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P A R E C E R

JOSÉ AUGUSTO DELGADO – Parecerista. Consultor.


Advogado. Magistrado durante 43 anos.
Especialista em Direito Civil. Ministro
Aposentado do STJ. Ex-Ministro do Tribunal
Superior Eleitoral. Doutor Honoris Causa pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Idem pela Universidade Potiguar do RN.
Acadêmico da Academia Brasileira de Letras
Jurídicas. Acadêmico da Academia Brasileira de
Direito Tributário. Acadêmico da Academia de
Direito Tributário das Américas. Acadêmico da
Academia Norteriograndense de Letras.
Acadêmico da Academia de Direito do Rio Grande
do Norte. Professor Aposentado da UFRN.
Professor convidado do Curso de Especialização
do CEUB – Brasília. Ex-Professor da
Universidade Católica de Pernambuco. Ex-Juiz
Estadual. Ex-Juiz Federal.

1.A CONSULTA

A COOPERATIVA MÉDICA DO RIO GRANDE DO NORTE –


COOPMED/RN, a ASSOCIAÇÃO DOS MÉDICOS DO RN E O
SINDICATO DOS MÉDICOS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO
NORTE, por seus diretores, solicita-nos parecer
jurídico sobre fatos que descreve do modo que,
resumidamente, passamos a apresentar:

a) O Estado do Rio Grande do Norte há mais


de dez anos vem celebrando negócios
jurídicos bilaterais (contratos) que
obrigam a Cooperativa consulente à
prestação de serviços médicos cirúrgicos
e intervencionistas, por seus
associados, aos usuários do SUS, nas
especialidades de cardiologia
(Arritimologia, Hemodinâmica e Cirurgia
Cardíaca), Cirurgia Cardiovascular,
Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Cirurgia
Oncológica Ginecologia, Mastologia,

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Otorritonolaringologia e Urologia),
Cirurgia Pediátrica, Cirurgia Plástica,
Cirurgia Torácica, Cirurgia Vascular,
Cirurgia Geral, Neurocirugia e
Ortopedia, bem como a regular prestação
de plantões e procedimentos eletivos.

b) As obrigações contratuais da Cooperativa


consulente são todas de natureza médica
e prestadas, também, em regime de
plantão presencial de 12 (doze) horas
efetivamente trabalhadas, tendo como
local unidades hospitalares indicadas
pelo Estado contratante, compreendendo,
também, procedimentos seletivos.O objeto
fundamental da contratação sempre foi o
de complementar financeiramente a
prestação de seérviços ao SUSsulente, a
fim de atender aos usuários do sistema
por ele administrado e executado pelos
SUS nos hospitais e clínicas
credenciados e convencionados pelo
sistema universal de assistência à
saúde.

c) Os contratos em questão foram sempre


firmados com base no art. 25 da Lei n.
8.666, de 1993, que ampara, no caso, a
inexigibilidade de licitação, sem nunca
terem sofrido qualquer impugnação do
Tribunal de Contas, do Ministério
Público e de quaisquer outras pessoas
públicas ou privadas.

d) Ocorreu que, em 31.12.2008, com o


término do prazo do último contrato
celebrado, o Estado do Rio Grande do
Norte, não obstante a absoluta
imperiosidade dos serviços médicos
continuarem a ser prestados, pela
necessidade de não se interromper a
proteção à saúde dos usuários do SUS,
resolveu não renová-los, apontando como
motivação ter recebido comunicação do

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Ministério Público Estadual para assim


agir, tendo em vista tal instituição ter
manifestado opinião no sentido de serem
ilegais os mencionados pactos, sob a
alegação de que os serviços de proteção
da saúde médicos acima referidos só
poderemm ser prestados por profissionais
médicos servidores públicos vinculados
ao Poder Público mediante concurso.

Os A consulentes, em face do panorama acima


descrito, formulam os seguintes questionamentos:

I – Há amparo jurídico para a existência,


validade e eficácia dos contratos de
prestação de serviços médicos que a
Cooperativa firmou, em nome dos seus
associados, com o Estado do Rio Grande
do Norte e a Prefeitura Municipal?

II – Os princípios e diretrizes
constitucionais e infraconstitucionais
aplicados ao SUS permitem a firmação de
contratos e convênios com pessoas
jurídicas de direito privado para a
prestação de serviços médicos e
hospitalares, em face da insuficiência
do Poder Público em executá-los em
benefício da clientela que está
subordinada ao referido sistema?

III – As cooperativas de trabalho


legalmente constituídas podem sofrer
limitações, em suas atividades, impostas
por agentes públicos, especialmente pelo
Ministério Público?

IV – A prática do cooperativismo é
estimulada, no Brasil, pela Constituição
Federal?

V – Qual o alcance das recomendações


expedidas pelo Ministério Público no
sentido do Estado do Rio Grande do Norte
não renovar os contratos de prestação de

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serviços médicos com a Cooperativa


consulente?

VI – Quais os efeitos jurídicos da não


renovação dos mencionados contratos
terem provocado estado de calamidade
pública na saúde da população do Estado
do Rio Grande do Norte, conforme
reconhecido pelo Poder Executivo em
decreto expedido?

VII – Há outros aspectos jurídicos


relevantes que devem ser considerados em
torno do fato do Estado do Rio Grande do
Norte não ter renovado os contratos
acima indicados?

Passamos, a seguir, a expor o nosso


entendimento, com base na interpretação que
fazemos do nosso sistema legal, sobre as questões
apresentadas pelosa consulentes, respondendo, ao
final, ao que nos foi questionado.

2. A EVOLUÇÃO DO COOPERATIVISMO NO MUNDO E NO


BRASIL.

A Ciência Jurídica tem investigado, de forma


profunda, a evolução crescente do movimento
cooperativista no mundo, atestando os benefícios
que esse sistema de circulação de riquezas e de
produção de trabalho tem produzido para as
economias dos povos civilizados.

É necessário, para bem se compreender a


importância do cooperativismo na era
contemporânea, que sejam relatados, primeiramente,
os fatos que lhe deram origem, situando-os no
espaço e no tempo.

A história registra que, na antiguidade, os


seres humanos praticaram formas de cooperação ou
de ajuda mútua nos seus relacionamentos
econômicos. Os babilônios, por exemplo,
exploravam, em comunidade, terras arrendadas,
enquanto gregos e romanos constituíram sociedades
de auxílio-mútuo para funerais. Os cristãos, na

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época antes de Cristo, destinavam pessoas que, em


grupos formados, tinham por missão guardar gêneros
alimentícios, adotando um sistema muito aproximado
com o atualmente seguido pelas cooperativas de
consumo.
Não obstante essas demonstrações de
solidariedade por parte dos antigos, a realidade
retrata que as cooperativas surgiram com o
alvorecer do capitalismo, ganhando espaço na época
da Revolução Industrial (século XVIII), tendo como
berço a Inglaterra. Os fenômenos que determinaram
o surgimento das cooperativas são explicados, com
bastante clareza, por Arilson Favareto, no artigo
“Uma Introdução à História do Cooperativismo”,
publicado no site http://www.escolanet.com.br.
Informa o referido doutrinador:

“Mas é somente com o surgimento do


capitalismo que nascem também as
cooperativas tal qual as conhecemos hoje.
A Revolução Industrial, que acontece na
Inglaterra, na metade do século XVIII,
cria as condições que levaram ao
surgimento das primeiras cooperativas: os
trabalhadores das manufaturas da época
eram qualificados e possuíam associações
de ofício, que controlavam o exercício
profissional; com a introdução das
máquinas, estes trabalhadores começaram a
sofrer a competição das fábricas, que
empregavam pessoas não qualificadas, e
produziam produtos mais baratos do que os
artesanais.
O desdobramento natural de tal
situação estava no fato de que, em pouco
tempo, grandes contingentes de
trabalhadores ficariam sem trabalho. As
associações fizeram de tudo para impedir
que as máquinas tirassem o sustento de
seus membros. Ações clandestinas violentas
– como a quebra das máquinas – foram
reprimidas com vigor. Ao mesmo tempo,
Robert Owen, um dos precursores do
socialismo, argumentava que a indústria,
em si, era benéfica, pois barateava os
bens de consumo, mas argumentava também

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que as fábricas deveriam ser colocadas sob


o controle dos trabalhadores, e que os
resultados do trabalho em comum deveriam
ser repartidos igualmente. Owen propunha
ainda que, ao redor das fábricas, se
formassem aldeias cooperativas, em que os
meios de produção seriam possuídos e
geridos coletivamente.
Durante sua vida Owen criou várias
aldeias com este caráter, uma nos EUA e as
demais na Inglaterra. Na primeira metade
do século XIX o owenismo tornou-se um
movimento de massas na Inglaterra e passou
a inspirar o nascente movimento das trade-
unions. Owen tornou-se uma expressiva
liderança das lutas operárias e passou a
orientar os sindicatos a formar
cooperativas de produção, visando disputar
o mercado dos capitalistas.
Nesta época, centenas de cooperativas
foram formadas e em diversas ocasiões os
sindicatos tentaram levar adiante a
estratégia preconizada por Owen. A reação
dos capitalistas, claro, não tardou: foi
organizada uma violenta ofensiva contra as
organizações dos trabalhadores:
trabalhadores com ligações com o movimento
operário foram expulsos das empresas;
listas com os nomes dos ativistas
circulavam para impedir-lhes que
conseguissem emprego; os trabalhadores
eram obrigados a assinar uma promessa de
jamais se filiar a um sindicato.
Com isso, parte dos sindicatos teve
de fechar e outros passaram à
clandestinidade. Com o declínio do
movimento operário, muitas cooperativas
também encerraram suas atividades. Mas, em
1844, um pequeno número de trabalhadores
industriais fundou em Rochdale, um
importante centro têxtil, uma cooperativa
de consumo que eles chamaram “A sociedade
dos pioneiros eqüitativos”. Eram todos
militantes operários owenistas ou
cartistas (partidários de um grande
movimento da época que lutava pelo

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sufrágio universal masculino). Apoiados na


experiência das décadas anteriores, eles
adotaram oito princípios como base de sua
organização. Estes mesmos oito princípios
inspirariam por muito tempo ainda a
organização de cooperativas por todo o
mundo”.

Os princípios que foram pregados pelos


Pioneiros de Rochdale e que hoje estão presentes
no sistema cooperativista são os seguintes:

a)A Sociedade seria governada


democraticamente, cada sócio tendo um
voto, independentemente do capital que
tenha investido.

b)A Sociedade seria aberta a qualquer


pessoa que quisesse se associar, desde
que integralizasse uma quota mínima,
igual para todos, de capital.

c)Sobre a divisão do excedente, o capital


seria remunerado a uma taxa fixa de
juros.

d)Sobre o critério a ser adotado para


divisão do excedente, de que trata a
regra anterior: o excedente que sobra
depois de remunerado o capital deveria
ser distribuído entre os sócios conforme
o valor de suas compras.

e)A Sociedade só venderia à vista.

f)A Sociedade deveria apenas vender


produtos puros e de boa qualidade.

g)A educação dos sócios seria um dos


princípios da Sociedade.

h)A Sociedade deveria ser neutra política


e religiosamente.

Lembra, ainda, Arilson Favereto, artigo


citado, que o cooperativismo, desde o seu

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surgimento, tem evoluído em todos os países do


mundo, tendo, hoje, importante participação na
constituição do PIB de cada região onde ele atua.
Registramos sobre essa evolução os comentários do
celebrado autor:

“A Sociedade dos Pioneiros começou a


funcionar muito modestamente, em 1844, com
capital de 28 Libras, coberto em parte por
um empréstimo do sindicato dos tecelões.
Um ano depois o quadro de sócios já tinha
aumentado de 28 para 74. Durante os
primeiros anos, o crescimento foi modesto,
mas em 1849 o Rochdale Savings Bank faliu,
o que fez com que muitos ex-depositantes
se associassem aos Pioneiros. O número de
sócios subiu de 140, em 1848, para 390 no
ano seguinte.
À esta época, a inspiração maior do
movimento cooperativo era claramente
socialista associacionista. A organização
das cooperativas estava ligada a um
objetivo maior, que era a construção de
uma sociedade mais eqüitativa e justa.
Além do próprio Owen, outros nomes
importantes ligados a estas idéias foram
seus discípulos Thompson e Cabet, ou dos
chamados socialistas utópicos franceses
Fourier e Blanc.
A partir da segunda metade do século
XIX o cooperativismo separou-se do
socialismo associacionista (ou utópico).
Isso se deu quando os socialistas
marxistas repudiaram o associacionismo,
criticando as cooperativas como
insuficientes para a emancipação do
assalariado e contrárias ao programa
comunista. Os marxistas alegavam que
somente pequenos grupos de operários eram
libertados do julgo do capital,
transformando-se em burgueses.
Ainda no final do século XIX ocorre
um novo surto de expansão do
cooperativismo, sobretudo na Europa
Ocidental e na América do Norte, motivados
pela ocorrência de crises econômicas e a

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necessidade de respostas ao conseqüente


problema do desemprego.
Durante o século XX, o pleno emprego,
que perdurou durante aproximadamente
trinta anos após a Segunda Guerra Mundial,
aliado às conquistas salariais e de
direitos sociais que os trabalhadores
obtiveram no período, fez com que o
interesse pelo cooperativismo diminuísse.
Mas isso não quer dizer que ele deixou de
existir, bem ao contrário: consolidaram-se
não só antigas cooperativas como surgiram
muitas novas e em diferentes ramos, como
se verá adiante. De outro lado, nos países
socialistas desenvolveu-se um intenso
movimento de cooperativização e
coletivização, porém, na maioria das vezes
ela foi conduzida de uma maneira
verticalizada, onde o Estado acabava
substituindo o papel do empregador.
O final do século XX, principalmente
a partir dos anos setenta, é palco de uma
nova retomada do movimento cooperativista.
As transformações tecnológicas com a
introdução de máquinas e técnicas de
gestão que poupam força de trabalho,
associada ao desmonte de políticas
sociais, fizeram com que as cooperativas
voltassem a ser vistas como alternativa ao
desemprego. Paralelamente, algumas das
mesmas transformações tecnológicas que
penalizaram os trabalhadores também
abriram importantes possibilidades de
novos mercados para as cooperativas.
É na virada para este último terço do
século que aqueles velhos princípios do
cooperativismo são retomados e
atualizados. No XXIII Congresso da Aliança
Cooperativa Internacional, em Viena, na
Áustria, eles ficaram assim estabelecidos:
1. Adesão livre. 2. Indiscriminação
social, política, religiosa e racial. 3.
Um homem, um voto. 4. Retorno das sobras.
5. Juro limitado ao capital. 6 Educação
permanente. 7. Cooperação
intercooperatiava.”

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A importância do cooperativismo como sistema


econômico e de prestação de serviços conduziu a
Organização das Nações Unidas a lhe dedicar
especial atenção, principalmente por ser uma entre
outras formas de contribuir para a consecução das
“Oito Metas para o Milênio” que estabeleceu a fim
de ajudar a diminuir a miséria e a pobreza no
mundo até 2015. Esta contribuição do
cooperativismo para o alcance dessa meta pela ONU
foi estudada pelo escocês Johnston Birchall em
seu livro “Cooperativas e as Metas de
Desenvolvimento do Milênio”, que foi lançado pela
Organização Internacional do Trabalho (OIT) em
parceria com a Committee for the Promotion and
Advancement of Cooperatives (Copac). O autor
destaca, na obra mencionada, o papel e o potencial
das cooperativas em ajudar para que as metas de
melhoria econômica e social do mundo sejam
alcançadas.

Na atualidade, a Organização das Nações Unidas


(ONU) “reconhece que as cooperativas desempenham
um papel importante no desenvolvimento econômico,
social e cultural das comunidades, promovendo a
mobilização das pessoas para reagirem contra o
problema do desemprego e da exclusão social”,
conforme informam os juristas que se voltam a
examinar a atuação de tão importante instituição.

O movimento das cooperativas nos cinco


continentes é coordenado pela Aliança Cooperativa
Internacional (ACI), “entidade que tem por
objetivo promover discussões em torno desse modelo
de organização de geração de trabalho e
desenvolvimento econômico e social e cultural das
comunidades, promovendo a mobilização das pessoas
para reagirem contra o problema do desemprego e da
exclusão social”, conforme reconhece a doutrina.

A ACI – Aliança Cooperativa Internacional foi


criada em 1895. É a entidade responsável pela
coordenação do cooperativismo no mundo. Ela, além
de representar as cooperativas, tem também o papel
de apoiar o seu desenvolvimento e integração do

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sistema cooperativista. Sediada em Genebra, Suíça,


a ACI é membro do Conselho das Nações Unidas –
ONU. Na América, as Cooperativas são representadas
pela OCA – Organização das Cooperativas das
Américas,com sede localizada em Bogotá, Colômbia,
órgão composto por 20 países, incluindo o Brasil.
, cuja sede localiza-se em Bogotá, Colômbia.

A importância do movimento cooperativista no


mundo e no Brasil foi realçado no dia 05 de julho
de 2008, quando mais de 800 milhões de pessoas em
todo o mundo comemoram sua data anual. Atualmente,
segundo a ONU, cerca de 3 bilhões de homens,
mulheres e crianças – metade da população mundial
– têm suas subsistências garantidas por meio de
cooperativas.

Realçado deve ser que, no tocante ao Brasil, o


cooperativismo tem avançado aceleradamente e ainda
há muito espaço para crescimento. Há 7,6 milhões
de filiados, por exemplo, às cooperativas rurais e
urbanas no Brasil. Já nos EUA há cerca de 150
milhões de cooperados e, na Índia, 250 milhões. No
campo, a produção gerada pelas cooperativas
brasileiras é de R$ 60 bilhões, o que corresponde
2,85% do PIB nacional. Nas cidades, as
cooperativas estão em diversas áreas do nosso dia-
a-dia, desde a reciclagem de lixo, a prestação de
serviços, consumo, crédito e até a organização de
eventos e execução de artes cênicas. As
cooperativas, no Brasil, proliferam-se também nas
áreas de saúde, educação, compra de alimentos,
aquisição de imóveis e obtenção de crédito. A
organização em cooperativas tornou-se, sobretudo,
a forma encontrada por milhares de pessoas para
inserir-se no mercado de trabalho e garantir a
fonte de renda para suas famílias, conforme tem
constatado os estudiosos do tema. São realidades
jurídicas que recebem forte incentivo do Estado
como Nação, conforme iremos a seguir demonstrar.

3. COOPERATIVAS. NATUREZA JURÍDICA E


FINALIDADES.

