingüísticas e códigos provenientes das
diferentes estruturas sociais. Por estas razões, realizou-se um estudo de base bibliográfica em
apoio à pesquisa de campo, tendo como parte do corpus um questionário, para dar concretude
à relevância deste trabalho com conceitos, mostrar seus alcances e suas particularidades.
ABSTRACT
This paper sought to discuss the processes that involve the concept formation and its relations
with the formal learning of the mother tongue. It based on theorical reflexions about the
variations of linguistic codes and the learner´s cognitive development. It has focused on the
importance of school and family in the linguistic development of the student, relative to the
communicative competences this study has presented the role of the social interaction in this
process, by emphasizing the practice of concept formation, since the outset of the linguistic
development until the formation of a student with critical thought, to be prepared for dealing
with linguistic extracts and codes from different social structures. For these reasons, a study
on bibliographic bases was realized as support of the fieldwork which used a questionnaire to
materialize the relevance of this work with concepts, to present its reaches and particularities.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ………………………………………………………........................ 08
2- DINAMISMO LINGÜÍSTICO…………………………………….........................17
CRÍTICO ..............................................................................................................29
CONCLUSÃO .............................................................................................................. 33
REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 34
ANEXOS ...................................................................................................................... 36
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INTRODUÇÃO
freqüência, já que desde o início do período escolar, o aluno receberá informações e terá de
criar conceitos próprios para tudo o que aprende. Portanto, seu vocabulário mostrar-se-á mais
restrito, e sua capacidade de lidar com muitas informações e conceitos também estará mais
reduzida, conseqüentemente.
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CAPÍTULO I
Conceitos são categorias mentais para objetos, eventos ou idéias que têm um
conjunto comum de características. Conceitos nos permitem classificar objetos e
eventos. Para aprender um conceito você deve concentrar-se nas características
relevante e ignorar aqueles que são irrelevantes. (BOURNE, 1994, p.191)
O aluno precisa ser estimulado a apoiar-se na sua intuição da língua para opinar
sobre a qualidade de frases propostas - bem-formadas/malformadas, claras/obscuras,
concisas/palavrosas, etc. Afinal, saber a língua não é só saber construir e interpretar
frases, mas também julgá-las, ver se observam regras implícitas (gramaticalidade),
se são boas para a comunicação ou performance (aceitabilidade).
(LUFT, 2005, p.65)
Ao que Luft (2005, p.65) se refere como intuição da língua, foi apresentada
anteriormente com o termo “consciência” da língua, pois, a partir do momento em que a
criança ou o aluno a tem, ele é capaz de observar, analisar e corrigir, se necessário for, a sua
fala. Isso demonstra um conhecimento pragmático satisfatório para suas relações sociais,
conseguido através do processo de apreensão de informações, processamento e formação de
conceitos sobre a língua e principalmente através da língua, já que seu aprendizado é
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transmitido em grande parte via língua. Portanto, é relevante ressaltar a importância que o
julgamento consciente da língua (forma/uso) possui no aprimoramento da mesma, o que faz
do indivíduo o principal crítico de seu aprendizado. O autor ainda acrescenta que a escola
deve ajudar o aluno a crescer e a ascender lingüisticamente, mas isso só será alcançado se este
crescimento atingir o aluno globalmente, trabalhando-se uma prática intelectual e emocional
que inclua todas as disciplinas do currículo, pois desenvolver-se lingüisticamente na produção
de conceitos significa possuir a ferramenta para o aprendizado de todas as outras áreas (id.
Ibid, p. 66).
O desenvolvimento de conceitos envolve símbolos e representações simbólicas
cujos usos e significados precisam ser estabelecidos através de atividades
intelectuais durante longos períodos de tempo e em diversas situações. Os conceitos
não são entes isolados que o indivíduo possui ou não. Os conceitos fazem parte de
uma teia de conceitos afins. (ALENCAR, 1996, p.189)
Também Bakhtin (2006, p.127) deixa evidente a relevância dessa interação verbal,
define seu papel neste processo em que a língua se torna a própria expressão das relações
sociais nas quais os indivíduos estão inseridos.
