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23/04/2009

mais uma da galeria nassettiana

abaixo apresento a clareto-nassettada em cima do conto markheim, de stevenson. a


fonte de aspiração ou, melhor, de sucção foi a tradução de e. jacy monteiro,
publicada em 1968 pelas edições paulinas, na coleção "fio de erva".

1. jacy monteiro:
tinha o tempo grande quantidade de vozes no negócio, algumas majestosas e lentas
conforme lhes convinha à venerável idade; outras gárrulas e pressurosas. todas
marcavam os segundos em coro complicado de tique-taques. de repente os passos de
um menino que corria pesadamente sobre a calçada cobriram aqueles pequenos sons e
trouxeram markheim de sobressalto à consciência do lugar em que se achava. olhou
em roda espantado. a candeia estava colocada sobre o banco e a chama oscilava
solenemente à corrente de ar; e com aquele insignificante movimento a sala inteira
enchia-se de muda agitação fazendo-a ondear como o mar. as sombras longas anuíam;
as largas manchas de escuridão dilatavam-se e restringiam-se como a respiração, os
rostos dos retratos e os ídolos de porcelana mudavam e ondeavam como imagens sobre
a água. a porta interior estava meio aberta e mostrava-se apenas naquele exército
de sombras por longa estria de luz como dedo acusador. (p. 186)

2. pietro nassetti:
tinha o tempo grande quantidade de vozes na loja, algumas majestosas e lentas
conforme lhes convinha à venerável idade; outras, tagarelas e impacientes. todas
marcavam os segundos em coro complicado de tique-taques. repentinamente, os passos
de um menino que corria pesadamente sobre a calçada cobriram aqueles pequenos sons
e trouxeram markheim de sobressalto à consciência do lugar em que se achava.
espantado, olhou em redor. a candeia estava colocada sobre o banco e a chama
oscilava solenemente à corrente de ar; e com aquele insignificante movimento a
sala inteira enchia-se de muda agitação, fazendo-a ondear como o mar. as sombras
longas anuíam; as largas manchas de escuridão dilatavam-se e restringiam-se como a
respiração, os rostos dos retratos e as estátuas de porcelana mudavam e ondeavam
como imagens sobre a água. a porta interior estava meio aberta e mostrava-se
apenas naquele exército de sombras por longa aresta de luz tal qual dedo acusador.
(p. 92)

1. jacy monteiro:
mas já estava tão agitado por outros receios que, enquanto uma parte da mente
ainda estava vigilante e aguda, a outra tremia no limiar da loucura. apoderava-se
dele certa alucinação de maneira particular. o vizinho que, de rosto branco,
escutava perto da janela, o passante que parava na calçada preso de dúvida
terrível... podiam pelo menos suspeitar, mas não saber; através das paredes de
tijolo e das janelas fechadas, somente os sons podiam penetrar. (p. 189)

2. pietro nassetti:
entretanto já estava tão agitado por outros receios que, enquanto uma parte da
mente ainda estava vigilante e aguda, a outra tremia no limiar da loucura. certa
alucinação tomara conta dele de maneira particular. o vizinho que, de rosto
branco, escutava perto da janela, o passante que parava na calçada preso de dúvida
terrível... podiam pelo menos suspeitar, mas não saber; através das paredes de
tijolo e das janelas fechadas, somente os sons podiam penetrar. (p. 94)

1. jacy monteiro:
a luz débil e nublada do dia caía indistintamente sobre o soalho nu e sobre a
escada, sobre a armadura brilhante ereta com a alabarda na mão sobre o primeiro
patamar, e sobre os entalhes profundos e sobre os quadros emoldurados, pendentes
dos painéis amarelos da tapeçaria. o barulho da chuva por toda a casa era tão
forte que começou, aos ouvidos de markheim, a subdividir-se em muitos sons
diversos. rumor de pés e suspiros, passo cadenciado de regimentos que marchavam ao
longe, tilintar de moedas sobre o balcão, e o chiar de portas fechadas
furtivamente parecia misturarem-se com o bater das gotas sobre a cúpula e o
escorrer da água nos canos. (pp. 193-94)

2. pietro nassetti:
a luz fraca e nublada do dia caía indistintamente sobre o soalho nu e sobre a
escada, sobre a armadura brilhante ereta com a alabarda na mão sobre o primeiro
patamar, e sobre os entalhes profundos e sobre os quadros emoldurados, pendentes
dos painéis amarelos da tapeçaria. o barulho da chuva por toda a casa era tão
forte que começou, aos ouvidos de markheim, a subdividir-se em muitos sons
diversos. som de pés e suspiros, passo cadenciado de regimentos que marchavam ao
longe, tilintar de moedas sobre o balcão, e o chiar de portas fechadas
furtivamente parecia misturarem-se com o bater das gotas sobre a cúpula e o
escorrer da água nos canos. (p. 96)

in: stevenson, o doutor jekyll e o monstro (paulinas, 1968); stevenson, o médico e


o monstro (martin claret, 2004).

imagem: www.ebooks.imgs.connect.com

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22/04/2009
ooops
ih, pisei no calo de alguém. cinco visitas do mesmo ip de um servidor da usp a
pequenos intervalos de tempo, com direito a deixar comentário com ameaçazinha
anônima para mim e tudo? complicado.

imagem: http://respectance.com

POSTADO POR DENISE 2 COMENTÁRIOS


per seculae seculorum

respondendo a consultas:
não, o plágio nunca prescreve.
é crime imprescritível.

imagem: http://cleacroche.blogspot.com

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a cidade antiga

fustel de coulanges, la cité antique [1864] (hachette, 1920)


1. fernando de aguiar (clássica editora, 1945; martins fontes, 1987)
2. jonas camargo leite e eduardo nunes fonseca (hemus, 1975; tecnoprint, 1986;
ediouro, 1992)

[livro 2, cap. vi]


Voici une institution des anciens dont il ne faut pas nous faire une idée d’après
ce que nous voyons autour de nous. Les anciens ont fondé le droit de propriété sur
des principes qui ne sont plus ceux des générations présentes ; il en est résulté
que les lois par lesquelles ils l’ont garanti sont sensiblement différentes des
nôtres.

1. eis uma instituição dos antigos da qual não podemos formar idéia através do
direito de propriedade no mundo moderno. os antigos basearam o direito de
propriedade em princípios diferentes dos das gerações presentes; e daqui resulta
serem as leis que o garantiram sensivelmente diversas das nossas.
2. eis uma instituição dos antigos da qual não podemos formar idéia através do
direito de propriedade no mundo moderno. os antigos alicerçaram o direito de
propriedade em princípios diferentes dos das gerações presentes; e daqui resulta
serem as leis que o garantiram bem diversas das nossas.

On sait qu’il y a des races qui ne sont jamais arrivées à établir chez elles la
propriété privée ; d’autres n’y sont parvenues qu’à la longue et péniblement. Ce
n’est pas, en effet, un facile problème, à l’origine des sociétés, de savoir si
l’individu peut s’approprier le sol et établir un si fort lien entre son être et
une part de terre qu’il puisse dire : Cette terre est mienne, cette terre est
comme une partie de moi. Les Tartares conçoivent le droit de propriété quand il
s’agit des troupeaux, et ne le comprennent plus quand il s’agit du sol. Chez les
anciens Germains, suivant quelques auteurs, la terre n’appartenait à personne ;
chaque année la tribu assignait à chacun de ses membres un lot à cultiver, et on
changeait de lot l’année suivante. Le Germain était propriétaire de la moisson ;
il ne l’était pas de la terre. Il en est encore de même dans une partie de la race
sémitique et chez quelques peuples slaves.

1. sabe-se terem existido raças que nunca chegaram a instituir a propriedade


privada entre si, e outras só demorada e penosamente a estabeleceram. efetivamente
não é problema fácil, no começo das sociedades, saber-se se o indivíduo pode
apropriar-se do solo e estabelecer tão forte vínculo entre a sua própria pessoa e
uma porção de terra, a ponto de poder dizer: "esta terra é minha, esta terra é
parcela de mim mesmo." os tártaros admitiam o direito de propriedade, no que dizia
respeito aos rebanhos, e já não o concebiam ao tratar-se do solo. entre os antigos
germanos, segundo alguns autores, a terra não pertencia a ninguém; em cada ano, a
tribo indicava a cada um dos seus membros o lote para cultivar, e mudava no ano
seguinte. o germano era proprietário da colheita, mas não o dono da terra. ainda
acontece o mesmo em parte da raça semítica e entre alguns povos eslavos.

2. sabe-se terem existido povos que nunca chegaram a instituir a propriedade


privada entre si, e outras [sic] só demorada e penosamente a estabeleceram. com
efeito, não é problema simples, no início das sociedades, saber-se se o indivíduo
pode apropriar-se do solo e estabelecer tão forte união entre a sua própria pessoa
e uma parte da terra, a ponto de poder dizer: esta terra é minha, esta terra é
parte de mim mesmo. os tártaros admitiam o direito de propriedade, quando se
tratava de rebanhos e já não o concebiam ao tratar-se do solo. entre os antigos
germanos, segundo alguns autores, a terra não era propriedade de ninguém; cada
ano, a tribo indicava a cada um dos seus membros um lote para cultivo, lote que
era trocado no ano seguinte. o germano era proprietário da colheita, mas não o
dono da terra. o mesmo acontece em uma parte da raça semítica e entre alguns povos
eslavos.

Au contraire, les populations de la Grèce et de l’Italie, dès l’antiquité la plus


haute, ont toujours connu et pratiqué la propriété privée. Il n’est resté aucun
souvenir historique d’une époque où la terre ait été commune ; et l’on ne voit non
plus rien qui ressemble à ce partage annuel des champs qui est signalé chez les
Germains. Il y a même un fait bien remarquable. Tandis que les races qui
n’accordent pas à l’individu la propriété du sol lui accordent au moins celle des
fruits deson travail, c’est-à-dire de sa récolte, c’était le contraire chez les
Grecs. Dans quelques villes, les citoyens étaient astreints à mettre en commun
leurs moissons, ou du moins la plus grande partie ; et devaient les consommer en
commun ; l’individu n’était donc pas absolument maître du blé qu’il avait récolté
; mais en même temps, par une contradiction bien remarquable, il avait la
propriété absolue du sol. La terre était à lui plus que la moisson. Il semble que
chez les Grecs la conception du droit de propriété ait suivi une marche tout à
fait opposée à celle qui paraît naturelle. Elle ne s’est pas appliquée à la
moisson d’abord, et au sol ensuite. C’est l’ordre inverse qu’on a suivi.

1. ao contrário, as populações da grécia e as da itália, desde a mais remota


antiguidade, sempre conheceram e praticaram a propriedade privada. nenhuma
recordação histórica nos chegou, e de época alguma, que nos revele a terra ter
estado em comum; e nada tampouco se encontra que se assemelhe à partilha anual dos
campos, tal como esta se praticou entre os germanos. há mesmo um fato
verdadeiramente digno de destaque. enquanto as raças que não concedem ao indivíduo
a propriedade do solo lhe facultam, ao menos, a dos frutos do seu trabalho, isto
é, a colheita, com os gregos sucede o contrário. em algumas cidades os cidadãos
são obrigados a ter em comum as colheitas, ou, pelo menos, a maior parte delas,
devendo gastá-las em sociedade; portanto, o indivíduo não nos aparece como
absoluto senhor do trigo por ele colhido, mas mercê de notável contradição, já que
tem propriedade absoluta do solo. a terra era mais dele do que a colheita. parece
que a concepção de direito de propriedade tinha seguido, entre os gregos, caminho
inteiramente oposto àquele que se afigura como o mais natural. não se aplicou
primeiro à colheita e depois ao solo. seguiu-se a ordem inversa.

2. ao contrário, as populações da grécia e da itália, desde a mais longínqua


antiguidade, sempre reconheceram e praticaram a propriedade privada. nenhuma
lembrança histórica nos chegou, e de época alguma, que nos revele a terra ter
estado em comum; e nada tampouco se encontra que se assemelhe à partilha anual dos
campos, tal como se praticou entre os germanos. há mesmo um fato verdadeiramente
digno de nomeada. enquanto as raças que não concedem ao indivíduo a propriedade do
solo facultam-lhe, pelo menos, tal direito sobre os frutos do seu trabalho, isto
é, da colheita, entre os gregos acontecia o contrário. em algumas cidades os
cidadãos são obrigados a reunir em comunidade as colheitas ou, pelo menos, a maior
parte delas e devendo gastá-las em sociedade; portanto, o indivíduo não nos
aparece como senhor absoluto do trigo por ele colhido, mas, mercê de notável
contradição, já tem a propriedade absoluta do solo. a terra para ele valia mais do
que a colheita. parece ter a concepção de direito de propriedade seguido, entre os
gregos, caminho inteiramente oposto àquele que se afigura como o mais natural. não
se aplicou primeiro à colheita e depois ao solo. seguiu-se a ordem inversa.

Or, entre ces dieux et le sol, les hommes des anciens âges voyaient un rapport
mystérieux. Prenons d’abord le foyer : cet autel est le symbole de la vie
sédentaire ; son nom seul l’indique 1. Il doit être posé sur le sol ; une fois
posé, on ne doit plus le changer de place. Le dieu de la famille veut avoir une
demeure fixe ; matériellement, il est difficile de transporter la pierre sur
laquelle il brille ; religieusement, cela est plus difficile encore et n’est
permis à l’homme que si la dure nécessité le presse, si un ennemi le chasse ou si
la terre ne peut pas le nourrir. Quand on pose le foyer, c’est avec la pensée et
l’espérance qu’il restera toujours à cette même place. Le dieu s’installe là, non
pas pour un jour, non pas même pour une vie d’homme, mais pour tout le temps que
cette famille durera et qu’il restera quelqu’un pour entretenir sa flamme par le
sacrifice. Ainsi le foyer prend possession du sol; cette part de terre, il la fait
sienne ; elle est sa propriété.

1. encontraram os antigos misteriosa relação entre estes deuses e o solo. vejamos,


primeiramente, o lar: este altar é o símbolo da vida sedentária; o seu próprio
nome o indica. deve estar assente no solo; uma vez ali colocado nunca mais deve
mudar de lugar. o deus da família quer ter morada fixa; materialmente, a pedra
sobre a qual ele brilha, torna-se de difícil transporte; religiosamente, isso
parece-lhe ainda mais difícil, só sendo permitido ao homem quando dura necessidade
o obriga, o inimigo o expulsa ou a terra não pode alimentá-lo. ao assentar-se o
lar, fazem-no com o pensamento e a esperança de que ficará sempre no mesmo lugar.
o deus instala-se nele, não para um dia, nem mesmo só para a precária vida de um
homem, mas para todos os tempos, enquanto esta família existir e dela restar
alguém a conservar a sua chama em sacrifício. assim o lar toma posse do solo;
apossa-se desta parte de terra que fica sendo, assim, sua propriedade.

2. divisaram os antigos misteriosa relação entre estes deuses e o solo. vejamos,


primeiramente, o lar; este altar é o símbolo da vida sedentária; o seu próprio
nome o indica. deve estar assente no solo; uma vez ali colocado nunca mais devem
mudá-lo de lugar. o deus da família deseja ter morada fixa; materialmente, a pedra
sobre a qual ele brilha, torna-se de difícil transporte; religiosamente, isso
parece-lhe ainda mais difícil, só sendo permitido ao homem quando dura necessidade
o aperta, o inimigo o expulsa, ou a terra não pode alimentá-lo. ao assentar-se o
lar, fazem-no com o pensamento e a esperança de que permanecerá sempre no mesmo
lugar. o deus ali se instala não para um dia, nem mesmo pelo espaço de uma vida
humana, mas por todo o tempo que dure esta família e dela restar alguém que
alimente a chama do sacrifício. assim o lar toma posse do solo; apossa-se dessa
parte de terra que fica sendo, assim, sua propriedade.

Et la famille, qui par devoir et par religion reste toujours groupée autour de son
autel, se fixe au sol comme l’autel lui-même. L’idée de domicile vient
naturellement. La famille est attachée au foyer, le foyer l’est au sol ; une
relation étroite s’établit donc entre le sol et la famille. Là doit être sa
demeure permanente, qu’elle ne songera pas à quitter, à moins qu’une force
supérieure ne l’y contraigne. Comme le foyer, elle occupera toujours cette place.
Cette place lui appartient ; elle est sa propriété, propriété non d’un homme
seulement, mais d’une famille dont les différents membres doivent venir l’un après
l’autre naître et mourir là.

1. e a família, ficando, destarte, por dever e por religião, agrupada em redor do


seu altar, fixa-se ao solo tanto como o próprio altar. a idéia de domicílio surge
espontaneamente. a família está vinculada ao lar e este, por sua vez, encontra-se
fortemente ligado ao solo; estreita conexão se estabeleceu, portanto, entre o solo
e a família. aí deve ser a sua residência permanente, que nunca pensará deixar, a
não ser quando alguma força superior a isso a constranja. como o lar, a família
ocupará sempre este lugar. o lugar pertence-lhe: é sua propriedade, propriedade
não de um só homem, mas de uma família, cujos diferentes membros devem vir, um
após outros, nascer e morrer ali.

2. e a família, destarte, ficando, por dever e por religião, agrupada ao redor do


seu altar, fixa-se ao solo tanto como o próprio altar. a idéia de domicílio surge
naturalmente. a família está vinculada ao altar e este, por sua vez, encontra-se
fortemente ligado ao solo; estreita relação se estabeleceu, portanto, entre o solo
e a família. aí deve ser sua residência permanente, que jamais abandonará, a não
ser quando alguma força superior a isso a constranja. como o lar, a família
ocupará sempre esse lugar. o lugar pertence-lhe: é sua propriedade, propriedade
não de um único homem, mas de uma família, cujos diferentes membros devem vir, um
após outro, nascer e morrer ali.

Suivons les idées des anciens. Deux foyers représentent des divinités distinctes,
qui ne s’unissent et qui ne se confondent jamais ; cela est si vrai que le mariage
même entre deux familles n’établit pas d’alliance entre leurs dieux. Le foyer doit
être isolé, c’est-à-dire séparé nettement de tout ce qui n’est pas lui [...] Cette
enceinte tracée par la religion et protégée par elle est l’emblème le plus
certain, la marque la plus irrécusable du droit de propriété.

1. sigamos o raciocínio dos antigos. dois lares representam divindades distintas


que nunca se unem nem se confundem; isto é tão evidente que o próprio casamento
realizado entre duas famílias não estabelece a união entre os seus deuses. o lar
deve estar isolado, isto é, nitidamente separado de tudo quanto não lhe pertença
[...] esta vedação, traçada pela religião e por ela protegida, afirma-se como o
tributo mais verdadeiro, o sinal irrecusável do direito de propriedade.

2. sigamos o raciocínio dos antigos. dois lares representam duas divindades


distintas que nunca se unem nem se confundem; isto é tão evidente que o próprio
casamento realizado entre duas famílias não estabelece aliança entre os seus
deuses. o lar deve ser isolado, isto é, visivelmente separado de tudo quanto não
lhe pertença [...] este limite, traçado pela religião e por ela protegido, afirma-
se como o tributo mais verdadeiro, o sinal irrecusável do direito de propriedade.

Il est résulté de ces vieilles règles religieuses que la vie en communauté n’a
jamais pu s’établir chez les anciens. Le phalanstère n’y a jamais été connu.
Pythagore même n’a pas réussi à établir des institutions auxquelles la religion
intime des hommes résistait.

1. dessas velhas disposições religiosas resultou nunca poder estabelecer-se entre


os antigos a vida em comunidade. o falanstério nunca foi conhecido entre estas
populações. o próprio pitágoras não ousou estabelecer instituições às quais a
religião íntima dos homens resistia.

2. dessas antigas disposições religiosas resultou nunca poder estabelecer-se a


vida em comunidade, entre os antigos. o falanstério nunca foi conhecido. o próprio
pitágoras não ousou estabelecer instituições às quais a religião íntima dos homens
resistia.

La tente convient à l’Arabe, le chariot au Tartare, mais à une famille qui a un


foyer domestique il faut une demeure qui dure. A la cabane de terre ou de bois a
bientôt succédé la maison de pierre. On n’a pas bâti seulement pour une vie
d’homme, mais pour la famille dont les générations devaient se succéder dans la
même demeure.

1. ao árabe convém a tenda, ao tártaro o carro, mas para estas famílias, tendo um
lar doméstico, é necessária a morada fixa. à cabana de terra, ou de madeira,
sucedeu, dentro em pouco, a casa de pedra. esta casa não se construiu somente para
a vida dum homem, mas para uma família cujas gerações deviam suceder-se na mesma
habitação.

2. ao árabe convém a tenda, ao tártaro o carro, mas para estas famílias, tendo um
lar doméstico, é necessária a residência fixa. à cabana de terra ou de madeira,
seguiu-se, dentro em pouco, a casa de pedra. esta casa não se construiu apenas
para a vida de um homem, mas para uma família cujas gerações deviam suceder-se na
mesma habitação.

[livro 4, cap. i]
Jusqu’ici nous n’avons pas parlé des classes inférieures et nous n’avions pas à en
parler. Car il s’agissait de décrire l’organisme primitif de la cité, et les
classes inférieures ne comptaient absolument pour rien dans cet organisme. La cité
s’était constituée comme si ces classes n’eussent pas existé. Nous pouvions donc
attendre pour les étudier que nous fussions arrivés à l’époque des révolutions.

1. até aqui não falamos das classes inferiores, e nem mesmo havia ocasião para nos
referirmos a estas. e isto porque a finalidade era traçar a estrutura primitiva da
cidade, e as classes inferiores não tiveram importância absolutamente nenhuma
nesta organização. a cidade achava-se constituída como se estas classes não
existissem. podíamos reservar, portanto, seu estudo para quando chegássemos ao
período das revoluções.

2. até aqui não falamos ainda das classes inferiores, e nem mesmo havia ocasião
para nos referirmos a ela [sic], porque nossa finalidade era descrever a estrutura
primitiva da cidade, e as classes inferiores não tiveram nenhuma importância nessa
organização. a cidade constituíra-se como se estas classes não existissem. poderia
reservar-se, pois, o seu estudo para quando atingíssemos esse período de
revoluções.

Puis cette famille a des serviteurs, qui ne la quittent pas, qui sont attachés
héréditairement à elle, et sur lesquels le pater ou patron exerce la triple
autorité de maître, de magistrat et de prêtre. On les appelle de noms qui varient
suivant les lieux ; celui de clients et celui de thètes sont les plus connus.

1. depois, esta família tem servos que não a abandonam, servos hereditariamente
ligados à família e sobre os quais o pater ou patrono usa da sua tríplice
autoridade de senhor, de magistrado e de sacerdote. davam-lhes nomes diferentes,
segundo os lugares, embora os mais comumente conhecidos sejam os de clientes e
tetas.

2. depois, essa família tem servos que não a abandonam, servos hereditariamente
vinculados à família e sobre os quais o pater ou patrono exerce sua tríplice
autoridade de mestre, de magistrado e de sacerdote. davam-lhes nomes diferentes,
segundo as regiões, embora os mais comumente conhecidos sejam os de clientes e
tetas.

La ville [...] est le centre de l’association, la résidence du roi et des prêtres,


le lieu où se rend la justice ; mais les hommes n’y vivent pas. Pendant plusieurs
générations encore, les hommes continuent à vivre hors de la ville, en familles
isolées qui se partagent la campagne.

1. a urbe [...] centro da associação, residência do rei e dos sacerdotes, e lugar


onde se administra a justiça, mas os homens continuam a viver do lado de fora da
urbe, em famílias isoladas, que dividem entre si os campos.

2. a cidade [...] o centro da associação, a residência do rei e dos sacerdotes, e


lugar onde se administra a justiça, mas onde os homens continuam a viver fora da
cidade, em famílias isoladas, que dividem entre si os campos.