Cooperativa, na terminologia jurídica, designa


a organização ou a sociedade, constituída por

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várias pessoas, com o fito de melhorar ou


aprimorar a economia ou o trabalho dos seus
associados.

Na sua composição, a cooperativa adota,


ordinariamente, natureza civil e se classifica
como sociedade de pessoas e não de capitais.

Na vida de relações, constituem-se, com


freqüência, cooperativas destinadas ao
desenvolvimento (i) da produção agrícola e da
produção industrial, ao (ii) agrupamento de
profissionais, que dão origem às chamadas
cooperativas de trabalho, ao (iii) favorecimento
de compras e de vendas em comum, ao (iv)
beneficiamento de produtos, ao (v) abastecimento,
à (vi) melhoria das condições indispensáveis à
obtenção de crédito, ao (vii) seguro de pessoas,
de bens e de valores, à (viii) construção de casas
populares, (ix) à editoria de obras intelectuais e
à (xi) implantação de escolas, sem que se possa
dizer que esse elenco, a despeito de variado e
extenso, esgote o rol das atividades que ensejam a
agregação de pessoas, nos moldes instituídos pela
Lei nº 5764, de 1971, e pelo Código Civil, arts.
1093 a 1096.

A agregação sob forma cooperativa, que cresce,


de forma avassaladora, em todos os continentes e,
em especial, no Brasil e nos demais países
latinos, tem, como característica primordial,
proeminente e principal, a proscrição de lucros,
que não podem, sob nenhum pretexto, ser apurados e
distribuídos entre os cooperados, como ressai, com
absoluto coeficiente de certeza, do discurso
pronunciado pela Lei nº 5764, de 1961, art. 3º.

Assinalam as sociedades cooperativas, também,


outros traços enumerados pelas normas legais de
regência, que afastam, desenganada e
incontornavelmente, a motivação finalística dos
cooperados da obtenção, por qualquer deles, de
proveito econômico conceituável como lucro.

Assim, as sociedades em comento conformam-se:

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(i) pela variabilidade ou dispensa do capital


social. Em razão da variabilidade, o capital pode
aumentar ou diminuir, caso se admitam novos sócios
ou se excluam sócios antigos. De qualquer forma, o
capital, quando declarado, funciona como índice de
responsabilidade, que pode ser limitada, se o
cooperado é chamado a responder pelo valor de suas
cotas e pelo prejuízo verificado nas operações, de
modo proporcional à sua participação em tais
operações, ou ilimitada, se o associado responde,
sem limitação, pelas obrigações sociais (Código
Civil, art. 1095, §§ 1º e 2º);

(ii) pela limitação da soma das cotas que cada


sócio pode titular;

(iii) pela intransferibilidade das cotas,


ainda que por herança, a terceiros estranhos à
sociedade;

(iv) pelo quorum, necessário ao funcionamento


e à tomada de deliberações pela assembléia geral,
que se apura a partir do número de presentes à
reunião, sem dependência do capital representado;

(v) pelo direito de cada sócio a um só voto,


nas deliberações afetas à assembléia geral,
qualquer que seja o valor de sua cota;

(vi) pela distribuição dos resultados, em


proporção ao montante das operações realizadas
pelo sócio com a sociedade;

(vii) pelo impedimento à repartição do fundo


de reserva entre os sócios, mesmo em caso de
dissolução da sociedade; e

(viii) pela área de atuação, pois à sociedade


é defeso, de modo terminante, estender a sua
atividade além dos limites em que, naturalmente,
possa exercer o seu controle, ou tenha condições
de reunir os seus associados.

Essas características, em seu conjunto,


mostram que as sociedades cooperativas
comprometem, irremediavelmente, os seus

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integrantes com os objetivos por elas visados,


decorrendo, dessa asserção, que os cooperados, à
oportunidade de sua constituição e ao longo de
toda a sua existência, são animados por uma
motivação finalística, que prepondera sobre os
resultados provenientes da atividade comum. Essa
verdade, que se extrai não somente da lei, mas,
também, das realidades que se espraiam sobre os
diferentes espaços físicos e as diversas
ambiências sociais, evidenciam que o
cooperativismo não somente ajuda a movimentação do
Estado, mais ainda, por, enquanto modalidade de
atuação associativa, esse fenômeno exsurge como
instrumento apto a levar à coletividade, os
serviços que o Poder Público deve prestar sob o
timbre da eficiência, da diuturnidade e de serem
fundamentais à saúde dos cidadãos e à vida humana.

4. O COOPERATIVISMO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DO


BRASIL DE 1988 E NA LEGISLAÇÃO
INFRACONSTITUCIONAL.

A Constituição Federal, art. 174, § 2º, manda


que a lei, com exclusão de qualquer outra
alternativa, estimule e apóie o cooperativismo,
que, por força desse mandamento, passou a ser uma
das vigas mestras da atividade econômica que
viceja no Estado brasileiro, pois, do contrário, a
função legislativa estaria exonerada dos deveres
de fomentá-lo e de respaldá-lo, os quais, em
virtude da cogência reconhecida aos preceitos
incorporados à Carta Política, não devem ser
vistos, estudados, analisados e interpretados como
promessas vagas, estéreis e inconseqüentes.

A dicção do art. 174, § 2º, da Lex Legum, que


emana, direta e imediatamente, do postulado da
dignidade humana (art. 1º, III, CF) e do princípio
da liberdade de associação para fins lícitos (CF,
art. 5º, XVIII), ressalta dúplice dimensão: (i)
uma, de caráter individual, que se encerra no
direito de criar ou de aderir à cooperativa
preexistente, de nela permanecer ou dela sair,
quando conveniente ao associado; (ii) outra, de
caráter social, que impõe, ao Poder Público, a
obrigação indeclinável de reconhecer, valorizar,

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incentivar o surgimento e velar, por todos os


meios, pela existência dos entes cooperativos,
pois, sem deixar qualquer margem de discrição ao
administrador, é isso o que quer a Carta Política.

A mensagem constitucional, portanto, é de


prestigiar o máximo as atividades das
cooperativas, dando-lhe suporte jurídico e não
permitindo que lhes sejam impostas quaisquer
restrições no desempenho dos seus objetivos por
qualquer agente público, incluindo-se, em tal
contexto, o Ministério Público.

Toda a sistemática posta na Constituição


Federal regulando o cooperativismo está voltada
para homenagear e aprimorar os valores que o
cercam: a) Ajuda Mútua e Responsabilidade; b)
Democracia; c) Igualdade; d) Equidade; e)
Solidariedade; f) Honestidade; g) Transparência e
h) Responsabilidade Social.

Não é demais lembrar que, além do art. 174, §


2º, da CF, obrigando o Poder Público a estimular o
cooperativismo no Brasil, o mesmo diploma maior,
em seu art.146, III, “c”, impõe que seja dado, por
Lei Complementar, tratamento tributário adequado
ao ato cooperativo praticado pelas sociedades
cooperativas. Há, ainda, que se considerar que a
associação em cooperativas constitui um direito
fundamental do cidadão, conforme acima
demonstrado.

No campo infraconstitucional, o regime


cooperativista é regido pela Lei n. 5.764, de 16
de dezembro de 1971, e pelo Código Civil de 2002.
A Lei n. 5.764, de 1971, define a Política
Nacional de Cooperativismo, institui o regime
jurídico das sociedades cooperativas e dá outras
providências. Do seu conteúdo, destacamos para
registro os dispositivos seguintes:
a) O art. 1º que estabelece a Política
Nacional de Cooperativismo ao determinar
que: Art. 1° “Compreende-se como
Política Nacional de Cooperativismo a
atividade decorrente das iniciativas
ligadas ao sistema cooperativo,

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originárias de setor público ou privado,


isoladas ou coordenadas entre si, desde
que reconhecido seu interesse público.”
b) O art. 2º e seu parágrafo único que
fixam as atribuições do Governo Federal
no sentido de estimular o
cooperativismo. Impõe a postura
seguinte: Art. 2° “As atribuições do
Governo Federal na coordenação e no
estímulo às atividades de cooperativismo
no território nacional serão exercidas na
forma desta Lei e das normas que
surgirem em sua decorrência.” Parágrafo
único. “A ação do Poder Público se
exercerá, principalmente, mediante
prestação de assistência técnica e de
incentivos financeiros e creditórios
especiais, necessários à criação,
desenvolvimento e integração das
entidades cooperativas.”
c) O art. 3º que, expressamente, após
definir o contrato de sociedade
cooperativa como sendo de pessoa,
estabelece que tal forma de associação
não pode ter o lucro como objetivo: Art.
3° “Celebram contrato de sociedade
cooperativa as pessoas que
reciprocamente se obrigam a contribuir
com bens ou serviços para o exercício de
uma atividade econômica, de proveito
comum, sem objetivo de lucro”.
d) O art. 4º que afirma serem as
cooperativas sociedades de pessoas,
“com forma e natureza jurídica próprias,
de natureza civil, não sujeitas à falência,
constituídas para prestar serviços aos
associados, distinguindo-se das demais
sociedades pelas seguintes
características:
I - adesão voluntária, com número
ilimitado de associados, salvo
impossibilidade técnica de prestação de
serviços;
II - variabilidade do capital social
representado por quotas-partes;
III - limitação do número de quotas-partes

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do capital para cada associado, facultado,


porém, o estabelecimento de critérios de
proporcionalidade, se assim for mais
adequado para o cumprimento dos
objetivos sociais;
IV - incessibilidade das quotas-partes do
capital a terceiros, estranhos à sociedade;

V - singularidade de voto, podendo as


cooperativas centrais, federações e
confederações de cooperativas, com
exceção das que exerçam atividade de
crédito, optar pelo critério da
proporcionalidade;
VI - quorum para o funcionamento e
deliberação da Assembléia Geral baseado
no número de associados e não no
capital;
VII - retorno das sobras líquidas do
exercício, proporcionalmente às
operações realizadas pelo associado,
salvo deliberação em contrário da
Assembléia Geral;
VIII - indivisibilidade dos fundos de
Reserva e de Assistência Técnica
Educacional e Social;
IX - neutralidade política e
indiscriminação religiosa, racial e social;
X - prestação de assistência aos
associados, e, quando previsto nos
estatutos, aos empregados da
cooperativa;
XI - área de admissão de associados
limitada às possibilidades de reunião,
controle, operações e prestação de
serviços”.
e) A dissolução das cooperativas só pode
ocorrer como definido nos art. 63 e 64
que ditam: Art. 63. “As sociedades
cooperativas se dissolvem de pleno
direito:

I - quando assim deliberar a Assembléia


Geral, desde que os associados,
totalizando o número mínimo exigido por

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esta Lei, não se disponham a assegurar a


sua continuidade;

II - pelo decurso do prazo de duração;

III - pela consecução dos objetivos


predeterminados;

IV - devido à alteração de sua forma


jurídica;

V - pela redução do número mínimo de


associados ou do capital social mínimo se,
até a Assembléia Geral subseqüente,
realizada em prazo não inferior a 6 (seis)
meses, eles não forem restabelecidos;

VI - pelo cancelamento da autorização


para funcionar;

VII - pela paralisação de suas atividades


por mais de 120 (cento e vinte) dias.
Parágrafo único. A dissolução da
sociedade importará no cancelamento da
autorização para funcionar e do registro.

Art. 64. “Quando a dissolução da


sociedade não for promovida
voluntariamente, nas hipóteses previstas
no artigo anterior, a medida poderá ser
tomada judicialmente a pedido de
qualquer associado ou por iniciativa do
órgão executivo federal”.

f) A definição de atos cooperativos


expressada pelo art. 79 assim redigido:
Art. 79. “Denominam-se atos
cooperativos os praticados entre as
cooperativas e seus associados, entre
estes e aquelas e pelas cooperativas
entre si quando associados, para a
consecução dos objetivos sociais.

Parágrafo único. O ato cooperativo não


implica operação de mercado, nem
contrato de compra e venda de produto
ou mercadoria”.

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A Lei n. 5.764, de 1971, de onde destacamos os


dispositivos acima mencionados, é composta por 136
artigos que disciplinam o funcionamento das
cooperativas, a demonstrar que elas são realidades
jurídicas no sistema de direito brasileiro, pelo
que não podem sofrer limitações em suas atividades
pelo Poder Estatal, inclusive pelo Ministério
Público.

5. DISCIPLINA CONSTITUCIONAL DAS ATIVIDADES


ADMINISTRATIVAS DA SAÚDE. O SUS NA CF.

A Constituição, na cabeça do seu art. 6º,


considera a saúde como direito social, nivelando-
a, no particular, à educação, ao trabalho, à
moradia, ao lazer, à segurança, à previdência
social, à proteção à maternidade e à infância e à
assistência aos desamparados.

No art. 196, a Constituição estabelece uma


relação bipolar: ao tempo em que proclama que a
saúde é um direito de todos, cria, para o Estado,
o dever de torná-lo efetivo, dizendo-lhe,
impositivamente, que, para tanto, precisam ser
implementadas políticas sociais e econômicas,
capazes de (i) reduzir o risco de doença e de
outros agravos e de (ii) propiciar o acesso
universal e igualitário às ações e serviços
tendentes à sua promoção, proteção e recuperação.

O direito à saúde, de natureza fundamental,


conforma-se, portanto, como um direito público
subjetivo, exigível do Estado, que suporta o dever
de prestá-lo, sem que possa invocar, para dele
abster-se ou exonerar-se, a reserva do
financeiramente possível, conquanto saibam, os
seus dirigentes e os administrados, que ela
substancia uma condição de viabilidade dessa e de
todas as outras promessas constitucionais de igual
natureza (cfr. Gilmar Ferreira Mendes, Inocêncio
Mártires Coelho e Paulo Gustavo Gounet Branco, in
Curso de Direito Constitucional – IDP – Instituto
Brasiliense de Direito Público, 2ª ed., 2008,
págs. 1367/1368; e Sérgio Pinto Martins, in
Fundamentos de Direito da Seguridade Social, 6ª
ed., São Paulo, Atlas, pág. 156).

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Do direito à vida, que contempla a


generalidade dos seres humanos, resulta que, se
doente, a pessoa física deve receber um tratamento
condigno, compatível com o desenvolvimento e o
avanço científico e tecnológico das ciências
médicas, quaisquer que sejam as suas situaçõesão
econômicas e posição social, a menos que se deseje
elidir a valia da sua consignação em cláusulas
constitucionais.

José Afonso da Silva (cfr. in Comentário


Contextual à Constituição, Malheiros Editores, 2ª
ed., São Paulo, 2006, págs. 767/768, com grifos no
original) destacou, com inexcedíveis clareza e
precisão conceitual, os contornos do direito à
saúde e a sua relevância na ordem constitucional:

“A saúde é um direito fundamental do


ser humano, devendo o Estado prover as
condições indispensáveis ao seu pleno
exercício. Os conservadores criticam o
texto constitucional, sob o argumento de
que é impossível um direito à saúde,
porque não haveria como dar saúde, já que
esta é uma questão fisiológica que foge ao
arbítrio do Poder Público. Esse modo de
encarar o direito à saúde chega a ser
mesquinho e parco de sensibilidade. Gomes
Canotilho e Vital Moreira colocaram bem a
questão, pois, como ocorre com os direitos
sociais em geral, o direito à saúde
comporta duas vertentes, conforme anotam:
“uma, de natureza negativa, que consiste
no direito a exigir do Estado (ou de
terceiros) que se abstenham de qualquer
ato que prejudique a saúde; outra, de
natureza positiva, que significa o direito
às medidas e prestações estaduais visando
à prevenção das doenças e ao tratamento
delas.” Como se viu do enunciado do art.
196 – e se confirmará com a leitura dos
arts. 198 a 200 -, trata-se de um direito
positivo “que exige prestações do Estado e
que impõe aos entes públicos a realização
de determinadas tarefas (...), de cujo

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cumprimento depende a própria realização


do direito”, e do qual decorre um especial
direito subjetivo de conteúdo duplo: por
um lado, pelo não cumprimento das tarefas
estatais para a sua satisfação, dá
cabimento à ação de inconstitucionalidade
por omissão (arts. 102, I, “a”, e 103, §
2º); e, por outro, o seu não atendimento,
in concreto, por falta de regulamentação,
pode abrir pressupostos para a impetração
do mandado de injunção (art. 5º, LXXI)...”

A bipolaridade, anteriormente remarcada,


aproxima da perfeição a norma em comento, pois
tanto comete à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios o dever de assegurar a
saúde aos seus destinatários, como enumera as
prestações necessárias ao atingimento desse
desiderato, evitando, assim, que direito de
tamanha envergadura se convole em promessa
irrealizável.

O dever do Estado, de tornar ao alcance de


todos o acesso às ações de saúde, não se restringe
à recuperação ou à oferta da medicina curativa,
mas compreende, também, um plexo de serviços em
ordem a evitar a instalação do quadro patológico,
como se obtém da cláusula “...que visem à redução
do risco da doença e de outros agravos, inserta na
parte final do art. 196, da Constituição Federal.
É esta a importância da norma: a promoção e a
proteção de uma vida humana saudável, que,
juntamente com o restabelecimento da saúde,
enfeixam-se em um direito fundamental”.

Dos cometimentos prescritos ao Estado, pela


Constituição Federal, art. 196, nasce um direito
originário a prestações, de irrecusável
atendimento pelo Poder Público, que deve ser
satisfeito sempre que presentes, no mundo
fenomênico, conforme as notas tônicas arroladas
J.J Gomes Canotilho:

“Afirma-se a existência de direitos


originários a prestações quando: (1) a
partir da garantia constitucional de

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certos direitos (2) se reconhece,


simultaneamente, o dever do Estado na
criação dos pressupostos materiais
indispensáveis ao exercício efetivo desses
direitos; e (3) a faculdade de o cidadão
exigir, de forma imediata, as prestações
constitutivas desses direitos.” (cfr. in
Direito Constitucional, 6ª ed., Livraria
Almedina, Coimbra, 1995, pág. 543)

Demonstrada, com sólida radicação doutrinária,


a irrecusabilidade, pelo Estado, das prestações
compreendidas na locução ações de saúde, vejamos
como devem ser desenvolvidos os meios prescritos
pela Constituição Federal, art. 196.

Impende destacar, em primeiro plano, que se


inclui na competência concorrente da União, dos
Estados e do Distrito Federal, prover,
legislativamente, sobre “previdência social,
proteção e defesa da saúde (CF, art. 24, XII).