É evidente que todo falante nativo sabe sua língua, contudo, ele precisa desenvolver-se,
crescer, praticar em outros níveis e situações, para que o domínio de sua própria língua seja
sua primeira ferramenta para atingir sucesso nas relações sociais, pois as palavras, devido ao
seu caráter ideológico, possuem a capacidade de registrar as características externas e de
mudança social, conseqüentemente. Além disso, tais interações determinam todos os contatos
verbais possíveis entre os indivíduos em suas relações cotidianas de trabalho e produção,
todos esses itens exigem do indivíduo uma utilização consciente do material lingüístico, pois
estas formas estão vinculadas às condições de uma situação social (BAKHTIN, 2006, p. 43).
A partir dessas discussões tem-se elucidada a importância das interações sociais no que se
refere ao desenvolvimento da competência lingüística.
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CAPÍTULO II
2 - DINAMISMO LINGÜÍSTICO
elaborado. Portanto, segundo os trabalhos do autor, as crianças da classe média tinham acesso
aos dois códigos; tanto ao restrito: que se caracteriza por estruturas gramaticalmente simples,
quanto ao código elaborado que se caracteriza por uma estrutura gramatical complexa e
precisa, enquanto o processo de socialização das crianças da classe trabalhadora dá acesso
apenas ao código restrito (SOARES, 2002, p.25). Portanto, devido ao intenso e variado
processo de interação comunicativa ao qual as crianças da classe média têm oportunidade de
participar, faz com que elas possam fazer uso desses dois códigos, dependendo da exigência
contextual. Segundo a autora, o mesmo não ocorre com crianças provindas da classe
trabalhadora, que possuem um processo de socialização mais simples e que resultava apenas
no acesso e utilização do código restrito em todas as situações de interação. Assim, a
capacidade de adequar a linguagem ao contexto é prejudicada devido ao acesso a apenas um
dos códigos lingüísticos. É relevante clarificar que, para Bernstein, as dificuldades de
aprendizagem da criança da classe trabalhadora não se devem a uma linguagem deficiente, à
pobreza lexical ou ao contexto cultural, mas ao confronto entre códigos no contexto escolar,
onde se valoriza a utilização do código elaborado. Esse confronto de códigos causa uma
barreira na aprendizagem formal, por se tratar de um ambiente que busca a homogeneidade
nos indivíduos, pois ali, todos devem utilizar o mesmo código, já que as interações sociais
valorizam modelos gramaticais e semânticos mais elaborados. Portanto, a escola faz uso desse
mesmo código, por procurar transmitir um modelo socialmente aceito.
A utilização apenas do código restrito pode estar ligada a essa capacidade de
desenvolvimento de conceitos ao longo da aprendizagem, devido às interações sociais desses
indivíduos se apresentarem de maneira mais singular e simplificada, não surgindo, portanto,
oportunidades reais de trabalhar-se com os conceitos e códigos que fazem da interação
comunicativa um processo mais exigente e plural para os estudantes, que ao longo do período
escolar já estão acostumados às trocas de códigos e a constante formação de novos conceitos,
os quais lhes são apresentados na escola, obtendo melhores resultados tanto no aprendizado
formal da língua materna, quanto nas demais disciplinas que também trabalham com novos
conceitos.
Segundo Calvet (2002, p.27) a tese principal de Bernstein se baseia no princípio de que
“o aprendizado e a socialização são marcados pela família em que as crianças são criadas, que
a estrutura social determina, entre outras coisas, os comportamentos lingüísticos”.
Portanto, o dinamismo lingüístico aqui proposto se baseia no melhoramento dessas
interações sociais e maior variedade nas amostras lingüísticas no contexto familiar dos alunos,
no qual deve haver uma exposição intensa a essa pluralidade de interação lingüística, que fará
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com que as dificuldades provocadas pelo choque de códigos se suavizem, facilitando assim o
processo de aprendizagem em todos os seus campos. Apresentar aos alunos um insumo
lingüístico mais dinâmico e plural em seu contexto familiar, através de modelos mais
elaborados da língua poderá conduzi-los a uma preparação sutil para a educação formal.