Cette classe, qui devint plus nombreuse à Rome que dans aucune autre cité, y était
appelée la plèbe. Il faut voir l’origine et le caractère de cette classe pour
comprendre le rôle qu’elle a joué dans l’histoire de la cité et de la famille chez
les anciens.
Les plébéiens n’étaient pas les clients ; les historiens de l’antiquité ne
confondent pas ces deux classes entre elles.

1. esta classe, mais numerosa em roma que em qualquer outra cidade, tinha aí o
nome de plebe. precisamos examinar a origem e o caráter desta classe para melhor
entender o papel, entre os antigos, desempenhado pela plebe na história da cidade
e da família.
os plebeus não eram clientes; os historiadores da antiguidade nunca confundiram
estas duas classes uma com a outra.

2. essa classe, mais numerosa em roma que em nenhuma outra cidade, tinha aí o nome
de plebe. precisamos examinar a origem e o caráter dessa classe para melhor
compreendermos o papel desempenhado pela plebe na história da cidade e da família
entre os antigos.
os plebeus não eram clientes; os historiadores da antiguidade nunca confundiram
estas duas classes uma com a outra.

a título ilustrativo, seguem-se os trechos correspondentes na tradução de


frederico ozanam (edameris)*

Eis uma instituição dos antigos sobre a qual não devemos formar idéia pelo que
vemos a nosso redor. Os antigos basearam o direito de propriedade sobre princípios
que não são mais os das gerações presentes, e daqui resultou que as leis pelas
quais o garantiram são sensivelmente diversas das nossas.

Sabemos que há raças que jamais chegaram a instituir entre si a propriedade


privada; outras só a admitiram depois de muito tempo e a muito custo. Com efeito,
não é um problema fácil, na origem das sociedades, saber se o indivíduo pode
apropriar-se do solo, e estabelecer uma união tão forte entre si e uma parte da
terra a ponto de poder dizer: Esta terra é minha, esta terra é como que parte de
mim mesmo. Os tártaros admitem direitos de propriedade quando se trata de
rebanhos, e não o compreendem quando se trata do solo. Entre os antigos germanos,
de acordo com alguns autores, a terra não pertencia a ninguém; todos os anos a
tribo designava a cada um de seus membros um lote para cultivar, lote que era
trocado no ano seguinte. O germano era proprietário da colheita, e não da terra. O
mesmo acontece ainda em uma parte da raça semítica, e entre alguns povos eslavos.

Pelo contrário, as populações da Grécia e da Itália, desde a mais remota


antiguidade, sempre reconheceram e praticaram a propriedade privada. Não ficou
nenhuma lembrança histórica de época em que a terra fosse comum e também nada se
vê que se assemelhe a essa divisão anual dos campos, praticada entre os germanos.
Há até um fato bastante notável. Enquanto as raças que não concediam ao indivíduo
a propriedade do solo, concedem-lhe pelo menos tal direito sobre os frutos do
trabalho, isto é, das colheitas, entre os gregos acontecia o contrário. Em algumas
cidades os cidadãos eram obrigados a reunir em comum as colheitas, ou, pelo menos,
a maior parte delas, e deviam consumi-las em comum; o indivíduo, portanto, não era
absoluto senhor do trigo que havia colhido; mas ao mesmo tempo, por notável
contradição, tinha absolutos direitos de propriedade sobre o solo. A terra para
ele valia mais que a colheita. Parece que entre os gregos a concepção do direito
de propriedade tenha seguido caminho absolutamente oposto ao que parece natural.
Não se aplicou primeiro à colheita e depois ao solo. Seguiu-se a ordem inversa.

Ora, entre esses deuses e o solo, os homens das épocas mais antigas divisavam uma
relação misteriosa. Tomemos, em primeiro lugar, o lar; esse altar é o símbolo da
vida sedentária, como o nome bem o indica. Deve ser colocado sobre a terra, e, uma
vez construído, não o devem mudar mais de lugar. O deus da família deseja possuir
morada fixa; materialmente, é difícil transportar a terra sobre a qual ele brilha;
religiosamente, isso é mais difícil ainda, e não é permitido ao homem senão quando
é premido pela dura necessidade, expulso por um inimigo, ou se a terra não o puder
sustentar por ser estéril. Quando se constrói o lar, é com o pensamento e a
esperança de que continue sempre no mesmo lugar. O deus ali se instala, não por um
dia, nem pelo espaço de uma vida humana, mas por todo o tempo em que dure essa
família, e enquanto restar alguém que alimente a chama do sacrifício. Assim o lar
toma posse da terra; essa parte da terra torna-se sua, é sua propriedade.

E a família, que por dever e por religião fica sempre agrupada ao redor desse
altar, fixa-se ao solo como o próprio altar. A idéia de domicílio surge
naturalmente. A família está ligada ao altar, o altar ao solo; estabelece-se
estreita relação entre a terra e a família. Aí deve ter sua morada permanente, que
jamais abandonará, a não ser quando obrigada por força superior. Como o lar, a
família ocupará sempre esse lugar. Esse lugar lhe pertence, é sua propriedade; e
não de um homem somente, mas de toda uma família, cujos diferentes membros devem,
um após outro, nascer e morrer ali.

Sigamos o raciocínio dos antigos. Dois lares representam duas divindades


distintas, que nunca se unem ou se confundem; isso é tão verdade, que o casamento
entre duas famílias não estabelece aliança entre seus deuses. O lar deve ser
isolado, isto é, separado claramente de tudo o que não lhe pertence [...] Essa
linha divisória traçada pela religião, e por ela protegida é o emblema mais certo,
a marca mais irrecusável do direito de propriedade.

O resultado dessas velhas regras religiosas é que entre os antigos jamais se


estabeleceu uma vida de comunidade. O falanstério nunca foi conhecido. O próprio
Pitágoras não conseguiu estabelecer instituições às quais a religião íntima dos
homens resistia.

A tenda convém ao árabe, o carro ao tártaro, mas uma família que tem um altar
doméstico precisa de uma casa que dure. À cabana de terra ou de madeira seguiu-se
logo a casa de pedra. E esta não foi construída somente para a vida de um homem,
mas para a família, cujas gerações deviam suceder-se na mesma morada.

Até aqui ainda não falamos das classes inferiores, nem tínhamos o que falar,
porque se tratava de descrever o organismo primitivo da cidade, e as classes
inferiores não tinham importância nenhuma em sua estrutura, A cidade constituíra-
se como se essas classes não existissem. Podíamos, portanto, esperar para estudá-
las quando chegássemos à época das revoluções.

Depois, essa família tem criados, que não a deixam, e que a ela estão ligados por
hereditariedade, e sobre as quais o pater, ou patrono, exerce a tríplice
autoridade de mestre, de magistrado e de sacerdote. Seus nomes variam de acordo
com os lugares; os mais conhecidos são os de clientes e tetas.

A cidade [...] é o centro da associação, a residência do rei e dos sacerdotes, o


lugar onde se administra justiça, e não a morada dos homens. Durante muitas
gerações ainda os homens continuam a viver fora da cidade, em famílias isoladas,
que dividem entre si os campos.

Essa classe, que se torna mais numerosa em Roma que em nenhuma outra cidade,
chamava-se ali de plebe. É preciso que vejamos a origem e o caráter dessa classe,
para compreendermos o papel que desempenhou na história da cidade e da família
entre os antigos.
Os plebeus não eram clientes; os historiadores da antiguidade não confundem essas
duas classes entre si
* existem outras traduções de a cidade antiga: edson bini (edipro, 1998), nélia
pinheiro padilha (juruá, 2002), joão cretella jr. e agnes cretella (revista dos
tribunais, 2003), aurélio barroso rebello e laura alves (pela própria ediouro,
2004), heloísa da graça burati (rideel, 2005), cf. http://www.bn.br/.

imagens: http://stubenrock.blogspot.com/; héstia e deméter

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21/04/2009
le deuil
naturalmente o caro leitor se deu conta da calamidade referida no post aiaiai, e
agora.

em se confirmando o plágio da hemus (1975) em cima da tradução de fernando de


aguiar de a cidade antiga, de fustel de coulanges, essa praga adquire uma dimensão
exorbitante. por várias razões:
- se quem faz um faz cem, isso obriga a checar as outras traduções em nome de
jonas camargo leite (ao que parece, tradutor de livro único, a dita cidade antiga
da hemus, que a bem dizer não é propriamente uma tradução) e de eduardo nunes
fonseca.
- se uma editora publica traduções que não são propriamente traduções, isso obriga
a conferir os demais títulos dessa editora, em nome de outros tradutores.
- se essa editora vende e sublicencia suas pseudotraduções para outras editoras,
isso obriga a conferir o catálogo dessas outras editoras.

e, estando a editora há quase quarenta anos na praça, a coisa fica deveras


alarmante. a pergunta básica, que qualquer criança faria, é: "mas então ninguém
viu?" - ou, pior: "viram e pouco se importaram?". não interessa, o fato permanece.

então, recapitulando: a editora martin claret, responsável pela maior enxurrada de


fraudes e plágios no mercado editorial de que há notícia na história do livro no
brasil, tem em circulação a cidade antiga, de fustel de coulanges, em nome de
"jean melville". um grupo de estudantes descobriu que era um plágio da edição da
ediouro, em nome de jonas camargo leite e eduardo nunes fonseca. de minha parte,
descobri que essa edição da ediouro, por sua vez, era reedição de um plágio da
hemus em cima da clássica editora, de portugal.

se a coisa tivesse parado lá pelos anos 70, época da publicação da hemus, eu nem
mexeria nisso. o problema é que essa fraude está aí próspera e viçosa, ainda em
catálogo da hemus, licenciada para a ediouro (a qual declarou que vai tomar as
providências cabíveis), e replagiada pelo intrépido claret, na mais autêntica
ciranda com o joão-bobo do leitor no meio.

mas, nessa brincadeira, a perninha curta da mentira já começa a aparecer. eduardo


nunes fonseca, o suposto cotradutor de a cidade antiga, assina pelo menos mais
duas traduções pela hemus que TAMBÉM estão licenciadas para a ediouro, em
sucessivas reedições. a saber: darwin, a origem das espécies, e émile zola,
germinal. ainda esta semana apresentarei os cotejos clássica x hemus/ediouro (a
cidade antiga) e vecchi x hemus/ediouro (germinal).

resta ver o que a ediouro fará. seria uma vergonha que o maior grupo editorial do
país continuasse a abrigar lixo tóxico em seu catálogo.

imagens: o luto

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20/04/2009
aiaiai, e agora
sempre achei a partenogênese uma idéia muito interessante. é a analogia que me
ocorre quando vejo se multiplicarem traduções a partir da mesma tradução.

pois parece muita coincidência que uma frase simples como:


les grecs appelaient cet autel de noms divers [...]; ce dernier finit par
prévaloir dans l'usage et fut le mot dont on désigna ensuite la déesse vesta
apareça como:
1. os gregos tinham vários nomes para designar este altar [...]; a última destas
expressões prevaleceu no uso e foi a palavra pela qual mais tarde se designou a
deusa vesta
2. os gregos tinham vários nomes para designar este altar [...]; a última destas
expressões prevaleceu no uso e foi a palavra pela qual mais tarde se designou a
deusa vesta
3. os gregos tinham vários nomes para designar este altar [...]; a última destas
expressões prevaleceu no uso e foi a palavra pela qual mais tarde se designou a
deusa vesta

ou
il y avait un jour de l'année, qui était chez les romains le 1er mars, où chaque
famille devait éteindre son feu sacré et en rallumer un autre aussitôt
apareça como:
1. havia determinado dia no ano, entre os romanos o primeiro de março, no qual
cada família devia apagar o seu fogo sagrado e reacender logo outro em seu lugar
2. havia determinado dia no ano, entre os romanos era o primeiro de março, no qual
cada família devia apagar seu fogo sagrado e reacender logo outro em seu lugar
3. havia certo dia no ano, que entre os romanos era o primeiro de março, em que
cada família devia extinguir o seu fogo sagrado para acender logo outro em seu
lugar

ou
le repas était l'acte religieux par excéllence
surja como:
1. considerava-se a refeição como o ato religioso por excelência
2. considerava-se o repasto como o ato religioso por excelência
3. o banquete era considerado o ato religioso por excelência

ou
le dieu y présidait. c'était lui qui avait cuit le pain et préparé les aliments;
aussi lui devait-on une prière au commencement et à la fin du repas
como:
1. o deus presidia. era o deus quem tinha cozido o pão e preparado os alimentos;
por isso se lhe devia uma oração no começo e outra no fim da refeição
2. o deus presidia. era o deus quem tinha cozido o pão e preparado os alimentos;
por isso se lhe devia uma oração no início e outra no fim da refeição
3. o deus presidia. era ele quem tinha cozido o pão e preparado os alimentos; por
isso era-lhe devida uma oração no começo e outra no fim da refeição

ou
on peut donc penser que le foyer domestique n'a été à l'origine que le symbole du
culte des morts
como:
1. é lícito julgar-se portanto ter sido o lar doméstico, na sua origem,
considerado como expressão do culto dos mortos
2. é lícito julgar-se, portanto, ter sido o fogo doméstico, em sua origem,
considerado como expressão do culto dos mortos
3. é lícito, pois, pensar ter sido o fogo doméstico, em sua origem, considerado
como expressão do culto dos mortos

fustel de coulanges, a cidade antiga, nas seguintes traduções:*


1. fernando de aguiar, clássica editora, 1945
2. jonas camargo leite e eduardo nunes fonseca, hemus, 1975 (ediouro, 1985 em
diante)
3. jean melville, martin claret, 2001 (com revisão de pietro nassetti, sic)

* como contraponto, ver a tradução de frederico ozanam pessoa de barros, editora


das américas, 1961:
- Os gregos chamavam a esse altar de nomes diversos: bõmos, eschára, hestía; esse
último acabou por prevalecer no uso, e foi a palavra pela qual passaram a designar
a deusa Vesta.
- Havia um dia do ano, que entre os romanos era o 1.° de março, em que cada
família devia extinguir o fogo sagrado, e acender imediatamente outro
- O banquete era o ato religioso por excelência, presidido pelo deus, que havia
cozido o pão e preparado os alimentos; dirigiam-lhe também uma prece no princípio
e no fim da refeição.
- Pode-se, pois, pensar que o fogo doméstico, na origem, nada mais foi que o
símbolo do culto dos mortos
esses são só alguns exemplos ilustrativos, e depois apresentarei cotejos
detalhados. aqui o que chama a atenção é a sequência: clássica -> hemus -> ediouro
-> martin claret.

inicialmente, a pesquisa foi feita com as edições da claret e da clássica, e


surgiram algumas coincidências improváveis. parecia ser uma malandragem tomando
por base a tradução de fernando de aguiar. na sequência das pesquisas, porém,
consultas à edição da hemus mostraram que ela parecia estar mais próxima da
clássica do que a própria claret, e que a tradução de jonas camargo leite e
eduardo nunes fonseca funcionava como ponte entre a de fernando de aguiar e a de
jean melville. trocando em miúdos: havia elementos suficientes para sugerir a
possibilidade de um plágio do plágio. acho que isso fica bem evidente nos
exemplinhos dados acima.

então entrei em contato com a ediouro, para perguntar se por acaso andavam
plagiando o fernando de aguiar, aliás reeditado várias vezes pela martins fontes
pelo menos desde 1987, ou se tinham caído em algum conto do vigário. a posição da
ediouro foi muito clara: não, não plagiaram, a empresa não é afeita a tais
procedimentos. compraram em 1985 os direitos sob re a tradução da hemus, tomando-a
por boa, e tinham o contrato em mãos. bom, a explicação me pareceu satisfatória -
o que a ediouro vai fazer ou deixar de fazer com seu contrato, é problema dela.
para nós leitores, o importante é o livro honesto - e aí vai ser um abacaxi: três
edições da mesma obra com problema? ruim, hein?

imagens: www.biologie.uni-hamburg.de; http://lgollo.blog.terra.com.br


agradeço a joana canêdo por assinalar as soluções de frederico ozanam de barros

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18/04/2009
viva o dia nacional do livro infanto-juvenil

monteiro lobato, reinações de narizinho em russo.

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a agência de empregos da claret, parte II

o CITRAT (Centro Interdisciplinar de Tradução e Terminologia), da USP, em sua


candidatura ao nosso hall of shame, tem despertado reações contrárias da parte de
gente que ainda acredita em dignidade intelectual e que ainda acha que é bom ler
as mensagens e se informar do teor delas antes de sair feito alucinado por aí,
bombardeando pessoas inocentes com propostas obscenas e indecorosas.

a atual diretoria do CITRAT não se manifestou, uma ex-diretoria pretendeu me


repreender pela divulgação do ocorrido, a secretaria alegou a ignorância de um
bebê recém-nascido.

já do lado de cá do mundo, várias pessoas me enviaram e-mails ou deixaram


comentários aqui no nãogosto, manifestando incredulidade, espanto, horror. posição
muito digna também foi a de mamede jarouche, o famoso tradutor das mil e uma
noites e docente do departamento de letras orientais da pilatusp: ele escreveu com
muita calma e paciência à tal sandra nascida-ontem explicando os fatos do mundo e
aconselhando vivamente o CITRAT a não se misturar com a turma martinclaretiana,
pois pega muito mal.

é isso aí, dr. mamede: em tempos de tão aguda escassez de discernimento e clareza
de idéias, quem dera se multiplicassem as honestas vozes do bom senso.
imagem: www.78sclub.com

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17/04/2009
o citrat/usp agora é agência de empregos da claret?
inúmeros e inúmeros docentes da usp apoiam essa briga contra o plágio e a trapaça
intelectual. mas já a usp enquanto instituição sempre me espanta. além de gestar
teses elogiando as fraudes de pietro nassetti, além de volta e meia promover
feiras de livros para as quais convida a plagiadora-mor do brasil, além de nunca,
jamais ter emitido qualquer posição institucional contra as fraudes editoriais (ao
contrário da unicamp e da ufrgs, por exemplo), agora seu centro de estudos de
tradução, o CITRAT, parece ter entrado em "entendimentos por telefone" com a
martin claret, envolvendo uma parceria tradutória com a dita cuja.

1. o CITRAT, além dos tais entendimentos telefônicos, resolveu enviar para toda a
sua mala direta a proposta da martin claret:

A
CITRAT-USP
At. Sandra Cunha
Conforme entendimentos por telefone, a Editora Martin Claret está procurando bons
tradutores, com o objetivo de pôr no mercado traduções cuidadosas, a partir da
língua original. O projeto abrange obras de Niezstche [sic], clássicos gregos e
latinos, literatura inglesa, francesa e russa.
Tendo conhecimento da excelência de alunos e professores desse Centro, gostaríamos
de propor uma parceria que, certamente, iria contribuir grandemente para a
divulgação da cultura em nosso país.
Atenciosamente,
Martin Claret
Diretor

2. até onde consigo entender, a usp é uma instituição pública, e não há autonomia
universitária capaz de justificar alguma eventual pretensão sua de não ter que
prestar contas de seus atos à sociedade. portanto escrevi ao CITRAT e a seu
diretor, o prof. John Milton:

De: Denise Bottmann [mailto:dbottmann@uol.com.br] Enviada em: sexta-feira, 17 de


abril de 2009 15:32Para: irene hirsch; john milton; citrat@usp.br

boa tarde
várias pessoas já me repassaram e-mails que têm recebido do CITRAT em nome da
martin claret.
é realmente uma lástima que o CITRAT esteja se prestando ao papel de aliciador de
tradutores para a referida editora.

denise bottmann

3. vinte minutos depois, recebo essa peróla:

From: CITRAT
To: 'Denise Bottmann'
Sent: Friday, April 17, 2009 3:52 PM

Desculpe Denise

Somente hoje fiquei sabendo o que ocorre com a Editora. Mas não estamos com
parceria com eles. Apenas redirecionamos o email.
Boa tarde,
SANDRA CUNHA
CITRAT/FFLCH/USP
Centro Interdepartamental de Tradução e Terminologia da Universidade de São Paulo

4. só hoje ficou sabendo, dona sandra? é rotina normal do CITRAT que sua
secretaria não repasse à sua diretoria as propostas de parceria que recebe, os
entendimentos telefônicos a que chega? é normal que saia por aí aliciando
tradutores cadastrados em sua mala direta sem o conhecimento da direção? pois
certamente a direção sabe muito bem, e de longa data, "o que ocorre com a
Editora". então de duas uma: ou a diretoria do CITRAT sabe e determinou à
secretaria que fizesse circular a proposta da martin claret entre sua mala direta,
ou a diretoria do CITRAT não sabe e a secretaria demonstrou grande e injustificada
irresponsabilidade, além de ter passado seu atestado de ignorância.

imagem: www.toonpool.com

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ufa, caiu a ficha!
Um acordão?