Pois bem: isso significa que, no campo da


saúde, a atividade legiferante da União está
limitada ao estabelecimento de normas gerais (CF,
art. 24, § 1º), cabendo aos Estados e ao Distrito
Federal editar normas suplementares (CF, art. 24,
§ 2º), que vêm a lume com um objetivo certo e
indestorcível: ajustar as ações de saúde,
desenvolvidas nos limites do seu território, às
peculiaridades locais.

Sobreleve-se, a propósito, que os Municípios


ficaram à margem da competência concorrente,
disciplinada pela Constituição Federal, art. 24.
Daí não se segue, contudo, que esses entes
políticos se ressintam de parcela de poder para
complementar, no que couber, as legislações
federal e estadual, sobretudo no tocante à
regência dos serviços de saúde, que devem prestar,
de forma contínua e ininterrupta, com a cooperação
técnica e financeira da União e do Estado em que
estiverem situados (CF, art. 30, VII).

Depois de delinear o denominado Sistema Único


de Saúde , e de declinar-lhe as diretrizes e as

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fontes de financiamento (art. 198, caput, I e II,


e §§ 1º e 2º), a Constituição Federal permite que
instituições privadas dele participem, de modo
complementar e segundo as suas diretrizes, que são
trasladadas do direito legislado e expressas em
convênio ou em contrato de direito público, para
cuja celebração é assegurada preferência às
entidades filantrópicas e às entidades desprovidas
de fins lucrativos, que compreendem, dentre
outras, as cooperativas de trabalho médico (CF,
art. 199, § 1º).

Mas não é só: ademais da preferência,


substantivada em disposição constitucional
expressa, das entidades sem fins lucrativos sobre
as instituições privadas com fins lucrativos para,
em igualdade de condições, conveniar ou contratar
com o Poder Público a prestação de serviços de
saúde, a Constituição Federal veda, de modo
terminante, que estas últimas recebam da União,
dos Estados ou dos Municípios auxílios ou
subvenções, em ordem a possibilitar o seu
funcionamento (CF, art. 199, § 2º).

Não se diga que a prestação paga pelo Estado a


uma instituição privada com fins lucrativos, por
força de um contrato, tem inerência a esse negócio
jurídico e, por isso, não pode ser vista nem
tratada, para os fins cogitados, como subvenção ou
auxílio. E isto porque a vedação em causa não deve
ser examinada sob um ângulo meramente formal, mas,
isso sim, sob o seu aspecto material, que requesta
a investigação dos motivos conducentes à
contratação.

Pois bem: é sabido que os hospitais


particulares, neste e em outros Estados da
Federação, convivem com agudas crises financeiras,
marcadas por débitos com as Fazendas Públicas
Federal, Estadual e Municipal, a Previdência
Social, o Fundo de Garantia e fornecedores, que
podem levar parte deles à ruína. Se isso é certo,
não é menos certo que contratos emergenciais,
firmados com instituições cercadas por tantos e
tamanhos débitos, a pretexto de resolver o caos da
saúde, podem configurar, substancialmente,

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auxílios ou subvenções aptos a frustrar a


teleologia da vedação inscrita na Constituição
Federal, art. 196, § 2º.

A mera possibilidade desse enliço, que não é


remota, deveria conter a ação do Ministério
Público, ou refrear os propósitos dos seus
integrantes, pois, ademais de defender a ordem
jurídica (CF, art. 127, caput), essa instituição
deve proteger o patrimônio público e social,
podendo, para alcançar esse fim, instaurar o
inquérito civil, a que se refere a Constituição
Federal, art. 127, III, e propor a ação civil
pública de responsabilidade por danos prevista e
regulada pela Lei nº 7374, de 1985.

Fixados estes pontos, tem-se que inexistem


óbices à contratação da Cooperativa consulente,
para desenvolver ações de saúde em nome do Estado
do Rio Grande do Norte e do Município de Natal, à
conta de recursos próprios e dos recursos alocados
ao Sistema Único de Saúde. Mas não é só: convém
lembrar que, além da ausência de impedimento
jurídico para a contratação, à Cooperativa
consulente, que não visa lucros nem os distribui
entre os seus associados, é reconhecida
preferência que tem para celebrar o ajuste, em
igualdade de condições com as instituições
privadas com finalidade lucrativa.

Não devemos perder de vista que o direito à


saúde é de natureza fundamental. Apresentando-se o
Estado como sem condições de prestar os serviços
necessários para garantir a sua prestação com
eficiência, o que é o seu dever, não impede a
Constituição Federal que, enquanto o Poder Público
não se aparelhar para tal mister, firme contratos
com Cooperativas Médicas de Prestação de Serviço
para cumprir o desiderato constitucional.

6. A RENOVAÇÃO DO CONTRATO COMO EMANAÇÃO DA


SEGURANÇA JURÍDICA.

A consulente, através de sucessivos contratos,


vem desenvolvendo ações de saúde, às coletividades
sujeitas ao poder administrativo do Estado do Rio

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Grande do Norte e do Município de Natal. Esses


negócios jurídicos nunca foram contestados pelo
Ministério Público e receberam aprovação do
Tribunal de Contas, tendo em vista a plena
legalidade que os revestia.

Em decorrência desse fato, os médicos


cooperados incorporaram, aos seus orçamentos, os
resultados ou proveitos econômicos originários do
trabalho associativo, que, em conseqüência,
concorrem, decisivamente, para a subsistência dos
seus núcleos familiares e das pessoas que se
colocam debaixo de sua dependência.

Na essência do cumprimento dos referidos


contratos, o Estado, com a colaboração das
cooperativas, prestou, com eficiência, os serviços
de assistência à saúde, em todos os níveis, que a
população necessitou. A incapacidade do Estado de
cumprir a vontade constitucional por via de
serviços diretos, isto é, por seus médicos
servidores públicos, em face do pequeno
contingente existente em seus quadros funcionais,
foi afastada com a parceria firmada com as
Cooperativas. O sistema SUS, consequentemente,
funcionou por mais de um decênio no Rio Grande do
Norte realizando os seus objetivos.

Não é justo, assim, que mencionados


profissionais fiquem privados de tais rendimentos
e comprometam, com essa privação, o sustento de
inúmeras pessoas, que interferem fortemente na
cadeia produtiva, na condição de adquirentes de
serviços de educação, de alimentos, de vestuários
e de vários outros objetos idôneos a formar as
denominadas relações de consumo.

Não é de justiça e ofende ao postulado da


dignidade humana a postura do Estado em não
renovar os contratos já enfocados, contribuindo,
como ele próprio reconhece, para se estabelecer um
estado de calamidade pública na saúde pública. O
cidadão hipossuficiente, especialmente, está
ferido em seu direito fundamental de ser assistido
pelo Poder Público quando necessita de zelar pela

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sua saúde, a fim de garantir uma vida com melhor


qualidade e mais longeva.

Por outro lado, é imperioso lembrar que a


Cooperativa consulente vem prestando, ao longo de
todos esses anos, serviços que se notabilizam pela
sua elevada qualidade, porquanto, até o momento,
inexistem questionamentos respeitantes (i) à sua
concordância com as regras pertinentes ao correto
exercício da medicina, tampouco com (ii) à sua
compatibilidade com o inegável desenvolvimento
científico e tecnológico dessa área do
conhecimento.

Convém frisar, aliás, que o incontroverso


ajustamento do serviço às regras da profissão
exsurge, em concreto, como um consectário da
presunção de legitimidade que marca o ato
administrativo, como um atributo seu, eis que, sem
embargos às objeções formuladas pela Promotoria de
Saúde da Comarca de Natal, a titular desse órgão
jamais produziu, e não produzirá nunca, prova
dotada de força e consistência para infirmar essa
verdade.

Mas a presunção de legitimidade não tem


inerência apenas com os seguidos e uniformes atos
de renovação: essas avenças foram objeto de
criteriosas auditagens, levadas a efeito pelo
Tribunal de Contas do Estado, na exercitação da
competência elencada na Constituição Federal, art.
71, I e II, e 75, caput, que não lançou nenhuma
glosa detrimentosa à despesa e ao padrão dos
serviços.

Feitos estes aclaramentos, cumpre


reevidenciar: as circunstâncias jurídicas que vêm
de ser apontadas – sucessivas renovações
contratuais e ausência de glosa pela Corte de
Contas – fazem nascer, em benefício das prestações
que vinham sendo contratadas, a certeza de que os
profissionais responsáveis pelos serviços, à
semelhança da entidade que os agrega, sempre
procederam com absoluta lisura, para com o Estado
e a coletividade atendida, em obséquio à presunção
de legitimidade e veracidade que acompanha o ato

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administrativo, testificando-lhe a validade, até


que o Poder Público, por decisão coberta pela
preclusão administrativa, ou o Judiciário, louvado
em prova consistente e incontroversa, pronuncie a
sua invalidade.

A asserção que vem de ser feita encontra


conforto na opinião indiscrepante da doutrina
(cfr. Maria Sylvia Zanella Di Pietro, in Direito
Administrativo, 15ª ed., Atlas, São Paulo, 2003,
págs. 191 e segs., Celso Antônio Bandeira de
Mello, in Curso de Direito Administrativo, 18ª
ed., Malheiros Editores, São Paulo, 2004, págs.
387/388: do mesmo autor: Elementos de Direito
Administrativo, Revista dos Tribunais, 1ª ed., São
Paulo, 1983, pág. 51, Diógenes Gasparini, in
Direito Administrativo, Saraiva, 4ª ed., 1995,
pág. 72) e, em especial, no magistério de Hely
Lopes Meirelles, que deixou lançado:

“Os atos administrativos, qualquer


que seja a sua categoria ou espécie,
nascem com a presunção de legitimidade,
independentemente de norma legal que a
estabeleça. Essa presunção decorre do
princípio da legalidade da Administração,
que, nos Estados de Direito, informa toda
a atuação governamental. Além disso, a
presunção de legitimidade dos atos
administrativos responde a exigências de
celeridade e segurança das atividades do
Poder Público, que não poderiam ficar na
dependência da solução de impugnação dos
administrados, quanto à legitimidade dos
seus atos, para só após dar-lhes execução.
A presunção de legitimidade autoriza
a imediata execução ou operatividade dos
atos administrativos, mesmo que atingidos
de vícios ou defeitos que os levem à
invalidade. Enquanto, porém, não sobrevier
o pronunciamento de nulidade os atos
administrativos são tidos como válidos e
operantes, quer para a Administração, quer
para os particulares sujeitos e
beneficiários dos seus efeitos.”

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Em passo seguinte, concluiu o acatado


publicista:

“Outra conseqüência da presunção de


legitimidade é a transferência do ônus da
prova do ato administrativo para quem a
invoca. Cuide-se de argüição de nulidade
do ato, por vício formal ou ideológico, a
prova do defeito apontado ficará sempre a
cargo do impugnante, e até a sua anulação
o ato terá plena eficácia.” (cfr. in
Direito administrativo Brasileiro,
Malheiros Editores, 19ª ed., São Paulo,
1994, pág. 141. Grifos do original)

Sob outro ângulo de análise, convém salientar


que a atuação administrativa, sendo dominada e
informada pela lei, tem a sua validade dependente
da observância, pela autoridade competente para
empreendê-la, de um fim público, mesmo que a esse
elemento não se reporte, às expressas, a norma de
regência.
Tenha-se presente, porém, que afigura-se
insuficiente a persecução, pelo Estado, de uma
finalidade qualquer de interesse coletivo: é
imperioso que seja buscado o objetivo específico,
entendido como a finalidade expressa ou implícita
que, para esse efeito, é apurada, concretamente, a
partir da natureza da prestação ou do serviço.

Se a autoridade ressentir-se de meios e modos


para declinar, objetiva e convincentemente, as
razões de fato e de direito determinantes do
modelo de comportamento que vinha sendo seguido,
anos a fio, é forçoso reconhecer o seu afastamento
do fim público, que tanto pode estar expresso em
lei, como despontar por injunção peculiar à
realidade vivenciada em determinada unidade
federada.

As práticas e rotinas administrativas precisam


guardar uma teleologia, que, concernindo ao
interesse público, compõe o seu teor ideológico e
ideativo. Em decorrência, para afastar-se de
determinada prática ou rotina, ou substituí-la por
outra, incumbe à autoridade, com exclusão de

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qualquer outra alternativa, demonstrar,


circunstanciadamente, que a mudança trará ganhos
para a coletividade, pois, só assim, permanecerão
intocados dois elementos fundamentais de
legalidade: a finalidade e o motivo.

Ou na precisa lição de Caio Tácito:

“Outro requisito fundamental de


legalidade é a finalidade do ato
administrativo. Juntamente com o motivo,
ele determina a vontade do agente,
conduzindo-a a uma destinação fixada pelo
legislador. Os motivos precedem ao ato,
criam as condições de sua existência,
servem de ponto de apoio ao processo
intelectual e volitivo de que emana a
realização do objeto. A finalidade é o
sentido teleológico do ato, é o objetivo
jurídico e material a que se dirige, em
última análise, a ação administrativa.”
(...)
“Os motivos e a finalidade do ato se
sucedem e se completam, mas não se
confundem. Toda manifestação de um agente
administrativo está condicionada ao
interesse público, como destinatário
permanente da ação do Estado. Assim, in
genere, qualquer ato administrativo está
vinculado a um fim público, mesmo que a
ele não se reporte, explicitamente, a
norma legal de competência. Mas não é
suficiente que o ato administrativo se
enderece a uma finalidade qualquer de
interesse coletivo. É necessário que se
observe a finalidade específica, ou seja,
o fim expresso ou implícito relacionado
com a própria natureza do ato. Se o agente
visou a realização de outro fim
socialmente legítimo, mas em discrepância
com o objetivo da regra legal executada,
haverá, igualmente, vício substancial de
nulidade e o ato se tornará írrito e
nulo.” (cfr. Ato e Fato Administrativo, in
Temas de Direito Público – Estudos e
Pareceres -, 1997, Renovar, Rio de

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Janeiro, 1º vol., págs. 299/300. Grifos do


original)

Assim, à míngua de prova forte eo suficiente


para elidir a verdade de que os serviços de saúde
prestados pela consulente, através dos seus
associados, atendem, satisfatoriamente, às
necessidades dos administrados, aos entes públicos
que deles são tomadores – Estado do Rio Grande do
Norte e Município de Natal – cabe, por imposição
das necessidades enfrentadas pelas populações
assistidas pelo Sistema Único de Saúde – SUS -,
testificar o seu elevado padrão de qualidade e
propiciar a sua fruição, sem solução de
continuidade, pelo universo dos seus
destinatários.

Os fatores agora remarcados impõem, às


entidades políticas obrigadas a desenvolver as
denominadas ações de saúde, a renovação da avença,
salvo se os seus dirigentes quiserem, a descoberto
de causa legítima, infligir maus tratos à
segurança jurídica, que, no caso em apreço, atende
a duas ordens de interesses: (i) ao direito da
consulente à renovação do contrato e,
consectariamente, ao interesse dos cooperados na
permanência da situação; e (ii) ao direito
subjetivo público, de cada administrado, a
serviços de saúde assinalados por elevado padrão
qualitativo, como os que foram prestados até o
último dia 31 de dezembro.

Abstraídos os argumentos até aqui expendidos,


observamos que o tempo tem o condão de consolidar
situações jurídicas, tornando-as imunes aos
efeitos de impugnações, ainda que formuladas com
supedâneo jurídico e por forma certa, como se
obtém da Lei nº 9784, de 1999 (art. 54), que
subordinou o anulamento dos atos administrativos à
observância do prazo de 05 (cinco) anos.

Dito por outras palavras: o direito positivo


brasileiro, inspirado em experiências européias,
subordinou o desfazimento dos atos
administrativos, quaisquer que sejam eles, à
apresentação do questionamento no prazo de 05

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(cinco) anos, pena do perecimento da oportunidade


de fazê-lo para a Administração, que, para os fins
cogitados, compreende todos os órgãos de controle
da atividade estatal, inclusive o Ministério
Público e os Tribunais de Contas.

Ora, no caso que nos foi apresentado, à


Cooperativa consulente vem sendo reconhecido,
desde um passado bastante recuado, o direito de
renovar, com o Estado do Rio Grande do Norte e com
o Município de Natal, os contratos de prestação de
serviços médicos, para o atendimento ambulatorial
e cirúrgico das populações carentes, às expensas
dos recursos alocados ao Sistema Único de Saúde –
SUS.

Essa situação, que se instalou no contexto das


Administrações Públicas estadual e municipal,
gerou, para os assistidos, o direito à fruição dos
serviços, que lhes vinham sendo prestados, já que,
a despeito das objeções formuladas pelo Ministério
Público, que parece arrostar para si a função
administrativa, pende de demonstração cabal a
vantagem, fática e jurídica, que resultaria da
pretendida substituição das cooperativas de
trabalho médico pelos hospitais particulares.

Se inexiste vantagem nessa substituição, que


deveria refletir-se na eficiência do serviço, é
fora de dúvida que as populações, contempladas
pelas ações de saúde desenvolvidas pelo Estado do
Rio Grande do Norte e pelo Município de Natal, têm
direito à subsistência dessa atividade, nos moldes
em que ela vinha sendo desempenhada, se não por
outro motivo, porque são imodificáveis as práticas
que se repetem por um período razoavelmente longo
e que se mostram compatíveis, no interregno
considerado, com a sua finalidade intrínseca.

Como os usuários do serviço têm direito


subjetivo público ao seu auferimento, que não
pode, em absoluto, experimentar solução de
continuidade, é inquestionável que a consulente
tem o direito à renovação do contrato, para que se
combinem e se conciliem o interesse público e os

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interesses individuais da consulente e dos seus


cooperados.