Então, o dinamismo da língua e seus conceitos serão entendidos mais facilmente e de maneira
natural. Segundo Luft (2005, p.56) “a linguagem da criança, quanto ao nível cultural e
vocabulário, dependerá naturalmente do meio em que ela vive, dos modelos a que é exposta
para liberar suas próprias capacidades”.
As capacidades descritas pelo autor podem ser relacionadas com o desenvolvimento
da habilidade de utilização de diferentes códigos lingüísticos, adequando-os aos diferentes
contextos que as interações sociais lhes fornecem. E essa aprendizagem apenas se concretiza
quando os alunos se apresentarem familiarizados com estas mudanças lingüísticas, para que
não ocorra a utilização equivocada de código, fato presente, por exemplo, numa situação na
qual o aluno utiliza-se de seu código (não-padrão) para conversar com amigos, apresentar um
seminário ou mesmo uma entrevista de emprego, variações situacionais que exigem uma troca
de usos da linguagem. Daí provém a necessidade de desenvolver e avaliar a própria língua,
para que ocorra o melhor desempenho. Magda Soares cita Bernstein para reafirmar a
importância desse trabalho prático e reflexivo no ambiente escolar:
Portanto, os alunos devem estar preparados para saber lidar com as mostras lingüísticas
provenientes das diferentes estruturas sociais, demonstrando o domínio dos códigos mais
presentes em suas interações. Pois, como tem sido descrito ao longo desse trabalho, ter o
domínio desses códigos significa possuir acesso a grande parte dos meios sociais, o
comportamento lingüístico poderá ser um dos meios para alcançar tal acesso.
No entanto, após estudos realizados com alunos provenientes de guetos de Nova Iorque,
Labov (In: BELINE, 2004, p.130) afirma que crianças negras pertencentes às classes
trabalhadoras (working class) socialmente desfavorecidas possuem a mesma capacidade para
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a aprendizagem conceitual e para o pensamento lógico que as outras crianças da classe média
(middle class), no entanto, suas pesquisas conduziram a um princípio semelhante ao de
Bernstein. Labov conclui, mesmo tendo criticado aos trabalhos iniciais do sociólogo inglês,
que existe um subsistema lingüístico diferente entre as classes, mas que foi por ele definido
como apenas diferenças de estilos, ao passo que Bernstein as definiu como códigos. Porém,
ambos os autores atribuem o fracasso escolar ao conflito cultural e ao choque de códigos no
período escolar, mesmo utilizando-se de termos diferentes. Calvet menciona os estudos de
Labov para analisar o conflito cultural que permeia o possível fracasso escolar.
Por conseguinte, a língua como Bakhtin (2006, p.17) define, “é a expressão das
relações e lutas sociais, veiculando e sofrendo o efeito dessa luta, servindo, ao mesmo tempo,
de instrumento e de material”. Dessa forma, a língua é uma forte ferramenta para buscar
qualquer transformação social, e partindo dessa premissa, os indivíduos devem ter consciência
de que seu código lingüístico é reflexo de uma realidade social que os envolve, e que é
também a própria língua o material expositivo dessas diferenças de classes. Como apresentou
o sociólogo inglês Pierre Bourdieu em discussões sobre o mercado lingüístico:
O discurso não é apenas uma mensagem destinada a ser decifrada; é uma também
um produto que entregamos à apreciação dos outros produtos e cujo valor se
definirá na relação com outros produtos mais raros ou mais comuns. O efeito do
mercado lingüístico (...) não pára de exercer até nas trocas mais comuns da
existência cotidiana (...). Instrumento de comunicação, a língua é também um sinal
exterior de riqueza. (BOURDIEU, 1990 apud CALVET, 2002, p.106)
Como declara o autor, nos processos de interação verbal entre os sujeitos de uma
comunidade, as trocas lingüísticas são produtos a serem avaliados pelos outros, pode-se sofrer
apreciações positivas ou mesmo a desvalorização social. Essa metáfora econômica, no entanto
aplicada, especialmente, ao campo da lingüística demonstra o alcance da língua como fato
social, suas relações externas com as superestruturas sociais, transmitindo valores,
competências e ideologias.