Postado por Galeno Amorim - 16/4/209


Dada a largada no debate sobre o que fazer com os livreiros independentes
(iniciada com a apresentação de projeto de lei propondo a criação da lei do preço
fixo, que já vigora em alguns países), a Associação Nacional de Livrarias acredita
que as discussões possam ter outros desdobramentos. Em vez de uma legislação
aprovada no Legislativo, por exemplo, já admite conversar sobre a possibilidade de
um acordo no próprio setor envolvendo as outras entidades do livro.

gosto muito da libre, a liga brasileira de pequenas e médias editoras


independentes. ela tem uma excelente posição em defesa da bibliodiversidade, adota
perspectivas inovadoras, é moderna, arejada, reúne editores de alta qualidade,
promove eventos ótimos como a primavera dos livros.

achei uma pena que ela parecesse ter embarcado acriticamente na proposta da anl,
que abriga grandes e tradicionais livrarias, tipo saraiva, siciliano, nobel,
leitura etc. para criar uma reserva de mercado no setor, tabelando o livro por seu
preço cheio e acabando com descontos e promoções para os leitores.

fiquei confusa, e acabei achando que a libre poderia demarcar de maneira mais
explícita os limites de seu apoio à proposta do preço fixo cheio do livro. pois
não por acaso boa parte das supostas pequenas e médias livrarias associadas à anl
são também editoras que, aliás, não compartilham propriamente o perfil dos
associados da libre. a impressão que dá é que na proposta do preço cheio da anl
estão mesclados interesses editoriais incrustados, cuja principal preocupação é a
participação cada vez maior do capital internacional no setor -interesses estes
que se apresentam ao público e mesmo dentro do mundo do livro sob a fachada dos
problemas específicos enfrentados pelo segmento livreiro de pequeno e médio porte.

então é evidente que a briga é outra, e que a tentativa de instrumentalizar a


difícil situação das livrarias realmente médias e pequenas em favor de uma
proposta que atende basicamente a interesses de tradicionais editoras, apenas
prejudica e penaliza os leitores, e dificilmente conseguirá despertar muita
simpatia entre a sociedade.

a nota de galeno amorim parece sinalizar que a anl está começando a colocar a
discussão onde deveria ter sido colocada desde o começo: não no legislativo, e sim
dentro de seu próprio setor, abrindo-se para vários desdobramentos interessantes.
aí sim ela poderá ser profícua e até conquistar maior apoio em geral.

imagem: www.alterinfo.net

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pensadores, pascal
o pobre pascal já tinha sido garfado pela martin claret. a notória copiou a
tradução de leonel vallandro, publicada pela globo/mec, e tascou-lhe um nassetti
básico.

já a nova cultural, na coleção os pensadores a cargo da dona janice florido,


preferiu pichelingar sérgio milliet (difel, depois pensadores da abril). e assim
foi que o nariz da cleópatra ficou a cargo de uma tal "olívia bauduh".

no começo, o copidesque de plantão até tentou fazer jus a uns trocos:

milliet:
[5] Os que julgam sem regras uma obra estão em relação aos outros como os que não
têm relógios, em relação aos demais. Um diz: "Já passaram duas horas", o outro :
"Passaram apenas três quartos de hora". Olho o meu relógio, e digo a um: "Você
está se aborrecendo", e a outro: "O tempo anda depressa para você, pois passou
hora e meia". E zombo dos que dizem que o tempo custa a passar para mim, e que
julgo pela imaginação: não sabem que julgo pelo meu relógio.

bauduh:
[5] Aqueles que sem regras julgam uma obra estão, para os demais, como os que não
possuem relógios em relação aos outros. Um fala: "Passaram-se já duas horas", o
outro : "Passaram-se somente três quartos de hora". Consulto meu relógio e digo a
um: "Você está se aborrecendo", e a outro: "O tempo anda rapidamente para você,
pois passou-se hora e meia". E zombo dos que pensam custar o tempo a passar, para
mim, e que julgo pela imaginação: desconhecem que julgo por meu relógio.

depois o fulaninho deve ter cansado da brincadeira e foi tomar um café na esquina.

milliet:
[140] Esse homem tão abatido com a morte de sua mulher e de seu único filho e
sujeito ao tormento de tão grande dor, por que não está triste neste momento, e o
vemos tão isento destes pensamentos penosos e inquietantes? Não há motivo para
estranharmos: acabam de entregar-lhe uma bola e cabe-lhe atirá-la a seu
companheiro, e ei-lo a pegá-la de modo a marcar um
ponto.

bauduh:
[140] Esse homem tão abatido com a morte de sua mulher e de seu único filho e
sujeito ao tormento de tão grande dor, por que não está triste neste instante, e o
vemos tão desprovido de tais pensamentos dolorosos e inquietantes? Não há por que
estranhar: acabam de entregar-lhe uma bola e cabe-lhe atirá-la a seu companheiro,
e ei-lo a pegá-la de modo a marcar um ponto.

milliet:
[141] Ocupam-se os homens com uma bola ou uma lebre; esse é o prazer, inclusive
para os reis.

bauduh:
[141] Ocupam-se os homens com uma bola ou uma lebre; é esse o prazer, inclusive
para os reis.
milliet:
[162] Quem quiser conhecer por completo a vaidade do homem não tem senão que
considerar as causas e os efeitos do amor. A causa é um não sei o quê (Corneille)
e os efeitos são espantosos.
Esse não sei o quê, tão pouca coisa que não se pode reconhecê-lo, revolve toda a
terra, os príncipes, os exércitos, o mundo inteiro.
Se o nariz de Cleópatra tivesse sido mais curto, toda a face da terra teria
mudado.

bauduh:
[162] Quem quiser conhecer por inteiro a vaidade do homem não tem senão que
considerar as causas e os efeitos do amor. A causa é um não-sei-quê (Corneille) e
os efeitos são assombrosos. Esse não-sei-quê, tão pouca coisa que não se pode
reconhecê-lo, revolve toda a terra, os príncipes, os exércitos, o mundo inteiro.
Se o nariz de Cleópatra tivesse sido mais curto, toda a face da terra teria
mudado.

milliet:
[233] Vejamos. Já que é preciso escolher, vejamos o que menos vos interessa.
Tendes duas coisas a perder: a verdade e o bem; e duas coisas a empenhar: vossa
razão e vossa vontade, vosso conhecimento e vossa beatitude; e vossa natureza tem
que fugir de duas coisas: o erro e a miséria. Vossa razão não se sentirá mais
atingida por terdes escolhido uma coisa de preferência a outra, já que é preciso
necessariamente escolher. Eis um ponto liquidado. Mas, vossa beatitude? Pesemos o
ganho e a perda escolhendo a cruz, que é Deus. Consideremos esses dois casos: se
ganhardes, ganhareis tudo; se perderdes, não perdereis nada. Apostai, pois, que
ele existe, sem hesitar.

bauduh:
[233] Vejamos. Uma vez que é necessário escolher, vejamos o que menos vos
interessa . Tendes duas coisas a perder: a verdade e o bem; e duas coisas a
empenhar: vossa razão e vossa vontade, vosso conhecimento e vossa beatitude; e
vossa natureza tem que fugir de duas coisas: o erro e a miséria. Vossa razão não
se sentirá mais atingida por terdes escolhido uma coisa de preferência a outra,
pois é preciso necessariamente escolher. Eis um ponto liquidado. Mas, e vossa
beatitude? Pesemos o ganho e a perda escolhendo a cruz, que é Deus. Consideremos
esses dois casos: se ganhardes, ganhareis tudo; se perderdes, não perdereis nada.
Apostai, pois, que ele existe, sem hesitação.

milliet:
[245] Há três meios de crer: a razão, o costume, a inspiração. A religião cristã,
que é a única que tem razão, não admite como verdadeiros filhos os que crêem sem
inspiração: não que exclua a razão e o costume, ao contrário; mas é preciso abrir
o espírito às provas, assegurar-se destas pelo costume, oferecer-se pelas
humilhações às inspirações, que são as únicas que podem produzir o verdadeiro e
salutar efeito: Ne evacuetur crux Christi.

bauduh:
[245] Existem três meios de acreditar: a razão, o costume, a inspiração. A
religião cristã, [] a única que tem razão, não admite como verdadeiros filhos os
que crêem sem inspiração: não que exclua a razão e o costume, ao contrário; no
entanto, é preciso abrir o espírito às provas, delas assegurar-se pelo costume,
mas ofertar-se, pelas humilhações, às inspirações, que são as únicas que podem
produzir o verdadeiro e salutar efeito: Ne evacuetur crux Christi.

milliet:
[294] Haverá algo mais divertido do que um homem ter direito de me matar porque
mora do outro lado das águas, e porque o seu príncipe tem uma questão com o meu,
embora eu nada
tenha contra ele?

bauduh:
[294] Haverá algo mais divertido do que um homem ter direito de me matar porque
mora do outro lado das águas, e porque o seu príncipe tem uma questão com o meu,
embora eu nada tenha contra ele?

milliet:
[331] [Platão e Aristóteles] Se escreveram sobre política, foi como para pôr ordem
num hospício; e, se fizeram menção de falar dela como de uma grande coisa, é que
sabiam que os loucos a que falavam julgavam-se reis e imperadores; entravam nos
seus princípios para moderar a loucura deles na medida do possível.

bauduh:
[331] Se [Platão e Aristóteles] escreveram sobre política, foi como para pôr em
ordem um hospício; e, se fizeram menção de falar dela como de uma grande coisa, é
que sabiam que os loucos a que falavam julgavam ser reis e imperadores; entravam
nos seus princípios para moderar a loucura deles na medida do possível.

milliet:
[543] As provas metafísicas de Deus acham-se tão afastadas do raciocínio dos
homens e tão embrulhadas que pesam pouco; e, mesmo que isso servisse para alguns,
serviria apenas durante o instante em que vissem essa demonstração; mas, uma hora
depois, receariam ter-se enganado.

bauduh:
[543] As provas metafísicas de Deus encontram-se tão apartadas do raciocínio dos
homens e tão embrulhadas que pesam pouco; e, mesmo que isso valesse para alguns,
somente valeria no instante em que vissem essa demonstração; uma hora depois,
entretanto, receariam ter-se enganado.

é mais uma daquelas famosas "traduções feitas por renomados estudiosos e com
acabamento primoroso" que a nova (in)cultural impinge desde 1999 até hoje ao
incauto leitor. mas, como dizem, who cares?

imagens: http://candimba.blogspot.com; www.historicprintandmap.com

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16/04/2009
nossa homenagem
em abril há vários "dias do livro".

dia 2 é o dia internacional do livro infanto-juvenil (dia em que nasceu hans


christian andersen).
dia 18 é o dia nacional do livro infantil (dia em que nasceu monteiro lobato).
dia 23 é o dia mundial do livro e do direito autoral (do autor, não do
copirraite!), instituído pela unesco porque juntou um monte de gente nesse dia:
morreram shakespeare e cervantes, mas também nasceram nabokov, druon, vallejo e
outros mais.

então, em homenagem ao grande paladino brasileiro do livro e do direito do autor,


martin claret, apresentamos à direita uma mostra da superprodução de seus fiéis
colaboradores. começamos, como não poderia deixar de ser, com pietro nassetti.

viva a martin, viva a fbn/isbn, vivam as feiras do livro da usp, vivam todas as
escolas com suas teses e ementas de curso martinescas, vivam todos os solidários
claretianos! viva brasil!
em tempo: agradecemos à livraria cultura e às livrarias curitiba. todas as imagens
do slideshow com uma parte da superprodução nassettiana provêm de seus sites. viva
a elas também!

obs.: no caso das obras com discrepância de dados entre o isbn/fbn e o exemplar
impresso, as imagens são apenas a título ilustrativo e trazem a legenda "chapa
fria".

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15/04/2009
e dá-lhe fajutagem
da série "me engana que eu gosto":

de 14 a 16 de abril, a feira de livros da usp leste, com a presença de mais de 50


editoras e descontos de 50% no preço das obras, conta também com a indefectível
banquinha claretiana.

ao que consta, o convite partiu da comissão organizadora da feira. escrevi


perplexa à usp, várias diretorias e pró-reitorias. mas, com uma comissão dessas,
quem há de estranhar algumas maluquices intelectuais que depois acontecem nos
cursos e teses da usp?

imagem: http://www.pipette.w1host.org/

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14/04/2009
e-books
joana canêdo deixou um comentário muito pertinente em e a arte, onde fica?

reproduzo: "Notei que o site do domínio público tem como uma de suas instituições
parceiras a CultVox ('os melhores e-livros da internet'). Eles têm uma seção de
downloads gratuitos, que inclui vários clássicos, porém não há qualquer menção
sobre a tradução ou o tradutor. Quando indaguei o suporte deles sobre isso eles me
responderam que 'os e-livros grátis são doados de forma voluntária e não
costumamos indagar sobre a tradução'."

sim, a grandíssima maioria dos e-books em tradução para download gratuito não
costuma trazer o nome do tradutor. além disso, a grandíssima maioria dos e-books
em tradução para download gratuito, mesmo muitos que estão no portal do mec, não
está em domínio público.

acho o tema muito interessante porque se imbricam aí questões delicadas e pouco


tratadas. não é uma simples questão abdrística de achar que é "pirataria". o
próprio governo reconhece a sensatez de disponibilizar em seu portal obras
traduzidas há mais de vinte, trinta, cinquenta anos, e muitas vezes esgotadas no
mercado. as editoras que estão sentadas em cima desses direitos de publicação,
mofando em seus baús, não protestam contra a disponibilização desses e-books, e
deixam circular livremente. é como se fosse um mundo paralelo.

por outro lado, a grande maioria desses e-books não traz nome de tradutor em parte
por acharem irrelevante, mas sobretudo como forma de se resguardarem. eis um
trecho do comentário de um docente sobre esse fenômeno: "Recentemente recebi um e-
mail de um aluno com um link para uma entrevista de Foucault na internet. Fui
conferir o link em um site chamado scribd.com [...]. Lá encontrei uma entrevista
de Foucault em português com cento e tantas páginas, mas sem identificação do
autor da entrevista, do tradutor, do editor original. E mais: quem pirateou o
texto declarava que havia suprimido propositalmente essas informações para
dificultar a identificação do original".

então entendo a coisa mais ou menos assim: fica uma espécie de ameaça difusa no ar
de que isso seria pirataria; por outro lado, as pessoas querem compartilhar e
compartilham mesmo; por outro lado ainda, os detentores desses direitos aceitam,
com seu silêncio, esse compartilhamento digital; finalmente, o governo dá seu aval
incluindo muitas dessas obras em seu portal. não se pode dizer que seja "pirata":
afinal todos os envolvidos estão de acordo, seja pelo silêncio, seja pela
iniciativa, seja pelo aval dado. mas sobre essas obras continua a pairar o
fantasma da ilegalidade, prejudicial para todos. afora a desinformação para o
público, para os pesquisadores é uma via crúcis tentar descobrir editor, tradutor
etc. dessas obras.

uma saída puntual seria pedir uma espécie de legalização do "usucapião" desses e-
books, de forma que ninguém seja penalizado, e que se possam incluir os dados de
identificação faltantes. outra possibilidade, e de maior alcance, seria que a
legislação finalmente autorizasse a disponibilização digital sem fins lucrativos,
para a sociedade, de obras esgotadas há mais de 3/5 anos, conforme sugestão do
grupo de estudos da fgv.

em tempo: há coisa de um ano atrás contatei o minc, o mec e o cultvox sobre esse
problema. a troca de correspondência se encontra aqui.

imagem: http://diariosdabicicleta.blogspot.com

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13/04/2009
... não fica

a parte trágica da poética clareto-nasettiana promove seus workshops e oficinas


literárias nos acervos de bibliotecas, ementas de curso, teses, artigos etc.

é a fraude aristotelando por aí, e o público nem tem direito a catarse alguma.

https://www.ucpel.tche.br/sapu/mostradadosdisci.php3?coddisci=053406
www.infoescola.com/artes/tragedia/
www.fasete.edu.br/arquivos/file/secretaria/2008/LETRAS%202008%20PDF/IV%20PERÍODO/L
iteratura_Latina.pdf
http://sistemas1.usp.br:8080/fenixweb/fexDisciplina?sgldis=AUP5866
www.unesp.br/prograd/ix%20cepfe/Arquivos%202007/6CGerarPD.pdf
www.seer.ufrgs.br/index.php/EmQuestao/article/view/6491/4873
www.seer.ufrgs.br/index.php/EmQuestao/article/view/6491/4735
http://www4.mackenzie.com.br/fileadmin/Pos_Graduacao/Doutorado/Letras/Cadernos/Vol
ume_4/009.pdf
www.revistafenix.pro.br/PDF10/ARTIGO7.SECAO%20LIVRE.Ana.Teresa.Contier.pdf
www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/1843/ALDR-
6WEKBT/1/versao_final_junho.pdf
www.fasete.edu.br/arquivos/file/secretaria/2008/Planos_de_Curso20082/Letras/1º/Teo
ria%20da%20Literatura%20I.pdf
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/view/3545/2764
www.contemporanea.uerj.br/pdf/ed_07/04RAFAEL&MARCOS.pdf
http://websmed.portoalegre.rs.gov.br/escolas/montecristo/simone/edipo.doc
http://www6.mackenzie.br/inicie/1/SilvioDias.pdf.
www.fdj.com.br/graduacao/filosofia/ementario_e_bibliografia_filosofia.pdf
www.ip.usp.br/laboratorios/lapa/versaoportugues/2c4a.pdf
http://irece.ba.gov.br/livros.pdf.
http://publique.rdc.puc-rio.br/revistaalceu/media/alceu_n12_Freire.pdf
http://tede.pucrs.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=1459
http://esade.phlnet.com.br/cgi-
bin/wxis.exe?IsisScript=phl8/003.xis&cipar=phl8.cip&bool=exp&opc=decorado&exp=ARTE
&code=&lang=
http://bch.phlnet.com.br/cgi-
bin/wxis.exe?IsisScript=phl8/003.xis&cipar=phl8.cip&bool=exp&opc=decorado&exp=ARIS
TOTELES&code=&lang= http://esmac.phlnet.com.br/cgi-
bin/wxis.exe?IsisScript=phl8/003.xis&cipar=phl8.cip&bool=exp&opc=decorado&exp=POET
ICA&code=&lang=
www.abralic.org.br/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/082/AMILTON_QUEIROZ.pdf
http://artigocientifico.uol.com.br/uploads/artc_1150213537_75.pdf
http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000380274
www.intv.cefetce.br/connepi/viewpaper.php?id=1354
www.ufpe.br/pgletras/2006/dissertaoes/diss-savio-roberto.pdf
www.filosofianocotidiano.com.br/programa-filosofia-no-cotidiano-livros.php
www.dibib.ufsj.edu.br/dibib/principal/resultadofinal.pdf
www.filologia.org.br/cluerj-
sg/anais/v/completos%5Ccomunicacoes%5CVinicius%20Carvalh...
www.llv.cce.ufsc.br/ProjetoPedagSet2006.pdf
http://tede.biblioteca.ucg.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=82
http://ibict.metodista.br/tedeSimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=1818
www.letraseletras.ileel.ufu.br/include/getdoc.php?id=384&article=101&mode=pdf
http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/1884/13432/1/disserta%C3%A7%C3%A3ogior
gia.pdf
www.estacio.br/publicacoes/redeletras/rededeletrasmar08.pdf
www.fflch.usp.br/df/site/posgraduacao/2006_mes/Fernando_Gazoni_A_Poetica_de_Aristo
teles.pdf www.unesp.br/prograd/ix%20cepfe/Arquivos%202007/6CGerarPD.pdf
http://bdtd.bce.unb.br/tedesimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=925
http://bdtd.bce.unb.br/tedesimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=2861
http://ibict.metodista.br/tedeSimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=1171
www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/cgi-
bin/PRG_0599.EXE/7001_8.PDF?NrOcoSis=19920&CdLinPrg=pt
www.tede.ufsc.br/teses/PLIT0284-D.pdf
www.letras.ufrj.br/posverna/mestrado/SoaresMP.pdf
www.sapientia.pucsp.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=2714
www.bdtd.ndc.uff.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=905
www.letras.ufmg.br/hispanistas/hot/literatura_espanhola.pdf
www.bibliotecadigital.ufba.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=593

imagem: klaus kinski, nosferatu, google images; knockout, msn emoticon

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e a arte, onde fica?
eu já tinha comentado um caso que me parece paradigmático dos prejuízos que a
editora martin claret causa à vida do intelecto.

fiquei devendo a demonstração do plágio: aqui vai ela. trata-se de aristóteles,


arte poética, traduzido por antônio pinto de carvalho, publicado pela difel (1958,
com várias reedições) e depois pela ediouro. além disso, a edição da claret pilhou
o cuidadoso índice onomástico da edição dos pensadores, abril cultural, elaborado
por eudoro de souza. aliás, o perfil biográfico na claret é cópia da introdução
dessa mesma edição dos pensadores da abril, com consultoria de josé américo
pessanha - tudo, naturalmente, atribuído a pietro nassetti.*

*aliás, às vezes eu me indago o que fazem os vários revisores mencionados nos


créditos dos plágios da claret. revisam o quê, acompanhando com o quê?
1. antônio pinto de carvalho

CAPÍTULO I
Da poesia e da imitação segundo os meios, o objeto e o modo de imitação
1. Nosso propósito é abordar a produção poética em si mesma e em seus diversos
gêneros, dizer qual a função de cada um deles, e como se deve construir a fábula
visando a conquista do belo poético; qual o número e natureza de suas diversas
partes, e também abordar os demais assuntos relativos a esta produção. Seguindo a
ordem natural, começaremos pelos pontos mais importantes.
2. A epopéia e a poesia trágica, assim como a comédia, a poesia ditirâmbica, a
maior parte da aulética e da citarística, consideradas em geral, todas se
enquadram nas artes de imitação.
3. Contudo há entre estes gêneros três diferenças: seus meios não são os mesmos,
nem os objetos que imitam, nem a maneira de os imitar.
4. Assim como alguns fazem imitações em modelo de cores e atitudes — uns com arte,
outros levados pela rotina, outros com a voz –, assim também, nas artes acima
indicadas, a imitação é produzida por meio do ritmo, da linguagem e da harmonia,
empregados separadamente ou em conjunto.
5. Apenas a aulética e a citarística utilizam a harmonia e o ritmo, mas também o
fazem algumas artes análogas em seu modo de expressão; por exemplo, o uso da
flauta de Pã.
6. A imitação pela dança, sem o concurso da harmonia, tem base no ritmo; com
efeito, é por atitudes rítmicas que o dançarino exprime os caracteres, as paixões,
as ações.
7. A epopéia serve-se da palavra simples e nua dos versos, quer mesclando metros
diferentes, quer atendo-se a um só tipo, como tem feito até ao presente.
8. Carecemos de uma denominação comum para classificar em conjunto os mimos de
Sófron e de Xenarco,
9. as imitações em trímetros, em versos elegíacos ou noutras espécies vizinhas de
metro.
10. Sem estabelecer relação entre gênero de composição e metro empregado, não é
possível chamar os autores de elegíacos, ou de épicos; para lhes atribuir o nome
de poetas, neste caso temos de considerar não o assunto tratado, mas
indistintamente o metro de que se servem.
11. Não se chama de poeta alguém que expôs em verso um assunto de medicina ou de
física! Entretanto nada de comum existe entre Homero e Empédocles, salvo a
presença do verso. Mais acertado é chamar poeta ao primeiro e, ao segundo,
fisiólogo.
12. De igual modo, se acontece que um autor, empregando todos os metros, produz
uma obra de
imitação, como fez Querémon no Centauro, rapsódia em que entram todos os metros,
convém que se lhe atribua o nome de poeta. É assim que se devem estabelecer as
definições nestas matérias.
13. Há gêneros que utilizam todos os meios de expressão acima indicados, isto é,
ritmo, canto, metro; assim procedem os autores de ditirambos, de nomos, de
tragédias, de comédias; a diferença entre eles consiste no emprego destes meios em
conjunto ou em separado.
14. Tais são as diferenças entre as artes que se propõem a imitação.

CAPÍTULO II
Diferentes espécies de poesia segundo os objetos imitados
Como a imitação se aplica aos atos das personagens e estas não podem ser senão
boas ou ruins (pois os caracteres dispõem-se quase nestas duas categorias apenas,
diferindo só pela prática do vício ou da virtude), daí resulta que as personagens
são representadas melhores, piores ou iguais a todos nós.
2. Assim fazem os poetas: Polignoto pintava tipos melhores; Páuson, piores; e
Dionísio, iguais a nós.
3. É evidente que cada uma das imitações de que falamos apresentará estas mesmas
diferenças, e também alguns aspectos exclusivos delas, porém inseridos na
classificação exposta.
4. Assim na dança, na aulética, na citarística, é possível encontrar estas
diferenças;
5. e também nas obras em prosa, nos versos não cantados. Por exemplo, Homero pinta
o homem melhor do que é; Cleofonte, tal qual é; Hegémon de Tasso, o primeiro autor
de paródias, e Nicócares, em sua Delíade, o pintam pior.
6. O caráter da imitação também existe no ditirambo e nos nomos, havendo neles a
mesma variedade possível, como em Os persas e Os ciclopes de Timóteo e Filóxeno.
7. É também essa diferença o que distingue a tragédia da comédia: uma se propõe
imitar os homens, representando-os piores; a outra os torna melhores do que são na
realidade.

CAPÍTULO III
Diferentes espécies de poesia segundo a maneira de imitar
Existe uma terceira diferença em relação à maneira de imitar cada um dos modelos.
2. Com efeito, é possível imitar os mesmos objetos nas mesmas situações e numa
simples narrativa, seja pela introdução de um terceiro personagem, como faz
Homero, seja insinuando-se a própria pessoa sem que intervenha outro personagem,
ou ainda apresentando a imitação com a ajuda de personagens que vemos agirem e
executarem as ações elas próprias.
3. A imitação é realizada segundo esses três aspectos, como dissemos no princípio,
a saber: os meios, os objetos, a maneira.
4. Sófocles, por um lado, imita à maneira de Homero, pois ambos representam homens
melhores; entretanto ele também imita à maneira de Aristófanes, visto ambos
apresentarem a imitação usando personagens que agem perante os espectadores.. Daí
que alguns chamem a essas obras dramas, porque fazem aparecer e agir as próprias
personagens.
5. Disto procede igualmente que os dórios atribuem a si a invenção da tragédia e
da comédia; e os megarenses também se arrogam a invenção da comédia, como fruto de
seu regime democrático; e além desses, também os sicilianos se acham inventores da
comédia, por serem compatriotas do poeta Epicarmo, que viveu muito antes de
Crônidas e de Magnete. A criação da comédia é também reclamada pelos peloponésios,
que invocam os nomes usados para denominá-la com palavras de seu dialeto, para
argumentar ser esta a razão por que a comédia é invenção deles.
6. Pretendem que entre eles a aldeia se chama cvma, enquanto os atenienses a
denominam dhmoz , donde resulta que os comediantes derivam o nome da comédia, não
do verbo cwmazeiu (celebrar uma festa com danças e cantos), mas de outro fato: por
serem desprezados na cidade, eles andam de aldeia em aldeia.
Quanto ao verbo agir, que entre eles se diz drau, os atenienses exprimem-no por
pratteiu.
7. É bastante o dito, sobre as diferenças da imitação, quanto a seu número e
natureza.

disponível no portal do domínio público do mec

2. pietro nassetti (who else?)