Sobre a permanência das situações jurídico


administrativas, por força do tempo transcorrido,
lê-se em Ruy Cirne Lima, que, em casos assim,
propugna, frise-se uma vez mais, pela subsistência
dos atos nulos:

“É preciso considerar que, não raro,


algumas circunstâncias militam a favor da
permanência de um ato nulo. O tempo
transcorrido pode gerar situações de fato
equiparáveis a situações jurídicas, não
obstante a nulidade que originariamente as
comprometia (Miguel Reale, ob. cit., 27,
pág. 68). Duas hipóteses são geralmente
apresentadas: a primeira, que é a da
convalidação ou sanatória do ato nulo ou
anulável; a segunda, que é o decurso do
tempo. No que concerne à primeira
hipótese, Santi Romano nos fala da
possibilidade de anulamento de um ato
administrativo, que inobstante a sua
invalidade, tenha se mantido por um longo
tempo. Afirma Santi Romano que antes de
mais nada é de avaliar se essa sua
persistência por um período mais ou menos
amplo de tempo, além da influência que
possa ter na eventual sanatória do ato,
não tenha determinado o desinteresse por
parte da Administração Pública de anulá-
lo. Na avaliação de cada caso devem ser
considerados elementos diversos, que
variam de acordo com os respectivos casos:
condições e situações de fato
consolidadas; a conveniência que aconselha
“quieta nom movere”; a consideração que
uma Administração sábia deve ter pela
equidade; o dano superior à vantagem que
do anulamento pudesse advir.
O decurso do tempo também é motivo
para que o anulamento do ato
administrativo não seja decretado. A Lei
nº 9784/1999 estabelece o prazo de
decadência de cinco anos, findo o qual

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decai o direito da Administração de anular


os atos administrativos, com a única
ressalva da “comprovada má fé” (Lei
9784/1999, art. 54). O nosso direito foi
buscar no direito europeu a concepção da
decadência do direito de anular a
Administração os seus próprios atos.”
(cfr. in Princípios de Direito
Administrativo, 7ª ed., Malheiros
Editores, 2007, pág. 275)

Antes de positivada pelo direito legislado,


essa posição foi defendida, entre nós, por
juristas do quilate de Bilac Pinto e Seabra
Fagundes, sendo que este último averbou:

“A infringência legal no ato


administrativo, se considerada
abstratamente, aparecerá sempre como
prejudicial ao interesse público. Mas, por
outro lado, vista em face de algum caso
concreto, pode acontecer que a situação
resultante do ato, embora nascida
irregularmente, torne-se útil aquele mesmo
interesse. Também as numerosas situações
alcançadas e beneficiadas pelo ato vicioso
podem aconselhar a subsistência dos seus
efeitos.” (cfr. in O Controle dos Atos
Administrativos pelo Poder Judiciário, 5ª
ed. Forense, 1979, pág. 47)

Em nota à lição reproduzida, observou o


festejado jurisconsulto ao pé da página 47 da obra
colacionada:

“A conciliação dos interesses


individuais e coletivos aconselharia
manter o ato. Nesta combinação de
interesses é que assenta, notadamente, a
diversidade de critério no que respeita à
manutenção do ato vicioso entre o Direito
Público e o Direito Privado. Neste é só o
unilateral interesse da parte, em favor da
qual existe a nulidade, que decide o seu
pronunciamento. O Estado, porém,
encarnando interesses impessoais e tendo

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por objetivo a realização do bem público


abdica da faculdade de promover a
decretação da nulidade, tendo em vista, em
caso determinado, o interesse geral, mais
bem amparado com a subsistência do ato
defeituoso. Isso se dá porque o Estado
confunde o seu interesse com o coletivo, e
é bem de ver que em se tratando de dois
particulares uma identificação semelhante
não ocorreria.
O ato, por exemplo, que sem
obediência a preceitos legais, faça
numerosas concessões de terras a colonos,
com o fim de fixá-los em determinada
região, apesar de vicioso, merecerá ser
mantido se só após a instalação e fixação
dos beneficiários se constatar a sua
irregularidade. Os interesses destes, pela
sua importância do ponto de vista social e
econômico, indicam a necessidade de sua
persistência. Esta se pode dar, neste como
em casos semelhantes, pela ratificação
através de outro ato regularmente
praticado, ou pelo simples silêncio da
Administração Pública, renunciando,
tacitamente, ao direito de invalidá-lo.”

Tecidas estas considerações, temos por


demonstrada a possibilidade da renovação do
contrato, que, sendo plenamente consonante com o
interesse público, transforma-se em dever, tanto
para o Estado do Rio Grande do Norte, quanto para
o Município de Natal.

Por último, cabe-nos registrar que são


impertinentes e desprovidas de seiva jurídicas as
objeções formuladas pelo Ministério Público.
Aliás, essa instituição, para manter-se alinhada
com os seus propósitos constitucionais, máxime com
o desiderato modelado pela Carta Política, art.
127, sob a fórmula “...incumbindo-lhe a defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos
interesses sociais e individuais indisponíveis.”,
deveria buscar, pelos meios ao seu alcance, o
restabelecimento do serviço, ao invés de impor-lhe

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solução de continuidade, evitando, assim, a


instauração de caos na área da saúde pública.

7. REFLEXÕES JURISPRUDÊNCIAIS SOBRE A


OBRIGAÇÃO DO ESTADO EM PRESTAR SERVIÇOS PARA
PROTEGER A SAÚDE DO CIDADÃO, POR CONSIDERAR ESSE
DIREITO COMO SENDO ABSOLUTO E FUNDAMENTAL.

A Constituição Federal de 1988, conforme já


salientamos, dedica todo um capítulo visando
proteger a saúde dos cidadãos, impondo essa
obrigação ao Estado.

Os postulados, os princípios e as regras


dispostas, expressamente, na Constituição Federal,
em benefício da proteção da saúde de cada
brasileiro, especialmente dos hipossuficientes,
merecem, pela categoria de direito fundamental que
eles caracterizam, ser conhecidos de modo pleno.
Por essa razão, registramos o inteiro teor do
capitulo da Constituição Federal que cuida da
saúde. Eis os seus termos:

Art. 196. “A saúde é direito de todos e dever do


Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de
doença e de outros agravos e ao acesso universal e
igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação.”

Art. 197. “São de relevância pública as ações e


serviços de saúde, cabendo ao Poder Público
dispor, nos termos da lei, sobre sua
regulamentação, fiscalização e controle, devendo
sua execução ser feita diretamente ou através de
terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica
de direito privado.”

Art. 198. “As ações e serviços públicos de saúde


integram uma rede regionalizada e hierarquizada e
constituem um sistema único, organizado de
acordo com as seguintes diretrizes:

I - descentralização, com direção única em cada


esfera de governo;

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II - atendimento integral, com prioridade para as


atividades preventivas, sem prejuíz dos serviços
assistenciais;

III - participação da comunidade.

§ 1º. O sistema único de saúde será financiado,


nos termos do art. 195, com recursos do orçamento
da seguridade social, da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, além de outras
fontes.

§ 2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os


Municípios aplicarão, anualmente, em ações e
serviços públicos de saúde recursos mínimos
derivados da aplicação de percentuais calculados
sobre:

I - no caso da União, na forma definida nos


termos da lei complementar prevista no § 3º;

II - no caso dos Estados e do Distrito Federal, o


produto da arrecadação dos impostos a que se refere
o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157
e 159, inciso I, alínea a, e inciso II, deduzidas as
parcelas que forem transferidas aos respectivos
Municípios;

III - no caso dos Municípios e do Distrito Federal,


o produto da arrecadação dos impostos a que se
refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os
arts. 158 e 159, inciso I, alínea b e § 3º.

§ 3º Lei complementar, que será reavaliada pelo


menos a cada cinco anos, estabelecerá:

I - os percentuais de que trata o § 2º;

II - os critérios de rateio dos recursos da União


vinculados à saúde destinados aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios, e dos Estados
destinados a seus respectivos Municípios,
objetivando a progressiva redução das disparidades
regionais;

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III - as normas de fiscalização, avaliação e


controle das despesas com saúde nas esferas
federal, estadual, distrital e municipal;

IV - as normas de cálculo do montante a ser


aplicado pela União.

§ 4º Os gestores locais do sistema único de


saúde poderão admitir agentes comunitários de
saúde e agentes de combate às endemias por meio
de processo seletivo público, de acordo com a
natureza e complexidade de suas atribuições e
requisitos específicos para sua atuação.

§ 5º Lei federal disporá sobre o regime jurídico e


a regulamentação das atividades de agente
comunitário de saúde e agente de combate às
endemias.

§ 6º Além das hipóteses previstas no § 1º do art.


41 e no § 4º do art. 169 da Constituição Federal, o
servidor que exerça funções equivalentes às de
agente comunitário de saúde ou de agente de
combate às endemias poderá perder o cargo em caso
de descumprimento dos requisitos específicos,
fixados em lei, para o seu exercício.”

Art. 199. “A assistência à saúde é livre à


iniciativa privada.”

§ 1º - As instituições privadas poderão participar


de forma complementar do sistema único de saúde,
segundo diretrizes deste, mediante contrato de
direito público ou convênio, tendo preferência as
entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.

§ 2º - É vedada a destinação de recursos


públicos para auxílios ou subvenções às instituições
privadas com fins lucrativos.

§ 3º - É vedada a participação direta ou indireta


de empresas ou capitais estrangeiros na assistência
à saúde no País, salvo nos casos previstos em lei.

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§ 4º - A lei disporá sobre as condições e os


requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos
e substâncias humanas para fins de transplante,
pesquisa e tratamento, bem como a coleta,
processamento e transfusão de sangue e seus
derivados, sendo vedado todo tipo de
comercialização.

Art. 200. “Ao sistema único de saúde compete,


além de outras atribuições, nos termos da lei:

I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos


e substâncias de interesse para a saúde e participar
da produção de medicamentos, equipamentos,
imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos;

II - executar as ações de vigilância sanitária e


epidemiológica, bem como as de saúde do
trabalhador;

III - ordenar a formação de recursos humanos na


área de saúde;

IV - participar da formulação da política e da


execução das ações de saneamento básico;

V - incrementar em sua área de atuação o


desenvolvimento científico e tecnológico;

VI - fiscalizar e inspecionar alimentos,


compreendido o controle de seu teor nutricional,
bem como bebidas e águas para consumo humano;

VII - participar do controle e fiscalização da


produção, transporte, guarda e utilização de
substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e
radioativos;

VIII - colaborar na proteção do meio ambiente,


nele compreendido o do trabalho”.

O exame do texto Constitucional conduz o


intérprete doutrinário as fixar as seguintes
diretrizes para cumprimento do que nele contém:

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a) A proteção da saúde e da vida do ser


humano pelo Estado constituem os mais
importantes direitos subjetivos de que
os cidadãos são portadodores, pelo que
as metas para tornar eficaz e efetivos e
eficazes os procedimentos
administrativos a seu respeito são
regulados por diretrizes específicas.
b) A relevância do direito dos cidadãos de
ter a sua saúde protegida obriga o
Estado a adotar políticas sociais e
médicaseconômicas que visem à redução do
risco de doença e de outros agravos e a
garantir acesso de modo universal e
igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação.
c) A Constituição Federal, expressamente,
determina que o Poder Público disponha,
por via de lei específica, sobre sua
regulamentação, fiscalização e controle,
devendo sua execução ser feita
diretamente ou, de forma complementar,
através de terceiros e, também, por
pessoa física ou jurídica de direito
privado, abrindo espaço para uma
parceria toda especial para a consecução
dos fins visados.
d)Os serviços médicos de proteção à saúde
devem ser efetuados por meio de ações e
serviços públicos de saúde que devem
integrar uma rede regionalizada e
hierarquizada, constituindo um sistema
único, organizado de acordo com as
seguintes diretrizes: I -
descentralização, com direção única em
cada esfera de governo; II - atendimento
integral, com prioridade para as
atividades preventivas, sem prejuízo dos
serviços assistenciais; III -
participação da comunidade.
e)A Constituição Federal garante ampla
liberdade à iniciativa privada para
prestar serviços de saúde à população.
Ao mesmo tempo, autoriza que as
instituições privadas participem de
forma complementar do sistema único de

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saúde, segundo diretrizes deste,


mediante contrato de direito público ou
convênio, tendo preferência as entidades
filantrópicas e as sem fins lucrativos.
f) Com base no contexto constitucional
acima montado, as cooperativas médicas
de trabalho, por serem pessoas jurídicas
de direito privado sem fins lucrativos,
estão autorizadas pela Constituição
Federal a contratarfirmarem contratos
com o Poder Público para colaborarem, de
forma complementar, com O SUS para o
alcance dos seus objetivos.
g) A Constituição Federal veda,
expressamente, a destinação de recursos
públicos para auxílios ou subvenções às
instituições privadas com fins
lucrativos, bem como não permite, salvo
situações esxpeciais previstas em lei, a
contratação de pessoas estrangeiras.

O Supremo Tribunal Federal, por via da


jurisprudência emitida, tem insistido de que o
direito à saúde além de ser fundamental, ele é
relevante, pelo que a ações administrativas para a
sua guarda não podemr sofrer solução de
continuidade.

Na linha do acima afirmado, merecem exame os


seguintes pronunciamentos do STF:

a) (ADPF 54-QO, Rel. Min. Marco Aurélio,


julgamento em 27-4-05, DJ de 31-8-07):
“Em jogo valores consagrados na Lei
Fundamental — como o são os da dignidade
da pessoa humana, da saúde, da liberdade
e autonomia da manifestação da vontade e
da legalidade —, considerados a
interrupção da gravidez de feto
anencéfalo e os enfoques diversificados
sobre a configuração do crime de aborto,
adequada a argüição de descumprimento
de preceito fundamental”

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b) "O direito à saúde — além de qualificar-


se como direito fundamental que assiste
a todas as pessoas — representa
conseqüência constitucional
indissociável do direito à vida. O Poder
Público, qualquer que seja a esfera
institucional de sua atuação no plano da
organização federativa brasileira, não
pode mostrar-se indiferente ao problema
da saúde da população, sob pena de
incidir, ainda que por censurável
omissão, em grave comportamento
inconstitucional. (...) O reconhecimento
judicial da validade jurídica de
programas de distribuição gratuita de
medicamentos a pessoas carentes,
inclusive àquelas portadoras do vírus
HIV/AIDS, dá efetividade a preceitos
fundamentais da Constituição da
República (arts. 5º, caput, e 196) e
representa, na concreção do seu alcance,
um gesto reverente e solidário de apreço
à vida e à saúde das pessoas,
especialmente daquelas que nada têm e
nada possuem, a não ser a consciência de
sua própria humanidade e de sua
essencial dignidade." (RE 271.286-AgR,
Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em
12-9-00, DJ de 24-11-00).

c) “.........O relator reconheceu, por


outro lado, que o princípio da dignidade
da pessoa humana admitiria
transbordamento e que, no plano da
legislação infraconstitucional, essa
transcendência alcançaria a proteção de
tudo que se revelasse como o próprio
início e continuidade de um processo que
desaguasse no indivíduo-pessoa, citando,
no ponto, dispositivos da Lei
10.406/2002 (Código Civil), da Lei
9.434/97, e do Decreto-lei 2.848/40
(Código Penal), que tratam,
respectivamente, dos direitos do
nascituro, da vedação à gestante de
dispor de tecidos, órgãos ou partes de

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seu corpo vivo e do ato de não oferecer


risco à <saúde> do feto, e da
criminalização do aborto, ressaltando,
que o bem jurídico a tutelar contra o
aborto seria um organismo ou entidade
pré-natal sempre no interior do corpo
feminino. Aduziu que a lei em questão se
referiria, por sua vez, a embriões
derivados de uma fertilização
artificial, obtida fora da relação
sexual, e que o emprego das células-
tronco embrionárias para os fins a que
ela se destina não implicaria
aborto.....” (“(ADI 3.510, Rel. Min.
Carlos Britto, julgamento em 28 e 29-5-
08, Informativo 508).

d) “....Frisou, no ponto, que o § 4º do


art. 199 da CF(...) faria parte, não por
acaso, da seção normativa dedicada à
saúde, direito de todos e dever do
Estado (CF, art. 196), que seria
garantida por meio de ações e serviços
qualificados como de relevância pública,
com o que se teria o mais venturoso dos
encontros entre esse direito à saúde e a
própria Ciência (CF, art. 5º, IX). (ADI
3.510, Rel. Min. Carlos Britto,
julgamento em 28 e 29-5-08, Informativo
508)”.

e) Constitucional.Administrativo. Mandado
de segurança. Município do Rio de
Janeiro. União Federal. Decretação de
estado de calamidade pública no sistema
único de saúde no município do Rio de
Janeiro. Requisição de bens e serviços
municipais. Decreto 5.392/2005 do
presidente da República. Mandado de
segurança deferido. Mandado de
segurança, impetrado pelo município, em
que se impugna o art. 2º, V e VI
(requisição dos hospitais municipais
Souza Aguiar e Miguel Couto) e § 1º e §
2º (delegação ao ministro de Estado da
Saúde da competência para requisição de

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outros serviços de saúde e recursos


financeiros afetos à gestão de serviços
e ações relacionados aos hospitais
requisitados) do Decreto 5.392/2005, do
presidente da República. Ordem deferida,
por unanimidade. Fundamentos
predominantes: (i) a requisição de bens
e serviços do município do Rio de
Janeiro, já afetados à prestação de
serviços de saúde, não tem amparo no
inciso XIII do art. 15 da Lei
8.080/1990, a despeito da invocação
desse dispositivo no ato atacado; (ii)
nesse sentido, as determinações
impugnadas do decreto presidencial
configuram-se efetiva intervenção da
União no município, vedada pela
Constituição; (iii) inadmissibilidade da
requisição de bens municipais pela União
em situação de normalidade
institucional, sem a decretação de
Estado de Defesa ou Estado de Sítio.
Suscitada também a ofensa à autonomia
municipal e ao pacto federativo.
Ressalva do ministro presidente e do
relator quanto à admissibilidade, em
tese, da requisição, pela União, de bens
e serviços municipais para o atendimento
a situações de comprovada calamidade e
perigo públicos. Ressalvas do relator
quanto ao fundamento do deferimento da
ordem: (i) ato sem expressa motivação e
fixação de prazo para as medidas
adotadas pelo governo federal; (ii)
reajuste, nesse último ponto, do voto do
relator, que inicialmente indicava a
possibilidade de saneamento excepcional
do vício, em consideração à gravidade
dos fatos demonstrados relativos ao
estado da prestação de serviços de saúde
no município do Rio de Janeiro e das
controvérsias entre União e município
sobre o cumprimento de convênios de
municipalização de hospitais federais;
(iii) nulidade do § 1º do art. 2º do
decreto atacado, por

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inconstitucionalidade da delegação, pelo


presidente da República ao ministro da
Saúde, das atribuições ali fixadas; (iv)
nulidade do § 2º do art. 2º do decreto
impugnado, por ofensa à autonomia
municipal e em virtude da
impossibilidade de delegação." (MS
25.295, Rel. Min. Joaquim Barbosa,
julgamento em 20-4-05, DJ de 5-10-07).