Como acentua Luft (2005, p.67) em sua análise sobre a situação do ensino de língua
materna no país, que defende o princípio de que o aluno só se desenvolverá lingüisticamente,
se isso fizer parte de um crescimento global, isto é, maturação intelectual e emocional, em
todas as disciplinas do currículo escolar. É nessa perspectiva que se insere a crítica que
Magda Soares faz ao sistema educacional tradicional:
A educação lingüística orientada por um modelo teórico com base científica e com
possibilidades de ser operacionalizada a ponto de promover modificações e
enriquecimentos na competência lingüística do aluno terá de provocar, como natural
conseqüência, uma reforma de currículo e de atividades didáticas.
(BECHARA, 1993, p.22-3)
Para que tanto aqueles provenientes de camadas sociais mais altas, como a grande
maioria que provém das baixas tenham acesso às ferramentas de mudança para o ensino,
resultando, conseqüentemente, no melhoramento da capacidade de aprendizagem conceitual e
também para o desenvolvimento do pensamento lógico. E, essa competência será alcançada
quando houver a aceitação da premissa que todas as variações de código são adequadas às
necessidades e características do meio a que o serve, a partir desta base, buscar o
melhoramento da qualidade de ensino da língua materna nas escolas.
23
2. 1. 1 - Análise de corpus
Os questionários buscaram exigir dos alunos uma análise prévia de seus conhecimentos,
pois, apresentaram temas que já tivessem sido trabalhados nesta fase do período escolar. A
respeito do nível de dificuldade das questões, ficou evidente que as perguntas e suas respostas
alternativas não eram difíceis para a maioria dos alunos. Por outro lado, quando os alunos se
24
9- Qual das formas a seguir NÃO serve para conjugar a estrutura “A gente ...”
Na análise, as justificativas dos informantes serão transcritas de forma fiel para oferecer
ao leitor clareza sobre as nossas observações, também para elucidar os nossos objetivos.
A primeira questão ligada à área de ciências, a qual questionava sobre a que família o
gato pertence, mostrou-se de fácil resolução para ambos os grupos; a grande maioria dos
alunos enfatizou a televisão como fonte aprendizagem.
A segunda questão, que está relacionada diretamente aos conceitos gramaticais de
língua materna, procurou verificar as concepções que os alunos possuíam referente à função
dos artigos sobre os substantivos. Foram detectadas, nas respostas aos questionários, poucas
respostas realmente conscientes que fornecessem defesas consistentes para suas escolhas.
Percebeu-se que poucos alunos tinham domínio sobre os conceitos de gênero, tempo e
número. Do grupo proveniente da escola pública distrital, apenas cinco alunos conseguiram
acertar esta questão. Algumas, no entanto, apresentaram defesas incompreensíveis como
demonstram os textos abaixo, transcritos fielmente à das folhas de respostas dos alunos:
“Porque as pessoa esta vivendo o gênero e numero”; “Por é um do substantivos que só troca a
palavra”; “Porque tempo é um tempo de fazer alguma coisa”.
Pode-se observar nos exemplos das justificativas acima que têm pouco conhecimento
sobre estes conceitos. Porém, nessa mesma questão, a resposta de um aluno da escola
particular conseguiu descrever a função do artigo, e escreveu: “define se está no feminino ou
masculino ou singular ou plural”. Por outro lado, outros alunos da mesma escola conseguiram
acertar a alternativa, mas se mostraram incapazes de justificar sua escolha, fornecendo apenas
defesas simples como: “Porque eu já aprendi”, “porque eu acho que realmente é tempo e
genero” ou “não tenho certeza”. Isso demonstra a conseqüência de um ensino abstrato e pré-
concebido que se tornou distante do aluno, pois, tem-se evidente o fato de que a escola
particular já trabalhou o conceito, por isso um aluno acertou, porém, deve ter sido um estudo
baseado na gramática normativa, sem sentido. Por isso, grande parte das justificativas se
apresenta simplificada, falta-lhes consciência para perceber a realidade conceitual de termos
lingüísticos. Como discute Bechara (1993, p.30) em suas análises sobre a falta de significação
que o ensino de língua portuguesa oferece aos alunos. “Às vezes, a língua é repositório de
velhos costumes que se apagaram e por isso mesmo, sem a interveniência da explicação do
professor, a palavra ou expressão se mostra ao aluno totalmente destituída de sua força
significativa”. Embora, as questões utilizadas tentaram exigir apenas uma análise pragmática
da língua, não se buscou conhecimentos teóricos profundos do idioma nacional.
