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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

AS LUTAS SINDICAIS DO SETOR AUTOMOBILÍSTICO BRASILEIRO E O TRABALHO NA SOCIEDADE


CONTEMPORÂNEA

Trabalho apresentado à disciplina de Sociologia do


Trabalho do curso de Ciências Sociais, por Aline
Baroni
Professor(a): Benilde

CURITIBA
2005
I Considerações iniciais

Essa análise pretende estudar a reestruturação por que vêm passando as fábricas da
Volkswagen da região do Grande ABC. O esboço será feito sob a ótica sociológica.
Primeiramente, será feito um levantamento sobre a história do trabalho sob a ótica
de autores como Marx, Castells e Harvey e serão apresentadas as tendências gerais do
trabalho desde a manufatura, mas principalmente a partir do fordismo (1914). Em um
segundo momento, serão analisadas as características do setor automobilístico no Brasil.
Por fim, os principais conceitos serão relacionados à conjuntura da crise das montadoras.

II As “evoluções” do trabalho

A origem das manufaturas, segundo Marx, deu-se de dois modos. O primeiro foi
uma nova forma de organização do trabalho na oficina, que se baseava na divisão do
trabalho. Sob o comando de um capitalista, reuniam-se vários trabalhadores que exerciam
tarefas diferenciadas e das quais dependia o produto final. Outro foi a cooperação, modo
segundo o qual na oficina reuniam-se vários trabalhadores fazendo as mesmas tarefas. A
mercadoria, com essas transformações na produção, deixa de ser um produto individual e o
trabalhador passa a ser um repetidor das mesmas tarefas parciais, ininterruptas e
dependentes do dono do meio de produção. Para Marx, “o mecanismo manufatureiro é o
trabalho coletivo, constituído de muitos trabalhadores parciais” (MARX, 1984, p.392).
A repetição dessas mesmas operações traz como conseqüência a busca pelo mínimo
esforço da produção e vice-versa. Foi exatamente a necessidade de acabar com as
interrupções no fluxo de atividades e com o deslocamento que houve a especialização das
ações. “Ou o artigo se constitui pelo simples ajustamento mecânico de produtos parciais
independentes ou deve sua forma acabada a uma seqüência de operações e manipulações
conexas” (MARX, 1984, p. 393).
A manufatura é tida, então, como produto da divisão do trabalho e como uma
vantagem em relação ao artesanato por ser produto da cooperação. Marx aponta também
uma característica da manufatura que será definida, como veremos no próximo capítulo
desse trabalho, por Márcia de Paula Leite, quando discorre sobre a indústria
automobilística, como a formação de cadeias de produção: segundo Marx, a manufatura é a
combinação de vários ofícios diferentes e, em outro nível, a combinação de diferentes
manufaturas. A unidade técnica dessa produção só surge, no entanto, junto com a indústria
mecanizada.
A característica base dessa formação de cadeia é a transformação, quando a
manufatura já está instalada, de algumas partes do processo em atividades independentes, o
que atualmente convencionou-se chamar de terceirização. “Cada produto é uma etapa para
o artigo final, que é o produto de todos os trabalhos especiais combinados” (MARX, 1984,
p. 406), sendo que esses trabalhos especiais estão cada vez mais fora da esfera principal de
produção do produto.
Resumindo, a manufatura é o produto de um trabalho essencialmente em conjunto,
sendo que nenhum trabalhador parcial é capaz de produzir a mercadoria isoladamente. A
divisão do trabalho consiste na venda de diversas forças de trabalho para o capitalista e na
agregação, por parte do dono dos meios de produção, dessas forças de modo a produzir a
mercadoria.
A essência das formulações de Marx permanecem atuais, mas o trabalho e a
organização da produção passaram por transformações. A primeira – e mais importante
delas – que pode ser apontada é uma revolução nas tecnologias da informação, que leva à
construção de um mercado global e estabelecimento de novas relações entre economia,
Estado e sociedade.
Essa transformação tem marcado o capitalismo, aumentando a flexibilidade de
gerenciamento, descentralizando as empresas, declínio da influência dos movimentos de
trabalhadores, individualização e diversificação cada vez maior das relações de trabalho,
incorporação maciça das mulheres no mercado de trabalho (ainda que, como veremos mais
adiante, essa incorporação ainda seja precária no setor automobilístico), interferência estatal
em determinados momentos e aumento da concorrência econômica global (CASTELLS,
1999, p. 21).
A revolução tecnológica em vigor reestrutura globalmente o capitalismo e cria uma
sociedade informacional, segundo Castells. Tal sociedade é organizada por processos de
produção (relações de classes), experiência (relações entre os sexos) e poder (instituições
sociais e a violência institucionalizada do Estado). Há três modos de desenvolvimento:
agrário (dependente dos recursos naturais), industrial (dependente da energia) e