f) “...Princípio da dignidade da pessoa


humana. Paciente, militar, preso em
flagrante dentro da unidade militar,
quando fumava um cigarro de maconha e
tinha consigo outros três. Condenação
por posse e uso de entorpecentes. Não-
aplicação do princípio da
insignificância, em prol da saúde,
disciplina e hierarquia militares. A
mínima ofensividade da conduta, a
ausência de periculosidade social da
ação, o reduzido grau de reprovabilidade
do comportamento e a inexpressividade da
lesão jurídica constituem os requisitos
de ordem objetiva autorizadores da
aplicação do princípio da
insignificância....” (HC 92.961, Rel.
Min. Eros Grau, julgamento em 11-12-07,
DJE de 22-2-08).

g) “Acontece que esse caso em parece


peculiar, e muito peculiar – se o
superlativo for admitido eu diria
peculiaríssimo –, porque a lei federal
faz remissão à Convenção da OIT n. 162,
art. 3º, que, por versar tema que no
Brasil é tido como de direito
fundamental (saúde), tem o status de
norma supralegal. Estaria, portanto,
acima da própria lei federal que dispõe
sobre a comercialização, produção,
transporte, etc., do amianto. (...) De
maneira que, retomando o discurso do
Ministro Joaquim Barbosa, a norma
estadual, no caso, cumpre muito mais a
Constituição Federal nesse plano da

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proteção à saúde ou de evitar riscos à


saúde humana, à saúde da população em
geral, dos trabalhadores em particular e
do meio ambiente. A legislação estadual
está muito mais próxima dos desígnios
constitucionais, e, portanto, realiza
melhor esse sumo princípio da
eficacidade máxima da Constituição em
matéria de direitos fundamentais, e
muito mais próxima da OIT, também, do
que a legislação federal. Então, parece-
me um caso muito interessante de
contraposição de norma suplementar com a
norma geral, levando-nos a reconhecer a
superioridade da norma suplementar sobre
a norma geral. E, como estamos em sede
de cautelar, há dois princípios que
desaconselham o referendum à cautelar: o
princípio da precaução, que busca evitar
riscos ou danos à saúde e ao meio
ambiente para gerações presentes; e o
princípio da prevenção, que tem a mesma
finalidade para gerações futuras. Nesse
caso, portanto, o periculum in mora é
invertido e a plausibilidade do direito
também contraindica o referendum a
cautelar. Senhor Presidente, portanto,
pedindo todas as vênias, acompanho a
dissidência e também não referendo a
cautelar.” (ADI 3.937-MC, Rel. Min.
Marco Aurélio, voto do Min. Carlos
Britto, julgamento em 4-6-08, DJE de 10-
10-08).

h) "Acórdão recorrido que permitiu a


internação hospitalar na modalidade
‘diferença de classe’, em razão das
condições pessoais do doente, que
necessitava de quarto privativo.
Pagamento por ele da diferença de custo
dos serviços. Resolução n. 283/91 do
extinto INAMPS. O art. 196 da
Constituição Federal estabelece como
dever do Estado a prestação de
assistência à saúde e garante o acesso
universal e igualitário do cidadão aos

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serviços e ações para sua promoção,


proteção e recuperação. O direito à
saúde, como está assegurado na Carta,
não deve sofrer embaraços impostos por
autoridades administrativas, no sentido
de reduzi-lo ou de dificultar o acesso a
ele. O acórdão recorrido, ao afastar a
limitação da citada Resolução n. 283/91
do INAMPS, que veda a complementariedade
a qualquer título, atentou para o
objetivo maior do próprio Estado, ou
seja, o de assistência à saúde." (RE
226.835, Rel. Min. Ilmar Galvão,
julgamento em 14-12-99, DJ de 10-3-00).
No mesmo sentido: RE 207.970, Rel. Min.
Moreira Alves, julgamento em 22-8-00,
DJ de 15-9-00.

i) Incumbe ao Estado (gênero) proporcionar


meios visando a alcançar a saúde,
especialmente quando envolvida criança e
adolescente. O Sistema Único de saúde
torna a responsabilidade linear
alcançando a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios." (RE
195.192, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgamento em 22-2-00, DJ de 31-3-00).

j) A Constituição Federal assegura que a


saúde é direito de todos e dever do
Estado, facultada à iniciativa privada a
participação de forma complementar no
sistema único de saúde, por meio de
contrato ou convênio, tendo preferência
as entidades filantrópicas e as sem fins
lucrativos (CF, artigo 199, § 1º). Por
outro lado, assentou balizas entre
previdência e assistência social, quando
dispôs no artigo 201, caput e inciso I,
que os planos previdenciários, mediante
contribuição, atenderão à cobertura dos
eventos ali arrolados, e no artigo 203,
caput, fixou que a assistência social
será prestada a quem dela necessitar,
independentemente de contribuição à
seguridade social, tendo por fim a

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proteção à família, à maternidade, à


infância, à adolescência e à velhice; o
amparo às crianças e adolescentes
carentes; à habilitação e reabilitação
das pessoas deficientes e à promoção de
sua integração à vida comunitária; à
garantia de um salário mínimo de
benefício mensal à pessoa portadora de
deficiência e ao idoso que comprovem não
possuir meios de prover à própria
manutenção ou de tê-la provida por sua
família, inferindo-se desse conjunto
normativo que a assistência social está
dirigida à toda coletividade, não se
restringindo aos que não podem
contribuir. Vê-se, pois, que a
assistência à saúde não é ônus da
sociedade isoladamente e sim dever do
Estado. A iniciativa privada não pode
ser compelida a assistir à saúde ou a
complementar a previdência social sem a
devida contraprestação. Por isso, se as
entidades privadas se dispuseram a
conferir aos seus filiados benefícios
previdenciários complementares e os
contratados assumiram a obrigação de
pagar por isso, o exercício dessa
faculdade não lhes assegura o direito à
imunidade tributária constitucional,
outorgada pelo legislador apenas às
entidades que prestam assistência
social, independentemente de
contribuição à seguridade social (CF,
artigo 203), como estímulo ao altruísmo
dos seus instituidores." (RE 202.700,
voto do Min. Maurício Corrêa, julgamento
em 8-11-01, DJ de 1-3-02).

De tudo quanto examinado, firmamos-se a


conclusão que a ideologia seguida pela
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal
configura linha de atribuir exclusiva
responsabilidade ao Poder Público quando não toma
as devidas providências para que a assistência
médica voltada para proteção da saúde da população
seja executada.

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A tudo se soma o entendimento que ressai da


jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que
cabe ao SUS, administrado pelos Estados e pelos
Municípios, estes hoje como gestores principais, a
obrigação de não permitir que as ações
administrativas de proteção àa saúde, como as
atividades médicas, não sofram solução de
continuidade. Na situação enfocada, quando o
próprio Estado do Rio Grande do Norte e o
Município de Natal, por via de Decretos expedidos,
reconhecem o estado de calamidade pública no campo
de assistência à saúde que eles têm a obrigação de
prestar, torna-se mais grave essa responsabilidade
pela extensão das conseqüências civis, políticas e
sociais. O dano causado à população é imensurável,
exigindo a adoção de política de urgência para
afastar a crise estabelecida com a postura de não
renovar os contratos de prestação de serviços
médicos com a Cooperativa Consulente.

Não pode ficar sem atenção o fato de que o


próprio Estado do Rio Grande do Norte, em
documento (Ofício n.3.620/GS, da Secretaria de
Estado de Saúde Pública) datado de 15 de dezembro
de 2008, encaminhado ao Procurador Geral do
Estado, solicitava a manutenção das contratações
temporárias firmadas com as Cooperativas com base
nas Leis ns. 8.397/03 e 9.004/2007. No referido
ofício, a autoridade administrativa registra: “As
razões do pleito que ora formulamos tocam tanto o
déficit de pessoal já existente no quadro, ocasionada
pela ausência de concurso público há mais de 10
(dez) anos, quanto à demora na conclusão do que
fora realizado recentemente, em virtude de inúmeras
irregularidades na aplicação das provas, que
ensejaram a rescisão do contrato com a empresa
original e substituição por outra”. Mais adiante,
informa, no mencionado ofício, o Exmo. Sr.
Secretário de Estado da Saúde Pública: “Demais
disso, conforme se observa na justificativa
apresentada pela Coordenadoria de Recursos
Humanos (anexa), mesmo após a nomeação dos
profissionais em questão o déficit existente na rede
permanecerá, porquanto algumas especialidades não
apresentaram inscritos suficientes para preencher as
vagas disponibilizadas e outras como neurocirurgia,

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neurologia infantil, cirurgia pediátrica e psiquiatria


infantil sequer tiveram inscritos. Resta claro, pois,
que diante de uma estrutura humana insuficiente
para desempenhar a contento os serviços de atenção
à saúde os contratados temporariamente exercem
um papel de suma importância na gestão estadual do
SUS, complementando as escalas de trabalho das
unidades hospitalares e de referência. Assim,
considerando a natureza essencial dos serviços de
saúde e o caos que seria causado no sistema acaso
as contratações temporárias fossem abruptamente
alijadas, confiamos na sensibilidade do nobre
julgador pra que estenda o prazo limite
anteriormente acordado por mais 6(seis) meses”.

O próprio Estado do Rio Grande do Norte, antes


de decretar estado de calamidade pública,
reconheceu a sua ineficiência de bem atender ao
programa do SUS. Com a decretação do estado de
calamidade pública e a realidade dos fatos, todos
tornados públicos, a situação agrava-se em
proporções geométricas, aumentando a
responsabilidade do Poder Público.

Convém observar que no Estado do Rio Grande do


Norte, conforme está em documento datado de 05 de
dezembro de 2008 expedido pela Secretaria do
Estado da Saúde Pública, assinado pelo Coordenador
dos Recursos Humanos, a deficiência de servidores
médicos implica em um número superior a 4.600
profissionais. Havia, na época, 1.521 vagas
abertas em função de aposentadorias, óbitos,
relotações, demissões e exonerações, o que bem
revela a razão pela qual a situação chegou ao
ponto indicado pelo normativo que decretou estado
de calamidade pública.

O reconhecimento pelo Estado de que os


serviços de saúde à população estão em estado de
calamidade pública pode levar a graves
conseqüências talvez ainda não percebidas pelos
seus dirigentes, se medidas urgentes não forem
tomadas. Já afirmamos e repetimos que o direito à
saúde é de natureza fundamental, que ele visa
proteger a dignidade e a vida do ser humanoa. O
Estado tem a responsabilidade de executá-los para

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o aperfeiçoamento do Estado Democrático de


Direito. A Constituição Federal, seu art. 34,
afirma:

Art. 34. “A União não intervirá nos Estados nem


no Distrito Federal, exceto para:

I - manter a integridade nacional;

II - repelir invasão estrangeira ou de uma


unidade da Federação em outra;

III - pôr termo a grave comprometimento da


ordem pública;

IV - garantir o livre exercício de qualquer dos


Poderes nas unidades da Federação;

V - reorganizar as finanças da unidade da


Federação que:

a) suspender o pagamento da dívida fundada


por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de
força maior;

b) deixar de entregar aos Municípios receitas


tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos
prazos estabelecidos em lei;

VI - prover a execução de lei federal, ordem ou


decisão judicial;

VII - assegurar a observância dos seguintes


princípios constitucionais:

a) forma republicana, sistema representativo e


regime democrático;

b) direitos da pessoa humana;

c) autonomia municipal;

d) prestação de contas da administração


pública, direta e indireta.

e) aplicação do mínimo exigido da receita


resultante de impostos estaduais, compreendida a

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proveniente de transferências, na manutenção e


desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços
públicos de saúde”.

Questionamos para discussão no campo jurídico


se a permanência do estado de calamidade pública
na área dos serviços de saúde à população
configura atentado aos direitos fundamentais da
pessoa humana e compromete intensamente a
permanência da garantia da ordem pública. Abrimos
espaço para analisar tais aspectos, que não devem
deixar de ser considerados e analisados pelas
autoridades dirigentes do Estado, por existir
precedente na administração brasileira, a
exemplificar a intervenção da União nos serviços
de saúde no Estado do Rio de Janeiro. Urge,
consequentemente, que medidas sejam tomadas para
cessar o estado de calamidade pública. O único
meio de execução imediata e revestido de contornos
legais de que dispõem o Estado do Rio Grande do
Norte e a Prefeitura Municipal do Natal é a
renovação dos contratos de prestação de serviços
públicos com a Cooperativa consulente, cessando a
situação caótica da assistência à saúde, sem
prejuízo de, no curso do tempo, com previsão
orçamentária específica, cuidar de criar, por
autorização legal, vagas no quadro da Secretaria
da Saúde e realizar o necessário concurso público
para suprir as necessidades do setor com a
nomeação de 4.600 profissionais habilitados,
conforme sugerido pela autoridade administrativa
já indicada.

8- LEGALIDADE DOS CONTRATOS FIRMADOS PELO


PODER PÚBLICO COM AS COOPERATIVAS DE TRABALHO
MÉDICO PARA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS AO SUS.
HOMENAGEM AOS PRINCÍPIOS DA SEGURANÇA JURÍDICA E
DO FATO ADMINISTRATIVO CONSUMADO.

Demonstramos no curso do presente parecer que


as cooperativas, como entidades jurídicas valorizadas pela
Constituição Federal, vêm se tornando uma modalidade cada vez mais
expressiva para a organização dos trabalhadores e para a prestação de
serviços terceirizados no âmbito do SUS. Neste setor de relevante
importância para ser respeitado o direito de todos à saúde,

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especialmente do cidadão hipossuficiente, a contratação de


profissionais médicos associados em cooperativas representam, desde
a criação do SUS, uma importante opção de inserção no mercado de
trabalho no setor de um modo geral.

Afirmam os analistas jurídicos desse tipo de negócio jurídico que


“no SUS, o surgimento de cooperativas de profissionais de saúde
constitui fenômeno próprio da segunda metade dos anos 90 e tem
particularidades muito especiais, quais sejam: a) as cooperativas não
se limitam a congregar os profissionais liberais clássicos, podendo
envolver outras categorias em composições heterogêneas (como no caso
do PSF) e trabalhadores semi-profissionais (tais como os agentes
comunitários de saúde); b) são contratadas pelos gestores do SUS,
numa relação de terceirização, para prestar serviços em hospitais e na
rede básica, podendo ou não participar da "gestão" local da assistência
em determinada área. Há, nesse sentido, dois tipos de cooperativas no
SUS: as que são apenas fornecedoras de trabalho na prestação de
serviços de saúde; e as cooperativas que são "gerenciadoras", ou seja,
que não só fornecem força de trabalho mas assumem a gestão de uma
ou mais unidade de saúde da rede. As cooperativas gerenciais, cujo
exemplo melhor conhecido é o PAS em São Paulo, têm sido objeto de
inúmeras polêmicas no passado recente, na medida em que a adoção
deste modelo implica em que influenciam diretamente a gestão do
sistema. Portanto, as cooperativas gerenciais são agentes terceirizados
que tanto realizam a prestação de serviços de saúde como a gerência de
algumas unidades de saúde”.

Enumeramos, a seguir, as razões que favorecem, no contexto


atual, a disseminação do regime das cooperativas de trabalho no SUS,
tomando por base estudo analítico realizado por especialistas em
políticas públicas de saúde e publicado no sítio internet
http://www.nesp.unb.br/polrhs/Temas/cooperativas_trabalho, acessado
em 20.01.2009. Elas são as seguintes:

“a) na cooperativa, a vinculação de pessoal é feita de forma


bastante flexível, através de um contrato global e, provavelmente, a
custos mais reduzidos do que se o gestor tivesse que arcar com todos os
encargos trabalhistas inerentes ao emprego público celetista e com os
custos da função de administração de pessoal;

b) há uma aspiração, por parte de muitos profissionais,


especialmente dos médicos, de manter uma condição de autonomia no
mercado de trabalho, e a organização cooperativa satisfaz
adequadamente a esse anseio;

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c) a condição de funcionário público é hoje muito pouco


valorizada aos olhos dos profissionais de saúde;

d) as tradicionais vantagens de remuneração diferenciada da


aposentadoria no sistema de previdência pública foram anuladas e
deverão doravante, na maioria dos casos, ser negadas aos que
ingressarem nas novas carreiras dos empregados celetistas;

e) a cooperativa cria um vínculo coletivo de solidariedade entre


os profissionais, que obriga o gestor local do SUS a ter disposição para
negociar os valores dos contratos e outros elementos que fazem parte
das condições de trabalho”.

Diante do quadro realista analisado pela Ciência Jurídica, esta


conclui que “Como na maioria das situações, as cooperativas não têm à
sua disposição clientes privados alternativos, mas se vêm obrigadas a
vender seus serviços ao setor público, sua capacidade de barganha é
limitada” .Por força dos fatores acima celebrados, a jurisprudência
incentiva a participação das cooperativas no SUS, via contratos de
prestação de serviços dos seus associados com o Poder Público, por
haver um “equilíbrio de forças propício a que os gestores possam
exercer uma adequada regulação dessas relações contratuais,
estabelecendo, por exemplo, metas de desempenho, mecanismos de
supervisão, critérios comuns de avaliação de qualidade dos serviços
prestados, etc. Ou seja, o gestor, o Poder Público goza de prerrogativas
que lhe favorecem para estabelecer um razoável grau de controle sobre
o serviço terceirizado via cooperativas de profissionais”.

A fundamentação jurídica exposta conduz, portanto, a não


interromper a relação negocial que durante muitosdoze anos foi
mantida entre a Cooperativa consulente e o Poder Público (Estado do
Rio Grande do Norte e Prefeitura Municipal do Natal). Influente a
consideração de que durante todo o tempo em que a Cooperativa
consulente manteve contratos de prestação de serviços médicos para
cumprimento, em caráter complementar, das atribuições do SUS,
nenhum questionamento foi apresentado pelo Ministério Público. Tais
contratos, consequentemente, produziram os seus efeitos e foram
considerados legais, aprovados pelo Tribunal de Contas e
contribuiramidores para a normalidade da política de saúde adotada
pelo SUS.

A lógica jurídica e a proteção da estabilidade jurídica não


permitem que, abruptamente, como está agora a acontecer, tais
contratos até então considerados lícitos perante o ordenamento

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jurídico passem a ser tachados de ilegais, sem que tenha a respeito


existido pronunciamento do Poder Judiciário.

Por outro ângulo, a prestação de serviços da forma como vinha


sendo executada não pode ser interrompida por simples recomendação
do Ministério Púùblico, tendo em vista que, além da gravidade do
cumprimento dessa recomendação pelas conseqüências provocadas na
saúde dos cidadãos, fere, de modo profundo os princípios da segurança
jurídica, da continuidade do serviço público, especialmente, o referente
à proteção da saúde, de natureza fundamental e o do fato consumado
nas relações jurídicas administrativas.