A terceira questão trabalhou com conceitos de ciências, pois discutiu a definição do que
é vapor. Tinha como alternativas as opções: água em forma líquida, forma gasosa ou forma
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sólida, mas que poderiam ser apenas justificados pela experiência vivencial e simples do
cotidiano. No entanto, alguns alunos não conseguiram argumentar, apresentaram justificativas
que ultrapassaram a área de ciências, como: “Por que eu já estudei iço”. Essa resposta, em
outro contexto, poderia soar como um ato de rebeldia, se o informante não fosse voluntário.
Esse fato mostra a fragilidade da educação, ou o medo que o aluno demonstra em arriscar-se a
dar uma resposta sua, já que não lembra o conceito estudado na escola. Se o estudo já
vivenciado, que ele diz ter feito, fizesse sentido para ele, certamente sua resposta seria mais
razoável ou até científica.
A quarta questão envolveu conceitos matemáticos referentes aos números multiplicados
por 0, mas por se tratar de uma área que trabalha com muitos conceitos prontos, não causou
problemas à maioria dos alunos de ambos os grupos.
Em retomada aos conceitos gramaticais de língua materna, a quinta questão exigiu mais
reflexão na escolha das formas de plural das palavras cão, cidadão e grão. Essa questão
demonstrou a dificuldade em discutir conceitos gramaticais nos dois grupos. Embora essa
pergunta tenha envolvido análise pragmática para ser resolvida, a mesma obteve um índice
baixo de acertos. As respostas mostraram pouco domínio do pensamento e falta de
consciência sobre a própria língua, pois surgiram justificativas como: “Pois terminam em s”,
“Porque as palavras estão no plural serto”, “Porque ja mi falaro”. Em oposição às defesas
conscientes, como nas frases: “Porque sei que cidadões e cidadão, o certo é cidadãos a outra
palavra não existe”, “A minha escolha foi feita porque eu sei que a letra A e C estão erradas”.
No que se refere à questão seis, O sol é denominado como:. Embora a mesma tenha
discutido conceitos científicos, percebeu-se que não causou estranheza, pois os alunos já
haviam estudado estas definições ou assistido sobre o tema em programas da televisão. Assim
foram freqüentes respostas como: “Já estudei isso”, “Porque li nos livros”, “Porque já estudei
e o sol e dado o nome como uma estrela”; nas quais se observou total falta de dados que
justificassem seu saber, faltou a argumentação, o porquê dos fatos, nos dois grupos.
A sétima questão exigiu um pensamento analítico dos alunos, trabalhou-se com lógica
matemática que envolveu uma seqüência de números pares e ímpares, que aumentava na
proporção alternada. A grande maioria dos estudantes percebeu a seqüência correta, e o mais
relevante foi a percepção dessa lógica matemática pelos alunos. No entanto, embora alguns
não tenham percebido o padrão, justificaram-se erroneamente, com sentenças como: “porque
está mais perto do número” e “Porque 6x6 fai dar 36”.
A questão seguinte, a oitava, trabalhou com a análise da própria língua, visou-se a
verificar a consciência lingüística dos alunos, que em sua grande maioria obteve êxito na
27
escolha. Entre as formas conjugadas as que não pertencem ao verbo “ir”. Demonstraram-se
respostas concretas como: “Porque era não tá no verbo ir”, “Pois o “era’ pertence ao verbo
“ser”, “Porque não esta no verbo ir o nome era”, “Porque era esta fora da conjugação” e
“Porque o Era é do verbo ser, estar (é) e não do verbo “ir””. Vê-se que muitos apresentaram
problemas nas justificativas quanto à questão de clareza e à percepção de realidades
lingüísticas.