CAPÍTULO I
Da poesia e da imitação segundo os meios, o objeto e o modo de imitação
Propomo-nos tratar da produção poética em si mesma e de seus diversos gêneros,
dizer qual a função de cada um deles, como se deve construir a fábula, no intuito
de obter o belo poético; qual o número e natureza de suas diversas partes, e falar
igualmente dos demais assuntos relativos a esta produção. Seguindo a ordem
natural, começaremos pelos [] mais importantes. A epopéia e a poesia trágica, e
também a comédia, a poesia ditirâmbica, a maior parte da aulética e da
citarística, consideradas em geral, todas se enquadram nas artes de imitação.
Contudo há entre estes gêneros três diferenças: seus meios não são os mesmos, nem
os objetos que imitam, nem a maneira de os imitar. Do mesmo modo que alguns fazem
imitações segundo um modelo com cores e atitudes — uns com arte, outros levados
pela rotina, outros com a voz; assim também, nas artes acima indicadas, a imitação
é produzida por meio do ritmo, da linguagem e da harmonia, empregados
separadamente ou em conjunto. Utilizam a harmonia e o ritmo só a aulética e a
citarística, bem como as demais artes análogas em seu modo de expressão, por
exemplo, a flauta de Pã. No ritmo, sem o concurso da harmonia, consiste a imitação
pela dança; com efeito, é por atitudes rítmicas que o dançarino exprime os
caracteres, as paixões, as ações. A epopéia serve-se unicamente da palavra simples
e nua dos versos, quer mesclando diferentes metros, quer atendo-se a um só tipo,
como o tem feito até ao presente. Carecemos de uma denominação comum para
classificar em conjunto os mimos de Sófron e de Xenarco, as imitações em
trímetros, em versos elegíacos ou noutras espécies de metro vizinhas. A não ser
estabelecendo uma relação entre tal gênero de composição e o metro empregado, não
se denominam os autores ou elegíacos ou épicos; dando-lhes este nome de poetas,
não segundo o assunto tratado, mas indistintamente segundo o metro de que se
servem. Não acontece que, por se ter exposto em verso um assunto de medicina ou de
física, se é chamado correntemente de poeta! Entretanto nada de comum existe entre
Homero e Empédocles, salvo a presença do verso. Mais acertado é chamar poeta ao
primeiro e, ao segundo, fisiólogo, mais do que poeta. De igual modo, se acontece
que um autor, empregando todos os metros, produz uma obra de imitação, como fez
Querémon no Centauro, rapsódia em que entram todos os metros, convém que se lhe
atribua o nome de poeta. É assim que nestas matérias se devem estabelecer as
definições. Há gêneros que se utilizam de todos os meios de expressão acima
indicados, isto é, do ritmo, do canto, do metro; assim procedem os autores de
ditirambos, de nomos, de tragédia, de comédias; a diferença entre eles consiste no
emprego destes meios em conjunto ou em separado. Tais são as diferenças entre as
artes que se propõe a imitação.

CAPÍTULO II
Diferentes espécies de poesia segundo os objetos imitados
Como a imitação se aplica aos atos das personagens e estes não podem ser senão
bons ou maus (pois os caracteres dispõem-se quase só nestas duas categorias,
diferindo apenas pela prática do vício ou da virtude), daí resulta que as
personagens são representadas ou melhores ou piores ou iguais a todos nós. Assim
fazem os poetas: Polignoto pintava tipos melhores; Páuson, piores; e Dionísio,
tais quais são. 3. É evidente que cada uma das imitações de que falamos
apresentará estas mesmas diferenças, e também [] aspectos diversos segundo esta
variedade. Assim na dança, na aulética, na citarística, é possível encontrar estas
diferenças e também nas obras em prosa, nos versos não cantados; por exemplo,
Homero pinta o homem melhor do que é; Cleofonte, tal qual é; Hegémon de Taso, o
primeiro autor de paródias, e Nicócares, em sua Delíade, o pintam pior. O mesmo
caráter da imitação [] no ditirambo e nos nomos, e a mesma possibilidade de
imitação, como em Os persas e Os ciclopes de Timóteo e de Filóxeno. A mesma
diferença [] distingue a tragédia da comédia: uma propõe-se imitar os homens,
representando-os piores, a outra [] melhores do que são na realidade.
CAPÍTULO III
Diferentes espécies de poesia segundo a maneira de imitar
Existe uma terceira diferença, segundo a maneira de imitar cada um dos modelos.
Com efeito é possível imitar os mesmos objetos nas mesmas situações, numa simples
narrativa ou pela introdução de um terceiro [], como faz Homero, ou insinuando-se
a própria pessoa sem que intervenha outra personagem, ou ainda apresentando a
imitação com a ajuda de personagens que vemos agirem e executarem as ações elas
próprias. A imitação produz-se segundo esses três modos, como dissemos ao
princípio, a saber: os meios, os objetos, a maneira. Sófocles, de um lado, imita à
maneira de Homero, pois ambos representam homens melhores; de outro lado, ele
também imita à maneira de Aristófanes, visto ambos apresentarem a imitação por
personagens em ação diante de nós. Daí vem que alguns chamam a essas obras dramas,
porque fazem aparecer e agir as próprias personagens. Daí procede igualmente que
os dórios atribuem a si a invenção da tragédia e da comédia; os megarenses se
arrogam a invenção da comédia, como fruto de seu regime democrático, e também os
sicilianos, enquanto compatriotas do poeta Epicarmo, que viveu muito antes de
Crônidas e de Magnete. A [] comédia é também reclamada pelos peloponésios, que
invocam a semelhança dos nomes []. Pretendem que entre eles a aldeia se chama
κομα, ao passo que os atenienses a denominam δεμοσ , donde resulta que os
comediantes derivam o nome da comédia, não do verbo κομαχειν (celebrar uma festa
com danças e cantos), mas de que, por serem desprezados na cidade, andam de aldeia
em aldeia. Quanto ao verbo agir, que entre eles se diz δραν, os atenienses
exprimem-no por πραττειν. Baste o dito, acerca das diferenças da imitação, quanto
a seu número e natureza.

quanto ao índice onomástico ao final da edição clareto-nassettiana, é cópia pura e


simples de eudoro de souza. o índice de eudoro é elaboradíssimo e fica até
engraçado no livreco claretiano.
o bizarro é que as notas de rodapé de antônio pinto de carvalho, embora muito
mais simples que as de eudoro, também são onomásticas, reproduzidas com leve
copidescada na claret. só que a grafia de alguns nomes na tradução de carvalho
(pelo francês) é diferente da grafia de eudoro, direto do grego. claret/nassetti
não se avexaram: tem para todos os gostos, e o freguês pode escolher se quer, por
exemplo, cleofonte ou cleófon, dionísio de colofônia ou dionísio de colofão,
magnete ou magnes.
imagens: raquel sallaberry; www.daehlico.no; www.plagiarius.com;
www.robertanwood.com

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12/04/2009
feliz páscoa!

imagem: pêssankas romenas, www.seahore-design.com

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11/04/2009
matéria de reflexão
pelo jeito, a câmara argentina do livro deve ser do mesmo clube da famigerada
abdr.

heideggeriana é desativado por ação judicial


para não perder o arquivo derrida, e algo mais

imagem: www.hthclan.com. toque: twittada de paula góes.

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10/04/2009
não devia ser ao contrário?
cláudio willer publicou no brasil que lê um artigo que achei muito lúcido e
consistente criticando a ressurreta proposta de certos setores privados para que o
governo aprove uma lei tabelando o livro pelo preço cheio.

todo mundo já reclama que livro é caro no brasil, e agora tem livreiro que quer
acabar com desconto e promoção, porque acha que desse jeito leva prejuízo?!
Preço fixo: ameaça de retrocesso
Claudio Willer

Em 2003, quando presidia a UBE, União Brasileira de Escritores, recebi


manifestação da Associação Nacional de Livrarias, solicitando apoio a uma proposta
de lei fixando o preço dos livros; ou seja, proibindo abatimentos, descontos. A
justificativa: estabelecimentos do setor, ao baixarem preços de alguns títulos,
estariam prejudicando concorrentes.

Depois de apresentar o assunto à diretoria da UBE, manifestei-me contra,


observando que a fixação compulsória de preços não nos interessava, nem como
escritores, nem como leitores.

Não tive mais notícias desse projeto. Dei a iniciativa como extinta, pelo
interesse restrito. No entanto, eis que ela reaparece; conforme o blogue noticioso
mantido por Galeno Amorim: haverá audiência pública no Congresso para debatê-lo,
neste dia 2 de abril. Por isso, solicito divulgação para alguns argumentos
contrários a esse projeto:

1 - Para o escritor, o interesse de uma medida dessas é nulo. Direitos autorais


são fixados sobre o preço de capa do livro; se alguma livraria decidir reduzi-lo,
por sua conta, isso não alterará prestações de contas e pagamentos a que o autor
tem direito. Aliás, se descontos contribuírem para promover mais vendas de livros,
há motivos para defender o contrário: livreiros, derrubem os preços...!

2 - Livros publicados no Brasil, salvo exceções como os “pockets” em grandes


tiragens e a baixo custo, são caros. Compra-se a edição original norte-americana,
francesa, etc, pelo mesmo preço da tradução brasileira; isso, apesar do preço do
livro importado ser o dobro daquele na origem, por causa de taxações e custos de
transporte. Nosso índice de leitura de livros per capita é notoriamente baixo; não
é difícil associar-lhe nossos elevados índices de analfabetismo funcional. A
discussão oportuna, de interesse social e pedagógico, seria, portanto, como baixar
preços de livros, e não como fixá-los pelo máximo.

3 - O preço fixo em livros é adotado na França, pelo que sei; mas não na
Inglaterra e outros países. Não por acaso, comparado a um centro livreiro do porte
daquele da Charing Cross Road em Londres, o mercado livreiro parisiense é
irrisório. Grandes organizações do comércio de livros, a exemplo da Amazon, fazem
ofertas e dão descontos, prodigamente. Há motivos para desconfiar que a aprovação
de um dispositivo desses no Brasil seria aberrante, colocando-nos no contrafluxo
de lugares onde prospera o comércio de livros.

4 - Será mais uma lei inócua. Quem irá fiscalizá-la? Livreiros continuarão dando
descontos à vontade; bastará não anunciá-los. E os sebos e alfarrábios, também
serão tabelados? E as pontas de estoque de grandes editoras, despejadas em bancas
e outros lugares a R$ 9,90? E as feiras de livros promovidas por editoras, como
aquela da USP, com preços reduzidos, chances para que estudantes e demais
interessados possam comprar livros? E as boas políticas de fidelização de clientes
de algumas livrarias, com descontos proporcionais ao volume de compras, assim
estimulando-as? Uma lei dessas será um retrocesso com relação ao que vem ocorrendo
de bom para facilitar e democratizar o acesso ao livro.

5 - Finalmente, é indecoroso, demonstração de insensibilidade, essa discussão


acontecer na forma de confronto de corporações, dos livreiros versus editores, sem
convocar, não apenas os autores, porém o principal interessado, presumivelmente: o
leitor; ou seja, a sociedade. Mas nem é preciso um grande esforço de adivinhação
para prever qual seria a resposta do público a um projeto que iria dificultar-lhe
o acesso ao livro.

Claudio Willer é poeta, ensaísta e tradutor. Foi presidente da União Brasileira de


Escritores, UBE, em quatro mandatos.

imagem: www.mochaquest.com. agradeço a cláudio willer e a galeno amorim a


autorização para reproduzir o artigo.

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09/04/2009
para não esquecer
algum tempo atrás comentei que a claret tinha começado a esboçar tímidos sinais de
que iria começar a trocar algumas de suas fraudes por traduções aparentemente
legítimas, e citei o caso do elogio da loucura. além de combater a bandidagem
editorial, também acho importante preservar a memória e a história das coisas.
então fica aqui registrada a demonstração do saque claretiano em cima da tradução
original de paulo m. oliveira (atena editora, 1950; depois, ediouro até hoje).

1. paulo m. oliveira

ERASMO A THOMAS MORE, SAÚDE.

Achando-me, dias atrás, de regresso da Itália à Inglaterra, a fim de não gastar


todo o tempo da viagem em insípidas fábulas, preferi recrear-me, ora volvendo o
espírito aos nossos comuns estudos, ora recordando os doutíssimos e ao mesmo tempo
dulcíssimos amigos que deixara ao partir. E foste tu, meu caro More, o primeiro a
aparecer aos meus olhos, pois que malgrado tanta distância, eu via e falava
contigo com o mesmo prazer que costumava ter em tua presença e que juro não ter
experimentado maior em minha vida. Não desejando, naquele intervalo, passar por
indolente, e não me parecendo as circunstâncias adequadas aos pensamentos sérios,
julguei conveniente divertir-me com um elogio da Loucura. Porque essa inspiração?
— perguntar-me-ás. Pelo seguinte: a princípio, dominou-me essa fantasia por causa
do teu gentil sobrenome, tão parecido com a Mória quanto realmente estás longe
dela e, decerto, ainda mais longe do conceito que em geral dela se faz. Em
seguida, lisonjeou-me a idéia de que essa engenhosa pilhéria pudesse merecer a tua
aprovação, se é verdade que divertimentos tão artificiais, não me parecendo
plebeus, naturalmente, nem de todo insulsos, te possam deleitar, permitindo que,
como um novo Demócrito, observes e ridicularizes os acontecimentos da vida humana.
Mas, assim como, pela excelência do gênio e de talentos, estás acima da maioria
dos homens, assim também, pela rara suavidade do costume e pela singular
afabilidade, sabes e gostas, sempre e em toda parte, de habituar-te a todos e a
todos parecer amável e grato.

Por conseguinte, gostarás agora, não só de aceitar de bom grado esta minha pequena
arenga, como um presente do teu bom amigo, mas também de colocá-la sob o teu
patrocínio, como coisa sagrada para ti e, na verdade, mais tua do que minha. Já
prevejo que não faltarão detratores para insurgir-se contra ela, acusando-a de
frivolidade indigna de um teólogo, de sátira indecente para a moderação cristã, em
suma, clamando e cacarejando contra o fato de eu ter ressuscitado a antiga comédia
e, qual novo Luciano, ter magoado a todos sem piedade. Mas, os que se desgostarem
com a ligeireza do argumento e com o seu ridículo devem ficar avisados de que não
sou eu o seu autor, pois que com o seu uso se familiarizaram numerosos grandes
homens. Com efeito, muitos séculos antes, Homero escreveu a sua Batraquiomaquia,
Virgílio cantou o mosquito e a amoreira, e Ovídio a nogueira; Polícrates chegou a
fazer o elogio de Busiris, mais tarde impugnado e corrigido por Isócrates; Glauco
enalteceu a injustiça, o filósofo Favorino louvou Tersites e a febre quartã;
Sinésio a calvície e Luciano a mosca parasita; finalmente, Sêneca ridicularizou a
apoteose de Cláudio, Plutarco escreveu o diálogo do grilo com Ulisses, Luciano e
Apuleio falaram do burro; e um tal Grunnio Corocotta fez o testamento do porco,
citado por São
Jerônimo. Saibam, pois, esses censores que também, para divertir-me, já joguei
xadrez e montei em cavalo de pau, como um menino. Na verdade, haverá maior
injustiça do que, sendo permitida uma brincadeira adequada a cada idade e
condição, não poder pilheriar um literato, principalmente quando a pilhéria tem um
fundo de seriedade, sendo as facécias manejadas apenas como disfarce, de forma que
quem as lê, quando não seja um solene bobalhão, mas possua algum faro, encontre
nelas ainda mais proveito do que em profundos e luminosos temas? Que dizer, então,
de alguém que, com um longo discurso, depois de muito estudar e fatigar as costas
elogiasse a retórica ou a filosofia? Ou de alguém que escrevesse o elogio de um
príncipe, outro uma exortação contra os turcos, outro fizesse horóscopos e
predições baseado nos planetas, outro questões de lana caprina e investigações
futilíssimas? Portanto, assim como não há nada mais inepto do que abordar graves
argumentos puerilmente, assim também é bastante agradável e plausível tratar de
igual forma as pilhérias, não têm aqui outro objetivo senão o de pilheriar.

Quanto a mim, deixo que os outros julguem esta minha tagarelice; mas, se o meu
amor-próprio não deixar que eu o perceba, contentar-me-ei de ter elogiado a
Loucura sem estar inteiramente louco. Quanto à imputação de sarcasmo, não deixarei
de dizer que há muito tempo existe a liberdade de estilo com a qual se zomba da
maneira por que vive e conversa o homem, a não ser que se caia no cinismo e no
veneno. Assim, pergunto se se deve estimar o que magoa, ou antes o que ensina e
instrui, censurando a vida e os costumes humanos, sem pessoalmente ferir ninguém.
Se assim não fosse, precisaria eu mesmo fazer uma sátira a meu respeito, com todas
as particularidades que atribuo aos outros. Além disso, quem se insurge em geral
contra todos os aspectos da vida não deve ser inimigo de ninguém, mas unicamente
do vício em toda a sua extensão e totalidade. Se houver, pois, alguém que se sinta
ofendido por isso, deverá procurar descobrir as suas próprias mazelas, porque, do
contrário, se tornará suspeito ao mostrar receio de ser objeto da minha censura.
Muito mais livre e acerbo nesse gênero literário foi São Jerônimo, que nem sequer
perdoava os nomes das pessoas! Nós, porém, além de calarmos absolutamente os
nomes, temperámos o estilo, de forma que o leitor honesto verá por si mesmo que o
meu propósito foi mais divertir do que magoar. Seguindo o exemplo de Juvenal, em
nenhum ponto tocámos na oculta cloaca de vícios da humanidade, nem relevámos as
suas torpezas e infâmias, limitando-nos a mostrar o que nos pareceu ridículo. Se,
apesar de tudo, ainda houver ranzinzas e descontentes, que ao menos observem como
é bonito e vantajoso ser acusado de loucura. Com efeito, na boca da que trouxemos
à cena e fizemos falar, foi necessário pôr os juízos e as palavras que mais se
coadunam com o seu caráter.

Mas, para que hei de te dizer todas essas coisas, se és emérito advogado, capaz de
defender egregiamente mesmo as causas menos favoráveis?

Sem mais, eloqüentíssimo More, estimo que estejas são e tomes animosamente a parte
de tua loucura.

Vila, 10 de junho de 1508.

2. pietro nassetti até 2000; depois, alex marins até final de 2008

ERASMO A THOMAS MORE, SAÚDE.

Achando-me, dias atrás, de regresso da Itália à Inglaterra, a fim de não gastar


todo o tempo da viagem em insípidas fábulas, preferi recrear-me, ora volvendo o
espírito aos nossos comuns estudos, ora recordando os doutíssimos e ao mesmo tempo
dulcíssimos amigos que deixara ao partir. E foste tu, meu caro More, o primeiro a
aparecer aos meus olhos, pois que malgrado tanta distância, eu via e falava
contigo com o mesmo prazer que costumava ter em tua presença e que juro não ter
experimentado maior em minha vida. Não desejando, naquele intervalo, passar por
indolente, e não me parecendo as circunstâncias adequadas aos pensamentos sérios,
julguei conveniente divertir-me com um elogio da Loucura. Porque essa inspiração?
— perguntar-me-ás. Pelo seguinte: a princípio, dominou-me essa fantasia por causa
do teu gentil sobrenome, tão parecido com a Mória quanto realmente estás longe
dela e, decerto, ainda mais longe do conceito que em geral dela se faz. Em
seguida, lisonjeou-me a idéia de que essa engenhosa pilhéria pudesse merecer a tua
aprovação, se é verdade que divertimentos tão artificiais, não me parecendo
plebeus, naturalmente, nem de todo insulsos, te possam deleitar, permitindo que,
como um novo Demócrito, observes e ridicularizes os acontecimentos da vida humana.
Mas, assim como, pela excelência do gênio e de talentos, estás acima da maioria
dos homens, assim também, pela rara suavidade do costume e pela singular
afabilidade, sabes e gostas, sempre e em toda parte, de habituar-te a todos e a
todos parecer amável e grato.

Por conseguinte, gostarás agora, não só de aceitar de bom grado esta minha pequena
arenga, como um presente do teu bom amigo, mas também de colocá-la sob o teu
patrocínio, como coisa sagrada para ti e, na verdade, mais tua do que minha. Já
prevejo que não faltarão detratores para insurgir-se contra ela, acusando-a de
frivolidade indigna de um teólogo, de sátira indecente para a moderação cristã, em
suma, clamando e cacarejando contra o fato de eu ter ressuscitado a antiga comédia
e, qual novo Luciano, ter magoado a todos sem piedade. Mas, os que se desgostarem
com a ligeireza do argumento e com o seu ridículo devem ficar avisados de que não
sou eu o seu autor, pois que com o seu uso se familiarizaram numerosos grandes
homens. Com efeito, muitos séculos antes, Homero escreveu a sua Batraquiomaquia,
Virgílio cantou o mosquito e a amoreira, e Ovídio a nogueira; Polícrates chegou a
fazer o elogio de Busiris, mais tarde impugnado e corrigido por Isócrates; Glauco
enalteceu a injustiça, o filósofo Favorino louvou Tersites e a febre quartã;
Sinésio a calvície e Luciano a mosca parasita; finalmente, Sêneca ridicularizou a
apoteose de Cláudio, Plutarco escreveu o diálogo do grilo com Ulisses, Luciano e
Apuleio falaram do burro; e um tal Grunnio Corocotta fez o testamento do porco,
citado por São Jerônimo. Saibam, pois, esses censores que também, para divertir-
me, já joguei xadrez e montei em cavalo de pau, como um menino. Na verdade, haverá
maior injustiça do que, sendo permitida uma brincadeira adequada a cada idade e
condição, não poder pilheriar um literato, principalmente quando a pilhéria tem um
fundo de seriedade, sendo as facécias manejadas apenas como disfarce, de forma que
quem as lê, quando não seja um solene bobalhão, mas possua algum faro, encontre
nelas ainda mais proveito do que em profundos e luminosos temas? Que dizer, então,
de alguém que, com um longo discurso, depois de muito estudar e fatigar as costas
elogiasse a retórica ou a filosofia? Ou de alguém que escrevesse o elogio de um
príncipe, outro uma exortação contra os turcos, outro fizesse horóscopos e
predições baseado nos planetas, outro questões de lana caprina e investigações
futilíssimas? Portanto, assim como não há nada mais inepto do que abordar graves
argumentos puerilmente, assim também é bastante agradável e plausível tratar de
igual forma as pilhérias, não têm aqui outro objetivo senão o de pilheriar. Quanto
a mim, deixo que os outros julguem esta minha tagarelice; mas, se o meu amor-
próprio não deixar que eu o perceba, contentar-me-ei de ter elogiado a Loucura sem
estar inteiramente louco. Quanto à imputação de sarcasmo, não deixarei de dizer
que há muito tempo existe a liberdade de estilo com a qual se zomba da maneira por
que vive e conversa o homem, a não ser que se caia no cinismo e no veneno. Assim,
pergunto se se deve estimar o que magoa, ou antes o que ensina e instrui,
censurando a vida e os costumes humanos, sem pessoalmente ferir ninguém. Se assim
não fosse, precisaria eu mesmo fazer uma sátira a meu respeito, com todas as
particularidades que atribuo aos outros. Além disso, quem se insurge em geral
contra todos os aspectos da vida não deve ser inimigo de ninguém, mas unicamente
do vício em toda a sua extensão e totalidade. Se houver, pois, alguém que se sinta
ofendido por isso, deverá procurar descobrir as suas próprias mazelas, porque, do
contrário, se tornará suspeito ao mostrar receio de ser objeto da minha censura.
Muito mais livre e acerbo nesse gênero literário foi São Jerônimo, que nem sequer
perdoava os nomes das pessoas! Nós, porém, além de calarmos absolutamente os
nomes, temperámos o estilo, de forma que o leitor honesto verá por si mesmo que o
meu propósito foi mais divertir do que magoar. Seguindo o exemplo de Juvenal, em
nenhum ponto tocámos na oculta cloaca de vícios da humanidade, nem relevámos as
suas torpezas e infâmias, limitando-nos a mostrar o que nos pareceu ridículo. Se,
apesar de tudo, ainda houver ranzinzas e descontentes, que ao menos observem como
é bonito e vantajoso ser acusado de loucura. Com efeito, na boca da que trouxemos
à cena e fizemos falar, foi necessário pôr os juízos e as palavras que mais se
coadunam com o seu caráter.