informacional (dependente da tecnologia e da geração de informação e conhecimento).
Na sociedade ocidental, a produção se dá em função dos lucros. Nesse sentido,
Harvey (1993) define que alguns problemas precisam ser negociados para garantir a
viabilidade do sistema. O primeiro é o alto grau de descentralização do mercado, que
permite aos produtores coordenem decisões de produção com as necessidades, vontades e
desejos dos consumidores. O mercado não é capaz de se gerir completamente, sendo
necessárias ações coletivas e intervenção do Estado para compensar as falhas do mercado,
evitar excessivas concentração de poder de mercado ou combater o abuso do privilégio do
monopólio, fornecer bens coletivos e amenizar conseqüências dos surtos especulativos e
outros problemas do setor financeiro.
O outro problema é que a força de trabalho dos indivíduos é convertida em um
processo produtivo cujos resultados podem ser apropriados pelos capitalistas. A condição
de trabalho assalariado põe as decisões técnicas e o conhecimento fora do controle daquele
que efetivamente realiza o trabalho, ao passo que as condições de produção capitalistas
envolvem o controle social das capacidades físicas e mentais – o que nos remete ao
conceito de ideologia de Marx.
Desde 1914, data de surgimento do fordismo, estabeleceu-se uma forma
coorporativa de organização de negócios, uma racionalização das tecnologias e divisão do
trabalho existente, um aumento da produtividade com o trabalhador atuando em um local
fixo e a separação entre gerência, concepção, controle e execução. Mas a principal inovação
deve-se ao reconhecimento explícito de que produção de massa requer consumo de massa,
uma sociedade democrática, racionalizada, modernista e populista. Para Gramsci, o
americanismo e o fordismo são o “maior esforço coletivo até para criar, com velocidade
sem precedentes, e com uma consciência de propósito sem igual na história, um novo tipo
de trabalhador e um novo tipo de homem”.
O entre-guerras trouxe alguns impecilhos à disseminação do fordismo.
Primeiramente, as relações de classe no mundo capitalista não eram propícias à fácil
aceitação de um sistema de produção que se apoiava na longa jornada do trabalhador, que
exigia poucas habilidades manuais e que concedia um controle quase inexistente sobre o
projeto, o ritmo e a organização do processo produtivo. Já entrando na questão das lutas
sindicais, pode-se ressaltar a oposição dos trabalhadores como o principal fator para uma
grande derrota à implantação dessas técnicas na maioria das indústrias. Depois, foi
necessário conceber um novo modo de regulamentação para atender aos requisitos da
produção fordista, em relação aos modos e mecanismos de intervenção estatal, já que o
capitalismo foi incapaz de regulamentar as condições essenciais de sua própria reprodução.
Em 1945 houve a necessidade de estratégia global de acumulação de capital,
resolução essa dada pelo regime fordista. Foram criados novos centros geográficos de
acumulação. Já em 1973, a competição espacial aumentou à medida que se esgotava a
capacidade de se resolver o problema de acumulação a partir do deslocamento geográfico.
O período entre esses anos foi marcado pela racionalidade corporativa burocrática.
O período de expansão pós-guerra teve como base um conjunto de práticas de
controle de trabalho, tecnologias, hábitos de consumo e configurações de poder político-
econômico (modelo fordista-keynesiano); taxas fortes, mas relativamente estáveis,
decrescimento econômico e elevação do padrão de vida. O fordismo aliou-se firmemente ao
keynesianismo, e o capitalismo se dedicou a um surto de expansões internacionalistas que
atraiu inúmeras nações descolonizadas.
O acúmulo de trabalhadores em fábricas de larga escala trazia a ameaça de uma
organização trabalhista mais forte e do aumento do poder da classe trabalhadora; ainda
assim, as corporações aceitaram o poder sindical, particularmente quando os sindicatos
procuravam controlar seus membros e colaborar com a administração em planos de
aumento da produtividade em troca de ganhos de salário que estimulassem a demanda
efetiva da maneira originalmente concebida por Ford. Alguns setores da produção ainda
dependiam de baixos salários e de fraca garantia de emprego; as desigualdades resultantes
produziram sérias tensões sociais por parte das classes que não tinham acesso ao trabalho
privilegiado da produção de massa e ao consumo de massa. A legitimação do poder do
Estado dependia cada vez mais da capacidade de levar benefícios do fordismo e encontrar
meios de oferecer assistência a todos.
Alguns problemas, no entanto, levaram à crise do sistema vigente: mercado interno
saturado, necessidade de criar mercados de exportação para os excedentes e queda da
produtividade e lucratividade corporativas. A adoção de políticas de substituição de
importação em muitos países do Terceiro Mundo, associada ao movimento das
multinacionais na direção da manufatura no estrangeiro também acabaram tornando-se