A nona questão buscou trabalhar com o conhecimento pragmático dos alunos, pois
apenas exigiu reflexão sobre a língua falada, para eleger a forma conjugada que não serve
para conjugar a estrutura “A gente”. Apresentou dificuldade maior para muitos alunos da
escola pública, que não conseguiram perceber as possibilidades de variações lingüísticas.
Foram descritas justificativas como as seguintes: “Porque está pode conpretar a frase”,
“Porque não esta no conjugado”, “Por que não conjuga a palavra são”, “eu vi na TV” em
oposição a respostas fornecidas por alunos da instituição particular, como: “Porque é super
errado falar a gente são. E sim o correto é “nós somos”, ”Eu já sei conjugar verbo”, ”Porque
não combina”, “eu aprendi em portugues” e “Pois a estrutura correta é “a gente é”.
A última alternativa analisou o conhecimento lexical, pois, pediu-se que escolhessem o
sinônimo da palavra “áspero” que tinha como opções os adjetivos liso, grosso e educado.
Verificou-se que a maioria dos estudantes conseguiu perceber o uso do adjetivo grosso em seu
sentido figurativo, utilizando-se de justificativas que demonstraram esta percepção, frases
como: “Pelo jeito que a pessoa fala”, “Pois áspero pode ser grosso”, “Porque e uma pessoa
grossa”, “Porque áspero significa “grosso” e “Porque realmente é grosso”.
Os resultados obtidos demonstraram uma tendência a comprovar alguns dos
questionamentos deste trabalho. Pois, do total de estudantes de escolas localizadas no centro
do município que responderam à pesquisa obtiveram uma média de 6,8 por esta amostragem.
Atingindo um considerável número de notas 8,0. Devido, talvez, aos itens descritos ao longo
desta discussão, já que estão em ambientes mais complexos linguisticamente, com
oportunidades de interação mais intensas, pois, estes mesmos entrevistados também fazem
cursos de idioma em institutos, fato este que já demonstra uma experiência lingüística a mais.
Com a parcela de estudantes que vivem no distrito deste município, a média conseguida foi
5,3 com uma incidência permanente de 6,0.
É evidente que devemos considerar algumas variantes que poderiam influenciar os
resultados obtidos, tais como, a atenção disposta ao fazer o teste, o histórico educacional e
familiar dos alunos e ao entendimento que o entrevistado teve de cada questão. Mas, de
maneira geral, os alunos com as médias mais altas têm acesso aos principais meios de
28
comunicação das diferentes formas, como a televisão, jornais, revistas e a internet, e também,
a grande maioria tem pais que já possuem algum tipo de título de graduação, fato este que
reflete nas mostras lingüísticas e práticas discursivas desenvolvidas entre os membros destas
famílias.
Isso tudo levou a perceber que o fato de uma criança se desenvolver em ambientes
lingüísticos mais dinâmicos, mais comunicativos e em situação de interação social pode
ampliar-lhe a capacidade de formar e entender conceitos, dos mais simples aos mais
complexos e abstratos, que culminam para que ela esteja mais predisposta à aprendizagem
formal, em todos os seus aspectos.
Portanto, é relevante concluir este capítulo chamando a atenção aos resultados
alcançados pelas duas parcelas de entrevistados que mostraram uma acentuada dificuldade em
trabalhar conceitos, principalmente, lingüísticos, pois as questões foram elaboradas para
exigir uma auto-análise do conhecimento conceitual dos estudantes. O que nos conduz a mais
pesquisas e análises para obtenção de possíveis mudanças no foco dos atuais programas de
ensino.
29
CAPÍTULO III
Nos últimos anos o universo educacional vem sendo desafiado a implementar ações
pedagógicas que dialoguem com as diversas disciplinas escolares, para que se consiga
realmente o crescimento global do aluno. Os múltiplos saberes que emanam destas, e as
experiências dos sujeitos que compartilham o espaço escolar contribuirão enormemente para o
desenvolvimento intelectual de alunos críticos e reflexivos, e dessa maneira, alguns elementos
têm sido considerados fundamentais no sentido de que se alcancem e se cumpram as
finalidades da educação e da aprendizagem escolar.