Mas, para que hei de te dizer todas essas coisas, se és emérito advogado, capaz de
defender egregiamente mesmo as causas menos favoráveis?

Sem mais, eloqüentíssimo More, estimo que estejas são e tomes animosamente a parte
de tua loucura.

Vila, 10 de junho de 1508.

imagens: erasmo por dürer, questotrentino.it/; portugues.istockphoto.com;


absolutmartunis.blogspot.com

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08/04/2009
não vale cabular
O ISBN e o ISSN: orientações sobre sua utilização

Palestra no dia 24 de abril de 2009 - às 14hs, sobre Aplicação do ISSN, tema


proferido por Sueli Maffia ( Coordenadora do Centro Nacional do ISSN do Instituto
Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia -Ibict), do ISBN, proferida por
Andréa Coêlho de Souza (Chefe da Agência Brasileira do ISBN) e o tema Editoração
de Livros, proferida por Anamaria da Costa Cruz (Editora Intertexto), que acontece
no auditório Machado de Assis, Av. México s/n em frente ao nº 98 (entrada pelo
jardim), Centro, Rio de Janeiro.
O objetivo do evento é orientar e auxiliar os profissionais sobre as melhores
práticas na utilização do ISBN (International Standard Book Number) e do ISSN
(Número Internacional Normalizado para Publicações Seriadas) como instrumentos de
controle da edição de livros e publicações seriadas.
As inscrições são gratuitas e devem ser feitas pelo e-mail isbn@bn.br até o dia 20
de abril.
Os participantes receberão certificado de presença.

seria legal que a dona andréa coêlho convocasse os digitadores/cadastradores da


agência brasileira do isbn/fbn para a palestra.
aí talvez o leitor não tropeçasse na dama de espadão de puchikime, ou em mobi
dicki ou no rei epido de willian shakespeare. e talvez diminuísse a quantidade de
machados e eças traduzidos por pietros nassettis.

tomara também que os fãs da chapa fria, tipo jardim dos livros (selo do grupo
geração), dêem um pulinho lá.
imagem: winkle, emoticon msn

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que dupla!
rosencrantz e guildenstern estão mortos é um dos filmes mais divertidos,
movimentados e espirituosos que eu conheço. não tão divertido é claret e nassetti
são vivos. além de monótono e repetitivo, é um insulto à inteligência.

Hamlet: Ser ou não ser, eis a questão! Que é mais nobre para o espírito: sofrer os
dardos e setas de um ultrajante fardo, ou tomar armas contra um mar de calamidades
para pôr-lhes fim, resistindo? Morrer... dormir; nada mais! E com o sono, dizem,
terminamos o pesar do coração e os mil naturais conflitos que constituem a herança
da carne! Que fim poderia ser mais devotadamente desejado? Morrer... dormir!
Dormir!... Talvez sonhar! Sim, eis aí a dificuldade! Porque é forçoso que nos
detenhamos a considerar que sonhos possam sobrevir, durante o sono da morte,
quando nos tenhamos libertado do torvelinho da vida. Aí está a reflexão que torna
uma calamidade a vida assim tão longa! Porque, senão, quem suportaria os ultrajes
e desdéns do tempo, a injúria do opressor, a afronta do soberbo, as angústias do
amor desprezado, a morosidade da lei, as insolências do poder e as humilhações que
o paciente mérito recebe do homem indigno, quando ele próprio pudesse encontrar
quietude com um simples estilete? Quem gostaria de suportar tão duras cargas,
gemendo e suando sob o peso de uma vida afanosa, se não fosse o temor de alguma
coisa depois da morte, região misteriosa de onde nenhum viajante jamais voltou,
confundindo nossa vontade e impelindo-nos a suportar aqueles males que nos
afligirem, ao invés de nos atirarmos a outros que desconhecemos? E é assim que a
consciência nos transforma em covardes e é assim que o primitivo verdor de nossas
resoluções se estiola na pálida sombra do pensamento e é assim que as empresas de
maior alento e importância, com tais reflexões, desviam seu curso e deixam de ter
o nome de ação.

SHAKESPEARE, William. Hamlet, príncipe da Dinamarca. In: Tragédias. Tradução F.


Carlos de Almeida Cunha Medeiros e Oscar Mendes. Aguilar, 1969; Abril Cultural,
1981.

Hamlet: Ser ou não ser, eis a questão! Que é mais nobre para alma: sofrer os
dardos e setas de um destino cruel, ou pegar em armas contra um mar de calamidades
para pôr-lhes fim, resistindo? Morrer... dormir; nada mais! E com o sono, dizem,
terminamos o pesar do coração e os inúmeros naturais conflitos que constituem a
herança de carne! Que fim poderia ser mais devotamente desejado? Morrer... []
Dormir!... Talvez sonhar! Sim, eis [] a dificuldade! Porque é forçoso que nos
detenhamos a considerar que sonhos possam sobrevir, durante o sono da morte,
quando nos tenhamos libertado do torvelinho da vida. Aí está a reflexão que dá à
desventura uma [sic!] vida assim tão longa! Pois, senão, quem suportaria os
insultos e desdéns do tempo, a injúria do opressor, a afronta do soberbo, as
angústias do amor desprezado, a morosidade da lei, as insolências do poder e as
humilhações que o paciente mérito recebe do homem indigno, quando ele próprio
pudesse encontrar repouso com um simples estilete? Quem gostaria de suportar tão
duras cargas, gemendo e suando sob o peso de uma vida afanosa, se não fosse o
temor de alguma coisa depois da morte, região misteriosa de onde nenhum viajante
jamais voltou, confundindo nossa vontade e impelindo-nos a suportar aqueles males
que nos afligirem, em vez de nos lançarmos a outros que desconhecemos? E é assim
que a consciência nos transforma em covardes, é assim que o primitivo verdor de
nossas resoluções se debilita na pálida sombra do pensamento e é assim que as
empresas de maior alento e importância, com semelhantes reflexões, desviam seu
curso e deixam de ter o nome de ação.

SHAKESPEARE, William. Hamlet. "Tradução" Pietro Nassetti. Martin Claret, 2007.

o hamlet claretiano nos fiéis solidários livreiros: livrarias curitiba, submarino,


cortez, nobel, saraiva, loyola, estação cult (decerto achando que trash é cult), e
por aí afora.
imagem: www.cinemedioevo.net

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como fica na prática

martin claret e rodolfo schaefer [de]formando nas escolas com a crítica da razão
prática, de kant:

www.fafich.ufmg.br/~labfil/wp-content/uploads/2008/12/kant.doc
www.al.rs.gov.br/biblioteca/servicos_aquisicoes.asp
www.colegiokant.com.br/kant/modulo/emmanuel_kant/index.php
http://jusvi.com/artigos/30173/2
www.ig.ufu.br/coloquio/textos/BARBOSA,%20Tulio.pdfwww.pucsp.br/pos/filosofia/Pragm
atismo/cognitio_estudos/cog_estudos_v4n1/cog_est_v4n1_freitas_lorena_de_m.pdf
www.fdc.br/Arquivos/Mestrado/Ementas/SemIntProjDiss.pdf
www.anped.org.br/reunioes/31ra/2poster/GT17-4576--Int.pdf
www.uefs.br/portal/downloads/secretaria/programas-de-
disciplinas/exa/EXA890.pdf/at_download/file
www.conpedi.org/manaus/arquivos/anais/salvador/aluizio_rodrigues_lana.pdf
www.franca.unesp.br/interno-cursos-Professorfilosofia.php
www.revistas.ufg.br/index.php/interacao/article/view/1393/2565
www.colegiodombosco.net/novo/downloadAnexo.php?type=artigo&id=2
www.amprs.org.br/arquivos/comunicao_noticia/sansroekelly.pdf
www.fafich.ufmg.br/~labfil/extratos-de-textos/extrato-de-textos-sobre-
racionalidade-e-desejo/
www.nwm.com.br/fapam/arquivospdf/arquivos2008/dirfilosofiajuridica1.pdf
www.corpofreudiano.com.br/txtteresinhacosta-Apiramidedasheresias-
aeticanaclinicapsicanaliticainfantil.rtf
www.scielo.br/scielo.php?pid=S1519-70772007000400009&script=sci_arttext
www.revistadafesp.com.br/revistas/revista_de_dialogos_cientificos.doc
www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20080425122255282
www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69092008000200003&script=sci_arttext
http://200.131.208.57:8000/cgi-bin/gw_45.../chameleon
www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/view/9913/9479
www.letras.ufrj.br/ciencialit/trabalhos/rogeriocarvalho_ciencia.pdf
http://bdtd.unisinos.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=298
www.dibib.ufsj.edu.br/dibib/principal/resultadofinal.pdf
LISTAGEM DE LIVROS DO EDITAL 2008 - COTADOS
www.bdtd.ufpe.br/tedeSimplificado//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=2104
http://200.131.208.57:8000/cgi-bin/gw.../chameleon?...4...
www.unit.br/biblioteca/2007/BOLETIM%20MAIO-JUN.pdf
www.bdtd.ufpe.br/tedeSimplificado//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=1539
www.unimar.br/pos/trabalhos/arquivos/e8922b8638926d9e888105b1db9a3c3c.pdf
http://portal2.tcu.gov.br/portal/page/portal/TCU/comunidades/biblioteca_tcu/biblio
teca_digital/REVISTA0106.pdf
http://tede.ucs.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=29
http://giga.ea.ufrgs.br/dissertacao_ivone_palma.PDF
http://ibict.metodista.br/tedeSimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=258
http://bdtd.furg.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=115
http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/1884/10593/1/rebeca_final.pdf
www.cpact.embrapa.br/teses/tese_heberle.pdf

imagem: www.fidep.com.br/

POSTADO POR DENISE 1 COMENTÁRIOS


07/04/2009
assim é se assim o dizem
sou caipira, então meu conceito de "pequena livraria" e de "média livraria" talvez
seja meio fora da realidade.

a anl diz representar 65% do setor livreiro no país (minha calculadora mental e
minha calculadora digital, as duas, devem andar com defeito: as contas delas deram
uma representatividade de 3,7%, mas que seja), por intermédio das pequenas e
médias livrarias. ok.

fui de novo dar uma olhada na lista das associadas da anl. e foi aí que caiu na
minha cabeça o tijolo da caipirice.

livrarias curitiba, siciliano, saraiva, nobel, leitura, laselva - são estas as


pequenas ou médias? levadas à ruína pelo cruel (pós-)capitalismo demolidor da fnac
e das lojas de departamento tipo americanas e das lojas virtuais tipo submarino?

e mesmo vozes, melhoramentos, cortez, disal, loyola, imprensa oficial, multicampi,


galileu, martins fontes estão entoando essa cantilena de pobres vítimas das
grandes redes?

hmm, então tá bom.

imagem: emoticon msn, whistle

POSTADO POR DENISE 1 COMENTÁRIOS


perguntar não ofende
estou tentando entender um pouco melhor esta que a mim parece esdrúxula proposta
da anl em fixar o preço do livro em todo o brasil pela sua tabela cheia.

estou com o número de 2.700 livrarias na cabeça, que é a cifra apresentada pela
referida associação nacional das livrarias.

vi em seu site a lista das associadas. dei uma contada, são 100. não sou muito boa
em aritmética, mas nas minhas contas isso corresponderia a 3,7% do universo das
livrarias do país.

então o que significa esta frase no mesmo site: "A Associação, que representa
cerca de 65% do setor, através de livrarias de pequeno e médio porte"?

imagem: scratching head, images google

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extremamente prático
aí, para quem quiser a fraude schaefer-claretiana da crítica da razão prática, de
kant, é muito fácil. tirando poucas e honrosas exceções, livraria nem está aí se é
livro ou pseudolivro: vendendo, está de bom tamanho.

submarino
americanas
estante virtual
livronet
livraria do advogado
relativa
mercado livre
humanitas
leonardo da vinci
loyola
livrarias curitiba
fnac
cultura
travessa
saraiva
siciliano
galileu
martins
livraria da vila

leonardo da vinci, loyola, livrarias curitiba, livraria da vila fazem parte da


diretoria da associação nacional de livrarias, anl, até 2011. imagina se a anl vai
mexer a pontinha de algum dedo que seja para limpar um pouco a sujeirada
claretiana das prateleiras. seus associados estão mais interessados na tal "lei do
preço único" do que na honestidade dos produtos que vendem. alô, alô, srs.
livreiros, ói nóis clientes aqui!

imagem: http://www.adorocinemabrasileiro.com.br/

POSTADO POR DENISE 2 COMENTÁRIOS


06/04/2009
rouanet; "preço único"
outro dia, em complicado, eu tinha feito algumas considerações sobre a pretensa
quebra de direito autoral na proposta de reformulação da lei rouanet. saiu uma
versão um pouco mais polida na newsletter do brasil que lê, com o nome lei rouanet
e cidadania cultural.

depois de ter esbravejado contra a intenção da anl em tabelar o livro, encontrei


um excelente artigo de cláudio willer, preço fixo: ameaça de retrocesso. concordo
em número, gênero e grau.

imagem: http://thehypebr.blogspot.com

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muito prático
para traduzir kant, os claretistas devem ter achado que um nome de ressonância
teutônica iria melhor do que um macarrônico pietro nassetti. assim nasceu "rodolfo
schaefer". este pegou a conhecida tradução de artur morão (edições 70, 1984), e
botou uns temperos da tradução mais antiga de afonso bertagnoli (brasil editora,
1959; depois na ediouro).

apresento abaixo morão, bertagnoli, "schaefer" e kant. é fácil ver que a base é o
texto de morão, e os enxertos feitos a partir de bertagnoli são evidentes. vou
colocar em destaque as transcrições mais curiosas de "schaefer", seja porque
repetem soluções de bertagnoli afastadas do original, seja porque, misturando as
duas fontes em português, acabam estropiando o sentido das frases.

1. kant, crítica da razão prática, artur morão (edições 70):

LIVRO PRIMEIRO - A ANALÍTICA DA RAZÃO PURA PRÁTICA


CAPÍTULO I - Dos princípios da razão pura prática
Parágrafo Primeiro - Definição
Princípios práticos são proposições que contêm uma determinação geral da vontade,
a qual inclui em si várias regras práticas. São subjectivos, ou máximas, quando a
condição é considerada pelo sujeito como válida unicamente para a sua vontade; mas
são objectivos, ou leis práticas, quando essa condição é reconhecida como
objectiva, isto é, válida para a vontade de todo o ser racional.
Escólio
Se se admitir que a razão pura pode conter em si um fundamento prático, isto é,
suficiente para a determinação da vontade, existem leis práticas; se não, então
todos os princípios práticos serão simples máximas. Numa vontade patologicamente
afectada de um ser racional, pode encontrar-se um conflito entre as máximas e as
leis práticas reconhecidas por ele mesmo. Por exemplo, pode alguém tomar por
máxima o não suportar sem vingança insulto algum e, no entanto, reconhecer ao
mesmo tempo que não é uma lei prática, mas apenas uma máxima sua, e que, como
regra para a vontade de todo o ser racional, ela não pode harmonizar-se consigo
mesma numa só e mesma máxima. No conhecimento da natureza, os princípios daquilo
que acontece (por exemplo, o princípio da igualdade da acção e reacção na
comunicação do movimento) são também leis da natureza; pois o uso da razão é aí
teórico e determinado pela constituição do objecto [Objekt]. No conhecimento
prático, isto é, naquele que tem unicamente a ver com princípios determinantes da
vontade, os princípios que para si se fazem nem por isso são ainda leis, às quais
se estaria inevitavelmente submetido, porque a razão, na ordem prática, tem a ver
com o sujeito, a saber, com a faculdade de desejar, segundo cuja constituição
particular a regra pode estabelecer-se de muitos modos. - A regra prática é sempre
um produto da razão, porque prescreve a acção como meio para o efeito, como
intenção [Absicht]. Mas, para um ser, no qual a razão não é o único princípio
determinante da vontade, essa regra é um imperativo, isto é, uma regra designada
por um dever [Sollen], que exprime a obrigação [Nötigung] objectiva da ação, e
significa que, se a razão determinasse inteiramente a vontade, a acção dar-se-ia
inevitavelmente segundo esta regra. Os imperativos têm, pois, um valor objectivo e
são totalmente distintos das máximas, enquanto princípios subjectivos. Determinam,
ou as condições da causalidade do ser racional, enquanto causa eficiente,
simplesmente em relação ao efeito e à capacidade para o produzir, ou unicamente a
vontade, quer ela seja ou não suficiente para o efeito. Os primeiros seriam
imperativos hipotéticos e conteriam simples prescrições de dexteridade
[Geschiscklichkeit]; pelo contrário, os segundos seriam categóricos e unicamente
leis práticas. As máximas são, pois, certamente princípios [Grundsätze], mas não
imperativos. Mas os próprios imperativos, quando são condicionados, isto é, quando
não determinam a vontade simplesmente como vontade, mas apenas em vista de um
efeito desejado, quer dizer, quando são imperativos hipotéticos, são sem dúvida
preceitos práticos, mas não leis. Estas últimas devem determinar suficientemente a
vontade como vontade, ainda antes de eu perguntar se tenho a faculdade necessária
para um efeito desejado, ou o que devo fazer para o produzir; devem, por
conseguinte, ser categóricas, de outro modo não são leis, porque lhes falta a
necessidade, a qual, se deve ser prática, tem de ser independente de condições
patológicas e, portanto, aderentes de modo contingente à vontade. Dizei, por
exemplo, a alguém que deve trabalhar e poupar na juventude para não sofrer
privações na velhice: eis um preceito prático justo e ao mesmo tempo importante da
vontade. Vê-se, porém, facilmente, que a vontade se refere a algo diferente, de
que se presume que ela o deseja, e este desejo deve deixar-se ao próprio agente,
quer ele preveja outros recursos, além da fortuna por si próprio adquirida, quer
não espere chegar a velho ou pense algum dia, em caso de necessidade,
desembaraçar-se menos mal. A razão, da qual unicamente pode provir toda regra que
deve conter necessidade, inclui também neste seu preceito a necessidade (pois, sem
isso não seria nenhum imperativo), mas esta é apenas subjectivamente condicionada
e não pode pressupor-se em grau idêntico em todos os sujeitos. Mas, para a sua
legislação, requer-se que ela precise de se pressupor a si mesma apenas, porque a
regra só é objectiva e universalmente válida se valer sem condições subjectivas,
contingentes, que distinguem um ser racional de outro. Ora, se se disser a alguém
que não deve jamais fazer uma falsa promessa, trata-se de uma regra que concerne
simplesmente à sua vontade; pode ser que os desígnios [Absichten], que o homem
deseja ter, se realizem ou não mediante esta vontade; o simples querer é o que
deve ser determinado plenamente a priori através dessa regra. Se se descobrir que
esta regra é praticamente correcta, então ela é uma lei, porque é um imperativo
categórico. Por conseguinte, as leis práticas relacionam-se unicamente com a
vontade, sem atender ao que é levado a cabo pela sua causalidade e pode abstrair-
se da última (como pertencente ao mundo dos sentidos) para as ter puras.
2. kant, crítica da razão prática, afonso bertagnoli (brasil; ediouro):
LIVRO PRIMEIRO
A ANALÍTICA DA RAZÃO PURA PRÁTICA
CAPÍTULO PRIMEIRO - DOS PRINCÍPIOS DA RAZÃO PURA PRÁTICA
§ 1.° — DEFINIÇÃO
Princípios práticos são proposições que encerram uma determinação universal da
vontade, subordinando-se a essa determinação diversas regras práticas. São
subjetivos, ou máximas, quando a condição é considerada pelo sujeito como
verdadeira só para a sua vontade; são, por outro lado, objetivos ou leis práticas
quando a condição é conhecida como objetiva, isto é, válida para a vontade de todo
ser racional.
ESCÓLIO
Admitindo-se que a razão pura possa encerrar em si um fundamento prático,
suficiente para a determinação da vontade, então há leis práticas, mas se não se
admite o mesmo, então todos os princípios práticos serão meras máximas. Em uma
vontade patologicamente afetada por um ser racional pode observar-se um conflito
das máximas diante das leis práticas conhecidas pelo mesmo. Exemplifiquemos:
alguém pode adotar o axioma de não suportar qualquer ofensa sem vingá-la,
compreendendo todavia que isso não constitui nenhuma lei prática, mas apenas a sua
máxima e que, de modo inverso, como regra para a vontade de todo ser racional,
idêntica máxima não pode concordar em si mesma. No conhecimento da natureza, os
princípios do que ocorre (por exemplo, o princípio da igualdade da ação e da
reação na comunicação do movimento) são ao mesmo tempo leis da natureza, pois o
uso da razão está ali determinado teoricamente e pela natureza do objeto.
No conhecimento prático, isto é, aquele que só tem que tratar dos fundamentos da
determinação da vontade, os princípios que alguém formula em si mesmo nem por isso
constituem leis a que inevitavelmente se veja submetido, porque a razão na prática
se ocupa do sujeito, ou seja da faculdade de desejar, segundo cuja constituição
especial pode a regra referir-se por formas bem
diversas. A regra prática é sempre um produto da razão, porque prescreve a ação,
qual meio para o efeito, considerado como intenção.
Esta regra, porém, para um ser no qual a razão não é o fundamento único da
determinação da vontade é um imperativo, isto é, uma regra designada por um “deve
ser” (ein Sollen) que exprime a compulsão (Nötigung) objetiva da ação e significa
que se a razão determinasse totalmente a vontade, a ação ocorreria
indefectivelmente segundo essa regra. Desse modo, os imperativos valem
objetivamente, sendo em tudo distintos das máximas, não obstante estas
constituírem princípios subjetivos. Determinam aqueles, porém, ou as condições da
causalidade do ser racional como causa eficiente, só em consideração do efeito e
suficiência para o mesmo, ou, então, determinam só a vontade, seja ou não ela
suficiente para o efeito. Os primeiros seriam imperativos hipotéticos e
encerrariam meros preceitos da habilidade; os segundos, de forma inversa, seriam
categóricos, constituindo, somente eles, leis práticas. Assim, pois, são as
máximas, em verdade, princípios, mas não imperativos. Os próprios imperativos,
contudo, quando condicionados, isto é, quando não determinam a vontade
exclusivamente como vontade, mas somente em vista de um efeito apetecido, ou seja
quando são imperativos hipotéticos, constituem, portanto, preceitos práticos mas
não, leis. Devem estas últimas determinar suficientemente a vontade, mesmo antes
que eu indague se tenho a faculdade necessária para um efeito apetecido ou o que
devo fazer para produzir esse efeito; devem, portanto, ser categóricas, pois do
contrário não são leis, faltando-lhes a necessidade que, se tem de ser prática,
urge ser independente de condições patológicas e, por isso mesmo, casualmente
ligadas à vontade. Dizei a alguém, por exemplo, que deve trabalhar e poupar na
juventude para não sofrer a miséria na velhice; trata-se isto de um preceito
prático da vontade, exato e importante ao mesmo tempo. Vê-se porém logo, nesse
caso, que a vontade é referente a alguma outra coisa que se supõe desejar, devendo
esse desejo ser confiado ao próprio agente, pois talvez preveja ele alguma outra
fonte de auxílio, além da fortuna por ele próprio adquirida, ou não espera chegar
a ser velho, ou pensa que uma vez chegado ao caso de miséria, poderá satisfazer-se
com pouco. A razão, da qual unicamente pode sair toda a regra que deva conter
necessidade, inclui imediatamente também a necessidade nesse seu preceito (pois
sem esta não seria imperativo); mas esta necessidade só está condicionada
subjetivamente e não cabe supô-la em todos os objetos em grau idêntico. Contudo,
para a sua lei se exige que só necessite supor-se ela a si mesma, porque a regra é
objetiva e universalmente verdadeira só quando vale sem as condições subjetivas,
contingentes, que distinguem um ser natural de outro. Pois bem; dizei a alguém que
nunca deve fazer promessas falsas: tal regra só se refere à sua vontade, sejam ou
não as intenções que o homem pode ter, realizáveis por essa vontade; o mero querer
é o que deve ser determinado completamente a priori por aquela regra. Se, todavia,
acharmos essa regra praticamente exata, então é uma lei, porque se trata de um
imperativo categórico. Dessa forma, porém, só à vontade se referem as leis
práticas, sem ter em conta o que for efetuado pela causalidade da vontade,
podendo-se fazer abstração dessa causalidade (como pertencente ao mundo dos
sentidos) para obter puras essas leis práticas.
3. kant, crítica da razão prática, rodolfo schaefer (martin claret):

LIVRO PRIMEIRO - A ANALÍTICA DA RAZÃO PURA PRÁTICA


CAPÍTULO I - Dos princípios da razão pura prática
Parágrafo Primeiro - Definição

Princípios práticos são proposições que encerram uma determinação geral da


vontade, trazendo em si várias regras práticas. São subjetivos, ou máximas, quando
a condição é considerada pelo sujeito como verdadeira unicamente para a sua
vontade; são, por outro lado, objetivos ou leis práticas quando a condição é
conhecida como objetiva, isto é, válida para a vontade de todo ser racional.