A doutrina e a jurisprudênciaente, no tocante a impossibilidade


do serviço público ser interrompido, tem se manifestado de acordo com
o pensamento de Celso Ribeiro Bastos (in Curso de direito
administrativo, 2. ed. – São Paulo : Saraiva, 1996, p. 165.):
"O serviço público deve ser prestado de maneira
continua, o que significa dizer que não é passível de
interrupção. Isto ocorre pela própria importância de que
o serviço público se reveste, o que implica ser colocado à
disposição do usuário com qualidade e regularidade,
assim como com eficiência e oportunidade"... "Essa
continuidade afigura-se em alguns casos de maneira
absoluta, quer dizer, sem qualquer abrandamento, como
ocorre com serviços que atendem necessidades
permanentes, como é o caso de fornecimento de água,
gás, eletricidade. Diante, pois, da recusa de um serviço
público, ou do seu fornecimento, ou mesmo da cessação
indevida deste, pode o usuário utilizar-se das ações
judiciais cabíveis, até as de rito mais célere, como o
mandado de segurança e a própria ação cominatória".

Sobre a conjugação da obrigatoriedade do


cumprimento desse princípio com o que prestigia o fato
consumado e as situações legais constituídas, estas não
podendo ser modificadas pelos efeitos da segurança
jurídica, invocamos o pensar da doutrina e da
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.

A segurança jurídica impõe-se no caso em


debate para configurar estabilização as situações
hostilizadas, tudo em homenagem ao que está posto

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no PREÂMBULO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988,


cujos termos ditam:

“Nós, representantes do povo


brasileiro, reunidos em Assembléia
Nacional Constituinte para instituir um
Estado Democrático, destinado a
assegurar o exercício dos direitos
sociais e individuais, a liberdade, a
segurança, o bem-estar, o
desenvolvimento, a igualdade e a
justiça como valores supremos de uma
sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos, fundada na harmonia
social e comprometida, na ordem interna
e internacional, com a solução pacífica
das controvérsias, promulgamos, sob a
proteção de Deus, a seguinte
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO
BRASIL”.

Constitui-se em sobreprincípio ou postulado,


pouco importa a denominação, a imposição contida
no preâmbulo da Constituição Federal no sentido
de que todos os integrantes do Poder Público,
inclusive o Ministério Público, devem zelar pela
segurança jurídica, do bem-estar, da harmonia
social e zelo pelos direitos fundamentais da
cidadania, com destaque a proteção da saúde de
cada ser humano.

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Não é razoável, nem proporcional, em um


Estado Democrático de Direito, onde deve haver
integral respeito à dignidade humana, à
cidadania, à saúde do homem,a estabilização das
relações jurídica, após decorrido prazo de doze
anos de prestação de serviços com base em
contratos lícitos firmados com a Administração
Pública, tudo ser interompido sem que haja amparo
legal.

A inércia do Ministério Público por muitos


anosdoze ano,não contestando judicialmente os
contratos questionados mantidos pela consulente
com o Poder Público, atesta a legitimidade com
que tais negócios jurídicos foram celebrados,
reforçando essa característais a aprovação pelo
Tribunal de Contas e pelo Poder Legislativo. É
razoável extinguir o vínculo contratual, não
renovando o negócio jurídico até então produtor
de efeitos positivos na prestação dos serviços
médicos administrados pelo SUS, por simples
recomendação do Ministério Pùblico? O Poder
Público, ao cumprir tal ordem sem expressivo
apoio do ordenamento jurídico, não está tornando-
se refém do Ministério Público e renunciando ao
seu dever de cumprir as suas obrigações de zelar
pela saúde da população? Há amparo jurídico para
a pretensão do Ministério Público para assim
proceder? As atribuições do Ministério Público
não estão desproporcionais, interferindo

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diretamente nas açõesos administrativas do Poder


Público no campo da saúde?

Com absoluta certeza as respostas para todas


as perguntas acima formuladas são no sentido de
não ser possível homenagear a pretensão de,
imediatamnte, o ser humano não ter a sua saúde
zelada e preservada, pela omissão do Poder
Público. Mostraremos, com outros fundamentos além
dos já alinhados, as razões que caracterizam a
não razoabilidade do proceder em não renovar os
contratos de prestação de serviços públicos pela
consulente à saúde dos cidadãos. pela
consulente.

Com o máximo de respeito à instituição do


Ministério Público, há a referida ousadia emde
recomendar a não renovação dos contratos pelo
Poder Público, extrapolandoou os limites das
nobilíssimas atribuições que a Constituição
Federal outorga a tão importante órgão para a
consolidação de um Estado Democrático de Direito.

Fixados esses pontos, observamos que cresce,


dia a dia, a importância do princípio da
segurança jurídica, como instrumento apto a
promover a normalidade dos atos sujeitos à égide
do Direito Público.

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Isto porque a segurança jurídica, que está


ligada à exigência de estabilidade das situações
reguladas pelo direitojurídicas, ainda que
surgidas à margem da legalidade, encerra um dos
princípios formadores do próprio Estado de
Direito, impondo-se, por isso, como norte à
solução de não ser criado caos no serviço
público, como está a acontecer nos de saúde
prestados pelo Estado do Rio Grande do Norte.

A ilegalidade da renovação dos contratos em


questão, defendida pelo Ministério Público, data
vênia, é posicionamento surpreendente e sem vida
para o ordenamento jurídico, por ser
inconciliável com os postulados e princípios do
Direito Público contemporâneo, pois a noção
conceitual de interesse público ou de utilidade
pública, em torno da qual gravita toda essa área
do conhecimento jurídico, requesta, não raro, a
sobrevivência de ação administrativa que esteja
voltada para a proteção dos direitos fundamentais
do cidadão, no caso, entre eles, o de proteção da
sua saúde. A incidência do princípio da segurança
jurídica, com destaque quando os atos
administrativos não contêm vícios, como é o caso
analisado, formafaz harmonia fiel ao princípio da
legalidade.

É dizer: na província explorada pelos


publicistas é necessário, em inúmeros casos, a

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prevalência da segurança jurídica e do fato


consumado. O que não se pode defender, no trato
da saúde pública, é a inércia do Poder Público, a
omissão, sob pena dos agentes responsáveis por
tal quadro irregular serem responsabilizados. O
fato de o serviço à saúde ter sido prestado pela
Cooperativa consulente, por meio dos seus
associados, por longo tempo, sem qualquer
contestqação, gera a crença de sua legitimidade.

A respeito do que estamos defendendo,


lembramos lição de Miguel Reale sobre o tema:

"À primeira vista, esta hipótese


pode confundir-se com a anteriormente
examinada, mas há duas situações
distintas, embora correlatas: no
primeiro caso, indaga-se se, verificada
uma nulidade, é lícito à autoridade
abster-se de pronunciá-la ex officio ou
de promover a ação própria com tal
objetivo, por entender ser de manifesto
interesse público a manutenção do ato;
no segundo, indaga-se se, a despeito do
longo tempo decorrido, quando a
situação de fato já se revestiu de toda
aparência de legalidade, ainda subsiste
o poder de decretação unilateral da
nulidade existente, ou se tal

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declaração só é possível mediante


pronunciamento da justiça.

No meu modo de ver, são as mesmas


as exigências axiológicas que legitimam
a preservação do ato contra decisões
imprevistas e tardias, pondo limites ao
chamado benéfice du préalable,
entendido, às vezes, como um poder
suscetível de ser exercido a qualquer
tempo.

Não é admissível, por exemplo,


que, nomeado irregularmente um servidor
público, visto carecer, na época, de um
dos requisitos complementares exigidos
por lei, possa a Administração anular
seu ato, volvidos, quando já
constituída uma situação merecedora de
amparo e, mais do que isso, quando a
prática e a experiência podem ter
compensado a lacuna originária."

(...)

"Escreve com acerto José Frederico


Marques que a subordinação do exercício
do poder anulatório a um prazo razoável
pode ser requisito implícito no
princípio due process of law. Tal
princípio, em verdade, não é válido

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apenas no sistema de direito norte-


americano, do qual é uma das peças
basilares, mas é extensível a todos os
ordenamentos jurídicos, visto como
corresponde a uma tripla exigência, de
regularidade normativa, de economia de
meios e formas e de adequação à
tipicidade fática. Não obstante a falta
de termo que em nossa linguagem
rigorosamente lhe corresponda,
poderíamos traduzir due processo of law
por devida atualização do direito,
ficando entendido que haverá infração
desse postulado fundamental toda vez
que, na prática do ato administrativo,
for preterido algum dos momentos
essenciais à sua ocorrência; porém
destruídas, sem motivo plausível,
situações de fato, cuja continuidade
seja economicamente aconselhável, ou se
a decisão não corresponder ao complexo
de notas distintivas da realidade
social tipicamente configurada em lei.

Assim sendo, se a decretação de


nulidade é feita tardiamente, quando a
inércia da Administração já permitiu se
constituíssem situações de fato
revestidas de forte aparência de
legalidade, a ponto de fazer gerar nos

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espíritos a convicção de sua


legitimidade, seria deveras absurdo
que, a pretexto da eminência do Estado,
se concedesse às autoridades um poder
indefinido de autotutela." (cfr. in
Revogação e Anulamento do Ato
Administrativo, 2ª ed., Forense, Rio de
Janeiro, 1980, págs. 70/71. Grifos do
original)

Esse pensamento está presente, outrossim, na


obra de Seabra Fagundes, que, escrevendo sobre
esse relevante tema jurídico, deixou lançado:

"A infringência legal no ato


administrativo, se considerada
abstratamente, aparecerá sempre como
prejudicial ao interesse público. Mas,
por outro lado, vista em face de algum
caso concreto, pode acontecer que a
situação resultante do ato, embora
nascida irregularmente, torne-se útil
àquele mesmo interesse. Também as
numerosas situações pessoais alcançadas
pelo ato vicioso, podem aconselhar a
subsistência dos seus efeitos."

Em notas de roda pé, consignou o autor por


último citado, reportando-se a experiências
européias, que se mostram válidas em face do
nosso direito:

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"A conciliação dos interesses


individuais e coletivos aconselha
manter o ato. Nesta combinação de
interesses é que assenta, notadamente,
a diversidade do critério no que
respeita à manutenção do ato vicioso
entre o Direito Público e o Direito
Privado. Neste é só o unilateral
interesse da parte, em favor da qual
existe a nulidade, que decide o seu
pronunciamento. O Estado, porém,
encarnando interesses impessoais e
tendo por objetivo a realização do bem
público abdica da faculdade de promover
a decretação da nulidade, tendo em
vista, em caso determinado, o interesse
geral, mais bem amparado com a
subsistência do ato defeituoso. Isso se
dá porque o Estado confunde o seu
interesse com o coletivo, e é bem de
ver que em se tratando de dois
particulares, uma identificação
semelhante não ocorreria."

(...)

"O ato, por exemplo, que sem


obediência a preceitos legais, faça
numerosas concessões de terras a
colonos, com o fim de fixá-los em

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determinada região, apesar de vicioso,


merecerá ser mantido se após a
instalação e fixação dos beneficiários
se constatar sua irregularidade. Os
interesses destes, pela sua importância
do ponto de vista social e econômico,
indicam a necessidade de sua
persistência. Esta se pode dar, neste
como em casos semelhantes, pela
ratificação através de outro
regularmente praticado, ou pelo simples
silêncio da Administração Pública,
renunciando, tacitamente, ao direito de
invalidá-lo." (cfr. in Controle dos
Atos Administrativos pelo Poder
Judiciário, 5ª ed., Forense, Rio de
Janeiro, 1979, págs. 47/48. Grifos
acrescentados)

Ruy Cirne Lima, outro acatado cultor do


Direito Administrativo, acosta-se à corrente que
sufraga a sanação do ato, pelo decurso do tempo,
apresentando-a como a mais adequada ao interesse
público:

"É preciso considerar que, não


raro, algumas circunstâncias militam a
favor da permanência de um ato nulo. O
tempo transcorrido pode gerar situações
de fato equiparáveis a situações

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jurídicas, não obstante a nulidade que


originariamente as comprometia.

Duas hipóteses são geralmente


apresentadas:

- a primeira, que é a convalidação


ou sanatória do ato nulo ou anulável;

- a segunda, que é o decurso do


tempo.

Santi Romano nos fala da


possibilidade de anulamento de um ato
administrativo, que inobstante a sua
invalidade, tenha se mantido por longo
tempo."

(...)

"O decurso do tempo também é


motivo para que o anulamento do ato
administrativo não seja decretado. A
Lei nº 9784/1999 estabelece o prazo de
cinco anos, findo o qual decai o
direito da Administração de anular os
atos administrativos, com a única
ressalva da "comprovada má fé" (Lei nº
9784/1999, art. 54). O nosso direito
foi buscar no direito europeu a
concepção da decadência do direito de

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anular a Administração os seus próprios


atos.

Na França, o anulamento do ato


administrativo, que é denominado de
"retrait", é possível desde que o
recurso contencioso seja formalizado no
prazo de 2 (dois) meses, a partir da
decisão administrativa. A
jurisprudência considera que a
segurança jurídica é mais importante do
que a legalidade, desde a decisão do
"affaire Dame Cachet", no ano de
1922..." (cfr. in Princípios de Direito
Administrativo, 7ª ed., atualizada por
Paulo Alberto Pasqualine, Malheiros
Editores, São Paulo, 2007, pág. 275.
Grifos acrescentados)

Sob idêntica motivação, o Colendo Supremo


Tribunal Federal, em diversas oportunidades,
convalidou práticas semelhantes às investiduras
vergastadas, como se obtém das ementas adiante
transcritas:

"CONTROLE EXTERNO – TRIBUNAL DE


CONTAS DA UNIÃO – MOVIMENTAÇÃO
FUNCIONAL – FATOR TEMPO –
CONTRADITÓRIO.

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O ato de glosa do Tribunal de


Contas da União na atividade de
controle externo, alcançando situação
constituída – ocupação de cargo por
movimentação vertical (ascensão) – fica
sujeito ao prazo decadencial de cinco
anos previsto no art. 54 da Lei nº
9784/99 e ao princípio constitucional
do contraditório, presentes a segurança
jurídica e o devido processo legal."
(cfr. Mandado de Segurança nº 26.353 –
9 – Distrito Federal, Plenário,
unânime, relator Min. Marco Aurélio, in
DJU, 7.03.2008. Grifos acrescentados)

"EMENTA: SERVIDOR PÚBLICO.


Funcionário(s) da Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos – ECT. Cargo.
Ascensão funcional sem concurso
público. Anulação pelo Tribunal de
Contas da União – TCU.
Inadmissibilidade. Ato aprovado pelo
TCU há mais de cinco (5) anos.
Consumação, ademais, da decadência
administrativa após o qüinqüênio legal.
Ofensa a direito líquido e certo.
Cassação dos acórdãos. Segurança
concedida para esse fim. Aplicação do
art. 5º, inc. LV, da CF, e do art.. 54
da Lei Federal nº 9784/99. Não pode o

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Tribunal de Contas da União, sob


fundamento ou pretexto algum, anular
ascensão funcional de servidor operada
e aprovada há mais de 5 (cinco) anos,
sobretudo em procedimento que não lhe
assegura o contraditório e a ampla
defesa." (cfr. Mandado de Segurança nº
26.628 – 7 – Distrito Federal,
Plenário, unânime, relator Min. Cezar
Peluso, in DJU, 22.02.2008. Grifos do
original. Do mesmo relator: Mandado de
Segurança nº 26.405 – Distrito Federal,
in DJU, 22.02.2008)

Os excelentes escólios doutrinários e


precedentes jurisprudenciais colacionados guardam
símile com a espécie sub judice, servindo, em
conseqüência, de nortes para a solução que lhe
vier a ser dada, porquanto:

a – a consulente e o Poder Público (Estado do


Rio Grande do Norte e a Prefeitura Municipal do
Natal, em instante algum, se afastaram da boa fé
e da legalidade ao firmarem os contratos que
perduram os seus efeitos por doze anos, em
situação renovada;

b – a publicidade conferida aos referidos


contratos, seguida de sua comunicação ao órgão
dotado de competência para, no âmbito dos Poderes
Legislativo, Executivo e Judiciário, ordenar,

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executar e controlar a despesa com o pessoal


vinculado aos seus serviços, obsta, de modo
terminante, a identificação do intuito de
mascarar ou encobrir os negócios jurídicos
questionados, que, agora, o Ministério Público
pretende que sejam ilegais; estinatários;

c – o não atuar do Ministério Público por


doze anos com relação aos referidos contratos,
que foram considerados legais pelo Tribunal de
Contas, pela Assembléia Legislativa, ao aprovar
as contas do Executivo, caracteriza
reconhecimento de legalidade de tais negociações
públicas e que atingiram os seus objetivos
primordiais;

d – a ausência de objeção formal, por 12


anos, à existência, a validade e a eficácia de
tais contratos, conforme os fatos comprovam, fez
nascer a convicção de que são legais os atos a
eles correspondentes, reforçando a presunção de
legitimidade e de veracidade inerente às práticas
administrativas, impedindo, decorrencialmente, a
sua invalidação, a requerimento ou por provocação
dos órgãos para tanto competentes.;

Temos consciência do alongamento das


presentes razões de resposta. Pedimos desculpas
por tal ocorrência. Ocorre que estamos sendo

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testemunhas de um quadro de calamidade pública na


prestação de serviços à saúde, no Estado do Rio
Grande do Norte. Há cidadãos morrendo e centenas
sofrendo em filas esperando assistência médica.
Há crianças entregues ao abandono no zelo da sua
saúde. Há, portanto, violação ao direito
fundamental da cidadania de ter a sua saúde
assegurada pelo Estado e direito de viver.

Em face desse estado de inquietude, pedimos


compreensão para que sejam bem
visualizadascompreendidas a ansiedade, o
sofrimento e a angústia dos que estão sofrendo os
efeitos da crise ora vivenciada na prestação de
serviços à saúde, no Rio Grande do Norte ora
vivenciada. Os direitos dos cidadãos necessitam
ser respeitados com a continuidade do serviço
público essencial aqui anotado, renovando-se,
imediatamente, os contratos questionados, por
termos certeza da legalidade desse proceder, haja
vista encontrar-se amparado pelas razões
jurídicas já mencionados e apresentar harmonia
com inúmeras decisões do Supremo Tribunal Federal
que prestigiam a segurança jurídica e o fato
consumado. .