O enfoque neste momento é discutir como o desenvolvimento lingüístico dos alunos
pode influenciar o pensamento crítico e a capacidade de reflexão dos estudantes. Como tem
sido demonstrada no decorrer deste trabalho, a aprendizagem conceitual no início do período
de socialização da criança e também as etapas que envolvem a aprimoramento do pensamento
lógico conseguem, junto, um resultado ideal de desenvolvimento educacional ao qual o
sistema nacional tem buscado de forma bastante frustrada. O aluno com pensamento reflexivo
possui habilidades cognitivas bem desenvolvidas, experiências concretas de interação social e
competências lingüísticas satisfatórias para ascender-se intelectualmente, segundo Luft (2005,
p.67), em textos já citados.
Todos estes elementos, se trabalhados de maneira interligada desde o princípio do
processo educacional, poderão satisfazer todas as expectativas que pousam em nossas
crianças para que estas consigam atingir os parâmetros desejados de desenvolvimento global.
Pois, como acrescenta Mercer (1995, p.19) “... o conhecimento não é acumulado nem
descoberto pelos alunos: ele é construído/moldado por meio da ação comunicativa entre as
pessoas”. As interações comunicativas que contribuem para aumentar o conhecimento podem
ser desenvolvidas a partir de uma visão social da aprendizagem formal, da abertura
educacional para o surgimento ou para o fortalecimento da reflexão e da crítica durante as
aulas.
30
Em primeiro lugar, a análise sociológica das relações entre escola e sociedade e das
relações lingüísticas numa sociedade de classes e numa escola que serve a essa
sociedade, mostra ser inadmissível deixar de vincular o ensino da língua materna às
condições sociais e econômicas de uma sociedade dividida em classes. Ë também
essa vinculação que desvenda, nas situações de comunicação pedagógica, as
relações de força lingüística, reflexo das relações de força sociais e econômicas.
(SOARES, 2002, p.78)
Assim, as crianças precisam ter noções sobre pensamento crítico desde o começo e
enquanto adquirem os conhecimentos tradicionais. A idéia básica aqui é substituir a
tradicional "memorização de fatos" pelos procedimentos ativos de investigação e
resolução de problemas. O pensamento é algo que é movido por questões, e não por
respostas. Dessa forma, alternando entre momentos de explicação, momentos de
experimentação e momentos de questionamento, a criança se sente parte ativa na
32
O autor evidencia que não se aprende a ser reflexivo, mas se pratica o pensamento
crítico através de oportunidades de agir ativamente durante a aprendizagem, por meio da
investigação, do questionamento e da experimentação. Essa prática não se reduz ao ambiente
escolar, pois, a transformação da forma de se pensar e de aprender refletirá na vida social.
No entanto, não se tem claro até que ponto os programas atuais de ensino têm obtido
sucessos ou fracassos, por isso, objetiva-se seu melhoramento para que se alcance este
desenvolvimento lingüístico, crítico e também social do aluno. Por tratar-se de elementos
formadores de um processo, estes devem ser reestruturados desde a base, partindo do
ambiente familiar, para que o mesmo torne-se enriquecido em suas oportunidades de
interação, tanto lingüística quanto social. Assim, preparar-se-á o indivíduo à nova etapa de
aprendizagem, à educação formal, na qual, ocorrerá o melhoramento e a variação dos
momentos de interação, fornecidos por inúmeras fontes que colaboram no processo de
formação do sujeito crítico, pois, desenvolver competências lingüísticas pode significar
possuir ferramentas para ascender-se socialmente.
33
CONCLUSÃO
Uma prática de ensino que enfatize a necessidade do aluno e que o auxilie no seu
próprio desenvolvimento global de aprendizagem e capacidade crítica é o ideal de todos os
profissionais da educação que possuem uma visão transformadora em relação à educação.