problemas para a manutenção do capitalismo. O resultado foi uma onda de industrialização
em ambientes novos, nos quais o contrato social era inexistente ou fracamente respeitado,
além da inflação causada por causa da emissão de papel moeda para conter os problemas
fiscais.
Em 1973, enfim, o modelo fordista-keynesiano entra em colapso, o que gera um
período de mudança, fluidez e incerteza. O período é caracterizado por processos de
trabalho e mercado mais flexíveis, de mobilidade geográfica e de rápidas mudanças práticas
de consumo (regime de acumulação flexível). Na época começam a acontecer mudanças
tenológicas, automação, busca de novas linhas de produtos e nichos de mercado, dispersão
geográfica para zonas de controle de trabalho mais fácil, medidas para acelerar o tempo de
giro do capital. É um período de reestruturação econômica e de reajustamento social e
político. As políticas keynesianas mostraram-se inflacionárias à medida que as despesas
públicas cresciam e a capacidade fiscal estagnavam. O resultado foi a retirada de apoio ao
Estado do bem-estar social e o ataque/contenção ao salário real e ao poder sindical
organizado.
O que surge como novo paradigma é a acumulação flexível. Caracteriza-se pelo
confronto direto com a rigidez do fordismo. Apóia-se na flexibilidade dos processos e dos
mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo, com rápidas mudanças dos
padrões do desenvolvimento desigual, criando vasto desenvolvimento do setor de serviços,
bem como conjuntos industriais completamente novos em regiões até então
subdesenvolvidas. Há uma “compressão de espaço-tempo”: os horizontes temporais da
tomada de decisões privada e pública se estreitaram, enquanto o desenvolvimento da
comunicação e dos transportes possibilitou cada vez mais a difusão imediata dessas
decisões num espaço cada vez mais amplo.
A acumulação flexível caracteriza-se por níveis relativamente altos de desemprego
“estrutural”, rápida destruição e reconstrução de habilidades, ganhos modestos de salários
reais e retrocesso do poder sindical. O mercado de trabalho passou por uma reestruturação
radical, que envolve volatilidade do mercado, aumento da competição e estreitamento das
margens de lucro, grande quantidade de mão-de-obra excedente, regimes e contratos de
trabalho mais flexíveis. O emprego regular é reduzido e cresce o uso do trabalho em tempo
parcial, temporário ou subcontratado. A tendência é empregar cada vez mais uma força de
trabalho que entra e pode ser demitida com a mesma facilidade.
Enquanto isso, a vulnerabilidade dos grupos desprivilegiados é reforçada e há uma
convergência entre sistemas de trabalho “terceiromundistas” e capitalistas avançados.
Ressurgem as práticas e trabalhos de cunho patriarcal, familiar e doméstico, ao mesmo
tempo que a força de trabalho feminina é explorada em ocupações de tempo parcial. As
economias de escala buscadas na produção fordista de massa foram substituídas por uma
crescente capacidade de manufatura de uma variedade de bens, preços baixos e produção
em lotes pequenos (economia de escopo). Ocorre uma aceleração no ritmo da inovação dos
produtos – redução do tempo de giro da produção e do consumo –, além da exploração de
nichos de mercado altamente especializados. As modas são fugazes, induzem necessidades.
A estética pós-moderna caracteriza-se pelo fermento, instabilidade e qualidades fugidias,
celebra a diferença, a efemeridade, o espetáculo, a moda e a mercadificação das formas
culturais. Como conseqüência, há uma mudança na ênfase da produção de bens para a
produção de eventos. A produção é automatizada, ao passo que surgem novas formas
organizacionais (just in time) e ocorre um aumento da monopolização pela
“desregulamentação”. Pequenos negócios florescem e crescem as estruturas organizacionais
patriarcais e artesanais. O “novo” capitalismo se organiza por meio da dispersão, da
mobilidade geográfica e da flexibilização do processos de trabalho e dos mercados de
consumo.
Algumas premissas básicas do capitalismo se mantiveram na acumulação flexível:
1) o capitalismo é orientado para o crescimento, caso contrário há crise – só através do
crescimento os lucros podem ser garantidos e a acumulação do capital sustentada; 2) o
crescimento se apóia na exploração do trabalho (na diferença entre aquilo que o trabalho
obtém e o que se cria), sendo que o capitalismo está fundado na relação entre capital e
trabalho; 3) o capitalismo é tecnológica e organizacionalmente dinâmico e busca inovações
constantes para atingir o lucro. (Marx mostrou que tais condições são contraditórias e, por
isso, o capitalismo está necessariamente propenso a crises; crises essas que produzem fases
periódicas de superacumulação – capacidade produtiva ociosa, excesso de mercadorias e
estoques, excedente de capital-dinheiro e grande desemprego) (HARVEY, 1993). Daqui
para frente, o trabalho focalizará esse segundo ponto: a exploração do trabalho.
III O setor automobilístico