Eis várias decisões do Supremo Tribuna


Federal sobre segurança jurídica no referente a
prática de negócios jurídicos administrativos:

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a) RE-AgR 342210 / AM - AMAZONAS


AG.REG.NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO
Relator(a): Min. ELLEN GRACIE
Julgamento: 24/06/2008 Órgão
Julgador: Segunda Turma
DJe-152 DIVULG 14-08-2008 PUBLIC
15-08-2008
AGTE.(S): ESTADO DO AMAZONAS
ADV.: PGE-AM - RICARDO ANTONIO
REZENDE DE JESUS
AGDO.(A/S): IRÁCLITO JOSÉ CHAVES
GARCIA
ADV.: JOSÉ PAIVA FILHO

Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL E


ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. SERVIDOR
PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS.
APOSENTADORIA. GRATIFICAÇÃO INSTITUÍDA
PELA LEI ESTADUAL 1.762/86. MANUTENÇÃO.
AGRAVO IMPROVIDO.

1. Prevalência da boa-fé e da
segurança jurídica a convalidar os
efeitos da Lei Estadual 1.762/86
perante a Constituição da República,
para incorporar a gratificação
instituída ao patrimônio dos
servidores. 2. Controvérsia suscitada
já dirimida por ambas as Turmas do
Supremo Tribunal Federal. Precedentes.
3. Agravo regimental improvido.

b) ADI 3660 / MS - MATO GROSSO DO


SUL

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE


Relator(a): Min. GILMAR MENDES
Julgamento: 13/03/2008 Órgão
Julgador: Tribunal Pleno
DJe-083 DIVULG 08-05-2008 PUBLIC
09-05-2008
REQTE.(S): PROCURADOR-GERAL DA
REPÚBLICA
REQDO.(A/S): GOVERNADOR DO ESTADO
DO MATO GROSSO DO SUL
REQDO.(A/S): ASSEMBLÉIA
LEGISLATIVA DO ESTADO DO MATO GROSSO DO
SUL
INTDO.(A/S): ASSOCIAÇÃO DOS
MAGISTRADOS DE MATO-GROSSO DO SUL -
AMANSUL
INTDO.(A/S): ASSOCIAÇÃO SUL-MATO-
GROSSENSE DO MINISTÉRIO PÚBLICO -
ASMMP
ADV.(A/S): ANDRÉ LUIZ BORGES NETTO
INTDO.(A/S): ASSOCIAÇÃO DOS
DELEGADOS DE POLÍCIA DO ESTADO DE MATO
GROSSO DO SUL-ADEPOL/MS
ADV.(A/S): ANDRÉ LUIZ BORGES NETTO
INTDO.(A/S): ASSOCIAÇÃO DOS
PROCURADORES DO ESTADO DE MATO GROSSO
DO SUL - APREMS
ADV.(A/S): ANDRÉ LUIZ MALUF DE
ARAÚJO

EMENTA: Ação direta de


inconstitucionalidade. 2. Efeito
repristinatório da declaração de
inconstitucionalidade. 3. Custas
judiciais. Destinação a entidades
privadas. Inconstitucionalidade. O
Supremo Tribunal Federal já manifestou,
por diversas vezes, o entendimento de
que é vedada a destinação dos valores

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73

recolhidos a título de custas e


emolumentos a pessoas jurídicas de
direito privado. Precedentes. 4. Ação
julgada procedente. Tendo em vista
razões de segurança jurídica e de
excepcional interesse social, aplica-se
o art. 27 da Lei n° 9.868/99, para
atribuir à declaração de
inconstitucionalidade efeitos a partir
da Emenda Constitucional n° 45, de
31.12.2004.

Decisão

O Tribunal, por unanimidade,


julgou procedente a ação direta, nos
termos do voto do Relator. Em seguida,
após o voto do Relator, da Senhora
Ministra Cármen Lúcia e dos Senhores
Ministros Carlos Britto, Ricardo
Lewandowski, Cezar Peluso e Sepúlveda
Pertence, que atribuíam os efeitos da
declaração de inconstitucionalidade a
partir da EC nº 45/2004; e dos votos
dos Senhores Ministros Marco Aurélio e
Joaquim Barbosa, que aplicavam os
efeitos ex tunc, o julgamento foi
suspenso para colher os votos dos
Senhores Ministros Eros Grau, Celso de
Mello e da Senhora Ministra Ellen

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74

Gracie (Presidente), ausentes


justificadamente no julgamento. Falou,
pelos amici curiae, o Dr. Ângelo
Sichinel. Presidência do Senhor
Ministro Gilmar Mendes (Vice-
Presidente). Plenário, 18.06.2007.

Decisão: O Tribunal, por


unanimidade, julgou procedente a ação
direta. Por maioria, deliberou atribuir
à declaração de inconstitucionalidade
efeitos a partir da Emenda
Constitucional nº 45/2004, vencidos os
Senhores Ministros Marco Aurélio e
Joaquim Barbosa, este último com voto
na assentada anterior, que aplicavam
efeitos ex tunc à decisão. Votou a
Presidente, Ministra Ellen
Gracie...........Plenário, 13.03.2008.

c) RE-AgR 341736 / AM - AMAZONAS


AG.REG.NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO
Relator(a): Min. GILMAR MENDES
Julgamento: 26/02/2008 Órgão
Julgador: Segunda Turma
DJe-055 DIVULG 27-03-2008 PUBLIC
28-03-2008
AGTE.(S): ESTADO DO AMAZONAS
ADV.(A/S): PGE-AM - RICARDO
ANTÔNIO REZENDE DE JESUS
AGDO.(A/S): LUIZ MACÁRIO PEREIRA
DO LAGO

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75

ADV.(A/S): AUTA DE AMORIM


GAGLIARDI MADEIRA E OUTRA

EMENTA: Agravo regimental em


Recurso Extraordinário. 2. Gratificação
incorporada aos proventos do servidor.
Lei no 1.762, de 1986 do Estado do
Amazonas. 3. Observância ao princípio
da segurança jurídica. Boa-fé do
agravado. 4. Agravo regimental a que se
nega provimento.

2ª Turma,

26.02.2008.

d) MS 26405 / DF - DISTRITO
FEDERAL
MANDADO DE SEGURANÇA
Relator(a): Min. CEZAR PELUSO
Julgamento: 17/12/2007 Órgão
Julgador: Tribunal Pleno
DJe-031 DIVULG 21-02-2008 PUBLIC
22-02-2008
IMPTE.(S): ALECXANDRA CONSUELO DE
SOUZA E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S): LUISA ISAURA MARTINS
IMPDO.(A/S): TRIBUNAL DE CONTAS DA
UNIÃO

EMENTA: SERVIDOR PÚBLICO.


Funcionário (s) da Empresa Brasileira
de Correios e Telégrafos - ECT. Cargo.
Ascensão funcional sem concurso
público. Anulação pelo Tribunal de

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76

Contas da União - TCU.


Inadmissibilidade. Ato aprovado pelo
TCU há mais de cinco (5) anos.
Inobservância do contraditório e da
ampla defesa. Consumação, ademais, da
decadência administrativa após o
qüinqüênio legal. Ofensa a direito
líquido e certo. Cassação dos acórdãos.
Segurança concedida para esse fim.
Aplicação do art. 5º, inc. LV, da CF, e
art. 54 da Lei federal nº 9.784/99. Não
pode o Tribunal de Contas da União, sob
fundamento ou pretexto algum, anular
ascensão funcional de servidor operada
e aprovada há mais de 5 (cinco) anos,
sobretudo em procedimento que lhe não
assegura o contraditório e a ampla
defesa.

Decisão

O Tribunal, à unanimidade,
concedeu a ordem de mandado de
segurança, nos termos do voto do
Relator. Votou a Presidente, Ministra
Ellen Gracie. Ausentes,
justificadamente, o Senhor Ministro
Eros Grau e a Senhora Ministra Cármen
Lúcia. Plenário, 17.12.2007.

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77

e) MS 26628 / DF - DISTRITO
FEDERAL
MANDADO DE SEGURANÇA
Relator(a): Min. CEZAR PELUSO
Julgamento: 17/12/2007 Órgão
Julgador: Tribunal Pleno - DJe-031
DIVULG 21-02-2008 PUBLIC 22-02-2008
IMPTE.(S): LUIS ANTÔNIO DA SILVA
SOUZA E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S): LUISA ISAURA MARTINS
IMPDO.(A/S): TRIBUNAL DE CONTAS DA
UNIÃO (TC Nº 00089119983)

EMENTA: SERVIDOR PÚBLICO.


Funcionário (s) da Empresa Brasileira
de Correios e Telégrafos - ECT. Cargo.
Ascensão funcional sem concurso
público. Anulação pelo Tribunal de
Contas da União - TCU.
Inadmissibilidade. Ato aprovado pelo
TCU há mais de cinco (5) anos.
Inobservância do contraditório e da
ampla defesa. Consumação, ademais, da
decadência administrativa após o
qüinqüênio legal. Ofensa a direito
líquido e certo. Cassação dos acórdãos.
Segurança concedida para esse fim.
Aplicação do art. 5º, inc. LV, da CF, e
art. 54 da Lei federal nº 9.784/99. Não
pode o Tribunal de Contas da União, sob
fundamento ou pretexto algum, anular
ascensão funcional de servidor operada
e aprovada há mais de 5 (cinco) anos,
sobretudo em procedimento que lhe não

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78

assegura o contraditório e a ampla


defesa.

O Tribunal, à unanimidade,
concedeu a ordem de mandado de
segurança, nos termos do voto do
Relator. Votou a Presidente, Ministra
Ellen Gracie.. Plenário, 17.12.2007.

f) No mesmo sentido do acórdão


acima citado, temos os julgados e
decisões monocráticas seguintes:

f.1 - MS 20999 (RTJ 131/1101), MS


24268 (RTJ 191/922), MS 26353, RE
158543 (RTJ 156/1042).

f.2 - Decisões monocráticas: MS


26237, MS 26393, MS 26406.

g) MS 26782 / DF - DISTRITO
FEDERAL
MANDADO DE SEGURANÇA
Relator(a): Min. CEZAR PELUSO
Julgamento: 17/12/2007 Órgão
Julgador: Tribunal Pleno
DJe-031 DIVULG 21-02-2008 PUBLIC
22-02-2008 EMENT VOL-02308-03 PP-00559
IMPTE.(S): SORAYA GUERRA DE SOUZA
IMPTE.(S): MARCELO SILVA DE GOES
ADV.(A/S): LUISA ISAURA MARTINS
IMPDO.(A/S): TRIBUNAL DE CONTAS DA
UNIÃO (TC Nº 00089119983)

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79

EMENTA: SERVIDOR PÚBLICO.


Funcionário (s) da Empresa Brasileira
de Correios e Telégrafos - ECT. Cargo.
Ascensão funcional sem concurso
público. Anulação pelo Tribunal de
Contas da União - TCU.
Inadmissibilidade. Ato aprovado pelo
TCU há mais de cinco (5) anos.
Inobservância do contraditório e da
ampla defesa. Consumação, ademais, da
decadência administrativa após o
qüinqüênio legal. Ofensa a direito
líquido e certo. Cassação dos acórdãos.
Segurança concedida para esse fim.
Aplicação do art. 5º, inc. LV, da CF, e
art. 54 da Lei federal nº 9.784/99. Não
pode o Tribunal de Contas da União, sob
fundamento ou pretexto algum, anular
ascensão funcional de servidor operada
e aprovada há mais de 5 (cinco) anos,
sobretudo em procedimento que lhe não
assegura o contraditório e a ampla
defesa.

O Tribunal, à unanimidade,
concedeu a ordem de mandado de
segurança, nos termos do voto do
Relator. Votou a Presidente, Ministra
Ellen Gracie.. Plenário, 17.12.2007.

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OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: Acórdãos


no mesmo sentido :

MS 26790, JULG-14-04-2008 UF-DF


TURMA-TP MIN-CEZAR PELUSO N.PP-006,
DJe-097 DIVULG 29-05-2008 PUBLIC 30-
05-2008, EMENT VOL-02321-01 PP-00103;
MS 26784, JULG-17-12-2007 UF-DF
TURMA-TP MIN-CEZAR PELUSO N.PP-006,
DJe-031 DIVULG 21-02-2008 PUBLIC 22-
02-2008. EMENT VOL-02308-03 PP-00565;

MS 26786, JULG-17-12-2007 UF-DF


TURMA-TP MIN-CEZAR PELUSO , N.PP-006,
DJe-031 DIVULG 21-02-2008 PUBLIC 22-
02-2008, EMENT VOL-02308-03 PP-00571;

MS 26800, JULG-17-12-2007 UF-DF


TURMA-TP MIN-CEZAR PELUSO N.PP-006,
DJe-031 DIVULG 21-02-2008 PUBLIC 22-
02-2008, EMENT VOL-02308-03 PP-00577;

MS 26802, JULG-17-12-2007 UF-DF


TURMA-TP MIN-CEZAR PELUSO, DJe-031
DIVULG 21-02-2008 PUBLIC 22-02-2008,
EMENT VOL-02308-03 PP-00583;

MS 26804 - JULG-17-12-2007 UF-


DF TURMA-TP MIN-CEZAR PELUSO - DJe-
031 DIVULG 21-02-2008 PUBLIC 22-02-
2008 - EMENT VOL-02308-03 PP-00589;

Página 80 de 98
81

MS 26805 - JULG-17-12-2007 UF-


DF TURMA-TP MIN-CEZAR PELUSO, DJe-
031 DIVULG 21-02-2008 PUBLIC 22-02-
2008 - EMENT VOL-02308-03 PP-00595;

MS 26815 - JULG-17-12-2007 UF-


DF TURMA-TP MIN-CEZAR PELUSO , DJe-
031 DIVULG 21-02-2008 PUBLIC 22-02-
2008 -

EMENT VOL-02308-03 PP-00601;

MS 26816 - JULG-17-12-2007 UF-


DF TURMA-TP MIN-CEZAR PELUSO N.PP-
006

DJe-031 DIVULG 21-02-2008 PUBLIC


22-02-2008 - EMENT VOL-02308-03 PP-
00607;

MS 26817 - JULG-17-12-2007 UF-


DF TURMA-TP MIN-CEZAR PELUSO - DJe-
031 DIVULG 21-02-2008 PUBLIC 22-02-
2008 - EMENT VOL-02308-03 PP-00613;

MS 26822 - JULG-17-12-2007 UF-


DF TURMA-TP MIN-CEZAR PELUSO - DJe-
031 DIVULG 21-02-2008 PUBLIC 22-02-
2008 - EMENT VOL-02308-03 PP-00619;

MS 26824 - JULG-17-12-2007 UF-


DF TURMA-TP MIN-CEZAR PELUSO - DJe-

Página 81 de 98
82

031 DIVULG 21-02-2008 PUBLIC 22-02-


2008 - EMENT VOL-02308-03 PP-00625;

MS 26829 - JULG-17-12-2007 UF-


DF TURMA-TP MIN-CEZAR PELUSO - DJe-
031 DIVULG 21-02-2008 PUBLIC 22-02-
2008 - EMENT VOL-02308-03 PP-00631;

MS 26832 - JULG-17-12-2007 UF-


DF TURMA-TP MIN-CEZAR PELUSO - DJe-
031 DIVULG 21-02-2008 PUBLIC 22-02-
2008 = EMENT VOL-02308-03 PP-00637;

MS 26840 - JULG-17-12-2007 UF-


DF TURMA-TP MIN-CEZAR PELUSO - DJe-
031 DIVULG 21-02-2008 PUBLIC 22-02-
2008 - EMENT VOL-02308-03 PP-00643

MS 26845 - JULG-17-12-2007 UF-


DF TURMA-TP MIN-CEZAR PELUSO - DJe-
031 DIVULG 21-02-2008 PUBLIC 22-02-
2008 - EMENT VOL-02308-03 PP-00649;

MS 26873 - JULG-17-12-2007 UF-


PR TURMA-TP MIN-CEZAR PELUSO - DJe-
031 DIVULG 21-02-2008 PUBLIC 22-02-
2008 - EMENT VOL-02308-03 PP-00655 -;

MS 26875 - JULG-17-12-2007 UF-


DF TURMA-TP MIN-CEZAR PELUSO - DJe-
031 DIVULG 21-02-2008 PUBLIC 22-02-
2008 - EMENT VOL-02308-03 PP-00661

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83

h) MS 26363 / DF - DISTRITO
FEDERAL
MANDADO DE SEGURANÇA
Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO
Julgamento: 17/12/2007 Órgão
Julgador: Tribunal Pleno

IMPTE.(S): DALVANIA GOMES DELGADO


PINTO E OUTRO(A/S)

ADV.(A/S): ARAZY FERREIRA DOS


SANTOS E OUTRO(A/S)

IMPDO.(A/S): TRIBUNAL DE CONTAS DA


UNIÃO

Ementa - CONTROLE EXTERNO -


TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO -
MOVIMENTAÇÃO FUNCIONAL - FATOR TEMPO -
CONTRADITÓRIO. O ato de glosa do
Tribunal de Contas da União na
atividade de controle externo,
alcançando situação constituída -
ocupação de cargo por movimentação
vertical (ascensão) -, fica sujeito ao
prazo decadencial de cinco anos
previsto no artigo 54 da Lei nº
9.784/99 e ao princípio constitucional
do contraditório, presentes a segurança
jurídica e o devido processo legal.