Para isso, discutiu-se inicialmente, o papel da linguagem na formação do conceito e sua
aplicação no ensino/aprendizado da língua materna, pois, a abstração do ensino e a falta de
consciência da própria língua, por parte dos alunos, criam barreiras para seu estudo formal. A
formação do conceito é uma prática fundamental para qualquer aprendizagem, independente
da área, e devido ao fato de que a língua é o meio de transmissão de todos os outros saberes, é
relevante dispor um pouco mais de atenção ao seu ensino. Buscou-se destacar a importância
da interação em ambientes familiar e escolar, em apoio ao desenvolvimento dos conceitos,
procurando-se concretizar o conhecimento gramatical e o pragmático para que as
competências lingüísticas se fundam e contribuam para formação integral do aluno. Percebeu-
se, posteriormente, como o dinamismo lingüístico do ambiente de desenvolvimento dos
alunos pode contribuir para uma aprendizagem formal da língua materna. A adequação dos
códigos lingüísticos, segundo seu contexto de uso, faz da interação social entre indivíduos e
ambientes um processo de preparação do aluno para a formalização de sua aprendizagem.
Após uma pesquisa de campo realizada, conclui-se que o trabalho com conceitos ainda
se apresenta difícil para a grande parte dos alunos, devido a fatores como: a abstração em que
se tornou o ensino de língua materna no país; a falta de consciência da própria língua pelos
alunos e a deficiência de modelos lingüísticos elaborados, que juntos colaboram para a
retenção de conceitos de modo satisfatório.
Ao final, discutiu-se como o desenvolvimento lingüístico dos alunos pode influenciar
na formação do pensamento crítico e na capacidade de reflexão dos estudantes, porque a
prática conceitual é uma das bases para a constituição da competência discursiva. O aluno que
conseguir desenvolver o pensamento reflexivo possuirá habilidades para aprendizagem em
qualquer contexto, por ter tido acesso às experiências concretas de interação social que
fortaleceram as competências lingüísticas. Assim, todos estes elementos contribuem,
indiscutivelmente, para o desenvolvimento intelectual dos alunos e para sua formação geral
como indivíduos socialmente valorizados. É importante evidenciar que esta investigação não
se esgota neste estudo, por suscitar relevantes pontos ligados não somente à área de Letras,
mas a todo o processo educacional de forma interdisciplinar.
34
REFERÊNCIAS
Obras citadas:
BECHARA, E. Ensino da gramática. Opressão? Liberdade?. 7ºed. São Paulo: Ática, 1993.
BELINE, R.. A variação lingüística. In: Introdução à lingüística: objetos teóricos. 3.ed. São
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CALVET, L.J. Sociolingüística uma introdução crítica. São Paulo: Parábola, 2002.
FERREIRA, M. A. Aluno domesticado vs aluno reflexivo. In: Linguagem & Ensino, Vol. 4,
No. 2, (107-122)Rio de Janeiro, 2001.
FIORIN, J.L. Teoria dos signos. In: Introdução à lingüística: objetos teóricos. 3.ed. São
Paulo: Contexto, 2004.
MERCER, N. The guided construction of knowledge: talk amongst teachers and learners.
Multilingual Matters Ltd., 1995.
NAVEGA. S. Pensamento crítico e argumentação sólida. São Paulo: Sérgio Cruz Navega,
2005.
SAUSSURE, F. de. Curso de lingüística geral. 27 ed. São Paulo: Cultrix, 2006.
SOARES, M. Linguagem e escola. São Paulo: Ática, 2002.
REFERÊNCIAS
Obras consultadas:
FIORIN, J.L. Introdução à lingüística: princípios de análise. 3.ed. São Paulo: Contexto,
2004.
NEF, F. A linguagem: uma abordagem filosófica. Tradução Lucy Magalhães. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1995.
Responda o questionário abaixo marcando apenas uma alternativa e comente se crer necessário:
15- As formas em plural das palavras cão, cidadão e grão serão respectivamente:
A ( ) cães, cidadões, grãos B ( ) cães,cidadãos, grãos C ( ) cãos, cidadãos, grões
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19- Qual das formas a seguir NÃO serve para conjugar a estrutura “A gente ...”
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