O setor automobilístico desde Ford vem sendo tomado como modelo e como objeto
de estudo nas questões do trabalho por sua importância para o conjunto da produção
industrial. Esse capítulo tem como objetivo falar sobre algumas características principais
dentro do setor: a exigência de novas aptidões e a precarização do trabalho e da produção.
As montadoras estão passando por um processo de modernização tecnológica, que
se baseia na instalação de linhas de montagem e no uso de robôs, fato que provoca a
diminuição do efetivo de operários. Passou-se a exigir versatilidade e polivalência dos
trabalhadores.
As montadoras são responsáveis por produzir a maior parte do valor agregado do
setor automobilístico. Em geral são grandes produtoras globais e possuem um estoque
razoável de trabalhadores desqualificados, para os quais o trabalho é destituído de
conteúdo. Trabalhadores (em geral mulheres) exerciam trabalhos manuais simples em
linhas de montagem e não viam possibilidade de desenvolver autonomia (LEITE, 2004).
Com a globalização, entre as grandes montadoras houve uma mudança em direção a
uma política de utilização de projetos comuns em várias fábricas ao redor do mundo. Essas
mesmas montadoras reduziram os quadros de engenheiros nos países periféricos, de modo
que passam a utilizar, nessas localidades, as mesmas fornecedoras dos países
industrializados. Isso porque as montadoras passaram a procurar fornecedores globais, uma
vez que necessitam das mesmas peças, mesma tecnologia e mesmo sistema de qualidade no
mundo todo.
Nesse processo, destacam-se os fenômenos de global sourcing, que se baseia na
importação pelas montadoras de partes produzidas por empresas de autopeças que são suas
fornecedoras em seus países de origem; esse processo não cria empregos e não desenvolve
a base tecnológica local e de follow sourcing, que é a abertura, nos países em
desenvolvimento, de filiais das empresas de autopeças que já atuam como fornecedoras das
montadoras em seus países de origem; nesses casos, a difusão tecnológica fica restrita, uma
vez que o projeto vem da matriz e os fornecedores substituem empresas nacionais (LEITE,
2004).
IV A indústria automobilística no Brasil