Escólio
Admitindo-se que a razão pura possa conter em si um fundamento prático, isto é,
suficiente para a determinação da vontade, então existem leis práticas; mas se não
se admite isso, então todos os princípios práticos serão simples máximas. Em uma
vontade patologicamente afetada de um ser racional pode observar-se um conflito
entre as máximas diante das leis práticas* reconhecidas por ele mesmo. Por
exemplo, alguém pode adotar o axioma de não aceitar nenhum insulto sem vingá-lo e,
todavia, reconhecer que isso não constitui lei prática e sim apenas uma máxima
sua, e que, como regra para a vontade de todo ser racional, tal máxima não pode
concordar em si mesma em uma só e única máxima. No conhecimento da natureza, os
princípios do que ocorre (por exemplo, o princípio da igualdade da ação e da
reação na comunicação do movimento) são também leis da natureza, pois o uso da
razão está aí determinado teoricamente e pela constituição do objeto [Objekt]. No
conhecimento prático, isto é, naquele que se relaciona tão somente aos princípios
da determinação da vontade, os princípios que são feitos para si mesmo nem por
isso constituem ainda leis, às quais inevitavelmente se estaria submetido, porque
a razão na ordem prática refere-se ao sujeito, isto é, com a faculdade de desejar,
segundo cuja constituição especial a regra pode se estabelecer por muitos modos. A
regra prática é sempre um produto da razão, porque prescreve a ação como meio para
o efeito, considerado como intenção [Absicht]. Entretanto, para um ser no qual a
razão não é o único princípio da determinação da vontade, essa regra é um
imperativo, ou seja, é uma regra designada por um dever [Sollen], que exprime a
obrigação [Nötigung] objetiva da ação, e significa que, se a razão determinasse
completamente a vontade, a ação ocorreria inevitavelmente conforme tal regra.
Assim, os imperativos têm um valor objetivo e são inteiramente distintos das
máximas, enquanto estas são princípios subjetivos. Os imperativos determinam ou as
condições da causalidade do ser racional como causa eficiente, unicamente em
consideração do efeito e capacidade para produzi-lo, ou então determinam apenas a
vontade, seja ou não ela suficiente para o efeito. Os primeiros seriam imperativos
hipotéticos e conteriam simples preceitos de habilidade [Geschiscklichkeit]; os
segundos, ao contrário, seriam categóricos e unicamente leis práticas. Assim, as
máximas certamente são princípios [Grundsätze], mas não imperativos. Porém, os
próprios imperativos, quando condicionados, isto é, quando não determinam a
vontade apenas como vontade, mas somente em vista de um efeito desejado, ou seja,
quando são imperativos hipotéticos, constituem sem dúvida preceitos práticos, mas
não leis. Estas últimas devem determinar suficientemente a vontade, antes ainda
que eu indague se tenho a faculdade necessária para um efeito desejado, ou o que
devo fazer para produzir esse efeito; devem, conseqüentemente, ser categóricas,
pois caso contrário, não seriam leis, faltando-lhes a necessidade, a qual, se tem
de ser prática, tem de ser independente de condições patológicas e, por isso
mesmo, ligadas de modo contingente à vontade. Dizei a alguém, por exemplo, que
deve trabalhar e poupar na juventude para não sofrer necessidade na velhice: esse
é um preceito prático da vontade, ao mesmo tempo exato e importante. Vê-se
facilmente, porém, nesse caso, que a vontade é referente a alguma coisa diferente
de que se supõe ela o deseja*, devendo esse desejo ser deixado ao próprio agente,
pois talvez ele preveja alguma outra fonte de auxílio, além da fortuna por ele
próprio adquirida, ou não espera chegar a ser velho, ou pense que, se chegar a
ficar em um estado de privações, poderá satisfazer-se com pouco. A razão, da qual
unicamente pode sair toda regra que deve conter necessidade, inclui também nesse
seu preceito a necessidade (pois sem esta não seria nenhum imperativo); mas tal
necessidade só é condicionada subjetivamente e não cabe pressupor-se em grau
idêntico em todos os sujeitos. Todavia, para a sua legislação, exige-se que ela só
necessite pressupor-se a si mesma, porque a regra é objetiva e universalmente
verdadeira apenas se valer sem condições subjetivas, contingentes, que distinguem
um ser racional de outro. Ora, dizei a alguém que nunca deve fazer promessas
falsas: tal regra só é concernente à sua vontade; talvez os desígnios [Absichten]
que o homem deseje se realizem ou não mediante essa vontade; o simples querer é o
que deve ser determinado inteiramente a priori por essa regra. Se, todavia,
descobrir-se que tal regra é praticamente exata, então ela é uma lei, porque se
trata de um imperativo categórico. Conseqüentemente, as leis práticas referem-se
exclusivamente à vontade, sem ter em conta o que é feito pela sua causalidade,
podendo-se abstrair-se dessa causalidade (como pertencente ao mundo sensível) para
ter puras essas leis práticas.
* vê-se nestes dois casos que, na ânsia de disfarçar a mistura dos trechos de
morão e bertagnoli, as frases perderam qualquer sentido.
Erstes Buch Die Analytik der reinen praktischen Vernunft
Erstes Hauptstück
Von den Grundsätzen der reinen praktischen Vernunft

§1 Erklärung
Praktische Grundsätze sind Sätze, welche eine allgemeine Bestimmung des Willens
enthalten, die mehrere praktische Regeln unter sich hat. Sie sind subjektiv, oder
Maximen, wenn die Bedingung nur als für den Willen des Subjekts gültig von ihm
angesehen wird; objektiv aber, oder praktische Gesetze, wenn jene als objektiv
d.i. für den Willen jedes vernünftigen Wesens gültig erkannt wird.

Anmerkung
Wenn man annimmt, daß reine Vernunft einen praktisch d.i. zur Willensbestimmung
hinreichenden Grund in sich enthalten könne, so gibt es praktische Gesetze; wo
aber nicht, so werden alle praktischen Grundsätze bloße Maximen sein. In einem
pathologisch-affizierten Willen eines vernünftigen Wesens kann ein Widerstreit der
Maximen, wider die von ihm selbst erkannten praktischen Gesetze, angetroffen
werden. Z.B. es kann sich jemand zur Maxime machen, keine Beleidigung ungerächet
zu erdulden, und doch zugleich einsehen, daß dieses kein praktisches Gesetz,
sondern nur seine Maxime sei, dagegen, als Regel für den Willen eines jeden
vernünftigen Wesens, in einer und derselben Maxime, mit sich selbst nicht zusammen
stimmen könne. In der Naturerkenntnis sind die Prinzipien dessen, was geschieht,
(z.B. das Prinzip der Gleichheit der Wirkung und Gegenwirkung in der Mitteilung
der Bewegung) zugleich Gesetze der Natur; denn der Gebrauch der Vernunft ist dort
theoretisch und durch die Beschaffenheit des Objekts bestimmt. In der praktischen
Erkenntnis, d.i. derjenigen, welche es bloß mit Bestimmungsgründen des Willens zu
tun hat, sind Grundsätze, die man sich macht, darum noch nicht Gesetze, darunter
man unvermeidlich stehe, weil die Vernunft im Praktischen es mit dem Subjekte zu
tun hat, nämlich dem Begehrungsvermögen, nach dessen besonderer Beschaffenheit
sich die Regel vielfältig richten kann. – Die praktische Regel ist jederzeit ein
Produkt der Vernunft, weil sie Handlung, als Mittel zur Wirkung, als Absicht,
vorschreibt. Diese Regel ist aber für ein Wesen bei dem Vernunft nicht ganz allein
Bestimmungsgrund des Willens ist, ein Imperativ, d.i. eine Regel, die durch ein
Sollen, welches die objektive Nötigung der Handlung ausdrückt, bezeichnet wird,
und bedeutet, daß, wenn die Vernunft den Willen gänzlich bestimmte, die Handlung
unausbleiblich nach dieser Regel geschehen würde. Die Imperativen gelten also
objektiv, und sind von Maximen, als subjektiven Grundsätzen, gänzlich
unterschieden. Jene bestimmen aber entweder die Bedingungen der Kausalität des
vernünftigen Wesens, als wirkender Ursache, bloß in Ansehung der Wirkung und
Zulänglichkeit zu derselben, oder sie bestimmen nur den Willen, er mag zur Wirkung
hinreichend sein oder nicht. Die ersteren würden hypothetische Imperativen sein,
und bloße Vorschriften der Geschicklichkeit enthalten; die zweiten würden dagegen
kategorisch und allein praktische Gesetze sein. Maximen sind also zwar Grundsätze,
aber nicht Imperativen. Die Imperativen selber aber, wenn sie bedingt sind, d.i.
nicht den Willen schlechthin als Willen, sondern nur in Ansehung einer begehrten
Wirkung bestimmen, d.i. hypothetische Imperativen sind, sind zwar praktische
Vorschriften, aber keine Gesetze. Die letztern müssen den Willen als Willen, noch
ehe ich frage, ob ich gar das zu einer begehrten Wirkung erforderliche Vermögen
habe, oder was mir, um diese hervorzubringen, zu tun sei, hinreichend bestimmen,
mithin kategorisch sein, sonst sind es keine Gesetze; weil ihnen die Notwendigkeit
fehlt, welche, wenn sie praktisch sein soll, von pathologischen, mithin dem Willen
zufällig anklebenden Bedingungen, unabhängig sein muß. Saget jemandem, z.B. daß er
in der Jugend arbeiten und sparen müsse, um im Alter nicht zu darben: so ist
dieses eine richtige und zugleich wichtige praktische Vorschrift des Willens. Man
sieht aber leicht, daß der Wille hier auf etwas Anderes verwiesen werde, wovon man
voraussetzt, daß er es begehre, und dieses Begehren muß man ihm, dem Täter selbst,
überlassen, ob er noch andere Hilfsquellen, außer seinem selbst erworbenen
Vermögen, vorhersehe, oder ob er gar nicht hoffe alt zu werden, oder sich denkt im
Falle der Not dereinst schlecht behelfen zu können. Die Vernunft, aus der allein
alle Regel, die Notwendigkeit enthalten soll, entspringen kann, legt in diese ihre
Vorschrift zwar auch Notwendigkeit, (denn ohne das wäre sie kein Imperativ,) aber
diese ist nur subjektiv bedingt, und man kann sie nicht in allen Subjekten in
gleichem Grade voraussetzen. Zu ihrer Gesetzgebung aber wird erfordert, daß sie
bloß sich selbst vorauszusetzen bedürfe, weil die Regel nur alsdann objektiv und
allgemein gültig ist, wenn sie ohne zufällige, subjektive Bedingungen gilt, die
ein vernünftig Wesen von dem anderen unterscheiden. Nun sagt jemandem: er solle
niemals lügenhaft versprechen, so ist dies eine Regel, die bloß seinen Willen
betrifft; die Absichten, die der Mensch haben mag, mögen durch denselben erreicht
werden können, oder nicht; das bloße Wollen ist das, was durch jene Regel völlig a
priori bestimmt werden soll. Findet sich nun, daß diese Regel praktisch richtig
sei, so ist sie ein Gesetz, weil sie ein kategorischer Imperativ ist. Also
beziehen sich praktische Gesetze allein auf den Willen, unangesehen dessen, was
durch die Kausalität desselben ausgerichtet wird, und man kann von der letztern
(als zur Sinnenwelt gehörig) abstrahieren, um sie rein zu haben.

imagens: cadeira copy-paste, design sigurdur gustafsson,


http://www.uncovering.org/; http://www.midisegni.it/
POSTADO POR DENISE 0 COMENTÁRIOS
tabelamento de preços? de novo?
a anl, associação nacional das livrarias, anda num siricotico danado em cima da
história do "preço único" para o livro. não tenho uma opinião definitiva a
respeito, mas a princípio acho estranho. aqui não é a frança, aqui não é a
noruega, aqui mais parece uma espécie de faroeste, onde fica meio borrada a
distinção entre o mero oportunismo e a franca criminalidade, com um véu de mútua
conivência e acobertamento entre editores e livreiros. (a generalização é
grosseira: há vários editores sérios e alguns livreiros idem.)

além do mais, tenho a impressão de que hoje em dia nem mais o pãozinho é tabelado
no brasil. querem tabelar o livro?! sei não, parece que, como sempre, vai acabar
sobrando para o leitor/cidadão. como não tenho a menor simpatia pelo absenteísmo
de cbls, anls etcls. na questão dos plágios, da desonestidade editorial e da
responsabilidade solidária das livrarias, talvez possa haver aí um certo parti-
pris meu contra qualquer proposta dessa gente conivente com os crimes de
concorrência desleal, lesa-patrimônio, falsidade ideológica, falsificação de
produtos, ludibrio do consumidor/leitor, abuso da boa-fé da sociedade etc. que
assolam o mundo do livro.

em todo caso, isso de tentar salvar o barco que está afundando propondo medidas
unilaterais nunca deu certo em lugar nenhum. é ilusão pensar que a simpática e
aconchegante livrariazinha familiar, com o preço do livro tabelado, conseguirá
fazer frente à concorrência das fnacs e submarinos da vida [aviso que não sou fã
do processo de fnaquização] - mas querer transformar essa ilusão em lei e
sacrificar os leitores e consumidores aos interesses do segmento das pequenas e
médias livrarias em crise, aí já acho meio demais. algumas sempre conseguirão
sobreviver, mas não será por causa do tabelamento de preços.

se eu encontrar algum argumento convincente em favor do tal "preço único", claro


que mudo de ideia. mas até lá, como cidadã leitora, sou contra.

imagem: www.kitchen.it

POSTADO POR DENISE 1 COMENTÁRIOS


05/04/2009
ah, essas compulsões cleptomaníacas...
oscar wilde: 1854-1900
aubrey beardsley: 1872-1898
joão do rio: 1881-1921

no brasil, o prazo para que uma obra entre em domínio público são 70 anos após a
morte do autor.

domínio público = extinção do copyright ou do direito patrimonial privado sobre a


obra.

então no que é que salomé, de oscar wilde, com ilustrações de beardsley, em


tradução de joão do rio, pode ser objeto de "copyright: editora martin claret,
2004"?

seu martin, o sr. sabe que roubo de patrimônio público dá cadeia?

* até hoje continuo estupidificada com a idéia de que alguém quisesse comprar
aquela encarnação da trambicagem ambulante que é a claret.

imagem: salomé segurando a cabeça de joão batista, www.piekarska.net


POSTADO POR DENISE 0 COMENTÁRIOS
04/04/2009
jane austen e plágio

jane austen em português, o mais completo endereço brasileiro na net sobre tudo o
que você pode imaginar a respeito de jane austen, hoje traz umas opiniões minhas
sobre o plágio.

obrigada, miss raquel. essa velhacaria alguma hora tem de acabar.

imagem: http://janeausten.com.br

POSTADO POR DENISE 4 COMENTÁRIOS


a antiética pietrante e o desespírito do claretismo

para lembrar um pouco o que acontece quando um bandoleiro como martin claret fica
à solta por aí, eis alguns exemplos (nem 5% do que tem na internet) da presença de
pietro nassetti atrofiando os cérebros de alunos, professores, pesquisadores,
leitores em geral. aqui são referências a a ética protestante e o espírito do
capitalismo, de weber, na pseudoedição da martin claret. clique aqui para ver o
cotejo.

http://www2.fic.br/sysbibli_cgi/sysbweb.exe/busca_html?alias=sysbibli&pagina=3&exp
...
http://biblioteca.claretiano.edu.br/cgi-
bin/wxis.exe?IsisScript=phl8/003.xis&cipar=phl.cip&bool...
www.cchla.ufrn.br/interlegere/revista/pdf/2/es02.pdf
www.cce.udesc.br/titosena/Arquivos/Textos%20para%20aulas/livros1afase.doc
www.sbsociologia.com.br/congresso_v02/papers/.../Microsoft%20Word%20-
%20GT25_Homero_Nunes_Pereira_2007.pdf
www.uff.br/grecos/programasocecomcompleto20072.doc
http://jusvi.com/artigos/38263
www.puc-rio.br/sociologia/pdf/disc_eletivas_20082.pdf
www.fasete.edu.br/arquivos/file/secretaria/2008/LETRAS%202008%20PDF/III%20PERÍODO/
Estrut_Func_Educ_Basic.pdf
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7065
http://www1.fapa.com.br/folder/programas/2110/1339.pdf
www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada5/TRABALHOS/GT3_E_MEDIO/1
5/315.PDF
www.ceamecim.furg.br/vi_pesquisa/trabalhos/33.doc
www.nwm.com.br/fapam/arquivospdf/arquivos2008/dirsociologia1.pdf
www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/view/25324/24887
www.ie.ufmt.br/semiedu2006/GT04-Educa%E7%E3o%20%20em%20...
www.cep.pr.gov.br/cep/modules/conteudo/conteudo_fso.php?conteudo=242
www.univem.edu.br/mestrado_dir/detalhe.asp?reg=22&lng=1
http://www4.fct.unesp.br/cursos/geografia/programas_ensino/ESPECIAIS/teorias_socio
logicas_classicas.pdf
http://revistas.unipar.br/akropolis/article/view/508/464
www.uepg.br/emancipacao/pdfs/revista%204/Artigo%201.pdf
www.abhr.org.br/wp-content/uploads/2008/12/amado-andre-miele.pdf
www.unifor.br/pls/oul/w_uol_programa_disciplina_ncm?p_tp_arquivo=1&p_cd_disciplina
...p...
www.ims.uerj.br/ementas/Ementas2006_1_chs.htm
www.pciconcursos.com.br/concurso/30205
www.balcaodeconcursos.com.br/download/anexos/BALCAODECONCURSOS.COM.BR_01402_05.pdf
www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao22/materia03
www.jfal.gov.br/biblioteca/aquisicoesde2003_1.htm
www.anppas.org.br/encontro_anual/encontro3/arquivos/TA192-06032006-102834.DOC
www.serverweb.unb.br/matriculaweb/graduacao/disciplina_pop.aspx?cod=199320
www.cefeteq.br/concursos/professores/documentos/2008/prof_1_2_graus/R_04_Sociologi
a_e_Etica.pdf
www.metodista.br/.../conflitos-polissemicos-dos-simbolos-sagrados-expressao-e-
perigo-na-diversidade-interpret...
www.fai.br/upload/Temas/vila_mariana/ciencias_contabeis/Fundamentos%20das%20cienci
as%20sociais%20I.pdf
http://www.etesaopaulo.com.br/arquivos/Planos%20de%20cursos/Ensino%20M%C3%A9dio/3%
C2%BA%20M%C3%A9dio/Sociologia_EMedio_3.pdf.
http://direito.catolica-to.edu.br/documentos/02020632/Plano-Ensino-Ci%EAncias-
Religi%E3o.pdf
www.graduacao.ufrn.br/Programas/Ciencias.../DCS0014%20-
%20Introdu%E7%E3o%20%E0s%20Ci%EAncias%20...
www.estudosibericos.com/arquivos/iberica9/morsegasparetto.pdf
www.usj.edu.br/templates/52/conteudo_visualizar_dinamico.jsp?idConteudo=3125&idUse
r...57...
www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/viewPDFInterstitial/2
5324/24887
http://mestradoadm.up.edu.br/arquivos/pmda/.../Programa%20Comportamento%20Empreend
edor%20...
www.fasete.edu.br/arquivos/file/cursos/letras/grade/PlanosLetras20072/7/Plano%20de
%20Curso_Estrutura%20II.pdf
www.faa.br/economia_ementas/ideais_sociais.pdf
www.ethos.org.br/_Uniethos/Documents/Ecossocioeconomia%20das%20Organizações%20.pdf
www.icetiqt.senai.br/dcb/novox/port/educacao/portaria/adm/14101/periodo01.pdf
http://189.17.143.19/scripts/sysbiblinl/sysbweb.exe/busca_html?alias=sysbibli&edit
or...
www.scielo.br/scieloOrg/php/articleXML.php?pid=S0102-311X2007000900024&lang=en
www.direitonet.com.br/artigos/exibir/1057/Capitalismo-e-Direito-ao-Trabalho
www.revistafenix.pro.br/PDF16/ARTIGO_09_SILVIA_RAMOS_BEZERRA_FENIX_JUL_AGO_SET_200
8.pdf
http://servicos.capes.gov.br/arquivos/avaliacao/estudos/dados1/2004/24001015/034/2
004_034_24001015004P3_Disc_Ofe.pdf
http://www1.fapa.com.br/folder/programas/2210/1339.pdf
www.ea.ufrgs.br/biblioteca/bib_boletim_docs/Boletim_Informativo_FEV_2008.pdf
http://www4.metodistademinas.edu.br/scripts/sysbiblinl/sysbweb.exe/busca_html?alia
s=sysbibli&assunto...
www.ffb.edu.br/_download/ListagemNovosLivrosAdm.pdf
www.unifra.br/professores/709/Plano%20Serviço%20Social%20e%20Processos%20de...
www.iesacre.edu.br/.../PLANO%20DE%20CURSO%20SOCIOLOGIA%20DA...
www.ceps.ufpa.br/daves/pss2008/conteudo%20programatico/Conteudo%20Programatico%20S
ociologia-2008.pdf

imagem: http://paulodaluzmoreira.blogspot.com, zomplanti de artemio rodríguez

POSTADO POR DENISE 0 COMENTÁRIOS


03/04/2009
o programa de analfabetização nacional
deu na publishews de hoje:

"Pirataria de livros é alvo de relatório internacional


02/04/2009 - 12:17 - Agência Estado

A pirataria de livros no Brasil foi destaque ... O documento menciona como uma das
causas a cópia de trechos de livros e até de obras inteiras, no caso das não
disponíveis no mercado largamente difundidas nas universidades.
... Dalton Morato [ABDR] afirma que 'a inocente pastinha do professor' contribui
para a queda na venda de livros no País e prejudica editoras e autores. ...

