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fazer acontecer

Educação para fazer


a roda girar
Antropólogo por formação, educador popular por quadro e sem lápis e caderno. Mas os meninos no Ser Criança. A diretora se perguntava por que
opção, folclorista por necessidade, mineiro por apareceram. “Um dia, uma criança faltou porque eles não queriam ficar na escola”, explica Tião.
sorte e atleticano por sina. Esse é Tião Rocha, estava com catapora. Aí decidimos: se ela não Pais e professores começaram a cobrar do projeto
o idealizador e fundador do Centro Popular de vem, a escola vai até ela”, explica Tião. “No dia o reforço escolar. “Não queremos reforçar esta
Cultura e Desenvolvimento (CPCD), urna escola seguinte, outro menino deu o recado da mãe: não escola, mas criar uma nova escola, um novo
diferente. Cansado de ser professor que apenas precisava que ele ficasse doente para irmos até jeito de ensinar e de aprender”, contestou Tião.
ensina, ele resolveu tornar-se um educador ou o a casa dele. Ganhamos vinte salas de aula”. Das Mas os educadores do Ser Criança, juntamente
que aprende. Em 1984, na casa onde nasceu, em aulas debaixo do pé de árvore veio a pedagogia com os alunos, criaram mais de 900 jogos para
Belo Horizonte, Tião lançou a pedra fundamental da roda. Todos em círculo, as ideias vão brotando suprir as deficiências identificadas. Certo dia,
do CPCD. Por inspiração de Guimarães Rosa, foi e, de repente, todo mundo sabe o que quer um professor veio conhecer a Damática - dama e
abrir a porta do sertão, em Curvelo, “cidade - aprender, sem que ninguém perca a opinião. “A matemática - um jogo em que, a cada passo, era
capital da minha literatura”, como dizia o escritor. pedagogia da roda é do aprendiz, da esperança, preciso fazer determinada conta. “Fizemos uma

Tião: boa educação é feita por bons educadores. ▲ Dedo de Gente: trabalho garantido. ▲
“Nas minhas andanças por lá, vi que havia criança do diálogo, do círculo como algo sagrado. oficina e, na primeira semana, criamos 168 jogos
de mais e escola de menos”, conta o educador. “Um Com ela, o Sementinha virou uma sementeira. Foi a abertura da porta da frente da escola para
dia, numa entrevista na rádio local, perguntei se era Aprendemos que é possível educação sem escola nós. Nascia mais um projeto, o Bornal de Jogos,
possível fazer educação sem escola ou uma escola ou debaixo das árvores, mas é impossível boa que tem cerca de 230 jogos educativos certificados
debaixo de um pé de manga. Marquei um encontro educação sem bons educadores. Educação só e já rendeu vários prêmios ao Projeto”, explica o
com os ouvintes e apareceram 26 pessoas”, relembra acontece no plural”, explica Tião. educador.
Tião. Era o início do projeto Sementinha. “Vi que
falávamos de uma escola que não gostaríamos de ter
As “sementes” da sementeira tiveram de ir para a
escola formal aos sete anos e bateram de frente
Dedo de Gente
tido. Então, criamos os não objetivos educacionais. com o sistema. Eram os meninos-sementinha, de Vários outros projetos vieram daquela sementeira,
0 projeto virou um documento, que foi enviado difícil adaptação, porque questionavam, queriam dentre os quais uma cooperativa, que começou
a várias instituições para solicitar patrocínio”, participar, construir juntos. Desse novo momento, com a feitura de sabão de sebo numa escola
explica. Intrigado, um diretor da Fundação Kellogg veio outro projeto: o Ser Criança. Ele surgiu de municipal da região. Daí surgiu a Pedagogia
questionou: “Como apoiar um projeto com não outra pergunta: a escola tem de ser carrancuda do Sabão, que hoje conta com mais de 1.700
objetivos?” Dez meses depois, apoiou o Sementinha. como o serviço militar obrigatório aos sete anos? tecnologias populares de baixo custo. Certo dia,
E a escola nasceu debaixo do pé de manga. Ou pode ser alegre, um lugar onde os meninos um menino disse que podia fazer qualquer coisa em
aprendam o que precisam aprender, brincando? madeira. Outros sabiam fazer gaiolas. Daí brotaram
Pedagogia da roda “Fomos buscar no lixo e na sucata recursos que
diversas fabriquetas que, reunidas, viraram a
Cooperativa Dedo de Gente. “Os jovens que vêm
foram transformados em brinquedos educativos.
dos projetos educacionais têm lugar garantido na
As 26 pessoas envolvidas foram aos bairros Assim nasceu a pedagogia do brinquedo. No
cooperativa, se assim desejarem. Nossa meta é
conversar com as famílias. Os pais não entendiam primeiro ano, todos os meninos levaram bomba na
chegar a 100 cooperados”, afirma Tião.
como era possível uma escola sem banco, sem escola pública e, é claro, passaram com louvor