Em 1950 ocorreu a implantação da indústria automobilística no Brasil. Nessa época,


multiplicaram-se os espaços para desenvolvimento de capacidade tecnológica local.
A formação do Grande ABC confunde-se com o processo de industrialização do
estado de São Paulo e do próprio Brasil. A área é um importante espaço industrial desde a
primeira metade do século XX e a base fundamental das altas taxas de crescimento
industrial.
A década de 60 foi uma época de desaceleração. No entanto, até 1970, o Grande
ABC era o responsável quase pela totalidade da produção nacional de automóveis. Em
1980, formou-se um quadro de dificuldades econômicas e sociais que resultou no
fechamento de atividades produtivas e na transferência das empresas para outras regiões.
Alguns setores perderam dinamismo e o volume de emprego diminuiu drasticamente.
Sendo assim, criaram-se novas experiências de organização e participação da
sociedade civil nas decisões relativas à vida local. Formulou-se um novo conceito de
desenvolvimento econômico, que destaca novas formas de regulação social que incorporam
o conjunto de interesses sociais. As formas de resistência são diferentes daquelas grandes
greves e ocupações de fábricas e floresceram em novos espaços sociais. Nesse sentido, é
importante destacar a constituição e fortalecimento do espaço público e novas relações
entre público e privado.
O Grande ABC também se caracteriza pela alta densidade institucional, sociedade
civil com alta organização e pela forte cultura de trabalho. O sindicalismo metalúrgico
estava na vanguarda das lutas empunhadas pela sociedade, após um longo período de
desenvolvimento que trouxe grandes e modernas unidades industriais do departamento de
bens de consumo duráveis para a região e provocou enorme crescimento de mão-de-obra
metalúrgica. No coração do “milagre”, trabalhadores viam-se responsáveis pelas altas taxas
de produtividade e lucratividade e, então, acreditavam que as empresas mereciam
recompensas pelos seus esforços.
No final dos anos 70, os trabalhadores colocaram suas reivindicações específicas na
cena pública e começaram a lutar pela democratização do país. Esse processo trouxe novo
dinamismo à vida sindical, uma vez que criou novos espaços de negociação.
Atualmente, a tendência no ABC é o decréscimo do emprego industrial e a
reconfiguração do emprego – o que não significa que os postos de trabalho estejam sendo
inteiramente compensados por novas oportunidades nos outros setores.
Ocorre um esforço para a construção de um espaço público de expressão e
negociação de diversos interesses e tinha como objetivo aglutinar forças governamentais e
da sociedade civil a fim de promover o desenvolvimento econômico e social da região. A
democracia participativa era baseada na ampliação do conceito de cidadania e participação
nas decisões políticas e na democratização da decisão política, que deixa de ser de
exclusiva competência do poder local e/ou nacional centralizado – ou seja, as decisões
passam a ser negociadas.
As organizações criadas têm como luta principal desfazer o beneficiamento dos
setores mais fortes e com maior capacidade de pressão. O que predomina é a negociação.
Forma-se, assim, uma rede social de caráter horizontal em vez da decisão formada por uma
hierarquia vertical. Pode-se dizer que se busca um envolvimento econômico exitoso,
cidadania ativa e democracia participativa: economicamente, uma experiência promissora
de desenvolvimento econômico local; socialmente, a reconstrução de espaço público.
As paralisações que vêm ocorrendo desde o ano passado têm motivos diversos. As
exigências dos operários são para a empresa abrir novas contratações (já que a Volkswagen
elevou a produção mas não contratou novos funcionários, o que sobrecarrega os
trabalhadores pelo aumento do ritmo nas linhas de montagem). As greves na Volkswagen
estão causando problemas também no final da cadeia, já que as empresas de autopeças vêm
tendo quedas na produtividade.
No entanto, as atuais reivindicações diferem das dos anos 70. Naquela época, mais
do que uma luta por salários ou melhorias nas condições de trabalho, tratavam-se de
disputas por espaço político e público. Houve uma mudança significativa no estilo de
atuação sindical: antes a luta sindical se confundia com a luta política, sendo um impulso
até mesmo para a criação de partidos políticos e da CUT. Havia um reconhecimento
político de representação interna dos trabalhadores e mantinha-se um espaço de
sociabilidade, um sentimento de presença e união. Valores eram criados pelos laços afetivos
e pessoas entre os trabalhadores nas montadoras e os sindicatos baseavam-se nesses valores
durante suas ações. As práticas de mobilização eram constantes. Na década de 90 começa a
surgir uma nova forma de sindicalismo, baseada na negociação e na reestruturação
produtiva. Isso porque a abertura política e econômica tornou mais frágeis as mais diversas
relações, principalmente entre trabalhadores e patrões. Os trabalhadores tinham opções
restritas: se, por um lado, havia condições precárias de trabalho e salários baixos, de outro
havia altas taxas de desemprego.
Os sindicatos perceberam que podem conquistar espaços importantes quando seus
representantes se dispõem a participar via negociação. A prática sindical passa por um
momento de reformulação devido à crises e necessidade de mudanças técnicas e gerenciais.
Cada vez mais os sindicatos têm dificuldades em sua organização interna e na incorporação
de novos membros. Há uma crise nas entidades de representação dos trabalhadores.

