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Tião: boa educação é feita por bons educadores. ▲ Dedo de Gente: trabalho garantido. ▲
“Nas minhas andanças por lá, vi que havia criança do diálogo, do círculo como algo sagrado. oficina e, na primeira semana, criamos 168 jogos
de mais e escola de menos”, conta o educador. “Um Com ela, o Sementinha virou uma sementeira. Foi a abertura da porta da frente da escola para
dia, numa entrevista na rádio local, perguntei se era Aprendemos que é possível educação sem escola nós. Nascia mais um projeto, o Bornal de Jogos,
possível fazer educação sem escola ou uma escola ou debaixo das árvores, mas é impossível boa que tem cerca de 230 jogos educativos certificados
debaixo de um pé de manga. Marquei um encontro educação sem bons educadores. Educação só e já rendeu vários prêmios ao Projeto”, explica o
com os ouvintes e apareceram 26 pessoas”, relembra acontece no plural”, explica Tião. educador.
Tião. Era o início do projeto Sementinha. “Vi que
falávamos de uma escola que não gostaríamos de ter
As “sementes” da sementeira tiveram de ir para a
escola formal aos sete anos e bateram de frente
Dedo de Gente
tido. Então, criamos os não objetivos educacionais. com o sistema. Eram os meninos-sementinha, de Vários outros projetos vieram daquela sementeira,
0 projeto virou um documento, que foi enviado difícil adaptação, porque questionavam, queriam dentre os quais uma cooperativa, que começou
a várias instituições para solicitar patrocínio”, participar, construir juntos. Desse novo momento, com a feitura de sabão de sebo numa escola
explica. Intrigado, um diretor da Fundação Kellogg veio outro projeto: o Ser Criança. Ele surgiu de municipal da região. Daí surgiu a Pedagogia
questionou: “Como apoiar um projeto com não outra pergunta: a escola tem de ser carrancuda do Sabão, que hoje conta com mais de 1.700
objetivos?” Dez meses depois, apoiou o Sementinha. como o serviço militar obrigatório aos sete anos? tecnologias populares de baixo custo. Certo dia,
E a escola nasceu debaixo do pé de manga. Ou pode ser alegre, um lugar onde os meninos um menino disse que podia fazer qualquer coisa em
aprendam o que precisam aprender, brincando? madeira. Outros sabiam fazer gaiolas. Daí brotaram
Pedagogia da roda “Fomos buscar no lixo e na sucata recursos que
diversas fabriquetas que, reunidas, viraram a
Cooperativa Dedo de Gente. “Os jovens que vêm
foram transformados em brinquedos educativos.
dos projetos educacionais têm lugar garantido na
As 26 pessoas envolvidas foram aos bairros Assim nasceu a pedagogia do brinquedo. No
cooperativa, se assim desejarem. Nossa meta é
conversar com as famílias. Os pais não entendiam primeiro ano, todos os meninos levaram bomba na
chegar a 100 cooperados”, afirma Tião.
como era possível uma escola sem banco, sem escola pública e, é claro, passaram com louvor
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De Curvelo, os projetos saíram para o Vale do é lidar com quasel 50 milhões de alunos. Nen-
São Francisco e Jequitinhonha, Bahia, Amazônia, huma solução que não possa ser aplicada nesse
Moçambique, Guiné-Bissau. Em Araçuaí, Minas número pode ser considerada assunto central na
Gerais, o CPCD lançou o Cidade Educativa, educação brasileira”, afirma o economista.
depois de criar uma UTI educacional para tirar
Para Cláudio, o educador desenvolveu inovações
os meninos da chamada “morte cívica” - jovens
que podem até ser utilizadas nos grandes siste-
analfabetos depois de oito anos na escola. “O
mas educativos. “Mas estou convencido de que
destino desses jovens seria o corte de cana, e
elas não servem para os nossos 50 milhões de
eles não entendiam por que tinham de aprender”,
alunos. Grandes sistemas precisam de soluções
explica o educador. “Em todo esse tempo, nunca
simples, bem definidas, robustas, fáceis de
perdemos ninguém para o corte de cana. Só
implantar e de dizer se deram certo. Principal-
perdemos dez meninos: seis para a Universidade
mente, não podem depender da criatividade,
de Música Popular, a Bituca, em Barbacena,
da virtuosidade e da iniciativa de professores
e quatro para o balé Bolshoi, em Joinville”,
individualmente”.
comemora. “Isso é perder para o futuro e não
para o passado”. A experiência de Araçuaí está registrada no livro
Álbum de histórias, com texto da jornalista
Políticas públicas Rosângela Guerra. Mas também está marcada
no rosto de centenas de crianças e jovens que
tiveram a felicidade de participar dos Projetos.
Segundo Cláudio Moura Castro, economista e Dentre eles, os participantes do coral Meninos
articulista da revista Veja, Tião Rocha realiza uma do Araçuaí, criado em parceria com o grupo
obra meritória e de consequências importantes Ponto de Partida, que coordena a Bituca e que
para as pessoas diretamente afetadas por ele. “É conta com o patrocínio da Natura. O dinheiro
um homem criativo, independente, sem medo de ganho pelos meninos com a venda dos CDs virou
ser diferente. Mas o que faz precisa ser colocado um cinema na cidade, o único na região. Seja
no marco das políticas públicas para o Brasil, onde cantada, seja falada, a voz que vem de lá soa
o problema encantada. E faz mais gente feliz.
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