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Os conceitos de filosofar

O verbo filosofar pode ser usado com três significados distintos:


Como simples sinônimo de "pensar". Às vezes, doenças ou morte de pessoas próximas, decepções, perdas
irreparáveis e outros problemas existenciais nos fazem pensar ("filosofar") sobre o sentido de nossa vida. Mas esse
significado é por demais vago e amplo para caracterizar o verdadeiro sentido do filosofar.
Como sinônimo de "saber viver" virtuosamente. Aqui, filosofar é viver com sabedoria. O sábio é aquele que
se torna um exemplo vivo das virtudes apreciadas em uma sociedade e é tomado como ponto de referência para
fortalecer o valor das tradições vigentes. E nesse sentido que as sabedorias orientais são também chamadas de
"filosofias".
Como "o filosofar ocidental", que teve inicio na Grécia, em torno dos séculos VI e V a.C. Por essa época,
começou-se a repensar a natureza, o ser humano e as divindades com um olhar critico. Procurava-se saber a
validade dos próprios conhecimentos. Até que ponto a cultura era fruto de fantasias e crenças dos antepassados?
O que garantia que as tradições recebidas dos anciãos eram verdadeiras? A filosofia, portanto, questiona os
fundamentos da cultura. É o que veremos em seguida.

Bill Watterson. O melhor de Calvin. Intercontinental Press.

Mito x filosofia
A civilização grega desenvolveu-se na Peninsula Balcânica, a mais oriental do sul da Europa, rodeada de
numerosas ilhas. Seu relevo montanhoso facilitou a formação de grupos humanos isolados e autônomos, como de
fato foram as cidades-estados (as polis).
A pouca fertilidade do solo acidentado foi compensada pela presença de ótimos portos naturais. Assim, os
gregos puderam desenvol ver com segurança a navegação, que possibilitou o crescimento do comércio e,
conseqüentemente, a riqueza crescente das cidades-estados.
O aumento populacional levou à procura de terras férteis e à criação de muitas colônias nas regiões
mediterrâneas. A fiscalização e a proteção dessas colônias eram tarefa da frota grega.
Nos séculos VI eVa.C, as polis conheceram o apogeu econômico, político e cultural. Foi exatamente nesse
período glorioso que surgiu na cultura grega o confronto entre mito e filosofia.
Tanto o mito quanto a filosofia são formas que o homem utiliza para explicar o mundo. São explicações que
visam responder aos questionamentos sobre o sentido da vida, o surgimento do universo e do homem, assim
como justificar as normas que garantem a vida em comunidade. Ao buscar essas explicações, seja pela linguagem
do mito, seja pela linguagem filosófica, o homem está tentando organizar sua cultura.

A Autoridade do mito
O mito é uma história religiosa revelada com autoridade supostamente indiscutível. O passado é descrito
como as tradições que não admitem nenhuma crítica: "É assim, porque foi dito que é assim". O texto a seguir nos
fala um pouco sobre isso.
"O mito conta uma história sagrada, quer dizer, um acontecimento primordial que teve lugar
no começo do Tempo, ab-initio ('desde o início'). Mas contar uma história sagrada eqüivale a
revelar um Mistério, porque as personagens do mito não são seres humanos: são Deuses ou
Heróis civilizadores, e por esta razão as suas gesta Cações memoráveis') constituem
Mistérios: o homem não poderia conhecê-los se lhos não revelassem. O mito é, pois, a
história do que se passou in illo tempore ('naquele tempo'), a narração daquilo que os Deuses
ou os Seres divinos fizeram no começo do Tempo. 'Dizer' um mito é proclamar o que se
passou ab origine ('desde a origem'). Uma vez 'dito', quer dizer, revelado, o mito torna-se
verdade apodítica: funda a verdade absoluta. 'É assim, porque foi dito que é assim', declaram
os Eskimo netsilik ('tribo de esquimós') a fim de justificarem a validade da sua história
sagrada e de suas tradições religiosas. "
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. Lisboa: Livros do Brasil, s.d. p. 107-8.