Jorge Machado [USP] defende que o material técnico-científico, produzido com


verbas públicas de pesquisa, seja de acesso livre."
1. meu aurélio dá "pirataria: [...] roubo, extorsão".
entendo que qualificar de "pirataria" a cópia xerox para uso pessoal, sem fins
lucrativos, de capítulos ou da íntegra de um livro esgotado no mercado, mas
indicado como bibliografia em sala de aula, é um contorcionismo autorizado somente
pela absurda lei dos direitos autorais vigente no país, que protege
unilateralmente os interesses privados das empresas em brutal detrimento das
necessidades sociais e educacionais do país. é uma qualificação de validade
estritamente conjuntural, fundada num aspecto esdrúxulo e circunstancial de uma
lei sem igual no mundo.
já qualificar de "pirataria" a edição comercial, com fins lucrativos, de plágios
de obras esgotadas ou existentes no mercado, me parece absolutamente correto: é
uma qualificação universal, pouco sujeita a variações no tempo e no espaço,
fundada na definição maior e inalterável dos direitos de personalidade.
2. a "pasta do professor" dá uma tristeza de chorar: é a mais confrangedora
tentativa de se fazer frente à ganância que conseguiu prevalecer na lei de 1998,
que proíbe o uso de cópias xerox nas escolas. aliás, a abdr parece ter sentimentos
ambíguos a respeito da tal pasta.* de um lado critica sua absurda mediocridade, e
por outro louva-a, desde que paga, como a grande solução para o impasse
educacional.

as consequências desse agrilhoamento e empobrecimento bibliográfico são


terríveis: além da humilhante situação no curto prazo a que ficam sujeitos
professores e alunos enquadráveis como criminosos segundo a atual legislação, o
horizonte intelectual das novas gerações se estreita de maneira irreversível e
assim se transmite às futuras gerações. será o brasil mais inculto que se possa
imaginar, e certamente será um tiro no pé das atuais abdrs da vida - pois, do
jeito que vai a coisa, simplesmente fica muito difícil criar qualquer horizonte ou
base cultural nos cidadãos. quem irá fomentar uma sólida e próspera indústria
editorial de qualidade?

3. eu ampliaria a proposta do prof. Jorge Machado eliminando a especificação


"técnico-científico". por exemplo, um espetáculo de dança experimental produzido a
título de pesquisa financiada com verba pública num instituto de artes de uma
universidade dificilmente poderia ser definido como "material técnico-científico".
nem por isso seria justificável restringir o livre acesso a ele.

*Quanto à despudorada duplicidade da ABDR, ver:

1. Cartilha da ABDR, disponível em www.abdr.org.br/cartilha.pdf

"Por que a ABDR luta contra a 'pasta do professor', procedimento habitual nas
universidades?
A pasta do professor é uma deformação da função de ensinar. Isto porque impõe aos
alunos a leitura fragmentada de textos que, na maioria das vezes, descaracteriza o
conteúdo das obras e altera sua identidade. O aluno não adquire o hábito da
leitura, da pesquisa, do questionamento. Não desenvolve o senso crítico nem
aprende a atribuir os créditos ao autor da obra. Por outro lado, a formação dos
alunos a partir de reproduções de obras, e não de obras originais, fere princípios
éticos não condizentes com os atos de ensinar e especialmente de formar cidadãos."

2. Cartilha da ABDR com o Fórum Nacional contra a Pirataria e a Ilegalidade


(dezembro 2008):
"Uma solução encontrada pela ABDR para este problema se concretizou na criação da
'Pasta do Professor'. O projeto, iniciativa inédita e exclusiva das editoras
brasileiras, tem como objetivo disponibilizar conteúdos editoriais em formato
fragmentado (por capítulos), com o apoio da internet, respeitando a Lei de
Direitos Autorais. Para isso, a iniciativa transforma em parceiras as editoras,
instituições de ensino superior com centrais de cópias homologadas, livrarias –
incluindo aquelas com vendas on-line – e os alunos.
Com ele, os professores formam suas 'pastas' a partir da seleção dos capítulos de
livros disponibilizados no portal www.pastadoprofessor.com.br , e os alunos têm
acesso ao conteúdo dessas 'pastas' pela sua leitura na tela do computador, ou pela
compra da sua impressão em pontos de vendas que comercializam esses conteúdos. O
material é personalizado, impresso com o nome da editora e do aluno, em locais
previamente homologados. Dessa forma, todos os envolvidos neste processo saem
ganhando: autores e editoras são remunerados pela utilização do conteúdo de livros
impressos; os pontos de venda podem comercializar esse material de forma lícita; e
os alunos e professores têm acesso a parte do conteúdo dos livros."

então, se pagar, fica bom? só o brasil mesmo para gestar uma loucurada "inédita e
exclusiva" dessas! ai, que vergonha.

imagem: www.delymyth.net

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complicado

fiquei aflita ao ver essa manchete:


Nova Lei Rouanet prevê "quebra" de direito autoral
então, correndo o risco de ser insuportavelmente chata, queria colocar alguns
pontos.
1. o direito autoral é um direito que pertence primariamente ao autor de uma obra.
ele se divide em dois aspectos: o aspecto patrimonial e o aspecto moral.
o aspecto patrimonial corresponde ao lado da exploração econômica daquela obra. o
aspecto moral corresponde ao lado da identidade da autoria daquela obra.
eu, como hipotética autora, tenho o direito constitucional de viver do fruto do
meu trabalho. esse direito meu de explorar economicamente minha obra, ou seja,
vendê-la, emprestá-la, licenciá-la, arrendá-la etc. pode ser transferido para
terceiros. posso pegar, sei lá, um livro que escrevi, ir a uma editora e dizer:
olha, vocês não publicariam isso para mim? vocês me pagam um tanto e aí vendem
minha obra como quiserem. a gente põe esse acordo por escrito, assina e pronto,
cedo para vocês meu direito patrimonial sobre a obra.
já o direito pessoal (nome, identidade e integridade) que tenho sobre a obra, sem
chance, não vendo, não troco, não cedo, nem que eu queira (só se eu for anônima,
mas aí é outro caso). é um direito inalienável e intransferível, e nunca acaba,
mesmo que eu-autora tenha morrido mil anos atrás. e se alguém disser que não fui
eu, e sim o zequinha da silva que escreveu aquilo, vai dar pau, porque vai ser
crime contra minha pessoa, viva ou morta. é o que se chama de plágio.
este é o primeiro ponto.
o segundo ponto é que "obra do espírito protegida pela legislação dos direitos
autorais" não é pãozinho nem sabão em pó. ou seja, ela tem um aspecto imaterial
que extrapola seu aspecto estritamente comercial.* esse aspecto imaterial faz
parte de um amplo domínio da vida social que se chama "cultura". toda "obra do
espírito" faz parte da cultura de uma sociedade.
* naturalmente a fórmula de um sabão em pó ou de uma coca-cola também faz parte do
"saber da humanidade". só que quem cuida desses produtos não é a lei dos direitos
autorais, e sim a lei de patentes e o instituto nacional de propriedade
industrial, que são outros quinhentos.
o que tem é que essa "obra do espírito" pode ser explorada comercialmente durante
algum tempo, isto é, pode ser vendida com finalidade de lucro por quem detém
aquele direito patrimonial que falei lá em cima. o dono ("titular", como dizem)
desse direito de exploração econômica, como disse, pode ser o próprio autor pessoa
física, mas geralmente é uma pessoa jurídica, tipo editora, gravadora, galeria de
arte etc., que obteve esse direito num acordo feito com o autor.
mas, como essa "obra do espírito" tem esse outro aspecto mais importante de compor
o patrimônio imaterial de uma sociedade, ou seja, de fazer parte de sua "cultura",
a partir de certo momento ela não precisa mais ser comercializada para que a
sociedade possa ter acesso a ela. essa obra passa a ficar em "domínio público" e o
acesso da sociedade passa a ser gratuito. claro que as editoras podem continuar a
publicar obras em domínio público: elas, por sua vez, simplesmente não precisam
mais da autorização ou da cessão dos direitos patrimoniais do autor.
esse prazo de exploração comercial privada de uma obra variou muito ao longo da
história da legislação dos direitos autorais. hoje em dia, no caso do livro, é uma
barbaridade: no brasil, ele se estende por 70 anos após a morte do autor (bom, na
china são 100 anos, grande consolo).
isso quanto ao domínio público. mas, enquanto a obra ainda não está em domínio
público, existem certas circunstâncias que justificam exceções a essa exploração
comercial privada de uma obra do espírito. é o caso, por exemplo, das bibliotecas
ou de cópias sem fins comerciais de trechos ou da íntegra da obra.
portanto, mesmo no campo da estrita exploração comercial de uma obra, regido por
normas contratuais privadas, certas demandas da sociedade prevalecem sobre a
finalidade de lucro dos particulares. essas demandas consistem basicamente em
atender a objetivos educacionais sem fins lucrativos. na lei, isso se chama
"capítulo das exceções". de modo geral, uma legislação mais atenta às demandas
sociais comportará um maior leque de exceções, e inversamente.
nossa atual legislação (de 1998) é muito restritiva no capítulo das exceções ao
direito patrimonial privado - a tal ponto que faz mais de 10 anos que não se pode
tirar xerox de capítulos de livros indicados nas escolas, que vem a abdr com
polícia de metralhadora, prende, apreende e processa. nossa atual situação é de
uma brutalidade e de um obscurantismo ímpares, de fazer átila, o huno corar de
vergonha.
bom, mas voltando. então não me parece correto dizer que a proposta de
reformulação da lei rouanet "prevê quebra de direito autoral". no máximo ela prevê
uma ampliação do capítulo de exceções no caso de obras de exploração comercial
privada que tenham sido financiadas com dinheiro público. o que a proposta está
prevendo se chama "flexibilização", aliás até bastante modesta, em circunstâncias
muito específicas (uso privado de impostos que se destinariam a uso público).
pois aí vem outro aspecto. agora não sou mais autora. vou ser o governo, o
patrocinador da publicação de uma obra. eu-autora já cedi a parte patrimonial de
meus direitos sobre ela a uma editora x. a editora correu atrás de financiamento.
conseguiu incentivo pela lei rouanet. a lei rouanet significa que eu-governo abro
mão de uma parte dos impostos que teria a receber da editora x, e que ela vai usar
esse dinheiro para editar o livro. além do mais, eu-governo, como patrocinadora
dessa edição, ainda deixo a editora usufruir livremente, 100%, dos lucros que ela
obterá com a exploração comercial daquela obra que eu-governo estou pagando com
dinheiro público ou, melhor, com a renúncia a tributos que comporiam receitas
públicas.*
*[vá lá que eu-governo também sou uma desgraça, fico zoando com dinheiro público
que deveria reverter para a sociedade, e é até bom que a editora nem me pague meus
impostos e edite direto o tal livro, pois os tributos, chegando aqui, iriam mesmo
ralo ou bolso privado abaixo.]
mas eu-governo, com muita modéstia, peço como simples contrapartida que, depois de
um ano e meio, eu possa usar gratuitamente, para fins educacionais, essa obra que
eu mesma financiei e, depois de 3 anos (!), possa usá-la gratuitamente, com
finalidades não-comerciais e não-onerosas, para toda a sociedade - por exemplo,
colocando o livro patrocinado à disposição do leitor no portal de obras para
download do mec.
aí eu, agora como cidadã, pergunto: e por que não desde o primeiro minuto? sei lá,
eu-cidadã ainda acho essa reserva de 18 a 36 meses para exploração comercial
exclusiva de uma obra financiada com dinheiro público uma boa canja. será que o
governo consultou apenas a sociedade civil articulada em torno de entidades de
classe com interesses privados? e o público a que se destinam as obras
patrocinadas? nem aqui o governo vai contemplar a excepcionalidade da situação, a
saber, o financiamento público de obras para exploração comercial privada?
resumindo: só posso entender o título e o teor da matéria da folha de s.paulo como
posição meio unilateral demais. mas aí, se for para radicalizar, eu-cidadã botaria
no título o outro lado da questão: "nova lei rouanet protege o direito patrimonial
privado em detrimento dos interesses da sociedade".
p.s. acompanhei o debate organizado pela folha. acho que teve gente que ficou
procurando pêlo em casca de ovo, tipo joão sayad. a questão de fundo da suposta
"quebra de direito autoral" me parece simples, e uma só: como alcançar um
equilíbrio minimamente sensato entre interesses particulares restritos e
interesses sociais mais amplos, ainda mais num caso tão cristalinamente claro de
financiamento com dinheiro público? o resto - se hatoum é do amazonas ou de são
paulo, se cultura é subjetiva versus ciência é objetiva, e outros disparates - é o
resto.
outra coisa que ninguém deveria esquecer: a lei rouanet foi criada em priscas eras
como forma de combater a sonegação fiscal, a grande praga número 2 deste país que
retroalimenta o extorsionismo tributário nacional, a grande praga número 1. que
esse recurso anti-sonegação (ou antissonegação?) tenha se implantado na área
cultural, foi na época uma escolha até meio circunstancial. mas é um mecanismo que
criou vida própria, e como tal merece ser tratado. cabe à lei prever no mínimo
essa singelíssima contrapartida: obras para exploração econômica privada
financiadas com dinheiro público devem circular também publicamente, sem fins
lucrativos, desde o primeiro minuto de existência. e ponto.
imagem: www.collectiveereinventions.org

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02/04/2009
zumbi trapalhares III

sobre minha petição ao ministério público, quanto aos procedimentos zumbínicos da


fundação biblioteca nacional em cadastrar pietro nassetti e coleguinhas da editora
martin claret como tradutores de machado de assis, eça de queiroz, josé de alencar
etc., sou informada de que chegou ao rio de janeiro e foi encaminhada para a
divisão de tutela coletiva, ficando a cargo da procuradora da república dra. ana
padilha.

a ver.

imagem: logotipo da agência brasileira do isbn/ fundação biblioteca nacional

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que moral 2!
ói nóis também no clipping do publishnews, retomando a nota dada por galeno
amorim.

e deu também no portal literal:

Não gosto de plágio


Bruno Dorigatti, Rio de Janeiro (RJ) • 2/4/2009

Um blog de utilidade pública contra plágios de tradução, por Denise Bottmann. A


tradutora vem fazendo um ótimo apanhado sobre a questão, que no ano passado voltou
à ordem do dia por conta dos plágios da editora Martin Claret de vários livros em
domínio público. Como afirmou Galeno Amorim, o blog é uma "heróica cruzada diária
contra o uso indevido do trabalho de tradutores (que acaba sendo reutilizado sem
nenhum crédito ou remuneração), [onde] ela se dedica a descobrir casos que
acontecem no mercado editorial e aponta, sem papas na língua, no seu blog". Além
de abordar diversas outras questões do universo da tradução.
Neste link, uma excelente reunião do quem tem saído na imprensa sobre o assunto.

que bom, gente, obrigada a todos. quem sabe essa turma de bandoleiros começa a
tomar um pouco de vergonha e passa a respeitar um pouco mais o livro, o leitor e a
sociedade.

imagem: www.d.umn.edu

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que moral!
ando vaidosa: um monte de gente botou o bannerzinho do nãogostodeplágio em seus
blogs; várias pessoas têm dado posts linkando para cá; a lpm tinha dado notícia de
destaque em seu site à minha petição contra a martin claret (casos dos plágios
surripiando monteiro lobato); outro dia o livros & afins deu uma bela chamada aqui
para nós, e hoje vi esta no Blog do Galeno.
Postado por Galeno Amorim - 14h35
Contra o plágio
Vale a pena acompanhar a campanha movida pela blogueira Denise Bottmann contra o
plágio de livros no País. Numa heróica cruzada diária contra o uso indevido do
trabalho de tradutores (que acaba sendo reutilizado sem nenhum crédito ou
remuneração), ela se dedica a descobrir casos que acontecem no mercado editorial e
aponta, sem papas na língua, no seu blog "Não Gosto de Plágio". Tem conseguido
boas inimizades, mas também importantes vitórias:
http://naogostodeplagio.blogspot.com/.

achei o máximo. acrescento que minha cruzada é também e principalmente contra o


saque indevido do patrimônio intelectual do país e o abuso da boa-fé do leitor e
consumidor.

muito obrigada, seu galeno. um dia a gente chega lá!

imagem: sapphofacultypage

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01/04/2009
meus complexos
não sou uma grande tradutora, longe disso. entre paradas e retomadas, acho que
tenho uns dezesseis anos no ofício e uns sessenta livros traduzidos. embora
trabalhe bastante, sei que sou uma anta tosca e limitada, e quase incapaz de fazer
traduções literárias.
acredito no ideário iluminista do autoaperfeiçoamento. tenho como ideal de
praticante do ofício aquele tradutor capaz de trafegar entre literatura em prosa e
verso, teatro, filosofia, ciência política, história, em alemão, espanhol, grego,
inglês, persa, italiano, russo, latim, francês, alemão, português, e terminar uma
bela tradução a cada quinze dias. pietro nassetti, da editora martin claret, é a
encarnação deste meu ideal.

após estudar longamente seu trabalho, concluí que se tratava de um ideal


inatingível e que teria de eleger outro modelo para me guiar na vida. acho
importante manter a desenvoltura e a flexibilidade intelectual, mesmo em
sacrifício da agilidade. assim, pensei que podia aspirar a uma carreira como a de
jean melville ou de alex marins, também martin-claretianos, contentando-me em
traduzir alguma bela obra em, digamos, um mês.
também estudei o trabalho de ambos. não sei se serei capaz de me aproximar algum
dia de tais exemplos. começo a sentir um grande complexo de inferioridade e muita
insegurança em minhas atividades. penso em abandonar a área e ficar varrendo o
terraço de casa. mas não posso ceder à autopiedade, devo aceitar as coisas como
elas são, e creio que, sendo mais modesta, posso me contentar em ter como modelo
uma figura menos polivalente, menos profícua, mas mesmo assim capaz de despertar
uma vontade de emulação.

pois já não seria um bom começo ter em sua biografia tradutória uma listagem
assim?
campanella, a cidade do sol
conan doyle, a caixa macabra e outras histórias
conan doyle, a face amarela e outras histórias
conan doyle, a morte do chantagista e outras histórias
conan doyle, as nódoas de sangue e outras histórias
conan doyle, o arpoador maldito e outras histórias
conan doyle, o cão dos baskervilles
conan doyle, o detetive agonizante e outras histórias
conan doyle, o signo dos quatro
conan doyle, o último adeus e outras histórias
conan doyle, o vale do terror
conan doyle, os sete mistérios
conan doyle, um estudo em vermelho
descartes, princípios da filosofia
erasmo de roterdã, elogio da loucura
fustel de coulanges, a cidade antiga
hegel, introdução à história da filosofia
hobbes, leviatã
ihering, a luta pelo direito
ihering, teoria simplificada de posse
maquiavel, a arte da guerra
maquiavel, o príncipe
nietzsche, a gaia ciência
nietzsche, além do bem e do mal
nietzsche, assim falou zaratustra
nietzsche, ecce homo
nietzsche, humano, demasiado humano
nietzsche, o anticristo
nietzsche, o nascimento da tragédia
platão, a república
platão, fédon
platão, o banquete
savigny, metodologia jurídica
shakespeare, a megera domada
shakespeare, as alegres comadres de windsor
shakespeare, medida por medida
thomas morus, utopia

heloísa da graça burati, pela editora rideel, restaura-me as esperanças, soergue


meu ânimo - em breve vou me dedicar à sua obra tradutória para avaliar se poderei
ser uma discípula à sua altura.

imagens: www.scriptorium.sk; images google, carmen miranda

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31/03/2009
como pedir naturalização e cidadania na repartição brasileira dos livros
ao que parece, o autor de a ideologia alemã em nossa digníssima Biblioteca
Nacional passou a ser, mais plausivelmente, um alemão nascido em 1818 chamado karl
marx.

Prezada Senhora Denise Bottmann

Agradecemos sua mensagem e colaboração, e comunicamos que a correção do nome do


autor já foi efetuada em nossa base de dados.

Atenciosamente
Angela Monteiro Bettencourt
Coordenadora de Informação Bibliográfica
Fundação Biblioteca Nacional

imagem: http://aguadouro.blogspot.com

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mais chacalices

1. o luso josé augusto pereira da silva traduziu a prosa escolhida de púshkin do


russo para o português pela editora russa ráduga (1988). dessa seleta faz parte a
filha do capitão.

alguém pode me informar como é que a martin claret se acha no direito de tascar em
sua edição: "copyright desta tradução: editora martin claret, 2006"? por acaso
terá comprado os direitos da ráduga? ou sequer adquirido licença de publicação?

2. o gaúcho e cosmopolita álvaro moreyra (1888-1964) tinha um nome longuíssimo:


Álvaro Maria da Soledade Pinto da Fonseca Velhinho Rodrigues Moreira da Silva.
ficou só com o "moreira", e trocou o "i" por um "y" que seria uma espécie de
símbolo dos outros sobrenomes. foi um escritor e literato bastante conhecido, e
uma época (1959) até virou imortal da academia brasileira de letras.

ele traduziu a dama de espadas de púshkin, que foi publicada pela brasilia aeterna
em 1945.

alguém pode me explicar como é que a martin claret se acha no direito de tascar em
sua edição: "copyright desta tradução: editora martin claret, 2006"? com quem terá
firmado algum contrato sobre os direitos de publicação?

mas como ela é da abdr e ostenta esse sinistro dedão na primeira página de todos
seus plágios e contrafações, então deve achar que pode.

imagens: logo da raduga; selo da abdr em www.abeu.org.br

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30/03/2009
outros ares
deu numa bela resenha sobre três lançamentos de sófocles (link para assinantes uol
ou fsp):

"Os sinais de vitalidade na extensão e na qualidade do que se traduz vêm superando


os tradutores vexaminosos
FÁBIO DE SOUZA ANDRADE
COLUNISTA DA FOLHA

QUANDO SE fala em traduções, o leitor brasileiro tem cada vez menos do que se
queixar. O mercado do livro ainda comporta preguiça ou vigarice ocasional, como no
caso recente da Nova Cultural, editora que alimentou a plágio descarado toda uma
coleção, mas nada disso passa mais batido. Se não chegamos a rivalizar com
tradutores onívoros, como os franceses ou os americanos, aos poucos deixamos de
fazer feio, e os sinais de vitalidade na extensão e na qualidade do que se traduz
vêm superando os vexaminosos."

tomara, fábio, tomara!


imagem: o são jerônimo de dürer, em http://cantarapeledalontra.blogspot.com

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o mito do preço, o preço do mito
apresento outro aspecto do mito do preço claretiano, e o preço desse mito no
mercado editorial.

baseio-me em dados do setor - importante lembrar que custo de produção é uma coisa
e preço de venda é outra.

"A tradução corresponde, em média, a 30 a 40 % da composição de custos de um


livro.
custos:
gráfica e papel: 50%
editoração (capa, paginação e arquivo): 20%
tradução: 30%

No caso de obra em domínio público, não se paga direito autoral, mas, caso o
original não esteja em domínio público, deve ser incluído um percentual de 20%
sobre o custo total. Na realidade é 10%, mas como o livro é vendido com 50% de
desconto para os livreiros, os 10% do preço total correspondem a 20% da metade.
Isto quer dizer que quem rouba uma tradução tem um custo 30% menor do que os seus
concorrentes.