V Considerações finais

As transformações econômicas colaboraram para um fortalecimento da ideologia


liberal que teve como conseqüências o desemprego, a precarização do trabalho e dos
vínculos empregatícios, diminuição dos salários, maior instabilidade do trabalho, elevação
brutal das desigualdades e exclusão social, regressão em termos sociais. “Revela-se, de um
lado, progresso histórico e fator necessário do desenvolvimento econômico da sociedade, e,
de outro, meio civilizado e refinado de exploração” (MARX, 1984, p. 418).
Além disso, há uma crise de representação dos trabalhadores. Os sindicatos estão
formulando uma nova forma de atuação, que se baseia na negociação, e têm se preocupado
com questões pontuais (jornada de trabalho e salários), e não mais com a participação
política, como acontecia na década de 70, em plena ditadura militar.
Referências Bibliográficas

LEITE, M. P. . Trabalho e Sociedade em Transformação. Mudanças produtivas e atores


sociais. 1a.. ed. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2003

CARVALHO NETO, Antônio Moreira de; CARVALHO, Ricardo Augusto Alves de (Orgs.).
Sindicalismo e negociação coletiva nos anos 90. Belo Horizonte, Instituto de Relações do
Trabalho da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, 1998.

MARX, K. Divisão do trabalho e manfatura. In: ____. O capital. 9ed. São Paulo: Difesl,
1984.

CASTEL, R. As Metamorfoses da Questão Social. Petrópolis: Ed. Vozes, 1998.

HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança


cultural. São Paulo, Ed. Loyola, 2003

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede (A era da informação: economia, sociedade


e cultura; Volume 1, São Paulo: Editora Paz e Terra, 2a. ed., 1999.

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