4 Momento
De Curvelo, os projetos saíram para o Vale do é lidar com quasel 50 milhões de alunos. Nen-
São Francisco e Jequitinhonha, Bahia, Amazônia, huma solução que não possa ser aplicada nesse
Moçambique, Guiné-Bissau. Em Araçuaí, Minas número pode ser considerada assunto central na
Gerais, o CPCD lançou o Cidade Educativa, educação brasileira”, afirma o economista.
depois de criar uma UTI educacional para tirar
Para Cláudio, o educador desenvolveu inovações
os meninos da chamada “morte cívica” - jovens
que podem até ser utilizadas nos grandes siste-
analfabetos depois de oito anos na escola. “O
mas educativos. “Mas estou convencido de que
destino desses jovens seria o corte de cana, e
elas não servem para os nossos 50 milhões de
eles não entendiam por que tinham de aprender”,
alunos. Grandes sistemas precisam de soluções
explica o educador. “Em todo esse tempo, nunca
simples, bem definidas, robustas, fáceis de
perdemos ninguém para o corte de cana. Só
implantar e de dizer se deram certo. Principal-
perdemos dez meninos: seis para a Universidade
mente, não podem depender da criatividade,
de Música Popular, a Bituca, em Barbacena,
da virtuosidade e da iniciativa de professores
e quatro para o balé Bolshoi, em Joinville”,
individualmente”.
comemora. “Isso é perder para o futuro e não
para o passado”. A experiência de Araçuaí está registrada no livro
Álbum de histórias, com texto da jornalista
Políticas públicas Rosângela Guerra. Mas também está marcada
no rosto de centenas de crianças e jovens que
tiveram a felicidade de participar dos Projetos.
Segundo Cláudio Moura Castro, economista e Dentre eles, os participantes do coral Meninos
articulista da revista Veja, Tião Rocha realiza uma do Araçuaí, criado em parceria com o grupo
obra meritória e de consequências importantes Ponto de Partida, que coordena a Bituca e que
para as pessoas diretamente afetadas por ele. “É conta com o patrocínio da Natura. O dinheiro
um homem criativo, independente, sem medo de ganho pelos meninos com a venda dos CDs virou
ser diferente. Mas o que faz precisa ser colocado um cinema na cidade, o único na região. Seja
no marco das políticas públicas para o Brasil, onde cantada, seja falada, a voz que vem de lá soa
o problema encantada. E faz mais gente feliz.

Aula de culinária: aprender brincando. ▲

A pequena leitora justa para as crianças e jovens da região”,


afirma Giane Vieira Resende, coordenadora
Para Jéssica, a biblioteca não pode parar.
“As crianças devem ler mais para melhorar o
Virgem da Lapa fica no Jequitinhonha e é da Biblioteca, que conta com 4.305 livros, a vocabulário e, assim, aprender muito”, conta.
maioria procedente de doações. Pequena grande leitora, seu recado está dado!
chamada de “Princesinha do Vale”, por ser a
cidade mais limpa da região. Entre as princesas
Jéssica ia à biblioteca todos os dias depois da Jéssica: entre tantos, um livro preferido.
que moram ali, Jéssica dos Reis Silva Santos, de
escola, acompanhada da mãe, Nilza dos Reis.
10 anos, se destaca pela sua paixão incondicional:
Começou lendo revistas da Turma da Mônica.
a leitura. Em pouco mais de um ano, ela leu 372
Logo se interessou por literatura infanto-juvenil.
livros, mas a contagem está longe de terminar.
“Gosto muito dos contos de fadas. A minha
favorita é a da Princesa enfeitiçada”, afirma
Tudo começou com a inauguração da Biblioteca a menina. Quando a biblioteca alcançou mil
Cidade Educativa, em dezembro de 2007, pessoas cadastradas, ela foi homenageada por
como parte do projeto Cidade Educativa, ser a criança que mais havia lido na cidade.
desenvolvido pelo Centro Popular de Cultura Na época, tinha lido 162 livros. “É maravilhoso
e Desenvolvimento na região. “Nosso objetivo ver nosso filho lendo. É bonito e incentiva os
é criar oportunidades de aprendizagem para a coleguinhas a lerem também”, explica a mãe.
construção de uma sociedade ética, solidária e “Não é à toa que a gente chora de emoção”.

Momento
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