Daí o livro é vendido a R$10,50 e todo mundo acha que é um grande mérito, mas na
verdade a editora já teria lucro se pagasse pela tradução, imagine pirateando."

ditto.

uma ilustração concreta: suponha-se esse período de 10 anos desde que a claret
começou sua coleção bandoleira, "a obra-prima de cada autor". suponha-se esse
mesmo período de 10 anos numa editora honesta de porte médio, com, digamos, cerca
de 400 traduções nesses 10 anos, na base média de 250 laudas de tradução por
livro, a um valor médio de R$ 20,00/lauda. isso corresponde a um custo de R$
2.000.000,00 em traduções.
no caso das editoras que roubam as traduções, essa "economia" financeira
remunerada a juros de mercado, num prazo médio de 5 anos, vai dar o quê? uns 3
milhões?

e como já mostrei, essa redução de custos por não se pagar a tradução NÃO é
repassada para o consumidor, muito pelo contrário. para EMPATAR com o preço de
venda do exemplo da paz e terra (mas não com a qualidade nem com a idoneidade da
edição), a martin claret teria que vender seu exemplar fraudado a R$ 5,40 (dedução
de 30% do custo de tradução sobre os R$ 8,00 do preço de venda da paz e terra).
ou para EMPATAR com o preço (mas não com a qualidade nem com a idoneidade da
edição) do rei lear da lpm, de millôr fernandes, a martin claret teria que vender
sua edição fraudada a R$ 7,00.

e ainda dizem que os livros da claret são baratos?


imagem: www.titiwessel.com.br

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29/03/2009
marx é brasileiro, sabia?
passei meses ouvindo as desculpas esfarrapadas da Fundação Biblioteca Nacional,
dizendo que as fichas cadastrais da agência de isbn podem ser absolutamente
malucas, pois os dados registrados não são de responsabilidade dela.

já as fichas catalográficas feitas pelos bibliotecários da Biblioteca Nacional,


essas sim, são fidedignas, porque se baseiam no trabalho de catalogação da própria
biblioteca.*

então isso quer dizer o quê?

Catálogo de Livros (Pop: 486852)


Autor:
Medeiros, Karl Marx de, 1952-
Título original: [Die deutsche Ideologie.] Português
Título / Barra de autoria:
A ideologia alemã : Feuerbach, a oposição entre as concepções materialistas e
idealistas / Marx & Engels ; tradução: Frank Müller. -
Imprenta: São Paulo : M. Claret, 2006.
Descrição física: 147p. ; 19cm. -
Série: (A obra-prima de cada autor ; 192)
Notas:
Tradução de: Die deutsche Ideologie.
ISBN: 8572322892 (broch.)
Assuntos:
Feuerbach, Ludwig, 1804-1872. Materialismo dialético. Socialismo.
Entradas secundárias:
Engels, Friedrich, 1820-1895.
Classificação Dewey:Edição:
335.4 22
Indicação do Catálogo:
VI-411,7,36
Registro Patrimonial:
1.135.385 DL 07/03/2006
Sigla do Acervo:
DRG

não acreditei quando vi - afinal, era uma ficha catalográfica, coisa de respeito!
então cliquei no autor "karl marx de medeiros". sim, a sra. biblioteca nacional
confirma. foi medeiros quem escreveu a ideologia alemã, imagino que por volta dos
anos 1980 (afinal, informa-nos a ficha catalográfica da referida dama, ele é um
brasileiro nascido em 1952). puxa vida, fico comovida com os esforços de incultura
dos cadastradores do ISBN e dos bibliotecários da BN. e agora, qual será que vai
ser a desculpa?

Catálogo de Livros (Pop: 486852) Índice : Autores - Pessoas


1 Medeiros, Karl Marx de,
A ideologia alemã : Feuerbach, a oposição entre as concepções materialistas e
idealistas /
2006
M. Claret,
VI-411,7,36

2 Medeiros, Karl Marx de,


O papel oposicionista do movimento democratico brasileiro-MDB : (1976-1977) /
1985
[s.n.],
VI-176,1,21

3 Medeiros, Karl Marx de,


Passos da teoria histórica /
1998
s.n.],
II-5,1,39

4 Medeiros, Karl Marx de,


Metodologia científica : nas pegadas da ciência /
1998
s.n.],
I-128,3,17

no fundo, acho que, no quesito "respeito pelo leitor e pelo cidadão", claret,
agência do isbn, bn, fbn, acabam se equivalendo - nassetti traduz machado e o
marquinho psicografa com engels.

*"Todas as informações que compõem este cadastro são fornecidas pelos editores
mediante preenchimento de planilha e envio de 'boneca' da página de rosto do
livro. A Agência Brasileira do ISBN apenas transcreve para o seu cadastro os dados
fornecidos pelos editores que são os responsáveis por estas informações.
Os registros catalográficos elaborados pelo corpo de bibliotecários da Biblioteca
Nacional a partir da obra impressa estão de acordo com padrões internacionais de
catalogação e refletem a função da Biblioteca Nacional como Agência Bibliográfica
Nacional" - Ângela Monteiro Bettencourt em e-mail enviado em 16/05/2008

imagem: http://www.gm-volt.com/

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28/03/2009
o dia do revisor
embora essas datas sejam meio estranhas - o dia das mães, o dia da criança, o dia
do bibliotecário, o dia do tradutor - hoje é O DIA DO REVISOR.

parabéns a esse profissional cujo trabalho tantas vezes fica oculto e, no entanto,
é da maior importância. parabéns pela paciência, pela dedicação, pelo conhecimento
da língua, pelo amoroso acompanhamento das letras do texto.

imagem: www.laurahughesstudio.com

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27/03/2009
raposices e chacalices
os chacais do livro, além do plágio comercial, também lançam mão de um outro
ilícito chamado "contrafação" ou reprodução não-autorizada com finalidade de
lucro. aí a editora até dá os créditos corretos, mas não detém os direitos de
exploração comercial daquela obra. ela apenas pega o texto, publica e fatura, sem
se importar com o que é de quem.

a martin claret, além de especialista em plágios, também gosta de umas


contrafaçõezinhas, com o requinte adicional de reivindicar para si o copirraite da
malandragem. seguem alguns exemplos.
pragmatismo, de william james. a tradução é de jorge caetano da silva, a edição
original saiu pela lidador em 1967, e depois em várias edições no volume 40 dos
pensadores da abril cultural. a martin claret estampa na página de créditos o nome
correto do tradutor e declara: "copyright desta tradução: editora martin claret,
2006". duvido e faço pouco. e só mudarei de idéia se aparecer algum contrato de
cessão de direitos assinado por jorge caetano da silva em favor da martin claret.
em tempo: chapa fria na fbn/isbn, com tradução cadastrada em nome de pietro
nassetti.

lorde jim, de joseph conrad: já comentei esta contrafação da martin claret. até
onde sei, a sra. elena quintana, que detém a guarda dos direitos de mário
quintana, não vendeu nem cedeu os direitos de tradução de seu tio à martin claret.
e, também até onde sei, a editora globo ainda é a detentora dos direitos de
exploração comercial dessa obra. portanto, afirmar "copyright desta tradução:
editora martin claret, 2007" não procede. afora a chapa fria: registrado na
agência do isbn com tradução de pietro nassetti.

a letra escarlate, de nathanael hawthorne, em tradução de sodré viana. não sei o


ano da primeira edição pela josé olympio, mas meu exemplar é da 2a. edição, 1948.
mesmo caso - duvido e faço pouco que a afirmação "copyright desta tradução:
editora martin claret, 2006" seja legítima. e chapa fria: registrado na agência do
isbn com tradução de pietro nassetti.

robinson crusoe, de daniel defoe, em tradução de flávio poppe de figueiredo e


costa neves (jackson, 1947). na claret, o primeiro está como flávio p. de f. até
achei que era algum trocadilho infame com pdf. também duvido e faço pouco que seja
verdade: "copyright desta tradução: editora martin claret, 2007". não consta
tradutor no registro do isbn/fbn.

a morte de ivan ilitch e senhores e servos, de tolstói. mais dois textos que boto
a mão no fogo que são contrafações: como é que pode existir o "copyright desta
tradução: editora martin claret, 2007", feita por gulnara lobato de morais pereira
(sobrinha e nora de monteiro lobato) nos anos 1950? quero ver o contrato. também
sem tradutor na ficha do isbn.

não basta a contrafação, ainda tem de inventar um copirraite que não engana nem
criança? aí já é somar o insulto à injúria.

imagem: myspace.com

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mc, ml, mp, lpm
esta semana dei entrada em outra petição junto ao ministério público federal.
desta vez foi expondo dois plágios da martin claret, o lobo do mar e o livro da
jângal, traduzidos por monteiro lobato.

a editora lpm, que tem demonstrado uma seriedade e integridade a toda prova e
apoia a campanha pela moralização editorial do país, publicou como notícia de
destaque em seu site minha singela petição ao ministério.

agradeço, dona lpm. quiséramos nós metade das editoras do país mostrassem a mesma
honradez.

imagem: memória histórica, gaelx, flickr

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26/03/2009
o preço do mito
ainda sobre o mito do preço baixo das edições da claret.

joana canêdo deixou um comentário sob a listinha dos plagiados. destaco um trecho:
"essas 'traduções' da Claret ... trazem erros crassos que deturpam o sentido
original do texto ... esses livros, por mais baratos que sejam, não valem o que
custam, já que trazem textos inexatos, mal escritos, e com erros conceituais".

estou me delongando sobre o tema para chegar ao que, para mim, é o fundamental.
temos que, independente do nome do tradutor:
1. está demonstrado que as edições da claret não são as mais baratas.
2. foi bem lembrado que não são edições de conteúdo fidedigno.

o terceiro ponto, não sei bem como colocar. é meio difuso. uma vez falei em
"bagagem cultural", mas a metáfora de "bagagem" me faz pensar numa mala que você
abre e vai pondo coisas dentro, e que depois carrega consigo. não é isso que quero
dizer. para mim, é mais uma espécie de lar no mundo, onde posso ter referências e
me sentir mais ou menos à vontade. vou dar um exemplo, pegando justamente o mito
do preço III.

acho sensacional que o brasil disponha de uma tradução das regras do método
sociológico feita por maria isaura pereira de queiroz. tudo bem, não se precisa
saber quem é, em termos intelectuais, maria isaura ou sequer quem foi e continua a
ser durkheim para o mundo do pensamento. tem lá o livro, o professor manda ler, a
gente vai e lê. que chatice. não se entende nada, ou é árido demais, em todo caso
é uma tarefa escolar, bate-se o cartão e pronto.

outro dia, alessandro martins, do livro e afins, pegou muito bem esse ponto. ele
não é novinho, mas também não é velhinho. e dizia: tive de estudar a escola de
frankfurt na faculdade, sabia que era importante, mas detestava aquilo, só que uma
passagem do benjamin me pegou, e vejam só o que achei nesses dias, aquele trecho
do benjamin sobre o anjo da história, que coisa linda.

então é meio isso. você é jovem, tem que ler umas coisas, lê por obrigação. dez,
quinze anos depois, você topa com aquilo de novo, e tem um clique, faz um sentido
que não fazia antes, é legal. você reconhece, e você se reconhece, e você se
reconhece no mundo. você reconhece porque conheceu antes, você se reconhece porque
você lembra aquilo e se lembra naquilo ou com aquilo, e você se reconhece no mundo
porque aquilo continua a existir e de alguma maneira agora faz parte de você
também, e você se sente um pouco mais "aconchegado", um pouco mais referenciado, e
ao mesmo tempo um pouco mais ligado ao que está fora de você, tudo isso meio junto
ao mesmo tempo, e de maneira muito difusa e discreta.

você lê as regras do método. nem vê quem traduziu ou deixou de traduzir. mas no


resumo ou na prova ou de alguma outra maneira aquele nome "maria isaura" fica
vagamente, indistintamente na tua cabeça. dois semestres depois, você tem uma
cadeira tediosíssima sobre, sei lá, relações de tipo patriarcal no brasil, e tem
lá uma referência a um livro, mandonismo local, maria isaura. você cumpre os
créditos, tira A, B ou C, passa, tudo bem. nesse meio tempo você vai fazendo
outras cadeiras, e pode até ser que você acabe gostando por acaso de alguma coisa.
você vai, faz alguma dissertação de final de curso ou vai para o mestrado, resolve
estudar a disciplinarização social ou coisas que tais. aí você topa com uma
socióloga brasileira que apontava a importância do discurso científico para a
repressão social, e acha interessante. vai ver, é maria isaura pereira de queiroz.

e você, mesmo que não conheça a obra dela, não se sente totalmente perdido ou meio
idiota por nunca ter ouvido falar nela, sente uma espécie de longínqua
familiaridade que te ajuda a raciocinar melhor, a ficar mais à vontade no mundo do
pensamento, coisas assim. e n o final do dia você se sente feliz porque o dia
rendeu, amanhã você vai ver aquele outro ponto, ou vai reler o que anotou hoje
etc. você se sente grato ao mundo por ele não ser demasiado inóspito. claro que
nem vai perceber muito como se sente e menos ainda atribuir teu estado de espírito
a ter reconhecido o nome de maria isaura ou o que seja. você apenas vai passar bem
o dia, e se sentir satisfeito ao final dele. e talvez trinta anos depois você
fique impressionado com o alto nível das pessoas que traduziam as obras que você
lia na adolescência, e se dê conta retrospectivamente que afinal foi um bom acaso
você ter escolhido aquele volume, e não um outro de um tal pietro nassetti, que te
daria, para tua vida, para tua biografia íntima, para teus pensamentos, apenas
decepção ou, na melhor das hipóteses, nada.

pois tudo soma. o durkheim da maria isaura que você leu aos 18 anos no primeiro
semestre de curso, o mowgli do monteiro lobato, o baudelaire do jamil almansur, a
eneida do odorico mendes que vc achou do outro mundo de tão difícil, mas tão
encantadoramente exótico, o rimbaud do ivo barroso, o adorno/horkheimer do guido
almeida, ou até a hannah arendt da denise bottmann :)) - você não percebe, você só
lê. mas o mundo vai revelando uma certa consistência, e você não se sente perdido
demais, você tem referências, são soltas, avulsas, milhares, milhões de fiapinhos,
e elas se somam, se juntam às músicas que você conhece, às conversas que você tem,
às coisas que você faz, vão sendo você, e você se sente bem. é uma espécie de
identidade íntima. acho isso legal.

para mim, o preço do mito claretiano é perder ou não permitir criar referências.
parece-me um preço altíssimo, e que destrói qualquer amor-próprio.

imagem: chiho aoshima, creatures, http://www.blumandpoe.com/

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o mito do preço III
enfim, para encerrar a questão, um caso em que a edição fraudada da claret é
efetivamente mais barata do que a edição legítima da outra editora:

émile durkheim, as regras do método sociológico


tradução atribuída a pietro nassetti
R$ 10,50

se a questão é preço, não vejo por que comprá-la se posso comprar a edição da
companhia editora nacional, na famosa tradução de maria isaura pereira de queiroz,
a partir de R$ 4,90 na estante virtual, ou a edição dos pensadores da abril, na
tradução de margarida garrido esteves, que de quebra traz vários outros textos de
durkheim, a partir de R$ 13,50, também na estante virtual.

ou ainda se posso baixá-la gratuitamente na internet, a custo zero.

resumindo, não vejo por que hei de justificar as ishpertezas dos outros e dar meu
suado dinheirinho a ladrões, que ainda por cima me deixam mais pobre em informação
e cultura.

q.e.d.

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o mito do preço II
comentei no post anterior que não abordo questões comerciais, mas que fico
espantada com um argumento frequente, a saber, que as edições claretianas teriam
tanto sucesso por serem as mais baratas na praça. considero essa questão do
suposto preço baixo da claret um argumento falacioso, que faz parte de sua máquina
de propaganda e não corresponde à realidade.
maquiavel, o príncipe
martin claret
tradução: pietro nassetti
R$ 10,50

maquiavel, o príncipe
paz e terra
tradução: maria lúcia cumo
R$ 8,00
maquiavel, o príncipe
tradução: roberto grassi
bertrand brasil na estante virtual
R$ 5,00

maquiavel, o príncipe
download gratuito no portal domínio público
R$ 0,00

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o mito do preço I
ontem um gentil visitante comentou que o baixo preço dos livros da martin claret
era um fator que devia ser levado em conta. deixei minha resposta sob seu
comentário.

não costumo abordar esse lado comercial, mas é um argumento que se repete com
tanta frequência que merece ser esclarecido. creio que é falacioso, e faz parte da
máquina de propaganda claretiana. acho mais fácil mostrar do que discorrer:

REI LEAR, O
KING LEAR
William Shakespeare
Tradução de Millôr Fernandes
R$ 10,00

REI LEAR - William Shakespeare


R$ 10,50
[não consta o tradutor no site, mas em meu exemplar consta "pietro nassetti"]

Rei Lear - William Shakespeare


R$ 4,00 Círculo do Livro, 1987 - estante virtual
O Rei Lear - William Shakespeare
R$ 4,00 LPM, 1997 - estante virtual
download gratuito no portal domínio público do mec
tradução de carlos alberto nunes
R$ 0,00
então, até onde entendo, a edição da martin claret, além de ser a pior, por
cultivar a ignorância do leitor, por detonar com nosso patrimônio cultural, não é
de forma alguma a opção mais barata.

imagens: www.lpm.com.br; www.martinclaret.com.br

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25/03/2009
as voltas que o mundo dá
costumo contatar diretamente todas as editoras, entidades, instituições que cito
aqui no nãogosto. além disso, elas estão em sua maioria incluídas na mala direta
que envio a cada 7-10 dias, com resumo das notícias, para umas mil pessoas. se a
mensagem cai como spam, se as pessoas deletam, se leem ou não leem, aí já não é
comigo. considero que minha parte - informar - estou fazendo.

ao longo desse ano e meio de briga contra o plágio, tive alguns contatos
esporádicos com a nova cultural, cobrando, tentando me informar das providências
etc. a editora sempre manteve uma atitude bastante altaneira e autossuficiente, e
em dado momento até um pouco hostil. hoje fiquei surpreendida com um e-mail muito
afável que recebi de cristiane mutus, a negociadora da nova cultural, perguntando
se eu tinha interesse em receber exemplares dos pensadores para os cotejos, se
havia algo mais em que a empresa pudesse colaborar, avisando que havia despachado
para mim várias edições da república de platão, e até me agradecendo ao final do
e-mail.

bom, não tenho nem quero ter rabo preso com ninguém. só não gosto de plágio, e
ponto. mas que achei engraçado, isso lá achei.

imagem: www.uwlax.edu

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aufklärung digital II
ontem veio a posição do sr. jacó guinsburg liberando gentilmente a tradução de o
discurso do método de descartes, para ser digitalizada e disponibilizada online. a
gentil autorização da família de bento prado jr. está em aufklärung digital I,
onde se encontram também todos os links para esse caso. para quem não acompanhou,
trata-se resumidamente de substituir a infame fraude de o discurso do método na
coleção "os pensadores" da nova cultural, em nome de "enrico corvisieri",
disponível para download em todas as bibliotecas virtuais do país.

possa o bom exemplo vingar.

imagem: matisse, guache recortado, jazz, n. 18, flickr

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zumbi trapalhares (cont.)
sou informada de que minha encarecida solicitação ao ministério público para que
bote um pouco de bom senso na cabeça da pilatística british lady (fundação
biblioteca nacional em sua agê ncia do isbn), aquela que cadastra as ridículas
fichas da martin claret, com pietro nassetti como tradutor de machado de assis e
quetais, foi encaminhada à procuradoria do rio de janeiro.

a ver.

imagem: fotosdahora.com.br

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24/03/2009
pós-babel

cadê o revisor deu uma linda notinha.


obrigada, pablo! e não é verdade?

imagem: um fragmento da septuaginta, kennislink.nl

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listinha dos plagiados
atualizo a listinha dos tombados à sanha dos bandoleiros conforme vou publicando
os cotejos que faço ou os informes que recebo. ela fica em duas partes: uma no
cabeçalho do blog e outra num post chamado "outras vítimas", com link em "clique
para ver", na coluna da direita.

mas acho que não custa apresentá-la com sua última atualização. muito, muito
infelizmente até hoje não consegui tirar nenhum nome. os candidatos mais fortes
seriam:

1. joão paulo monteiro, com o leviatã de hobbes garfado pela martin claret sob o
nome de "jean melville", para o qual até soltei um foguetinho. segundo o que dra.
maria luiza egéa, advogada da martin claret, me disse em setembro do ano passado e
me autorizou a usar como fiel informação, sua cliente estaria fechando um acordo
com a editora lesada, a martins fontes, e indenizaria o tradutor. de fato a martin
claret até publicou outra tradução, mas fez o favor de NÃO retirar o plágio de
circulação. tampouco publicou qualquer retificação dos créditos em errata pública,
com vistas a esclarecer os leitores que haviam comprado muitas dezenas e dezenas
de milhares da fraude. a sociedade, portanto, continua ludibriada em sua boa-fé e
atropelada pela incontrolável vigarice da martin claret.

2. luiz costa lima, com o vermelho e o negro de stendhal, garfado pela nova
cultural sob o nome de "maria cristina figueiredo da silva" desde 1995, na coleção
"os imortais da literatura", até recentemente, nas sucessivas reedições pela
coleção "obras-primas", em parceria com o instituto ecofuturo. seu advogado, dr.
marco túlio de barros castro, chegou a um acordo com a editora, a qual ressarciu o
tradutor e até publicou uma pífia errata na imprensa. o nome de luiz costa lima
continua na listinha porque acho que nenhum leitor deve ter visto a retificação e
nenhuma biblioteca deve ter se dado conta. calculo por baixo, por baixo, uns 150
mil exemplares assim. como o principal lesado é o leitor, é a sociedade, falta
ainda uma verdadeira reparação, substituindo os exemplares fraudados por obras
legítimas, e uma errata decente que possa preencher - ah, conselheiro acácio - sua
finalidade de errata.

então segue a listinha atualizada até o cotejo de ontem.

adolfo casais monteiro


antônio pinto de carvalho
araújo nabuco
artur morão
bento prado jr.
blásio demétrio
boris schnaiderman
brenno silveira
carlos chaves
carlos porto carreiro
casimiro fernandes
cunha medeiros
de souza fernandes
eça de queiroz
éverton ralph
fernando de aguiar
galeão coutinho
godofredo rangel
hernâni donato
isabel sequeira
jacó guinsburg
jaime bruna
jamil almansur haddad
joão ângelo oliva neto
joão baptista de mello e souza
joão paulo monteiro
joaquim machado
josé augusto drummond
josé duarte
leila v. b. gouvêa
leonel vallandro
leonidas hegenberg
líbero rangel de andrade
ligia junqueira
lívio xavier
luísa derouet
luiz costa lima
manuel odorico mendes
margarida garrido esteves
maria beatriz nizza da silva
maria francisca ferreira de lima
maria helena rocha pereira
maria irene szmrecsányi
mário quintana
moacyr werneck de castro
modesto carone
monteiro lobato
natália nunes
neide smolka
octany silveira da mota
octavio mendes cajado
olinda gomes fernandes
oscar mendes
paulo m. oliveira
péricles eugênio da silva ramos
ricardo iglésias
rodrigo richter
sarmento de beires
sérgio milliet
silvio deutsch
silvio meira
sodré viana
suely bastos
tamás szmrecsányi
vera pedroso
wilson lousada
ymaly salem chammas

alguns desses casos sofreram mais de um saque. por exemplo: monteiro lobato,
octavio mendes cajado, paulo m. oliveira, oscar mendes, mário quintana, j.b. mello
e souza.

imagem: saphan, pierre reymond, 1578

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