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84

O Tribunal, à unanimidade,
concedeu a ordem de mandado de
segurança, nos termos do voto do
Relator. Votou a Presidente, Ministra
Ellen Gracie. Ausentes,
justificadamente, o Senhor Ministro
Eros Grau e a Senhora Ministra Cármen
Lúcia. Plenário, 17.12.2007.

i) ADI 3819 / MG - MINAS GERAIS


AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
Relator(a): Min. EROS GRAU
Julgamento: 24/10/2007 Órgão
Julgador: Tribunal Pleno
Publicação: DJe-055 DIVULG 27-03-
2008 PUBLIC 28-03-2008
EMENT VOL-02312-03 PP-00356
REQTE.(S): PROCURADOR-GERAL DA
REPÚBLICA
REQDO.(A/S): GOVERNADOR DO ESTADO
DE MINAS GERAIS
REQDO.(A/S): ASSEMBLÉIA
LEGISLATIVA DO ESTADO DE MINAS GERAIS
INTDO.(A/S): DEFENSORIA PÚBLICA DO
ESTADO DE MINAS GERAIS
ADV.(A/S): DPE - MG MARLENE
OLIVEIRA NERY

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 140,
CAPUT E PARÁGRAFO ÚNICO, E ARTIGO 141
DA LEI COMPLEMENTAR N. 65. ARTIGO 55,
CAPUT E PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI N.
15.788. ARTIGO 135, CAPUT E § 2º, DA
LEI N. 15.961. LEIS DO ESTADO DE MINAS

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85

GERAIS. INVESTIDURA E PROVIMENTO DOS


CARGOS DA CARREIRA DE DEFENSOR PÚBLICO
ESTADUAL. SERVIDORES ESTADUAIS
INVESTIDOS NA FUNÇÃO DE DEFENSOR
PÚBLICO E NOS CARGOS DE ASSISTENTE
JURÍDICO DE PENITENCIÁRIA E DE ANALISTA
DE JUSTIÇA. TRANSPOSIÇÃO PARA A RECÉM
CRIADA CARREIRA DE DEFENSOR PÚBLICO
ESTADUAL SEM PRÉVIO CONCURSO PÚBLICO.
MODULAÇÃO DOS EFEITOS. AFRONTA AO
DISPOSTO NOS ARTIGOS 37, II, E 134, §
1º, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. 1. Os
preceitos objeto da ação direta de
inconstitucionalidade disciplinam a
forma de investidura e provimento dos
cargos da carreira de Defensor Público
Estadual. 2. Servidores estaduais
integrados na carreira de Defensor
Público Estadual, recebendo a
remuneração própria do cargo de
Defensor Público de Primeira Classe,
sem o prévio concurso público.
Servidores investidos na função de
Defensor Público, sem especificação do
modo como se deu a sua investidura, e
ocupantes dos cargos de Assistente
Jurídico de Penitenciária e de Analista
de Justiça. 3. A exigência de concurso
público como regra para o acesso aos

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86

cargos, empregos e funções públicas


confere concreção ao princípio da
isonomia. 4. Não-cabimento da
transposição de servidores ocupantes de
distintos cargos para o de Defensor
Público no âmbito dos Estados-membros.
Precedentes. 5. A autonomia de que são
dotadas as entidades estatais para
organizar seu pessoal e respectivo
regime jurídico não tem o condão de
afastar as normas gerais de observância
obrigatória pela Administração Direta e
Indireta estipuladas na Constituição
[artigo 25 da CB/88]. 6. O servidor
investido na função de defensor público
até a data em que instalada a
Assembléia Nacional Constituinte pode
optar pela carreira, independentemente
da forma da investidura originária
[artigo 22 do ADCT]. Precedentes. 7.
Ação direta julgada procedente para
declarar inconstitucionais o caput e o
parágrafo único do artigo 140 e o
artigo 141 da Lei Complementar n. 65; o
artigo 55, caput e parágrafo único, da
Lei n. 15.788; o caput e o § 2º do
artigo 135, da Lei n. 15.961, todas do
Estado de Minas Gerais. Modulação dos
efeitos da decisão de

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87

inconstitucionalidade. Efeitos
prospectivos, a partir de 6 [seis]
meses contados de 24 de outubro de
2007.

Decisão: Após os votos colhidos,


em que foi julgada parcialmente
procedente a ação para, dando
interpretação conforme à Constituição
ao artigo 140, caput, da Lei
Complementar nº 65, de 16 de janeiro de
2.003, restringir o sentido da
expressão defensores públicos, de modo
que ela alcance somente aqueles
aprovados em concurso público para o
cargo; declarar a inconstitucionalidade
do parágrafo único do artigo 140, do
artigo 141, ambos da LC nº 65/2003, e
do artigo 135, caput e § 2º da Lei nº
15.961, de 30 de dezembro de 2.005,
todas do Estado de Minas Gerais, foi
indicado pelo Relator adiamento para a
próxima sessão extraordinária.
Presidência da

Senhora Ministra Ellen Gracie.


Plenário, 17.10.2007.

Decisão: O Tribunal adiou para a


próxima sessão a

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88

deliberação sobre a modulação dos


efeitos da declaração de
inconstitucionalidade. Presidência da
Senhora Ministra Ellen Gracie.
Plenário, 18.10.2007.

O Tribunal, por maioria, nos


termos do voto reajustado do Relator,
julgou procedente a ação direta para
declarar a inconstitucionalidade do
artigo 140, caput, parágrafo único, e
do artigo 141, ambos da Lei
Complementar nº 65, de 16 de janeiro de
2003; do artigo 55, caput, parágrafo
único, da Lei nº 15.788, de 27 de
outubro de 2005; e do artigo 135, caput
e § 2º, da Lei nº 15.961, todas do
Estado de Minas Gerais, vencidos, em
parte, os Senhores Ministros Marco
Aurélio e Gilmar Mendes. Votou a
Presidente, Ministra Ellen Gracie. Em
seguida, o Tribunal, por maioria, nos
termos do disposto no artigo 27 da Lei
nº 9.868, decidiu que a declaração terá
eficácia a partir de 6 (seis) meses, a
contar da decisão tomada hoje, vencido
neste ponto o Senhor Ministro Marco
Aurélio, que fixava o prazo de 24 meses
para esta eficácia. Votou o Presidente,

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Ministro Gilmar Mendes ( Vice-


Presidente). Plenário, 24.10.2007.

j) RE-AgR 364511 / AM - AMAZONAS


AG.REG.NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO
Relator(a): Min. CELSO DE MELLO
Julgamento: 23/10/2007 Órgão
Julgador: Segunda Turma.
Publicação: DJe-152 DIVULG 29-11-
2007 PUBLIC 30-11-2007. DJ 30-11-2007
PP-00108 EMENT VOL-02301-04 PP-00704.
AGTE.(S): ESTADO DO AMAZONAS
ADV.(A/S): PGE-AM - R. PAULO DOS
SANTOS NETO
AGDO.(A/S): RITA DE CÁSSIA
NEGREIROS CAVALCANTI
ADV.(A/S): ANTÔNIO DO NASCIMENTO
ARAÚJO

E M E N T A: RECURSO EXTRAORDINÁRIO -
SERVIDOR PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS
- APOSENTADORIA - GRATIFICAÇÃO
INSTITUÍDA PELA LEI ESTADUAL Nº
1.762/86 - MANUTENÇÃO - OBSERVÂNCIA AOS
POSTULADOS DA BOA-FÉ DOS CIDADÃOS E DA
SEGURANÇA JURÍDICA - RECURSO DE AGRAVO
IMPROVIDO.

Decisão

A Turma, por votação unânime,


negou provimento ao recurso de agravo,
nos termos do voto do Relator. 2ª
Turma, 23.10.2007.

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90

Indexação

- Observação

- Acórdãos citados: MS 22357, MS


24268, MS 24927,

RE 197917, RE 341732 AgR, RE


364017 AgR, RE 384334 AgR,

RE 395167 AgR, AI 395316 AgR, AI


402427 AgR-ED, RE 434221 AgR.

N.PP.: 6.

Análise: 04/12/2007, NAL.

Acórdãos no mesmo sentido

RE 570480 AgR - JULG-19-02-2008


UF-AM TURMA-02 MIN-CELSO DE MELLO
N.PP-006

DJE-078 DIVULG 30-04-2008 PUBLIC


02-05-2008 - EMENT VOL-02317-07 PP-
01360.

RE 440750 AgR - JULG-23-10-2007


UF-AM TURMA-02 MIN-CELSO DE MELLO
N.PP-006

DJe-152 DIVULG 29-11-2007 PUBLIC


30-11-2007 - DJ 30-11-2007 PP-00109
EMENT VOL-02301-05 PP-00886

Página 90 de 98
91

RE 460139 AgR - JULG-23-10-2007


UF-AM TURMA-02 MIN-CELSO DE MELLO
N.PP-006

DJe-152 DIVULG 29-11-2007 PUBLIC


30-11-2007 - DJ 30-11-2007 PP-00109
EMENT VOL-02301-05 PP-01004

RE 462700 AgR - JULG-23-10-2007


UF-AM TURMA-02 MIN-CELSO DE MELLO
N.PP-006

DJe-152 DIVULG 29-11-2007 PUBLIC


30-11-2007 - DJ 30-11-2007 PP-00110
EMENT VOL-02301-05 PP-01039

k) RMS 25902 / DF - DISTRITO


FEDERAL
RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA
Relator(a): Min. MENEZES DIREITO
Julgamento: 16/10/2007 Órgão
Julgador: Primeira Turma

Publicação: DJe-165 DIVULG 18-12-


2007 PUBLIC 19-12-2007 - DJ 19-12-
2007 PP-00055 EMENT VOL-02304-01 PP-
00121.

RECTE.(S): CARLA POLASTRI FERREIRA

ADV.(A/S): CARLOS FREDERICO GUSMAN


PEREIRA E OUTRO(A/S)

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RECDO.(A/S): UNIÃO

ADV.(A/S): ADVOGADO-GERAL DA
UNIÃO

EMENTA Recurso Ordinário. Mandado de


Segurança. Servidor Público. Anistia.
Leis nºs 8.878/94 e 9.784/99. Prestação
jurisdicional. 1. O tema concernente à
ilegalidade do ato coator, tendo em
vista que a impetrante teria
apresentado toda a documentação exigida
para o processamento do pedido de
anistia, não foi examinado no acórdão
recorrido, mesmo após a oposição dos
embargos declaratórios. A questão foi
trazida na inicial do mandado de
segurança (fl. 8), caracterizada a
negativa de prestação jurisdicional. A
apontada ilegalidade, que resultou na
retirada da principal fonte de sustento
da impetrante, merece minucioso exame,
ressaltando-se, ainda, a necessária
prudência decorrente dos princípios da
segurança jurídica e do direito
adquirido ventilados no Parecer do
Ministério Público Federal. 2. Recurso
ordinário conhecido e parcialmente
provido.

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Decisão

A Turma conheceu do recurso


ordinário em mandado de segurança, lhe
deu parcial provimento e julgou
prejudicado o agravo regimental, nos
termos do voto do Relator. Unânime.

1ª. Turma, 16.10.2007.

l) MS 24448 / DF - DISTRITO
FEDERAL
MANDADO DE SEGURANÇA
Relator(a): Min. CARLOS BRITTO
Julgamento: 27/09/2007 Órgão
Julgador: Tribunal Pleno

Publicação: DJe-142 DIVULG 13-11-


2007 PUBLIC 14-11-2007 - DJ 14-11-
2007 PP-00042 EMENT VOL-02299-01 PP-
00146.
IMPTE.(S): APARECIDA MARIA SOARES
ADV.(A/S): TERSON RIBEIRO CARVALHO
IMPDO.(A/S): TRIBUNAL DE CONTAS DA
UNIÃO
IMPDO.(A/S): SECRETÁRIO DE
RECURSOS HUMANOS DO MINISTÉRIO DO
PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO

EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA.


SECRETÁRIO DE RECURSOS HUMANOS DO
MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E
GESTÃO. ILEGITIMIDADE PASSIVA. ATO DO

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO.


COMPETÊNCIA DO STF. PENSÕES CIVIL E
MILITAR. MILITAR REFORMADO SOB A CF DE
1967. CUMULATIVIDADE. PRINCÍPIO DA
SEGURANÇA JURÍDICA. GARANTIAS DO
CONTRÁRIO E DA AMPLA DEFESA. 1. O
Secretário de Recursos Humanos do
Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão é parte ilegítima para figurar
no pólo passivo da ação mandamental,
dado que é mero executor da decisão
emanada do Tribunal de Contas da União.
2. No julgamento do MS nº 25.113/DF,
Rel. Min. Eros Grau, o Tribunal decidiu
que, "reformado o militar instituidor
da pensão sob a Constituição de 1967 e
aposentado como servidor civil na
vigência da Constituição de 1988, antes
da edição da EC 20/98, não há falar-se
em acumulação de proventos do art. 40
da CB/88, vedada pelo art. 11 da EC n.
20/98, mas a percepção de provento
civil (art. 40 CB/88) cumulado com
provento militar (art. 42 CB/88),
situação não abarcada pela proibição da
emenda". Precedentes citados: MS nº
25.090/DF, MS nº 24.997/DF e MS nº
24.742/DF. Tal acumulação, no entanto,
deve obversar o teto previsto no inciso

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XI do art. 37 da Constituição Federal.


3. A inércia da Corte de Contas, por
sete anos, consolidou de forma positiva
a expectativa da viúva, no tocante ao
recebimento de verba de caráter
alimentar. Este aspecto temporal diz
intimamente com o princípio da
segurança jurídica, projeção objetiva
do princípio da dignidade da pessoa
humana e elemento conceitual do Estado
de Direito. 4. O prazo de cinco anos é
de ser aplicado aos processos de contas
que tenham por objeto o exame de
legalidade dos atos concessivos de
aposentadorias, reformas e pensões.
Transcorrido in albis o interregno
qüinqüenal, é de se convocar os
particulares para participar do
processo de seu interesse, a fim de
desfrutar das garantias do
contraditório e da ampla defesa (inciso
LV do art. 5º). 5. Segurança concedida.

Decisão: O Tribunal, por


unanimidade, excluiu do pólo passivo o
Senhor Secretário de Recursos Humanos
do Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão e concedeu a
segurança, nos termos do voto do
Relator. Votou a Presidente, a Senhora

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Ministra Ellen Gracie. Ausentes,


justificadamente, o Senhor Ministro
Eros Grau e, neste julgamento, o Senhor
Ministro Celso de Mello. Plenário,
27.09.2007.

Demonstramos através dos inúmeros acórdãos do


STF que acabam de ser citados como a segurança
jurídica é homenageada, no referente à prática de
atos administrativos quando há pretensão dos
mesmo serem desconstituídos após terem produzido
efeitos no temo. Diferentemente não é a situação
que estamos a analisar no presente parecer.

9 – A CONTRATAÇÃO DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS


MÉDICOS AO SUS COM PESSOAS JURÍDICAS QUE TÊM COMO
OBJETIVO O LUCRO.

A Constituição Federal de 1998, em seu artigo


Art. 199 determina que . “A assistência à saúde é livre à iniciativa
privada.§ 1º - As instituições privadas poderão participar de forma
complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste,
mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as
entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.”
De acordo com a mensagem constitucional as instituiçõe
privadas, tipo que a consulene ostenta, pode participar de forma
complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste,
mediante contrato de direito público. Exige a vontade constitucional
que tenham preferência absoluta para firmação dos contratos as
instituições sem fins lucrativos e as entidades filantrópicas. A
consulente, por ser uma cooperativa legalmente constituída, não tem
fins lucrativos em face de proibição legal. Os seus resultados são
imediatamente distribuídos entre os cooperados de forma previamente
disciplina em normativos reguladores do sistema cooperativista.

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As pessoas jurídicas privadas, no caso entidades hospitalares e


casas de saúde, que tenham fins lucrativos, isto é, que distribuem
lucros com os seus sócios, estão impedidas de celebrarem contratos
para, de forma complementar, prestarem serviços ao SUS e serem
teles serão remnunmerados. Nunca a participação de forma
complementar e necessário para a higidez e eficiência do sistema.

10 – CONCLSÕES
Apresentamos as conclusões dos fundamentos desenvolvidos no
presente parecer com a preocupação de oferecimento de respostas aos
questionamentos da consulente.
Em face de tudo quanto exposto, concluímos que:
a) O fato dos contratos anteriormente firmados pela
Cooperativa consulente com o Estado do Rio Grande do
Norte, durante longos anoso prazo de 12 (doze) anos, sem
nenhuma contestação pelo Poder Judiciário, por a tanto não
ter sido provocado, com aprovação do Tribunal de Contas e
da Assembléia Legislativa, caracteriza a absoluta legalidade
do referido negócio administrativo.
b) O direito à saúde é de natureza relevante e fundamental. A
sua prestação pelo Poder Público não pode sofrer solução de
continuidade, sob pena de responsabilidade dos gestores
públicos.
c) O SUS é um sistema unificado de prestação de serviços
públicos à saúde que necessita da colaboração de pessoas
jurídicas de direito privado para que sejam executados com
eficácia e eficiência, em face da complexidade que os envolvel.
A tanto permite o at. 199 da CF: “ - As instituições privadas
poderão participar de forma complementar dSo sistema único
de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de
direito público ou convênio, tendo preferência as entidades
filantrópicas e as sem fins lucrativos”.
d) O reconhecimento de estado de calamidade pública nos
serviços de saúde decretata pelo Estado do Rio Grande do
Norte e pela Prefeitura Municipal do Natal exige que,
imediatamente, sejam renovados os contratos que por doze
anos vinham sendo mantidos com as Cooperativas de
Prestação de Servições Médicos, para de forma complementar
serem atingidos os objetivos do SUS, sob pena de ferimento
aos princípios da dignidade humana, da continuidade do
serviço público fundamental e o de que o Estado, como Poder

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Público, tem a obrigação de zelar pela saúde dos seus


cidadãos e da vida humana.
e) O reconhecimento de estado de calamidade publica na área de
saúde pelo Estado do Rio Grande do Norte e pela Prefeitura
Municipal do Natal pode ensejar, caso não haja uma imediata
solução para o problema, intervenção federal, por a tanto
permitir o art. 34, III e VII, “b”, da CF.
f) As Cooperativas no Brasil são entidades de direito privado
prestigiadas, expressamente, pela Constituição Federal que
estimula a sua criação e desenvolvimento com incentivos
fiscais e facilidade de atuação, sem permitir qualquer
intervenção do Poder Público em seu funcionamento.
g) Não há razoabilidade jurídica para o Ministério Público
intervir na Administração Pública Estadual e Municipal
fazendo recomendações que provoquem, como provocaram as
questionadas no presente parecer, quebra do princípio da
continuidade do serviço público e caos na prestação de ações
protetoras da saúde pública da cidadania.
h) O Executivo, o Judiciário e o Legislativo são independentes no
cumprimento de sua missão pelo que não podem sofrer
interferências desproporcionais com as regras do
ordenamento jurídico por quaisquer outros órgãos que
integram a estrutura do Estado, notadamente quando
cumprem as determinações da Constituição e das leis
infraconstitucionais. .
i) São indiscutíveis a legalidade da firmação de contratos pelo
Poder Público com as Cooperativias Médicas de Prestação de
Serviço para, de forma complementar, viabilizar a eficiência
dos serviços médicos prestados à população pelo SUS, haja
vista que tais pessoas jurídicas de direito privado, sociedades
simples, não visam lucro.
j) A obrigação do Poder Público zelar pela saúde dos seus
administrados é de natureza fundamental. Não pode ser
restringida por ação de qualquer Poder, por ser, tal atividade,
necessária ao fortalecimento do Estado Democrático de
Direito, à proteção à saúde e à vida humana..

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