Durante um longo período da história grega, a mitologia constituiu a fonte exclusiva de explicação para a
existência do homem e a organização do mundo. As interpretações imaginárias criadas por ela foram adquirindo
autoridade pelo fato de serem antigas. As divindades constituíam os personagens que, pelas divergências, intrigas,
amizades e desejo de justiça, explicavam tanto a natureza humana como os resultados das guerras e os valores
culturais. Nesse sentido, a linguagem do mito esconde interesses de classes e pode ser manipulada por aqueles
que detêm o poder. Ela impõe comportamentos morais à comunidade e uma hierarquia de punições para aqueles
que não os seguem.
Em virtude do desenvolvimento e dos contatos culturais com outros povos, decorrentes do comércio e da
navegação, os gregos cultos sentiram necessidade de Qcontrar uma linguagem mais universal e rigorosa para
justificar o universo e as próprias instituições. O mito parecia-lhes, cada vez mais, uma forma de expressão
regional, particular, uma cristalização de interesses locais. Em síntese, o mito já não satisfazia às necessidades
culturais da época.
Surgiu, então, a linguagem filosófica, trazendo novos conceitos culturais, baseadas na razão, para tentar
substituir as criações míticas.
A tensão estava estabelecida. De um lado, os conservadores queriam manter o sistema explicativo do
mito, muito mais popular e eficaz para preservar seus privilégios. De outro, os filósofos, desejosos de mudança,
rejeitavam as explicações míticas e eram favoráveis às reivindicações dos membros das classes emergentes (os
artesãos e os comerciantes), democratizando assim o sistema político.
A tensão entre mito e filosofia começa mas não termina na Grécia antiga. Ela perpassa a história
ocidental e continua de alguma forma até hoje.

O novo conceito de verdade


O que é verdade? Na época do surgimento da filosofia, aceitava-se como verdade o que a tradição, as auto-
ridades e os deuses determinavam. Ora, os primeiros filósofos buscaram um novo conceito de
verdade — uma verdade tão bem fundamentada que ninguém pudesse refutá-la. Ela deveria
libertar o povo da ridade arbitrária dos deuses, reis, oligarcas e tiranos, assim como das
profecias enigmáticas dos sacerdotes.
A verdade procurada teria de ser um conhecimento definitivo, necessário e absoluto.
Para um conhecimento ter tais características, deveria abranger tudo o que existe no universo.
Logo, seria um conhecimento universal. A verdade precisaria ser universal, válida para todos.
Uma verdade acima das particularidades, das raças, das nações, dos mitos regionais.
Tomava-se consciência de que o homem almeja um conhecimento válido em todo lugar.
A mentalidade mítica imaginava que a qualquer momento poderiam surgir novos
deuses, novos heróis e, o que é pior, novos monstros com poderes sobre-humanos. O homem
vivia, pois, inseguro e temeroso da vida e da morte.
Ora, a filosofia, naquele momento, veio libertar o homem da insegurança e do temor:
quem descobre a ordem universal não tem medo de nada, pois tudo está previsto. Nem os
deuses podem contrariar a verdade total.
Pela primeira vez em toda a história da humanidade, o ser humano formula inter-
pretações da realidade cuja fundamentação não está na tradição ou na conformidade com os
dizeres míticos, mas na verdade argumentada da razão. É a filosofia.
Até então, em todas as culturas, o homem submetia seu pensar aos mitos. 0 filósofo grego,
diferentemente, acreditava que tinha a capacidade para formular interpretações próprias da realidade. Estariam
erradas as afirmações tradicionais que as negassem.
A filosofia nasce, assim, com a convicção de que existem verdades humanas e universais que estão
acima das críticas tradicionais. A busca da verdade filosófica significa, portanto, libertar-se do despotismo da classe
dominante.
Pode-se perceber que, para criar um espaço na cultura grega, os filósofos buscam a verdade racional
absoluta. Mas a história da filosofia ocidental irá demonstrar que essa verdade absoluta não existe. De fato,
existem várias filosofias ligadas aos eventos históricos e aos diferentes interesses sociais.

O novo conceito de natureza


Os primeiros filósofos gregos criaram um novo conceito de natureza. A natureza é o conjunto de tudo o
que existe. A existência das coisas faz com que elas sejam explicáveis. A natureza como um todo também é
cognoscível por si mesma. Não precisamos de intermediários para contemplar sua existência. Ela se manifesta
com uma evidência incontestável. É fonte de conhecimento irrefutável. Qualquer pessoa que se disponha a isso
pode conhecê-la.

Filosofar é, basicamente, admirar a realidade tal qual ela existe; é saber contemplá-la sem projetar nela
temores míticos e crenças fantasiosas. Enfim, filosofar é ver o relâmpago como fenômeno natural, não como
vingança ou ameaça divina; é ver o mar simplesmente como mar, a montanha como montanha, as estrelas como
estrelas, a seca como seca, os fatos sociais e políticos como resultado das relações humanas. Durante o período
mítico, a natureza era vista pelas lentes das crenças. Com a filosofia, a natureza é despida de interpretações
culturais, podendo manifestar-se com autonomia e por suas próprias leis. O filósofo deixa a natureza falar por si
mesma. Por isso, a filosofia não é privilégio de uma casta, não depende de livros sagrados, não é uma doutrina
oculta e dispensa ritos de iniciação ou penitências rigorosas. Essa nova maneira de lidar com a realidade foi o inicio
da filosofia, que até hoje, 26 séculos depois, procura libertar o homem das crenças e temores desumanizantes.
Com a evolução da filosofia, o modo de conhecer diretamente o mundo tornou-se um enorme problema,
muito mais complexo do que os primeiros filósofos podiam imaginar.
O novo conceito de responsabilidade
Graças à filosofia, os valores fundados na razão passam a orientar a vida das
pessoas, individualmente e em comunidade. Nos séculos VI e V a.C, os pensadores
gregos começam a tomar consciência de que os bons e maus resultados da
organização da cidade dependem das relações sociais. A política, a economia e a
moral são construções humanas. Descobre-se aos poucos que a verdade liberta o
homem.
Por isso, a busca e o estudo da verdade passam a ser a ocupação
importante da época. Tudo é discutido, avaliado e comparado sob a luz de critérios
racionais e argumentações lógicas. Tradições milenares que sustentavam as
monarquias começam a ser questionadas e desmontadas em poucas palavras; autoridades religiosas veneradas
durante séculos são colocadas em xeque com poucos argumentos; com rápidas análises, demonstram-se a
fragilidade e a improcedência das narrativas míticas. Enfim, o filosofar desestabiliza, mexe com as estruturas
sociais e políticas vigentes e convida o cidadão a construir uma nova sociedade. A nova sociedade só poderia vingar
com a democratização da verdade. A verdade filosófica deveria ser socialmente cultivada. Assim, a praça torna-se o lugar
público das discussões, onde os mestres se defrontam e os cidadãos participam, onde todos procuram aprimorar o
conhecimento do universo. Para divulgar a verdade, surgem os primeiros livros colocados à venda na praça da
cidade.
A verdade implica ter de orientar a própria vida e a da cidade não mais pelo mito, que é algo de regional e
limitado, mas pela verdade universal. Logo, ao filósofo urge modificar as leis míticas, conformando-as à verdade. O
filósofo é o cidadão mais ativo na promoção das mudanças sociais e políticas.
Qual foi o fundamento de todas as conquistas sociais no Ocidente senão essa verdade responsável?

Filosofar é preciso
A civilização ocidental não pode ser compreendida sem a filosofia. Com efeito, foi
com a filosofia que a cultura grega influenciou nossa forma de pensar e de questionar tanto
a natureza quanto o ser humano e as divindades. Com a filosofia, surgiu a noção de
cidadania, de Estado, de ciência.
O exemplo dos filósofos gregos nos deixou uma grande lição: nunca se conformar
com as estruturas existentes como se fossem as únicas possíveis. De fato, não houve
época em que não tivéssemos filósofos buscando a verdade e combatendo a ignorância, o
obscurantismo, a dominação do homem pelo homem, as guerras e outros atos irracionais
que infelicitam a humanidade. Filosofar é preciso para participar criativamente da luta pela
humanização.
Fonte: VV.AA. Para Filosofar. São Paulo: Scipione, 2007.p. 13-18

ROTEIRO DE ESTUDOS
As perguntas a seguir referem-se aos principais tópicos desta ficha. Elas podem ajudá-lo(a) a estudar e rever
todo o conteúdo apresentado. Ao respondê-las, você estará analisando e sintetizando as idéias expostas.

1. Sintetize a noção de filosofia que você adquiriu pela leitura desta ficha.

2. Consulte um dicionário de sua preferência e verifique os significados da palavra mito. Depois compare-os
com o que você estudou.

3. Descreva em poucas linhas o que existe de semelhante e de diferente entre mito e filosofia.

4. Por que o novo conceito de verdade criado pelos filósofos gregos não precisava da aprovação das
autoridades?

5. Ver a seca como seca e o raio como raio é um avanço ou um recuo do conhecimento? Perde-se a dimensão
poética da realidade? 0 homem se priva dos sentimentos e das paixões?

6. Quem é o culpado quando a política e a economia de um país vão mal? São castigos divinos?

7. Como os filósofos gregos filosofariam em nossa época?

8. No Brasil, país de enormes desigualdades econômicas, que relação existe entre filosofia e cidadania?

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